O livro de Êxodo está cheio de relatos de pessoas oprimidas, marginalizadas, perseguidas, exploradas e desprezadas. Assim, aqueles que hoje se sentem abandonados, esquecidos e escravizados podem encontrar esperança, pois o mesmo Deus que salvou os hebreus também pode salvá-los.
Êxodo fala das batalhas existenciais e das injustiças da vida. Todos podem ser encorajados pelas histórias das intervenções de Deus em favor de Seu povo. Ele ouve o clamor dos oprimidos, vê suas lutas, observa suas lágrimas e vem em seu auxílio.
Deus toma a iniciativa de libertar aqueles que confiam Nele. Precisamos aceitar, pela fé, o que Ele oferece. É por isso que devemos estudar o livro de Êxodo, pois ele aponta para o que Jesus fez por nós. É um livro que trata da redenção, libertação e salvação – e tudo isso nos pertence, pela fé em Cristo Jesus, com base no que Ele obteve em nosso favor. Em meio à adversidade e à escuridão, se nossos olhos estiverem fixos em Deus, podemos reconhecer Sua presença, cuidado e auxílio enquanto Ele nos guia em direção à eterna “terra prometida”.
Nota do editor: A sigla “RPSP” significa “Reavivados Por Sua Palavra”.
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O livro de Êxodo é chamado em hebraico de shemot, que significa “nomes”. Esse título vem das primeiras palavras do livro: “São estes os nomes dos filhos de Israel que entraram com Jacó no Egito” (Êx 1:1).
1. Leia Êxodo 1:1-7. Que verdade crucial é apresentada nesse texto?
O livro de Êxodo começa com um lembrete da bênção de Deus. Quando o patriarca Jacó e sua família se estabeleceram no Egito, eram apenas 70 pessoas (Gn 46:27; Êx 1:5), mas os israelitas “foram fecundos, aumentaram muito, se multiplicaram e se tornaram extremamente fortes, de maneira que a terra se encheu deles” (Êx 1:7). Quando saíram do Egito, eles já eram “cerca de seiscentos mil a pé, somente de homens, sem contar mulheres e crianças” (Êx 12:37).
2. Leia Êxodo 1:8-11. Qual era a condição dos israelitas na época do êxodo?
O texto bíblico descreve a história dos filhos de Israel no Egito de maneira bastante sombria. O livro de Êxodo começa com a escravidão imposta pelos egípcios e o trabalho opressivo que eles impuseram aos hebreus. O livro termina, no entanto, com a presença serena e reconfortante de Deus no tabernáculo, que estava no centro do acampamento israelita (Êx 40). Entre essas duas situações opostas, é descrito o triunfo de Deus. Quando o Senhor libertou Seu povo da escravidão, ao abrir o Mar Vermelho e derrotar o exército mais poderoso da Terra, foi revelada a vitória espetacular de Deus sobre as forças do mal.
A história destaca paradoxalmente que “quanto mais os afligiam, tanto mais se multiplicavam e tanto mais se espalhavam” (Êx 1:12). Não importa as intrigas humanas, Deus é soberano e salvará Seu povo, mesmo que as circunstâncias pareçam desesperadoras da perspectiva humana.
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Quando a família de Jacó chegou ao Egito depois de passar fome em Canaã (Gn 46), o Faraó foi amigável com os hebreus por causa de José e de tudo o que ele havia feito pelos egípcios.
“E Faraó disse mais a José: – Eis que eu o constituo autoridade sobre toda a terra do Egito. Então Faraó tirou o seu anel-sinete da mão e o pôs no dedo de José. Mandou que o vestissem com roupas de linho fino e lhe pôs no pescoço um colar de ouro. E o fez subir na sua segunda carruagem, e clamavam diante dele: ‘Inclinem-se todos!’” (Gn 41:41-43).
3. Qual foi a causa do sucesso surpreendente de José no Egito depois de um começo tão difícil? Gn 37:26-28; 39:2, 21
O contexto histórico mais provável para a história do êxodo é o seguinte: o novo Faraó, “que não havia conhecido José” (Êx 1:8), é Amés I (1570-1546 a.C.). Em seguida, veio Amenotepe I (1546-1526 a.C.), o governante que temia os israelitas e os oprimiu. Mais tarde, Tutemés I (1525-1512 a.C.) emitiu o decreto mandando matar todos os meninos hebreus recém-nascidos. Sua filha Hatshepsut (1503-1482 a.C.) foi a princesa que adotou Moisés. O Faraó Tutemés III (1504-1450 a.C.), que durante algum tempo governou junto com Hatshepsut, foi o Faraó do êxodo.
Segundo os estudos mais confiáveis, o êxodo ocorreu em março de 1450 a.C. (William H. Shea, “Exodus, Date of the”, em International Standard Bible Encyclopedia, ed. Geoffrey W. Bromiley [Eerdmans, 1982], v. 2, p. 230-238). Vários textos nos ajudam a estabelecer a data do êxodo (Gn 15:13-16; Êx 12:40, 41; Jz 11:26; 1Rs 6:1; At 7:6; Gl 3:16, 17).
O primeiro capítulo de Êxodo abrange um longo período, desde que Jacó entrou no Egito com sua família até o decreto de morte emitido pelo Faraó. Embora as datas exatas desses acontecimentos sejam debatidas pelos estudiosos, o mais importante é que, mesmo que o povo de Deus estivesse escravizado em terra estrangeira, Ele jamais o abandonou.
Detalhes históricos sobre o período em que os hebreus estiveram no Egito ainda são desconhecidos (1Co 13:12). No entanto, a revelação do caráter de Deus resplandece nas páginas do livro de Êxodo, como ocorre em toda a Bíblia. Mesmo que alguma situação pareça desesperadora, Deus está sempre presente, e podemos confiar Nele.
