As emoções são vistas como indesejáveis e algo a ser evitado. Para alguns, as emoções são inerentemente irracionais , e, por isso, pessoas maduras não deveriam ser “emocionais”. Em algumas correntes da filosofia grega antiga, idealizava-se o indivíduo “racional”, que seria (em grande parte) imune às paixões, ou que conseguiria controlar as emoções por meio da razão, como um modelo a ser seguido.
Emoções descontroladas podem causar problemas. No entanto, Deus nos criou com a capacidade de sentir emoções, e Ele próprio é apresen- tado nas Escrituras como Alguém que experimenta emoções profundas. Se Deus experimenta emoções, como a Bíblia descreve invariavelmente, elas não podem ser inerentemente ruins ou contrárias à razão, pois o Deus da Bíblia é perfeitamente bom e possui sabedoria perfeita.
De fato, há belas verdades a serem extraídas da compreensão de que o amor de Deus por nós é profundamente emocional. Contudo, é importante ressaltar que, ainda que o amor de Deus (emocional ou não) seja perfeito, ele não deve ser considerado idêntico às emoções que nós, seres humanos, experimentamos.
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Provavelmente, o amor mais impactante é o amor dos pais pelos filhos. A Bíblia utiliza a imagem do relacionamento entre pais e filhos para ilustrar a extraordinária compaixão de Deus pelos seres humanos, destacando que Sua compaixão ultrapassa até mesmo a mais profunda e bela expressão humana dessa emoção.
1. Leia o Salmo 103:13; Isaías 49:15; Jeremias 31:20. O que essas imagens transmitem sobre a natureza e a profundidade da compaixão de Deus?
Deus Se relaciona conosco como Seus filhos amados, cuidando de nós com o mesmo amor que pais têm por seus filhos. No entanto, ainda que uma mãe se esqueça “do seu bebê que ainda mama” ou não tenha “compaixão do filho que gerou”, Deus jamais Se esquecerá dos Seus filhos (Is 49:15, NVI; Lm 3:22).
A palavra hebraica usada nesses e em outros textos bíblicos é rah.am, que geralmente é traduzida como “compaixão” ou “misericórdia” e descreve o amor generoso e compassivo de Deus. Ela provavelmente tem origem no termo hebraico para útero (reh.em). Assim, a compaixão de Deus pode ser comparada ao profundo amor materno que nasce do íntimo. Na verdade, é infinitamente maior do que qualquer compaixão humana, incluindo a da mãe por seu filho recém-nascido.
Deus descreve o povo da aliança como o “Meu filho querido” e o “filho das Minhas delícias”, apesar das suas muitas rebeliões. Deus declara: “O Meu coração se comove por ele, e dele certamente Me compadecerei” (Jr 31:20). O termo traduzido como “Me compadecerei” refere-se à compaixão (rah.am) divina. A expressão “o Meu coração se comove” pode ser traduzida literalmente como “Minhas entranhas rugem”. Essa descrição vem de uma linguagem enraizada profundamente nas entranhas da emoção divina, retratando a profundidade do amor de Deus por Seu povo. Apesar da infidelidade do povo, Ele concede Sua compaixão além de todas as expectativas.
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O livro de Oseias escancara a incalculável profundeza do amor de Deus por Seu povo. Ele ordenou ao profeta Oseias: “Vá e case com uma prostituta, e tenha com ela filhos de uma prostituta. Porque a terra se prostituiu, desviando-se do Senhor” (Os 1:2). Posteriormente, o capítulo 11 de Oseias retrata o relacionamento de Deus com Seu povo, utilizando a metáfora de um pai amoroso em relação ao seu filho.
2. Leia Oseias 11:1-9. Como as imagens presentes nesses versículos ilustram a maneira pela qual Deus ama o Seu povo e cuida dele?
O amor de Deus por Seu povo é comparado ao afetuoso cuidado de um pai por seu filho. As Escrituras usam imagens poderosas, como ensinar uma criança a andar, carregar o filho nos braços, curar e prover sustento, demonstrando o cuidado terno e amoroso de Deus por Seu povo. Deus “carregou” Seu povo “como um pai carrega o próprio filho” (Dt 1:31, NVI). “Por Seu amor e por Sua compaixão, Ele mesmo os remiu, os tomou e os conduziu todos os dias da antiguidade” (Is 63:9).
Em contraste com a fidelidade inabalável de Deus, Seu povo mostrou-se repetidamente infiel, acabando por afastar o Senhor e trazer juízo sobre si mesmo, entristecendo-O profundamente. Deus é compassivo, mas Sua compaixão nunca deixa de lado Sua justiça (como veremos mais à frente, o amor e a justiça andam juntos).
Você já ficou tão aflito que seu estômago se embrulhou? Essa é a ilustração usada para descrever a intensidade das emoções de Deus em relação ao Seu povo. A imagem do coração se contorcendo e da compaixão despertada é uma expressão idiomática que reflete emoções profundas, tanto de Deus quanto dos seres humanos.
