O chamado que Deus nos faz frequentemente mudará a direção da nossa vida. No entanto, se seguirmos esse chamado, descobriremos que o caminho de Deus é sempre a melhor rota. Ainda assim, às vezes, pelo menos no início, não é fácil aceitar o chamado divino.
Esse foi o caso de Moisés e seu chamado, que ocorreu no encontro com o Senhor na sarça ardente. Embora não tivesse conhecimento sobre as leis da combustão, Moisés sabia que estava presenciando um milagre, e isso chamou sua atenção. Sem dúvida, o Senhor o estava chamando para uma tarefa específica. A questão era: ele atenderia ao chamado, não importando a mudança drástica que isso traria à sua vida? No início, Moisés não recebeu muito bem essa nova realidade.
Você deve se lembrar de situações em que tinha objetivos, mas Deus redirecionou seus planos. Podemos servir a Deus de muitas maneiras, mas seguir Seu chamado e fazer o que Ele deseja é o caminho para uma existência satisfatória. Isso não é fácil, e não foi para Moisés, mas seria tolice seguir nosso caminho quando Deus mostra outra direção.
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Depois que Moisés fugiu para Midiã, ele teve uma vida relativamente fácil. Ele se casou, teve dois filhos, Gérson e Eliézer (Êx 18:3, 4), e fazia parte da família de Jetro, seu sogro e sacerdote de Midiã. Moisés passou 40 anos tranquilos sendo pastor, a mesma atividade de Davi (2Sm 7:8), e desfrutando a presença de Deus, especialmente revelada na natureza.
No entanto, Moisés não passou todo esse tempo simplesmente sentindo o aroma das flores (ou talvez, dos cactos do deserto). Esses anos de caminhada com o Senhor o transformaram e o prepararam para a liderança. Deus também usou Moisés naquele deserto pacato para escrever, sob inspiração divina, os dois livros mais antigos da Bíblia: Jó e Gênesis (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 209; Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia [CPB, 2016], v. 3, p. 1140). Ao escrever esses livros, Moisés recebeu de Deus revelações essenciais sobre o grande conflito, a criação, a queda, o dilúvio, os patriarcas e, mais importante ainda, o plano da salvação. Assim, ele teve papel fundamental em transmitir à humanidade o verdadeiro conhecimento do Criador e Mantenedor, e sobre o que Ele faz em relação ao pecado, que causou profundos danos ao planeta. A história da salvação não faz sentido sem o fundamento crucial que, sob inspiração, Moisés comunicou, especialmente em Gênesis.
1. Leia Êxodo 3:1-6. O Senhor Se apresentou a Moisés como “o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó”. Qual é a relevância desse fato?
Moisés viu que a sarça ardente não se consumia pelo fogo. Então percebeu que estava testemunhando um milagre e que algo espetacular e importante deveria estar acontecendo bem diante dele. Ao se aproximar, o Senhor lhe disse para tirar as sandálias dos pés como sinal de profundo respeito, porque a presença de Deus tornava o lugar santo.
O Senhor Se apresentou a Moisés como “o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó” (Êx 3:6). Ele havia prometido a esses patriarcas que seus descendentes herdariam a terra de Canaã, uma promessa que Moisés conhecia bem. Portanto, mesmo antes de dizê-lo, Deus já estava abrindo o caminho para que Moisés soubesse o que estava por vir e o papel crucial que deveria desempenhar.
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O “Anjo do Senhor” apareceu a Moisés “numa chama de fogo, no meio de uma sarça” (Êx 3:2). Quem falou com ele “do meio da sarça” foi o próprio Senhor Jesus (Êx 3:4).
Não precisamos nos preocupar com o fato de que o Anjo do Senhor era Jesus Cristo. O termo anjo significa “mensageiro” (em hebraico, malakhi). Dependendo do contexto, “anjo” pode ser um ser angélico, humano ou divino (Ml 3:1). Em vários casos do Antigo Testamento (AT), o Anjo do Senhor é uma Pessoa divina (Gn 22:11, 15-18; 31:3, 11, 13; Jz 2:1, 2; 6:11-22; Zc 3:1, 2). O Anjo do Senhor não apenas falava em nome do Senhor, mas era o próprio Senhor – Jesus é o mensageiro de Deus, que nos transmite a palavra do Pai.
2. Leia Êxodo 3:7-12. Como Deus explicou a Moisés por que queria intervir em favor dos israelitas escravizados no Egito?
O sofrimento do povo de Deus no Egito é descrito de forma poética como um “gemido” e um profundo “clamor” por ajuda. Deus ouviu o clamor dos israelitas e revelou preocupação por eles (Êx 2:23-25). O Senhor os chamou de “Meu povo” (Êx 3:7). Ou seja, antes mesmo do Sinai e da confirmação da aliança, eles eram Seu povo, e Ele os faria habitar e prosperar (se obedecessem) na terra de Canaã, como havia prometido a seus antepassados.
Deus disse a Moisés que o estava enviando ao Faraó para cumprir uma tarefa específica: “Agora venha, e Eu o enviarei a Faraó, para que você tire do Egito o Meu povo, os filhos de Israel” (Êx 3:10). Novamente, Deus os chamou de “o Meu povo”.
Que tarefa gigantesca! Diante disso, Moisés reagiu com uma pergunta: “Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel?” (Êx 3:11). Compreendendo tudo o que iria acontecer e qual seria seu papel em tudo isso, Moisés se perguntou por que alguém como ele teria sido escolhido. Logo no início da história, temos uma indicação do caráter de Moisés, de sua humildade e do senso de indignidade para a tarefa que ele estava sendo chamado a fazer.
