Lição 8
15 a 21 de fevereiro
Do mar tempestuoso às nuvens do Céu
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Nm 12-14
Verso para memorizar: “O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o Céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o Seu reino será reino eterno, e todos os domínios O servirão e Lhe obedecerão” (Dn 7:27).
Leituras da semana: Dn 7; 2Ts 2:1-12; Rm 8:1; Mc 13:26; Lc 9:26; 12:8; 1Tm 2:5

A visão de Daniel 7, nosso assunto desta semana, é semelhante ao sonho de Daniel 2. Porém, Daniel 7 amplia o que foi revelado em Daniel 2.
Primeiramente, a visão ocorreu à noite e retrata o mar agitado pelos quatro ventos. Escuridão e água lembram a criação, mas, nesse episódio, a criação parece estar de alguma forma distorcida ou sob ataque. Em segundo lugar, os animais da visão são impuros e híbridos, o que representa uma violação da ordem criada. Em terceiro lugar, eles são descritos como se estivessem exercendo domínio; portanto, parece que o domínio que Deus havia conferido a Adão no jardim foi usurpado por esses poderes. Em quarto lugar, com a vinda do Filho do Homem, o domínio de Deus é devolvido àqueles a quem ele pertence legitimamente. O que Adão havia perdido no jardim, o Filho do Homem recupera no julgamento celestial.

A descrição acima apresenta um panorama das imagens bíblicas que aparecem no pano de fundo dessa visão altamente simbólica. Felizmente, alguns detalhes essenciais da visão foram explicados pelo anjo, para que pudéssemos compreender os principais desdobramentos dessa incrível profecia.


Dez Dias de Oração e Resgate – 10 dia: hoje vamos orar por líderes da igreja que se afastaram de Cristo.

Domingo, 16 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 15, 16
Os quatro animais

1. Leia Daniel 7. Qual é a essência do que foi mostrado a Daniel e qual é o assunto da visão?

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Cada animal revelado a Daniel correspondia a uma parte da estátua mostrada a Nabucodonosor; porém, nessa visão, foram dados mais detalhes sobre cada reino. É interessante que as criaturas, simbolizando nações pagãs, eram animais impuros. Além disso, com exceção do quarto animal, Daniel descreveu os animais como se eles se parecessem com algumas criaturas conhecidas. Portanto, não eram símbolos arbitrários, visto que cada um apresentava algumas características ou apontava para algum aspecto do reino que representava.

Leão: Um leão é a representação mais adequada de Babilônia. Leões alados decoravam as paredes do palácio e outras obras de arte babilônicas. O leão descrito na visão teve suas asas arrancadas, foi levantado e posto em dois pés como homem e recebeu um coração humano. Esse processo simboliza a decadência do Império Babilônico sob seus reis posteriores.

Urso: O urso representa o Império Medo-Persa. O fato de ser levantado sobre um lado indica a superioridade dos persas sobre os medos. As três costelas entre os dentes representam as três principais conquistas do Império Medo-Persa: Lídia, Babilônia e Egito.

Leopardo: O leopardo veloz representa o Império Grego estabelecido por Alexandre, o Grande. As quatro asas tornavam esse animal ainda mais veloz, uma representação adequada de Alexandre, que em poucos anos dominou todo o mundo conhecido então.

O animal terrível e espantoso: Enquanto as entidades anteriores apenas se assemelhavam aos animais mencionados, esta era uma entidade em si mesma. Isto é, os primeiros animais foram descritos como “semelhantes” ao leão ou ao urso, mas esse não foi retratado como semelhante a nada. Esse animal com vários chifres também parecia muito mais cruel e voraz do que os anteriores. Assim, ele é uma representação adequada de Roma pagã, que conquistou, governou e pisoteou o mundo com pés de ferro.

Todos esses milhares de anos da História humana vieram e se foram, exatamente como foi predito. Que consolo temos ao saber que Deus governa acima de todo o tumulto, a agitação e, às vezes, o caos total? O que isso nos ensina sobre a confiabilidade das Escrituras?

Primeiro Deus - Vá à presença de Deus hoje e peça-Lhe a capacidade de compartilhar Seu amor.

Segunda-feira, 17 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 17-19
O chifre pequeno

2. Leia Daniel 7:7, 8, 19-25. Quem é o poder do chifre pequeno, que surge diretamente do quarto animal e continua sendo parte dele? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:

A. (  ) O papado como instituição. 
B. (  ) O islamismo.

Ontem descobrimos que o animal feroz com dez chifres governando o mundo com extrema crueldade representa Roma pagã. Agora, devemos considerar o chifre pequeno e o poder que ele representa. Conforme retratado na visão, o quarto animal tinha dez chifres, dos quais três foram arrancados para dar lugar a um chifre pequeno. Esse chifre tinha olhos humanos e “falava com insolência” (Dn 7:8). É evidente que o chifre pequeno emerge da entidade representada pelo animal terrível, que é Roma pagã. De certa maneira, o chifre prolonga ou perpetua algumas características de Roma pagã. Ele é apenas um estágio posterior do mesmo poder.

