Lição 6
04 a 10 de agosto
O ministério de Pedro
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Is 45–48
Verso para memorizar: “Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que O teme e faz o que é justo Lhe é aceitável” (At 10:34, 35).
Leituras da semana: At 9:32-43; 10:9-16; 11:1-26; 12:1-18; Ef 2:11-19

Com a partida de Paulo para Tarso, Pedro se torna novamente o personagem principal na narrativa de Lucas sobre o início da igreja cristã. Pedro é retratado como tendo uma espécie de ministério itinerante em toda a Judeia e regiões circunvizinhas. O livro de Atos relata duas de suas breves histórias de milagres: a cura de Eneias e a ressurreição de Tabita (Dorcas), seguidas pela história de Cornélio no capítulo 10.

A conversão dos gentios era a questão mais controversa na igreja apostólica. Embora as discussões após o batismo de Cornélio estivessem longe de resolver todas as dificuldades, o derramamento do Espírito entre os gentios (At 10:44-48) – uma lembrança do que havia ocorrido no Pentecostes – ajudou a convencer Pedro e os irmãos de Jerusalém de que as bênçãos do evangelho não estavam restritas aos judeus. Enquanto isso, a igreja em Antioquia também já havia começado a trabalhar pelos gentios.

O estudo desta semana também inclui o surgimento de uma nova e breve perseguição – desta vez sob a ordem do rei Herodes – e seu impacto sobre os apóstolos, que haviam sido poupados da perseguição liderada por Paulo.



Domingo, 05 de agosto
Ano Bíblico: Is 49–51
Em Lida e Jope

Pedro estava visitando as comunidades cristãs ao longo da região costeira da Judeia. Seu propósito provavelmente era lhes dar instrução doutrinária (At 2:42), mas Deus o usou poderosamente para fazer milagres semelhantes aos que foram realizados pelo próprio Jesus.

1. Leia Atos 9:32-35. Que semelhanças você vê entre o milagre de Jesus em Lucas 5:17-26 e a cura de Eneias?

Apesar da brevidade do relato, o milagre nos lembra a conhecida história do paralítico curado por Jesus em Cafarnaum (Lc 5:17-26). Até mesmo o detalhe a respeito da maca é semelhante. O mais importante, no entanto, foi o impacto da cura de Eneias, não só em Lida, mas também na planície costeira de Sarona. Tendo confirmado por si mesmos a realidade do milagre, muitos se voltaram para o Senhor.

2. Leia Atos 9:36-43. Por que Tabita era uma mulher tão especial? Assinale a alternativa correta:

A. (  ) Porque ela ajudava os pobres e viúvas, fazendo boas obras.
B. (  ) Porque ela era filha do sumo sacerdote.

“Tabita” – palavra aramaica para “gazela”; em grego, Dorcas – era uma cristã muito querida em sua vizinhança por causa de suas obras de caridade. A história de sua ressurreição também se assemelha a um milagre realizado por Jesus, a ressurreição da filha de Jairo (Lc 8:41, 42, 49-56), a qual Pedro testemunhara. Seguindo o exemplo de Cristo, ele pediu a todos que saíssem da sala (veja Mc 5:40). Então, ajoelhou-se e orou. Depois disso, chamou: “Tabita, levanta-te” (At 9:40).

Os apóstolos realizaram muitos milagres; entretanto, essas foram ações de Deus pelas mãos deles (At 5:12). As semelhanças com os milagres de Jesus talvez fossem para lembrar a igreja, inclusive a nós hoje, que o mais importante não é o instrumento, mas a medida de entrega desse instrumento a Deus (veja Jo 14:12). Quando permitimos completamente que Deus nos use em prol da causa do evangelho, coisas maravilhosas podem acontecer. Pedro não apenas ressuscitou Tabita, mas o milagre também levou a muitas conversões em Jope (At 9:42).

Algumas pessoas pensam que se pudessem tão somente testemunhar um milagre, como o que aconteceu nessa história, então elas creriam. Contudo, embora às vezes os milagres ajudem a levar algumas pessoas à fé, a Bíblia está repleta de histórias de indivíduos que viram milagres e ainda assim não creram. Portanto, sobre o que a nossa fé deve estar fundamentada?


Segunda-feira, 06 de agosto
Ano Bíblico: Is 52–55
Na casa de Cornélio

Em Jope, Pedro se hospedou na casa de Simão, cuja profissão era a de curtidor (At 9:43). Enquanto isso, em Cesareia, a cerca de 40 quilômetros de Jope, vivia um centurião romano chamado Cornélio. Ele e sua família eram devotos de Deus, embora ainda não tivessem aderido formalmente ao judaísmo, o que significa que Cornélio ainda era um gentio incircunciso. Em uma visão dada por Deus, ele foi instruído a enviar mensageiros a Jope e convidar Pedro a visitá-lo (At 10:1-8).

3. Leia Atos 10:9-16, 28, 34, 35. Que experiência Pedro viveu e como ele a interpretou?

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É importante saber que a visão de Pedro não foi sobre comida, mas sobre pessoas. Era perto do meio-dia, Pedro certamente estava com fome, e a voz lhe dizia para matar e comer. Entretanto, Deus usou a visão não para remover a distinção entre animais puros e imundos, mas para ensinar ao apóstolo o caráter inclusivo do evangelho.