A imagem da compaixão despertada (kamar) ocorre, por exemplo, na história das duas mulheres que se apresentaram a Salomão, ambas afirmando serem a mãe do bebê. Quando o rei ordenou que a criança fosse dividida ao meio (sem a intenção real de fazê-lo), essa imagem descreve a emoção da mãe verdadeira (1Rs 3:26; Gn 43:30).
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No NT, o mesmo tipo de imagem encontrado no AT é utilizado para representar a compaixão de Deus. Paulo se refere ao Senhor como o “Pai de misericórdias e Deus de toda consolação” (2Co 1:3). Em Efésios 2:4, ele diz que Deus é “rico em misericórdia” e redime os seres humanos “por causa do grande amor com que nos amou”.
Nas parábolas, Cristo usa expressões de emoção profunda e comovente para descrever a compaixão do Pai (Mt 18:27; Lc 10:33; 15:20). A mesma linguagem que descreve a compaixão divina no AT e no NT é utilizada nos evangelhos, de modo mais específico, para representar as ações compassivas de Jesus diante dos sofredores.
3. Leia Mateus 9:36; 14:14; Marcos 1:41; 6:34; Lucas 7:13. Veja também Mateus 23:37. Como esses versos bíblicos revelam a sensibilidade de Cristo diante da situação das pessoas?
Nos evangelhos, repetidas vezes, é dito que Cristo era movido pela compaixão diante das pessoas que enfrentavam aflições ou necessidades. E Ele não apenas sentia compaixão, mas também atendia às necessidades das pessoas.
Além disso, Jesus também lamentava por Seu povo. Imaginamos as lágrimas em Seus olhos enquanto Ele olhava para a cidade e dizia: “Quantas vezes Eu quis reunir os seus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, mas vocês não quiseram!” (Mt 23:37). Aqui, vemos que o lamento de Cristo está intimamente relacionado ao que é descrito a respeito de Deus em todo o AT. Muitos estudiosos da Bíblia observam que a imagem de uma ave cuidando de seus filhotes era usada apenas em relação às divindades no Antigo Oriente Próximo. Em Mateus 23:37, muitos autores veem uma referência à imagem de Deuteronômio 32:11, onde Deus é comparado a uma ave que paira sobre seus filhotes, protegendo-os e cuidando deles.
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A expressão “Deus compassivo” vem de el rah.um (Dt 4:31), em que el significa “Deus” e rah.um está ligado à palavra que significa “compaixão” (rah. am). No entanto, o Senhor é chamado não apenas de Deus compassivo, mas também de “Deus zeloso” ou, mais literalmente, “Deus ciumento” (el qana’). “O Senhor, o Deus de vocês, é fogo consumidor, é Deus zeloso [el qana’]” (Dt 4:24; Dt 6:15; Js 24:19; Na 1:2).
4. Paulo diz que o “amor não arde em ciúmes” (1Co 13:4). Como, então, o Senhor pode ser ciumento? Leia 2 Coríntios 11:2 e considere a forma como o povo de Deus foi infiel a Ele ao longo da história (Sl 78:58). Que luz essas passagens lançam sobre a ideia do “ciúme” divino?
O “ciúme” de Deus é mal interpretado. Quando afirmamos que um parceiro é ciumento, isso não é elogio. O termo “ciúme” tem sentido negativo. No entanto, na Bíblia, o ciúme divino não é associado a algo negativo, mas é o zelo justo de um marido amoroso que busca fidelidade e um relacionamento exclusivo com sua esposa.
Embora exista um tipo de ciúme contrário ao amor (1Co 13:4), de acordo com 2 Coríntios 11:2 existe um “ciúme” bom e justo. Paulo se refere a ele como o ciúme “que vem de Deus” (2Co 11:2). O ciúme divino é exclusivamente e sempre justo, podendo ser entendido como o amor apaixonado de Deus por Seu povo.
A paixão (qana’) de Deus por Seu povo decorre do Seu profundo amor por ele. O Senhor deseja um relacionamento exclusivo com Seu povo. Somente Ele deve ser nosso Deus. No entanto, o Senhor é descrito como um cônjuge desprezado, cujo amor não é correspondido (Os 1–3; Jr 2:2; 3:1-12). Assim, o “ciúme” ou “zelo” de Deus sempre é justificado, pois é uma reação à infidelidade e à iniquidade das pessoas. O ciúme (ou “amor apaixonado”) de Deus não possui nenhuma das conotações negativas do ciúme humano. Nunca se trata de inveja, mas sempre da paixão justa e apropriada de Deus por um relacionamento exclusivo com o Seu povo e para o bem deste.
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Deus é compassivo e apaixonado, e essas emoções divinas são exemplificadas de forma suprema em Jesus Cristo. Deus Se compadece de nós (Is 63:9; Hb 4:15), é tocado pelo sofrimento de Seu povo (Jz 10:16; Lc 19:41) e está disposto a ouvir, responder e oferecer conforto (Is 49:10, 15; Mt 9:36; 14:14).
5. Leia 1 Coríntios 13:4-8. Como esse texto nos convida a refletir o amor compassivo de Deus em nossos relacionamentos com os outros?