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Não podemos compreender o livro de Êxodo sem pressupor a veracidade dos ensinos de Gênesis. Os israelitas se mudaram para o Egito e, após um período de prosperidade e paz, foram escravizados. No entanto, Deus não abandonou Seu povo em meio às dificuldades, mesmo que pudesse parecer assim. Muitos hebreus estavam desesperados. Contudo, no momento de angústia, Deus veio para ajudar com Sua mão poderosa. Ele encoraja Seus servos: “Invoque-Me no dia da angústia; Eu o livrarei, e você Me glorificará” (Sl 50:15).
4. Leia Êxodo 1:9-21. Qual foi o papel fundamental das parteiras fiéis e por que elas são lembradas na história?
Nenhum Faraó é mencionado por nome no livro de Êxodo. Eles possuem apenas o título de “Faraó”, que significa “rei”. Os egípcios acreditavam que o Faraó era um deus na Terra, filho do deus Rá (e também identificado com os deuses Osíris e Hórus). Rá era considerado a mais importante divindade egípcia, o próprio deus-sol.
Apesar do seu suposto poder, esse “deus” não foi capaz de forçar as parteiras a ir contra suas convicções. Em contraste com o Faraó sem nome, as duas parteiras têm seus nomes mencionados: Sifrá e Puá (Êx 1:15). Elas são altamente estimadas porque temeram ao Senhor. A ordem perversa do Faraó não teve efeito sobre elas, porque respeitavam a Deus mais do que as ordens de um governante terreno (At 5:29). Assim, Deus as abençoou, dando-lhes famílias numerosas. Que testemunho poderoso de fidelidade! Essas mulheres, mesmo que tivessem pouco conhecimento teológico, sabiam o que era certo e agiram corretamente.
Quando o Faraó viu que seu plano havia falhado, ordenou aos egípcios que matassem todos os meninos hebreus recém-nascidos. Eles deveriam jogá-los no rio Nilo, provavelmente como oferta a Hapi, o deus do Nilo, que também era um dos deuses da fertilidade (a propósito, esse é o primeiro registro histórico de judeus sendo mortos apenas por serem judeus). O propósito do decreto de morte era dominar os hebreus, aniquilar os descendentes do sexo masculino e assimilar as mulheres à nação egípcia. Com isso, seria encerrada a ameaça que o Faraó acreditava que os hebreus representavam para sua nação.
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5. Leia Êxodo 2:1-10. Qual foi o papel da providência e proteção de Deus na história do nascimento de Moisés?
O contexto histórico do nascimento e da vida de Moisés é emocionante, pois ele viveu durante o tempo da famosa 18a dinastia egípcia. Um rei dessa dinastia, Tutemés III, conhecido como o “Napoleão do Egito”, é considerado um dos Faraós mais importantes da história.
Embora estivesse sob ameaça de morte (Êx 1:22), Moisés era um bebê “bonito” (Êx 2:2; em hebraico, tob, literalmente, “bom”). O termo hebraico indica mais do que beleza externa, sendo usado, por exemplo, para descrever a obra de Deus durante a semana da criação, quando Ele declarou que tudo era “bom” (Gn 1:4, 10, 12, 18, 21, 25) e até mesmo “muito bom” (Gn 1:31).
Como uma espécie de nova criação, essa criança “boa” se tornaria, de acordo com o plano de Deus, o adulto que libertaria os hebreus da escravidão. Quando Moisés nasceu, em condições tão difíceis, quem poderia imaginar o futuro que o aguardava? No entanto, Deus cumpriria Suas promessas a Abraão, Isaque e Jacó. O Senhor havia feito uma aliança com eles de que daria a seus descendentes a terra prometida (Êx 2:24, 25). Décadas depois, Ele usaria esse bebê para cumprir Suas promessas.
Até então, a princesa egípcia Hatshepsut adotou Moisés como seu filho. O nome dado a Moisés tem origem egípcia, significando “filho de” ou “nascido de”, conforme refletido nos nomes de Faraós como Amés (“filho de Akh”) e Tutemés (“filho de Tote”). Moisés, em hebraico, é Mosheh, que significa “tirado” ou “puxado”. Sua vida foi milagrosamente poupada quando foi “tirado” do rio.
Sabemos pouco sobre a infância de Moisés. Após ser milagrosamente salvo e adotado por Hatshepsut, ele viveu os primeiros 12 anos com sua família hebreia. Moisés então recebeu a melhor educação egípcia, com o objetivo de prepará-lo para ser o próximo Faraó (Êx 2:7-9; Ellen G. White, Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 203, 204). É impressionante que, no final das contas, grande parte dessa educação seria inútil ou até mesmo prejudicial para o que realmente importava: o conhecimento de Deus e de Sua verdade.
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6. Leia Êxodo 2:11-25. Que fatos ocorridos rapidamente mudaram toda a direção da vida de Moisés? Que lições podemos aprender dessa história?
O que Moisés faria: sucumbiria à atração do Egito e aos prazeres da corte, ou suportaria dificuldades com seu povo aflito? Os acontecimentos logo o forçaram a tomar uma decisão.
“Informado desse caso, Faraó quis matar Moisés; porém Moisés fugiu da presença de Faraó e foi morar na terra de Midiã. Chegando lá, sentou-se junto a um poço” (Êx 2:15).