O propósito explícito da visão era quebrar a resistência de Pedro contra os gentios. Pedro pensava que, se entrasse na casa de Cornélio e se associasse com ele, seria contaminado e, portanto, não poderia adorar no templo nem comparecer à presença de Deus. Os judeus do 1o século, sobretudo os que viviam na Judeia e nas áreas próximas, normalmente não se associavam com gentios incircuncisos.

O problema estava com a teologia judaica contemporânea, que excluía os gentios do povo de Israel, embora isso representasse uma perversão do propósito da existência de Israel como nação, que era levar ao mundo o conhecimento do Deus verdadeiro.

Visto que a circuncisão era o sinal da aliança abraâmica, gentios incircuncisos passaram a ser segregados e tratados com desprezo. Eles não podiam ter nenhuma parte nas bênçãos da aliança, a menos que aceitassem a circuncisão e se tornassem judeus. Esse conceito, porém, era incompatível com o alcance universal da morte de Jesus, conforme os primeiros cristãos estavam, aos poucos, começando a entender.

Leia Tito 2:11, Gálatas 3:26-28 e Efésios 2:11-19. O que esses textos nos ensinam sobre a universalidade da mensagem do evangelho? Seria errado, como cristãos, nutrir preconceitos contra algum grupo com base em sua etnia?


Terça-feira, 07 de agosto
Ano Bíblico: Is 56–58
O dom do Espírito

Atos 10:44-48 revela um momento crítico na história da igreja primitiva. Era a primeira vez que um dos apóstolos pregava o evangelho a gentios incircuncisos. Ao contrário dos cristãos helenistas, os apóstolos e outros fiéis da Judeia não estavam prontos para receber gentios na igreja. Como Jesus era o Messias de Israel, eles pensavam que o evangelho deveria ser compartilhado apenas com judeus de perto e de longe. Os gentios primeiramente deveriam se converter ao judaísmo para então serem aceitos na comunidade de fé. Em outras palavras, antes que se tornassem cristãos, os gentios deveriam, primeiro, se tornar judeus. Esse pensamento precisava ser mudado.

O dom de línguas dado a Cornélio e à sua família foi acrescentado como sinal claro e observável de que esse conceito estava equivocado, de que Deus não tem favoritos e que, em termos de salvação, judeus e gentios estão em pé de igualdade diante Dele.

4. Leia Atos 11:1-18. Como a igreja em Jerusalém reagiu à experiência de Pedro em Cesareia? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:

A.  (  ) Os cristãos judeus excomungaram Pedro da igreja.
B.  (  ) Embora receosos, ficaram maravilhados com sua experiência.

O preconceito judaico em relação aos gentios, estabelecido havia muito tempo, levou os cristãos em Jerusalém a criticar Pedro por ele ter comido com incircuncisos. Parece que eles estavam mais preocupados com o zelo cerimonial judaico do que com a salvação de Cornélio e sua família. Eles temiam que, se a igreja rompesse com essas práticas, isso representaria uma negação da fé de Israel; eles perderiam o favor de Deus e se tornariam sujeitos às mesmas acusações – da parte dos demais judeus – que levaram Estêvão à morte.

“Era chegado o tempo para ser introduzida pela igreja de Cristo uma fase de trabalho inteiramente nova. A porta que muitos dos judeus conversos haviam fechado aos pagãos devia agora ser aberta completamente. E os gentios que aceitassem o evangelho deveriam ser considerados em condição de igualdade com os discípulos judeus, sem a necessidade de observar o rito da circuncisão” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 136).

Como havia ocorrido no Pentecostes, os gentios também falaram em idiomas anteriormente desconhecidos para eles, não em línguas extáticas nem celestiais. Apenas o propósito era diferente: enquanto para os apóstolos o dom visara a missão mundial da igreja, para Cornélio era como uma confirmação de que a graça de Deus estava atuando até mesmo entre os gentios.



Quarta-feira, 08 de agosto
Ano Bíblico: Is 59–62
A igreja em Antioquia

Motivado pela conversão de Cornélio, Lucas interrompe brevemente o relato do ministério de Pedro para mostrar o progresso inicial do evangelho entre os gentios.

5. De acordo com Atos 11:19-26, o que aconteceu quando alguns refugiados de Jerusalém chegaram a Antioquia?

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Essa seção de Atos 11 remete à perseguição empreendida por Paulo no capítulo 8. Portanto, enquanto os acontecimentos recém-descritos estavam ocorrendo na Judeia e em outros lugares, alguns cristãos helenistas que haviam sido forçados a deixar Jerusalém estavam propagando o evangelho além das fronteiras judaicas.

Lucas dá atenção especial à grande e importante cidade de Antioquia, na Síria, onde os refugiados começaram a pregar para seus irmãos judeus e aos gentios, e muitos deles estavam aceitando a fé. A comissão de Jesus, em Atos 1:8, estava sendo cumprida por meio dos esforços desses judeus helenistas cristãos. Eles foram os verdadeiros fundadores da missão aos gentios.

Por causa do sucesso da igreja em Antioquia, os apóstolos em Jerusalém decidiram enviar Barnabé para avaliar a situação. Percebendo as grandes oportunidades para o avanço do evangelho, Barnabé foi chamar Paulo em Tarso, sentindo que ele poderia ser de grande ajuda.