Daniel viu esse outro chifre guerreando contra os santos. O anjo lhe explicou que esse chifre era um rei que realizaria três ações contrárias à Lei: (1) proferiria palavras contra o Altíssimo; (2) destruiria os santos do Altíssimo (Dn 7:25, ARC); (3) cuidaria em mudar os tempos e a Lei. Como consequência, os santos seriam entregues em suas mãos. Em seguida, o anjo apresentou o período previsto para as atividades do chifre pequeno: um tempo, dois tempos e metade de um tempo. Nesse caso de linguagem profética, a palavra “tempo” significa “ano”. Sendo assim, a expressão “tempos” significa “anos”, uma forma dupla: “dois anos”. Portanto, é um período profético de três anos e meio que, de acordo com o princípio do dia/ano, indica um período de 1.260 anos. Durante esse tempo, o chifre pequeno prepararia um ataque contra Deus, perseguiria os santos e tentaria mudar Sua Lei.

3. Leia 2 Tessalonicenses 2:1-12. Quais semelhanças existem entre o homem da iniquidade e o chifre pequeno? Sobre qual poder Paulo e Daniel estavam falando? Por quê? Qual é o único poder que surgiu de Roma pagã, mas continua sendo parte de Roma – um poder que se estende desde a época de Roma pagã até o fim do mundo, existindo ainda hoje?

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Terça-feira, 18 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 20, 21
O tribunal se assentou

Após a visão dos quatro animais e das atividades do chifre pequeno, o profeta viu uma cena de juízo no Céu (Dn 7:9, 10, 13, 14). Enquanto o tribunal se reunia, foram postos uns tronos, e o Ancião de Dias Se assentou. Como mostra a cena celestial, milhares e milhares de seres celestiais ministravam diante do Ancião de Dias; o tribunal se assentou e os livros foram abertos.

É importante observar que esse juízo ocorre após o período de 1.260 anos da atividade do chifre pequeno (531-1798 d.C.; veja a lição de sextafeira), mas antes do estabelecimento do reino final de Deus. Na verdade, a seguinte sequência aparece três vezes na visão:

O período do chifre pequeno (538-1798)
Juízo celestial
Reino eterno de Deus

4. Leia Daniel 7:13, 14, 21, 22, 26, 27. De que maneiras o juízo beneficia o povo de Deus?

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O Antigo Testamento descreve diversos atos de juízo no tabernáculo e no templo, mas o juízo mencionado nesse texto é diferente. Esse juízo cósmico afeta não apenas o chifre pequeno, mas também os santos do Altíssimo, que por fim receberão o reino.

Daniel 7 não descreve o juízo nem apresenta detalhes sobre seu início e fim, mas sugere que ele seria realizado logo após o ataque do chifre pequeno contra Deus e Seu povo. A grande questão nesse texto, então, é enfatizar o início de um julgamento de proporções cósmicas. A partir de Daniel 8 e 9 (veja as lições das próximas semanas), estudaremos sobre o tempo do início do juízo e o fato de que ele está relacionado à purificação do santuário celestial no Dia da Expiação celestial. A lição aqui é que evidentemente teremos um juízo pré-advento no Céu em favor do povo de Deus (Dn 7:22).

Por que uma compreensão do que Jesus realizou por nós na cruz é tão central à nossa segurança no dia do juízo? Que esperança teríamos sem a cruz? (Veja Rm 8:1).


Quarta-feira, 19 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 22-24
A vinda do Filho do Homem

5. Quem é o Filho do Homem em Daniel 7:13 e como você O identifica? (Veja também Mc 13:26; Mt 8:20; 9:6; Lc 9:26; 12:8). Assinale a alternativa correta:

A. (  ) Jesus, pois Ele mesmo Se identificou assim no Novo Testamento.
B. (  ) O profeta Daniel, que será uma importante testemunha no juízo celestial.

À medida que o juízo ocorre, uma figura importante entra em cena: o Filho do Homem. Quem é Ele? Primeiramente, o Filho do Homem aparece como uma figura celestial individual. Mas, como o título sugere, Ele também exibe traços humanos. Em outras palavras, Ele é um Ser divino-humano que vem desempenhar uma função ativa no juízo. Em segundo lugar, o Filho do homem vindo com as nuvens do Céu é uma imagem comum da segunda vinda de Cristo no Novo Testamento. Contudo, em Daniel 7:13 especificamente, o Filho do Homem não é descrito como vindo do Céu à Terra, mas como se estivesse Se movendo horizontalmente de um lugar a outro no Céu, a fim de aparecer diante do Ancião de Dias. Em terceiro lugar, a representação do Filho do Homem vindo com as nuvens do Céu sugere a manifestação visível do Senhor. Mas essa imagem lembra também o sumo sacerdote que, rodeado por uma nuvem de incenso, entrava no lugar santíssimo no Dia da Expiação para realizar a purificação do santuário.