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3. Leia Êxodo 3:13-22. Por que Moisés desejava conhecer o nome de Deus? Qual é a importância desse nome?
Deus Se apresentou a Moisés como “eheyeh asher eheyeh”, que significa “Eu Sou o Que Sou” ou “Eu Serei o Que Serei”. O Senhor usou esse mesmo verbo (eheyeh) ao dizer a Moisés: “Eu estarei com você” (Êx 3:12). Essas palavras significam que Deus é eterno. Ele é o Deus transcendente, que habita “no alto e santo lugar”, e também o Deus imanente, que habita “com o contrito e abatido de espírito” (Is 57:15).
O nome próprio de Deus, Yahweh (geralmente traduzido na Bíblia como “Senhor”), era conhecido desde o início pelos israelitas, mesmo que não entendessem seu significado mais profundo. Moisés também conhecia o nome de Yahweh, mas, como outras pessoas, não sabia o que ele significa. Por isso perguntou: “Qual é o nome Dele?” (Êx 3:13).
Êxodo 6:3 ajuda a entender essa questão. Deus disse: “Apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó como o Deus Todo-Poderoso; mas pelo Meu nome, o Senhor, não lhes fui conhecido”. Isso não significa que os patriarcas não conhecessem o nome Yahweh (Gn 2:4, 9; 4:1, 26; 7:5; 15:6-8); eles não conheciam o significado mais profundo desse nome.
O nome Yahweh aponta para o fato de que Ele é um Deus pessoal de Seu povo, o Deus da aliança, um Deus próximo e íntimo que Se envolve nas questões humanas. O título “Deus Todo-Poderoso” (Gn 17:1) indica que Ele age milagrosamente, usando Seu poder infinito. Já o nome Yahweh mostra que Ele é um Deus que revela Seu poder por meio de Seu amor e cuidado. Ele também é chamado de Elohim (traduzido como “Deus”), indicando o Deus poderoso, forte e transcendente, o Deus de toda a humanidade, o Governante do Universo e o Criador de todas as coisas. Yahweh e Elohim são nomes diferentes que revelam diferentes aspectos de Seu relacionamento com os seres humanos.
Conhecer ou invocar o nome do Senhor não é um mero ritual místico. Proclamar Seu nome significa ensinar a verdade sobre Deus e a salvação que Ele oferece aos que vão a Ele com fé. “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Jl 2:32).
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4. Leia Êxodo 4:1-17. Que sinais o Senhor ordenou que Moisés realizasse para fortalecer sua posição como mensageiro de Deus?
Moisés tentou novamente se justificar para evitar a missão que Deus lhe havia designado (Êx 3:11). Ele não queria ir ao Egito e confrontar o Faraó. Afinal, já havia falhado quando tentou, por conta própria, ajudar os hebreus. Além disso, seu povo não acreditou nele nem o aceitou como líder. Por isso, ele apresentou a terceira objeção: “E se eles não acreditarem em mim nem quiserem me ouvir?” (Êx 4:1, NVI). Moisés não estava buscando uma resposta. Essa foi uma forma de recusar a tarefa que Deus lhe pediu que assumisse.
Deus deu a Moisés dois sinais milagrosos que ele devia realizar diante dos anciãos de Israel e, depois, diante do Faraó: (1) sua vara se transformaria em serpente e depois em vara novamente; e (2) sua mão ficaria leprosa, mas depois seria curada instantaneamente. Ambos os milagres deviam convencer os anciãos de que Deus estava trabalhando por eles. Se não cressem, haveria um terceiro milagre, o de transformar água em sangue (Êx 4:8, 9).
Mesmo que Deus tivesse dado a Moisés esses grandes prodígios, ele ainda expressou uma quarta desculpa: ele tinha dificuldade para falar.
5. Leia Êxodo 4:10-18. Como o Senhor respondeu a Moisés? Que lições podemos tirar disso em qualquer situação para a qual Deus nos chamar?
As quatro desculpas mostram a relutância de Moisés em seguir o chamado de Deus. Com objeções aparentemente “lógicas”, ele escondia sua relutância em ir. As três primeiras desculpas expressam perguntas: (1) “Quem sou eu?”; (2) Quem és Tu?; e (3) E se eles não acreditarem em mim? A quarta objeção é uma declaração: “Eu nunca fui eloquente” (Êx 4:10). Deus reagiu trazendo uma solução poderosa e apresentando promessas motivadoras.
Então Moisés fez um quinto e último apelo, pedindo diretamente: “Ah! Senhor! Envia alguém outro que quiseres enviar” (Êx 4:13). Em resposta, Deus lhe disse que já estava enviando seu irmão Arão para ir ao encontro dele e ajudá-lo. Por fim, Moisés cedeu em silêncio e pediu a bênção de Jetro antes de partir para o Egito.
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6. Leia Êxodo 4:18-31. Como entender essa história estranha? O que aprendemos com ela?
Muitas pessoas ficam chocadas ao lerem que, depois que Moisés obedeceu a Deus e começou sua jornada de volta ao Egito, o Senhor “procurou matá-lo” (Êx 4:24, NVI). Pelo contexto da história, fica claro que a questão era a circuncisão. O filho mais novo de Moisés não havia sido circuncidado, como exigia a aliança com Abraão (Gn 17:10, 11).