Barnabé estava certo. Durante o ano em que ele e Paulo trabalharam juntos, grandes multidões, principalmente de gentios, puderam ouvir o evangelho. O entusiasmo com que eles falavam sobre Jesus Cristo fez com que os crentes se tornassem conhecidos, pela primeira vez, como “cristãos” (At 11:26). O fato de que “foram” “chamados cristãos” indica que o termo foi cunhado pelos que não eram da igreja, provavelmente como uma forma de zombaria, enquanto os fiéis preferiam se autodenominar “irmãos” (At 1:16), “discípulos” (At 6:1), ou mesmo “santos” (At 9:13). Quando o livro de Atos foi escrito, “cristão” se tornara um nome comum (At 26:28), e parece que Lucas o aprovava. “Cristão” significa um seguidor ou adepto de Cristo.

Para você, o que significa ser chamado de “cristão”? Sua vida é diferente da vida dos não cristãos em relação às coisas que realmente importam?


Quinta-feira, 09 de agosto
Ano Bíblico: Is 63–66
A perseguição de Herodes

Voltando outra vez a falar da Judeia, nos deparamos, agora, com o relato da execução de Tiago, o irmão de João e filho de Zebedeu (Mc 1:19), por ordem do rei Herodes. Ele também desejava dar a Pedro o mesmo destino.

6. O que Atos 12:1-4 ensina sobre os desafios enfrentados pela igreja primitiva?

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O rei Herodes mencionado aqui é Agripa I, o neto de Herodes, o Grande (Mt 2:1); ele governou a Judeia de 40 a 44 d.C. Como resultado de suas muitas demonstrações de piedade, ganhou popularidade entre seus súditos judeus, especialmente os fariseus. Sua tentativa de ganhar o favor do povo ao atacar alguns apóstolos se encaixa perfeitamente no que conhecemos a seu respeito a partir de outras fontes.

Visto que a execução de Tiago havia sido eficaz no cumprimento dos propósitos de Agripa, ele também planejou executar Pedro. O apóstolo foi preso e entregue a quatro escoltas de quatro soldados cada uma, cujo objetivo era vigiá-lo – uma escolta para cada uma das vigílias ou turnos da noite. Pedro tinha consigo quatro soldados ao mesmo tempo: ele estava acorrentado a dois deles, um de cada lado, e os outros dois guardavam a entrada. Essa extrema precaução certamente foi tomada para tentar evitar o que já ocorrera com Pedro (e João) algum tempo antes (At 5:17-20).

7. Leia Atos 12:5-18. O que aconteceu em resposta às orações dos irmãos? Assinale a alternativa correta:

A. (  ) Um anjo libertou Pedro da prisão.
B. (  ) Pedro foi executado no dia seguinte por ordem de Herodes.

Na noite anterior ao dia em que Agripa planejava julgar e executar Pedro, o apóstolo foi, mais uma vez, libertado miraculosamente por um anjo.

Em seguida, encontramos a história da morte de Agripa em Cesareia (At 12:20-23). Já se tentou identificar a causa de sua morte (peritonite, úlcera e até envenenamento); Lucas, porém, afirma claramente que o rei morreu por causa de um juízo divino.

Tiago foi morto, Pedro foi libertado e Herodes enfrentou o juízo divino. Em alguns casos, vemos a justiça; em outros, parece que não. Isso mostra que não temos respostas para todas as nossas perguntas. Por que precisamos viver pela fé em relação ao que não entendemos?


Sexta-feira, 10 de agosto
Ano Bíblico: Jr 1–3
Estudo adicional

No décimo capítulo dos Atos, ainda temos outro exemplo da ministração dos anjos celestiais, que resultou na conversão de Cornélio e de seu grupo. Esses capítulos [8-10] devem ser lidos e receber atenção especial. Neles, vemos que o Céu está muito mais próximo do cristão que se empenha na obra da salvação de pessoas do que muitos supõem. Devemos também aprender por meio deles a lição do interesse de Deus por todo ser humano, e que cada um deve tratar seu próximo como um dos instrumentos de Deus para a realização de Sua obra na Terra” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 6, p. 1176, 1177).

“Quando a igreja orar, a causa de Deus irá adiante e Seus inimigos serão reduzidos a nada, mesmo que isso não isente a igreja do sofrimento e martírio. A crença de Lucas na vitória do evangelho é totalmente realista e reconhece que, embora a palavra de Deus não esteja acorrentada, seus servos podem sofrer e ser aprisionados” (I. Howard Marshall, The Acts of the Apostles [Os Atos dos Apóstolos]. Grand Rapids: Eerdmans, 1980, p. 206, 207).

Perguntas para discussão

1. Cornélio é descrito como alguém “piedoso e temente a Deus com toda a sua casa e que fazia muitas esmolas ao povo e, de contínuo, orava a Deus” (At 10:2). É evidente que o Espírito do Senhor já estava trabalhando em Cornélio muito antes que ele conhecesse Pedro. Sua vida devocional teria sido uma oportunidade para Deus alcançá-lo com a mensagem do evangelho? Que lição aprendemos com essa história?

2. O contexto cultural, social e político no qual você vive gera o tipo de tensão étnica que os cristãos não devem nutrir? Em outras palavras, quando necessário, como superar os desafios da nossa cultura e contexto?

3. Apesar dos danos, os esforços de Paulo em perseguir os cristãos resultaram em algo positivo: os refugiados que foram para Antioquia começaram a pregar aos judeus e aos gentios. Compartilhe com a classe uma experiência pessoal de dor e sofrimento que Deus transformou em bênção.

4. Tiago foi um dos discípulos mais próximos de Jesus (Mc 5:37; 9:2; 14:33); no entanto, ele foi o primeiro dos doze apóstolos a sofrer o martírio. Quais são outros exemplos bíblicos de fiéis que sofreram injustamente? Quais lições devemos extrair desses relatos sobre a questão do sofrimento?

