Lição 3
11 a 17 de janeiro
Do mistério à revelação
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Gn 34-36
Verso para memorizar: “Disse Daniel: Seja bendito o nome de Deus, de eternidade a eternidade, porque Dele é a sabedoria e o poder” (Dn 2:20).
Leituras da semana: Dn 2:1-49; At 17:28; Sl 138; Jo 15:5; Dt 32:4; 1Pe 2:4

Nas águas que cercam a Groenlândia há icebergs de muitos tamanhos. Às vezes, os pequenos blocos de gelo se movem em uma direção, enquanto suas contrapartes imensas flutuam para outra. Os ventos da superfície conduzem os pequenos blocos, enquanto as enormes massas de gelo são levadas pelas correntes oceânicas profundas. Considerar a ascensão e a queda das nações ao longo da História é como explicar os ventos da superfície e as correntes oceânicas. Os ventos representam tudo que é mutável e imprevisível, assim como a vontade humana. Porém, outra força ainda mais poderosa e muito semelhante às correntes oceânicas atua simultaneamente com essas rajadas e ventanias. É a ação segura dos propósitos sábios e soberanos de Deus. Como disse Ellen G. White: “Como as estrelas no vasto circuito de sua indicada órbita, os desígnios de Deus não conhecem adiantamento nem tardança” (O Desejado de Todas as Nações, p. 32). Embora a ascensão e a queda de nações, ideologias e partidos políticos pareçam acontecer apenas a critério do capricho humano, ­Daniel 2 mostra que o Deus do Céu é quem realmente conduz a História humana para seu grande final.


Dez Dias de Oração e Resgate: utilize o relatório atualizado da secretaria da igreja para organizar a visitação às pessoas que precisam ser resgatadas. Mobilize as Unidades de Ação e os Pequenos Grupos.

Domingo, 12 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 37-39
A imanência de Deus

1. Leia Daniel 2:1-16. Qual foi a crise que os hebreus enfrentaram por causa do sonho que o Senhor deu ao rei?

Os sonhos eram levados a sério no mundo antigo. Quando um sonho parecia um mau presságio, muitas vezes ele indicava um desastre iminente. Assim, é compreensível que Nabucodonosor ficasse tão ansioso com um sonho do qual, para tornar as coisas ainda mais agourentas, ele não conseguia mais se lembrar. Sábios babilônios acreditavam que os deuses pudessem revelar a interpretação dos sonhos, mas, no caso desse sonho, não havia nada que os especialistas pudessem fazer porque o rei havia se esquecido do sonho. Se o conteúdo do sonho lhes fosse transmitido, eles encontrariam uma interpretação que agradasse ao rei. Entretanto, naquela situação sem precedentes, quando os especialistas foram incapazes de dizer ao rei do que o sonho se tratava, eles foram forçados a admitir que ninguém havia que pudesse “revelar diante do rei” o seu sonho e a sua interpretação, “senão os deuses, e estes não moram com os homens” (Dn 2:11).

Frustrado, o rei ordenou que os sábios de Babilônia fossem mortos. Tal atrocidade não era desconhecida no mundo antigo. Fontes históricas atestam que, por causa de uma conspiração, Dario I mandou executar todos os magos, e Xerxes ordenou que fossem mortos os engenheiros que tinham construído uma ponte que acabou desmoronando. Quando Nabucodonosor publicou seu decreto, Daniel e seus companheiros haviam acabado de concluir o treinamento e tinham sido admitidos no círculo de especialistas do rei. Por isso, o decreto de morte se aplicava também a eles. Na realidade, o idioma original sugere que o assassinato teria começado imediatamente, e Daniel e seus amigos seriam executados em seguida. Mas Daniel, “avisada e prudentemente” (Dn 2:14), abordou Arioque, o homem encarregado de efetuar as execuções. Por fim, Daniel pediu tempo ao rei para decifrar o mistério. Curiosamente, embora o rei tivesse acusado os magos de tentar “ganhar tempo”, ele prontamente atendeu ao pedido de Daniel. Aquele jovem hebreu certamente concordava com a afirmação dos magos de que nenhum ser humano podia resolver aquele mistério, mas o servo do Senhor também conhecia o Deus que podia revelar tanto o conteúdo quanto a interpretação do sonho.

Os teólogos falam sobre a “imanência” de Deus. Embora distinto da criação, Ele pode estar próximo dela. O sonho que o Senhor deu a Nabucodonosor seria uma prova de que Ele é muito imanente em relação aos seres humanos? (Veja também At 17:28).

Primeiro Deus - Volte seus pensamentos a Deus em oração várias vezes ao longo do dia.

Segunda-feira, 13 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 40-42
A oração

Daniel imediatamente reuniu seus três amigos para uma sessão de oração, explicando que eles seriam executados se Deus não revelasse o sonho. Sempre que enfrentamos um grande problema, também devemos reconhecer que o Senhor é grande o bastante para resolver até mesmo os desafios mais insolúveis.

