Quarta-feira
22 de novembro
Kennedy – Parte 1
Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus. Gálatas 3:28

Enquanto a nação relembrava John F. Kennedy, no aniversário de 50 anos de sua morte em um fatídico dia de novembro, não pude deixar de me recordar onde eu estava quando recebi a notícia.

Eu havia acabado de chegar ao Colégio River Plate (hoje Universidad Adventista del Plata) para passar um ano letivo fazendo matérias de teologia e religião para melhorar meu conhecimento de espanhol e ter uma experiência em outra cultura. Era uma aventura nova, que me enchia de temor e empolgação ao mesmo tempo.

Enquanto eu descia a escada, do meu quarto para o saguão do dormitório das moças, a preceptora, senhorita Bellido, me parou e olhou para mim de um modo muito estranho.

– Qual é o problema? – perguntei, ainda tentando decifrar aquele semblante.

– Você não ouviu? Seu presidente está morto. Acabaram de matar o presidente Kennedy.

– Meu presidente? – repeti, perplexa, tentando entender algo que era inconcebível.

Meu presidente? De um momento para o outro, tive de mim mesma uma perspectiva que não havia tido até então: eu era uma americana, e esse presidente que acabava de ser assassinado era o meu presidente. No meu país, eu anteriormente me considerava uma forasteira, uma “hispânica”, com fortes raízes nas culturas e nos costumes venezuelano-costa-riquenhos e mexicano-americanos. Agora, de repente, via um quadro meu que resumia quem eu sou em uma palavra: norte-americana.

Por um lado, eu me sentia excluída de minha herança hispânica, que de alguma forma me ligaria ao povo argentino. Por outro lado, eu me sentia grata por ser forçada a entender o que eu era aos olhos de outro povo, e a me ver como verdadeiramente pertencendo ao meu país.

Foi uma revelação que mudou a minha vida.

De muitas maneiras, “meu” presidente, o presidente John F. Kennedy, havia feito com que a nação inteira embarcasse em uma aventura de autodescoberta, quando ele assumiu a posição de definir “americano” como multiétnico, multirracial e multilíngue.

E agora eu sabia que era parte dessa aventura também.

Embora nem sempre seja fácil, é essencial que cada um faça a jornada da autodescoberta.

Lourdes Morales-Gudmundsson