O Filho do Homem é também uma figura da realeza. Ele recebeu “domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas O servissem” (Dn 7:14). O verbo “servir” também pode ser traduzido como “adorar”. Ele aparece nove vezes nos capítulos 1 a 7 (Dn 3:12, 14, 17, 18, 28; 6:16, 20; 7:14, 27) e transmite a ideia de prestar homenagem a uma divindade. Portanto, como consequência da tentativa de mudar a Lei de Deus, o sistema religioso representado pelo chifre pequeno corrompe a adoração devida ao Senhor. O juízo mostrado nessa passagem significa que a adoração verdadeira finalmente é restaurada. A adoração estabelecida pelo sistema papal, entre outros elementos, coloca um ser humano caído como um mediador entre Deus e a humanidade. O livro de Daniel mostra que o único Mediador capaz de representar a humanidade diante de Deus é o Filho do Homem. Como diz a Bíblia: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, Homem” (1Tm 2:5).

De tudo o que lemos na Bíblia sobre a vida e o caráter de Jesus, por que é tão reconfortante saber que Ele é tão central ao juízo descrito nessa passagem?


Quinta-feira, 20 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 25-27
Os santos do Altíssimo

6. De acordo com Daniel 7:18, 21, 22, 25 e 27, o que acontecerá com o povo de Deus? Assinale a alternativa correta:

A. (  ) Será perseguido e oprimido, mas será resgatado e receberá o reino.
B. (  ) Será afligido e derrotado para todo o sempre.

Os “santos do Altíssimo” são uma designação do povo de Deus. Eles foram atacados pelo poder representado pelo chifre pequeno. Em virtude de insistirem em permanecer fiéis à Palavra de Deus, eles foram perseguidos durante os tempos do governo papal. Os cristãos também foram perseguidos durante a época do Império Romano pagão (o quarto animal), mas o que é mencionado em Daniel 7:25 é uma perseguição aos santos promovida pelo chifre pequeno, que surge somente após o término do período pagão de Roma.

No entanto, o povo de Deus não estará para sempre sujeito à opressão do poder deste mundo. O reino de Deus substituirá os reinos do mundo. É interessante que, na visão, o Filho do Homem recebe “domínio, e glória, e o reino” (Dn 7:14). Mas na interpretação apresentada pelo anjo, os “santos” recebem o reino (Dn 7:18). Não há contradição aqui. Visto que o Filho do Homem Se identifica com Deus e com a humanidade, Sua vitória é a vitória daqueles que Ele representa.

Quando o sumo sacerdote perguntou se Jesus era o Messias, o Filho de Deus, Jesus apontou para o Salmo 110:1 e Daniel 7:13, 14 e disse: “Eu Sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-poderoso e vindo com as nuvens do Céu” (Mc 14:62). Portanto, Jesus é Aquele que nos representa no tribunal celestial. Ele já derrotou os poderes das trevas e compartilha Seu triunfo com aqueles que se aproximam Dele. Portanto, não há razão para temer. Como declarou o apóstolo Paulo tão apropriadamente: “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio Daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8:37-39).

Veja com que precisão a visão de Daniel descreve a História, com milhares de anos de antecedência. Como isso deve nos ajudar a confiar em todas as promessas de Deus para o futuro?

Primeiro Deus - Peça hoje ao Senhor: dá-me a Tua paz, como prometeste.

Sexta-feira, 21 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 28-30
Estudo adicional

Um exame superficial da História revela que, após o colapso do Império Romano, que ocorreu por ataques de bárbaros do norte, o bispo de Roma se aproveitou da derrota das três tribos bárbaras e se estabeleceu como único poder em Roma a partir de 538 d.C. Ele adotou diversas funções institucionais e políticas do imperador romano. Daí surgiu o papado, investido de poder temporal e religioso até ser deposto por Napoleão em 1798. Isso não pôs fim à Roma, porém apenas àquele período específico de perseguição. O papa não apenas afirmou ser o vigário de Cristo, mas também introduziu doutrinas e práticas contrárias à Bíblia. O purgatório, a penitência, a confissão a um sacerdote e a mudança do sábado para o domingo estão entre as muitas mudanças dos tempos e da Lei introduzidas pelo papado.

“O homem não pode, em sua própria força, enfrentar as acusações do inimigo. Com suas vestes manchadas de pecado e em confissão de culpa, ele está perante Deus. Mas Jesus, nosso Advogado, apresenta uma eficaz alegação em favor de todo aquele que, pelo arrependimento e fé, confiou a guarda de seu coração a Ele. Cristo defende sua causa e, mediante os poderosos argumentos do Calvário, derrota seu acusador. Sua perfeita obediência à Lei de Deus deu-Lhe poder no Céu e na Terra, e Ele reclama de Seu Pai misericórdia e reconciliação para com o homem culpado. Ao acusador do Seu povo Ele declara: ‘O Senhor te repreenda, ó Satanás. Estes são os que foram comprados com o Meu sangue, tições tirados do fogo’. E aos que Nele descansam em fé, Ele dá a certeza: ‘Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniquidade e te vestirei de vestidos novos’ (Zc 3:4, ARC)” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 586, 587).

