Lição 4
21 a 27 de julho
Os primeiros líderes da igreja
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Ct 1–4
Verso para memorizar: “Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (At 6:7).
Leituras da semana: At 6; 7; 8:4-25; Hb 5 11-14; Mq 6 1-16

Muitos conversos no Pentecostes eram judeus helenistas, isto é, judeus do mundo greco-romano que agora viviam em Jerusalém (At 2:5, 9-11). Embora fossem judeus, eles eram, em muitos aspectos, diferentes dos judeus da Judeia – os “hebreus” mencionados em Atos 6:1. A diferença mais visível era que, como regra, eles não conheciam o aramaico, o idioma falado na Judeia naquela época.

Havia também muitas outras diferenças, tanto culturais quanto religiosas. Por terem nascido em terras estrangeiras, eles não tinham raízes nas tradições judaicas dos hebreus, ou pelo menos suas raízes não eram tão profundas quanto às deles. Presumivelmente, não estavam tão ligados às cerimônias do templo e aos aspectos da lei mosaica aplicáveis apenas à terra de Israel.

Além disso, por terem passado a maior parte da vida em um contexto greco-romano e vivido em contato com gentios, eles naturalmente estavam mais dispostos a compreender o caráter inclusivo da fé cristã. Na verdade, Deus usou muitos cristãos helenistas para cumprir a ordem de testemunhar ao mundo inteiro.



Domingo, 22 de julho
Ano Bíblico: Ct 5–8
A nomeação dos sete

1. Leia Atos 6:1. Qual foi a queixa dos cristãos helenistas? Assinale a alternativa correta:

A. (  ) Os judeus da Judeia os estavam impedindo de aceitar a Jesus.

B. (  ) Suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimentos.

causa da queixa foi a negligência que se alegava na distribuição diária de auxílio às viúvas gregas. Qualquer desigualdade seria contrária ao espírito do evangelho; contudo, Satanás conseguira despertar a suspeita. Medidas imediatas deveriam ser tomadas para remover todo motivo de descontentamento e evitar que o inimigo triunfasse em seus esforços de disseminar divisão entre os crentes” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 88).

A solução proposta pelos apóstolos foi que os helenistas escolhessem sete homens para “servir [diakone?] às mesas” (At 6:2), enquanto os apóstolos dedicariam seu tempo à oração e ao “ministério [diakonia] da palavra” (At 6:4). Uma vez que diakone? e diakonia pertencem ao mesmo grupo de palavras, a única diferença real está entre os termos “mesas”, em Atos 6:2, e “palavra”, em Atos 6:4. Isso, juntamente com o adjetivo “diária” (At 6:1), parece apontar para os dois principais elementos do cotidiano da igreja primitiva: o ensino (“da palavra”) e a comunhão (“às mesas”), sendo que esta última consistia na refeição comunitária, na Ceia do Senhor e nas orações (At 2:42, 46; 5:42).

Isto é, como depositários autoritativos dos ensinamentos de Jesus, os apóstolos se ocupariam principalmente do ensino doutrinário e também da oração, enquanto os sete se encarregariam das atividades de comunhão nas diversas igrejas localizadas nas casas. Seus deveres, no entanto, não se limitavam aos dos diáconos, conforme esse termo é entendido hoje. Os sete foram os primeiros líderes congregacionais da igreja.

2. Leia Atos 6:2-6. Como os sete foram escolhidos e comissionados para o serviço?

Os candidatos deviam ser distinguidos por qualidades morais, espirituais e práticas: deviam ter uma reputação honrosa e ser cheios do Espírito e de sabedoria. Com a aprovação da comunidade, os sete foram selecionados e então comissionados mediante oração e imposição de mãos. O rito parece indicar o reconhecimento público e a concessão de autoridade para que eles trabalhassem junto às várias congregações.

É fácil semear dissensão entre os cristãos. Como podemos manter a paz e nos concentrar na missão?


Segunda-feira, 23 de julho
Ano Bíblico: Is 1–4
O ministério de Estêvão

Após a sua nomeação, os sete se dedicaram não apenas ao ministério da igreja, mas também ao testemunho eficaz. O resultado foi que o evangelho continuou a se espalhar, e o número de cristãos continuou aumentando (At 6:7). Esse crescimento trouxe oposição à igreja primitiva. A narrativa de Atos então se concentra em Estêvão, um homem de rara “estatura” espiritual.

3. O que Atos 6:8-15 ensina sobre a fé e o caráter de Estêvão? Além disso, qual foi sua pregação, que tanto enfureceu seus adversários?

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Como judeu helenista, Estêvão compartilhava o evangelho nas sinagogas helenistas de Jerusalém. Havia várias dessas sinagogas na cidade. Atos 6:9 provavelmente se refere a duas delas: uma de imigrantes do sul (judeus de Cirene e Alexandria), e outra de imigrantes do norte (os da Cilícia e da Ásia).

Jesus certamente era o assunto central dos debates, mas as acusações levantadas contra Estêvão indicam, de sua parte, um entendimento a respeito do evangelho e suas implicações que possivelmente ultrapassava o parecer dos cristãos da Judeia. Estêvão foi acusado de blasfemar contra Moisés e contra Deus; isto é, contra a lei e o templo. Mesmo que ele tivesse sido mal interpretado em alguns pontos – ou suas palavras houvessem sido deliberadamente distorcidas – e falsas testemunhas tivessem sido induzidas a falar contra ele, as acusações podem não haver sido totalmente falsas, como no caso do próprio Jesus (Mc 14:58; Jo 2:19). No Sinédrio, ao condenar explicitamente a veneração idólatra do templo (At 7:48), Estêvão revelou entender as implicações mais profundas da morte de Jesus e suas consequências, pelo menos em relação ao templo e seus serviços cerimoniais.

