Providência é o termo usado para descrever a ação de Deus no mundo. Nossa forma de pensar sobre a providência divina faz grande diferença no modo pelo qual nos relacionamos com Deus e com os outros e como pensamos sobre o problema do mal.
No meio cristão existem vários entendimentos diferentes sobre a providência divina. Alguns cristãos acreditam que Deus exerce Seu poder de tal forma que determina cada detalhe de tudo o que acontece. Ele chega a escolher quem será salvo e quem se perderá! Segundo esse ponto de vista, as pessoas não são livres para escolher algo diferente daquilo que o Senhor decreta. Na verdade, quem defende esse entendimento argumenta que até os desejos humanos são determinados por Deus.
No entanto, Deus não determina tudo o que acontece. Ele concede o livre-arbítrio aos seres humanos, de maneira que eles (assim como os anjos) podem decidir fazer algo que é diretamente contrário à vontade divina. A história da queda, do pecado e do mal é uma expressão dos resultados do abuso desse livre-arbítrio. O plano da salvação foi instituído para remediar a tragédia ocasionada pelo uso equivocado do livre-arbítrio.
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“Deus é soberano”, ensinava o pastor de jovens ao grupo de alunos do ensino médio. “Isso significa que Ele controla tudo o que acontece.” Um adolescente, perplexo, perguntou: “Então Deus estava no controle quando meu cachorro morreu? Por que Ele mataria meu cachorro?”
O pastor respondeu: “Essa é uma pergunta complexa. Mas, às vezes, Deus nos permite passar por momentos difíceis para que estejamos preparados para acontecimentos ainda mais difíceis que viveremos no futuro. Eu me lembro de como foi difícil quando meu cachorro morreu. Mas passar por isso me ajudou a lidar com um momento que foi ainda mais difícil, quando minha avó faleceu. Compreende?”
Depois de uma longa pausa, o adolescente disse: “Então Deus matou meu cachorro para me preparar para quando Ele matar minha avó?” (Marc Cortez, citado por John C. Peckham, Divine Attributes: Knowing the Covenantal God of Scripture [Baker Academic, 2021], p. 141).
Algumas pessoas concluem que tudo acontece exatamente como o Senhor deseja. Tudo ocorre como Ele planejou. Afinal, Deus é todo-poderoso. Como poderia acontecer algo que Ele não deseja que aconteça? Por isso, não importa as coisas ruins que acontecem, é a vontade de Deus. Pelo menos é o que ensina essa visão teológica.
1. Leia Salmo 81:11-14; Isaías 30:15, 18; 66:4; Lucas 13:34. Segundo esses textos, a vontade de Deus sempre é feita em nosso mundo?
Embora muitos acreditem que Deus sempre realiza tudo o que deseja, a Bíblia descreve uma realidade bem diferente. A vontade de Deus nem sempre é realizada. Muitas coisas vão contra o que Ele deseja. Em muitos casos, Deus disse que o que estava acontecendo era o oposto do que Ele desejava. O Senhor queria determinada coisa para o Seu povo, mas eles escolheram outra. O próprio Deus lamentou: “Mas o Meu povo não escutou a Minha voz [...]. Ah! Se o Meu povo Me escutasse, se Israel andasse nos Meus caminhos! Eu derrotaria logo os seus inimigos” (Sl 81:11, 13, 14).
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Nas Escrituras, o poder de Deus é manifestado. A Bíblia inclui narrativas nas quais Ele exerce Seu poder e realiza milagres. Apesar disso, aconteciam muitas coisas que Deus não desejava que ocorressem.
2. Leia Apocalipse 11:17; Jeremias 32:17-20; Lucas 1:37; Mateus 19:26; Hebreus 1:3. O que essas passagens ensinam sobre o poder de Deus?
Esses e outros textos ensinam que Deus é todo-poderoso e que Ele sustenta o mundo pelo Seu poder. O Apocalipse se refere várias vezes ao Senhor como o “Todo-Poderoso” (em grego, pantokrator; Ap 1:8; 11:17; 16:14; 19:15; 21:22; veja 2Co 6:18). O fato de Deus ser todo-poderoso não é apenas afirmado em palavras, mas se manifesta nos inúmeros casos extraordinários em que Deus usou Seu poder para libertar Seu povo ou intervir miraculosamente de outras maneiras no mundo.
No entanto, dizer que Deus é “todo-poderoso” não significa que Ele possa fazer qualquer coisa. As Escrituras ensinam que existem coisas que o Senhor não pode fazer. Por exemplo, Ele “de maneira nenhuma pode negar a Si mesmo” (2Tm 2:13).
Assim, a maioria dos cristãos aceita que Deus é onipotente, o que significa que Ele tem o poder de fazer tudo que não seja contraditório – isto é, qualquer coisa que seja possível em termos lógicos e coerente com a Sua natureza. A oração de Cristo no Getsêmani mostra que algumas coisas não são possíveis para Deus porque envolveriam contradição. Embora Jesus tenha dito que “para Deus tudo é possível” (Mt 19:26), Ele também orou ao Pai dizendo: “Se é possível, que passe de Mim este cálice! Contudo, não seja como Eu quero, e sim como Tu queres” (Mt 26:39).