Perguntas para discussão

Veja novamente as características do chifre pequeno que surge e continua sendo parte do quarto animal, Roma. Qual é o único poder que surgiu de Roma pagã muitos séculos atrás, perseguiu o povo de Deus e existe até hoje? Por que essa identificação deve nos proteger de especulações sobre sua identidade, tais como a ideia de que o chifre pequeno seja um rei grego pagão que desapareceu da história mais de um século e meio antes do primeiro advento de Jesus? Como essas marcas claras de identificação também nos protegem da crença de que o chifre pequeno seja algum poder futuro que ainda está para surgir?

Respostas e atividades da semana: 1. A visão que tratava dos reinos futuros da Terra e da sua destruição. Descreve quatro animais que subiram do mar. Representavam os reinos que dominariam o mundo até a vinda do Filho do Homem. 2. V; F. 3. Ambos querem tomar o lugar de Deus. Buscam enganar os santos e representam o papado, a Igreja Católica Apostólica Romana, pois nasce da própria Roma pagã. 4. Deus dará ao Seu povo o reino e o domínio. 5. A. 6. A.



Resumo da Lição 8
Do mar tempestuoso às nuvens do Céu

ESBOÇO

TEXTO-CHAVE: Daniel 7:27

FOCO DO ESTUDO: Daniel 7; 2 Tessalonicenses 2:1-12; Romanos 8:1; Marcos 13:26; Lucas 9:26; Lucas 12:8; 1 Timóteo 2:5

Introdução

Daniel 7 revela que, depois de uma sequência de poderes mundiais, os quais governaram o mundo com extrema crueldade, o tribunal celestial é estabelecido, e o Filho do Homem recebe o poder e o reino para governar eternamente com Seu povo.

Temas da lição

1. O chifre pequeno

Do quarto animal com dez chifres emerge um chifre pequeno que blasfema contra Deus e persegue o Seu povo.

2. Juízo celestial

O tribunal celestial condena o chifre pequeno e traz livramento e salvação ao povo de Deus.

3. A vinda do Filho do Homem

O Filho do Homem sai do juízo celestial para vindicar Seu povo.

4. Os santos do Altíssimo

Os santos sofrem perseguição mas permanecem fiéis a Deus.

Aplicação para a vida

Apesar de tanta injustiça, perseguição e provação, o povo de Deus pode olhar para o futuro com esperança. Um olhar para essa descrição profética da história mostra que a história humana culminará no juízo celestial e no estabelecimento do reino eterno do Filho do Homem. Aguardamos com ansiedade que esse reino eterno seja estabelecido em breve.

Comentário

A seguir estudaremos com profundidade os temas da lição resumidos anteriormente:

1. O chifre pequeno

O chifre pequeno cresce entre os outros dez chifres do animal terrível que representa o Império Romano. Na verdade, ele arranca três dos dez reinos que emergem de Roma pagã. O poder do chifre pequeno é uma extensão de Roma pagã e, portanto, compartilha características essenciais do antigo império. Ele usurpa as prerrogativas de Cristo, persegue o povo de Deus, muda Sua lei, fala contra Ele e age da maneira que lhe agrada por três tempos e metade de um tempo (que são 1.260 anos civis). Essas atividades indicam que essa entidade detém tanto o poder político quanto o religioso, o que se encaixa com a descrição do papado. A história mostra que a conversão do imperador Constantino, o reconhecimento oficial do domingo como dia de adoração, a queda de Roma diante dos bárbaros e a fundação de Constantinopla no Oriente foram fatores importantes que favoreceram a ascensão do papado. Com o desaparecimento do Império Romano pagão do Ocidente, o bispo de Roma preencheu o vácuo de poder que foi criado em Roma com a transferência da capital do Império Romano para Constantinopla.

Com o decreto do imperador Justiniano em 538 d.C., declarando o papa como o cabeça de todas as igrejas, a porta estava aberta para que o papado implementasse o seu governo. No entanto, o bispo de Roma não possuía apenas autoridade religiosa, mas também poder político. Os papas logo começaram a se autodenominar pontífices e adotaram outros costumes e leis do Império Romano pagão. Por meio de alianças com poderes seculares, a igreja perseguida tornou-se o poder perseguidor. Por meio das Cruzadas e da Inquisição, a igreja romana infligiu um enorme sofrimento a muitos que desejavam permanecer fiéis aos ensinamentos bíblicos. Então, já durante a Idade Média, o papa veio a ser identificado como o Anticristo (Mt 24; 2Ts 2:3, 4; Ap 13:1-10). Em 1798, Napoleão lançou o papa na prisão, pondo fim aos 1.260 anos de supremacia papal.

2. Juízo celestial

A cena do tribunal celestial de Daniel 7:9-14 descreve o evento central do capítulo: os livros; o Ancião de Dias assentado no trono; e o Filho do Homem rodeado pelas nuvens do Céu enquanto entra na presença do Ancião de Dias (Dn 7:13), são descrições de uma cena de juízo no Céu. Juízo nas Escrituras significa tanto condenação quanto vindicação. Para o chifre pequeno, entretanto, o juízo significa condenação e culminará com a sua destruição final. Mas para os santos, que foram perseguidos pelo chifre pequeno, o juízo significa vindicação, salvação e restauração. Quando os nomes deles são examinados no juízo celestial, eles são declarados inocentes. São vindicados e finalmente recebem o reino.