2. Leia Daniel 2:17-23. Quais foram os dois tipos de oração feitos pelo profeta?

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Dois tipos de oração são mencionados nesse capítulo. O primeiro é uma petição de Daniel a Deus para que Ele revelasse o conteúdo do sonho e sua interpretação (Dn 2:17-19). As palavras dessa oração não são conhecidas, mas a Bíblia declara que o profeta e seus amigos pediram “misericórdia ao Deus do Céu sobre o mistério, a fim de que Daniel e seus companheiros não perecessem com o resto dos sábios da Babilônia” (Dn 2:18). Enquanto oravam, Deus respondeu à petição e revelou o conteúdo e a interpretação do sonho. Podemos ter certeza de que, sempre que pedirmos “misericórdia ao Deus do Céu”, nossas orações também serão ouvidas, mesmo que não seja de maneira tão dramática como vimos nessa passagem bíblica, pois o Deus de Daniel também é o nosso Senhor.

Em resposta ao fato de que o Criador atendeu sua petição, o servo de Deus e seus amigos irromperam em uma oração de gratidão e louvor. Eles louvaram a Deus porque Ele é a fonte da sabedoria e está no controle da natureza e da história política. Há aqui uma lição importante para nós. Ao orarmos e pedirmos tantas coisas a Deus, quantas vezes louvamos e agradecemos porque Ele respondeu às nossas orações? A experiência de Jesus com os dez leprosos apresenta uma ilustração apropriada da ingratidão humana. Dos dez que haviam sido curados, apenas um retornou “para dar glória a Deus” (Lc 17:18). A resposta de Daniel não apenas nos lembra da importância do agradecimento e do louvor, mas também revela o caráter do Deus a quem oramos. Quando rogamos ao Senhor, podemos crer que Ele fará o que é melhor para nós; portanto, devemos sempre ­louvá-Lo e agradecer-Lhe.


Leia o Salmo 138. Como essa oração de ação de graças pode ajudá-lo a ser grato a Deus, independentemente das circunstâncias em que você se encontra?

Terça-feira, 14 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 43-45
A estátua: parte 1

3. O que foi dito em Daniel 2:24-30? Por que é tão importante que sempre nos lembremos dessas palavras? (Veja também Jo 15:5)

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Em resposta à oração, Deus revelou o conteúdo do sonho e sua interpretação. E Daniel não hesitou em contar ao rei que a solução para o mistério veio do Deus do Céu. Além disso, antes de relatar o conteúdo do sonho e sua interpretação, ele mencionou os pensamentos e preocupações não expressos do rei quando este ficou sem dormir em sua cama. Essa informação circunstancial enfatizou ainda mais a credibilidade da mensagem, pois esse conteúdo era conhecido apenas pelo rei e foi revelado a Daniel mediante um poder sobrenatural. No entanto, ao relatar o conteúdo do sonho, o jovem hebreu arriscou desencadear outra crise, pois o sonho não era necessariamente uma boa notícia para Nabucodonosor.

4. Leia Daniel 2:31-49. De acordo com o sonho, qual era o destino do reino de Nabucodonosor? Assinale a alternativa correta:

A.(  ) Ser substituído pela prata, representação do Império Medo-Persa.
B.(  ) Ser substituído pelo ferro, representação do Império Romano.

O sonho consistia em uma estátua majestosa, com sua cabeça “de fino ouro, o peito e os braços, de prata, o ventre e os quadris, de bronze; as pernas, de ferro, os pés, em parte de ferro, em parte, de barro” (Dn 2:32, 33). Por fim, uma pedra “feriu a estátua nos pés” (Dn 2:34), e toda a estrutura foi destruída e espalhada como palha ao vento. Daniel explicou que os diferentes metais representavam sucessivos reinos que substituiriam um ao outro ao longo da História. Para Nabucodonosor, a mensagem era clara: Babilônia, com todo o seu poder e glória, seria substituída por outro reino, que seria seguido por outros até que um reino de natureza completamente diferente os substituiria: o reino eterno de Deus, que durará para sempre.


Observe como as coisas humanas são fugazes e temporárias. O que esse fato nos ensina sobre a grande esperança que temos somente em Jesus (veja Jo 6:54; 2Co 4:18)?

Quarta-feira, 15 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 46, 47
A estátua: parte 2

5. Leia novamente o sonho e sua interpretação (Dn 2:31-49). O que isso nos ensina sobre a presciência de Deus acerca da História do mundo?

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profecia expressa pelo sonho de Nabucodonosor apresenta um esboço profético geral e funciona como o parâmetro para abordar as profecias mais detalhadas de Daniel 7, 8 e 11. Além disso, Daniel 2 não é uma profecia condicional, mas uma profecia apocalíptica: uma predição definitiva do que Deus anteviu e realizaria no futuro.

1. A cabeça de ouro representa Babilônia (626–539 a.C.). De fato, nenhum outro metal poderia representar melhor o poder e a riqueza do Império Babilônico do que o ouro. A Bíblia a chama de “a cidade dourada” (Is 14:4, ARC) e “um copo de ouro na mão do SENHOR” (Jr 51:7; compare com Ap 18:16). Heródoto, antigo historiador, relatou que uma abundância de ouro embelezava a cidade.