É claro que o Pai tinha o poder absoluto de libertar Cristo do sofrimento na cruz, mas Ele não podia fazer isso e, ao mesmo tempo, salvar os pecadores. Tinha que ser um ou outro, não ambos.
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O fato de Deus ser todo-poderoso não significa que Ele possa fazer o que é impossível em termos lógicos. Assim, o Senhor não pode determinar que alguém O ame livremente. Se fazer algo livremente significa fazer sem ser determinado a fazê-lo, então, por definição, é impossível obrigar alguém a fazer algo livremente. Em resumo, Deus não pode forçar ninguém a amá-Lo, pois se é forçado, já não é amor.
3. O que estes versos ensinam sobre o livre-arbítrio? Mt 22:37; Dt 6:4, 5
O maior mandamento, amar a Deus, nos dá evidências de que Ele deseja, de fato, que todos O amem. No entanto, nem todos fazem isso. Por que, então, Deus simplesmente não faz com que todos O amem? Isso acontece porque o amor, para ser o que ele é, deve ser espontâneo.
4. Leia Hebreus 6:17, 18; Tito 1:2. Segundo esses textos, o que Deus não pode fazer?
“Deus não é homem, para que minta” (Nm 23:19). Ele “não pode mentir” (Tt 1:2). Sempre cumpre Sua palavra e jamais quebra Suas promessas (Hb 6:17, 18). Consequentemente, se Deus prometeu ou se comprometeu a fazer alguma coisa, Sua ação futura é moralmente limitada por essa promessa.
Isso significa que, como o Senhor concede às criaturas a liberdade de escolher algo diferente do que Ele prefere, não depende Dele o que os seres humanos escolhem. Se Deus Se comprometeu a conceder o livre-arbítrio, os seres humanos possuem a capacidade de exercer sua liberdade de maneiras que vão contra os desejos ideais de Deus. Infelizmente, muitas pessoas acabam exercendo sua liberdade dessa maneira e, consequentemente, há muitas coisas que ocorrem que Ele deseja que não aconteçam, mas que não são, estritamente falando, de Sua responsabilidade.
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5. O que Efésios 1:9 a 11 ensina sobre a predestinação? Algumas pessoas estão predestinadas a ser salvas e outras a se perderem?
O termo grego traduzido como “predestinar” nesse e em outros textos bíblicos (prohorizo) não significa necessariamente que Deus determina, ou causa, tudo o que acontece. Em vez disso, o termo grego significa apenas “decidir previamente”.
É claro que se pode decidir algo previamente de forma unilateral ou de uma forma que leve em conta as livres decisões de outras pessoas. As Escrituras ensinam que Deus age de acordo com a segunda opção.
Em Efésios 1 e outros textos (Rm 8:29, 30), o termo traduzido como “predestinar” refere-se ao que Deus planeja para o futuro depois de levar em conta o que Ele sabe previamente sobre as decisões livres das criaturas. Assim, Deus guia a história, de modo providencial, para os Seus bons propósitos para todos, mesmo respeitando a liberdade necessária em um relacionamento autêntico de amor.
Efésios 1:11 diz que Deus “faz todas as coisas segundo o propósito da Sua vontade” (NVI). Isso significa que Ele determina que tudo aconteça exatamente como Ele deseja? À primeira vista, Efésios 1:9-11 parece confirmar essa ideia. No entanto, essa interpretação vai contra textos bíblicos que mostram que muitas vezes as pessoas rejeitam o “plano de Deus” para elas (Lc 7:30; veja Lc 13:34; Sl 81:11-14). Se a Bíblia não se contradiz, como podemos entender essas passagens?
Efésios 1:9-11 faz todo o sentido se distinguirmos entre o que chamamos de “vontade ideal” de Deus e a Sua “vontade remedial” (ou corretiva). A “vontade ideal” é o que Ele prefere que ocorra e que ocorreria se todos fizessem o que Ele deseja. A “vontade remedial”, por outro lado, é a Sua vontade levando em conta todos os outros fatores, incluindo as decisões livres das criaturas, que muitas vezes se afastam daquilo que o Senhor prefere. Efésios 1:11 parece se referir à “vontade corretiva” de Deus.
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Se tudo ocorresse conforme a vontade ideal de Deus, nunca teria havido o mal, mas apenas amor e harmonia. No futuro, o Universo será restaurado a essa perfeição. Entretanto, Ele está cumprindo Sua vontade respeitando o livre-arbítrio das criaturas.
Imagine uma competição de bolos em que os participantes devessem usar determinados ingredientes, mas pudessem adicionar outros ingredientes que escolhessem. No fim, qualquer bolo que fizessem seria determinado, pelo menos em parte, por alguns ingredientes que os participantes escolhessem.
De modo semelhante (nesse aspecto específico), como Deus Se comprometeu a respeitar a liberdade necessária para o amor, muitos dos “ingredientes” que compõem a história não são escolhidos por Ele, mas são exatamente o oposto do que Ele deseja.
