Lição 4
21 a 28 de outubro
Justificação pela fé
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Lc 3–5
Verso para memorizar: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm 3:28).
Leituras da semana: Rm 3:19-28

Nesta lição, chegamos ao tema principal de Romanos: a justificação pela fé, a grande verdade que, mais do que qualquer outra, provocou a Reforma Protestante. E, apesar de todas as declarações contrárias, Roma não mudou em nada, em relação a essa crença, a posição que manteve em 1520, quando o papa Leão X emitiu uma bula papal condenando Lutero e seus ensinamentos. Martinho Lutero queimou uma cópia da bula, pois, se havia um ensinamento sobre o qual nunca se poderia fazer concessões, era e é a justificação pela fé.

A expressão em si é uma figura com base na lei. O transgressor da lei comparece diante de um juiz e é condenado à morte por suas transgressões. Entretanto, aparece um substituto e toma os crimes do transgressor sobre si mesmo, absolvendo, assim, o criminoso. Ao aceitar o substituto, o criminoso permanece agora perante o juiz, não só absolvido de sua culpa, mas também considerado como se nunca tivesse cometido os crimes pelos quais foi levado pela primeira vez ao tribunal. Tudo isso porque o substituto, que tem uma “ficha” perfeita, oferece ao criminoso perdoado sua própria e perfeita obediência à lei.

No plano da salvação cada um de nós é o criminoso. O substituto, Jesus, tem uma “ficha” limpa e perfeita. Ele está no tribunal em nosso lugar, Sua justiça foi aceita em lugar da nossa injustiça. Por isso somos justificados diante de Deus, não por causa de nossas obras, mas por causa de Jesus, cuja justiça se torna nossa quando a aceitamos “pela fé”. Essas são realmente boas-novas! Notícia melhor que essa? Impossível!



Domingo, 22 de outubro
Ano Bíblico: Lc 6–8
As obras da lei

1. Leia Romanos 3:19, 20. O que Paulo disse sobre a lei? O que a lei faz e o que ela não faz ou não pode fazer? Por que é muito importante que todos compreendam esse assunto?

Paulo estava usando o termo “lei” em seu sentido amplo, conforme os judeus de seu tempo o compreendiam. Pelo termo “Torá” (a palavra hebraica para “lei”), um judeu ainda hoje pensa especialmente na instrução de Deus descrita nos primeiros cinco livros de Moisés, mas também, no sentido mais geral, em todo o Antigo Testamento. A lei moral (mais a ampliação dela nos estatutos e juízos, assim como nos preceitos cerimoniais) fazia parte dessa instrução. Por isso, nesses versos de Paulo, podemos pensar na lei como o sistema do judaísmo.

Estar debaixo da lei significa estar sob sua jurisdição. A lei, entretanto, revela diante de Deus as falhas e a culpa de uma pessoa. A lei não pode remover essa culpa; o que ela pode fazer é levar o pecador a buscar um remédio para esse problema.

Quando aplicamos o livro de Romanos aos nossos dias, em que a lei judaica não é mais obrigatória, pensamos na lei especialmente em termos de lei moral. Assim como o sistema do judaísmo não pôde salvar os judeus, essa lei também não pode nos salvar. Salvar um pecador não é função da lei moral. Sua função é revelar o caráter de Deus e mostrar às pessoas em quais áreas elas não conseguem refletir esse caráter.

Seja qual for a lei (moral, cerimonial, civil ou uma combinação de todas elas), a obediência a qualquer uma ou a todas elas não tornará ninguém justo aos olhos de Deus. Na verdade, a lei nunca teve a intenção de cumprir esse objetivo. Ao contrário, ela deve mostrar nossas falhas e nos levar a Cristo.

Assim como os sintomas de uma doença não podem curá-la, a lei também não pode nos salvar. Os sintomas não curam; eles mostram a necessidade da cura. É assim que funciona a lei.

Seus esforços para guardar a lei têm sido bem-sucedidos? O que essa resposta revela sobre a futilidade de tentar se salvar mediante a obediência à lei?

De 19 a 26 de novembro haverá o evangelismo de colheita. Mais de 4 mil pregadores serão usados por Deus e milhares de pessoas tomarão a decisão pelo batismo. O que você pode fazer para motivar sua igreja e tornar esse movimento um sucesso?

Segunda-feira, 23 de outubro
Ano Bíblico: Lc 9–11
A justiça de Deus

2. “Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas” (Rm 3:21). Como entender o significado desse texto?

Essa nova justiça é contrastada com a justiça da lei, que era a justiça com a qual o judeu estava familiarizado. A nova justiça é chamada de “justiça de Deus”; isto é, uma justiça que vem do Senhor, que Ele concede, a única que Ele aceita como verdadeira justiça.

Essa é, naturalmente, a justiça que Jesus exercitou em Sua vida enquanto esteve aqui como ser humano. Ele a oferece a todos os que a aceitam pela fé, que a reivindicam para si mesmos não porque a mereçam, mas porque precisam dela.

3. “Justiça é obediência à lei. A lei requer justiça, e esta o pecador deve à lei; mas ele é incapaz de a apresentar. A única maneira pela qual se pode alcançar a justiça é por meio da fé. Pela fé ele pode apresentar a Deus os méritos de Cristo, e o Senhor lança a obediência de Seu Filho a crédito do pecador. A justiça de Cristo é aceita em lugar do fracasso do homem, e Deus recebe, perdoa, justifica a pessoa arrependida e crente, trata-a como se fosse justa, e a ama assim como ama Seu Filho” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 367). Como podemos aceitar e aplicar essa maravilhosa verdade à nossa vida? Leia também Rm 3:22.