Buscamos nos relacionar com pessoas que possuam o amor descrito em 1 Coríntios 13:4 a 8. Mas com que frequência nos esforçamos para nos tornar esse tipo de pessoa para os outros? A verdade é que não conseguimos, por nós mesmos, ter essas qualidades do amor (1Co 13:7, 8). Só podemos vivenciar esse amor como fruto do Espírito Santo. Devemos louvar ao Senhor porque o Espírito Santo derrama o amor de Deus no coração daqueles que, pela fé, estão em Cristo Jesus (Rm 5:5).
Diante disso, devemos nos perguntar: pela graça de Deus e pelo poder do Espírito Santo, como podemos, na prática, responder e refletir o amor divino – que é profundamente emocional, mas sempre perfeitamente justo e racional? Primeiro, a única resposta adequada é adorar o Deus que é amor. Em segundo lugar, devemos responder ao amor de Deus expressando compaixão e amor benevolente pelos outros de forma ativa. Não devemos apenas buscar conforto em nossa fé cristã, mas também sermos motivados a consolar os outros. Por fim, devemos reconhecer que não temos o poder de transformar nosso coração. Somente Deus pode fazê-lo.
Devemos, portanto, pedir a Deus que nos dê um novo coração, repleto de amor puro e purificador para com Ele e para com os outros, que exalta o que é bom e remove toda sujeira que há dentro de nós.
Que esta seja nossa oração: “E o Senhor faça com que cresça” “o amor de uns para com os outros e para com todos”, “a fim de que o [nosso coração] seja fortalecido em santidade, isento de culpa, na presença de nosso Deus e Pai” (1Ts 3:12, 13).
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Leia, de Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo [CPB, 2022], p. 10-34 (“As bem-aventuranças”).
“Os que têm intuição de sua profunda pobreza espiritual e veem que em si mesmos nada possuem de bom encontrarão justiça e força olhando para Jesus. [...]
“Ele nos sugere que troquemos nossa pobreza pelas riquezas de Sua graça. Não somos dignos do amor de Deus, mas Cristo, nossa segurança, é digno e completamente capaz de salvar todos os que recorrem a Ele. Qualquer que tenha sido nossa vida passada, por mais desanimadoras que sejam as circunstâncias presentes, se formos a Jesus exatamente como somos, fracos, incapazes e desesperançados, nosso compassivo Salvador dará todos os passos necessários ao nosso encontro e em torno de nós lançará os braços de amor e as vestes de Sua justiça. Ele nos apresenta ao Pai trajados nas vestes brancas de Seu próprio caráter. Ele roga a Deus em nosso favor, dizendo: ‘Eu tomei o lugar do pecador. Não olhe para este filho desgarrado, mas para Mim.’ Quando Satanás intervém em altos brados contra nós, acusando-nos de pecado e reivindicando-nos como presa sua, o sangue de Cristo intercede com maior poder” (O Maior Discurso de Cristo, p. 11, 12).
Perguntas para consideração
1. Jesus nos “apresenta ao Pai trajados nas vestes brancas de Seu próprio caráter”. Podemos ficar desanimados devido aos nossos pecados e não conseguir refletir o amor que Deus derrama sobre nós. Apesar disso, por que devemos sempre retornar à maravilhosa notícia de que somos aceitos por Deus por meio de Jesus?
2. Na história das mulheres que se apresentaram a Salomão, como a mãe verdadeira se sentiu? Pense na figura da compaixão materna (1Rs 3:26). Isso esclarece a linguagem usada para descrever as emoções de Deus para com Seu povo (Os 11:8)?
3. Em Sua compaixão, como Jesus respondia às necessidades das pessoas? Ele as supria. De que formas práticas podemos oferecer conforto aos que necessitam dele?
Respostas às perguntas da semana: 1. Deus Se relaciona conosco como um pai ou uma mãe dedicados, encontrando grande prazer em nós. 2. O amor de Deus é comparado ao de um pai que ensina o filho a andar, toma-o nos braços, dedica-se a ele e provê todas as suas necessidades. 3. Jesus sentia profunda compaixão pelas pessoas ao ver os sofrimentos e dificuldades delas. 4. O “ciúme” ou “zelo” de Deus não possui nenhuma das características negativas do ser humano. É o desejo de Deus de ter um relacionamento de exclusividade conosco. 5. Deus é o modelo perfeito de amor: só Ele é perfeitamente paciente, bondoso e altruísta. Somente pela atuação do Espírito Santo podemos imitar a Deus.
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TEXTO-CHAVE: Isaías 49:15
FOCO DO ESTUDO: Salmo 103:13; Isaías 49:15; Oseias 11:1-4, 8, 9; Mateus 9:36; 1 Coríntios 13:4
ESBOÇO
Introdução: Deus é tomado em Seu ser e em Suas emoções por uma profunda compaixão em favor de Seu povo, o que é apresentado nas Escrituras por meio de linguagem emocional e corporal.
Temas da lição: A lição desta semana destaca três ideias fundamentais.