Segundo esse entendimento, a providência divina não é simplesmente unilateral, como se o Senhor controlasse sozinho tudo o que acontece. Pelo contrário, requer uma visão (pelo menos) bilateral da providência de Deus. Algumas coisas são ocasionadas por Ele, mas outras são o resultado das decisões livres das criaturas (por exemplo, os males). Em resumo, acontecem coisas que Deus não deseja que ocorram.
6. Leia João 16:33. Que esperança essa promessa oferece nas aflições?
Em tempos de sofrimento ou dificuldades, a fé das pessoas pode vacilar por acreditarem, de modo equivocado, que Deus sempre irá poupá-las ou deverá fazer isso diante do sofrimento desta vida. Contudo, Jesus nos ensina uma verdade muito diferente, alertando Seus seguidores de que eles passarão por dificuldades e tribulações neste mundo, mas podemos ter esperança, porque Ele venceu o mundo (Jo 16:33).
O fato de enfrentarmos sofrimento e provações não significa que isso seja o que Deus deseja idealmente para nós. Devemos sempre ter em mente o quadro mais amplo: o grande conflito. No entanto, podemos estar confiantes de que, embora o mal não seja necessário para promover o bem, Deus pode produzir o bem mesmo a partir de eventos ruins. E, se confiarmos no Senhor, Ele poderá usar até os nossos sofrimentos para nos aproximar Dele e para nos levar a ser compassivos e a servir aos outros.
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Leia, de Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2021], p. 9-15 (“Deus conosco”).
“O plano de nossa redenção não foi um pensamento posterior, formulado depois da queda de Adão. Ele foi ‘a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos’ (Rm 16:25). Foi um desdobramento dos princípios que, desde os séculos da eternidade, têm sido o fundamento do trono de Deus. Desde o início, Deus e Cristo sabiam da apostasia de Satanás e da queda do ser humano mediante o poder enganador do apóstata. Deus não determinou a existência do pecado, mas previu-a e tomou providências para enfrentar a terrível situação. Seu amor pelo mundo era tão grande que decidiu entregar ‘Seu Filho unigênito, para que todo o que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna’ (Jo 3:16)” (O Desejado de Todas as Nações, p. 11).
Perguntas para consideração
1. As coisas nem sempre ocorrem como Deus deseja. Esse fato influencia sua maneira de pensar sobre o que acontece no mundo? Quais lições aprendemos com isso?
2. Pense na analogia do bolo (lição de quinta-feira). Embora Deus previsse a apostasia de Satanás, ainda assim nos criou. Isso era essencial para o amor, que significa liberdade. Deus nos criou com a capacidade de amar, já sabendo que, no fim, isso levaria Jesus à cruz. Cristo sofreu na cruz, em vez de nos negar a liberdade inerente ao amor. O que isso ensina sobre a importância do amor no governo de Deus?
3. Se bem que nos afligimos com o mal e o sofrimento que existem no mundo, com que frequência temos reservado tempo para refletir sobre o fato de que o próprio Deus Se entristece com o sofrimento e o mal? Você reconhece que Deus sofre por causa dessa realidade? Isso faz diferença para a sua compreensão do mal e do sofrimento?
4. O Senhor não deseja muitas coisas que acontecem no mundo. Esse fato ajuda você a lidar com seu próprio sofrimento, especialmente quando ele não faz sentido e parece não trazer nada de bom?
Respostas às perguntas da semana: 1. Deus deseja muitas coisas que acabam não acontecendo, especialmente naquilo que envolve a decisão das pessoas. 2. O poder de Deus é infinito, e nada foge ao Seu controle. 3. O Senhor não obriga as pessoas a amá-Lo, mas lhes deu a capacidade de escolher fazer isso. 4. Existem coisas que Deus não pode fazer. Por exemplo, Ele não pode mentir ou quebrar Suas promessas. 5. O Senhor guia a história e as pessoas segundo os Seus bons propósitos, dando às criaturas a liberdade de escolha. 6. Mesmo em meio às aflições, podemos ter esperança e ânimo porque Cristo venceu o mundo, e Nele nós podemos vencer também.
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TEXTO-CHAVE: João 16:33
FOCO DO ESTUDO: Salmo 81:11-14; Lucas 7:30; 13:34; Tito 1:2; Hebreus 6:18
ESBOÇO
Introdução: Embora Deus seja onipotente e soberano, Ele não determina tudo o que acontece. Além disso, existem coisas que Ele não fará, e não pode fazer, por causa da natureza do Seu caráter moral. No entanto, a providência divina pode realmente transformar situações trágicas em grandes bênçãos.
Temas da lição: A lição desta semana enfatiza três ideias principais.
1. A soberania de Deus não exclui desejos não realizados – Ele não determina tudo o que acontece. Embora seja todo- poderoso, Deus Se compromete moralmente com o livre-arbítrio humano. Como consequência, nem tudo o que acontece está de acordo com Seus desejos, considerando as decisões das criaturas moralmente livres. Deus é soberano no sentido de cumprir o propósito de Sua providência (com Sua vontade ideal) e no sentido de levar em conta as decisões livres de Suas criaturas, as quais podem ser contrárias ao que Ele prefere (Sua vontade remediadora ou corretiva).