2. O peito e os braços de prata representam a Média-Pérsia (539–331 a.C.). Como a prata é menos valiosa que o ouro, o Império Medo-Persa nunca alcançou o esplendor do Império Babilônico. Além disso, a prata era também um símbolo apropriado para os persas porque eles a usavam em seu sistema de tributação.

3. O ventre e os quadris de bronze simbolizam a Grécia (331–168 a.C.). Ezequiel 27:13 descreve os gregos negociando objetos de bronze. Os soldados gregos eram conhecidos por sua armadura de bronze. Seus capacetes, escudos e machados de batalha eram feitos desse metal. Heródoto afirmou que Psamético I, do Egito, viu nos invasores piratas gregos o cumprimento de um oráculo que prenunciava “homens de bronze vindos do mar”.

4. As pernas de ferro representam apropriadamente Roma (168 a.C.– 476 d.C.). Como Daniel explicou, o ferro representava o poder esmagador do Império Romano, que durou mais do que qualquer um dos reinos anteriores. O ferro era um metal perfeito para representar o império.

5. Os pés em parte de ferro e em parte de barro representam uma Europa dividida (476 d.C.–Segunda vinda de Cristo). A mistura do ferro com o barro apresenta uma imagem adequada do que ocorreu após a desintegração do Império Romano. Embora muitas tentativas tenham sido feitas para unificar a Europa, desde alianças matrimoniais entre as casas reais até a atual União Europeia, a divisão e a desunião prevaleceram e, de acordo com a profecia, permanecerão assim até que Deus estabeleça o reino eterno.



Quinta-feira, 16 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 48-50
A pedra

6. Leia Daniel 2:34, 35, 44, 45. O que esses versos revelam sobre o destino final de nosso mundo? Assinale a alternativa correta:

A.(  ) O reino de Deus substituirá todos os outros e será eterno.
B.(  ) Haverá outro império que substituirá o reino de Deus.

foco do sonho está no que acontecerá nos “últimos dias” (Dn 2:28). Por mais poderosos e ricos que tenham sido, os reinos de metal (e barro) nada mais são que um prelúdio do estabelecimento do reino representado pela pedra. Enquanto, até certo ponto, os metais e o barro podem ser produtos de manufatura humana, a pedra do sonho não é tocada por mãos humanas. Em outras palavras, embora cada um dos reinos anteriores deva chegar ao fim, o reino representado pela pedra durará para sempre. A metáfora da rocha, portanto, muitas vezes simboliza Deus (por exemplo, Dt 32:4; 1Sm 2:2; Sl 18:31), e a pedra também pode ser uma representação do Messias (Sl 118:22; 1Pe 2:4, 7). Sendo assim, nada é mais apropriado do que a figura de uma pedra para simbolizar o estabelecimento do reino eterno de Deus.

Alguns defendem que o reino representado pela pedra foi estabelecido durante o ministério terrestre de Jesus e que a propagação do evangelho é um indício de que o reino de Deus tomou conta do mundo inteiro. No entanto, o reino da pedra passará a existir somente depois que os quatro principais reinos caírem, e a história humana chegar aos dias dos reinos divididos, representados pelos pés e dedos da estátua. Esse fato descarta o cumprimento durante o primeiro século, pois o ministério terrestre de Jesus ocorreu durante o domínio do Império Romano, o quarto reino.

Mas a pedra deu lugar a uma montanha. Isto é, “a pedra que feriu a estátua se tornou em grande montanha, que encheu toda a Terra” (Dn 2:35). Uma montanha como essa evoca o Monte Sião, o lugar em que ficava o templo, a representação concreta do reino terrestre de Deus nos tempos do Antigo Testamento. Curiosamente, a pedra cortada do monte se torna uma montanha, que segundo o texto já existe e provavelmente aponta para a Sião celestial, o santuário celestial, de onde Cristo virá para estabelecer Seu reino eterno. Esse reino encontrará seu cumprimento final na Jerusalém que descerá do Céu (Ap 21:1-22:5).

Primeiro Deus - Peça a Deus que o ajude a ser atencioso e cortês durante esse dia.

Até agora verificamos que as informações de Daniel 2 sobre todos os reinos estão corretas. Por que, então, é tão lógico e sábio confiar em sua profecia sobre a vinda do reino final e eterno de Deus? Por que é tão insensato não acreditar na profecia?

Sexta-feira, 17 de janeiro
Ano Bíblico: Êx 1-4
Estudo adicional

É instrutivo ver que a estátua de Daniel 2 era feita de ouro e prata, metais relacionados ao poder econômico. Ela também era feita de bronze e ferro, usados para ferramentas e armas, e de barro, usado no mundo antigo para fins literários e domésticos. Assim, a estátua apresenta uma descrição vívida da humanidade e de suas realizações. De modo apropriado, as distintas partes anatômicas da estátua expressam a sucessão de reinos mundiais e a desunião final que prevalecerá nos últimos dias da História. Porém, a pedra foi descrita como algo realizado “sem auxílio de mãos” (Dn 2:45), um poderoso lembrete do fim sobrenatural que virá a este mundo transitório e a todas as suas realizações.