Após o assassinato, Moisés não teve escolha, pelo menos no que diz respeito a permanecer no Egito. Assim, quaisquer que fossem os planos para que ele ocupasse o trono do Egito e se tornasse um “deus”, esses planos foram rapidamente destruídos. Em vez de se tornar um falso deus, Moisés serviria ao único Deus verdadeiro. Sem dúvida, na época em que fugiu, Moisés não tinha ideia do que o futuro reservava para ele.
“Em pouco tempo, os egípcios ficaram sabendo do caso, e a notícia logo chegou com bastante exagero aos ouvidos do Faraó. Disseram ao rei que esse ato significava muito mais, e que Moisés planejava liderar seu povo contra os egípcios, derrubar o governo e assentar-se no trono. Disseram também que não poderia haver segurança para o reino enquanto Moisés estivesse vivo. O rei determinou que ele deveria morrer imediatamente, mas Moisés, percebendo o perigo que corria, fugiu para a Arábia” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 206).
Moisés viveu 120 anos (Dt 34:7), e sua vida pode ser dividida em três períodos de 40 anos cada. Os primeiros 40 anos foram passados no Egito, muitos deles no palácio real. O segundo período de 40 anos foi vivido na casa de Jetro, em Midiã.
São os últimos 40 anos, no entanto, que ocupam a maior parte dos primeiros cinco livros da Bíblia (e o estudo deste trimestre). Esse período inclui a história do chamado inicial de Israel para testemunhar a um mundo que estava mergulhado na idolatria, revelando a natureza e o caráter do verdadeiro Deus (ver Dt 4:6-8).
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Leia, de Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 201-209 (“Moisés”).
O texto bíblico afirma que as “parteiras, porém, temeram a Deus e não fizeram o que o rei do Egito lhes havia ordenado; pelo contrário, deixaram viver os meninos” (Êx 1:17). Ellen G. White comenta sobre a fidelidade das parteiras e a esperança messiânica: “Foram dadas ordens às parteiras, cujo trabalho permitia o cumprimento desse mandado, para que destruíssem as crianças hebreias do sexo masculino assim que nascessem. Satanás foi o instigador disso. Sabia que um libertador se levantaria entre os israelitas; e, levando o rei a destruir seus filhos, esperava frustrar o propósito divino. No entanto, aquelas mulheres temiam a Deus e não ousaram executar a cruel determinação. O Senhor aprovou o procedimento delas e as fez prosperar” (Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 202).
A boa notícia em tudo isso é que, apesar dos planos de Satanás, Deus triunfou e usou pessoas fiéis para frustrar o inimigo. Nós vivemos no território de nosso inimigo, a quem Jesus chamou de “príncipe do mundo” (Jo 14:30; NAA) ou “governante deste mundo” (NVT; ver Ef 2:2). Satanás usurpou essa posição de Adão, mas Jesus Cristo o derrotou em Sua vida e em Sua morte na cruz (Mt 4:1-11; Jo 19:30; Hb 2:14). Embora Satanás ainda esteja vivo e ativo, como fica claro na tentativa de matar aquelas crianças, sua destruição está garantida (Jo 12:31; 16:11; Ap 20:9, 10, 14). A grande notícia é que as dificuldades da vida podem ser superadas pela graça de Deus (Fp 4:13). Essa graça é nossa única esperança.
Perguntas para consideração
1. Por que Deus permitiu que os hebreus vivessem no Egito e fossem oprimidos? Por que demorou tanto para intervir em favor deles? Lembre-se também de que cada pessoa sofre apenas durante o período de sua própria vida. Portanto, o tempo de sofrimento da nação foi longo, mas cada pessoa sofreu apenas durante sua breve existência. Por que fazer essa distinção é importante quando tentamos entender o sofrimento humano em geral?
2. Pense sobre como Deus foi capaz de usar o ato impetuoso de Moisés de matar o egípcio. Suponha que ele não tivesse cometido aquele erro. Isso significaria que os hebreus não teriam escapado do Egito? Explique seu raciocínio.
Respostas às perguntas da semana: 1. No início o povo de Israel era pequeno, mas Deus o abençoou e ele cresceu muito. 2. Eram escravizados pelos egípcios e submetidos a trabalhos pesados. 3. Deus estava com josé e o guiou para cumprir Seus propósitos. 4. Elas salvaram os meninos hebreus, temendo mais a Deus do que ao Faraó. 5. Deus protegeu Moisés no cesto de junco e o guiou até a filha do Faraó. 6. Moisés matou um egípcio e fugiu para Midiã.
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TEXTO-CHAVE: Êx 2:23-25
FOCO DO ESTUDO: Êx 1; 2
ESBOÇO
Introdução: Esta primeira lição resume a longa história do povo de Deus no Egito. Ela abrange desde o tempo de José, quando Israel vivenciou muita prosperidade, até sua escravidão sob o comando do cruel Faraó que ordenou a execução de todos os bebês do sexo masculino. Contudo, Deus não age de modo passivo quando as forças do mal tentam destruir Seu povo. Ele é Salvador. Sendo assim, Ele enviou um libertador, Seu servo Moisés, cuja proteção milagrosa no nascimento levou à sua extraordinária inclusão na família do Faraó como filho adotivo. Os primeiros 40 anos da vida de Moisés foram moldados por uma educação de excelência, inicialmente sob os cuidados de sua mãe e depois na elite acadêmica do Egito. Embora tenha sido treinado para sentar-se no trono do Egito e se tornar um grande líder, Moisés se viu, por meio de seus erros e da providência de Deus, na casa de Jetro. Lá, ele se casou e se tornou pastor de ovelhas.