A fé de Jesus Cristo é necessária nesse contexto, assim como a fé em Jesus Cristo.
Ao operar na vida cristã, a fé é muito mais do que a aceitação intelectual; é mais do que apenas um reconhecimento de certos fatos sobre a vida de Cristo e Sua morte. Em vez disso, a verdadeira fé em Jesus Cristo é aceitá-Lo como Salvador, Substituto, Fiador e Senhor. É escolher Seu modo de vida. É confiar nEle e procurar, pela fé, viver de acordo com Seus mandamentos.


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Terça-feira, 24 de outubro
Ano Bíblico: Lc 12–14
Por Sua graça

4. Tendo em mente o que estudamos até agora sobre a lei e o que ela não pode fazer, leia Romanos 3:24. O que Paulo disse ali? O que significa o fato de que a redenção está em Jesus?

O que significa essa ideia de “justificar”, encontrada no texto? A palavra grega dikaioo, traduzida como “justificar”, pode significar “tornar justo”, “declarar justo” ou “considerar justo”. Ela possui a mesma construção radical que dikaiosune, “justiça” e a palavra dikaioma, “exigência justa”. Portanto, há uma estreita relação entre “justificação” e “justiça”, uma relação que nem sempre se revela em diversas traduções. Somos justificados quando Deus nos “declara justos”.

Antes dessa justificação, a pessoa é injusta e, portanto, inaceitável para Deus. Após a justificação ela é considerada justa e, portanto, aceitável a Ele.

E isso só acontece mediante a graça de Deus. Graça significa favor. Quando um pecador se volta para Deus em busca de salvação, é um ato de graça considerar ou declarar essa pessoa “justa”. É favor imerecido. O cristão é justificado sem nenhum mérito próprio, sem nenhuma reivindicação para apresentar a Deus em seu próprio favor, exceto seu absoluto desamparo. A pessoa é justificada pela redenção que há em Cristo Jesus, a redenção que Ele oferece como substituto e garantia do pecador.

A justificação é apresentada em Romanos como um ato pontual; isto é, acontece em um momento no tempo. Num momento o pecador está fora, injusto e rejeitado; no momento seguinte, após a justificação, a pessoa está dentro, justa e aceita.

Aquele que está em Cristo entende a justificação como um ato passado, que ocorreu quando ele se entregou totalmente a Cristo. “Ser justificado” (Rm 5:1) é, literalmente, “ter sido justificado”.

Naturalmente, se o pecador justificado cair e depois retornar a Cristo, a justificação ocorrerá novamente. Além disso, se a reconversão é considerada uma experiência diária, há um sentido no qual a justificação pode ser considerada uma experiência que se repete.

Se as boas-novas da salvação são tão maravilhosas, o que impede as pessoas de aceitá-las? O que faz você se afastar de tudo o que o Senhor lhe promete e oferece?


Quarta-feira, 25 de outubro
Ano Bíblico: Lc 15–17
A justiça de Cristo

Em Romanos 3:25, Paulo expôs mais profundamente a grande notícia da salvação. Ele usou uma palavra sofisticada: propiciação. A palavra grega para ela, hilasterion, ocorre no Novo Testamento apenas em Romanos 3:25 e em Hebreus 9:5, em que é traduzida como “propiciatório”. Conforme usada em Romanos 3:25 para descrever a oferta de justificação e redenção por meio de Cristo, o termo propiciação parece representar o cumprimento de tudo o que foi tipificado pelo propiciatório no santuário do Antigo Testamento. Isso significa, então, que por Sua morte sacrifical, Jesus foi oferecido como meio de salvação e é representado como Aquele que providencia a propiciação. Em suma, isso significa que Deus fez o que era necessário para nos salvar.

O texto também fala sobre a “remissão dos pecados”. São os nossos pecados que nos tornam inaceitáveis a Deus. Não podemos fazer nada para cancelar nossos pecados. No entanto, no plano da redenção, Deus providenciou um meio para que esses pecados fossem remidos pela fé no sangue de Cristo.

A palavra para “remissão”, em grego, é paresin, que literalmente significa “passar por cima” ou “passar por”. “Passar por cima” não significa, em nenhum sentido, ignorar os pecados. Deus pode “passar por cima” dos pecados do passado porque Cristo pagou a penalidade pelos pecados de todos os povos mediante Sua morte. Portanto, qualquer pessoa que tiver “fé em Seu sangue” pode ter seus pecados remidos, pois Cristo já morreu por todos (1Co 15:3).

5. Leia Romanos 3:26, 27. Qual ideia Paulo expressou ali? Assinale a alternativa correta:

A.( ) Não temos participação na justificação, pois Cristo é o cordeiro imaculado e também nosso Justificador.

B.( ) As obras da lei são requisitos para a salvação, visto que elas são uma demonstração de que desejamos ser salvos.

A justiça de Cristo, que estava à disposição da humanidade, é concedida a nós não por obras, não por méritos nossos, mas pela fé em Jesus e no que Ele fez por nós.

