Quando John F. Kennedy fez seu discurso de posse da presidência dos Estados Unidos, em 20 de janeiro de 1961, seu discurso tinha apenas 1.366 palavras, mas deixou uma marca indelével na mente dos norte-americanos. Ao incentivar seu país a se concentrar em suas responsabilidades e não em seus privilégios, ele disse: “Sendo a boa consciência nossa única recompensa segura, e a história, a juíza final de nossos atos; avancemos para conduzir a terra que amamos, pedindo Sua bênção e Sua ajuda, mas sabendo que aqui na Terra a obra de Deus deve ser, verdadeiramente, obra nossa.”
Quando Josué, o líder idoso dos israelitas, sentiu que estava chegando ao fim de sua vida, ele decidiu se dirigir aos líderes da nação e aos israelitas (Js 23 ; 24). Josué 23 se concentra mais no futuro e em como adorar a Deus: exclusivamente. Josué 24 analisa os atos fiéis de Deus no passado, com o objetivo de levar a uma decisão sobre quem merece ser adorado: Yahweh.
Nesta semana, estudaremos o primeiro discurso de Josué, no qual ele fez uma retrospectiva das vitórias de Israel, mas, ao mesmo tempo, estabeleceu o caminho do sucesso futuro para a nação.
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1. O que Josué 21:43-45 diz a respeito de Deus? Como essas palavras se aplicam não apenas à Terra Prometida histórica, mas também à realidade de nossa salvação? 2Tm 2:11-13
Esses versos representam o clímax do livro e resumem sua teologia central. Eles destacam um dos principais temas de todo o livro: a fidelidade de Yahweh à aliança. Ele mantém Suas promessas e cumpre Seus juramentos. Essa pequena seção também resume todo o conteúdo do livro até agora. Josué 21:43 fala da alocação e do assentamento da terra (capítulos 13–21), enquanto Josué 21:44 refere-se às vitórias conquistadas sobre os inimigos e ao controle obtido sobre a terra (capítulos 1–12). Toda essa retrospectiva é vista pelo prisma da fidelidade de Deus. Os israelitas deveriam sempre se lembrar de que nunca poderiam reivindicar as vitórias sobre seus inimigos ou a Terra Prometida como sua herança, exceto pela lealdade de Deus à Sua palavra.
Ele deu “toda a terra” (Js 21:43, itálico acrescentado), livrou-os de “todos os seus inimigos” (Js 21:44, itálico acrescentado) e, segundo “todas as boas palavras” que havia dito, “tudo se cumpriu” (Js 21:45, itálico acrescentado). A repetição da palavra kol (que significa “tudo”, “toda”, etc.) seis vezes em três versos (Js 21:43-45) enfatiza mais uma vez a verdade de que a terra era uma dádiva de Yahweh, e Israel não podia levar nenhum crédito por tê-la recebido. Foi o Senhor quem jurou “dar” a terra e quem “entregou” seus inimigos em suas mãos.
Todo o sucesso de Israel deveria ser atribuído exclusivamente à iniciativa divina e à confiabilidade de Deus. Isso é igualmente verdadeiro com relação à nossa salvação: “Pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:8, 9).
Enfatizando a fidelidade de Deus, Paulo também escreveu: “Fiel é esta palavra: ‘Se já morremos com Ele, também viveremos com Ele; se perseveramos, também com Ele reinaremos; se O negamos, Ele, por sua vez, nos negará; se somos infiéis, Ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar a Si mesmo’” (2Tm 2:11-13).
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A gloriosa conclusão de toda a seção (Js 21:43-45) traz em si a condição cumprida da obediência. O sucesso nunca é automático; ele está sempre ligado à obediência à Palavra de Deus. Assim, a distribuição do território, além de ser o símbolo da fidelidade de Deus a Israel (Ne 9:8), abriu espaço para um desdobramento futuro que dependeria da atitude de Israel: a nação seria capaz de preservar o que havia sido conquistado?