Em outras palavras, embora talvez muitos cristãos judeus de origem hebraica ainda estivessem demasiado apegados ao templo e a outras práticas cerimoniais (At 3:1; 15:1, 5; 21:17-24), achando difícil abandoná-las (Gl 5:2-4; Hb 5:11-14), Estêvão e talvez os demais judeus helenistas cristãos logo entenderam que a morte de Jesus significava o fim de todo o sistema cerimonial do templo.

Por que devemos ter cuidado para não nos fecharmos tanto em algumas noções acalentadas, de maneira que rejeitemos uma nova luz?


Terça-feira, 24 de julho
Ano Bíblico: Is 5–7
Perante o Sinédrio

4. Leia Atos 7:1-53. O que Estêvão disse aos seus acusadores? Quais lições podemos aprender com suas palavras?

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As acusações levantadas contra Estêvão o levaram à prisão e ao julgamento pelo Sinédrio. De acordo com a tradição judaica, a lei e os serviços do templo representavam dois dos três pilares sobre os quais o mundo estava fundamentado – o último era a prática das “boas obras”. A simples insinuação de que as cerimônias mosaicas haviam se tornado obsoletas era verdadeiramente considerada um ataque ao que havia de mais sagrado no judaísmo; daí a acusação de blasfêmia (At 6:11).

A resposta de Estêvão é o discurso mais longo do livro de Atos, o que indica sua importância. Embora, à primeira vista, ele pareça apenas uma exposição tediosa da história de Israel, devemos entender o discurso em conexão com a aliança do Antigo Testamento e a maneira como os profetas usavam a estrutura dessa aliança quando se levantavam como reformadores religiosos para chamar Israel de volta às exigências da aliança. Eles costumavam empregar a palavra hebraica rîb, cuja melhor tradução provavelmente seja “processo judicial da aliança”, a fim de expressar a ação legal de Deus contra Seu povo, por causa da incapacidade dele de cumprir a aliança.

Em Miqueias 6:1 e 2, por exemplo, rîb aparece três vezes. Seguindo o padrão da aliança do Sinai (Êx 20–23), Miqueias relembrou o povo dos atos poderosos de Deus em seu favor (Mq 6:3-5), das condições e violações da aliança (Mq 6:6-12) e, finalmente, das maldições que resultavam dessas violações (Mq 6:13-16).

Esse provavelmente seja o pano de fundo do discurso de Estêvão. Quando solicitado a explicar suas ações, ele não fez nenhum esforço para refutar as acusações nem para defender sua fé. Em vez disso, ele ergueu a voz da mesma forma que os profetas antigos fizeram quando trouxeram o rîb de Deus contra Israel. Estêvão tinha o objetivo de ilustrar a ingratidão e a desobediência do povo.

Em Atos 7:51-53, Estêvão já não era mais o réu, mas profeta de Deus, apresentando o “processo judicial” contra os líderes. Se seus antepassados eram culpados de matar os profetas, eles o eram ainda mais. A mudança de “nossos pais” (At 7:11, 19, 38, 44, 45) para “vossos pais” (At 7:51, 52) é significativa: Estêvão pôs fim à sua solidariedade para com seu povo e tomou uma posição definitiva ao lado de Jesus. O custo seria enorme; no entanto, ele não revelou medo nem arrependimento.

Qual foi a última vez que você precisou assumir uma posição firme e decidida a favor de Jesus? Você fez o que devia fazer ou vacilou?


Quarta-feira, 25 de julho
Ano Bíblico: Is 8–10
Jesus no tribunal celestial

Visto que, por definição, um profeta (em hebraico, n?bî) é alguém que fala em nome de Deus, Estêvão se tornou um profeta no momento em que trouxe o rîb do Senhor contra Israel. Seu ministério profético, no entanto, foi bastante curto.

5. Leia Atos 7:55, 56. Qual foi o significado da visão de Estêvão?

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“No momento em que Estêvão chegou a esse ponto de seu discurso, houve um tumulto entre o povo. Quando ele estabeleceu uma conexão entre Cristo e as profecias e falou a respeito do templo, o sacerdote, fingindo-se horrorizado, rasgou as vestes. Para Estêvão, esse ato foi um sinal de que sua voz logo seria silenciada para sempre. Viu a resistência que suas palavras encontraram e compreendeu que estava apresentando seu último testemunho. Embora ainda estivesse no meio de seu sermão, concluiu-o abruptamente” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 100).

Enquanto Estêvão estava diante dos líderes judeus executando a ação jurídica do Senhor contra eles, Jesus estava em pé no tribunal celestial, isto é, no santuário celestial, ao lado do Pai – uma indicação de que o juízo na Terra era apenas uma expressão do verdadeiro juízo que ocorreria no Céu. Deus julgaria os falsos mestres e líderes de Israel.

