Sábado
21 de julho
Olhos nos olhos
O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem e os livra. Salmo 34:7, ARA

Era dia de lavar roupa no internato que eu morava, em Nairóbi, Quênia. Como trinta e cinco meninas estariam lavando roupa naquele dia, decidi começar cedo. Levantei-me às 5 da manhã, fiz minha oração, organizei as peças de roupa e fui à lavanderia. Como pensei, eu era a única no local. Ou melhor, a única pessoa.

Quando comecei a pôr as roupas na máquina, tive a sensação de estar sendo observada. Deixei de lado o mau pressentimento; mas, alguns minutos depois, ouvi um choramingo – e um toque suave na barra do meu moletom. Quando olhei para baixo, vi a mais linda bolinha de pelo que já havia visto – na forma de um filhote de leão! Instintivamente, eu me ajoelhei e comecei a coçar a cabeça dele. O filhotinho ronronou, satisfeito e, na brincadeira, agarrou minha mão com as duas patinhas dianteiras, mordiscando meus dedos. “Ah, você está com fome”, eu disse. “Posso conseguir um leitinho morno para você no refeitório.” O filhote rolou e ficou de costas, permitindo que eu coçasse sua barriguinha. Por alguns segundos, eu me senti no Éden.

De súbito, um rugido profundo me fez voltar à realidade, congelando meu sangue. O filhote se pôs em pé nas quatro patas e, com a cauda firme entre as pernas e a cabeça baixa, o traidorzinho abriu covardemente o caminho de volta à sua mãe – uma leoa de 127 quilos. Fixei nela o olhar na porta de entrada da lavanderia e me lembrei da instrução dos guardas: “Nunca fuja de um felino selvagem; retroceda devagar, em silêncio, e mantenha os olhos no chão.” Um aviso essencial, sem dúvida. O problema era que eu estava na lavanderia, num beco sem saída, sem nenhum espaço para onde “retroceder”. E estivera com o olhar fixo nos olhos cor de avelã da leoa desde o seu primeiro rugido!

Lágrimas quentes de terror e desespero se avolumaram em meus olhos. “Querido Jesus…” As palavras ficaram trancadas na garganta; talvez eu morresse asfixiada antes de ser estraçalhada pela enorme fera. Naquele momento, a leoa apanhou o filhote pela nuca, virou-se e simplesmente se afastou.

Precisei tomar fôlego! As lágrimas corriam pelo meu rosto. Eu estava viva! Mal podia acreditar. Embora, fisicamente, ainda estivesse trêmula, emocionalmente, eu me sentia empolgada! Dei graças a Deus porque, uma vez mais, meu anjo da guarda estava mais perto de mim do que o meu inimigo. Ele sempre está ao nosso lado.

Evelia R. Cargill