Embora, “a olho nu, a história humana possa parecer uma caótica interação entre forças contrárias [...], Daniel nos assegurou que, por trás de tudo isso, está Deus, observando de cima e agindo no meio delas para realizar o que Ele entende ser o melhor” (William H. Shea, Daniel: A Reader’s Guide, Nampa, ID: Pacific Press, 2005, p. 98).

Perguntas para discussão

1. Como é bom saber que, em meio a todo o caos e sofrimento deste mundo caído, Deus está no controle e concluirá todas as coisas de maneira gloriosa! Até lá, qual é a nossa função em buscar fazer o bem para aliviar as aflições que existem ao nosso redor?

2. Por que Daniel e os cativos trabalharam de modo tão próximo e leal a um líder pagão que causou tanto dano ao povo de Israel?

3. Alguns argumentam que a pedra cortada sem auxílio de mãos se refere à propagação do evangelho. Esse é um equívoco por várias razões, entre as quais a afirmação de que a pedra esmagaria os reinos anteriores, e o vento os levaria, e deles não se veriam mais vestígios (Dn 2:35). Isso não ocorreu após a cruz. Além disso, algumas tentativas de identificar o reino da pedra com a igreja deixam de observar que esse reino substitui as outras formas de domínio humano. É um reino que abrange todo o mundo. Por isso, somente a segunda vinda de Jesus cumprirá o clímax dessa profecia. Por que, então, a volta de Cristo é a única interpretação sensata para a ação da pedra no fim dos tempos?



Resumo da Lição 3
Do mistério à revelação

ESBOÇO

TEXTO-CHAVE: Daniel 2:20

FOCO DO ESTUDO: Daniel 2; Isaías 41:26; Isaías 46:8-10

Introdução

A profecia de Daniel 2 apresenta uma visão panorâmica da história desde a época do Império Babilônico até o fim dos tempos. Mas esse sonho profético tão importante não foi dado a Daniel nem a algum outro profeta. Em vez disso, foi dado a um rei pagão. Às vezes, Deus age de maneira estranha! Ele não apenas interage com as cenas grandiosas da história mundial e as dirige, mas também Se preocupa com os desafios e experiências pessoais de Seus filhos.

Temas da lição:

A ocasião do sonho

Deus deu o sonho a Nabucodonosor não muito tempo depois que ele ascendeu ao trono de Babilônia. Nessa época, o rei lutava para consolidar seu poder.

2. O significado do sonho

Por meio das imagens apresentadas no sonho, Deus revelou ao rei que todos os reinos do mundo finalmente desapareceriam e dariam lugar ao reino eterno de Deus.

3. O alcance do sonho

O sonho revela a ampla extensão da história desde o Império Babilônico até o fim dos tempos. Ele mostra o Senhor como o Soberano Governante de todas as potências mundiais.

Aplicação para a vida

Um aspecto significativo do sonho é a garantia de que podemos confiar nossa vida a Deus. O Senhor é a verdadeira fonte de sabedoria e poder. Ele respondeu a oração de Daniel e revelou ao profeta o conteúdo do sonho e a sua interpretação. Portanto, adoremos e sirvamos a esse Deus com confiança!

Comentário

1. A ocasião do sonho

Nabucodonosor teve o sonho durante o segundo ano de seu reinado (603 a.C.). Essa ocorrência cria uma dificuldade cronológica que abordaremos aqui. Em Daniel 1, descobrimos que Nabucodonosor invadiu Judá durante o primeiro ano de seu reinado. Naquela ocasião, ele levou Daniel e seus companheiros para Babilônia. Também aprendemos que os quatro cativos judeus participaram de um programa de treinamento que durou três anos. Daniel 2 mencionou que Nabucodonosor estabeleceu o profeta como “governador de toda a província da Babilônia, como também o fez chefe supremo de todos os sábios da Babilônia” (Dn 2:48). À primeira vista, parece que, no segundo ano de Nabucodonosor, Daniel já houvesse terminado seu treinamento de três anos, iniciado no primeiro ano do seu reinado. A melhor solução é considerar o “primeiro ano” mencionado em Daniel 1 como o “ano da ascensão” de Nabucodonosor, como mostra a tabela abaixo:

Treinamento de Daniel

Reinado de Nabucodonosor

Primeiro ano do cativeiro em Babilônia

Ano da ascensão (invasão de Judá)

Segundo ano

Primeiro ano do reinado

Terceiro ano

Segundo ano do reinado (o sonho)

Essa tabela nos ajuda a entender que o ano da ascensão de Nabucodonosor foi contado como sendo o primeiro ano do seu reinado, e corresponde ao primeiro ano do cativeiro de Daniel. Nessa época, Nabucodonosor havia acabado de subir ao trono de Babilônia. Era um momento crítico para o novo rei. Como geralmente acontecia, o novo governante precisava consolidar seu poder, garantindo que nenhum rival ficasse em seu caminho e que os reis vassalos continuassem sob controle. Afinal de contas, era mais provável que as rebeliões e revoltas acontecessem durante essas transições de poder. Assim, durante seu segundo ano, Nabucodonosor se envolveu em várias campanhas militares para consolidar seu poder.