Respostas e atividades da semana: 1. Com a ajuda dos alunos, faça um resumo das semelhanças entre os dois milagres. Pergunte: Podemos realizar hoje milagres como os de Pedro? 2. A. 3. Pedro teve uma visão em que foi solicitado a comer animais imundos, simbolizando que a igreja devia aceitar pessoas de todas as nações. Pergunte: Qual deve ser nossa atitude diante das revelações claras de Deus hoje? 4. F; V. 5. Os cristãos perseguidos alcançaram judeus e gentios em outras regiões. A igreja foi estabelecida em Antioquia. Barnabé se uniu a Paulo na obra missionária. Pergunte: Qual é o sentimento dos cristãos verdadeiros em relação à pregação do evangelho? 6. Tiago foi morto, e Pedro foi preso. Quais desafios a igreja enfrenta hoje? 7. A.



Resumo da Lição 6
O ministério de Pedro

O ministério de Pedro

TEXTOS-CHAVE: Atos 9:32-43; 10

O ALUNO DEVERÁ

Conhecer: Os dons pastorais e administrativos de Pedro.
Sentir: Apreciar a coragem e ousadia que caracterizam o ministério de Pedro.
Fazer: Aplicar as lições da vida e do ministério de Pedro para fortalecer sua vida pessoal e a vida da igreja.

ESBOÇO

I. Conhecer: A força de Pedro

A. O que fez uma pessoa vacilante como Pedro se tornar uma corajosa e ousada testemunha de Jesus?
B. A oração foi importante na vida e no ministério de Pedro? Como Pedro encarou as expectativas dos cristãos nos vários lugares em que ministrou?

II. Sentir: As principais características de Pedro

Embora Pedro fosse um líder de destaque na igreja, como ele se colocou à disposição das pessoas comuns? O que isso revela sobre o caráter de Pedro como pastor e líder?

III. Fazer: Aprendendo com Pedro

O que aprendemos com a abordagem de Pedro para atender às necessidades dos indivíduos e da congregação?

RESUMO

Pedro, como membro da igreja, guerreiro de oração, evangelista e líder, deixou um exemplo para os cristãos seguirem.

 

Ciclo do aprendizado

1 Motivação

Focalizando as Escrituras: At 9:32-43

Conceito-chave para o crescimento espiritual: Após a ressurreição, Jesus tomou tempo para preparar os discípulos para o ministério que estava diante deles. Pedro negou Jesus três vezes antes da morte do Mestre. O Jesus ressuscitado perguntou três vezes a Pedro se poderia contar com ele para assumir as responsabilidades do discipulado. “A pergunta dirigida a Pedro por Cristo era significativa. Ele mencionou apenas uma condição de discipulado e serviço. ‘Amas-Me?’, disse Ele. É esta a qualificação essencial” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 815).

Para o professor: Inicie a classe com uma recapitulação dos fracassos e sucessos de Pedro antes da ressurreição.

Terminada a ceia e seguindo para o Getsêmani, Jesus olhou para Pedro e disse: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça” (Lc 22:31, 32). Pedro não tinha certeza do que fazer com essas palavras, mas jurou sua eterna lealdade a Jesus com a prontidão para defendê-Lo e, se necessário, ir com o Senhor “tanto para a prisão como para a morte” (Lc 22:33). No entanto, durante todo o tempo, Pedro tinha sido uma figura vacilante. Em um momento, ele confessou que Jesus era o Cristo de Deus; em outro, Pedro negou conhecer Jesus. Pedro andou sobre as águas, mas sua fé deu lugar à dúvida, e o milagre quase se tornou em desastre. Jesus compartilhou o Getsêmani com Pedro, um privilégio raro, mas Pedro escolheu dormir. Pedro realmente cortou uma orelha, mas não conseguiu reunir a coragem para encarar a pergunta de uma criada a respeito de Jesus. O galo cantou, e Pedro chorou. Pelos pecados de Pedro e do mundo, Jesus foi crucificado fora de Jerusalém. No terceiro dia, Pedro viu o Cristo ressuscitado. Sua vida nunca mais foi a mesma. O Senhor transformou Pedro em uma nova pessoa, que foi capaz de pregar com um coração firme no Pentecostes.

Discussão: O discipulado cristão é um privilégio e também uma responsabilidade. Quais são alguns privilégios e responsabilidades? De que maneira temos falhado no cumprimento dessas responsabilidades?

Compreensão

Para o professor: Jesus disse a Pedro: “Quando te converteres, fortalece os teus irmãos” (Lc 22:32). Pedro era um triste paradoxo de elementos opostos: força e fraqueza, ousadia e timidez, lealdade e traição. Mas a oração de seu Mestre sempre o acompanhou, e Jesus assegurou a Pedro que ele retornaria ao Senhor. Pedro negou Jesus, mas essa negação não foi o ponto final. Foi apenas uma falha temporária, pois o Mestre o encorajou com as Suas orações. A esperança que Cristo tinha em Pedro não foi em vão: o apóstolo fortaleceu seus irmãos. Portanto, vemos o poderoso discípulo, imerso nas Escrituras e cheio do Espírito Santo para interpretá-las, um homem por meio de quem o Espírito de Deus moveu multidões ao arrependimento do pecado e à aceitação de Jesus como Salvador. Esse apóstolo poderoso, ousado e destemido fortaleceu os cristãos, os necessitados, duvidosos, moribundos e estrangeiros, cumprindo a esperança que Cristo tinha de que ele iria “fortalecer seus irmãos”.