Temas da lição:
1. O cumprimento das promessas de Deus e Suas bênçãos de prosperidade devem ser celebrados. Corações gratos reconhecem o amor e o cuidado de Deus na vida e reconhecem que é Deus quem abençoa e intervém para dar prosperidade e sucesso. No entanto, se não prestarmos atenção, podemos facilmente esquecer que é Deus, e não nossas conquistas, o verdadeiro responsável por nossa prosperidade. Tudo o que possuímos, em última instância, pertence a Deus. Esquecer isso pode levar alguns a ser consumidos pela inveja, querendo controlar e até destruir a obra que Ele está realizando por meio deles para salvar outros.
2. As orações têm funções diferentes. Elas não servem apenas para louvar ao Senhor por Sua bondade e gentileza para conosco, mas são petições, clamores de pessoas feridas, oprimidas, desesperadas e maltratadas que precisam de ajuda. As pessoas más podem até violar os direitos alheios, mas Deus promete amparar os que são prejudicados.
3. A boa notícia é que Deus ouve nossos apelos desesperados por Seu perdão, Sua presença e Sua intervenção. Ele vê nossas lutas, nota nossas lágrimas, entende nossa agonia e responde às nossas lamentações.
4. Todas as pessoas oprimidas, perseguidas, exploradas e marginalizadas podem se identificar com as histórias do Livro do Êxodo. Por meio desses relatos históricos, elas aprendem que não estão sozinhas. Deus está ao lado delas, mesmo quando Seu silêncio parece evidente. Sua presença invisível e as promessas da Bíblia buscam oferecer conforto interior e a certeza da salvação.
5. Deus Se lembra de Sua aliança com Abraão, Isaque e Jacó. Ele é fiel. O que Ele promete, Ele cumpre. Deus intervém em Seu próprio tempo, que muitas vezes vai contra nossos desejos finitos e expectativas limitadas.
COMENTÁRIO
O Livro de Êxodo não é sobre Moisés, mas principalmente sobre Deus e Sua liderança na vida do profeta e do povo de Israel. Êxodo começa com a imagem das bênçãos de Deus sobre a família de Jacó: eles eram apenas 70 indivíduos quando seguiram José para o Egito, mas se tornaram extremamente numerosos (Êx 1:7), cumprindo a promessa de Deus a Abraão (Gn 15:5).
No entanto, a prosperidade de Israel se transformou em um problema. O novo Faraó egípcio ficou com ciúmes e medo do povo de Israel; então, ele o escravizou de maneira astuta, submetendo-o a trabalho árduo e opressão. Esses eventos dramáticos podem ser mais bem dispostos no contexto da décima oitava dinastia do Egito. A nova dinastia dos hicsos assumiu o poder naquela época. Seu primeiro Faraó, Amósis I (1580–1546 a.C.), é identificado como aquele que não reconheceu as realizações de José (Êx 1:8) e iniciou a escravização dos israelitas. A situação do povo de Deus rapidamente se deteriorou, passando de um estado de prosperidade e liberdade no Egito para uma escravidão cruel sob a opressão de senhores severos (Êx 1:11, 13, 14). O Faraó por trás dessa mudança drástica foi Amenotepe I (1553–1532 a.C.). No entanto, quanto mais os israelitas eram oprimidos, mais aumentavam em número (Êx 1:12). A pressão sobre o Faraó aumentou para submeter o povo de Deus ao trabalho forçado.
Essa cadeia de crueldade e opressão faraônica culminou durante o reinado cruel de Tutmés I (1525–1512 a.C.), que impiedosamente emitiu o decreto de morte para matar todos os bebês hebreus do sexo masculino (Êx 1:22). Se o êxodo aconteceu em março de 1450 a.C., a data que defendemos, isso significa que Moisés nasceu 80 anos antes, ou seja, em 1530 a.C., ainda durante o reinado de Amenotepe I. Tutmés I teve uma filha que se tornaria a rainha-faraó Hatshepsut (1504–1482 a.C.). Hatshepsut adotou Moisés e lhe deu esse nome. A rainha-faraó faleceu enquanto Moisés estava em Midiã. Seu marido, Tutmés II (1508–1504 a.C.), teve um filho com uma concubina, Tutmés III (1504– 1450 a.C.), que se tornou o Faraó do êxodo. O Faraó Amenotepe II (1453–1425 a.C.), não o filho primogênito de Tutmés III, foi por mais de dois anos um corregente com seu pai e teve um filho que morreu na décima praga como o filho primogênito. O Faraó Tutmés IV (1425–1412), que sucedeu Amenotepe II no trono, não era o filho mais velho, como indica a inscrição na estela da esfinge. Desse modo, os dados bíblicos podem ser harmonizados com evidências extrabíblicas.
O nome egípcio de Moisés se encaixa bem com esse período de tempo (semelhante ao nome Tutmés) e significa “nascido de” ou “extraído (de)”. Seu nome completo provavelmente era Hapimose (“Hapi” significa “o deus do rio Nilo”). Mas Moisés, ao referirse a si mesmo, escrevendo sob a inspiração de Deus, cortou a palavra “Hapi” de seu nome. Isso foi um sinal de sua recusa em se associar ao deus do Nilo.
O nascimento de Moisés (Êx 2:1-10) é um ponto de virada no fluxo da história de Israel. O povo de Deus estava orando por libertação da escravidão, pedindo Sua ajuda naquela situação desesperadora. Deus respondeu às suas súplicas com o nascimento de Moisés. A intervenção milagrosa de Deus para proteger a vida de Moisés nessa circunstância particular foi possível apenas em colaboração com seus pais e Miriã, sua irmã. Assim, observamos que Deus usa instrumentos humanos para promover Sua causa e Seu propósito.