Sob tais circunstâncias, não é de admirar que ele tenha ficado perturbado por causa do sonho. Os sonhos poderiam prever desastres, conspiração e até a morte do rei. Assim, os babilônios dedicavam atenção constante aos sonhos. Eles compilaram uma grande coleção de livros que explicavam os métodos precisos para a interpretação dos sonhos. Os babilônios também criaram um grupo de especialistas em interpretação de sonhos. Como certo comentarista observou: “No antigo Oriente Próximo, os adivinhos eram os líderes acadêmicos e religiosos da época. Como está relatado em “História de Babilônia”, de Beroso, os mesopotâmios acreditavam que os deuses haviam dotado as pessoas com conhecimento, mas não lhes concediam todo o conhecimento. O conhecimento divino permanecia inacessível, exceto por meio de mensagens codificadas que exigiam o conhecimento especializado dos adivinhos. Se o relato de Enmeduranki pode ser levado a sério, os mesopotâmicos acreditavam que os adivinhos só conseguiam decodificar as mensagens porque os deuses lhes revelavam as interpretações” (Wendy Widder, Daniel, Story of God Commentary 20, Grand Rapids: Zondervan, 2016, p. 47).

No entanto, naquelas circunstâncias, nenhum especialista poderia decodificar o sonho, porque o rei não se lembrava dele. Mas se os sábios babilônicos pudessem relatar ao rei qual era o sonho, ele saberia que podia confiar na interpretação deles. Então, frustrado com a incapacidade dos especialistas babilônicos de lhe contarem qual era seu sonho, o rei ordenou que todos fossem mortos.

2. O significado do sonho

O sonho da estátua constituída de diferentes metais indicava a sequência dos impérios mundiais, começando com Babilônia e terminando com o estabelecimento do reino eterno de Deus. Os metais diminuíam em valor e aumentavam em força de cima para baixo (exceto os pés), o que pode indicar a degradação de cada império que se seguiu. Como Ellen G. White explicou:

“Babilônia, fragmentada e por fim quebrantada, passou porque em sua prosperidade seus governantes tinham-se considerado independentes de Deus, atribuindo a glória do seu reino às realizações humanas. O domínio medo-persa foi visitado pela ira do Céu porque nele a Lei de Deus tinha sido calcada a pés. O temor do Senhor não encontrou lugar no coração da grande maioria do povo. Prevaleciam a impiedade, a blasfêmia e a corrupção. Os reinos que se seguiram foram ainda mais vis e corruptos; e desceram cada vez mais na escala da dignidade moral” (Profetas e Reis, p. 501, 502).

Como a interpretação deixa claro, cada reino chegaria ao fim e seria substituído por um poder sucessivo até que a pedra destruísse a estátua e enchesse a Terra. Porém, apesar de sua majestade e força impressionantes, aquela estátua não resistiria por muito tempo. Afinal de contas, ela estava apoiada ou alicerçada sobre pés feitos de uma mistura insegura e inconsistente de ferro e barro.

No sonho, Deus mostrou uma imagem familiar ao rei. Grandes estátuas eram bem conhecidas no mundo antigo, mas geralmente representavam deuses. Além disso, o uso de metais para representar as diferentes épocas históricas também já era conhecido pelo menos um século antes de Nabucodonosor, como vemos nos escritos de Hesíodo (c. 700 a.C.). Assim, parece que o Senhor usou algumas imagens com as quais o rei já estava familiarizado para transmitir uma mensagem totalmente desconhecida para ele. Nesse sentido, devemos destacar que um aspecto do sonho deve ter sido completamente novo para Nabucodonosor, pois não pôde ser comprovado em nenhum outro lugar além da Bíblia. Isto é, a rocha que destruiu a estátua e se tornou em uma grande montanha que encheu toda a Terra.

Rocha e montanha evocam outras passagens da Bíblia que retratam o monte do templo do Senhor estabelecido acima das colinas (Is 2:2, 3 NVI). Isaías 11:9 refere-se ao monte santo de Deus, a terra, cheia do conhecimento do Senhor. Em Isaías 6:3, toda a Terra está cheia da Sua glória. E ao longo dos Salmos, um nome favorito para Deus é “a Rocha” ou “minha Rocha” (Sl 18:2, 31, 46; Sl 19:14; Sl 28:1; Sl 31:2-3; Sl 42:9; Sl 62:2, 6, 7; Sl 71:3; Sl 78:35; Sl 89:26; Sl 92:15; Sl 94:22; Sl 95:1; Sl 144:1). Talvez Nabucodonosor não tenha entendido todas as implicações da imagem da rocha que apareceu em seu sonho, mas qualquer um que conhecesse as Escrituras teria associado a rocha com o reino eterno de Deus.

3. O alcance do sonho

Primeiramente, o sonho revela a ampla extensão da história desde o Império Babilônico até o fim dos tempos. Foi dado a um rei pagão para indicar que o Rei dos reis é o supremo governante de todo reino humano. Na verdade, por meio do sonho e de sua interpretação revelados por Daniel, Nabucodonosor recebeu um curso intensivo sobre a filosofia da história.