Moisés, como líder do povo de Deus, precisava mostrar sua perfeita submissão e obediência ao Senhor, a fim de ser qualificado para levar outros a ser obedientes. Ele tinha que ser um modelo de entrega completa a Deus. Sua esposa Zípora era uma mulher de ação e circuncidou seu filho para salvar a vida de seu marido. Ela tocou em Moisés com o prepúcio cheio de sangue, e esse sangue representa expiação, vida e confirmação da aliança. O fato de que a circuncisão tinha sido feita rapidamente aumentou o drama da situação.
Podemos aprender uma lição importante com esse episódio: jamais devemos deixar de fazer o que sabemos ser correto.
“No caminho, quando vinha de Midiã, Moisés recebeu uma advertência assustadora e terrível do desagrado do Senhor. Um anjo apareceu-lhe de maneira ameaçadora, como se fosse destruí-lo imediatamente. Nenhuma explicação havia sido dada. No entanto, Moisés se lembrou de que havia desatendido a uma das ordens de Deus; [...] negligenciara efetuar o rito da circuncisão em seu filho mais novo. Deixara de satisfazer a condição pela qual seu filho poderia ter direito às bênçãos da aliança de Deus com Israel, e tal negligência por parte do dirigente escolhido de Israel diminuiria a força dos preceitos divinos sobre o povo.
“Zípora, temendo que seu marido fosse morto, realizou ela mesma o rito, e então o anjo permitiu que Moisés prosseguisse com a jornada. Em sua missão diante do Faraó, Moisés seria colocado em posição de grande perigo; sua vida só poderia ser preservada pela proteção de santos anjos. No entanto, enquanto vivesse negligenciando um dever conhecido, não estaria livre de perigo, pois não poderia estar protegido pelos anjos de Deus” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 213).
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Leia, de Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 209-213 (“Moisés”).
O chamado espetacular vindo da sarça ardente provavelmente foi a experiência mais transformadora da vida de Moisés. Todos os outros pontos altos de sua vida dependeram de sua resposta positiva e obediente ao chamado de Deus para conduzir os hebreus para fora do Egito, rumo à terra prometida.
Hoje conhecemos a história completa. Mas coloque-se no lugar de Moisés na época da sarça ardente. Ele havia fugido do Egito para salvar a própria vida. Depois de 40 anos, uma nova geração de hebreus havia surgido, e muitos provavelmente sabiam pouco sobre ele, ou talvez tivessem ouvido histórias distorcidas sobre ele. E então ele foi chamado para liderar o povo a sair da nação mais poderosa do mundo? Não é de admirar sua relutância!
Era uma tarefa extremamente difícil, mas imagine o que Moisés teria perdido se a sua resposta final a Deus tivesse sido “não”. Talvez ele tivesse simplesmente desaparecido da história, em vez de, pelo poder de Deus, literalmente fazer história e se tornar uma das maiores e mais influentes pessoas, não apenas da Bíblia, mas da civilização humana.
Perguntas para consideração
1. Nos anos tranquilos passados no deserto, Moisés fez tudo o que o Senhor o chamou para realizar: foi um homem de família, cuidava de ovelhas e escreveu dois livros bíblicos sob a inspiração divina antes de ser chamado para ser um grande líder do povo de Deus. O que a experiência de Moisés ensina sobre nossos deveres da vida diária?
2. Alguém poderia argumentar que, à primeira vista, as desculpas de Moisés tinham sentido. “Por que alguém acreditaria em mim? Quem sou eu? Não sei falar bem.” O que essa história ensina sobre aprender a confiar que Deus nos capacita a fazer o que Ele nos chama a realizar?
3. A lição de domingo explica que Moisés escreveu o livro de Gênesis e destaca a importância desse livro para compreender a história sagrada e o plano da salvação. Por que devemos resistir às tentativas de enfraquecer a autoridade de Gênesis, especialmente a realidade histórica de seus primeiros 11 capítulos?
Respostas às perguntas da semana: 1. O mesmo Deus que havia feito promessas aos patriarcas estava com o povo de Israel. 2. Deus estava atento aos sofrimentos de Seu povo, ouviu o clamor dele e estava pronto para agir. 3. Moisés não entendia o que o nome de Deus realmente significa. O nome do Senhor revela Seu caráter. 4. Transformar a vara em serpente, tornar a pele leprosa e transformar água em sangue. 5. Deus disse que Ele é quem capacita as pessoas a falar e ver, e enviaria Arão. Deus oferece os recursos para a missão à qual nos chama. 6. Moisés errou em não circuncidar seu filho. Devemos obedecer ao que sabemos ser certo.
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TEXTO-CHAVE: Êx 3:7, 8
FOCO DO ESTUDO: Êx 3; 4
ESBOÇO
Introdução: Deus Se revelou a Moisés, chamando-o para ser o servo que libertaria Seu povo do Egito e o levaria à terra prometida. Moisés se sentiu sobrecarregado com essa nova missão e pediu a Deus que escolhesse outra pessoa.
Temas da lição: Em nosso estudo de Êxodo 3 e 4, vamos enfatizar um ponto essencial: quando Deus chama Seu povo para realizar uma tarefa específica, Ele também o prepara e capacita para cumpri-la. O chamado e a capacitação caminham juntos. O Senhor dá os dons espirituais necessários. Não precisamos nos preocupar, mesmo que a obra pareça excessivamente grande e além de nossas habilidades. Deus está no comando. Precisamos deixar o Senhor ser Deus em nossa vida e confiar completamente em Suas promessas. Podemos confiar Nele. É nossa responsabilidade seguir Sua liderança e obedecer-Lhe.