2. Leia Josué 23:1-5. Quais são as principais ideias da introdução de Josué?
O discurso de Josué passou do orador idoso (enfatizado duas vezes) para o público, que agora teria de levar adiante a missão confiada a eles por Deus. O líder de Israel descreveu como a conquista da terra foi possível: o Senhor havia lutado por eles. Ainda que, por causa de sua infidelidade e descrença, os israelitas tivessem que se envolver em guerras após o êxodo, não foi por meio de seu poder militar que eles conseguiram possuir a terra, mas pela intervenção de Deus.
O Senhor deu a Israel descanso de seus inimigos, mas ainda restavam algumas nações que precisavam ser eliminadas. A vitória não era uma realidade consumada e imutável para Israel, mas uma possibilidade sempre presente pela confiança constante e fiel na ajuda disponível de Deus.
3. Quais são as semelhanças entre a forma como os israelitas conquistaram Canaã sob a liderança de Josué e a forma como os cristãos de hoje podem viver uma vida espiritual vitoriosa? Js 23:10; Cl 2:15; 2Co 10:3-5; Ef 6:11-18
As vitórias dos israelitas não podiam ser atribuídas à sua força e estratégia. Da mesma forma, a vitória espiritual sobre o pecado e a tentação foi garantida por meio do sacrifício e da ressurreição de Jesus Cristo, mas o povo de Deus hoje precisa contar constantemente com os suprimentos espirituais concedidos pelo Espírito Santo para viver uma vida triunfante.
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Usando as mesmas palavras que Deus lhe dirigiu no início do livro (Js 1:7, 8), Josué declarou que a tarefa que Israel tinha pela frente não era primordial-mente de natureza militar, mas espiritual. Tinha a ver com a obediência à vontade revelada de Deus na Torá.
4. Por que você acha que Josué assumiu uma posição tão firme quanto ao relacionamento de Israel com as nações vizinhas? Js 23:6-8, 12, 13
O perigo que Israel enfrentava não era a ameaça da hostilidade das demais nações, mas o risco da amizade delas. Suas armas podiam não representar nenhuma ameaça para Israel; no entanto, sua ideologia e seus valores podiam ser mais prejudiciais do que qualquer força militar. Josué chamou a atenção dos líderes para o fato crucial de que o conflito em que tinham se envolvido era, em primeiro lugar, espiritual. Portanto, Israel pre-cisava manter sua identidade especial.
A proibição de invocar o nome de algum deus pagão, jurar por ele e servi-lo ou curvar-se a ele tinha a ver com idolatria. No Antigo Oriente Próximo, o nome de uma divindade representava sua presença e poder. Invocar ou mencionar os nomes de deuses estrangeiros em saudações ou transações comerciais era reconhecer sua autoridade e ajudava a levar os israelitas a buscar seu poder em momentos de necessidade (Js 2:1-3, 11-13).
O perigo do casamento com os cananeus restantes estava em perder a pureza espiritual de Israel. A intenção da advertência de Josué não era pro-mover uma suposta pureza racial ou étnica, mas evitar a idolatria, que podia levar ao colapso espiritual de Israel. O caso de Salomão é um exemplo bastante claro das tristes consequências espirituais do casamento entre pessoas de religiões diferentes (1Rs 3:1; 11:1-8). No NT, os cristãos são advertidos contra a busca de relacionamentos conjugais com descrentes (2Co 6:14), embora, no caso de casamentos que já tivessem ocorrido, Paulo não aconselhou o crente a se divorciar do cônjuge incrédulo, mas o chamou a ter uma vida cristã exemplar na esperança de ganhar o cônjuge para o Senhor (1Co 7:12-16).