Na escuridão das dificuldades e do nosso próprio sofrimento, precisamos fixar nossos olhos em Deus e confiar Nele, em Sua liderança e em Sua sabedoria, pois Ele nunca abandonará Seus filhos. Ele está com eles em meio à opressão e à perseguição. Cristo conhece as lágrimas dos maltratados e feridos e sofre com eles. O profeta Isaías declara de modo muito apropriado que Deus Se aflige em todas as nossas aflições (Is 63:9). Sua solidariedade é profunda e inabalável. Em nosso sofrimento, Ele sofre; em nossa angústia, Ele Se angustia; e Ele sente a nossa dor. Ele está ao lado dos perseguidos que sofrem por causa da justiça (Mt 5:10). Ele é um Senhor misericordioso e cheio da graça. Ele é longânimo conosco e, na cruz, sofreu para garantir nossa salvação. Por outro lado, opressores, agressores e transgressores experimentarão o juízo da condenação e a destruição final de Deus. Nesse contexto, lembremo-nos da declaração perspicaz de Ellen G. White: “Na vida futura, os mistérios que aqui nos inquietaram e desapontaram serão esclarecidos. Veremos que as orações aparentemente não atendidas e as esperanças frustradas têm lugar entre nossas maiores bênçãos” (A Ciência do Bom Viver [CPB, 2021], p. 303).
Sifrá e Puá, duas parteiras, são modelos de fidelidade. Por temerem a Deus, não precisavam temer a ira do Faraó. Seu respeito pelo Deus da vida as guiou a respeitar a vida humana. Elas se recusaram a matar, por “acidente”, os bebês hebreus do sexo masculino ao nascer. Elas sabiam que a vida é um presente de Deus. Por isso, rejeitaram as ordens do Faraó.
A Bíblia não nos revela muito sobre os primeiros 40 anos da vida de Moisés (At 7:23), exceto estes detalhes importantes: (1) Moisés se tornou filho da filha do Faraó; (2) quando adulto, ele matou um egípcio que estava batendo em um hebreu; (3) ele discutiu com um hebreu que estava brigando com um companheiro hebreu; (4) posteriormente, ele foi para a terra de Midiã, onde ficou com Jetro, um sacerdote, e se casou com sua filha Zípora; e (5) então teve um filho, Gérson.
O ponto principal da lição desta semana é a frase “e [Deus] lembrou-Se da Sua aliança”, que está no nosso texto-chave: “Deus ouviu o gemido deles e lembrou-Se da Sua aliança com Abraão, com Isaque e com Jacó” (Êx 2:24). A fidelidade de Deus às promessas da Sua aliança traz estabilidade aos relacionamentos entre Ele e Seu povo. Deus cumpre Sua parte, apesar da nossa infidelidade. A aliança de Deus constitui o estabelecimento legal de um relacionamento entre Ele e Seus seguidores.
No entanto, Sua promessa de aliança aparentemente não estava sendo cumprida, pois Seu povo não era próspero, mas sofria. A afirmação de que Deus “Se lembrou de Sua aliança” não implica que Ele havia tido um lapso de memória ou que tinha Se esquecido de Seu povo. Em Seu tempo, Deus age em favor de Seu povo. Ele Se comprometeu com Abraão, por meio de Sua palavra, de que ele seria uma grande nação; então, em cumprimento dessa promessa, Deus interveio para trazer liberdade aos oprimidos. Deus libertou o povo de Israel porque Ele prometeu abençoar a posteridade de Abraão.
Nesses dois versículos finais, o termo Elohim para se referir a Deus aparece quatro vezes. Elohim é um Deus poderoso e forte e é descrito em conexão com quatro ações: Deus “ouviu”, “lembrou”, “olhou” e “preocupou-Se”. Esses versículos enfatizam o conhecimento de Deus sobre a situação, Seu cuidado e Sua disposição de agir em favor de Seu povo. Ele mudaria o fluxo da história porque Seu tempo de intervenção havia chegado. Deus, em Sua misericórdia, diria “não” à opressão e daria liberdade a Seus seguidores para que pudessem servir a seu Deus por gratidão pelo dom da liberdade. Assim, a graça de Deus triunfa sobre a violência, a opressão e a escravidão.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
1. Como você se sente quando as pessoas ignoram, machucam, exploram ou maltratam você? Essas experiências de dor e decepção podem ajudá-lo a se identificar com os que enfrentam situações semelhantes? De que maneira você pode encorajar efetivamente as pessoas que estão sofrendo? Qual você considera ser o melhor remédio para lidar com as decepções da vida?
2. Como você pode responder de modo efetivo ao abuso de poder no seu local de trabalho ou na igreja? 3. Imagine como teria sido se os pais de Moisés e sua irmã, Miriã, não tivessem confiado em Deus e não tivessem tido a coragem de esconder o bebê. Como isso teria impactado o plano de Deus? Qual teria sido a reação de Deus em uma situação hipotética como essa? Será que outro Moisés surgiria? 4. Como foi que Moisés, após tantos anos vivendo em luxo e em um lar pagão, escolheu sofrer ao lado do povo de Deus? 5. Aqueles que se submetem a Deus não precisam temer estar diante de reis. Eles priorizam a vontade de Deus na vida e avançam corajosamente para cumprir Seus mandamentos. O que significa dizer que Moisés não temia o Faraó, mas a Deus? Como você interpreta a afirmação paradoxal de que, ao ver “Aquele que é invisível”, Moisés permaneceu fiel a Ele (Hb 11:27)? De que maneira você consegue perceber Deus com os olhos da fé?