A estrutura de Êxodo 3 e 4, que trata da intervenção de Deus em favor do Seu povo, pode ser dividida em quatro partes principais:
a. O encontro de Deus com Moisés (Êx 3; 4:1-17), que tem uma introdução e uma missão (Êx 3:1-10) e quatro partes que tratam do diálogo entre o Senhor e Moisés: (1) Êxodo 3:11, 12; (2) Êxodo 3:13-22; (3) Êxodo 4:1-9; e (4) Êxodo 4:10-12. Além de um epílogo: o último apelo de Moisés, a ira de Deus e o envio de Arão para apoiar Moisés (Êx 4:13-17);
b. O retorno de Moisés ao Egito, acompanhado de sua esposa e dois filhos, com a garantia de que Deus o ajudaria (Êx 4:18-23);
c. Questões sobre a circuncisão (Êx 4:24-26);
d. Os encontros de Moisés com Arão, com os anciãos e, finalmente, com os israelitas (Êx 4:27-31).
Grandes e poderosos feitos de Deus estavam prestes a acontecer. O povo de Deus creu e adorou o Deus vivo, que agiria em favor de sua redenção.
COMENTÁRIO
O evento mais transformador na vida de Moisés foi seu encontro pessoal com o Senhor durante a experiência da sarça ardente. Esse incidente alterou dramaticamente sua vida. Na época do evento, ele tinha 80 anos e vivia uma vida plena, estável e bem ajustada. Ele era casado, tinha dois filhos, vivia em Midiã e era útil ao Senhor. Em seu tempo de silêncio, enquanto cuidava de ovelhas, ele foi inspirado por Deus a escrever dois livros bíblicos: Jó e Gênesis. Claramente, Moisés estava satisfeito com sua vida familiar e caminhada com o Senhor. Mas então veio uma interrupção chocante em sua rotina pacífica: Moisés viu uma sarça ardente que não era consumida pelas chamas que a engoliam.
Quando o Senhor chamou a atenção de Moisés, disse o quanto estava preocupado com a situação dos israelitas no Egito. Deus mencionou a miséria, a opressão, a escravidão, o clamor por socorro e o sofrimento de Seu povo. O Senhor declarou: “Por isso desci a fim de livrá-lo” (Êx 3:8). Ele chamou os israelitas de “Meu povo” (Êx 3:10) e queria conduzi-los para uma nova terra. Nós a chamamos de terra prometida porque Deus deu Sua palavra a Abraão, Isaque e Jacó de que seus descendentes herdariam Canaã. Chegou a hora de Ele agir, e Moisés seria o instrumento por meio do qual Deus cumpriria Sua promessa.
Moisés foi chamado pelo próprio Deus para voltar ao Egito, uma terra da qual ele havia fugido para salvar sua própria vida, 40 anos antes (em 1490 a.C.). Moisés agora deveria se encontrar com o Faraó Tutmés III (1504-1450 a.C.), a quem ele conhecia pessoalmente desde a época em que cresceu e viveu no palácio do Faraó. A mãe adotiva de Moisés, Hatshepsut, havia morrido em 1482 a.C. Quando Deus pediu a Moisés para voltar e trabalhar com Ele para libertar os israelitas do Egito, Ele deu duas ordens a Moisés: “Agora venha, e Eu o enviarei a Faraó, para que você tire do Egito o Meu povo, os filhos de Israel” (Êx 3:10). Desse versículo, podemos observar que o Senhor usou dois imperativos que não são tão claros em nossas traduções modernas. Deus disse a Moisés enfaticamente: (1) “Venha”; e (2) “Tire do Egito o Meu povo”. Assim se desenrolou o drama do chamado de Moisés.
As quatro desculpas de Moisés e as quatro promessas de Deus
1. “Quem sou eu” versus “Eu estarei com você” (Êx 3:11, 12)
Quando Moisés ouviu esses dois comandos (“Venha” e “Tire do Egito o Meu povo”), inicialmente relutou em se submeter e aceitar essas condições. Moisés empregou quatro estratégias para se livrar do enorme fardo dessa missão. Primeiro, ele se escondeu atrás de sua humildade e fez uma excelente pergunta: “Quem sou eu?” É importante reconhecer nossa insuficiência e incapacidade de fazer o que Deus exige que façamos. A capacidade de seguir Sua liderança não vem de nós mesmos, mas está muito além de quem somos; ela está em Deus, que nos capacita quando O seguimos com humildade. Mesmo assim, Moisés ultrapassou esse reconhecimento e tentou encontrar uma forma de escapar da responsabilidade divina.
Deus, em resposta, assegurou a Moisés que o Senhor estaria com ele (a mesma frase “Eu estarei” e “Eu Sou me enviou a vocês” é usada nos versículos 12 e 14), e lhe deu um sinal ao declarar que Moisés e os israelitas adorariam a Deus nessa mesma montanha, o monte Sinai, sobre a qual eles agora se encontravam. Essa promessa é abrangente. Tudo o que era necessário estava incluído na presença de Deus com Seu povo. O tema “Emanuel” (Deus conosco) é a promessa mais importante.