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5. Como entender o tema da ira e da justiça retributiva de Deus apresentado em Josué e em outras partes das Escrituras? Js 23:15, 16; Nm 11:33; 2Cr 36:16; Ap 14:10, 19; 15:1
Israel já havia experimentado a ira do Senhor durante as peregrinações pelo deserto (Nm 11:33; 12:9), bem como na Terra Prometida (Js 7:1). Portanto, estava plenamente consciente das consequências de provocar a ira de Yahweh ao quebrar abertamente a aliança. Esses versos representam o clímax do discurso incisivo de Josué. É chocante ouvir que o Senhor destruiria Israel, já que o mesmo termo foi usado anteriormente para se referir à aniquilação dos cananeus. Tão certo quanto as promessas do Senhor foram fielmente cumpridas em relação à bênção de Israel, as maldições da aliança também se tornariam verdadeiras se os israelitas rejeitassem essa aliança (Lv 26; Dt 28). À luz da desapropriação e destruição dos cananeus, esses versos demonstram mais uma vez que Yahweh é, em última instância, o Juiz de toda a Terra. Ele declara guerra contra o pecado, independentemente de onde ele se encontre. Israel não foi santificado e não adquiriu méritos especiais por meio da participação na guerra santa, assim como as nações pagãs não o foram quando mais tarde se tornaram o meio de juízo de Yahweh contra a nação escolhida.
Estava dentro do poder de escolha de Israel fazer das gloriosas certezas do passado a base para enfrentar o futuro. À primeira vista, o ensino bíblico sobre a ira de Deus parece ser contrário à afirmação de que Ele é amor (Jo 3:16; 1Jo 4:8). No entanto, é exatamente à luz da ira divina que a doutrina bíblica do amor de Deus se torna ainda mais relevante. Primeiro, a Bíblia apresenta Deus como amoroso, paciente e pronto a perdoar (Êx 34:6; Mq 7:18). No entanto, no contexto de um mundo afetado pelo pecado, a ira do Senhor é a atitude de Sua santidade e justiça quando confrontada com o pecado e o mal. Sua ira nunca é uma atitude simplesmente emocional, vingativa e imprevisível. O NT ensina que Cristo Se tornou pecado por nós (2Co 5:21) e, por meio de Sua morte, fomos reconciliados com Deus (Rm 5:10). Quem crer Nele não terá de enfrentar a ira de Deus (Jo 3:36; Ef 2:3; 1Ts 1:10). O conceito da ira divina apresenta o Senhor como o justo Juiz do Universo e Aquele que promove a justiça (Sl 7:11; 50:6; 2Tm 4:8).
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A única maneira pela qual Israel poderia evitar a tentação da idolatria e a ira de Deus não era se lembrando constantemente das proibições da aliança, mas promovendo uma fidelidade consciente e consistente ao Senhor. O mesmo verbo, “apegar-se, aderir” ao Senhor (ver Dt 4:4), também é usado para descrever a aliança matrimonial (Gn 2:24) ou a lealdade de Rute a Noemi (Rt 1:14). É importante observar que, de acordo com a avaliação de Josué, essa fidelidade havia caracterizado Israel como nação “até o dia de hoje”. Infelizmente, a mesma afirmação não seria verdadeira em períodos posteriores da história de Israel, como o livro de Juízes infelizmente demonstra (Jz 2:2, 7, 11; 3:7, 12; 4:1).
6. Josué apelou a Israel para que amasse o Senhor, seu Deus (Js 23:11; compare com Dt 6:5). O amor não pode ser forçado; caso contrário, ele deixará de ser o que é essencialmente. No entanto, em que sentido o amor pode ser ordenado?
Para que Israel desfrutasse continuamente das bênçãos da aliança, teria que permanecer fiel a Deus. O hebraico é extremamente enfático: “Tenha muito cuidado para o bem de sua própria alma.” A palavra ’ahabah (“amor”) pode se referir a várias afeições humanas, incluindo apego amigável, intimidade sexual, ternura maternal, amor romântico e lealdade a Deus. Se entendermos o amor a Deus como o compromisso e a devoção consciente a Ele, esse amor pode ser ordenado sem que isso seja contrário à sua essência (ver Jo 13:34). Deus sempre pretendeu que a obediência a Seus mandamentos surgisse de um relacionamento pessoal com Ele, que se baseia no que Ele fez por nós em Sua grande misericórdia e amor: “[Eu] os trouxe para perto de Mim” (Êx 19:4; ver Dt 6:5; Mt 22:37).
O mandamento de amar a Deus também revela que esse amor deve ser recíproco, mesmo que os dois lados não estejam no mesmo nível. Deus deseja entrar em um relacionamento profundo e pessoal com cada pessoa que retribui Seu amor. Assim, Seu amor por todos é o fundamento para que expressemos nosso amor voluntário e recíproco.