1. Nosso Deus apaixonado e compassivo é apresentado nas Escrituras por meio de imagens parentais – O amor de Deus tem fortes aspec- tos emocionais e afetivos, assim como acontece com os pais. A metáfora do amor divino como amor materno transmite a ideia de que o Senhor Se lembra do Seu povo e revela com- paixão por ele. A imagem materna é, até certo ponto, a melhor ilustração da compaixão, do cuidado amoroso e da atenção de Deus às necessidades do Seu povo. As Escrituras também ilustram a compaixão de Deus usando a imagem de um pai amoroso e compassivo.
2. Nosso Deus apaixonado e compassivo é retratado nas Escrituras por meio da imagem das entranhas humanas – Muitos textos bíblicos usam linguagem relacionada aos órgãos internos do corpo para expressar o afeto de Deus, de maneira que Ele é movi- do, em termos emocionais e físicos, de pro- funda compaixão pelas pessoas. A palavra hebraica traduzida por compaixão descreve um amor maternal que nasce do útero, enfatizando a compaixão da mãe pelo fi lho. Semelhantemente, Deus expressa terna afeição e compaixão pelo Seu povo.
3. Nosso Deus apaixonado e compassivo tem ciúme de uma forma positiva e justa – Ele busca um relacionamento de aliança profun- do e exclusivo conosco e exige fi delidade do Seu povo. Nesse sentido, Deus é descrito nas Escrituras como alguém que tem zelo e ciúmes. Longe de ter a conotação negativa de instabilidade emocional, esse vocabulário transmite a ideia de que Deus sempre age em busca do nosso melhor, a fi m de nos proteger da autodestruição e da nossa quebra de promessas.
Aplicação para a vida: Deus nos convida a ser semelhantes a Ele, imitando Seu amor apaixonado e compassivo. Em nossa compaixão pelos outros, devemos revelar interesse pelas pessoas que nos rodeiam e, como igreja, promover intencionalmente o bem-estar dos outros.
COMENTÁRIO
Nosso Deus apaixonado e compassivo é apresentado nas Escrituras por meio de imagens parentais
Um dos retratos mais vívidos de Deus presente nas Escrituras é transmitido pela linguagem relacionada à mãe e ao pai, que são, em termos ideais, figuras que expressam amor e compaixão nas relações humanas.
No diálogo entre Deus e o povo de Sião registrado em Isaías 49:14-23, que está situado dentro da mensagem mais ampla sobre o consolo de Israel (Is 49:14-26), o povo inicialmente se queixa: “O Senhor me abandonou, o Senhor Se esqueceu de mim” (Is 49:14). Em Sua resposta, o Senhor destaca que Ele sempre Se lembra do Seu povo. Deus expressa essa verdade, de maneira poética, usando a figura da mãe: “Será que uma mulher pode se esquecer do filho que ainda mama, de maneira que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, Eu, porém, não Me esquecerei de você” (Is 49:15). Aqui, a imagem da mãe está ligada aos conceitos de lembrar-se e ter compaixão. Por outro lado, a ideia de se esquecer, nesse contexto, se refere à falta de compaixão.
Esse texto bíblico pressupõe que a mãe jamais se esquece do filho que está amamentando. Pelo menos é o que se espera dela. Portanto, a imagem da mãe provavelmente é o melhor exemplo para ilustrar a compaixão e atenção de Deus às necessidades do Seu povo. Ainda assim, nem todas as mães cumprem essa elevada expectativa. Embora muitos possam descrever suas mães como as pessoas mais atenciosas e compassivas do mundo, outros infelizmente não têm boas lembranças da figura materna. Embora Isaías 49:15 pareça definir a imagem da mãe como o auge do carinho e da compaixão humanos, essa passagem também pode refletir as experiências negativas causadas pela mãe negligente e cruel.
Assim, embora essa experiência seja considerada incomum, o texto bíblico reconhece que certas mães podem se desviar desse padrão e se esquecer de seus filhos. Infelizmente, essa experiência é uma triste realidade na vida de muitas pessoas. Contudo, mesmo que isso lamentavelmente aconteça, Deus jamais Se esquecerá do Seu povo, pois sempre terá compaixão dele. Em resumo, a comparação do Senhor com a mãe apresenta uma imagem muito bonita de um Deus apaixonado e compassivo, tanto para aqueles que têm uma mãe carinhosa (porque Deus é, em vários aspectos, parecido com ela) quanto para aqueles que têm ou tiveram experiências negativas com uma mãe negligente (Deus é, definitivamente, muito diferente dela).
De maneira semelhante, a descrição bíblica da compaixão de Deus usa uma linguagem na qual Ele é comparado a um pai. O salmista louva o Senhor por Suas misericórdias: “O Senhor é compassivo e misericordioso, tardio em irar?Se e cheio de amor leal. Não acusa para sempre nem fica ressentido eternamente; não nos trata conforme os nossos pecados nem nos retribui conforme as nossas iniquidades” (Sl 103:8-10, NVI). Depois dessa descrição, o Salmo compara Deus a um pai: “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor Se compadece dos que O temem” (Sl 103:13).