2. A onipotência de Deus não significa que Suas ações providenciais não tenham limites – Existem coisas que Ele não fará, e não pode fazer, por causa de Seu caráter moral. Esse conceito é importante para a nossa compreensão da providência divina no mundo. As ações providenciais de Deus estão em harmonia com o Seu amor e não são determinadas nem forçadas. Mas as Suas ações providenciais não anulam a livre escolha humana. Assim, a onipotência de Deus não exclui o livre-arbítrio de Suas criaturas.
3. A providência divina inclui ações ideais e corretivas – As ações providenciais de Deus não são definidas apenas por Sua vontade ideal, baseadas exatamente no que Ele deseja, mas envolvem ações corretivas (ou remedia doras). As ações corretivas são diferentes daquilo que Deus prefere para Suas criaturas. Mesmo assim, Ele pode transformar uma situação que vai contra a Sua vontade moral em algo que esteja alinhado com Seu desejo moral/ideal.
Aplicação para a vida: Tudo o que acontece em nossa vida é resultado da vontade de Deus? Por quê? O que podemos aprender sobre a providência divina com a história de José?
COMENTÁRIO
A soberania de Deus não exclui desejos não realizados
Uma das principais questões debatidas no livro Four Views on Divine Providence [Quatro Pontos de Vista Sobre a Providência Divina] é se Deus sempre consegue “o que Ele deseja”. Para ser mais claro, essa questão apresenta o desafio de como “harmonizar a responsabilidade moral do ser humano com a soberania de Deus sobre os seus atos” (Dennis W. Jowers, ed., Four Views on Divine Providence [Zondervan, 2011], p. 10). Se a resposta a essa pergunta for positiva (sim, Deus sempre consegue o que deseja), então ninguém é capaz de fazer algo diferente do que Ele deseja e, consequentemente, tudo o que acontece no mundo está de acordo com Seus desejos, incluindo todas as manifestações do mal. Mas esse quadro é contrário à benevolência amorosa de Deus e à liberdade moral de Suas criaturas, conforme ensinado nas Escrituras (veja John Peckham, “Providence and God’s Unfulfilled Desires”, Philosophia Cristi, v. 15, no 2 [2013], p. 234).
Existem inúmeros textos bíblicos nos quais encontramos pessoas, e até mesmo o povo de Deus como um todo, agindo de forma diferente do que Ele deseja. No Salmo 81:11-14, que é um salmo no qual o Senhor convida Israel ao arrependimento, Ele Se queixa: “Mas o Meu povo não escutou a Minha voz; Israel não quis saber de Mim. Assim, deixei que andassem na teimosia do seu coração, e seguissem as suas próprias inclinações. Ah! Se o Meu povo Me escutasse, se Israel andasse nos Meus caminhos! Eu derrotaria logo os seus inimigos e voltaria a Minha mão contra os seus adversários.” Da mesma forma, em Isaías 66:4 o Senhor destaca com tristeza: “Eu chamei, e ninguém respondeu; falei, e ninguém deu ouvidos. Fizeram o que era mau aos Meus olhos e escolheram o que Me desagrada” (NVI).
Em Ezequiel 18:23, Deus enfatiza que Ele não tem nenhum “prazer na morte do ímpio”. Pelo contrário, Seu desejo é que o ímpio “se converta dos seus caminhos e viva”. No Evangelho de Lucas, somos informados de que “os fariseus e os peritos na lei rejeitaram o propósito de Deus para eles” (Lc 7:30, NVI). Da mesma forma, Jesus lamentou o fato de que Jerusalém vivia em rebelião contra aquilo que Ele desejava: “Quantas vezes Eu quis reunir os seus filhos, como a galinha ajunta os do seu próprio ninho debaixo das asas, mas vocês não quiseram!” (Lc 13:34).
Esse quadro bíblico indica que a soberania de Deus no mundo não exclui a existência de desejos divinos não realizados com respeito às decisões de Suas criaturas moralmente livres. Ao mesmo tempo, Deus continua sendo soberano e, como Jó destaca: “Nenhum dos Teus planos pode ser frustrado” (Jó 42:2). Peckham conclui que “Deus nem sempre consegue o que deseja (ou seja, Sua vontade ideal), mas certamente cumprirá o propósito da Sua providência de forma abrangente e com perfeita benevolência (ou seja, Sua vontade eficaz)”. Mais especificamente, “Deus Se abriu voluntariamente à insatisfação temporária provocada pelo mal. Ele, no entanto, está satisfeito no sentido mais abrangente de que, em última instância, o Seu propósito será cumprido e trará a máxima satisfação a todo o Universo em um relacionamento de amor eternamente harmonioso” (“Providence and God’s Unfulfilled Desires”, p. 235, 236).
A onipotência de Deus não significa que Suas ações providenciais não tenham limites
Como Deus todo-poderoso, o Senhor pode fazer qualquer coisa. Nada é impossível para Ele (Gn 18:14; Mc 14:36; Lc 18:27). Assim, no que diz respeito ao poder e à liberdade, Deus pode fazer qualquer coisa. Contudo, no que diz respeito à natureza do Seu caráter moral e às Suas decisões livres acerca da existência e da realidade do mundo criado, há coisas que o Senhor não fará e, nesse sentido, não pode fazer. É nesse contexto que as Escrituras afirmam que Deus não pode fazer certas coisas. Por exemplo, Ele “não pode mentir” (Tt 1:2; veja também Hb 6:18), “não pode ser tentado pelo mal” (Tg 1:13) e “de maneira nenhuma pode negar a Si mesmo” (2Tm 2:13).