Isso explica por que o chamado ao arrependimento, comum nos discursos anteriores (At 2:38; 3:19; 5:31), não está presente aqui. A teocracia de Israel estava chegando ao fim, o que significa que a salvação não mais seria mediada pela nação judaica, conforme prometido a Abraão (Gn 12:3; 18:18; 22:18), mas por meio dos seguidores de Jesus, judeus e gentios, que deveriam sair de Jerusalém e testemunhar ao mundo (At 1:8).

6. Leia Atos 7:57–8:1, 2. Como Lucas relatou a morte de Estêvão?

O apedrejamento era a pena por blasfêmia (Lv 24:14), embora não esteja claro se Estêvão foi condenado à morte ou simplesmente linchado por fanáticos. Conforme apontam os registros bíblicos, ele foi o primeiro cristão morto por causa de sua fé. O fato de que as testemunhas colocaram as vestes aos pés de Saulo sugere que ele era o líder dos adversários de Estêvão; porém, quando Estêvão orou por seus executores, também o fez por Saulo. Somente alguém com um caráter superior e fé inabalável poderia fazer isso – uma manifestação poderosa de sua fé e da realidade de Cristo em sua vida.



Quinta-feira, 26 de julho
Ano Bíblico: Is 11–14
A propagação do evangelho

A vitória sobre Estêvão provocou uma enorme perseguição contra os cristãos em Jerusalém, certamente instigada pelo mesmo grupo de adversários. O líder desse grupo era Saulo, que causou imensos danos à igreja (At 8:3; 26:10). A perseguição, no entanto, resultou em bem.

Espalhados pela Judeia e Samaria, os fiéis saíram pregando o evangelho. A ordem para testemunhar nessas regiões (At 1:8) foi então cumprida.

7. Leia Atos 8:4-25. Quais lições são reveladas nesse relato?

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Os samaritanos eram em parte israelitas, até mesmo do ponto de vista religioso. Eles eram monoteístas que aceitavam os primeiros cinco livros de Moisés (o Pentateuco), praticavam a circuncisão e aguardavam o Messias. Para os judeus, no entanto, a religião samaritana era corrompida, o que significa que os samaritanos não tinham nenhuma participação nas bênçãos da aliança de Israel.

A inesperada conversão de samaritanos surpreendeu a igreja em Jerusalém, de maneira que os apóstolos enviaram Pedro e João para avaliar a situação. O fato de Deus ter retido Seu Espírito até a chegada dos apóstolos (At 8:14-17) tinha provavelmente o objetivo de convencê-los de que os samaritanos deveriam ser plenamente aceitos como membros da comunidade de fé (veja At 11:1-18).

As coisas, no entanto, não pararam por aí. Em Atos 8:26-39, temos a história de Filipe e o etíope, um eunuco que, depois de um estudo bíblico, pediu o batismo. “Ambos desceram à água, e Filipe batizou o eunuco” (At 8:38).

Primeiro os samaritanos e em seguida o etíope – um estrangeiro que viera a Jerusalém para adorar e agora estava a caminho de casa. O evangelho estava atravessando as fronteiras de Israel e chegando ao mundo, conforme predito. Tudo isso, porém, era apenas o começo, visto que esses primeiros cristãos judeus percorreriam o mundo então conhecido e pregariam as boas-novas da morte de Jesus, que pagou a penalidade por seus pecados, oferecendo a todos, em todos os lugares, a esperança de salvação.

Pedro disse a Simão que ele estava “cheio de amargura e preso pelo pecado” (At 8:23, NVI). Qual foi a solução para o problema dele e para quem quer que esteja em situação semelhante?


Sexta-feira, 27 de julho
Ano Bíblico: Is 15–19
Estudo adicional

A perseguição que sobreveio à igreja de Jerusalém resultou em grande impulso para a obra do evangelho. O êxito havia acompanhado o ministério da Palavra nesse lugar, e havia o perigo de que os discípulos ali se demorassem por muito tempo, despreocupados em relação à comissão que haviam recebido do Salvador de ir a todo o mundo. Esquecidos de que a força para resistir ao mal é melhor obtida pelo trabalho intenso, começaram a pensar que não havia para eles trabalho tão importante como o de proteger a igreja de Jerusalém dos ataques do inimigo. Em lugar de instruir os novos conversos para levarem o evangelho aos que ainda não o haviam ouvido, estavam em perigo de tomar um caminho que os levaria a se sentirem satisfeitos com o que já tinha sido alcançado. A fim de espalhar Seus representantes por outras partes do mundo, de maneira que pudessem trabalhar por seus semelhantes, Deus permitiu que lhes sobreviesse a perseguição. Expulsos de Jerusalém, os crentes ‘iam por toda parte pregando a Palavra’” (At 8:4; Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 105).

Perguntas para discussão

1. Leia atentamente a citação de Ellen G. White acima sobre os perigos que a igreja primitiva enfrentou em relação à satisfação consigo mesma e com o que havia sido realizado por meio dela. Algo que aprendemos com isso é que, contrariamente às noções populares, muitos judeus aceitaram Jesus como o Messias. Ainda mais importante, essa história serve de advertência para o povo de Deus hoje. Como podemos ter certeza de que não estamos concentrados demais em proteger o que já temos, ao contrário de fazer o que realmente deveríamos fazer – alcançar o mundo?