Nosso Deus apaixonado e compassivo é retratado nas Escrituras por meio da imagem das entranhas humanas
A Bíblia descreve a compaixão usando a linguagem relacionada aos órgãos internos do corpo humano. Por meio desse vocabulário, a Bíblia expressa a compaixão, especialmente a compaixão divina, em termos profundamente emocionais e corporais. Por exemplo, o “termo hebraico traduzido como compaixão”, rah.amim, “está ligado, em sua etimologia, a reh.em (útero)” (Shmuel Himelstein, “Compassion”, The Oxford Dictionary of the Jewish Religion, 2. ed., ed. Adele Berlin [Oxford University Press, 2011]). Essa ideia reforça a comparação entre a compaixão de Deus e o carinho da mãe pelo filho que gerou. É verdade que essa forte linguagem corporal não deve ser interpretada literalmente em relação a Deus. Mas esse retrato tão poderoso provavelmente seja a melhor ilustração que podemos empregar para expressar verdadeiramente, nas limitações dos conceitos e da linguagem humana, a profundidade da compaixão amorosa de Deus.
Em Oseias 11, o Senhor expressa Seu profundo amor por Israel. Ele afirma: “Quando Israel era menino, Eu o amei” (Os 11:1), e acrescenta: “Fui Eu que ensinei Efraim a andar; tomei-os nos Meus braços” (Os 11:3). No entanto, o Senhor ressalta: “O Meu povo é inclinado a rebelar-se contra Mim” (Os 11:7). Ainda assim, Ele declara Seu amor usando as seguintes palavras: “Como poderia Eu abandoná-lo, Efraim? Como poderia entregá-lo, Israel?” (Os 11:8). Então o Senhor diz ao Seu povo: “Meu coração se comove [verbo hp_ak_h] dentro de Mim; toda a Minha compaixão [literalmente, entranhas] se manifesta” (Os 11:8). Nesse versículo, Deus usa a imagem das entranhas humanas para descrever Sua compaixão: em vez de abandonar ou destruir Israel, Deus iria restaurá-lo.
Em Lamentações, o verbo hebraico hp_ak_h também aparece ligado ao coração, desta vez para retratar a angústia humana. Novamente é usada a linguagem corporal das entranhas: “Olha, Senhor, porque estou angustiada! A minha alma [literalmente, entranhas] se agita, o meu coração está transtornado [verbo hp_ak_h] dentro de mim” (Lm 1:20). A imagem das entranhas, que em Lamentações se refere ao coração humano e em Oseias ao coração divino, descreve, em termos emocionais, a profundidade da paixão e da compaixão de Deus pelo Seu povo.
Da mesma forma, o verbo grego splagchnizomai é usado no NT, especialmente nos evangelhos sinóticos, para descrever a compaixão de Jesus pelas pessoas (veja Mt 9:36; 14:14; 15:32; 20:34; Mc 1:41; 6:34; 8:2; Lc 7:13; veja também a mesma linguagem em Mt 18:27; Mc 9:22; Lc 10:33; 15:20). É interessante observar que o substantivo relacionado (splagchnon), que transmite a ideia de afeição ou compaixão em várias passagens do NT (veja Lc 1:78; Fp 1:8; 2:1; Cl 3:12), se refere literalmente às “partes internas do corpo”, especialmente “às vísceras” e “entranhas” (Frederick W. Danker et al., A Greek- English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature [University of Chicago Press, 2000], p. 938). Como Craig Bloomberg enfatiza em seu comentário de Mateus 9:36, “as emoções de Jesus refletem uma ‘compaixão’ profunda e visceral – um equivalente idiomático adequado para um termo [do grego splanchnos] que pode se referir aos intestinos e rins” (“Matthew”, The New American Commentary, v. 22 [Broadman & Holman, 1992], p. 166). Assim, o NT retrata emocionalmente a compaixão de Jesus usando a linguagem que mostra os órgãos internos do corpo sendo agitados e revirados. Mais precisamente, Jesus é movido, em termos corporais e emocionais, por uma profunda compaixão amorosa pelas pessoas. Isso é semelhante à descrição que o AT faz da profunda compaixão de Deus pelo Seu povo.