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Leia, de Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 456, 457 (“As últimas palavras de Josué”).
“Satanás engana muitos com a plausível teoria de que o amor de Deus para com Seu povo é tão grande que desculpará seu pecado. Alega que, embora as ameaças da Palavra de Deus tenham algum propósito em Seu governo moral, não se cumprirão literalmente. Entretanto, em toda a maneira de tratar Suas criaturas, Deus tem mantido os princípios da justiça, revelando o pecado em seu verdadeiro caráter e demonstrado que seu resultado certo é miséria e morte. Nunca houve nem nunca haverá perdão incondicional do pecado. Tal perdão mostraria o abandono dos princípios de justiça que constituem o próprio fundamento do governo de Deus e encheria de espanto o universo dos seres não caídos. [...] A suposta benevolência que rejeita a justiça não é benevolência, mas fraqueza.
“Deus é o doador da vida. Desde o princípio, todas as Suas leis foram estabelecidas em favor da vida. Contudo, o pecado se intrometeu na ordem que Deus tinha estabelecido, e o resultado foi a discórdia. Enquanto o pecado existir, o sofrimento e a morte serão inevitáveis. O ser humano só pode ter esperança de se livrar dos terríveis resultado da transgressão pelo fato de o Redentor ter suportado em nosso favor a maldição do pecado” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 457).
Perguntas para consideração
1. Que evidências da fidelidade de Deus você percebeu em sua vida? Como você reage quando as coisas não acontecem como esperava, ou quando as promessas de Deus parecem não se cumprir?
2. Discuta o ensino bíblico sobre a ira de Deus. Como você apresentaria a ira do Senhor como parte do evangelho (ou seja, boas-novas)?
3. Que princípios vimos nesta semana quanto à associação com incrédulos? Como equilibrar os limites em termos de princípios e práticas ao nos misturarmos com as pessoas para servi-las?
4. Quais obstáculos impedem você de se apegar ao Senhor?
Respostas às perguntas da semana: 1. Josué 21:43 a 45 revela que Deus é absolutamente fiel no cumprimento de Suas promessas. Assim como deu a terra a Israel, garante nossa salvação em Cristo. 2. Em Josué 23:1 a 5, o líder destaca que a vitória vem de Deus e que Ele continuaria lutando por Israel. Josué sugere a necessidade de obediência contínua e o perigo de ser infiel à aliança. 3. A conquista de Canaã prefigura nossa batalha espiritual que requer fé ativa, armas espirituais e a certeza de que Cristo é vencedor. 4. Josué proibiu alianças com nações pagãs porque a contaminação espiritual destruiria Israel – princípio que aplicamos à separação do pecado. 5. A ira de Deus é a justa resposta ao mal persistente, mas equilibrada com misericórdia, culminando no juízo final. 6. Ordenar amor a Deus significa exigir lealdade prática, não apenas sentimentos – amor que se prova na obediência. O povo podia se esquecer dos motivos para amar a Deus. E amar é uma escolha. Por isso, Josué apelou para que o povo amasse a Deus.
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TEXTO-CHAVE: Js 21:45
FOCO DO ESTUDO: Js 21:43-45; 2Tm 2:11-13; Js 23; Ap 14:10, 19; Dt 6:5
ESBOÇO
Introdução: A Bíblia relaciona a história com um propósito específico. Os autores não são observadores neutros; eles sempre visam transmitir uma mensagem teológica. Eles descrevem a versão inspirada do que aconteceu, mas também estão interessados no significado da história. A inspiração divina deu aos historiadores bíblicos a visão correta para enxergar a história. O significado profético do livro de Josué é mais evidente na tradição hebraica, que inclui o livro na seção chamada “Nevi’im” (os profetas). A história entre Josué e 2 Reis é conhecida como os “antigos profetas” e faz parte do contexto histórico que preparou o cenário para a compreensão dos profetas maiores e menores, que são conhecidos como os “últimos profetas” no cânon hebraico.