O foco da lição desta semana é Pedro, que fortaleceu os cristãos e derrubou as barreiras étnicas para que a igreja pudesse crescer.

Comentário bíblico

I. Pedro: aquele que cuidou dos irmãos

(Recapitule com a classe At 9:32-35.)

Na história das missões e do crescimento da igreja, muitas vezes observamos um fenômeno estranho. O principal evangelista por trás do avanço, muitas vezes, parece tão profundamente envolvido no crescimento numérico, desenvolvimento dos membros e obtenção de recursos, que a necessidade do toque pessoal e da visitação dos membros é negligenciada ou atribuída a outros. Embora a divisão do trabalho seja um conceito importante no ministério, os líderes não devem perder o contato com as pessoas nem com as raízes do ministério. Pedro, cuja pregação sacudiu Jerusalém e foi fundamental no grande movimento de crescimento da igreja, deu-nos um bom exemplo de visitação pastoral: Pedro viajou “por toda parte” (At 9:32), fortalecendo e encorajando os cristãos. Ele foi para Lida, onde conheceu Eneias, um homem paralisado e acamado havia oito anos. Pedro o curou com as palavras: “Jesus Cristo te cura!” (At 9:34). Pedro, o apóstolo, pastor e evangelista, queria que os cristãos em Lida compreendessem o ponto principal: a cura é importante, porém mais importante é confirmar que Jesus Cristo é Aquele que cura. Nele está o poder miraculoso do Criador.

Logo ocorreu outro milagre. Em Jope, a 18 quilômetros a noroeste de Lida, de repente, a igreja sofreu uma perda dolorosa: havia morrido Dorcas, uma mulher “notável pelas boas obras e esmolas que fazia” (At 9:36). Ela era uma mulher que levava a sério sua fé e seu chamado, e fez o evangelho falar por meio da linguagem das “túnicas e vestidos” (At 9:39). Jesus restaurou Dorcas ao seu “ministério da costura” e fez com que as viúvas de Jope voltassem a sorrir.

Pense nisto: Em seguida, aconteceu um terceiro milagre: “Pedro ficou em Jope muitos dias, em casa de um curtidor chamado Simão” (At 9:43). Um curtidor trabalha com couro, manipulando a pele de animais mortos – uma profissão que fazia de Simão, o curtidor, “imundo” (Nm 19:11-13; Lv 11:39, 40), dificilmente o tipo de companhia que um judeu consciente manteria. Como os muros de separação começaram a ser derrubados nesse encontro?

II. Pedro: aquele que cruzou as fronteiras

(Recapitule com a classe At 10.)

“Deus Se move de maneira misteriosa para realizar Suas maravilhas” (William Cowper). Assim Ele atuou há muito tempo na vida de Pedro e de Cornélio. A história nos revela como Deus derrubou os muros de separação entre judeus e gentios para que pudesse surgir um corpo unido de Cristo. Fatores que causam divisão – judeus ou gentios, homens ou mulheres, escravos ou livres, brancos ou negros, ricos ou pobres, não têm lugar na comunhão do Salvador crucificado e ressuscitado. Pedro ainda não proclamava plenamente que Cristo “é a nossa paz, o qual de ambos fez um” e que derrubou “a parede da separação [...], para que dos dois criasse, em Si mesmo, um novo homem” (Ef 2:14, 15). Mas Pedro estava começando o processo de aprendizagem: ele escolheu ficar com um curtidor de couro em Jope.

O Espírito Santo queria que Pedro entendesse mais sobre as relações cristãs e, mediante aquela visão do meio-dia no terraço do curtidor, foi revelado ao apóstolo que ele não tinha poder nem direito de considerar nenhuma pessoa impura nem intocável. Posteriormente, Pedro descobriria que a visão das criaturas puras e impuras tinha a intenção de ensinar exatamente essa lição. A voz celestial havia ordenado que Pedro matasse e comesse (At 10:13). Deus instruiu Pedro a descer e encarar a nova realidade do evangelho: os emissários de Cornélio estavam à porta. Pedro rapidamente entendeu a mensagem: “Deus me mostrou que eu não deveria chamar impuro ou imundo a homem nenhum” (At 10:28, NVI). O apóstolo estava pronto para romper a grande barreira entre judeus e gentios e entrar na casa de Cornélio. O Senhor fez o restante.

Anteriormente, Cornélio, centurião romano em Cesareia, havia estado em oração. Homem devoto, temente a Deus, generoso e dedicado à oração (At 10:2), Cornélio estivera de joelhos para seu encontro das 3 horas da tarde com o Senhor. Em resposta à sua persistente busca pela verdade e seu grande desejo de saber mais sobre Deus, um anjo orientou Cornélio a buscar Pedro na cidade de Jope, a cerca de 64 quilômetros ao sul de Cesareia. Nenhuma busca pela verdade do evangelho deixa de ser atendida por Aquele que é a verdade e a vida. A busca pela verdade imediatamente abre caminho para que os agentes celestiais venham ajudar aquele que busca.

As primeiras palavras de Pedro na casa de Cornélio foram de unidade no evangelho: Deus não demonstra nenhuma parcialidade entre judeus e gentios, e Jesus Cristo é o Senhor de todos (At 10:34-36). Quando o evangelho promove a unidade com insistência essencial, temos o sinal mais claro da atuação do Espírito Santo. Mesmo antes que Pedro pudesse terminar sua pregação, “caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra” (At 10:44). A expressão “todos os que ouviam a palavra” incluía os circuncidados e os incircuncisos, judeus e gentios, homens e mulheres. Diante dessa inegável aprovação do Céu, quem são os mortais para continuar se apegando aos muros que os dividem? A casa do centurião se tornou o primeiro lugar em que os muros do ódio e da separação foram destruídos pelo Espírito Santo.