Nosso Deus apaixonado e compassivo tem ciúme de uma forma positiva e justa
Entre as imagens usadas pelo AT para se referir ao nosso Deus apaixonado e compassivo, o Senhor é descrito como “zeloso” – que também pode ser traduzido como “ciumento” (veja Êx 20:5; 34:14; Dt 4:24; 5:9; 6:15; 32:16, 21; Js 24:19; 1Rs 14:22; Sl 78:58; Ez 39:25; Na 1:2; Jl 2:18; Zc 1:14; 8:2). Essa descrição ocorre, por exemplo, no segundo mandamento do Decálogo, que se baseia no primeiro (“Não tenha outros deuses diante de Mim”, Êx 20:3) e proíbe fazer qualquer “imagem de escultura” (Êx 20:4). O mandamento acrescenta: “Não adore essas coisas, nem preste culto a elas, porque Eu, o Senhor, seu Deus, sou Deus zeloso” (Êx 20:5). Como acontece em um relacionamento matrimonial, Deus exige exclusividade e fidelidade de Seu povo. Levando em conta essa relação de aliança, quando o povo de Deus quebra o Seu mandamento ao fazer ídolos e adorá-los ou servi-los, o povo, segundo a linguagem bíblica, provoca em Deus ciúmes (ou zelo) e ira (Dt 32:16, 21; Js 24:19; 1Rs 14:22, 23; Sl 78:58; Na 1:2, 14). Como um Deus santo (Js 24:19; Ez 39:25), que é zeloso pelo relacionamento com Seu povo (Jl 2:18; Zc 1:14; 8:2), Sua reação de ciúme é, na verdade, uma reação santa à infidelidade e idolatria de Seu povo.
Essa imagem do ciúme de Deus no AT obviamente é diferente da advertência de Paulo contra os ciúmes ou inveja entre os membros da igreja (1Co 13:4; 2Co 12:20; Gl 5:20). Em 2 Coríntios 11:2, Paulo se referiu positivamente ao “ciúme [que] vem de Deus” (Almeida Século 21) para destacar que tinha “zelo” (NAA) ou “dedicação” (NVI) pela igreja. Assim, encontramos na Bíblia uma distinção clara entre o ciúme negativo, que deve ser evitado, e o ciúme positivo de Deus. No idioma grego, em que o NT foi escrito, a palavra traduzida como “ciúme” possui duas conotações: (1) “interesse positivo e intenso” pelo bem-estar de outra pessoa [ou seja, zelo] e (2) “sentimentos negativos e intensos em relação às conquistas de outra pessoa” [ou seja, inveja] (A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, p. 427).
APLICAÇÃO PARA A VIDA
Deus demonstra ativamente compaixão e amor apaixonado por Seu povo e nos convida a fazer o mesmo. Levando em consideração essa ideia, discuta as seguintes questões:
1. Ao compararmos a compaixão de Deus com a da mãe carinhosa, como as ilustrações sobre lembrar e esquecer desempenham um papel, respectivamente, na prática da compaixão ou na falta dela? Dê exemplos.
2. Como você pode ser zeloso, de modo positivo, em seus relacionamentos na igreja, assim como Deus é zeloso no relacionamento com Seu povo?
3. Como a igreja pode ser intencional ao promover o bem-estar dos outros e incorporar a causa dos outros como um de nossos objetivos espirituais?
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"Eles são espiões"
Mongólia l Tserenjav Danzan
A mãe ficou chateada quando sua filha de 22 anos, Debbie, começou a frequentar a Igreja Adventista do Sétimo Dia na Mongólia.
"Não participe das reuniões dos americanos", disse ela. "Eles são espiões."
Era setembro de 1992, e a Mongólia estava em um período de transição pós-comunista.
A raiva da mãe aumentou quando Debbie decidiu entregar seu coração a Jesus através do batismo em 1993. Debbie foi a prime ira adventista convertida na Mongólia a pós o colapso do comunismo.
"Os americanos são pessoas ruins", disse a mãe. "Eles são espiões e vão arruinar nosso país ao conquistar nossos corações e depois nos manipular."
O cristianismo não era a religião tradicional na Mongólia, mas sua mãe achava que toda religião era ruim. Ela era uma ateia convicta que havia apoiado ativamente o comunismo. Por meio de sua influência, muitas pessoas se tornaram membros do partido. Por seu trabalho, ela recebeu um broche especial com os rostos de Marx, Engels e Lenin,e o usava com orgulho.
Parecia não haver nenhuma maneira de a mãe mudar de ideia sobre Deus.
Debbie deixou a Mongólia por dois anos para estudar no Instituto Internacional Adventista de Estudos Avançados (AIIAS), nas Filipinas. Quando voltou para casa, ela convidou a mãe para participar de um pequeno grupo de estudo bíblico que havia criado. Na época, a Igreja Adventista incipiente da Mongólia era composta principalmente por jovens, e o pequeno grupo de estudo bíblico era direcionado para pessoas mais velhas. Os primeiros cinco membros do grupo eram a mãe, duas de suas irmãs, a mãe do primeiro pastor mongol e a mãe de outro membro da igreja.
A mãe estava muito cautelosa em relação ao pequeno grupo de estudo bíblico, mas também estava curiosa. Ela havia percebido uma mudança em Debbie. Antes orgulhosa, Debbie tinha se tornado mais amena. Antes autoritária, ela havia se tornado obediente à mãe e respeitosa com a irmã.
"Ela mudou", pensou a mãe. "O que a fez mudar?"
Então, a irmã de Debbie, que antes se opunha ferozmente ao cristianismo, foi batizada. A mãe percebeu que ela também tinha mudado.
Isso foi o suficiente. Em 2000, a mãe decidiu dedicar sua fidelidade ao Deus do Céu. Ela foi batizada e se tornou membro da Igreja Adventista aos 53 anos. Na verdade, todos os cinco membros do pequeno grupo de estudo bíblico acabaram sendo batizados.