2. Na época dos apóstolos, as relações entre judeus e samaritanos eram marcadas por séculos de violenta hostilidade. Filipe, um judeu helenista, testemunhou de Jesus em Samaria. O que isso nos ensina? Como adventistas do sétimo dia, não estamos imunes aos preconceitos culturais e étnicos. O que a cruz nos ensina sobre o fato de que somos todos iguais diante de Deus? O que a universalidade da morte de Cristo nos ensina sobre o valor infinito de todo ser humano?

3. Como Filipe abordou o etíope (At 8:27-30)? Como podemos estar mais abertos às oportunidades de compartilhar o evangelho com os outros?

4. Os ensinamentos de Atos 6–8 nos ajudam a cumprir a missão de maneira mais eficaz?

Respostas e atividades da semana: 1. B. 2. Peça a participação dos alunos. 3. Em classe, discutam maneiras de testemunhar como Estevão nos dias de hoje. 4. Façam juntos um resumo dos pontos principais do discurso de Estevão aos seus acusadores e das lições que podemos aplicar à nossa vida. 5. Peça a participação dos alunos. 6. Peça a participação dos alunos. 7. Reflita com os alunos sobre situações na Bíblia em que Deus transformou coisas aparentemente ruins em coisas boas. Quais lições podemos tirar do fato de que a perseguição possibilitou o crescimento da igreja e o cumprimento da missão? Será que a igreja hoje precisa de uma perseguição para ser despertada e para que possa cumprir sua missão?



Resumo da Lição 4
Os primeiros líderes da igreja

Os primeiros líderes da igreja

TEXTO-CHAVE: Atos 6:7

O ALUNO DEVERÁ

Saber: Que Deus tem um caminho infalível no desenvolvimento de Sua missão.
Sentir: Perceber como Deus levanta líderes e conduz Sua missão redentiva na história.
Fazer: Ser um participante ativo nos propósitos redentivos de Deus.

ESBOÇO

I. Saber: A missão infalível de Deus

A. Qual é a missão infalível de Deus, e como ela influencia sua vida?

B. Quais são os principais exemplos do método divino para cumprir Sua missão?

II. Sentir: Marcos históricos da maneira divina de conduzir Sua missão

A. De que maneira a nomeação dos diáconos mostra as diversas características de liderança na igreja?

B. Quem são os principais personagens da narrativa de Estêvão, que traça como Deus conduz Seus propósitos através da história? Quais lições podemos aprender com esses líderes?

III. Fazer: Participar da missão divina

Examine seu compromisso com a missão divina. O que você faria para promover mais os interesses e ações dessa missão?

RESUMO

Do princípio ao clímax da história humana, o interesse de Deus é que Seu povo conheça e cumpra Seus propósitos. Como você entende sua função nesse plano divino?

Ciclo do aprendizado

1 Motivação

Focalizando as Escrituras: Atos 6:1-7

Conceito-chave para o crescimento espiritual: Alguns estudiosos estimam que, até a época dos acontecimentos de Atos 6, o número de cristãos na igreja de Jerusalém fosse de 20 mil.
Esse crescimento extraordinário veio principalmente de dois grupos: judeus de língua hebraica que viviam nos arredores de Jerusalém e judeus de língua grega, ou convertidos ao judaísmo, da diáspora judaica. Quando os gregos acusaram os cristãos judeus de parcialidade na distribuição dos recursos assistenciais, os apóstolos perceberam que a queixa apresentava vários perigos: ameaçava a unidade da igreja; desviava os apóstolos de sua principal missão (estudo, oração e evangelismo); e gerava disputas dentro da igreja em desenvolvimento.
O que os apóstolos fizeram para resolver esse conflito? Quais características os apóstolos procuraram nos membros da equipe que deveria lidar com esse novo problema? (Veja At 6:3-7.)

Para o professor: O crescimento em qualquer área da vida acarreta seus próprios problemas. Seja na população, ciência, comunicação, educação, política, economia, família, ou em qualquer outra área, o crescimento precisa ser administrado e conduzido com cuidado para evitar problemas que prejudiquem a natureza positiva do desenvolvimento. Assim, na igreja primitiva, “multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração” (At 6:1). A contenda entre os cristãos hebreus e helenistas se tornou tão forte e divisora que os apóstolos tiveram que encontrar uma maneira de resolver o conflito, a fim de assegurar a unidade e o crescimento da igreja. Comece a semana ensinando o seguinte pensamento: Nenhum problema deve impedir a missão e o crescimento da igreja.

Discussão: Toda crise é uma oportunidade. Novas situações exigem novas abordagens e pessoas que apresentem novas soluções. Como sabemos que a solução que os apóstolos encontraram foi a correta? Qual é o significado da “imposição de mãos” (veja At 6:6)? Como a eleição dos sete diáconos afetou a igreja? (At 6:7).

Compreensão

Para o professor: Da equipe de sete pessoas escolhidas pela igreja de Jerusalém, Lucas registrou as contribuições significativas dos dois primeiros, Estêvão e Filipe, no desenvolvimento histórico da igreja. Estêvão foi o primeiro mártir, dos milhões que se seguiram até hoje, a deixar o desafio perpétuo e a lição imortal de que a vida de um cristão tem significado apenas no contexto do Salvador sofredor. A cruz deve definir os cristãos, pois somente então os cristãos poderão ver “os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus” (At 7:56). Estêvão foi um cristão extraordinário. Ele conhecia Jesus, a narrativa bíblica e sua história. Ele entendia o que Jesus havia feito. Sabia o que significava ter uma vida cristã. Não é de admirar que Lucas, o erudito autor de Atos, tenha falado de Estêvão de maneira excepcional (At 6:3-15; At 7). Estêvão era cheio do Espírito Santo, de fé, sabedoria, graça e poder. Ele também era uma pessoa de oração, milagres, verdade, luz e perdão.