Em segundo lugar, a interpretação do sonho foi revelada por Deus a Daniel. Os babilônios, apesar de toda a sua formação e “publicações acadêmicas” sobre interpretação de sonhos, mostraram-se incapazes de acessar a única fonte de conhecimento capaz de resolver esse mistério.

Terceiro, quando contemplamos a estátua como representação dos impérios e sistemas de poder do mundo, temos a impressão de que boa parte do que a estátua representa ainda permanece atualmente. No entanto, quando olhamos para a estátua como representação da sequência dos impérios mundiais, percebemos que estamos vivendo no tempo do fim. Mas, independentemente da cronologia dos eventos finais, podemos viver com a certeza de que a pedra está chegando!

Quarto, o sonho deve ser entendido em conexão com a oração de Daniel. A oração do profeta é o ponto central desse capítulo e oferece a mais importante declaração teológica sobre a sabedoria e o poder de Deus (Dn 2:20-22).

Aplicação para a vida

1. Alguma vez Deus lhe comunicou algo em sonhos? Quando você tem um sonho durante a noite, como tenta explicá-lo? Acha que isso é resultado de ansiedade, distúrbios psicológicos, processos normais do cérebro ou uma mensagem de Deus? Como saber quando um sonho vem do Senhor?

2. O Criador mostrou o sonho a Nabucodonosor com imagens que lhe eram familiares para revelar o desconhecido. O que podemos aprender com esse método de ensino para aplicar em nosso trabalho para explicar o evangelho a outras pessoas?

3. A lição desta semana abre a possibilidade para uma autoavaliação. Peça que os membros da classe reflitam sobre as seguintes perguntas. Se eu fosse Daniel ou algum de seus amigos:

• Como posso ter acesso ao mesmo tipo de tranquila confiança que vejo em Daniel no episódio em que ele apresentou seu caso a Deus? Tenho o mesmo senso de missão que vejo no profeta e em seus companheiros enquanto cumpriam suas responsabilidades na vida política de Babilônia?

• Posso confiar no Senhor em qualquer circunstância da minha vida pessoal? Reconheço que necessito do Seu poder e sabedoria para resolver meus problemas, tanto grandes quanto pequenos? Apresente justificativas para suas respostas.

• Que tipo de desafios enfrento atualmente que exigem a sabedoria divina que ajudou Daniel a interpretar o sonho do rei? Tenho a confiança de que Deus pode me conceder o mesmo tipo de sabedoria? Por quê?

• De que maneira a mensagem transmitida pelo sonho me ajuda a viver a vida cristã com esperança?


O olhar gentil

O professor aposentado, de 67 anos, chegou à academia de polícia nacional na Bulgária com três exemplares de O Grande Conflito, de Ellen White. Sua missão era entrar no campus fortemente vigiado e deixar o livro com o comandante da academia. Era uma semana agitada para Jivko Grushev quando ele apresentou O Grande Conflito aos lideres das universidades da capital da Bulgária, Sofia. Depois de deixar 100 livros, restara-lhe três livros na pasta.

Ele caminhou até o policial que vigiava os portões e, assim que chegou no portão da academia, uma limousine preta saiu. Jivko cumprimentou o policial e disse que desejava visitar o comandante. “O comandante não está aqui” foi a resposta. Ele havia saído na limousine. “Então gostaria de falar com a secretária dele”, Jivko disse. “O que você deseja falar com ela?”, perguntou o policial.

A pergunta foi inesperada, mas ele respondeu imediatamente: “Gostaria de discutir sobre certa doação.” O oficial tomou as informações pessoais de Jivko e acenou que entrasse no campus. Enquanto caminhava até o imenso prédio administrativo, ele se perguntou se o oficial anunciara sua visita. Na entrada do saguão, Jivko encontrou um pequeno portão e uma cabine de vidro para um guarda da polícia. O portão, no entanto, estava aberto e a cabine estava vazia. Vários policiais conversaram animadamente perto de uma escada de mármore cinza no saguão.

Jivko atravessou o portão e perguntou aos policiais a localização da secretária. “É naquela direção”, um policial respondeu, rudemente, apontando o portão e a saída. Ele cruzou o portão, mas permaneceu no prédio. “Senhor, estou aqui para mostrar Tua luz”, orou. “Por favor, intervenhas e me mostres onde devo ir.” 

Os policiais retomaram a conversa entre eles. Naquele momento, um homem com cerca de trinta anos desceu a escada de mármore. Seus olhos encontraram os de Jivko e pareciam falar: “Espere um minuto.” O homem se aproximou dos policiais e falou algo com eles. Jivko não conseguia tirar os olhos do homem. Ele nunca vira um policial tão imponente e de aparência digna. O homem era esbelto e bonito. “O que será que ele está fazendo?”, Jivko se perguntava. O homem usava uniforme preto como os outros policiais, porém, aparentemente com mais qualidade. Não havia dragonas decorando os ombros.