Por causa da cruz do Calvário, Deus pode declarar justos os pecadores e ainda ser considerado justo aos olhos do Universo. Satanás acusou Deus de pedir ao ser humano mais do que Ele estava disposto a dar. A cruz refuta essa alegação.

Satanás esperava que Deus destruísse o mundo depois do pecado. Em vez disso, Ele enviou Jesus para salvá-lo. O que isso revela sobre o caráter divino? O que você fará nas próximas 24 horas como resultado dessa percepção?


Quinta-feira, 26 de outubro
Ano Bíblico: Lc 18–20
Independentemente das obras da lei

6. “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm 3:28). O fato de que a lei não nos salva significa que não somos obrigados a obedecê-la? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:

A.( ) Sim. Obedecer à lei não é mais uma exigência divina.

B.( ) Não. A obediência continua valendo, pois sem a lei não saberíamos o que é pecado.

No contexto histórico, em Romanos 3:28, Paulo estava se referindo à lei em seu sentido amplo do sistema do judaísmo. Por mais que um judeu tentasse viver cuidadosamente sob esse sistema, ele não poderia ser justificado se não aceitasse Jesus como o Messias.

Romanos 3:28 é a conclusão da afirmação de Paulo de que a lei da fé exclui a vanglória. Se alguém é justificado por suas próprias ações, ele pode se vangloriar disso. Mas quando ele é justificado porque Jesus é o objeto de sua fé, então o crédito claramente pertence a Deus, que justificou o pecador.

Ellen G. White deu uma resposta interessante à pergunta: “O que é justificação pela fé?” Ela escreveu: “É a obra de Deus ao lançar a glória do homem no pó e fazer pelo homem aquilo que ele não pode fazer por si mesmo” (Ellen G. White, Testemunhos Para Ministros, p. 456).

As obras da lei não podem expiar os pecados passados. A justificação não pode ser alcançada por méritos humanos. Ela só pode ser recebida pela fé no sacrifício expiatório de Cristo. Portanto, nesse sentido, as obras da lei nada têm a ver com justificação. Ser justificado independentemente das obras significa ser justificado sem que haja algo em nós que mereça a justificação.

Contudo, muitos cristãos têm compreendido mal e aplicado mal esse texto. Dizem que tudo o que se tem que fazer é crer, enquanto minimizam as obras ou a obediência, até mesmo a obediência à lei moral. Ao fazer isso, eles interpretam Paulo de maneira completamente equivocada. No livro de Romanos e em outros lugares, Paulo atribuiu grande importância à guarda da lei moral. Jesus certamente a guardou, assim como também Tiago e João (Mt 19:17; Rm 2:13; Tg 2:10, 11; Ap 14:12). A ideia de Paulo é que, embora a obediência à lei não seja o meio de justificação, a pessoa justificada pela fé ainda obedece à lei de Deus e, de fato, é a única que pode obedecê-la. Uma pessoa não regenerada e não justificada jamais pode cumprir os requisitos da lei.

Por que é fácil cair na armadilha de pensar que, porque a lei não nos salva, não precisamos nos preocupar em guardá-la? Você já usou a justificação pela fé como pretexto para racionalizar o pecado? Por que essa é uma posição perigosa? Onde estaríamos sem a promessa de salvação, mesmo quando somos tentados a abusar dela?


Sexta-feira, 27 de outubro
Ano Bíblico: Lc 21, 22
Estudo adicional

Leia, de Ellen G. White, “A Justiça de Cristo na Lei”, p. 236-239; “Vinde, Buscai e Encontrareis”, p. 331-335; “Obediência Perfeita Por Meio de Cristo”, p. 373, 374, em Mensagens Escolhidas, v. 1. Leia também, da mesma autora, “Onde Encontrar a Verdade”, p. 128, 129, em Parábolas de Jesus.

“Ainda que a lei não possa remir a pena do pecado, mas responsabiliza o pecador por toda a sua dívida, Cristo prometeu perdão abundante a todos os que se arrependem e creem em Sua misericórdia. O amor de Deus se estende em abundância ao cristão arrependido. O estigma do pecado sobre a pessoa só se pode apagar com o sangue do sacrifício expiatório […] dAquele que é igual ao Pai. A obra de Cristo – Sua vida, humilhação, morte e intercessão pelo ser humano caído – engrandece a lei e a torna gloriosa” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 371).

“O caráter de Cristo substituirá seu caráter, e você será aceito diante de Deus como se não tivesse pecado” (Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 62).

“Quando o apóstolo disse que somos justificados ‘independentemente das obras da lei’, ele não se referiu às obras da fé e da graça; pois aquele que realiza tais obras não crê que é justificado realizando-as. (Ao realizar essas obras de fé), o cristão procura ser justificado (pela fé). ‘Obras da lei’ para o apóstolo são as obras em que os presunçosos confiam, como se, ao fazê-las, fossem justificados e assim se tornassem justos por causa de suas obras. […] Enquanto fazem o bem, não procuram a justiça, mas apenas desejam se vangloriar de que já obtiveram a justiça por meio de suas obras” (Martinho Lutero, Commentary on Romans [Comentário Sobre Romanos], p. 80).

Perguntas para discussão

1. Com base nos textos bíblicos desta semana, escreva um parágrafo resumindo o que eles estão dizendo. Compartilhe seu parágrafo com a classe.