Filipe era conhecido por seu zelo evangelístico em Samaria, onde foi aclamado como “o poder de Deus” (At 8:10). No auge de seu sucesso em Samaria, um anjo ordenou que ele fosse para o sul e seguisse a estrada deserta que ia de Jerusalém até Gaza. Ali, na estrada, o Espírito Santo o usou em uma conversa com um oficial etíope, bem como em sua conversão e batismo (At 8:26-38). Talvez esse etíope tenha sido o primeiro converso a levar o evangelho à sua pátria. Ao cumprir sua missão, Filipe foi conduzido pelo Espírito para pregar em todas as cidades, de Azoto, no sul, até Cesareia, no norte, na rota do Mediterrâneo.

Podemos aprender com esses dois heróis da fé, Estêvão e Filipe, duas lições significativas: é importante conhecer a história da nossa fé e proclamar essa mensagem de fé.

Comentário bíblico

I. Conhecer a história da nossa fé

(Recapitule com a classe At 7.)

O livro de Atos, em si, é um livro de história. Ele conta a história do início da igreja, de seu compromisso inabalável com Jesus, de suas lutas e sofrimentos, e de seus heróis – homens e mulheres, diáconos e apóstolos, pregadores e evangelistas, profetas e pastores. Em Atos, descobrimos que o crescimento da igreja primitiva deve ser visto como o cumprimento, em Jesus, da esperança profética do Antigo Testamento, em que “a pedra rejeitada [...] se tornou a pedra angular” (At 4:11). Os principais sermões registrados em Atos, a saber, os de Pedro, Estêvão e Paulo, ressaltaram que Deus Se revelou na história do Antigo Testamento por meio de pessoas como Abraão, Jacó, José, Moisés, Davi e outros. Nesse desenvolvimento da história bíblica, a igreja cristã herdou sua responsabilidade de apresentar ao mundo o ponto culminante do plano redentivo de Deus em Jesus.

Ao defender o evangelho de Cristo, Estêvão apresentou uma visão panorâmica da história da redenção e traçou uma linha do tempo desde o chamado de Deus a Abraão (At 7:2) até Jesus, à direita do Pai (At 7:55). Essa linha histórica do tempo assinala os altos e baixos, a ascensão e a queda, a fidelidade e a traição do povo escolhido por Deus como marcos poderosos na história redentora da humanidade. Nessa linha do tempo, Estêvão estabeleceu marcos de homens, mulheres e acontecimentos – o chamado de Abraão; a concessão da aliança; a fidelidade de José; Moisés, o libertador e profetizador de um “profeta como” ele; o tabernáculo no deserto; Davi; Salomão e o templo e, mais recentemente, a traição e o assassinato do “Justo”. Essa história de cumprimento e traição constitui a maior parte do testemunho de Estêvão, que enfureceu seu auditório (At 7:54). Quando a fé de Estêvão empreendeu essa “tumultuada viagem” pela história, ele, “cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus” (At 7:55). A igreja, desde então, entende que Jesus é o incontestável fundamento da história e o que impulsiona as ações dos fiéis até que a comunidade de fé se una à comunidade dos Céus.

Pense nisto: Leia Atos 7:51. O que significam as seguintes expressões: “homens de dura cerviz” (literalmente, pescoço duro) e “incircuncisos de coração e de ouvidos”? É possível ser fiel exteriormente e nos rituais da religião e, ao mesmo tempo, negar o poder da fé verdadeira?

II. Proclamando nossa fé

(Recapitule com a classe At 8.)

A letra de um hino diz: “Deus Se move de formas misteriosas para realizar Suas maravilhas.” Porém, na experiência da igreja primitiva, a atuação de Deus era uma realidade poderosa e visível. Observe dois fatos. Em primeiro lugar, Saulo, um dos homens responsáveis pelo apedrejamento de Estêvão e pela posterior Perseguição em massa dos cristãos (At 8:1-3; 26:9-11), tornou-se o mais poderoso proclamador de Jesus. Em segundo lugar, por causa da perseguição desencadeada após o martírio de Estêvão, os cristãos “foram dispersos pelas regiões da Judeia e Samaria” (At 8:1).

Um dos cristãos dispersos foi Filipe, o diácono. Filipe dirigiu-se para Samaria, onde Jesus já havia ministrado a uma mulher de má reputação (Jo 4). O trabalho de Filipe representou um maravilhoso avanço em favor do evangelho, tanto que Pedro e João viajaram de Jerusalém a Samaria para verificar se o evangelho havia realmente encontrado terreno fértil naquela cidade. A presença apostólica trouxe aos cristãos samaritanos a certeza e o poder do Espírito Santo. Mesmo enquanto a igreja se consolidava e crescia em Samaria, o pioneiro dessa missão foi ordenado a seguir em frente. Um evangelista viaja constantemente a fim de encontrar um novo território para o evangelho, e Filipe logo se viu dentro de uma carruagem juntamente com um oficial etíope que voltava de Jerusalém para sua casa. A obra do Espírito Santo é maravilhosa. O estudo de Filipe com o etíope levou ao batismo do etíope na estrada de Gaza e abriu caminho para o evangelho na Etiópia. Em seguida, Filipe, o evangelista, recebeu novas ordens do Espírito Santo e foi conduzido na rota do Mediterrâneo para Cesareia, pregando em todas as cidades desde Azoto até seu destino final, a cidade greco-romana de Cesareia. Um evangelista é alguém que prega o evangelho e está sempre preparado para seguir as ordens do Espírito Santo. Essa verdade tem fundamentado a história da missão cristã desde então.