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O milagre na selva, Parte 2
Indonésia | Armi
Na semana passada: Armi, um missionário que ensina crianças em uma escola missionária na selva de Papua, Indonésia, fez uma caminhada de oito horas montanha acima para visitar uma mãe solteira que não andava depois de cair de uma árvore sete anos antes. Ele e um amigo missionário disseram à mãe que sua única esperança estava em Jesus, o Médico Mestre. Então Armi e seu amigo oraram por um sinal de celular. Eles precisavam desesperadamente de conselhos médicos sobre como tratar a perna da mãe. Mas eles estavam no meio de uma selva montanhosa e não recebiam sinal de celular há meses.
Então um milagre aconteceu. Apenas alguns dias após visitar a mãe, o telefone de Armi tocou enquanto ele e seu amigo estavam visitando outro lugar remoto em Papua, na Indonésia. A princípio, Armi pensou que era o alarme do telefone e o ignorou, mas o telefone continuou tocando. Então ele o tirou do bolso e viu que havia recebido um e-mail. Isso significava que ele tinha sinal de celular.
Armi imediatamente abaixou a cabeça e orou: "Senhor, obrigado, obrigado! Por favor, ajude-me a ligar para a pessoa certa para obter informações sobre como tratar essa mãe".
Armi rapidamente rolou a lista de contatos no celular, preocupado que o sinal pudesse desaparecer. Então ele encontrou uma amiga que era enfermeira e ligou para ela.
A chamada foi completada!
Armi descreveu a situação, e a enfermeira ofereceu conselhos sobre como limpar a ferida no joelho direito da mãe. Ela também sugeriu que Armi pegasse antibióticos contra infecção que ele tinha em sua casa na montanha e os desse para a mãe.
O telefonema durou apenas dois minutos. Então o sinal desapareceu. Mas foi tempo suficiente para receber o conselho precioso.
Nos dois meses seguintes, Armi e seu amigo visitaram a mãe em sua cabana de palha todas as semanas. Todas as vezes, eles limpavam a ferida e davam antibióticos contra a infecção que havia causado o inchaço do joelho. Eles a incentivavam a orar regularmente.
"Para quem devo orar?", ela perguntou pela primeira vez.
"Ore Àquele cujo nome é Jesus", respondeu Armi.
Ela não estava familiarizada com Jesus, e Armi a apresentou a Ele por meio de histórias bíblicas. Ao limpar sua ferida, ele falava sobre como Jesus havia curado os enfermos e dado visão aos cegos. Os vizinhos vinham assistir e ouviam as histórias.
À medida que as semanas passavam, o inchaço diminuía lentamente e a ferida cicatrizava. Armi e seu amigo deram graças a Deus. Tudo o que estava acontecendo estava além de suas habilidades médicas.
Em seguida, os dois missionários tinham compromissos em outras partes de Papua e não puderam visitar a mãe por um mês, mas eles enviaram alimentos saudáveis e remédios naturais para ela com a ajuda das crianças que estavam ensinando na escola missionária na selva.
Quando os missionários finalmente conseguiram caminhar as oito horas até sua aldeia novamente, eles a encontraram do lado de fora de sua cabana de palha. Armi começou a chorar.
Ele não podia acreditar no que estava vendo. A mãe, que não conseguia andar há sete anos, estava de pé com a ajuda de uma bengala do lado de fora de sua cabana. Quando ele e seu amigo se aproximaram, ela usou a bengala para dar passos hesitantes em direção a eles.
Então o amigo de Armi começou a chorar. "Como é possível?", disse ele.
Os três sentaram-se dentro da cabana. O rosto da mãe brilhava de alegria e saúde enquanto ela falava. "Continuei orando, e a dor passou", disse ela, usando gestos com as mãos para ajudá-los a entender seu dialeto. "Eu acredito que é por causa de Jesus. Mesmo que eu não entenda quem Ele é, sou grata por você tê-lo trazido para minha vida."
"Este não é o fim", respondeu Armi. "Se você acredita que Jesus a curou, deve continuar acreditando e obedecendo a Ele."
Mais um mês se passou, e a mãe conseguiu andar sem a bengala. Ela não estava completamente curada, mas podia retomar suas atividades normais em casa e no campo onde cultivava suas plantações.
Os vizinhos ficaram surpresos. Eles começaram a orar a Jesus com ela.
Pouco antes de Armi terminar seu tempo como missionário em Papua, ele se encontrou com a mãe uma última vez. Ela confidenciou que não se sentia mais em paz com sua forma tradicional de adoração.
"Posso participar do seu culto?", ela perguntou.
"Você é muito bem-vinda, mãe", respondeu Armi. "Mas nossa igreja está tão longe. Como você vai conseguir caminhar por oito horas?"
"Jesus é Aquele que me curou", disse ela. "Eu tenho que adorá-Lo. Ele me ajudou a andar novamente, e eu irei à igreja para adorá-Lo."
A mãe fez a longa caminhada e assistiu aos cultos de adoração todos os sábados depois disso. Ela também enviou todos os quatro filhos para a escola missionária da selva.
Para surpresa de Armi, não apenas seus filhos vieram para a escola, mas também todas as outras crianças de sua aldeia. Os vizinhos haviam testemunhado o poder de Jesus e queriam que seus filhos também O conhecessem. "Coisas que são impossíveis para mim não são impossíveis para Deus", disse Armi. "Eu oro para que a mãe permaneça fiel."
Parte da oferta de hoje irá para Papua para ajudar a construir salas de aula, um prédio administrativo, uma biblioteca e um auditório para a Faculdade Adventista de Teologia de Papua. A faculdade mudou-se para Nabire depois que o campus foi destruído por uma enchente em outra parte de Papua em 2019. Atualmente, os alunos se reúnem em salas de aula cedidas por uma escola adventista. A oferta deste trimestre também apoiará dois projetos em Mianmar – uma pré-escola e um centro de influência – e uma clínica de saúde em Brunei. Obrigado por sua generosa oferta.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
•Mostrar Papua, Indonésia, no mapa.