2. “Qual é o nome Dele?” versus “Eu Sou o Que Sou” (Êx 3:13-22)
Moisés apresentou sua segunda desculpa perguntando o significado do nome de Deus: “Qual é o nome Dele?” Desta vez, ele estava se escondendo atrás da ignorância do povo de Deus, alegando corretamente que Israel não O conhecia pessoalmente; assim, como o povo poderia saber que Moisés era o líder designado por Deus?
O Senhor explicou com paciência que é eterno, pessoal e o verdadeiro Deus. Ele é o Criador da história que guiou os antepassados de Israel, sendo o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, Aquele que Se comunicou com eles e os amparou com amor e misericórdia. Ele é o Deus que lhes deu Sua promessa de que os levaria a “uma terra que [manava] leite e mel” (Êx 3:17), com as abundantes bênçãos de Deus. Ele é o Senhor, o Deus dos hebreus. O Pai fez a promessa de que, ao saírem do Egito, não iriam de mãos vazias, mas levariam consigo muitos presentes valiosos que lhes haviam sido negados durante o período de escravidão.
3. “Eles não vão acreditar em mim, nem ouvirão o que vou dizer” versus sinais poderosos de Deus (Êx 4:1-9)
Moisés continuou com sua terceira objeção apontando para a hesitação dos israelitas: “E se não acreditarem em mim ou não quiserem me ouvir? E se disserem: O Senhor nunca lhe apareceu”. Em resposta, Deus lhe diz que o capacitaria a realizar dois milagres que seriam sinais tangíveis e evidências de que Ele o tinha enviado e libertaria Seu povo do Egito: (1) Moisés seria capaz de transformar sua vara em uma cobra e de volta em uma vara; e (2) ele colocaria a mão em seu peito, a retiraria com lepra e, em seguida, a colocaria de volta para ser curada.
4. “Não tenho facilidade para falar” (Êx 4:10) versus “o instruirei a respeito do que deve dizer” (Êx 4:12)
O quarto pretexto de Moisés para não ir ao Egito foi simples: “Não sou um bom orador. Nunca fui eloquente”. Moisés suplicou ao Senhor ao dizer que ele era lento em formular argumentos e não era fluente nos idiomas egípcios e no hebraico.
Compreensivelmente, ele não usou o idioma egípcio por quatro décadas. Deus, em resposta, assegurou a Moisés que Ele lhe daria a habilidade de expressar as coisas de forma persuasiva e articulada, porque Ele é o Criador. Como tal, Deus, portanto, capacitaria Moisés para essa tarefa: “Eu serei com a sua boca e lhe ensinarei o que você deve falar” (Êx 4:12). Essa promessa nos lembra de uma história semelhante em Jeremias 1:5 a 8.
Êxodo 4:13 a 17 descreve a desculpa final de Moisés e a reação de Deus a ela. O profeta estava encurralado. Todas as suas desculpas haviam sido poderosamente refutadas pelo próprio Deus. O que Moisés faria? Ele devia definir claramente sua posição respondendo ao chamado do Senhor, de modo positivo ou negativo. Para nossa surpresa, Moisés se recusou a seguir as ordens de Deus, mesmo depois de receber promessas excepcionais Dele. O profeta não estava disposto a ir: “Ah! Senhor! Envia alguém outro que quiseres enviar, menos a mim” (Êx 4:13).
Agora os papéis estavam invertidos. Moisés não apenas rejeitou os imperativos de Deus, mas ousou comandar Deus com seu próprio imperativo, embora o suavizasse com a palavra por favor: “Ah! Senhor! Envia alguém outro que quiseres enviar, menos a mim.” Aquele que deveria obedecer, deu diretrizes a Deus. Que contradição!
Nesse momento, o texto bíblico afirma que “a ira do Senhor se acendeu contra Moisés” (Êx 4:14). No entanto, Deus apresenta uma solução na pessoa de Arão, irmão de Moisés, que estava vindo ao seu encontro e se alegraria em vê-lo (Êx 4:14). Deus sabia da resposta negativa de Moisés com antecedência e já havia enviado Arão a Moisés para encorajá-lo a trabalhar juntos para cumprir a missão de Deus. Arão seria a “boca” de Moisés, ou seja, seu porta-voz que comunicaria a palavra de Deus ao Faraó e ao povo. Que Senhor amoroso e cheio de graça! Ele oferece uma solução onde vemos apenas escuridão.
Com grande hesitação, Moisés seguiu as instruções de Deus. Não lemos sobre a resposta de Moisés à solução divina, mas descobrimos, nos versículos seguintes, que Moisés foi ao Egito. Como um bom homem de família, ele primeiro falou com Jetro sobre sua nomeação, e Jetro o enviou ao Egito com sua aprovação e bênção. Assim, Moisés seguiu em frente. A partir de agora, os acontecimentos se desenrolariam de maneira surpreendente e inesperada.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
1. Tudo em nossa vida está relacionado à forma como percebemos Deus. Quem é Ele para você? Como percebe e compreende a presença divina em sua vida? Que tipo de imagem de Deus você nutre?
2. O que mais importa para o Senhor não são bens, conquistas, planos ou desempenho, mas relacionamentos. O Deus vivo é o Deus dos relacionamentos. Os vínculos humanos começam com uma conexão vertical com Ele e se refletem em interações horizontais entre as pessoas. De que maneira o encontro de Moisés com Deus o transformou em uma nova pessoa e em um grande líder?