Pense nisto: O relato da criação anunciou que a humanidade, criada à imagem de Deus, havia herdado uma unidade comum (Gn 1:26). A cruz confirmou que, em Cristo, não existe “judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3:28). Por que, então, ainda temos divisão dentro das comunidades cristãs? Como lidar com esse problema? Onde a solução deve começar?

Aplicação

Para o professor: Pedro havia conhecido Jesus pessoalmente. Ele podia falar sobre a arte de pescar tanto peixes quanto pessoas. Com o foco em Cristo, Pedro podia falar sobre a cura de sua sogra, a alimentação das 5 mil pessoas, o monte da transfiguração, o homem no tanque de Betesda, os dez leprosos, a caminhada sobre o mar, Lázaro, o episódio em que ele negou Jesus, o beijo de Judas, a cruz e a ressurreição. Para Pedro, a vida não era narrar eventos, mas compartilhar uma certeza. Sua vida foi o relato de uma testemunha ocular sobre o que o Senhor fez e pode fazer!

Perguntas para reflexão e aplicação

Pedro foi, muitas vezes, uma pessoa de ambiguidades e contradições. O divisor de águas em sua vida pode ser mencionado como Pedro antes do Pentecostes e Pedro após o Pentecostes. O que tornou autêntica a mudança na vida de Pedro? Como o recebimento do Espírito Santo influencia nossa vida espiritual?

Criatividade

Para o professor: Leve para a classe tiras de papel. Em cada tira, anote um incidente da vida de Pedro ou um texto do evangelho que se relacione com ele. Dobre as tiras. Coloque-as em uma pequena cesta ou saco. No final do estudo, passe a cesta para os alunos. Peça a cada um que escolha uma tira dobrada e compartilhe com a classe o que vem em sua mente sobre o incidente ou texto.


Pescador fisgado para Jesus

O coração de Kurihara transbordou de alegria ao ver Sadayuki, um pescador de 48 anos, ser batizado na distante ilha japonesa de Tsushima. Ele começou a trabalhar como pescador aos 15 anos e, finalmente, foi “pescado” por Jesus.

Kurihara, a esposa e duas filhas viviam em Tsushima, uma ilha com mais de 30 mil habitantes localizada entre o Japão e a Coreia do Sul. Pioneiros da Missão Global, eram leigos que se ofereceram para ficar pelo menos um ano para construir igrejas em regiões não penetradas dentro da própria cultura. Há sete anos, eram os únicos adventistas da ilha. Ele e Sadayuki se conheceram quando este lhe pediu cigarro no estacionamento de um supermercado.

Sadayuki bateu na janela do carro, assustando as filhas e o pai. “Você poderia me dar um cigarro?”, perguntou, ao que o senhor Kurihara respondeu: “Desculpe-me, não tenho nenhum cigarro.” É assim que ele costuma responder a tais pedidos. Mas o estranho parecia muito triste e sem esperança. Enquanto se afastava, Kurihara disse às filhas que deveriam orar em favor dele. Depois de orar, pensou: “E se eu desse um folheto adventista?” Mas não havia nenhum folheto no carro, pois todos tinham sido distribuídos uns dois dias antes. Então, orou novamente para que Deus fizesse algo.

Folheto amassado

Ao abrir os olhos, viu um folheto no chão do carro. Estava pisado pela filha, mas o texto era legível e não tinha mais nada para compartilhar. Segurou as mãos das duas filhas e correram atrás do homem. Quando o alcançaram, um verso da Bíblia surgiu-lhe na mente. Foram as palavras do apóstolo Pedro, quando ele disse a um mendigo: “Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou” (At 3:6). Então, disse ao homem: “Desculpe-me. Não cigarro para lhe dar, mas tenho isto.” Perguntou se o homem aceitaria o folheto amarrotado. Sem hesitar, ele o recebeu e leu ali mesmo. Então, agradeceu com muito entusiasmo. “Para dizer a verdade”, disse ele, “eu estava me preparando para visitar uma igreja perto daqui para perguntar o que acontece após a morte. Mas você veio até mim antes de eu ir lá!”

Encontro providencial

Quando ouviu isso, Kurihara ficou surpreso! Era como se aquele encontro tivesse sido divinamente planejado. Sem perder tempo, convidou o homem a estudar a Bíblia e perguntou se precisava de algum alimento, dizendo-lhe que poderia ter refeições diárias. O homem concordou e aceitou receber estudos bíblicos na casa de Lurihara. No dia seguinte, lá estava ele. Durante três meses estudaram a Bíblia e ele contou que lutava com depressão e alcoolismo. Tentou o suicídio duas vezes tomando comprimidos, mas os médicos salvaram a vida dele milagrosamente. Kurihara disse que Deus nunca permitiria que ele morresse, sem primeiro conhecer Seu amor.

Sadayuki foi batizado em 2015, tornando-se a segunda pessoas, das três que aceitaram Jesus, desde que a família de Kurihara se mudou para aquela ilha. Hoje, ele sonha em abrir um programa Alcoólicos Anônimos para ajudar outras pessoas que sofrem de alcoolismo.