Os discursos finais de Josué no livro apresentaram seu núcleo teológico. A mensagem principal pode ser resumida em três palavras: “Deus é fiel”. Como Ele também é poderoso, nenhuma de Suas promessas pode falhar. O livro apresenta a perspectiva bíblica de que a história progride de acordo com o propósito soberano de Deus, independentemente da resposta de Israel. No entanto, ressaltou que, para o povo de Israel receber e manter as bênçãos de Deus, ele também deveria ser fiel.
Lamentavelmente, as gerações subsequentes não deram ouvidos a essa advertência, conforme mostrado no fluxo canônico das Escrituras. Nesse contexto, Josué e Juízes representaram dois lados da história bíblica: o primeiro foi a fidelidade inabalável de Deus, e o segundo, a infidelidade persistente de Israel.
COMENTÁRIO
A fidelidade de Deus se tornou aparente no relacionamento com Seus filhos dentro do contexto da aliança. O relato bíblico retrata a devoção inabalável de Deus à Sua aliança, apesar da atitude de retrocesso dos seres humanos. A fidelidade de Deus é um atributo de Seu caráter (Dt 32:4 ; Is 49:7), que está enraizado em Seu amor leal (?esed ; Dt 7:9). De fato, o amor leal e a fidelidade de Deus são frequentemente mencionados em união (Mq 7:20). O compromisso divino de manter Suas promessas apesar das vergonhosas falhas humanas é uma manifestação concreta do amor leal de Deus (?esed), evidente em todas as alianças da Bíblia, da aliança adâmica à davídica .
Aliança adâmica
A promessa fundamental da aliança adâmica envolvia numerosos descendentes e domínio sobre a terra (Gn 1:28). Os seres humanos, como portadores da imagem de Deus, foram feitos para prosperar como co-governantes de Deus, reproduzindo a vida e governando a criação. No entanto, essa bênção divina foi interrompida pela desobediência humana. Apesar dessa interrupção, os planos de Deus não foram frustrados. Na nova realidade, o parto se tornou doloroso (Gn 3:16), e a interação humana com a terra foi diretamente impactada (Gn 3:17-19). No entanto, apesar do fracasso humano, Deus permaneceu comprometido com Seu plano e prometeu que a Semente da mulher destruiria a serpente e restauraria o domínio perdido (Gn 3:15). O trágico capítulo 3 de Gênesis fechou com Adão nomeando Eva (em hebraico, “vida”), que se tornaria a mãe de toda a vida (Gn 3:20), indicando claramente que a morte não teria a palavra final.
Aliança noéica
Em Gênesis 6, o pecado levou a humanidade quase a um ponto sem retorno. No reino moral, houve um processo de descriação, revertendo a boa criação a um estado em que os propósitos do coração eram continuamente maus (Gn 6:5). Então, não é surpresa que a descriação tenha ocorrido no mundo natural também, trazendo a terra ao estado inicial de silêncio aquoso. O silêncio foi quebrado apenas por Noé e sua família na arca. Após o dilúvio, Deus renovou a aliança adâmica com Noé, usando a mesma fraseologia encontrada em Gênesis 1:28 (Gn 9:1). Como um novo Adão, Noé foi abençoado com a promessa de muitos descendentes e domínio. No entanto, Noé também falhou. Ecoando a queda, Noé tomou o fruto do vinho, bebeu e se expôs, ficando nu, como Adão e Eva antes dele. Como resultado de sua ação, uma maldição, que definiu o futuro de sua descendência, foi pronunciada. Mas ainda assim, Deus permaneceu comprometido com Seu plano.