3. O chamado de Deus em nossa vida se assemelha a uma ampla rodovia com diversos caminhos. Muitas vezes, a tarefa ou o chamado mais desafiador nos ajuda a perceber que é isso que Deus deseja que façamos. O Senhor nunca nos guia por um caminho fácil ou egocêntrico; Ele deseja nosso crescimento e o que é melhor para nós. Sua Palavra nos ordena a seguir em frente, mesmo que a tarefa pareça esmagadora ou além de nossa capacidade. Como você pode identificar e ter certeza de que está seguindo Seu chamado e vocação na vida?
4. Desejamos cumprir a vontade de Deus conforme Seu plano e visão para nós. Que justificativa você apresenta a Ele que o impede de seguir Seu caminho em sua vida? Quais promessas bíblicas você precisa reivindicar para encontrar esperança e coragem em sua jornada com Ele? De que maneira essas promessas o motivam a servir aos outros?
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Encontrando a verdadeira felicidade
Zimbábue | Denroy
Denroy tinha 10 anos quando bebeu pela primeira vez. Ele estava em casa em Bulawayo, Zimbábue. Seu tio estava comemorando seu 35º aniversário, e um dos amigos de seu tio ofereceu a Denroy um gole de vodca.
O menino pensou: "Eu nunca experimentei isso. Deve haver uma razão pela qual as pessoas bebem. Por que não experimentar?"
Ele pensou que se sentiria um pouco bêbado depois e se perguntou o que aconteceria se bebesse mais. Ele imaginou que as pessoas provavelmente ficavam mais felizes quando bebiam. E ele queria ser feliz. Por isso, decidiu descobrir o que aconteceria se bebesse mais.
Poucos dias depois, Denroy pediu ajuda a um amigo de 10 anos chamado Privilege.
"Seu pai não guarda cerveja na sua geladeira?", ele perguntou a Privilege. "Será que ele perceberia se você pegasse um pouco?"
O pai de Privilege não percebeu, e os dois meninos começaram a roubar cerveja e beber juntos. Denroy achava que se sentia mais feliz toda vez que eles bebiam. Naquele verão, ele começou a beber muito. Durante o ano letivo, Denroy e Privilege bebiam apenas uma vez por semana, mas durante as férias de verão bebiam quase todos os dias.
Denroy escondia o fato de que bebia de seus pais. Quando estava bêbado, ficava na casa de Privilege e só voltava para casa quando estava sóbrio. Ele passava muitas noites na casa de Privilege. Imaginava que estava muito feliz.
Naquele mesmo verão, os pais de Denroy decidiram enviar seu filho para uma escola adventista do sétimo dia. Um dos primos mais velhos de Denroy foi para a escola, e seus pais acharam que seria um bom lugar para ele estudar quando o ano letivo começasse.
Denroy não gostava nada da escola. Os professores e as crianças oravam antes das aulas e refeições. Ele nunca havia orado. Professores e crianças oravam nos cultos matinais e nas aulas bíblicas. Ele não conseguia entender por que todos pareciam orar o tempo todo. Pior ainda, ele sentia como se tivesse perdido sua liberdade. Na escola pública, ele e as outras crianças tinham permissão para ir e vir quando quisessem. Mas agora os professores observavam todos os alunos de perto para se certificar de que estavam em sala de aula. Denroy não estava feliz. Ele queria beber.
Os dias se transformaram em semanas, e as semanas se estenderam em meses, e Denroy continuou ouvindo sobre Jesus na escola. Ele não sabia nada sobre Jesus quando chegou e ficou surpreso com o fato de os professores e outras crianças verem Jesus como seu melhor amigo.
Ele se perguntava: "Quem é Jesus? Como posso ir para o Céu para viver com Ele?"
Mais meses se passaram. No culto matinal, Denroy ouviu professores e crianças louvando a Jesus. Ele os ouviu falando sobre como Jesus encheu suas vidas de alegria. Na Bíblia, ele leu as palavras de Jesus: "[...] eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância. […] Eu sou o caminho, e a verdade e a vida" (João 10:10; 14:6, NAA).
Denroy percebeu que Jesus, e não a bebida, oferecia o verdadeiro caminho para a felicidade.
Sua vida mudou completamente. Ele parou de beber e deixou de ser amigo de Privilege. Em vez de sair com velhos amigos depois da escola, ele evitava as tentações indo direto para casa para fazer o dever de casa e ajudar nas tarefas domésticas.
Na escola, o amor pelos professores cresceu dentro de seu coração. Ele viu que os professores se certificavam de que ele e as outras crianças estivessem na sala de aula porque os amavam e queriam que aprendessem.
A felicidade encheu seu coração e transbordou para sua vida. Ele entregou seu coração a Jesus e foi batizado.
Hoje, Denroy tem 16 anos e está apreciando sua nova vida em Jesus.
"Eu queria encontrar a felicidade por meio da bebida", disse ele. "Mas na escola, comecei a pensar que a verdadeira felicidade só poderia ser por meio de Cristo."
Perguntado se ele estava realmente feliz, ele sorriu levemente.
"Estou chegando lá", disse ele.
Obrigado por sua oferta deste trimestre que ajudará as crianças no país de Denroy, o Zimbábue, a aprender sobre Jesus. Parte da oferta será usada para dar às crianças carentes suas próprias Bíblias dos Aventureiros. A oferta também será usada para fazer uma série de vídeos curtos sobre o fruto do Espírito. Obrigado por planejar uma oferta generosa para o dia 27 de setembro.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
• Mostrar Zimbábue no mapa. Em seguida, mostrar Bulawayo, onde Denroy mora.