Alguns aspectos desse juízo merecem ser destacados: Primeiro, devemos notar que esse juízo começa depois que o chifre pequeno ascende ao poder e termina pouco antes que os santos sejam recompensados, e o chifre pequeno seja punido. Então, esse juízo foi apropriadamente chamado de juízo investigativo. Ellen G. White menciona os seguintes livros relacionados a esse juízo: (1) o livro da vida, contendo os nomes dos que aceitaram o serviço de Deus; (2) o livro memorial, contendo o registro das boas obras dos santos; e (3) um registro dos pecados (O Grande Conflito, p. 480, 481). Por uma questão de justiça e transparência para todos os envolvidos e afetados pela decisão final Deus deve conduzir uma investigação, de tal forma que ninguém possa lançar dúvida sobre a retidão da decisão final. Segundo, uma vez que esse juízo tem uma abrangência universal e, de acordo com a cronologia profética, está ocorrendo agora, alguns têm indagado se Deus começaria o juízo dos vivos a qualquer momento. Tal preocupação impede que a vida cristã seja desfrutada em sua plenitude. Devemos ter em mente que o juízo dos vivos só acontecerá quando terminar o tempo da graça e as sete últimas pragas começarem a ser derramadas sobre Babilônia (Ap 15; 16). Mas o mais importante é que não devemos temer o juízo porque o "Filho do Homem" é nosso representante no tribunal celestial. Assim, em vez de condenação, o juízo celestial nos trará vindicação e livramento.

3. Filho do Homem

A designação "Filho do Homem" (bar 'enash, em aramaico) liga esse Ser celestial a algumas realidades históricas e teológicas importantes. Primeiro, o Filho do Homem aponta para Adão, o pai da humanidade. Adão recebeu o domínio sobre a criação e lhe foi ordenado que exercesse essa autoridade. Assim, em contraste com Adão, que exerceu domínio temporário, e os reis do mundo, que governaram por um tempo, o Filho do Homem recebe um reino eterno. Dessa forma, o Filho do Homem reconquista o que Adão perdeu. Em segundo lugar, a designação Filho do Homem sugere que Ele compartilha pontos em comum em relação à humanidade. Essa expressão pode ser usada para designar um ser humano (Ez 2:1). Uma vez que em Daniel 7 essa figura é claramente um ser celestial, o título Filho do Homem aponta para o seu vínculo com a humanidade.

A partir do amplo contexto das Escrituras, podemos perceber que o Filho do Homem não só representa Seu povo no tribunal celestial, mas também pode Se identificar com eles, pois participa da sua natureza humana (Hb 2:14; Hb 4:15). Além disso, devemos destacar que o Filho do Homem de Daniel 7 deve ser identificado com o Príncipe do exército (Dn 8:11), o "homem vestido de linho" (Dn 10:5) e Miguel (Dn 10:13; Dn 12:1). Finalmente, o Filho do Homem de Daniel 7 é claramente o Messias Jesus Cristo, que vem à presença de Deus Pai como representante dos santos (1Jo 2:1) no dia antitípico da expiação. Essa ligação ficará mais clara no estudo de Daniel 8.

4. Os santos do Altíssimo

Esse grupo é o objeto da perseguição do chifre pequeno e, à medida que recebem o reino, é chamado de "santos" (Dn 7:21) “santos do Altíssimo” (Dn 7:18, 22, 25) e "povo dos santos do Altíssimo" (Dn 7:27). Eles também são chamados de “povo santo” em Daniel 8:24, no contexto dos ataques do chifre pequeno contra eles; e em Daniel 12:7, em um contexto de perseguição. Essas referências ao povo de Deus como santos lembram Êxodo 19:6, onde Deus chama Israel para ser “reino de sacerdotes e nação santa”. Assim, os santos do Altíssimo “devem ser identificados com os fiéis seguidores de Deus que constituem Seu povo remanescente, que são Seus escolhidos, separados do restante das nações, perseguidos pelo poder que se opõe a Deus, mas que guardam a fé da aliança e mantém a sua confiança e segurança em Deus, de quem finalmente receberão um reino eterno” (Gerhard F. Hasel, “The Identity of ‘The Saints of the Most High’ in Daniel 7” [“A Identidade dos 'Santos do Altíssimo' em Daniel 7”], Bíblica 56, no 2 [1975], p. 192).

Os capítulos 12 a 14 do Apocalipse retratam os seguidores de Cristo e mostram como eles permanecem fiéis durante a crise final. João diz: “Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus” (Ap 12:17). Por causa da estreita relação entre o “testemunho de Jesus” e a profecia (Ap 19:10; Ap 22:9), “os adventistas do sétimo dia interpretam assim esta passagem e creem que o 'remanescente' se distingue pela manifestação do dom de profecia. Acreditam que 'testemunho de Jesus Cristo' é aquilo que Jesus testemunha a Seu povo por intermédio do dom profético” (O Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 7, p. 899).