Aliança abraâmica
A história primitiva foi concluída com Gênesis 11, onde a humanidade mais uma vez se rebelou contra Deus. Em uma tentativa de frustrar o plano original de Deus de espalhar a humanidade e estabelecer um domínio independente Dele (“tornemos célebre o nosso nome” [Gn 11:4]), os humanos construíram a Torre de Babel, que se tornou um monumento à confusão. Lançando dúvidas sobre a fidelidade de Deus às Suas promessas, eles personificaram o legalismo ao buscarem salvar a si mesmos sem Ele. De uma perspectiva canônica, o aparecimento de Abraão nesse ponto não foi coincidência. O chamado de Abraão mostrou que nem tudo estava perdido. Ainda havia fidelidade naquela terra. Os mesmos elementos da bênção original foram encontrados na aliança abraâmica: numerosos descendentes e domínio (Gn 12:1-3). Essa aliança marcou um novo começo para a criação. De fato, os paralelos entre as alianças abraâmica e noéica foram notáveis e indicavam que foram fases diferentes da mesma aliança. No entanto, como Adão, Abraão falhou ao dar ouvidos ao conselho de Sara de tomar Hagar como esposa. Os paralelos entre a queda de Adão e as ações de Abraão são evidentes, comparados na tabela abaixo.

Sem dúvida, Abraão foi obediente, mas sua obediência era frágil. Seus descendentes seguiram seu exemplo, mas também falharam em atingir o padrão. De fato, a linhagem fiel se tornou um caos no período entre Isaque e Jacó. Ainda assim, Deus os usou para ser uma bênção para as nações (como visto na história de José, em que a vida foi preservada e a semente abraâmica manteve seu propósito), mas eles acabaram ficando presos no Egito, onde mais tarde seriam escravizados. No entanto, Deus permaneceu firme em Seu compromisso com Seu plano.
Aliança mosaica
Mesmo quando o povo de Deus foi escravo no Egito, Seu plano para ele estava progredindo. Os ecos de Gênesis 1:28 eram evidentes em Êxodo 1:7: “Os filhos de Israel foram fecundos, aumentaram muito, se multiplicaram e se tornaram extremamente fortes, de maneira que a terra se encheu deles”. Faltava apenas um elemento: o domínio. E foi aí que surgiram as preocupações do Faraó. Ele criou um plano para reduzir o número de israelitas, temendo que se tornassem mais fortes do que os egípcios e, finalmente, os dominassem. Nesse contexto, o Faraó estava, portanto, intervindo no plano original de Deus, e por essa razão ele e seu reino foram julgados.
Deus tirou Seu povo do Egito para renovar a aliança com eles no monte Sinai. E, novamente, a humanidade ficou aquém da expectativa divina. Moisés ainda estava no topo da montanha quando o povo começou a adorar o bezerro de ouro, atribuindo a ele sua libertação da escravidão (Êx 32:4). Poucas semanas depois, Israel estava novamente em rebelião, recusando-se a entrar em Canaã por causa de sua descrença (Nm 14:11). Mas Deus ainda estava comprometido com Seu plano. É verdade que em cada aliança novos participantes humanos apareceram, e Deus Se adaptou às novas circunstâncias. Mas Sua fidelidade permaneceu inalterada.
Aliança davídica
A conquista inicial sob a liderança de Josué foi um sucesso, mas ainda precisava ser concluída. Além da necessidade de terminar de ocupar o território, o povo de Deus precisava manter o que foi conquistado. O período dos juízes mostra o fracasso da segunda geração em fazer isso. Em Sua misericórdia, Deus levantou libertadores (chamados de juízes) para defender Israel. Mas, conforme a história progredia, até mesmo esses juízes se tornaram infiéis, e o caos se instalou. Deus chamou Samuel para ser sacerdote, juiz e profeta simultaneamente. À medida que ele envelhecia, porém, o povo percebeu que seus filhos não seguiriam seus passos e, motivados pelo exemplo de outras nações, pediram um rei.
Novamente Deus adaptou Seu plano, um movimento já previsto em Deuteronômio, e permitiu que Israel escolhesse um rei. Saul parecia ser a escolha perfeita, mas sua conduta revelou que ele era um rei de acordo com o coração do povo. Após sua rejeição, Davi foi ungido rei por Samuel. Deus reafirmou Suas promessas a Abraão em Sua aliança com Davi: daria a ele um grande nome, um lugar para Israel e uma descendência (2Sm 7:9-14). No entanto, Davi e seus descendentes também falharam miseravelmente, levando Israel a se dividir em dois reinos, finalmente destruídos (como ocorreu com o reino do norte) ou exilados (o que aconteceu com o reino do sul). No entanto, Deus ainda Se manteve fiel ao Seu plano e não desistiu de Seu povo.