2. Leia a citação de Lutero acima. Por que essa verdade motivou Martinho Lutero? Por que é importante entender essa questão ainda hoje?

3. “Os Adventistas do Sétimo Dia se consideram herdeiros e edificadores sobre as ideias da Reforma […] a respeito da justificação pela graça mediante a fé somente, e restauradores e representantes da plenitude, clareza e equilíbrio do evangelho apostólico” (Ivan T. Blazen, “Salvação”, Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, p. 345). Temos razões para acreditar que essa descrição corresponde à nossa realidade?

Perguntas e atividades da semana: 1. Divida a classe em duplas. Peça aos alunos que conversem entre si a respeito da função da lei e de suas limitações. Em seguida, verifique se alguma dupla gostaria de compartilhar sua resposta. 2. Peça que os alunos compartilhem suas reflexões sobre o texto de Rm 3:21. 3. Reflexão pessoal. 4. Por sua graça, Jesus Cristo nos justifica, tornando-nos justos. Isso ocorre porque Ele toma o nosso lugar. Jesus oferece a redenção, como garantia ao pecador. 5. A. 6. F, V.



Resumo da Lição 4
Justificação pela fé

TEXTO-CHAVE: Romanos 3:28

O ALUNO DEVERÁ

Conhecer: O valor fundamental de Romanos 3:19-28 no fluxo da exposição geral que Paulo faz do “evangelho” em Romanos.

Sentir: A importância da justificação somente pela fé na justiça imputada de Cristo.

Fazer: Esclarecer a compreensão pessoal da justificação e estar apto a relacioná-la adequadamente à santificação e a uma vida mais plena no Espírito.

ESBOÇO

I. Conhecer: A divina graça curadora e a redenção do pecado

A. Por que é importante perceber que pecado é uma enfermidade espiritual, não apenas uma série de atitudes e atos pecaminosos?

B. Qual é a sequência correta entre cura espiritual e prática adequada?

II. Sentir: Internalizar a natureza crucial dos temas associados à justificação pela fé

A. Por que a salvação pelas obras da lei é tão inútil?

B. Por que alguns sentem que o generoso perdão de Deus pode levar à “graça barata”?

III. Fazer: Atitudes práticas para obter melhor compreensão da justificação

A. Na justificação pela fé, quais ações e condições aliviam uma consciência culpada?

B. O que é inerente à justificação pela fé que contribui para a certeza da salvação, e que a busca da salvação pelas obras não pode transmitir?

RESUMO: A passagem central desta semana dá início à descrição direta de Paulo acerca da justificação somente pela fé. Com a expressão “mas agora” do capítulo 3:21, Paulo chegou ao ponto decisivo do livro de Romanos.

Ciclo do aprendizado

Motivação

Focalizando as Escrituras: Romanos 3:28

Conceito-chave para o crescimento espiritual: No dia 31 de outubro de 2017 será celebrado o 500o aniversário da Reforma Protestante. Tentamos entender plenamente o processo da justificação somente pela fé e sua clássica expressão bíblica no livro de Romanos. Não há questão mais essencial para a salvação pessoal que a justificação pela fé.

Para o professor: Enfatize a importância crucial de esclarecer a compreensão dos alunos acerca da justificação unicamente pela fé.

Discussão inicial: Peça que os alunos contem sua luta pessoal para lidar com a questão do perdão, da remissão e de um novo status judicial de absolvição diante de Deus. O que é mais difícil alcançar: compreensão intelectual (doutrinária) ou admitir a grande necessidade pessoal?
Motive-os a compartilhar o que significa aceitar o misericordioso perdão de Deus. O que representa para eles seu novo status judicial como filhos adotados por Deus?

Pense nisto: A verdadeira essência da descoberta do apóstolo Paulo e de Martinho Lutero foi a genuína compreensão a respeito de como as exigências da justiça de Deus poderiam ser satisfeitas sem eliminar Sua lei. Para eles, um aspecto básico foi o fato de que Cristo cumpriu as exigências da justiça divina por nós em Sua vida de ativa e perfeita obediência à lei, e em Sua passiva e substitutiva morte pelos pecadores. Desse modo, como Portador de pecados, Cristo satisfez as justas exigências da lei de Deus, que requer “morte” eterna (Rm 6:23) como pagamento pelo salário do pecado. E por meio do pagamento que Cristo efetuou da dívida e de Sua vida santa, Deus fez plena provisão para remissão do pecado humano.

Perguntas para discussão

1. O que é mais difícil para você: admitir sua grande necessidade, por causa de sua pecaminosidade, ou depender totalmente da grande misericórdia de Deus?

2. O que há em nossa natureza pecaminosa que parece sempre nos impelir a cumprir as exigências da justiça de Deus por meio dos próprios méritos?

Compreensão

Para o professor: A mensagem encontrada em Romanos 3:19-28 foi caracterizada por Leon Morris, respeitável comentarista do Novo Testamento, como “o parágrafo mais importante já escrito” (citado do comentário de Leon Morris por George Knight na obra Exploring Romans: A Devotional Commentary [Examinando Romanos: Um Comentário Devocional] [Hagerstown, MD: Review and Herald, 2010] p. 88). A expressão de transição “mas agora” (Rm 3:21) é um dos momentos mais decisivos no fluxo do argumento de Paulo em Romanos e abre aos leitores a possibilidade da transformação da difícil situação da natureza pecaminosa. Assim, precisamos refletir sobre esses versos com muito cuidado.