Aplicação para a vida

“Deus deu uma visão a Daniel que o habilitaria a ver que, apesar do aumento da violência e da perseguição no mundo, Deus está no controle. Ele é o grande Juiz que fará com que a verdade triunfe no final. Os poderes mundiais, apresentados no sonho de Nabucodonosor como se deteriorando na manutenção das normas morais, são apresentados a Daniel como estando a aumentar em crueldade e violência. O clímax da arrogância no mundo é visto na ascensão de um chifre pequeno que falava ‘com insolência’. Enquanto coisas terríveis estão acontecendo na Terra, é estabelecido no Céu um tribunal que julgará aquilo que sucede na Terra, de acordo com os registros que são mantidos. Os arrogantes poderes da Terra serão condenados e destruídos, ao passo que o Filho do Homem e os santos receberão um domínio eterno que jamais será destruído” (G. Arthur Keough, God and Our Destiny [Deus e o Nosso Destino], Lição da Escola Sabatina de Adultos, primeiro trimestre de 1987, p. 63).

1. Como você se sente com a perspectiva de um juízo universal no qual todos os seus pensamentos e ações serão expostos diante do tribunal celestial?

2. Qual será a norma pela qual todos serão julgados? Reflita: Estou à altura dessa norma? O que sua resposta lhe diz sobre algumas das coisas que você ainda precisa vencer pela graça de Deus?

3. Que diferença faz saber que Jesus será meu advogado no juízo celestial?

4. Sabendo que Jesus é o nosso advogado no juízo celestial, como devemos viver?


O missionário ateu

Nada deixava Jan Haugg mais entusiasmado que proteger o meio ambiente. Aos 18 anos, enquanto ainda cursava o Ensino Médio, ele se uniu a um partido politico alemão que lutava contra os problemas globais do meio ambiente. Na universidade, ele convidava os amigos para assistir a filmes sobre o meio ambiente e tentava um estilo de vida mais sustentável por meio da escolha de alimentos, viagens, produtos de limpeza e higiene. Nos apartamentos que dividia com amigos apagava as luzes, para o grande aborrecimento dos colegas.

Ele era um missionário, porém sem Jesus. Sua religião era salvar o ambiente. Como estudante de negócios internacionais, Jan conseguiu um estágio em um Banco ecologicamente correto e decidiu cumprir uma exigência de trabalho internacional na capital da Noruega, Oslo. Mas ele teve dificuldade de encontrar um local acessível para morar. Então, lembrou-se de uma família que havia conhecido há dois anos, quando desejava aprender a ser mais autossuficiente, e precisou passar um verão em uma fazenda norueguesa. Ele enviou um e-mail à família e, vários dias depois, responderam que haviam encontrado um local em Oslo.

Logo após chegar a Oslo, Jan percebeu que estava cercado de adventistas. Seu novo colega, David Mikkelsen, era adventista e vivia em um quartinho em uma casa da igreja destinada a estudantes adventistas. Jan era um ateu obstinado da antiga Alemanha oriental, que tem a maior concentração de ateus do mundo. Mais de 60% da população alemã oriental se identificam como ateia. Embora feliz por haver encontrado um local para ficar, Jan pensou: “Eles tentarão me converter, mas não conseguirão. Sei no que eu creio.” Durante três meses, nada aconteceu. Jan gostou dos alunos adventistas. Eles eram gentis, mesmo quando ele violava as regras sobre não beber bebidas alcóolicas. Eles ganharam sua confiança, ajudando-o no que fosse necessário. 

Certo dia, Jan foi convidado por 50 jovens adventistas para uma viagem de navio ao sul da Noruega. Jan gostou do passeio e ficou muito feliz ao perceber que os jovens tinham interesse em proteger o meio ambiente. Então, um dos líderes dos jovens, Joakim Hjortland, convidou Jan para estudar a Bíblia com ele. Jan não estava interessado, mas não quis ofendê-lo, e tentou dar uma boa desculpa. “Hoje estou sem tempo”, disse. “Talvez, amanhã.” Na manhã seguinte, Joakim disse. “Ei, lembra-se do que conversamos ontem? Que tal estudar a Bíblia?” Jan tentou dar outra desculpa. “Não posso estudar a Bíblia porque não tenho uma”, disse. Depois, ele percebeu que foi a desculpa mais esfarrapada que deu. Ele estava cercado com pessoas que tinham Bíblias. Em instantes, ele estaria segurando uma Bíblia.

Para acreditar na Bíblia, uma pessoa precisa, em primeiro lugar, acreditar que era a Palavra de Deus. Jan não acreditava em Deus. Joakim abriu a Bíblia em Daniel 2. Ele ficou impressionado ao ouvir as profecias de Daniel sobre ascensão e queda dos reinos da Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma. Viu que a Europa atual estava fragmentada como demonstrada nos pés da estátua de ferro e barro. Percebeu que a Bíblia continha informações sobrenaturais e comprou um exemplar para um estudo adicional. Em Oslo, os amigos adventistas o ajudaram a encontrar respostas bíblicas às perguntas sobre a origem do pecado, porque Deus não destruiu Satanás, e como o relato bíblico da criação seria mais verossímil que a Evolução. Até que chegou o dia que decidiu entregar o coração a Deus.