• Assistir a um curto vídeo de Denroy no YouTube em: bit.ly/Denroy-SID.
• Baixar fotos para esta história no Facebook: bit.ly/fb-mq.
• Compartilhar as postagens do Informativo Mundial das Missões e fatos rápidos da Divisão Africana do Sul e do Oceano Índico: bit.ly/sid-2025.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2025
Tema geral: “O livro de Êxodo”
Lição 2 – 5 a 11 de julho
A sarça ardente
Autor: Felipe Alves Masotti
Editor: Fernando Dias de Souza
Revisora: Rosemara Santos
O estudo desta semana trata do encontro de Moisés com o Senhor e seu chamado para libertar Israel da opressão egípcia. Moisés havia fugido, escapando assim da morte pela segunda vez ao se esconder de um faraó irado. O assassinato de um capataz egípcio lhe custaria quarenta anos de exílio em Midiã. No entanto, essa experiência não foi desprovida de bênçãos. Ali, Moisés conheceu sua esposa, teve filhos e encontrou um lar na casa de seu sogro, Jetro.
Como pastor, o antigo príncipe egípcio desaprendeu muito do que havia assimilado no palácio e reconectou-se com a simplicidade por meio do trabalho humilde de cuidar de rebanhos. Essa era uma tarefa que se revelaria valiosa em sua futura liderança sobre o povo de Deus no deserto.
A sarça de Deus e o clamor do povo
Deus estava atento ao sofrimento de Seu povo (Êx 2:23, 24). O termo na’aqatam (“o gemido deles”) é usado para descrever aquilo que chama a atenção de Deus (Êx 2:24). Essa palavra geralmente expressa situações de profundo desespero no Antigo Testamento. Êxodo 2:24 descreve uma cena curiosa: o clamor do povo faz com que Deus Se lembre de Sua aliança com os patriarcas. No entanto, zakhar, o termo para “lembrar”, expressa ideias muito mais profundas do que um simples apelo à memória de algo antigo. O verbo carrega um caráter ativo, que salienta o foco detido e atento de um Deus onipresente, que Se alinha com um problema particular dos seres humanos. A ideia do verso é que Ele está tomando nas próprias mãos o problema de Seu povo.
Esse contexto literário aponta para o caráter especial do chamado de Moisés, em Êxodo 3. Trata-se da contrapartida terrestre à lembrança divina. Em outras palavras, Deus Se lembra e, portanto, chama Moisés. Tal foco teológico representa a íntima relação entre as ações de Deus e de Seus escolhidos, evidenciando que seres humanos podem ser eleitos para atuarem como respostas divinas.
Êxodo 3:1 nos informa que Moisés apascentava o rebanho de seu sogro na região do monte Horebe. Nessa passagem é descrita a atividade que o futuro líder de Israel, então com 80 anos de idade, vinha desempenhando por 40 anos. O nome do local onde a teofania (a aparição de Deus) aconteceu é qualificado como “o monte de Deus”, pois Ele escolheu Se revelar ali em uma sarça. O termo hebraico para “sarça” é seneh, uma palavra rara, presente apenas em Êxodo 3:2 e Deuteronômio 33:16. Possivelmente, ele é aqui utilizado para antecipar o monte Sinai por meio da semelhança linguística e identificá-lo com Horebe, preanunciando assim o local em que o povo encontraria o Senhor.
A teofania ocorre por meio do “Anjo do Senhor”, uma figura recorrente no Antigo Testamento. Esse Anjo é apresentado aceitando adoração e exibindo características divinas (Gn 16:7-13; 22:11-15; 31:11-13; Nm 22:22-38; Js 5:13-15; Jz 2:1-3; 6:11-22). Em Êxodo 3, o paralelismo entre o “Anjo do Senhor” (v. 2) e o nome de Deus, o tetragrama (v. 4), aponta para o fato de que tais designações descrevem o mesmo Ser.
Aos 80 anos, Moisés ouve a voz de Deus pela primeira vez. Essa cena carrega uma importante lição para a vida com Deus. Em grande parte, o foco da Bíblia ao descrever a vida dos filhos de Deus está na caminhada. A proximidade das ações divinas conforme relatada nas Escrituras pode distorcer a percepção histórica de Sua atuação na vida de Seus servos. Por vezes, muitos anos ou até décadas transcorriam entre uma manifestação divina e outra. Consequentemente, o Senhor esperava a aplicação perene, contínua e persistente dos princípios de Seu reino na caminhada diária de Seus servos. Essa é a religião do Céu.
Pela primeira vez na Bíblia, ao lembrar da promessa feita aos patriarcas, Deus Se refere à terra prometida como um lugar em que “mana leite e mel” (Êx 3:8). Aos patriarcas, essa característica de Canaã não havia sido mencionada. Somente em Êxodo, para um povo escravizado, tal descrição funcionaria como imagem de uma libertação completa e duradoura.
O nome de Deus e as desculpas de Moisés
O verbo de ligação hebraico hayah (“ser, estar”), assim como em português, exige um predicado, ou seja, um complemento. Em Êxodo 3, contudo, ele é utilizado de maneira única. O verso 12 o aplica na descrição do principal sinal que o Senhor dá a Moisés: “Eu estarei com você. E este será o sinal de que Eu o enviei: depois que você tiver tirado o povo do Egito, vocês adorarão a Deus neste monte”. Essa afirmação respondia à pergunta humilde de Moisés a respeito de sua inadequação para a tarefa de libertar o povo. A resposta é enigmática, pois sugere que a presença de Deus com Moisés, algo até então subjetivo para outros israelitas, e a futura adoração coletiva no monte Sinai, ainda não tangível, seriam os sinais principais de que Ele cumpriria o que prometia.
