Quinta-feira
15 de abril
O ninho vazio
Deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne. Mateus 19:5

Nasci e me criei em Cachoeira do Sul, RS, e me lembro bem de um dia terrível em minha infância. Meus pais me levaram à casa de meus avós, na mesma rua em que morávamos, e lá tivemos uma reunião de família, que na verdade foi uma reunião de despedida. Minha mãe, em prantos, exclamava: “Como é duro deixar um filho!”

Eu tinha apenas 13 anos e estava de partida para o Colégio Adventista, em São Paulo. Naquele tempo, a VARIG mantinha uma linha aérea que passava por Cachoeira e várias outras cidades do interior. Fomos ao aeroporto local, e logo um DC-3 aterrissou em meio a uma nuvem de poeira. E assim embarquei, sozinho, com o coração pesado, para Porto Alegre, onde faria o traslado para um Convair-440, que me levaria a São Paulo.

Soube depois que meu pai não conseguiu trabalhar naquele dia, tal foi sua angústia por me ver partir. Eu estava saindo de casa prematuramente, devido a dificuldades na escola, por causa de aulas e provas no sábado. Como não havia escola adventista na cidade, a solução que meus pais encontraram foi me mandar para o internato em São Paulo. Teria sido mais fácil ir para o colégio adventista em Taquara, a 260 quilômetro de distância, mas minha mãe não aceitou essa ideia por causa do rio dos Sinos, que passa junto ao colégio. Ela temia que eu fosse nadar no rio e morresse afogado.

Quarenta anos depois, enfrentei a mesma situação que meu pai naquele dia. Vi meus filhos se despedindo e saindo de nossa casa em Tatuí, SP, para estudar. O mais velho foi para Florianópolis a fim de estudar Administração, e o mais novo, para São Paulo com o objetivo de estudar Música. E a casa, antes movimentada e alegre com a presença deles e dos amigos, de repente ficou vazia e silenciosa. Quantas vezes, com o coração dolorido, fui ao quarto deles, agora vazio, e lá chorei de saudades. Meus meninos haviam crescido e batido asas, em busca de seu futuro.

Sei que essa experiência não é só minha. É a experiência de todo pai e de toda mãe, nesta vida cheia de despedidas. De repente, como aves migratórias, os filhos se vão. O ninho fica vazio.

Se você vive essa realidade, reúna forças e prepare-se para recomeçar. Encha sua agenda com mil projetos. A saída dos filhos dói, mas não é o fim.
A vida continua.

Rubem Scheffel, 7/6/2010