Essa percepção do caráter moral de Deus é importante para compreendermos a providência divina, isto é, as ações de Deus no mundo. Embora Ele tenha o poder e a liberdade de fazer qualquer coisa em Sua providência, Suas ações providenciais são delimitadas pela natureza moral de Seu caráter e decisões. Ellen G. White destaca que “Deus nunca força a vontade ou a consciência” de Suas criaturas (O Grande Conflito [CPB, 2021], p. 492). No livro Caminho a Cristo, ela menciona que “Cristo está pronto para nos libertar do pecado, mas Ele não faz isso contra a nossa vontade. Se, por causa da transgressão persistente, a própria vontade ficar inteiramente inclinada para o mal e passarmos a não ter mais o desejo de ficar livres, se a vontade não aceitar Sua graça, o que mais Ele poderá fazer? Destruímos a nós mesmos pela insistente rejeição de Seu amor” (Caminho a Cristo [CPB, 2024], p. 23).
Esse princípio significa que, devido ao Seu caráter amoroso, a onipotência de Deus não exclui o livre-arbítrio de Suas criaturas. Suas ações providenciais não forçam a consciência, o que explica por que Ele amorosamente apela à nossa mente para escolhermos a vida, e não a morte (Dt 30:15-20), e para não endurecermos o coração à Sua voz (Hb 3:7, 8). Embora Ele deseje que todos sejam salvos (Ez 33:11; 1Tm 2:4-6; Tt 2:11; 2Pe 3:9), o fato é que nem todos terão a salvação (veja, por exemplo, Mt 25:31-46; Jo 5:28, 29).
A atividade providencial de Deus está em harmonia com Seu amor. Por definição, uma relação de amor não pode ser determinada ou forçada, mas envolve necessariamente uma escolha livre. Como fonte do amor (1Jo 4:7, 8), Deus não força nem determina o nosso amor, mas expressa Seu profundo amor por nós com o desejo de inspirar esse amor em nós (Jo 3:16; 1Jo 4:19). De acordo com 1 João 4:19, “nós amamos porque Ele nos amou primeiro”. Um amor autêntico por Deus se baseia numa convicção pessoal sobre Seu caráter amoroso e justo. Como Ellen G. White expressa com palavras tão belas: “Visto que unicamente o serviço de amor pode ser aceito por Deus, a fidelidade de Suas criaturas deve se basear em uma convicção de Sua justiça e benevolência” (Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 18).
A providência divina inclui ações ideais e corretivas
A soberania de Deus não exclui desejos não realizados de Sua parte, e Sua onipotência não significa que as ações da Sua providência forcem as decisões de Suas criaturas. Mesmo assim, a intervenção providencial do Senhor não deve ser definida apenas em termos de ações ideais, que derivam da vontade ou do desejo ideal de Deus. Uma vez que muitas situações são ocasionadas por decisões tomadas pelas criaturas e são incompatíveis com a vontade moral de Deus, diversas ações da providência divina devem ser encaradas mais como ações reparadoras ou corretivas. Isso significa que Deus toma uma situação que vai contra a Sua vontade moral e a transforma em algo que está alinhado com Seu desejo moral ou ideal.
A ideia de ação providencial corretiva é particularmente observada na história de José. Analisando sua vida dolorosa, mas surpreendente, ele interpretou os altos e baixos de sua jornada como um paradoxo influenciado tanto pelas más intenções humanas quanto pela amorosa providência divina. A ação humana não exclui a ação divina, nem a providência de Deus justifica a maldade dos seres humanos. Em Gênesis 50:20, José diz a seus irmãos: “Vocês, na verdade, planejaram o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como estão vendo agora, que se conserve a vida de muita gente.” Em resumo, a providência de Deus transforma uma situação deplorável, resultante das más intenções e ações injustificáveis dos seres humanos, numa bênção que jamais seríamos capazes de prever.
Ellen G. White descreve como a providência corretiva de Deus atuou na vida de José: “Foi a inveja que moveu os irmãos de José a vendê-lo como escravo. Esperavam impedir que ele se tornasse superior a eles. E, quando José foi levado para o Egito, estavam certos de que não mais seriam perturbados com seus sonhos, tendo removido toda possibilidade de que se cumprissem. Deus, porém, dirigiu suas ações para que viesse a acontecer exatamente o que eles haviam tentado evitar” (Patriarcas e Profetas, p. 198, grifo nosso).
APLICAÇÃO PARA A VIDA
Mesmo quando não seguimos os desejos de Deus para nossa vida, Ele pode transformar qualquer situação terrível em bênção. Com base nessa verdade, discuta com sua classe as seguintes questões:
1. O que precisamos mudar em nossa vida para que possamos depender mais da vontade de Deus em nossa jornada espiritual? O que podemos fazer para que nossas escolhas livres não entrem em conflito com a vontade de Deus?
2. Nossos fracassos espirituais não mudam o amor de Deus por nós. Como essa verdade maravilhosa nos motiva a pregar o evangelho?