A natureza enigmática desses primeiros sinais parece ter soado irrazoável aos ouvidos de Moisés. Ele precisava de mais detalhes e, por isso, pediu o nome Daquele que o enviava. Novamente, o Senhor utiliza o verbo hayah de maneira singular para descrever-Se: “Eu sou o Que Sou” e “Eu Sou Me enviou a vocês” (Êx 3:14). Este parece ter sido o evento que revelou ao povo de Israel a essência do nome de Deus, o tetragrama sagrado. [Nota do editor: Em hebraico, a frase “Eu Sou” é uma palavra só escrita com quatro letras (iod, hê, vav, hê), geralmente transliteradas YHWH ou Yahweh, e por isso é chamada de “tetragrama”, que significa “que tem quatro letras”. Desse nome hebraico derivam os nomes divinos “Iavé”, “Javé” e “Jeová”. O tetragrama era tratado com muita reverência pelos antigos, e era substituído pela palavra “Adonai” (Senhor) durante a leitura das Escrituras hebraicas. As versões modernas da Bíblia mantêm essa tradição usando a palavra “Senhor”, em destaque, sempre que aparece o tetragrama no texto hebraico do Antigo Testamento.] Na mesma passagem, Deus afirma não ter sido conhecido por nome pelos patriarcas e, portanto, passa agora a Se autorrevelar de maneira especial. No entanto, Ele já havia utilizado a frase “Eu Sou” em Sua comunicação com os patriarcas (Gn 15:7; 17:1; 26:24; 28:13; 35:11; 46:3). Era comum que os reis da antiguidade se apresentassem assim. A ausência do complemento, contudo, indica que o foco recai sobre a essência de Deus: Ele existe por Si mesmo, sustentando em Sua majestosa essência a vida e a realidade.
Apesar dessa apresentação, Moisés não aceitou prontamente o que Deus tinha para ele. Suas quatro desculpas revelam uma tentativa de escapar da missão. Sua visão de quem Deus, o povo e ele próprio eram compunham uma cosmovisão acomodada da realidade. Mesmo os sinais adicionais dados por Deus não foram suficientes para que Moisés aceitasse prontamente o chamado. Cada um dos milagres dados como sinal do poder de Deus ilustrava Sua soberania sobre a cultura egípcia. Contudo, Moisés aparentava estar ansioso a respeito de sua própria história com o Egito.
Sua última desculpa, “sou pesado de boca e pesado de língua” (Êx 4:10), possivelmente se referia à perda de fluência da língua egípcia, que ele não falava há 40 anos. Sua própria história de rebeldia contra aquela nação possivelmente trazia-lhe medo. Tal inadequação intrínseca, porém, era justamente o que Deus buscava.
Por fim, uma importante lição da história do chamado de Moisés é que nenhum propósito divino, por mais que seja completamente guiado por Deus, deve ser levado com displicência por quem é chamado. Êxodo 4:18 a 31 exemplifica isso ao indicar que Moisés precisaria descer ao Egito como um verdadeiro hebreu com toda a sua família. A circuncisão de Gérson, seu filho, não deveria ser negligenciada, dada a importância de que a família inteira se dedicasse ao chamado de Deus para ser parte de Seu povo. Deus mostrava, assim, que o serviço abnegado ao Senhor deve sempre ser pautado por retidão, preparo e, sobretudo, confiança em Seu poder. Quando procedemos assim, o pouco que temos e somos se torna o poder de Deus: “Então Moisés tomou a mulher e os filhos, fez com que montassem num jumento e voltou para a terra do Egito. Moisés levava na mão o bordão de Deus” (Êx 4:20).
Referências:
Richard M. Davidson, A Song for the Sanctuary: Experiencing God’s Presence in Shadow and Reality (Silver Spring, MD: Biblical Research Institute, 2022).
Jacques B. Doukhan, Richard M. Davidson, Genesis and Exodus. Seventh-day Adventist International Biblical Commentary, v. 1 (Nampa, ID: Pacific Press, 2025).
Michael G. Hasel, “Êxodo”, em Ángel Manoel Rodríguez (editor-geral), Comentário Bíblico Andrews (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2024), v. 1.
Nahum M. Sarna, Exodus: The Traditional Hebrew Text with the New Jewish Publication Society Translation (Philadelphia, PA: Jewish Publication Society, 1991).
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Felipe Alves Masotti é pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Formou-se em Teologia no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) em 2008, atuando posteriormente como capelão do Colégio Curitibano Adventista Bom Retiro e pastor de jovens na Igreja Adventista do Sétimo Dia Central de Curitiba. É mestre em Interpretação Bíblica pelo Unasp e doutor em Teologia do Antigo Testamento pela Universidade Andrews. Desde 2020, é professor de Antigo Testamento no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT), no campus da Faculdade Adventista do Paraná (FAP). Felipe é autor, coeditor e coautor de várias obras, incluindo Daniel: Interpretação, História e Teologia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2024), But the Wise Shall Understand (Tübingen: Mohr Siebeck, 2025) e Exploring the Composition of the Pentateuch (University Park, PA: Eisenbrauns, 2020). É casado com Camila Masotti, também professora na FAP, e pai de Miguel e Helena.