Pense nisto: Muitos muros separavam Filipe e o oficial etíope: etnia e nacionalidade, religião, status social, condição econômica, cor e assim por diante. Filipe poderia ter evitado o etíope por vários motivos, mas ele era, antes de tudo, um evangelista, um portador das boas-novas. Ele não tinha outra opção senão correr e começar uma conversa.

Aplicação

Para o professor: Os sete discípulos eleitos para cuidar das necessidades das viúvas e dos pobres foram chamados para “servir” (At 6:2). A palavra grega para “servir” é diakonein, da qual vem a palavra diakoneõ, a palavra derivada para “diácono” e “diaconisa”. “A designação dos sete para tomarem a direção de ramos especiais da obra mostrou-se uma grande bênção para a igreja. Esses oficiais tomaram em cuidadosa consideração as necessidades individuais, bem como os interesses financeiros gerais da igreja; e, por sua gestão cautelosa e seu piedoso exemplo, foram, para seus colegas, um auxílio importante em conjugar os vários interesses da igreja em um todo unido” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 89).

Perguntas para reflexão e aplicação

Como sua igreja vê o cargo de diácono/diaconisa? Os diáconos e as diaconisas são considerados companheiros iguais no ministério? Como a contribuição deles para a vida e ministério da igreja pode ser aperfeiçoada?

Criatividade

Para o professor: Peça aos alunos que listem quais são, em seu entendimento, as qualificações e responsabilidades de um diácono/diaconisa. Em seguida, discuta como podemos compreender e valorizar mais o ministério dos diáconos e diaconisas em nossa igreja. Se possível, convide um diácono ou ancião da igreja para discutir esse tema com a classe.


A descoberta do sábado

Por muito tempo, Soon-Ae [Sun-A] trabalhou para Deus na construção de igrejas na Coreia do Sul. Ela pregava em um pequeno grupo que aumentou para 40 pessoas e se tornou uma congregação. Entretanto, Deus desejava que ela começasse uma nova igreja. Porém, mesmo enquanto realizava o trabalho de Deus, Soon-Ae sentia um vazio no coração. Seu coração enchia-se de alegria enquanto pregava ou participava de cultos de reavivamento, mas, em seguida, sentia um vazio profundo. Com a esperança de preencher esse vazio, Soon-Ae estudou teologia e, junto ao esposo, envolveu-se integralmente no ministério pastoral. Ainda assim, o vazio continuava.

Então, certo dia, uma colportora apareceu em sua casa. Tendo o casal adquirido alguns livros, o marido começou a frequentar uma igreja adventista.

Inicialmente, ela pensou que ele estivesse visitando outra igreja dominical, e achou muito estranho que fosse aos sábados. Certo dia, enquanto limpava o escritório, ela encontrou um boletim da igreja adventista e percebeu o que o marido fazia. Porém, não disse nada. No dia seguinte, domingo, ficou novamente em silêncio. Na segunda-feira, confrontou o marido. “Você é um pastor!”, ela disse. “Como você pode querer frequentar essa seita?" “Você não entende”, o marido respondeu. “Eles não são uma seita. Eles têm a verdade.”

Depois de ouvir essas palavras, Soon-Ae secretamente começou a ler os livros adventistas que o marido havia recebido da colportora. Eram livros de Ellen G. White. A leitura daqueles livros feriu o orgulho pastoral de Soon-Ae; por isso, sempre os lia quando o marido não estava em casa e devolvia rapidamente os livros para a estante quando ouvia o barulho do carro chegando.

Interesse crescente

O interesse de Soon-Ae pela doutrina adventista cresceu. Então, a colportora a convidou para participar de aulas de saúde em uma igreja adventista. Ela pensou: “Esta é a minha oportunidade de ver se os adventistas realmente fazem parte de uma seita.” O seminário de saúde durou vários dias. No terceiro, uma mulher chino-coreana se aproximou e disse: “Pastora, as pessoas dizem que esta igreja é uma seita. O que você pensa?” De início, ela quis confirmar a informação, mas respondeu: “Não, a igreja não é uma seita. Ela contém a verdade, incluindo o verdadeiro dia santo.” Soon-Ae não tinha ideia porque falou isso. A senhora chino-coreana ficou impressionada. “Nesse caso, quero ir a sua igreja com minha filha,” disse. “Não, não, minha igreja fica distante”, disse, acrescentando: “venha para esta igreja. Eles cuidarão de você.” A mulher atendeu à sugestão e, posteriormente se tornou a primeira pessoa a ser converter sob influência de Soon-Ae à igreja adventista mesmo que ainda não fosse membro batizada!