“Algumas vezes, minha esposa e eu somos tentados a desanimar, ao enfrentarmos grandes dificuldades para compartilhar o evangelho entre uma população que segue tradições budistas e xintoístas. Mas o rosto sorridente de Sadayuki nos lembra que os caminhos de Deus não são nossos caminhos e Ele pode nos direcionar para pessoas que buscam a verdade”, diz.

Kurihara Kimiyoshi, conhecido pelos amigos como “Kimi,” está entre os mais de 2.500 pioneiros da Missão Global que construíram mais de 11 mil igrejas desde 1990.

Kimi nunca imaginou ser um pioneiro. Ele tinha licença de piloto e queria ser piloto missionário, mas Deus tinha outros planos. Ele ainda pilota aviões.

Assista ao vídeo sobre Kimi, no link: bit.ly/praying-for-students1. Outras duas histórias sobre Kimi

podem ser baixadas em: bit.ly/childrensmission.

Conhecendo o Japão

• A cozinha japonesa inclui muito arroz, peixe e vegetais, mas pouca carne. Com pouca gordura ou alimentos lácteos, esta dieta é muito saudável, o que pode explicar por que, em média, os japoneses vivem mais do que qualquer outra pessoa no mundo.

• Sumô é o esporte nacional do Japão. Para ganhar, o lutador deve forçar seu oponente a sair do ringue, ou forçá-lo a tocar o chão com qualquer parte do corpo que não seja a planta dos pés.

• O cristianismo foi introduzido no Japão por missões jesuítas em 1549. Hoje, 1% a 2,3% são cristãos.

• Existem 97 igrejas no Japão, com 15.151 membros. Com uma população de 125.310 milhões, existem 8.270 japoneses para cada adventista.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2018
Tema Geral: O Livro de Atos dos Apóstolos
Lição 6: 4 a 11 de agosto

O ministério de Pedro

Autor: Wilson Paroschi
Professor de Novo Testamento
Southern Adventist University
Collegedale, TN, EUA

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega

 

Esboço da lição da semana

  1. Ministério de cura (At 9:32-43)
  2. A conversão de Cornélio (At 10:1-11:18)
  3. A igreja de Antioquia (At 11:19-26)
  4. A perseguição de Herodes (At 12:1-25)

I. Ministério de cura (At 9:32-34)

Havendo Paulo se retirado para Tarso (At 9:30), as atenções de Lucas se voltam para Pedro, que é descrito numa espécie de ministério itinerante ao longo da região costeira da Palestina. Lucas descreve dois milagres realizados por Pedro, os quais lembram bem de perto milagres realizados pelo próprio Jesus. O primeiro foi em Lida, onde Pedro curou um paralítico chamado Eneias, que jazia em seu leito havia oito anos. Muitos, em toda a região, foram fortemente impactados e se converteram ao Senhor (At 9:35). O milagre tem semelhança com a cura do paralítico de Cafarnaum (Lc 5:17-26), o que remete à declaração de Jesus de que os discípulos seriam capazes de fazer obras iguais, ou até maiores, que as Dele (Jo 14:12).

O outro milagre foi em Jope. Ali Pedro ressuscitou uma fiel chamada Tabita, também conhecida por Dorcas, a forma grega do seu nome. A descrição de Tabita impressiona por suas obras de caridade e amor desinteressado ao próximo. O milagre também lembra bem de perto outro milagre de Jesus, a ressurreição da filha de Jairo (Lc 8:41, 42, 49-56). Em aramaico, a língua falada na Judeia na época, as frases de Jesus e Pedro no momento da ressurreição teriam sido idênticas, exceto por uma única letra: “Talita, cumi!”, no caso da filha de Jairo (Mc 5:41), e “Tabita, cumi!”, no caso de Dorcas (At 9:40).

II. A conversão de Cornélio (At 10:1–11:18)

A parte central da seção (caps. 10–11) descreve a conversão de um centurião chamado Cornélio, que vivia em Cesareia, cidade portuária localizada ao norte de Jope. Cesareia era uma bela cidade que, sob a administração romana, havia se tornado a sede do governo provincial. O encontro entre Pedro e Cornélio foi providencial, e mostra que Deus tinha a intenção clara de usar o apóstolo para trazer à fé o primeiro gentio. A ordem de Jesus era que os apóstolos levassem o evangelho a todo o mundo (At 1:8), mas os preconceitos judaicos da época contra gentios incircuncisos eram uma barreira muito grande que precisava ser vencida. A preocupação com a contaminação da idolatria pagã era tão grande que os rabinos ensinavam que nenhum judeu deveria se associar a um gentio incircunciso. A circuncisão era o sinal do concerto abraâmico (Gn 17:9-27) e a marca que distinguia o povo de Deus das demais pessoas. O simples contato com gentios incircuncisos, ainda de acordo com os rabinos, provocava impureza cerimonial, impedindo o judeu de comparecer perante Deus no templo para adorá-Lo. Há evidências de que, nesse período, essa prática era cumprida tão à risca que muitos criticavam os judeus por seu espírito exclusivista e sectário. Como a igreja iria fazer conversos de todos os povos, nações, e tribos diante de uma prática assim?