Comentário bíblico

Introdução: A seguir estão os “principais pontos” de Romanos 3:19-28. Os comentários da lição do aluno serão muito úteis agora. Para ampliar nosso estudo da lição, faremos alguns destaques e acrescentaremos alguns comentários.

I. Primeiro ponto: A função da lei na justificação

(Recapitule com a classe Rm 3:19, 20.)

A função da lei em conduzir à justificação é essencial. Quando Paulo mencionou a “lei” no sentido geral da Torá, ele se referiu aos primeiros cinco livros de Moisés e, às vezes, de maneira mais ampla, a todo o Antigo Testamento. Contudo, frequentemente ele tinha em mente a lei moral e sua ampliação bíblica nos estatutos, juízos e preceitos cerimoniais. Estar “debaixo da lei” significa estar “sob” a jurisdição da lei como definidor do pecado e gerador de culpa diante de Deus. No entanto, o ponto central é que, embora a lei não tenha poder para redimir, por meio do Espírito Santo, ela tem muita força para levar o pecador a procurar um remédio para o pecado. A lei não torna uma pessoa justa aos olhos de Deus. Como já foi dito, a lei não pode salvar, assim como os sintomas de uma doença não a curam.

Pense nisto: Embora seja louvável que a humanidade pecadora procure obedecer à lei, por que a observância da lei não tem poder para justificar o pecador?

II. Ponto 2: Contraste entre a “justiça de Deus” e a justiça da lei

(Recapitule com a classe Rm 3:21.)

Leia Romanos 3:21. O que esse texto significa? A “justiça de Deus” é claramente contrastada com a “justiça da lei”. Essa “justiça de Deus” vem do Senhor; na verdade, foi providenciada por Ele, com base no que foi feito na vida e na morte de Jesus. E essa “justiça” divina é oferecida a todos que a receberem ou a aceitarem pela fé – não que eles a mereçam, mas porque precisam dela.

Pergunta para discussão:  No primeiro volume da série Mensagens Escolhidas, p. 367, encontramos a mais clara declaração de Ellen White já apresentada acerca da justificação. Pergunte aos alunos como essa declaração impactou sua mente e influenciou sua atitude para com Ellen White e as ideias dela sobre justificação pela fé. Pode ser útil, também, encorajá-los a refletir sobre o texto das páginas 300 a 400 do mesmo volume, em espírito de oração.

III. Ponto 3: A ligação entre justificação e “justiça”

(Recapitule com a classe Rm 3:24.)

Romanos 3:24 explica o principal termo grego que tem sido traduzido como “justificado”, seguido de uma discussão sobre a ligação entre justificação e “justiça” (Rm 3:25).

Pense nisto: Um dos principais resultados da “graça” é a bênção divina encontrada na “declaração” de que os pecadores arrependidos são “justos diante de Deus”. Agora, num sentido importante, a justificação é pontual (acontece num determinado ponto no tempo). No entanto, ela também pode ser “linear” (contínua) no sentido de que, devido à fraqueza humana, precisamos de Cristo, como Intercessor vivo, para estar constantemente substituindo nossas inevitáveis deficiências na fé e na caminhada com Deus. Pergunte à classe: Com quais desses pontos de vista você concorda ou discorda?

IV. Ponto 4: Diferença entre “propiciação” e “remissão”

(Recapitule com a classe Rm 3:25.)

Romanos 3:25 nos leva ao significado de duas palavras gregas importantes, hilasterion e paresis, normalmente traduzidas como “propiciação” e “remissão” (ARC; ou “deixados impunes” [ARA]). Nesse contexto, esses termos são muito importantes para definir a obra de Cristo em favor dos pecadores. Cristo fez provisão para a satisfação das exigências da justiça de Deus. Com os requisitos cumpridos, Deus então oferece a “remissão” ao pecador, ou perdão pelos seus pecados.

Pense nisto: De que modo podemos traduzir mais claramente esses termos em nosso contexto cultural?

V. Ponto 5: Justificação e a justiça do perdão divino aos pecadores

(Recapitule com a classe Rm 3:26-28.)

Em Romanos 3:26, 27, Paulo resumiu as implicações salvíficas de Romanos 3:24, 25. Devido ao que Cristo fez, Deus pode declarar justos os pecadores. Assim, Ele ainda pode ser visto como plenamente justo aos olhos do Universo expectante. Em Romanos 3:28, Paulo concluiu que o pecador é justificado “sem” (ARC) ou “independentemente” “das obras da lei”.

Pense nisto: Os atos de obediência não têm poder para justificar. Mas têm o efeito positivo de vindicar a genuinidade da fé de uma pessoa e a declaração do perdão de Deus. No entanto, alguns afirmam erroneamente que a expressão de Paulo em Romanos 3:26, 27, refletida nas palavras “sem” (ARC) e “independentemente”, sugere que a graça elimina a lei e a obediência pela fé. Por que o oposto é verdadeiro, tendo como base uma correta interpretação de Romanos 3:24, 25?