Antes uma recrutadora ativa para Lenin, a mãe se tornou uma fervorosa testemunha de Deus. Antes uma buscadora de membros para o Partido, ela se tornou uma buscadora de ovelhas perdidas para o Reino. Por meio de sua influência, muitas pessoas entregaram seus corações a Jesus.
A mãe foi fiel até sua morte. Ela não apenas amava a Deus, mas também amava dar a Deus. Quando ela ficou tão fraca que não conseguia mais ir à igreja, uma igreja doméstica foi organizada em sua casa. Ela disse que um culto de adoração não estava completo sem a oferta.
Então, a seu pedido, uma salva de ofertas foi levada para sua cama para que ela pudesse ofertar pessoaImente.
A mãe faleceu de câncer de vesícula biliar aos 74 anos em 2020. Mas ela continuou sendo uma testemunha mesmo após sua morte.
Um funeral tradicional mongol geralmente envolve muitos rituais dispendiosos. Mas, a seu pedido, ela foi sepultada em um simples funeral cristão. O funeral dela foi tão diferente dos funerais comuns que seus parentes ficaram maravilhados. Eles perceberam que havia algo diferente no cristianismo.
Uau! Que funeral tranquilo", disse um deles.
Eu gostaria que meu funeral fosse assim",disse outro.
Mas o testemunho da mãe não parou por aí. Ela continua a pregar de sua lápide no cemitério. Sua lápide contém a promessa de Isaías 30:18: "Bem-aventurados todos os que Nele esperam" (NAA).
Pouco antes de falecer, ela disse a Debbie: "Minha esperança está em Cristo. Eu quero dormir até que Ele venha".
Agora a mãe está aguardando o Senhor para ressuscitá-la naquela manhã gloriosa.
Obrigado por sua oferta do trimestre que continuará o trabalho missionário da mãe - cujo nome é Tserenjav Danzan - e outros fiéis adventistas do sétimo dia que agora estão descansando em seus túmulos na Mongólia. Parte da oferta deste trimestre ajudará a inaugurar um centro de recreação que ensinará as crianças e seus pais sobre Jesus na capital da Mongólia, Ulan Bator.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
• Mostrar Ulan Bator, Mongólia, no mapa.
• Pronuncie Tserenjav Danzan como: CZAR-en-jav DAN-za. • Assista a um pequeno vídeo no YouTube da mãe dando uma oferta em seu leito de doente: bit.ly/Mom-Mongolia.
• Baixe as fotos desta história no Facebook: bit.ly/fb-mq.
• Compartilhe as postagens do Informativo Mundial das Missões e os Fatos Rápidos da Divisão Norte-Asiática do Pacífico: bit.ly/nsd-2025.
Lição 4 – 18 a 25 de janeiro
Um Deus apaixonado e compassivo
Autor: Erico Tadeu Xavier
Editor: André Oliveira Santos (andre.oliveira@cpb.com.br)
Revisora: Rosemara Santos
Filosofias agnósticas, entre as quais o panteísmo, afirmam que Deus é somente uma “força impessoal”, ou que “Deus é a natureza”, e que ele se identifica com a Sua criação, isto é, onde está a criação, aí está Deus, etc. No entanto, a Bíblia revela Deus como um Ser divino que possui todas as características de uma pessoa, o que inclui a compaixão, o amor e o ciúme, entre outros sentimentos. Jesus veio revelar aos homens o Seu Pai (Lc 10:22) e fazê-Lo conhecido (Jo 1:16).
A palavra compaixão, por exemplo, aparece na Bíblia cerca de 83 vezes, 65 vezes no Antigo Testamento e 18 vezes no Novo Testamento, sendo que 11 vezes ocorre nos evangelhos em relação ao ministério de Jesus.
A compaixão e o ciúme de Deus
A compaixão de Deus – Ele realmente sentia e sente a dor e o sofrimento dos outros.
Deus sentia compaixão: “Disse ainda o Senhor: Certamente, vi a aflição do Meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento” (Êx 3:7).
O segundo exemplo é a compaixão de Deus pelos ninivitas: “Não hei de Eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda, e também muitos animais? (Jn 4:11).
A compaixão de Deus move Seus discípulos. “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2:44-47).
Esta declaração de Ellen G. White aqui é muito importante: “Se nos humilhássemos perante Deus e fôssemos bondosos e corteses, compassivos e piedosos, haveria uma centena de conversões à verdade onde agora há apenas uma” (Beneficência Social [CPB, 2023], p. 60).
Ela também escreveu: “Os membros da igreja que vivem [nas] cidades usem os talentos que Deus lhes deu trabalhando em favor das pessoas” (Atos dos Apóstolos [CPB, 2021], p. 101).