Quando terminou de falar com os oficiais, o homem olhou para Jivko com o olhar amoroso como se dissesse: “pronto!” Então atravessou o portão, passou por ele e saiu do prédio. O oficial que o tratou rudemente correu para a cabine e uma oficial feminina o acompanhou. Os dois perguntaram em uníssono, “Você deseja visitar a secretária?” A oficial anotou algumas informações pessoais e o oficial se ofereceu para acompanhá-lo até a secretária. Ele subiu correndo as escadas de mármore como se estivesse sendo perseguido, pulando dois degraus ao mesmo tempo. Jivko se esforçou para acompanhar. No alto da escada, o oficial olhou para o chão enquanto Jivko entrava na sala e, em seguida, fechou a porta.

Ele se apresentou à secretária e mostrou os três livros. “Esses são presentes para o comandante e representantes”, disse. Ao deixar a academia pouco tempo depois, Jivko agradeceu alegremente a Deus por ajudá-lo a realizar uma missão aparentemente impossível. De repente, lembrou-se do policial elegante e de olhar afetuoso. O homem apareceu a tempo de resolver seu problema. Os livros nunca teriam sido entregues à secretária sem sua ajuda.

Jivko não tem dúvida de que o homem era um anjo enviado por Deus para poder compartilhar a mensagem de salvação. Ele se lembrou de como Hebreus 1:14 descreve os anjos, dizendo: Os anjos não são, todos eles, espíritos ministradores enviados para servir aqueles que hão de herdar a salvação?” O encontro com o gentil estranho mudou a vida espiritual. Ele sempre pensa sobre aquele dia. “Deus é grande e deseja salvar as pessoas!“, diz. “Meu Amigo celestial é tão maravilhoso!”

Jivko é ancião na Igreja Adventista de Sofia West, que receberá parte da oferta do trimestre para construir o templo na capital da Bulgária. Muito obrigado por suas ofertas.

 

Dicas da história

• Pronúncia de Jivko:
• Assista ao vídeo sobre Jivko no YouTube: bit.ly/Jivko-Grushev.
• Faça o download das fotos no Facebook (bit.ly/fb-mq) ou banco de dados ADAMS (bit.ly/stranger-with-eyes).
• Faça o download das fotos dos projetos do trimestre no site: bit.ly/eud-2020-projects.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2020

Tema Geral: Daniel

Lição 3 – 11 a 18 de janeiro

Do mistério à revelação

Autor: Marcelo Rezende

Editor: André Oliveira Santos

Revisora: Josiéli Nóbrega

 

Sem dúvida alguma, Daniel 2 é o capítulo profético mais conhecido de toda a Bíblia. A combinação perfeita de uma narrativa de trama e intriga palaciana com uma profecia simples e indiscutivelmente comprovada pela história faz deste capítulo uma porta de entrada para o maravilhoso mundo do estudo das profecias bíblicas para muitas pessoas. A despeito de nossa familiaridade com essa história e com a intepretação profética do sonho do rei Nabucodonosor, sempre há algo a mais a ser considerado. 

1 – A ocasião do sonho

Daniel 2 apresenta os sonhos de maneira muito diferente daquela que a psicanálise e a psicologia moderna nos fizeram entender. Vemos os sonhos como fruto de nossa mente, de sentimentos e lembranças muitas vezes empurrados para baixo do “tapete” do nosso inconsciente, mas na Babilônia de 2.600 anos atrás essa sofisticação moderna não era conhecida. Os sonhos eram dados pelos deuses, eram uma forma de comunicação entre o mundo sobrenatural e o mundo dos humanos. Suas mensagens eram ainda mais relevantes quando eram oferecidas às pessoas de grande destaque na sociedade de então. Este é o cenário da nossa história estudada na lição desta semana: Nabucodonosor teve um sonho que o afligiu demais durante a noite. Ele se recordava de ter um sono agitado e inquieto, devido ao sonho que o perturbou, mas estranhamente ele esquece o sonho logo que o dia amanheceu! Uma mensagem dada pelos deuses de extrema importância foi esquecida pelo rei! Qual era o conteúdo da mensagem? Ela envolvia o futuro do reino? Denunciava um complô no palácio contra seu reinado? Parece que essa foi a conclusão de Nabucodonosor: uma conspiração poderia estar em andamento debaixo de seus olhos e ele não havia percebido. Os deuses o avisaram, mas ele havia esquecido o conteúdo da revelação...

Ao traçarmos esse pano de fundo circunstancial podemos compreender a ira do rei e seu senso de urgência em ter seu sonho revelado e interpretado pelos seus sábios. Naturalmente, nenhum ser humano podia oferecer ao rei o que ele pedia. Mas como ele ainda acreditava que o poder de seus deuses estava presente nos seus sábios, ele desconfiou que eles mesmos estivessem envolvidos na conspiração. Suas palavras dirigidas a eles em fúria: “Bem percebo que quereis ganhar tempo... até que se mude a situação” (Dn 2:8-9) parecem indicar essa interpretação feita pelo rei do silencio impotente dos sábios ao seu pedido. O decreto de morte a todos os sábios criou a situação necessária para que Daniel – cujo Deus aos olhos de Nabucodonosor era um deus conquistado e cativo aos seus deuses, e que por isso não estava presente quando a questão foi apresentada aos sábios –  conseguisse uma entrevista com o rei.