• Saiba que a caminhada de oito horas até a aldeia da mãe transmite apenas parcialmente o isolamento do trabalho de Armi como missionário em Papua. Para chegar à aldeia com a escola na selva onde ele morava, ele precisou voar em um avião missionário para uma pista de pouso na selva e depois caminhar de 12 a 14 horas, dependendo do clima e de outros fatores.
• Assista a um pequeno vídeo no YouTube com Armi em: bit.ly/Armi-SSD.
• Baixe fotos para esta história no Facebook: bit.ly/fb-mq.
• Compartilhe as postagens do Informativo Mundial das Missões e os Fatos Rápidos da Divisão Sul-Asiática do Pacífico: bit.ly/ssd-2025.
• Saiba que esta história missionária ilustra o Objetivo de Crescimento Espiritual no 1 do plano estratégico "Eu Vou" da Igreja Adventista do Sétimo Dia: "Reavivar o conceito de missão mundial e sacrifício pela missão como um estilo de vida que envolve não apenas os pastores, mas todos os membros da igreja, jovens e velhos, na alegria de testemunhar por Cristo e fazer discípulos". Para mais informações, visite: IWillGo.org.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2025
Tema geral: “O livro de Êxodo”
Lição 1 – 28 de junho a 5 de julho
O povo oprimido e o nascimento de Moisés
Autor: Felipe Alves Masotti
Editor: Fernando Dias de Souza
Revisora: Rosemara Santos
Identidade
O livro de Êxodo narra a história de uma nação em busca de sua identidade. Com intencionalidade teológica e literária, a obra entrelaça episódios que delineiam experiências formativas, orientadas por Deus, na construção da consciência identitária de Israel. Nesse livro, nada é por acaso. Logo no início, somos informados de que, vivendo sob o risco iminente de assimilação cultural na terra de seus opressores, o povo de Abraão, Isaque e Jacó aguardava, havia séculos, o cumprimento das promessas divinas feitas aos patriarcas. Os capítulos iniciais são marcados por expectativa, apreensão e pela ameaça de um ataque iminente contra os descendentes da família da aliança (Gn 12:1-3; 15:18). Os dois primeiros capítulos ilustram essa tensão por meio de quatro episódios fundamentais.
O desconhecido José
O episódio inicial apresenta a primeira ocorrência do verbo yadah (“conhecer”, “saber”, “descobrir”) no livro de Êxodo. Esse verbo, de grande importância nas narrativas da obra, aparece relacionado ao conhecimento do futuro (Êx 2:4), de algo oculto (Êx 2:14), do sofrimento do povo por parte de Deus (Êx 2:25; 3:7, 19) e das qualificações dos escolhidos por Ele (Êx 4:14). No entanto, em Êxodo 1:8, somos informados da entronização de um novo faraó que “não conhecia José”. Essa ausência de conhecimento experiencial revela a vulnerabilidade do povo de Deus. Sem um representante na corte egípcia, os israelitas tornaram-se presas fáceis para a cultura opressora que os cercava.
Paradoxalmente, Êxodo 1:7 ressalta o alcance impressionante da bênção divina sobre os filhos de Israel; uma sequência de verbos indica crescimento exponencial: “foram fecundos [parû], aumentaram muito [wayishretsû], multiplicaram-se [wayirbû] e tornaram-se extremamente fortes [waya’atsmû], de maneira que a terra se encheu deles [watimmale]”. Essa terminologia ecoa promessas feitas a Abraão e à sua descendência (Gn 12:2; 28:3; 35:11; 46:3; 47:27; 48:4), sendo também retomada posteriormente no contexto da posse da terra prometida (Nm 22:3; Dt 1:10, 11; 26:5; Sl 105:24; At 7:17). Além disso, ela remete à ordem dada aos primeiros seres humanos: “Sejam fecundos, multipliquem-se, encham a terra e sujeitem-na” (Gn 1:28). De fato, o povo havia se tornado uma grande nação e recebido a bênção prometida. No entanto, faltava-lhe algo essencial: a terra. O crescimento ocorria no território errado, e isso atraiu a fúria do Império Egípcio, ao mesmo tempo que sinalizava o início do cumprimento das promessas divinas.
A salvação através da fraqueza
O segundo episódio descreve o plano egípcio de aniquilar a descendência hebreia, bem como uma inesperada manifestação de resistência. O faraó disse: “Precisamos usar de astúcia [hakham] para com esse povo” (Êx 1:10). O termo hebraico hakham (“usar de astúcia”, “agir com sabedoria”), aqui empregado de forma reflexiva, indica uma estratégia para subjugar o povo e se apropriar da bênção que o tornava numeroso. A escravidão, nesse sentido, foi uma tentativa de usurpar a bênção divina. Essa verdade é repetida ao longo da história bíblica: o mal, frequentemente, tenta roubar aquilo que Deus concede ao Seu povo.
Outra importante lição deste episódio relaciona-se à natureza hospedeira do mal e à sua inabilidade de controlar essa mesma bênção. A Deus não se rouba (Ml 3:8). Êxodo 1:12 afirma que, quanto mais o povo era oprimido, mais crescia, amedrontando seus algozes. Sugestivamente, o verbo utilizado para descrever o sentimento dos egípcios é raro: quts significa mais do que medo, envolvendo sentimentos de repulsa e nojo. No livro, medo é a reação instintiva ao exercício da força. Nele o medo revela-se o motor da violência. No caso dos egípcios, era o medo de um povo que carregava uma bênção incontrolável.