Após os seminários de saúde, Soon-Ae assistiu a um culto no sábado pela primeira vez. Ela queria encontrar algo – qualquer coisa – que lhe permitisse declarar que a igreja era uma seita. Mas, nada conseguiu. Na verdade, ficou surpresa ao ver que os adventistas seguiam os ensinamentos da Bíblia.

Mensagem de Jesus

Soon-Ae queria ser batizada, mas como passara por esse processo com o esposo havia alguns anos, orou: “Por que preciso repetir o ritual?” Deus pareceu responder: “Você precisa descobrir por si mesma.” Finalmente, ela decidiu ser batizada porque havia transgredido o sábado.

Naquela época, em uma tarde de sábado, um membro da igreja adventista visitou o casal. Enquanto conversavam, ele disse que o casal deveria ser batizado. O esposo de Soon-Ae disse que oraria, mas ela já estava certa da decisão, sugerindo que fossem batizados em fevereiro de 2017!

“Meu sonho é que meus sete irmãos aceitem o sábado. Também quero viajar para o interior do país onde as pessoas não conhecem a mensagem adventista e ensinar sobre o sábado. Orem por nós e pela construção da igreja adventista. Hoje, o vazio foi preenchido pela verdade do sábado. Meu coração está transbordando alegria em Jesus!”

Conhecendo a Coreia do Sul

• O primeiro missionário adventista na Coreia, Son Heung Cho, era um coreano que se converteu no Japão em 1904.

• A União da Coreia supervisiona o trabalho da igreja na Coreia do Sul. É composta pelas Associações do Centro-Leste Coreano, Centro-Oeste Coreano, Sudeste Coreano, Sudoeste Coreano e Ocidente Coreano.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2018

Tema Geral: O Livro de Atos dos Apóstolos

Lição 4: 21 a 28 de julho

Os primeiros líderes da igreja

 

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega


Rafael Krüger
Pastor distrital
Munique, Alemanha


Supervisor: Wilson Paroschi
Professor de Novo Testamento
Southern Adventist University
Collegedale, TN, EUA

Esboço da lição da semana

I. Problema interno na igreja (At 6:1-7)

II. Prisão e julgamento de Estêvão (At 6:8-7:60)

III. A expansão do evangelho (At 8:1-40)

I. Problema interno na igreja (At 6:1-7)

A igreja cristã passou por dificuldades e provações desde o seu início. Algumas delas tinham origem externa, como as constantes prisões e perseguições (At 4:3; 5:17-18; 8:1). Já outras nasceram dentro da própria comunidade de crentes. Um exemplo disso pode ser visto em Atos 6:1-7. Com o aumento do número de conversos, os apóstolos, por mais diligentes que fossem, não conseguiam atender a todas as demandas da igreja. Assim, certas atividades deixaram de ser realizadas satisfatoriamente e um grupo de pessoas passou a não ser assistido.

1. O motivo da reclamação

A reclamação era sobre a não “ministração cotidiana” (ACF), ou diária, às viúvas helenistas.

Embora o termo “ministração cotidiana” possa ser vago para os leitores modernos, os apóstolos entenderam a expressão claramente. Eles identificaram que o problema era sobre o “ministrar às mesas” (v. 2). A palavra usada aqui é diakone?. Ela é a da mesma família que diakonia, usada nos versos 1, já mencionado, e 4, ao se referir ao “ministério da Palavra”. Esses usos indicam uma relação entre as atividades. A “ministração cotidiana” ou “ministrar às mesas” e o “ministério da Palavra” apontam, respectivamente, para as atividades de comunhão e de ensino (ver lição 3).

Talvez o problema levantado pelos helenistas não fosse apenas que suas viúvas estivessem passando fome ou alguma outra necessidade, conforme relata o livro de Atos (4:34-35), mas que elas estavam também sendo negligenciadas em uma importante atividade espiritual. Por algum motivo, talvez elas não estivessem sendo atendidas no serviço da comunhão, que envolvia as refeições comunais, a Santa Ceia, e orações que eram realizadas nas igrejas do lar da comunidade cristã.

2. Um grupo preterido

Após entender o problema que afligia as viúvas helenistas, surgiu a seguinte indagação: por que apenas elas foram deixadas de lado?

Havia diferenças culturais e religiosas entre os judeus da Palestina (os “hebreus” de At 6:1) e os nascidos no mundo greco-romano, os helenistas. Esses últimos, por exemplo, não estavam familiarizados com o aramaico, idioma falado na Palestina, e também não eram tão ligados às tradições, às leis aplicadas apenas à terra de Israel e ao santuário, aspectos esses importantes para os hebreus. Tais divergências contribuíam para um distanciamento e tensões históricas entre os dois grupos.

É difícil saber até que ponto essa separação também se refletiu dentro da igreja, mas a verdade é que em Atos 6:1 lemos que as viúvas helenistas estavam sendo negligenciadas no serviço da comunhão nos lares e em suas necessidades.

3. O ministério dos Sete

Para solucionar o problema existente, sete homens dentre a própria comunidade dos judeus cristãos helenistas foram escolhidos para que se responsabilizassem pelas atividades de comunhão nos lares. Embora eles sejam costumeiramente denominados de diáconos, suas atribuições eram mais amplas do que as de um diácono moderno. Eles eram como que líderes congregacionais que tinham como função principal o atendimento às atividades cristãs realizadas nos lares. Além disso, Estêvão e Filipe, o evangelista, se destacaram na pregação do evangelho (v. 8-9; 8:26; 21:4).