3. Como podemos explicar às crianças, de forma adequada, que nem tudo o que acontece representa a vontade direta de Deus?
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Um sonho impossível
Mongólia | Eegii
Nota do editor: Eegii foi uma das primeiras professoras a lecionar na única escola adventista do sétimo dia da Mongólia quando ela foi inaugurada em 2009. Ela tinha acabado de se formar em uma universidade da Mongólia e não tinha experiência em lecionar em uma escola adventista. Nenhum dos professores da escola tinha experiência em lecionar em uma escola adventista , e eles lideraram o grupo de 73 crianças do primeiro ano com oração e paixão. Hoje, a Tusgal School conta com 250 alunos. Esta é a história de Eegii.
Eegii lecionava na escola adventista do sétimo dia na Mongólia, mas desejava ter uma educação adventista para si mesma. Ela se perguntava: "Como posso mostrar melhor o amor de Deus?"
Os anos se passaram e Eegii participou de seminários sobre educação adventista na Mongólia. Porém, os seminários eram curtos, e Eegii ansiava por mais. Ela orou. Ela incluiu o Instituto Internacional Adventista de Estudos Avançados (AIIAS) em suas orações quando descobriu que ele oferecia um mestrado em educação nas Filipinas. Mas seu sonho parecia impossível. Ela orou porl0 anos. Então, a Divisão Norte-Asiática do Pacífico, cujo território inclui a Mongólia, ofereceu a Eegii uma bolsa de estudos para estudar no AIIAS. Eegii ficou muito feliz! Deus havia respondido às suas orações. Mas ela não sabia se poderia aceitar a bolsa, que cobria somente seus estudos. Ela ainda precisaria pagar por moradia, contas de água, luz e comida. Ela também tinha um marido e dois filhos em idade escolar que não podia abandonar. Eles precisariam de passagens para voar para as Filipinas, e os filhos dela precisariam de dinheiro para estudar em uma escola adventista lá.
Eegii orou e orou. Seu sonho parecia impossível. Então ela e o marido decidiram dar um passo de fé. Eles venderam o carro e os móveis. No entanto, quando eles adicionaram o dinheiro às economias da família, ainda não tinham o suficiente.
Naquela noite, Eegii foi para a cama preocupada.
Enquanto dormia, ela teve um sonho. Ela estava andando de um lado para o outro em uma pequena sala sem portas ou janelas. Ela estava presa. Então Deus lhe entregou um pedaço de papel e disse: "Eu vou ajudá-la". Logo em seguida, ela estava sentada na caçamba de uma caminhonete, viajando por uma estrada. A caminhonete parou em um cruzamento ferroviário, um trem passou, e a caminhonete seguiu em frente. Eegii acordou sem nenhuma preocupação. As palavras de Deus ecoaram em seus ouvidos: "Eu vou ajudá-la". Eegii não estava mais preocupada, mas ainda não sabia o que fazer. Seu sonho parecia impossível.
Poucos dias depois, enquanto Eegii caminhava para a igreja no sábado, algo fora do comum chamou sua atenção. Uma grande árvore estava crescendo em uma fileira de garagens particulares. As raízes da árvore estavam profundamente enraizadas no telhado de concreto das garagens. Eegii pensou: "É impossível uma árvore crescer em um telhado de concreto".
Imediatamente, as palavras do anjo a Maria surgiram em sua mente: "Porque para Deus nada é impossível" (Lucasl:37,ACF).
Ela pensou: "Deus está me mostrando que tudo é possível para Ele!"
Eegii tirou uma foto da árvore com seu celular e alegremente mostrou para seus amigos na igreja. Ela não tinha dúvidas de que ela e sua família iriam para as Filipinas.
Foi exatamente o que aconteceu. Nas semanas seguintes, Eegii conseguiu passagens aéreas e deixou a Mongólia. Deus até a abençoou a caminho das Filipinas. Ela teve uma escala de seis horas para trocar de avião na Turquia e conseguiu passar um tempo com dois parentes que viviam lá.
Quando chegou ao AIIAS, ela estava sozinha, assim como tinha estado sozinha na caçamba da caminhonete em seu sonho. Mas ela acreditava que Deus a ajudaria. Ela acreditava que uma árvore poderia crescer de um telhado de concreto. Ela orou e aguardou. Dois meses depois, seu marido vendeu o restante de seus bens, e ele e seus dois filhos tinham o dinheiro para se juntar a ela.
Hoje, a família está residindo no AIIAS enquanto Eegii cursa seu mestrado em educação. Ela não poderia estar mais feliz. Seu sonho impossível está se realizando. Ela está recebendo uma educação adventista e mal pode esperar para compartilhar o amor de Deus de novas formas quando voltar para casa.
"Precisamos olhar para Deus em vez de para os nossos problemas e avançar com fé", disse ela.
"Quando os israelitas fugiram do Egito, eles pararam no Mar Vermelho com medo", disse ela. "Mas então, quando deram um passo à frente com fé, viram Deus abrir milagrosamente as águas. Então, siga em frente com Deus em fé, oração e gratidão."