Aplicação

Para o professor: Como tem sido destacado, a passagem desta semana é fundamental. E, nesse ponto, precisamos desafiar os alunos a sentir a importância teológica e doutrinária dela, e também a seriedade que essas verdades colocam sobre a santificação pessoal. Para isso, motive-os a uma séria consideração das perguntas a seguir:

Perguntas para reflexão

1. De que maneira essa teologia de Paulo influencia o estilo de vida dos crentes diante da igreja e do mundo?

2. Como essa mensagem de Paulo parece influenciar os conselhos de Ellen G. White e a compreensão dela acerca da vida e da morte de Cristo? Como esses dois aspectos, por sua vez, devem influenciar nossa experiência de salvação da culpa e poder do pecado?

Criatividade e atividades práticas

Para o professor: Em resposta às duas questões acima, incentive os alunos a contar como essas passagens de Paulo e o comentário de Ellen G. White moldaram sua teologia acerca do significado da vida e da morte de Cristo. Desafie-os a rever cuidadosamente os capítulos intitulados “Calvário” e “Está consumado” no livro “O Desejado de Todas as Nações,” de Ellen G. White. Como a autora defende o conceito de que a vida perfeita de Cristo e Sua morte foram dadas para satisfazer as exigências da justiça de Deus, a fim de que Ele pudesse nos oferecer misericórdia e perdão dos nossos pecados?

Atividade: Nesta semana, realize uma reunião com os professores para tratar das questões apresentadas no passo 4, no item “Para o professor”. Torne essa reunião de professores uma prática semanal e faça da Escola Sabatina um movimento mais dinâmico em sua igreja.

Planejando atividades: O que sua classe pode fazer na próxima semana como resposta ao estudo da lição?

 


As nuvens clamaram

Murad, um garoto de dez anos de idade, abordou sua professora depois da aula. “Tenho um segredo”, sussurrou. A professora, uma adventista do sétimo dia que trabalha em um país fechado ao cristianismo, olhou para o garoto com curiosidade. Embora Murad frequentasse sua classe há vários meses, ele nunca havia falado com ela dessa forma. “Tenho um segredo para lhe contar”, Murad repetiu, ainda sussurrando. “O que é?”, a professora perguntou.

Visão nas nuvens

Lágrimas escorreram pela face de Murad enquanto ele falava. “Certo dia, quando ia para a escola, vi uma nuvem que parecia um homem pendurado numa cruz. Não sabia quem era Ele até que a senhora falou de Jesus. Na mesma hora me lembrei da nuvem.”

As palavras de Murad e as lágrimas em seus olhos enquanto ele contava o segredo tocaram o coração da professora. Ela percebeu que ele não sabia o que fazer com essa visão.

Lágrimas escorriam no rosto da professora enquanto ela se lembrava da conversa com Murad. Naquele momento, ela não sabia o que dizer ao garoto. Embora tivesse compartilhado as histórias sobre Jesus quando ensinou bons valores aos alunos, não podia dizer muita coisa sem correr o risco de ter problemas com as autoridades.

“Não sei o que fazer”, a professora disse poucas semanas depois que o aluno lhe havia confidenciado seu segredo. “Murad compartilhou a visão comigo em segredo porque os pais o proibiam de acreditar em Jesus.”

Mensagem de esperança

Podemos nos perguntar como o evangelho será proclamado nessas regiões difíceis do mundo. Mas a história desse garoto nos mostra como Deus pode tornar Sua presença conhecida, mesmo quando Seu nome não pode ser pregado.

Ellen White diz que as crianças terão um papel especial em compartilhar o evangelho nos últimos dias. “Quando os seres celestiais virem que os homens não mais têm permissão de apresentar a verdade, o Espírito de Deus virá sobre as crianças, e elas farão na proclamação da verdade um trabalho que os obreiros mais idosos não podem fazer” (Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 202).

Fenômenos incomuns, como uma visão nas nuvens, estão entre as maneiras pelas quais a atenção das pessoas pode ser atraída para Jesus na região da janela 10/40, que inclui a maioria das regiões mais desafiadoras do mundo para a propagação do evangelho. As pessoas também apresentam relatos em que viram Jesus em seus sonhos, nos quais muita gente acredita. Nessa região, muitos aceitaram Jesus como seu Salvador depois de sonhar com Ele.

A visão em que Murad enxergou a cruz nas nuvens nos lembra das palavras de Jesus: “‘Eu lhes digo’, respondeu Ele, ‘se eles se calarem, as pedras clamarão’” (Lc 19:40, NVI). Os fariseus estavam exigindo que Jesus repreendesse os discípulos por fazerem alegres declarações de que Ele era o Messias. Com essas palavras, Jesus estava dizendo aos fariseus que as pedras clamariam que Ele é o Messias se Seus discípulos fossem impedidos de falar essa verdade.

Da mesma forma, até as nuvens clamam em uma parte do mundo onde, hoje, o evangelho é restringido. Quando Murad viu as nuvens acima de sua casa, compreendeu a mensagem de que Jesus é o crucificado Salvador e Redentor. E a professora de Murad se convenceu de que Jesus estava alcançando o coração do menino por meio das nuvens. Embora não soubesse o que fazer a seguir, ela tinha certeza de que, se Jesus podia fazer as nuvens clamarem, ela não precisava se preocupar. “A coisa mais importante”, disse ela, “é que Deus termina o trabalho que Ele começou. O Senhor concluirá a tarefa que não podemos completar por nós mesmos.”

Por favor, ore para que as pessoas estejam abertas a ouvir e aceitar a mensagem do amor de Deus em países restritos, assim como em todos os países do mundo. Suas ofertas missionárias ajudarão a alcançar as pessoas nessas regiões difíceis de evangelizar. Obrigado por doar!