Igualmente profunda é a lição ensinada na sobrevivência dos meninos hebreus. Duas simples mulheres, parteiras por profissão, resistiram ao ataque maligno contra um aspecto da promessa de Deus a Abraão: sua descendência. O outro aspecto, a posse da terra, ainda não havia se cumprido, e o infanticídio, se bem-sucedido, inviabilizaria o cumprimento da aliança. Muito poderia ser dito sobre essas duas mulheres, Sifrá e Puá, mas a motivação de sua resistência é o que se encontra em Êxodo 1:17: “As parteiras, porém, temeram a Deus”. O versículo foca na decisão delas de não obedecer ao faraó, contrapondo-a à tirania do Império Egípcio. Deus continuava a confundir as coisas grandes por meio das pequenas, como faria ao longo de toda a história da salvação.
Um salvador?
O terceiro episódio pinta um quadro singelo de resiliência e ternura maternal: o nascimento de Moisés (Êx 2:1-10). Contudo, sua profundidade literária descreve complexidades culturais que afetariam o futuro da nação. A origem sacerdotal do menino é indicada no início da narrativa: “Um homem da casa de Levi casou com uma mulher da mesma tribo” (Êx 2:1). O filho do casal era “bonito” (Êx 2:12). A palavra hebraica usada, tov (“bom” ou “bonito”) ecoa o relato da criação e prenuncia o surgimento de algo especial (Gn 1:4, 10, 12, 18, 25, 31).
Contudo, o nascimento de Moisés coincidiu com a perseguição no Egito e a cruel decisão de que todos os meninos fossem mortos. O plano egípcio de contenção da bênção divina avançava. Diversas palavras egípcias aparecem nesse relato, como os termos para junco, cesto e rio. A terminologia caracteriza uma cena inusitada, em que a mãe hebreia de Moisés o colocou no rio, e fez com que a irmã dele o observasse a distância. A descoberta do menino pela princesa egípcia foi cuidadosamente composta pelo autor para transmitir a noção de um novo nascimento. Êxodo 2:6 é a única passagem da Bíblia que descreve um recém-nascido chorando. A frase em hebraico omite o objeto do verbo “abrir”, de modo que o leitor do texto original não sabe o que foi aberto, se o cesto ou a madre da princesa. O contexto aponta para o cesto, mas a ambiguidade sintática sugere que esse seria também uma espécie de segundo nascimento de Moisés, dessa vez de sua mãe egípcia. É ela quem lhe deu o nome e dela ele se tornou filho (Êx 2:10).
Moisés, nesse relato, nasceu com dupla cidadania e, no futuro, teria que escolher qual identidade o orientaria. Como cidadão do Egito, desfrutava os privilégios do palácio, a que seus concidadãos hebreus estavam sujeitos. Como hebreu, carregava em si a marca da promessa divina. Qual identidade prevaleceria na vida do jovem sacerdote hebreu e príncipe egípcio?
Tempo de escolher
Como todos os seres humanos, o menino Moisés cresceu e se tornou responsável por suas escolhas. Esperava-se dele aquilo que se espera de homens maduros e honestos. Sua condição de dupla cidadania, contudo, era um problema sério. O quarto episódio (Êx 2:11-15) mostra o momento decisivo: ao ver um egípcio agredindo um hebreu, Moisés intervém e mata o agressor. Aquele foi um ato impulsivo, mas revelou sua aliança com seu povo e sua rejeição da opressão. Essa se tornaria uma característica marcante de sua vida posterior, no deserto de Midiã e diante do povo de Israel.
Mais uma vez, a natureza literária de Êxodo se revela. No dia seguinte, ao tentar mediar um conflito entre dois hebreus, Moisés foi confrontado com a pergunta: “Quem pôs você por príncipe e juiz sobre nós?” (Êx 2:14). Essa indagação, repleta de ironia, antecipou sua futura vocação divina. Assustado, Moisés fugiu para Midiã. Lá, em reclusão, sua história é desconstruída, mas também preparada. Deus usaria aquele que fora príncipe e fugitivo como líder e libertador: um instrumento moldado pela fraqueza, apto para uma missão grandiosa.
Referências:
Richard M. Davidson, A Song for the Sanctuary: Experiencing God’s Presence in Shadow and Reality (Silver Spring, MD: Biblical Research Institute, 2022).
Jacques B. Doukhan, Richard M. Davidson, Genesis and Exodus. Seventh-day Adventist International Biblical Commentary, v. 1 (Nampa, ID: Pacific Press, 2025).
Michael G. Hasel, “Êxodo”, em Ángel Manoel Rodríguez (editor-geral), Comentário Bíblico Andrews (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2024), v. 1.
Nahum M. Sarna, Exodus: The Traditional Hebrew Text with the New Jewish Publication Society Translation (Philadelphia, PA: Jewish Publication Society, 1991).
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Felipe Alves Masotti é pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Formou-se em Teologia no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) em 2008, atuando posteriormente como capelão do Colégio Curitibano Adventista Bom Retiro e pastor de jovens na Igreja Adventista do Sétimo Dia Central de Curitiba. É mestre em Interpretação Bíblica pelo Unasp e doutor em Teologia do Antigo Testamento pela Universidade Andrews. Desde 2020, é professor de Antigo Testamento no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT), no campus da Faculdade Adventista do Paraná (FAP). Felipe é autor, coeditor e coautor de várias obras, incluindo Daniel: Interpretação, História e Teologia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2024), But the Wise Shall Understand (Tübingen: Mohr Siebeck, 2025) e Exploring the Composition of the Pentateuch (University Park, PA: Eisenbrauns, 2020). É casado com Camila Masotti, também professora na FAP, e pai de Miguel e Helena.