Deus trabalhou com Cornélio (At 10:1-8) e com Pedro simultaneamente (At 10:9-23), concedendo uma visão a ambos. A visão de Pedro reflete o conceito exclusivista judaico da época. A resistência de Pedro em comer até mesmo os animais limpos do lençol é explicada da seguinte forma: “Jamais comi coisa alguma comum [koinos] e imunda [akarthartos]” (At 10:14). O termo akarthartos é o mesmo utilizado na Septuaginta, versão grega do Antigo Testamento (AT), para descrever as carnes imundas em Levítico 11. Já o termo koinos não é usado no AT em relação à alimentação. Seu uso nessa passagem reflete o conceito rabínico de contaminação por associação. Mesmo carnes limpas – os rabinos ensinavam – ficariam contaminadas ao entrar em contato com carnes imundas. Pedro se recusa a comer até mesmo os animais limpos do lençol, pois para ele, tais animais teriam sido contaminados. Foi por isso que Deus respondeu: “Ao que Deus purificou [kathariz?] não consideres comum [koino?]” (At 10:15). Ou seja, aquilo que é intrinsicamente puro não é contaminado pelo simples contato com aquilo que é impuro.

A visão tem sido utilizada para defender a ideia de que a distinção entre carnes limpas e impuras do AT não está mais em vigor. Mas, a resposta de Deus a Pedro no verso 15 mostra que Deus não estava purificando carnes impuras (akarthartos), mas apenas tentando mostrar ao apóstolo que carnes limpas não eram contaminadas pela associação com as imundas. Em última instância, o ponto de Deus nem era o alimento em si, mas a situação dos gentios incircuncisos. Pedro não deveria se preocupar com uma eventual contaminação cerimonial pelo simples fato de entrar na casa de Cornélio e assentar-se com ele à mesa. Isso mostra que o evangelho é inclusivo, é para todos, e que Deus não tem favoritos (At 10:34, 35). Como todos, tanto judeus quanto gentios, pecaram (Rm 3:9, 19, 22), todos carecem da graça de Deus para a salvação (Rm 3:23), e é por isso que a salvação é unicamente pela fé, quer para judeus, quer para gentios (Rm 3:29, 30).

Pedro entendeu a mensagem, e o que se segue é a primeira conversão de um gentio incircunciso relatada no livro de Atos. Para que não restasse nenhuma dúvida de que Deus estava administrando a situação, Ele permitiu que o Espírito Santo viesse sobre Cornélio e sua família antes mesmo do batismo e que eles falassem em línguas (At 10:44-46). O fenômeno das línguas neste caso não foi por razões evangelísticas, como no Pentecostes, e muito menos por ser a evidência típica da conversão. Este é o único relato em todo o Novo Testamento de alguém falando em línguas no momento em que se converte. É interessante notar, porém, que Cornélio falou em línguas antes mesmo de ser batizado, o que, associado à reação de Pedro (At 10:47; 11:15-17) e da igreja de Jerusalém posteriormente (At 11:18), demonstra que o propósito delas foi apenas convencer a Pedro e aos que com ele estavam de que Deus estava aceitando a conversão direta de um gentio incircunciso, sem que ele primeiro precisasse se tornar um adepto do judaismo por meio da circuncisão. A forma como a igreja de Jerusalém depois cobrou explicações de Pedro por haver ele entrado em contato com um gentio incircunciso (At 11:1-18) mostra como essa questão despertava enormes preconceitos. Nem tudo seria resolvido nessa ocasião (cf. Gl 2:11-14), mas Deus estava aos poucos conduzindo sua igreja a uma realidade universal.

III. A igreja de Antioquia (At 11:19-26)

A conversão de Cornélio oferece ensejo a Lucas para relatar a expansão do evangelho em Antioquia da Síria. Vários refugiados da perseguição de Saulo chegaram até ali e compartilharam a mensagem tanto com judeus quanto com gentios, “e muitos, crendo, se converteram ao Senhor” (At 11:21). O impacto parece ter sido grande, tanto que Barnabé foi enviado desde Jerusalém para averiguar a situação. Sentindo o potencial do trabalho, ele foi a Tarso, que ficava relativamente perto de Antioquia, à procura de Paulo, e por todo um ano eles trabalharam juntos evangelizando a cidade. Fato histórico significativo é que foi ali, em Antioquia, que os seguidores de Jesus foram pela primeira vez chamados “cristãos” (At 11:26).

IV. A perseguição de Herodes (At 12:1-25)

O relato que se segue é de uma perseguição imposta por Herodes Agripa I, que viu na excecução dos líderes da igreja de Jerusalém uma forma de agradar os judeus em geral (At 12:3). Tiago, o irmão de João, foi martirizado nessa ocasião (verso 2), e Pedro seria o próximo, não fosse o poderoso livramento de Deus (versos 7-19). Por fim, Herodes colheu os resultados da sua própria crueldade e arrogância, sendo ferido por um anjo de Deus e tendo uma morte pública humilhante e aparentemente dolorosa (verso 23). O relato termina com uma breve nota, mas suficiente para mostrar a direção divina da igreja: “A Palavra do Senhor crescia e se multiplicava” (verso 24).

Conclusão

Pontos a ser enfatizados em classe:

- O poder do ministério de Pedro.

- A universalidade do evangelho.

- A perpetuidade das leis de saúde do AT.

- A fidelidade da igreja apostólica em face da perseguição e as lições que podemos tirar disso para nós hoje.

Autor do comentário:

Wilson Paroschi ensinou na Faculdade de Teologia do Unasp, Engenheiro Coelho, por mais de trinta anos. Desde janeiro deste ano, é professor de Novo Testamento na Southern Adventist University, em Collegedale, Tennessee, Estados Unidos. Ele é PhD em Novo Testamento pela Andrews University (2004) e realizou estudos de pós-doutorado na Universidade de Heidelberg, na Alemanha (2011).