Essa sequência de alianças mostra um padrão de bênção, pecado e graça. Ela demonstrou que a fidelidade e o amor leal (?esed) de Deus permaneceram constantes ao longo dos tempos. Jesus inaugurou a Nova Aliança, que, com base em Seus méritos, não falharia como as anteriores. Nas linhas escatológicas de Daniel a Apocalipse, fica claro que, em Jesus, as bênçãos originais de Gênesis 1 e 2 são restauradas à humanidade: as numerosas sementes da mulher recebem o reino. O domínio é restaurado às mãos certas novamente (Dn 7:13, 14).
APLICAÇÃO PARA A VIDA
A fidelidade de Deus hoje
Josué encorajou Israel a refletir sobre as promessas e ações passadas de Deus para reconhecer Sua fidelidade no presente (Js 23:2-5).
Reflita sobre sua jornada de vida e identifique as estações em que você testemunhou a fidelidade de Deus mais vividamente do que em outras épocas. Compartilhe seus percepções com a classe.
Um dos versos mais conhecidos sobre a fidelidade de Deus é Lamentações 3:23, no qual Jeremias proclama: “Grande é a Tua fidelidade”. Na época dessa proclamação de Jeremias, o povo de Deus, por causa de sua rebelião, estava em um lugar escuro. Os três pilares fundamentais da sociedade judaica estavam arruinados: a terra, a monarquia e o templo. Mas mesmo diante da dura realidade do exílio e da destruição, o profeta proclamou corajosamente as palavras que inspiraram o amado hino “Tu és fiel, Senhor”.
1. Como você pode ver a fidelidade de Deus em meio aos tempos difíceis da vida?
2. Como o fato de Deus ser confiável e seguro pode ajudá-lo a navegar nas águas turbulentas da vida quando você não vê Suas ações claramente?
3. Considere o contexto imediato de Lamentações 3:23, especialmente os versos 22 e 24. Observe como esses versos ajudam a responder à pergunta acima. Pense nas “misericórdias” (hesed) de Deus, na compaixão e na esperança que Ele nos transmite, no contexto desses versos e à luz da situação de Jeremias. Que encorajamento esses versos lhe dão?
Nossa fidelidade hoje
A fidelidade é identificada como um fruto do Espírito Santo, em Gálatas 5:22.
1. Como você pode espelhar a fidelidade de Deus verticalmente, em seu relacionamento com Ele?
2. Como você pode espelhar a fidelidade de Deus horizontalmente, em sua associação com seus semelhantes?
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De rapper a pregador
Chile | Sebastian
Sebastian vivia duas vidas no Chile.
Em casa e na escola, ele era quieto, estudioso e obediente. Aos sábados pela manhã, ele ia para a igreja com seus pais. Ele até ocupava cargos de liderança na igreja.
Mas depois da escola, e mesmo depois da igreja aos sábados, Sebastian se transformava em um rapper que atraia multidões com suas apresentações.
Sebastian cresceu em um lar adventista. Quando ele era um garoto, seus pais eram professores com espírito missionário que trabalhavam em várias escolas adventistas no Chile.
Quando adolescente, Sebastian não estava interessado na igreja. Ele achava que a única coisa que ela oferecia era monotonia. Ele havia ouvido falar de Deus toda a sua vida, mas nunca havia desenvolvido um relacionamento com Ele através da oração e devoção diária. Tudo que ele sabia sobre Deus era o que ouvia na igreja. Parecia que os planos de Deus não o incluíam.
Fora da igreja, a música hip-hop se espalhava pelo Chile e pelo resto da América do Sul. A música hipnotizava Sebastian, de 14 anos. Ele se sentia transformado quando ouvia. Ele foi particularmente atraído pelo rap freestyle, um estilo de hiphop em que os artistas improvisam versos não escritos para uma batida. Ele se juntava a outros adolescentes em batalhas de rap, onde eles debatiam tópicos como história, ciência e religião. Os participantes tinham que ser bem instruídos para vencer as competições. Como Sebastian ganhou, seus amigos o encorajaram a continuar competindo. Ele competia nos parques da cidade contra pessoas mais velhas em seus vinte e poucos anos. Em um sábado à tarde, ele venceu uma batalha de rap ao defender Satanás com sucesso durante um debate sobre Satanás.