“Eu nunca quis me tornar cristão, mas o peso das evidências foi muito pesado”, diz. “Deus deve existir. E se Ele existe e é quem diz ser, então, não haveria consequência mais lógica a não ser segui-Lo. Quem quer participar do time que já perdeu a batalha? Isso seria uma estupidez. Quero fazer parte do time vencedor.”

Hoje, Jan tem 30 anos e estuda teologia no Seminário Bogenhofen, Áustria. Depois da formatura, ele espera compartilhar o evangelho com os ateus da Alemanha Oriental e com os ativistas ambientais: “Quero ministrar especialmente às pessoas dos movimentos ecologistas que desejam salvar o mundo com seus próprios esforços. “Se simplesmente colocassem Jesus em evidencia, seus esforços seriam canalizados para a direção correta. Eles são missionários, mas sem Jesus. Seu trabalho não conduz à vida eterna.”

Parte da oferta do trimestre ajudara a reformar o prédio central da Marienhöhe Academy em Darmstadt, Alemanha. Somos gratos pelas generosas ofertas.

 

Dicas da história

• Pronúncia de Jan: .
• Assistir ao vídeo sobre Jan no YouTube: bit.ly/Jan-Haugg.
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2020
Tema Geral: Daniel

Lição 8 – 15 a 22 de fevereiro
Do mar tempestuoso às nuvens do Céu

Autor: Marcelo Rezende
Editor: André Oliveira Santos
Revisora: Josiéli Nóbrega

O contexto histórico de Daniel 7 nos ajuda a entender alguns aspectos da visão profética quando comparada à situação política dos dias do profeta. Estamos em 550/549 a.C., no primeiro ano do reinado de Belsazar como co-regente com seu pai, o rei Nabonido, considerado oficialmente o último rei da Babilônia. Nabonido mostrou-se indiferente à administração do reino, partiu para a Arábia e deixou seu filho primogênito, Belsazar, como rei efetivo em seu lugar. O ano da ascensão de Belsazar ao trono é marcado também por outro importante fato histórico: Ciro, o rei dos Persas, derrota o rei dos Medos, Astíages, dando início à sua política expansionista e lançando as bases do império mundial seguinte. É interessante notar que aqui vemos o início do fim do Império Neobabilônico ao mesmo tempo em que ocorre uma transferência de poder do rei pai para seu filho. O mesmo tema é apresentado em Daniel 7, onde também vemos a transferência do poder do Ancião de Dias (o Pai) para o “Filho do Homem”, dando início ao fim do poder do “sistema babilônico” na História e repercutindo em acontecimentos na Terra, como veremos em nossos estudos posteriores.

O sonho de Daniel, definido por ele mesmo como “visão da noite”, é relatado como um resumo da revelação completa que ele recebeu, onde novamente é apresentada a mesma moldura histórica de quatro reinos seqüenciais, representados então por quatro animais monstruosos que são sucedidos ao fim pelo eterno reino de Deus. Daniel 7 mostra pela primeira vez as características de cada cena profética que veremos no decorrer da seção profética do livro: a mesma narrativa que vai sendo acrescida de detalhes que se complementam e ampliam a história até o final das revelações registradas.

Daniel 7 nos apresenta dois blocos de símbolos opostos entre si: “animais” e “Homem”. Todos os poderes hostis a Deus são representados por animais híbridos, semelhantes a experimentos genéticos bizarros, como uma forma de mostrar uma deturpação na ordem criada por Deus. Por outro lado, todos os poderes favoráveis a Deus possuem características humanas, representando a ordem criada por Deus no exercício do domínio “Adâmico” da natureza, estabelecido no início da criação. Assim sendo, quando vemos um leão assumindo comportamentos humanos (Dn 7:4), sabendo que o reino da Babilônia é representado nessa figura, podemos ver uma referência à conversão de Nabucodonosor, um período em que o império se submeteu a Deus.

A estrutura literária do capítulo apresenta uma belíssima combinação de diversos elementos do gênero prosa, como narrativa, descrição e diálogo, e traços do gênero poesia. Todas as cenas em que os animais são descritos, foram escritas em prosa (Dn 7:1-8, 11, 12), com um diálogo explicativo entre Daniel e o anjo (Dn 7:15-22). As cenas celestiais do julgamento, da transferência do reino ao Filho do Homem e a explicação final dada pelo anjo a Daniel, são todas escritas em poesia (Dn 7:9-10, 13, 14 e 23-27).

Após o leão babilônico, a sequência descreve o Império Medo-Persa, desequilibrado em suas forças internas por uma crescente supremacia dos persas sobre os medos (urso levantado sobre um dos lados) e as conquistas que fizeram deles os donos do mundo em sua época (as 3 costelas – Babilônia, Lídia e Egito); eles são seguidos pelo leopardo “grego” que dominou velozmente o mundo por meio de Alexandre, o Grande, e que teve o império dividido entre as “quatro cabeças” dos seus generais principais logo após sua morte. Mas entre todos os monstros, o animal que chama a atenção do profeta é o que simboliza o Império Romano, juntamente com o misterioso “chifre pequeno” que surge dele.