Resumo missionário

• Ore pelos irmãos que vivem nessas regiões fechadas para o evangelismo na Divisão
Euro-Asiática.

• Ore por aqueles que buscam conhecer a Deus, mas não sabem como encontrá-Lo.

• Ore para que os líderes desses campos tenham sabedoria enquanto buscam novas maneiras de alcançar milhões para Cristo e enfrentam circunstâncias difíceis para a evangelização.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º trimestre de 2017
Tema geral: Salvação somente pela fé: o livro de Romanos
Lição 4: 21 a 28 de outubro
Justificação pela fé

 

Autor: Pr. Clacir Virmes Junior, professor de Teologia na FADBA – Cachoeira, Bahia.

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

 

Introdução

Chegamos enfim à tese principal de Paulo na carta aos Romanos. Depois de mostrar o terrível estado de toda a humanidade, o apóstolo partiu para sua exposição de como podemos ser salvos. Ele demonstrou que não é possível ser justificado pelas obras da lei. Em seguida, mostrou como Deus pode dar Sua justiça ao pecador, indicando a origem da salvação. E por fim, revelou que, apesar dessas grandes verdades, a lei não é descartada, mas confirmada pela verdade da justificação pela fé. Com esse rápido esboço em mente, vamos nos voltar para a questão que Paulo levantou em Romanos 3:19, 20: Se não somos salvos pela obediência à lei, como podemos ser justificados?

Obras da lei

Quem é que está vivendo na lei? Parece claro pelo contexto imediato que Paulo tem em mente todas as pessoas, judeus ou gentios. Expressões como “toda a boca”, “todo mundo” e “ninguém” mostram que, de algum modo, todos estão sujeitos à maldição da lei. Todos os seres humanos de todas as épocas tiveram algum tipo de noção sobre a vontade de Deus. Ninguém tem, diante do Senhor, qualquer desculpa para alegar desconhecimento de Sua vontade.

O texto de Romanos 3:20 encerra o grande problema da lei: ela não pode justificar ninguém. O apóstolo é claro ao afirmar que a função da lei é mostrar o pecado em suas cores mais reais. Quando comparamos a vida de qualquer pessoa com o que a lei exige, todos inevitavelmente não podem apelar para sua adesão à lei como meio de salvação. Com exceção de Jesus, todos os seres humanos estariam condenados.

A justiça de Deus

O texto de Romanos 3:21, 22 fala duas vezes sobre a justiça de Deus por meio de um jogo de palavras sobre sua relação com a lei. Em primeiro lugar, a justiça de Deus se manifestou “sem lei”. Isso quer dizer que não são necessárias as obras da lei para se obter a justiça concedida por Deus. Nenhum ato humano, por melhor que seja, pode participar daquilo que Cristo fez na cruz. Em outras palavras, a justiça de Deus se manifesta naquilo que Ele fez para nossa salvação, não naquilo que nós (supostamente) possamos fazer por ela.

Ao mesmo tempo, essa justiça de Deus foi testemunhada pela lei e pelos profetas. Romanos 3:21 é um bom exemplo de como Paulo usa o termo “lei” em uma variedade de nuances. Precisamos estar atentos para a sutileza de seu uso. Todo o Antigo Testamento prefigurou, apontou e falou sobre o que Cristo realizaria na cruz. Ainda que a justiça de Deus não tenha nada a ver com as “obras da lei”, nem com a performance de qualquer outra pessoa além de Jesus, ela foi confirmada pela “lei” e por toda atividade profética registrada no que chamamos hoje de Antigo Testamento.

Em segundo lugar, o apóstolo diz que a justiça de Deus se manifesta aos que creem em Jesus. Para receber essa justiça, que ninguém tem condições de conseguir sozinho, a única coisa requerida é a fé em Jesus, Aquele por meio de quem Deus pode manifestar essa justiça (Rm 3:22). Se cremos no que o Salvador fez na cruz, em Seu sacrifício por nós, recebemos gratuitamente a justiça de Sua vida santa. Simples assim. E isso está disponível a todos – é, portanto, universal em seu alcance, embora não seja em seus efeitos, uma vez que só pode ser recebida mediante a aceitação de Cristo como Salvador.

Por Sua graça

Como ressaltou James Edwards (2011, p. 102), o grande contraste entre os versos 23 e 24 de Romanos 3 é que “tudo no verso 23 se deve à humanidade; tudo no verso 24 depende de Deus”. O verso 24 começa com a expressão “sendo justificados”, dando a ideia de algo contínuo. Não há um momento sequer em nossa existência em que não necessitemos da justiça de Cristo. A experiência da justificação, da reconciliação e do perdão está disponível em todos os momentos da nossa vida.

A justificação que Deus concede é gratuita. Não há necessidade de fazermos nada para obtê-la. O que podia ser feito para nossa salvação, Cristo fez na cruz do Calvário. Se apresentamos nossas obras para que a justiça de Deus nos seja dada, estamos declarando que o que Jesus fez no Calvário não foi suficiente, que Seu sacrifício foi defeituoso. Mas não é assim que Paulo vê o que Jesus alcançou na cruz. Visto que o Seu sacrifício foi tão completo, tão precioso e tão sublime, Deus não aceita nada que o ser humano possa oferecer para tentar conseguir a salvação.

