Sapere aude é uma frase latina que significa “ouse saber”, que também pode ser traduzida como “tenha a audácia de conhecer”. Mas, conhecer o quê? A realidade por meio da razão. Quem propagou esse slogan foi o filósofo alemão Immanuel Kant, em 1784, com o objetivo de definir a essência do Iluminismo, um movimento intelectual caracterizado pelo endeusamento da razão humana e a recusa da tradição cristã.

Muitos debatem sobre as verdadeiras crenças de Kant. De qualquer modo, sabemos que ele era tudo menos um ateu. Alguns de seus escritos enalteciam a ética religiosa, propagada especialmente pelo judaísmo bíblico. No entanto, isso estava longe de fazer dele um adepto das Escrituras.

Kant achava que o uso evoluído da razão livraria o ser humano das cadeias da tradição, do absolutismo, da política e, acima de tudo, da fé cristã. Para ele, uma vez que temos a capacidade racional de perceber a realidade, não precisamos mais de qualquer autoridade humana ou divina para nos dizer o que é certo.

A faculdade da razão nos daria a capacidade de governar a nós mesmos e de assumir a responsabilidade por nossas ações. É por meio da razão que a humanidade pode se emancipar do rei, da igreja e, acima de tudo, do próprio Deus.

Por que olhar para o céu em busca de respostas, perguntava ele, quando já temos em nós tudo de que precisamos para responder às questões existenciais da vida? Por que esperar por Deus, quando podemos ser Deus?

A resposta a essa sugestão veio de outro intelectual, chamado Albert Camus. Ele disse: “Se Deus não existe, eu sou Deus.” Nesse sentido, assumir o papel de Deus implica, sem dúvida, usufruir de uma liberdade completa, não estando subordinado a nenhum ser imortal. No entanto, também significa assumir todas as consequências dessa dolorosa independência. Se Deus existe, tudo depende Dele. Mas, se Ele não existe, tudo depende de nós. E não conseguimos arcar com todas as responsabilidades do existir!

Não é fácil viver sem Deus. Muitos tentaram e não foram bem-sucedidos. Por outro lado, se Ele existe, Suas promessas também são reais e alcançaremos a vida eterna. Se há uma oração que até um ateu poderia sinceramente fazer, esta seria: “Senhor, que Tu existas! Amém.”