II. Prisão e julgamento de Estêvão (At 6:8-7:60)

Como cristão helenista, Estêvão provavelmente tivesse demonstrado mais facilidade que seus irmãos hebreus para compreender que a morte de Jesus marcava o fim do sistema cerimonial. Suas mensagens provavelmente tratassem sobre esse aspecto. Não é à toa que ele foi acusado de blasfemar contra a lei e o santo lugar (templo), o que, em outras palavras, era considerado blasfemar contra Moisés e o próprio Deus (6:11, 13-14). Embora as acusações fossem deturpadas, elas certamente estavam apoiadas em aspectos verídicos da posição de Estêvão.

No Sinédrio, Estêvão não se preocupou com sua defesa. Antes, como profeta, ele fez um longo e histórico discurso apresentando os erros de seus ouvintes e de seus pais, transformando, assim, os seus acusadores em réus.

1. O discurso à luz da aliança

É fundamental analisar o discurso de Estêvão sob a ótica da aliança no Antigo Testamento. Ao fazer isso, é possível entender o motivo pelo qual sua fala se demora em questões históricas do povo de Israel.

Um dos elementos da estrutura da aliança é o prólogo, em que a relação entre Deus e a nação israelita é descrita (Êx 20:2; Js 24:1-13). Quando um profeta tinha a missão de trazer o povo de volta às estipulações do pacto do Sinai, ele aplicava a fórmula da aliança, o que incluía o prólogo, de acordo com o seu contexto. Além disso, ele às vezes também usava a palavra hebraica rîb, cuja melhor tradução é “demanda judicial da aliança”. Assim, ele dava a ideia de um tribunal, em que Deus apresentava uma ação contra Israel. Isso pode ser visto em Miqueias 6, onde o rîb é pronunciado três vezes (v. 1-2) e um prólogo é feito (v. 3-5).

Somente então podemos entender o motivo pelo qual Estêvão dedicou a maior parte da sua fala recontando a história do povo de Israel para um público que certamente a conhecia (7:2-50). Ele estava fazendo um longo prólogo antes de trazer a demanda judicial que Deus tinha para com os judeus (v. 51-53).

2. O fim de um período

A morte de Estêvão tem implicações teológicas profundas. Ela marca o encerramento das 70 semanas sobre o povo de Israel, significando o fim de sua relação teocrática com Deus (Dn 9:24-27). Estêvão foi o último profeta a tratar Israel como o povo da aliança. O conteúdo do seu discurso, porém, foi diferente da fala de seus predecessores e mesmo dos apóstolos Pedro e João, quando estes também estiveram no Sinédrio (At 5:30, 31). Ele não trouxe uma mensagem de esperança e tampouco chamou seus ouvintes ao arrependimento, aspecto comum nos sermões relatados em Atos (cf. 2:38; 3:19; 17:30). Antes, demonstrou que o pacto havia sido quebrado: o Espírito Santo foi sistematicamente resistido, profetas foram mortos e a lei não fora guardada. Por fim, o próprio Messias, ali chamado de Justo, havia sido traído e assassinado. A parábola dos lavradores maus estava se cumprindo (Mt 21:33-44).

Devemos lembrar que a aliança com Israel não implicava em salvação automática. O pacto era missional, e consistia num meio idealizado por Deus para transmitir Sua salvação a todas as nações. Esse, inclusive, foi o chamado original de Abraão (Gn 12:1-3). Assim, o rompimento da aliança não implica necessariamente na rejeição ou perdição dos judeus, mas que, como nação, ela não mais seria o instrumento de Deus para tornar as bênçãos salvíficas de Deus conhecidas ao mundo. Isso estaria agora a cargo daqueles que aceitassem Jesus como Messias e Salvador.

III. A expansão do evangelho (At 8:1-40)

Dois problemas foram decisivos para que o evangelho rompesse as barreiras judaicas. Um deles foi externo: a perseguição sofrida pela igreja (8:1). Isso fez com que cristãos se espalhassem para outras localidades circunvizinhas e ali testemunhassem de Jesus. Outra dificuldade foi interna: as diferenças marcantes entre os cristãos helenistas e os hebreus. Por um lado, essas divergências estavam em algum grau no pano de fundo da negligência às viúvas helenistas. Por outro, foram as perspectivas desse grupo, que entendia o cristianismo de maneira mais abrangente e inclusiva, que impulsionaram a pregação aos tão odiados samaritanos e a um gentio etíope.

Conclusão

Pontos que devem ser enfatizados na classe:

– O contexto por trás da negligência às viúvas helenistas.

– Aspectos negativos e positivos das diferenças entre helenistas e hebreus.

– A relevância e o significado do discurso e da morte de Estêvão.

– O término da aliança de Deus com Israel.

– O caráter inclusivo do evangelho (hebreus, judeus helenistas, samaritanos e gentios).

 

Supervisor do comentário:

Wilson Paroschi ensinou na Faculdade de Teologia do Unasp, Engenheiro Coelho, por mais de trinta anos. Desde janeiro deste ano, é professor de Novo Testamento na Southern Adventist University, em Collegedale, Tennessee, Estados Unidos. Ele é PhD em Novo Testamento pela Andrews University (2004) e realizou estudos de pós-doutorado na Universidade de Heidelberg, na Alemanha (2011).