Ore por Eegii e pelos outros professores da Escola Tusgal, a única escola adventista do sétimo dia na Mongólia. Parte de uma oferta anterior do trimestre ajudou a escola a se expandir com novas salas de aula e uma biblioteca. Obrigado por planejar uma oferta generosa para os projetos deste trimestre na Mongólia e em outros lugares da Divisão Norte-Asiática do Pacífico.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
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- Compartilhe as postagens do Informativo Mundial das Missões e os Fatos Rápidos da Divisão Norte-Asiática do Pacífico: bit.ly/nsd-2025.
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2025
Tema geral: O amor e a justiça de Deus
Lição 8 – 15 a 22 de fevereiro
Livre-arbítrio, amor e providência divina
Autor: Erico Tadeu Xavier
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Rosemara Santos
Quando Deus nos criou, ele nos deu livre-arbítrio, o poder de escolha (Gn 2:15-17). Amar é uma decisão e, sem livre-arbítrio, não poderíamos amar. Cada pessoa pode escolher amar ou não amar a Deus, obedecer ou não obedecer ao Senhor.
Deus abençoa quem escolhe segui-Lo. Quem aceita Jesus como seu Salvador terá a vida eterna. Mas quem rejeita Jesus sofrerá as consequências de uma vida sem Deus.
Predestinação segundo os calvinistas
Calvino escreveu: “Portanto, estamos afirmando o que a Escritura mostra claramente: que [Deus] designou de uma vez para sempre, em seu eterno e imutável desígnio, aqueles que Ele quer que se salvem, e aqueles que Ele quer que se percam. Esse desígnio, no que respeita aos eleitos, afirmamos haver se fundado em Sua graciosa misericórdia, sem qualquer consideração da dignidade humana; aqueles, porém, aos quais destina à condenação, a esses de fato por Seu justo e irrepreensível juízo, ainda que incompreensível, lhes embarga o acesso à vida” (As Institutas, III.21.7).
A definição clássica dessa doutrina no Cânones de Dort (i.7) diz: “Essa eleição é o imutável propósito de Deus, pelo qual Ele, antes da fundação do mundo, escolheu um número grande e definido de pessoas para a salvação, por graça pura [...]. Em outras palavras, Ele decidiu dar-lhes verdadeira fé em Cristo, justificá-los, santificá-los, e depois, tendo-se guardado poderosamente na comunhão de Seu Filho, finalmente glorificá-los. Deus fez isso para a demonstração de Sua misericórdia e para o louvor da riqueza de Sua gloriosa graça”.
A Confissão de Fé Batista de 1689 (3.3-7) diz: “Pelo decreto, e para manifestação da glória de Deus, alguns homens e alguns anjos são predestinados (ou preordenados) para a vida eterna através de Jesus Cristo, para louvor da Sua graça gloriosa. Os demais são deixados em seu pecado, agindo para sua própria e justa condenação; e isso para louvor da justiça gloriosa de Deus. Os anjos e homens predestinados (ou preordenados) estão designados de forma particular e imutável, e o seu número é tão certo e definido que não pode ser aumentado ou diminuído”.
Podemos resumir a doutrina da eleição/predestinação nos seguintes pontos:
- Em primeiro lugar, a eleição é uma expressão da vontade livre de Deus.
Coenen afirmou: “Perguntando-se quais são os princípios que subjazem a escolha feita por Deus, a única resposta positiva que se pode dar é que Ele concede Seu favor aos homens, e os vincula a Si mesmo, unicamente com base em Sua própria decisão livre e no Seu amor que independe de quaisquer circunstâncias temporais (Lothan Coenen, “Eleger”. In: Colin Brown e Lothar Coenen (eds.), Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 2, p. 35).
- Em segundo lugar, a eleição é imutável e, portanto, torna segura e certa a salvação dos eleitos.
Segundo os calvinistas, Deus executa o decreto da eleição com eficiência, pela obra salvadora que realiza em Jesus Cristo (Rm 8:29, 30; 11:29; 2Tm 2:19).
- Em terceiro lugar, a eleição é uma decisão ocorrida na eternidade.
A eleição jamais deve ser identificada com alguma ação que acontece no tempo, seja para receber a graça especial nesta vida, seja para receber privilégios e serviço, seja para herança da glória por vir, mas, antes, deve ser considerada eterna (Rm 8:29, 30; Ef 1:4, 5).
- Em quarto lugar, a eleição é incondicional.
A eleição não depende de modo algum da fé ou boas obras previstas, mas exclusivamente da livre e soberana graça de Deus, que é também a origem da fé e das boas obras (At 13:48; Rm 9:11; 2Tm 1:9; 1Pe 1:2).
- Em quinto lugar, a eleição é irresistível.
Isso não significa que o homem não possa se opor à sua execução até certo ponto, mas significa sim, que a sua oposição não prevalecerá. Tampouco significa que Deus, na execução do Seu propósito, subjugue de tal modo a vontade do homem que Sua atitude seja incoerente com a livre agência humana. Significa, porém, que Deus pode exercer tal influência sobre o ser humano que o leva a querer o que Deus quer (Sl 110:3; Fp 2:13).
- Em sexto lugar, é a decisão soberana de Deus de não levar em conta outras pessoas, não as salvando.