A justiça de Cristo

Quando Deus criou o ser humano, Ele tinha as seguintes escolhas: Se o homem pecasse, ele poderia simplesmente “passar a mão” em sua cabeça e dizer: “Tudo bem, eu perdoo você.” Caso isso acontecesse, a primeira coisa que Satanás faria seria acusar o Senhor de ser injusto. Se ele, por não seguir as regras, foi expulso do Céu, por que o homem, havendo também errado, podia ser aceito? Por outro lado, Deus poderia simplesmente aplicar a pena do pecado e exterminar a humanidade. Na mesma hora, Satanás apontaria o dedo contra o Criador e proclamaria para todo o Universo que Deus é um tirano que destrói todos aqueles que não concordam com Ele.

Como Deus poderia ser justo e justificador ao mesmo tempo? É o que Paulo explica em Romanos 3:25, 26. A terceira via, aquela que o Senhor escolheu, foi tomar sobre Si os pecados de todos os seres humanos e sofrer em seu lugar a punição por suas faltas. Na cruz, Deus pôde mostrar graça aos pecadores enquanto ainda permanecia fiel ao Seu próprio caráter e justiça. Se a lei demanda a morte eterna, por causa do pecado, Jesus sofreu essa morte por nós. Se uma vida santa e perfeita assegura a salvação, Deus a pode oferecer a todos os que creem em Jesus. Por isso, o apóstolo diz que, para aqueles que recebem a justiça de Cristo, Deus é justo e justificador. Ele permanece fiel à Sua lei e, ao mesmo tempo, pode salvar o pecador.

A cruz é a suprema manifestação da justiça e da graça de Deus. Ali, com toda a força, o Senhor puniu nossos pecados na Pessoa de Cristo, nossa Propiciação. Ao mesmo tempo, a cruz demonstra o amor de Deus para conosco. Ele não deixou que o grave problema do pecado ficasse sem solução. A salvação é de graça, mas custou ao Universo o que ele tinha de mais precioso – a Pessoa maravilhosa de Cristo. Como esse supremo ato de amor deveria mexer com nossa percepção de quem somos e de quem Jesus é?

Independentemente das obras da lei

Em Romanos 3:27 a 31, Paulo apresenta três grandes conclusões sobre sua tese de que somos justificados pela fé em Cristo Jesus por causa de Sua graça. Em primeiro lugar, o ensino da justificação pela fé deve nos tornar humildes e não orgulhosos. Entendendo que só podemos ser salvos por aquilo que Cristo fez, deveríamos nos humilhar por nossas repetidas tentativas de anular o sacrifício de Jesus ao oferecer nossa limitada e falha obediência em lugar de Seu ato de amor da cruz.

Em segundo lugar, a justificação coloca todos no mesmo patamar. Não existe mais circunciso ou incircunciso, ou seja, judeu ou gentio. Não existe salvação apenas para homens ou mulheres, pois ninguém é mais ou menos merecedor da salvação. Não existe mais escravo e livre, como se o status social garantisse a redenção. Cristãos e mundanos estão todos condenados por seus pecados diante de Deus. O que faz diferença é aceitação da salvação em Jesus Cristo. Adventistas e não adventistas, independentemente da luz que receberam, não podem fazer nada para herdar a salvação. A justificação pela fé deveria unir todos os que creem, porque todos necessitam da graça que só pode ser recebida pela fé no sacrifício de Jesus.

Por fim, longe de rejeitar a lei, a justificação pela fé confirma a lei, o que indica que devemos ser unidos pela fé em Cristo e pela verdade em Cristo. Ao contrário da crença de muitos cristãos, a doutrina da justificação pela fé não anula nem descarta a lei. A justificação pela fé apenas coloca a lei no seu lugar adequado e no seu devido papel. Os judeus não haviam compreendido esse assunto e muitos ainda hoje fazem confusão sobre esse tema. A lei não pode ser deixada de lado porque ela continua com sua função de mostrar nossa necessidade de Cristo e qual é o Seu plano para nossa vida. Porém, a justificação pela fé nos impede de usar a lei e sua observância como causa da nossa salvação.

Conclusão

No estudo desta semana, é importante lembrar que a doutrina da justificação pela fé precisa ser entendida não meramente como uma declaração de absolvição impessoal, como se fosse dada num julgamento terrestre. De fato, somos declarados justos sem ter justiça própria – a justiça de Cristo é computada a nosso favor. Mas isso acontece mediante a fé, isto é, dentro de um relacionamento vivo com o Salvador que morreu e ressuscitou. A justificação é muito mais do que simplesmente lidar com nossa vida passada. O evangelho é o poder de Deus para nos salvar daquilo que um dia fomos, mas também oferece poder para nos transformar à imagem e semelhança de Jesus. Deus não quer simplesmente nos livrar da culpa do passado. Ele quer nos tornar mais parecidos com Seu caráter, mais dispostos a amar como Ele ama e mais inclinados a demonstrar Sua bondade todos os dias. Que a cruz de Cristo, a grande e eterna fonte da graça infinita de Jesus, seja a grande motivação para uma vida feliz ao lado do nosso Salvador.

Referência:

EDWARDS, James R. Romans. Grand Rapids: Baker Books, 2011. 386 p. (Understanding the Bible Commentary Series).