1 – O chifre pequeno e o juízo celestial

O Império Romano recebe destaque especial em todas as revelações proféticas do livro de Daniel. Frequentes “links” são apresentados para que o leitor relembre as informações fornecidas pelos capítulos anteriores a respeito dele, como os que vemos aqui nos “dentes de ferro” e na ferocidade do animal que despedaçava tudo o que via em seu caminho (Dn 2:40/7:7). O chifre pequeno, vindo de Roma e nascido da divisão do império em dez tribos bárbaras que repartiram a Europa na idade Média, marca com seu surgimento uma mudança no exercício do poder imperial pagão, que passa então a agir na esfera espiritual. Ironicamente, essa fase do domínio religioso medieval de Roma parece mostrar um poder favorável a Deus, pois o chifre pequeno possui características humanas como “olhos e boca”, pertencendo ao bloco humano de símbolos, mas ao falar e agir, ele atua como um monstro adversário de Deus e do Seu povo (Dn 7:8). A sequência da visão nos leva para o tribunal celestial onde o Ancião de Dias está assentado para fazer justiça ao Seu povo. O tribunal é estabelecido após o término do tempo de domínio persecutório do chifre pequeno sobre o povo de Deus, que é estipulado como sendo limitado em “um tempo, (dois) tempos e metade de um tempo” (Dn 7:25). Compreendendo o simbolismo da contagem do tempo na profecia apocalíptica, temos aqui uma referência a três anos e meio, 1260 dias, que seriam 1.260 anos na História, que se cumpriram na opressão do cristianismo romano medieval, de 538 d.C. a 1798 d.C. Em algum momento após esse período, o julgamento celestial faria justiça ao povo de Deus, destruiria o poder do quarto animal e daria o reino eterno a uma figura misteriosa que aparece a seguir, o “Filho do Homem” (Dn 7:13).

2 – O Filho do Homem e os santos do Altíssimo

“Filho do Homem” é a expressão favorita de Jesus para referir-Se a Si mesmo nos textos dos evangelhos. Essa expressão não é usada somente para designar a sua natureza humana ao encarnar entre nós (nas visões de Daniel, o Filho do Homem não tem origem humana; Ele é um ser celestial), mas para indicar uma série de características únicas que definem a identidade do Messias e Sua obra. A expressão “filho do homem” é usada no livro de Ezequiel como título do profeta. Em seu livro, Ezequiel é apresentado como um dos exilados na Babilônia, encarregado de transmitir as mensagens de Deus ao povo no cativeiro. Frequentemente, nesse processo, ele assume o papel de representante do povo em suas visões, “performatizando” (encenando) em si mesmo tudo aquilo que aconteceria ao povo, fazendo dele uma “miniaturização” da coletividade. Podemos dizer que o mesmo conceito de representação está presente em Daniel 7. O Filho do Homem representa os santos do Altíssimo – tudo o que acontece a Ele acontece ao povo e vice-versa. Como em Isaías, onde o Servo do Senhor é chamado de Israel mesmo tendo a nação como elemento exterior a Ele, pois o foco de Sua missão é precisamente restaurar o povo (Is 49:3-6), aqui o Filho do Homem está unido ao povo na glória e no sofrimento. Assim como os santos do Altíssimo são perseguidos por “três anos e meio” simbólicos (1260 anos) pelo poder religioso romano medieval, vemos nos evangelhos o ministério de Jesus durando exatamente três anos e meio e terminando com sua execução na cruz, método romano de execução de criminosos.

Há uma razão especial pela qual a mensagem em Daniel 7 é extremamente confortadora ao leitor: os poderes humanos podem parecer irresistíveis e duradouros, pois seus sistemas de controle são aparentemente inabaláveis, mas temos no Céu um tribunal que julga para fazer justiça ao povo de Deus. A garantia da vitória final é a própria existência do Filho do Homem, que assume em Si mesmo a História humana, sofrendo a sorte humilhante do Seu povo, mas recebendo o domínio e o poder das mãos do Ancião de Dias. O Filho do Homem é o elo entre o Céu e a Terra. Por meio Dele, a justiça do julgamento é realizada. Essa é a essência da expressão “estar em Cristo”, tão utilizada por Paulo em seus escritos: em Jesus, estamos assentados nos lugares celestiais agora mesmo, pois Nele todas as coisas da Terra e do Céu convergem em uma realidade só (Ef 1:3, 10).

Conheça o autor dos comentários para este trimestre:

Atualmente, Marcelo Rezende é pastor do distrito de São Carlos, na Associação Paulista Oeste. Há 20 anos é pastor e tem servido a igreja em diversas funções ministeriais. Possui mestrado em teologia bíblica com ênfase em teologia paulina pelo Unasp-Engenheiro Coelho. É casado com Simone Ramos Rezende e juntos têm dois filhos: Sarah (que nasceu em um dia 22 de outubro – os que estudarem a lição de Daniel entenderão!), e o caçula Daniel (o mesmo nome do profeta!).

 

Zdravco Stefanovic, Daniel – Wisdom to the Wise, p. 246.