O ciúme de Deus – Por mais difícil que seja mensurá-los e rotulá-los, Freud estabelece três tipos de ciúmes: competitivo/normal, projetivo e delirante. O ciúme é um sentimento natural do ser humano, independentemente de gostarmos ou não dele. Já o ciúme atribuído a Deus refere-se ao zelo que Ele tem pelo Seu povo. Sendo o Criador de todas as coisas, Ele deseja que Suas criaturas vivam conforme a Sua vontade, pois o Senhor deseja zelar por todas e protegê-las. Logo o ciúme de Deus é diferente do ciúme do homem.
As emoções de Cristo
Cristo é o Homem de Dores, experimentado no sofrimento (Is 53:3). Toda a Sua vida emocional é caracterizada pelas Escrituras como repleta de tristezas, cheia de dor.
Jesus chorou (Jo 11:35). Jesus chora com os que choram, assim como o Espírito geme com os que gemem (Rm 8:26, 27), e assim como o Pai Ele tem compaixão e é o Deus de toda consolação (2Co 1:3, 4).
Em Mateus 26, Marcos 14 e Lucas 22 encontramos talvez os exemplos mais intensos da experiência emocional de angústia de Jesus.
No contexto (Mt 26:2, 26-29, 31), Jesus tinha plena consciência de que dentro de dois dias seria entregue para ser crucificado.
Se você soubesse que em menos de 24 horas seria assassinado da maneira mais dolorosa possível, mesmo que você fosse a pessoa mais piedosa do mundo, o que você sentiria?
Multiplique isso infinitamente pelo fato de que Jesus sabia que não apenas sofreria agonia física, mas espiritualmente Ele levaria sobre Si o pecado do mundo.
A absoluta impecabilidade de Cristo e Sua perfeita proximidade e total dependência do Pai significavam que Ele experimentaria paz perfeita na ausência de todas as emoções angustiantes, certo? Errado.
Jesus foi ao Getsêmani e orou três vezes em perfeita comunhão com Seu Pai perfeito. Nesse estado de comunhão, o que Jesus experimentou emocionalmente? “Ele começou a ficar triste e perturbado. Então Ele lhes disse: ‘Minha alma está profundamente triste até a morte. Vigiai comigo’” (Mt 26:37, 38). “E Ele começou a ficar profundamente angustiado e perturbado. ‘A minha alma está profundamente triste até à morte’” (Mc 14:33, 34). “E estando angustiado, orava com mais fervor, e Seu suor era como gotas de sangue caindo no chão” (Lc 22:44).
Vamos entender as palavras gregas usadas nessas três passagens para descrever a experiência emocional de Cristo.
- Tomado de tristeza (Mt 26:37): A palavra grega é lypeisthai, que significa estar angustiado, sentir dor, estar triste, sentir tristeza e estar aborrecido.
- Tomado de angústia (Mt 26:37): A palavra grega é ademonein, que significa estar cheio de aflição, cheio de angústia, perturbado, deprimido e triste.
- Profundamente triste (Mt 26:38): A palavra grega é perilypos, que significa muito triste, extremamente triste, muito angustiado.
- Tomado de pavor e angústia (Mc 14:33): A palavra grega é ekzambeiszai, que significa ser dominado pelo alarme, ser dominado pela angústia.
- Estar angustiado (Lc 22:44): A palavra grega é agonia, que significa angústia, luta violenta.
Conclusão
Porque Cristo experimentou emoções humanas angustiantes, Ele é nosso Sumo Sacerdote compassivo que Se compadece de nossa fraqueza, enfermidades e sofrimento emocional (ver também Hb 4:14, 15).
Nosso compassivo Sumo Sacerdote nos dá graça para nos ajudar em nosso tempo de necessidade – Ele não promete remover nosso tempo de necessidade; Ele não promete remover nossas emoções angustiantes; (veja também Hb 4:16).
Não existe na Bíblia um “evangelho de saúde e riqueza emocional” – a Bíblia não promete liberdade do sofrimento emocional neste mundo caído (veja também Rm 8:18-27).
Confie no que Deus promete, não no que Ele não promete. Deus promete estar conosco em nosso sofrimento emocional, nos confortar em nossa angústia e, quando decidimos nos render e nos apegar a Ele, o Senhor promete usar nosso sofrimento emocional para nos aproximar Dele. Deus não promete remover nosso sofrimento emocional até a segunda vinda de Jesus, quando terminará a opressão do mal na história. No Céu todo sofrimento emocional será removido para sempre.
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Erico Tadeu Xavier é Pós-doutor em Teologia Sistemática e Missão Integral pela FAJE (Faculdade de Filosofia e Teologia Jesuíta de BH), Doutor em Ministério pela FTSA, Faculdade Teológica Sul-Americana e Doutor em Teologia pela PUC (Pontifícia Universidade Católica do RJ). Iniciou seu ministério em 1991 como pastor distrital e atuou em três diferentes regiões. Foi professor do Seminário Adventista de Teologia na Universidade Adventista da Bolívia, da Faculdade Adventista da Bahia (antigo IAENE), e da FAP (antigo IAP), no Paraná. É casado com Noemi Pinheiro Xavier, Doutora em Educação. O casal tem dois filhos: Aline (psicóloga) e Joezer (designer gráfico).