2 – O significado do sonho

O restante da história nós conhecemos: Daniel sonhou o sonho do rei e diante de um Nabucodonosor perplexo ele contou e interpretou com detalhes tudo o que o rei havia esquecido naquela noite. O conteúdo desse sonho tornou-se o principal ponto de intertextualidade canônica no restante do livro conferindo a unidade e o direcionamento de tudo que vem a seguir. A célebre estátua de forma humana mesclada com diversos metais é descrita diante dele com a interpretação que estabelece a moldura histórica profética que orienta todos os leitores dos demais capítulos proféticos do livro de Daniel até o final do livro:

Cabeça de ouro – Babilônia

Peito de prata – Medo-Pérsia

Ventre de bronze – Grécia

Pernas de ferro – Roma

Pés de ferro misturados com barro de lodo/barro seco – Nações modernas oriundas da divisão e queda do império romano.

Nabucodonosor era o soberano do mundo naquele momento. Seu reino é descrito como o ouro e ele é retratado em termos “adâmicos” (Dn 2:38) como aquele a quem Deus concedeu o poder sobre as obras da criação. Isso era uma lição a ser aprendida por aquele que não reconhecia a soberania do Criador acima dele. Babilônia representada como a “cabeça” não significa somente o referencial histórico cronológico do ponto de partida para a interpretação dos reinos representados pela estátua, mas em certo sentido, simboliza uma perene continuação de Babilônia em todos os reinos posteriores, uma vez que Daniel 1 deixa claro que Babilônia é mais do que uma nação, mas uma cosmovisão contrária a Deus e a seu reino.

O império romano, simbolizado pelas pernas, é o poder que recebe sempre a maior atenção e a maior quantidade de informações – ele é forte como o ferro, seria divido em dois a princípio, ocidental e oriental (duas pernas) e posteriormente seria fragmentado em diversas nações, a principio dez reinos europeus (possível alusão aos dez dedos dos pés da estátua), que originariam as nações modernas que conhecemos, desiguais em poder e influência, mas que carregariam na disparidade dos dois materiais composicionais do barro e do ferro a sua fraqueza essencial. Devemos lembrar que, mesmo após a sua queda, Roma continuaria presente até o fim da história, sob uma nova configuração desenvolvida na segunda parte do livro de Daniel, mostrando que a luta pela união do poder religioso (ferro de Roma) e o poder político do estado (barro) também caracterizariam a sociedade humana no tempo do fim.

3 – O alcance do sonho

Alusões ao Gênesis aparecem aqui, desde Nabucodonosor como uma figura adâmica, conforme já vimos, como o próprio fato de o barro ser o material composicional do ser humano que foi moldado pelas mãos de Deus (Gn 2:7). No decorrer da interpretação do sonho feita por Daniel, vemos uma progressiva transformação da natureza do barro da estátua de barro de lodo (Dn 2:41,43), que é moldável e responsivo ao oleiro, para barro seco que é firme e pode ser “esmiuçado” pela pedra, mostrando assim um progressivo endurecimento da humanidade diante dos apelos divinos, impermeável aos apelos do Espírito Santo e cada vez mais alheia à sobrenaturalidade dos dias em que vivemos. Daniel 2 prevê que o Reino de Deus (a Pedra) seria implantando nos dias de uma sociedade dividida que ironicamente pede por união, mas que é espiritualmente fria e profundamente insensível ao Evangelho de Jesus.

Essa é a uma grande lição para o leitor: não basta apenas pertencer a uma igreja ou denominação. O Reino de Deus se manifesta antes de tudo dentro de cada um de nós (Lc 17:20-21) transformando nossa compreensão da vida e do mundo de acordo com os valores de Jesus. Nesses dias de dureza e insensibilidade espiritual, devemos cuidar para que nosso coração seja responsivo à voz de Deus e que o Evangelho em nós seja aquilo que ele sempre foi: a Boa Notícia! Não somente o anúncio de uma intervenção divina na história prestes a ocorrer, mas uma realidade de esperança e transformação já atuante no mundo agora!  Assim como Deus entrou no inconsciente de Nabucodonosor e revelou Sua vontade, Ele tem o poder de entrar em nosso inconsciente e plantar no âmago da nossa vida o Evangelho como verdadeiro valor, muito mais do que credo ou doutrinas. Por isso, podemos orar hoje como o salmista: “bendigo o Senhor que me aconselha, pois até durante à noite o meu coração me ensina” (Sl 16:7).

Conheça o autor dos comentário para este trimestre:

Atualmente, Marcelo Rezende é pastor do distrito de São Carlos, na Associação Paulista Oeste. Há 20 anos é pastor e tem servido a igreja em diversas funções ministeriais. Possui mestrado em teologia bíblica com ênfase em teologia paulina pelo Unasp-Engenheiro Coelho. É casado com Simone Ramos Rezende e juntos têm dois filhos: Sarah (que nasceu em um dia 22 de outubro – os que estudarem a lição de Daniel entenderão!), e o caçula Daniel (o mesmo nome do profeta!).