Devemos notar que Calvino disse que esse “decreto [é] certamente horrível, confesso” (João Calvino, As Institutas, III.23.7).
Wayne Grudem nota que a palavra latina horribilis, empregada por Calvino, não significa “detestável”, mas, antes, “pavoroso”, “que inspira terror” (Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p. 578).
A doutrina da reprovação pode ser definida como “a decisão soberana de Deus, antes da criação, de não levar em conta algumas pessoas, decidindo em tristeza não as salvar e puni-las por seus pecados, manifestando por meio disso Sua justiça” (Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p. 573).
Objeções à doutrina da eleição/predestinação
- A eleição significa que não temos a opção de aceitar a Cristo. A doutrina da eleição nega todos os convites dos evangelhos que apelam à vontade do homem e exige que as pessoas façam uma escolha ao responder ao convite de Cristo.
- A doutrina da eleição faz com que sejamos marionetes ou robôs, não pessoas reais. Se Deus realmente é a causa de cada coisa que escolhemos a respeito da salvação, então já não somos pessoas reais.
- Da doutrina da eleição decorre que os incrédulos jamais têm a chance de crer. Se Deus decretou desde a eternidade que algumas pessoas não creriam, então não houve chance genuína para que cressem, e o sistema inteiro funciona injustamente. Quando as pessoas rejeitavam a Jesus, Ele sempre lhes atribuía a responsabilidade pela escolha deliberada de rejeitá-Lo, e não a algum decreto de Deus Pai. “Por que vocês não compreendem a minha linguagem? É porque vocês são incapazes de ouvir a minha palavra. Vocês são do diabo, que é o pai de vocês, e querem satisfazer os desejos dele” (Jo 8:43, 44). Ele diz a Jerusalém: “Quantas vezes quis Eu reunir os Seus filhos [...] mas vocês não quiseram!” (Mt 23:37). Ele disse aos judeus que o rejeitaram: “Vocês não querem vir a Mim para ter vida” (Jo 5:40). Romanos 1 explica que todas as pessoas são confrontadas com a revelação de Deus com tanta clareza que são “indesculpáveis” (Rm 1:20).
- A eleição é injusta. A doutrina da eleição é injusta, visto que ensina que Deus escolhe alguns para serem salvos e ignora outros, decidindo não os salvar. Como isso pode ser justo?
- A Bíblia diz que Deus deseja salvar todo mundo. Paulo escreveu que Deus, nosso Salvador “deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2:4). Pedro disse: “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a julguem demorada. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento” (2Pe 3:9).
O livre-arbítrio
“O poder de escolha que Deus deu ao ser humano deve ser exercitado. Você não pode mudar o próprio coração, nem, por si mesmo, entregar suas afeições a Deus; mas pode escolher servi-Lo. Você pode dar-Lhe sua vontade. Ele então operará em você o querer e o realizar, segundo Sua boa vontade (Fp 2:13). Desse modo, toda a sua natureza estará sob o controle do Espírito de Cristo; suas afeições ficarão centralizadas Nele, e seus pensamentos estarão em harmonia com Ele.
“É correto desejar ser bom e viver uma vida santificada. Porém, nada disso tem valor se ficar apenas no desejo. Muitos se perderão enquanto esperam e desejam ser cristãos. Eles não chegam ao ponto de entregar sua vontade a Deus. Não decidem agora mesmo ser cristãos ” (Ellen G. White, Caminho a Cristo [CPB, 2024], p. 31).
Conclusão
“Os dons de Sua graça por meio de Cristo são gratuitos a todos. Não há nenhuma eleição, a não ser a escolha que a própria pessoa faz, pela qual ela venha a se perder. Deus estabeleceu em Sua Palavra as condições para que todos sejam candidatos à vida eterna – obediência aos Seus mandamentos, por meio da fé em Cristo. Deus elegeu o modelo de caráter que está em harmonia com Sua lei, e todo aquele que atingir essa norma entrará no reino de glória. [...] Eleita é toda pessoa que desenvolve a própria salvação com temor e tremor. É eleito aquele que põe a armadura e combate o bom combate da fé. É eleito quem vigia e ora, quem examina as Escrituras e foge da tentação. Eleito é aquele que tem fé constantemente, e que é obediente a toda palavra que sai da boca de Deus. As providências tomadas para a redenção estão disponíveis a todos, mas os resultados da redenção serão desfrutados por aqueles que cumprirem as condições” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 168, 169).
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Erico Tadeu Xavier é Pós-doutor em Teologia Sistemática e Missão Integral pela FAJE (Faculdade de Filosofia e Teologia Jesuíta de BH), Doutor em Ministério pela FTSA, Faculdade Teológica Sul-Americana e Doutor em Teologia pela PUC (Pontifícia Universidade Católica do RJ). Iniciou seu ministério em 1991 como pastor distrital e atuou em três diferentes regiões. Foi professor do Seminário Adventista de Teologia na Universidade Adventista da Bolívia, da Faculdade Adventista da Bahia (antigo IAENE), e da FAP (antigo IAP), no Paraná. É casado com Noemi Pinheiro Xavier, Doutora em Educação. O casal tem dois filhos: Aline (psicóloga) e Joezer (designer gráfico).