Sebastian gostava do desafio, e apreciava a glória da vitória. Ele usava álcool e outras substâncias que eram comuns nas batalhas de rap. Ele ouvia hip-hop o tempo todo. De alguma forma, ele conseguiu manter suas duas vidas separadas. Seus pais não sabiam que ele levava uma vida dupla.
Quatro anos se passaram. Então a Covid atacou. O Chile entrou em confinamento e Sebastian ficou preso em casa. Ele encontrou batalhas de rap on-line, mas elas não eram as mesmas. Seu mundo perdeu o sentido.
Pela primeira vez, Sebastian pensou em Deus. Ele sentiu-se vazio e cresceu nele um desejo de conhecer a Deus.
Ele cresceu tendo o culto familiar todos os dias, mas nunca pensou em ter um tempo pessoal com Deus. Ninguém jamais havia lhe dito que o caminho para conhecer a Deus era passar tempo com Ele na Bíblia e em oração.
Sebastian queria ter um relacionamento com Jesus e se perguntava se Jesus sentia da mesma maneira. Para descobrir, ele pediu a Jesus um dia para acordá-lo de manhã para passar tempo juntos. Sebastian normalmente dormia até tarde, e era uma luta levantar-se pela manhã. Mas depois que ele orou fazendo esse pedido, ele começou a acordar às 5 ou 6 horas.
Ele estava tão feliz e até mesmo aliviado. Ele tinha certeza de que Jesus estava dizendo: “Estou vivo e interessado em ter um relacionamento com você”.
Ao ler a Bíblia, Sebastian percebeu que era mais do que um livro. As passagens da Bíblia eram mais profundas e atraentes do que qualquer verso de rap que ele pudesse improvisar. Pela primeira vez, ele parou de se sentir vazio. Ele não se sentia mais sozinho. Ele passava muitas horas com Deus, lendo a Bíblia e em oração durante a pandemia da Covid.
Quando as restrições foram suspensas, Sebastian se juntou a um grupo de jovens adventistas para vender livros de porta em porta. A experiência fortaleceu a transformação interna iniciada durante a pandemia. Ao compartilhar seu amor por Jesus, Sebastian sentiu o chamado de Deus para se tornar um pastor.
Hoje, Sebastian tem 21 anos e está estudando Teologia na Universidade Adventista do Chile. Ele é considerado um aluno estrela, e seus professores o enviaram para a Bolívia para participar de uma conferência sobre a Criação organizado pela Divisão Sul-Americana. Ele também atua com capelão estudantil.
Sebastian expressou sua gratidão a Deus pela oportunidade de estudar na Universidade Adventista do Chile.
“Sinto que é realmente um ato de graça para com minha vida pois vejo onde estava e onde estou, e há uma diferença radical”, disse ele. “Tive que mudar meu estilo de vida, meus pensamentos, as coisas que eu ouvia e as coisas que eu consumia”.
Ele acrescentou: “Deus ainda está trabalhando em mim. Espero ser digno do chamado que Ele fez a mim”.
Parte da oferta deste trimestre, também conhecida como oferta para projetos missionários, irá para a Universidade Adventista do Chile, em Chillán, no Chile. A oferta permitirá que mais 50 alunos vivam nos dormitórios do campus. Atualmente, a universidade tem cerca de 3.000 alunos, a maioria deles não é adventista e vive fora do campus. Os dormitórios ampliados estarão disponíveis para todos, mas são especialmente necessários para os alunos adventistas de Teologia e Educação que vêm de lugares distantes para a universidade e estão se preparando para trabalhar em igrejas e escolas adventistas. Sebastian mora em um dos dormitórios que será ampliado com a oferta. Muito obrigado por planejar uma oferta generosa.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2025
Tema geral: Josué
Lição 12 de dezembro – 13 a 19 de dezembro
Deus é Fiel
Autor: Volney da Silva Ribeiro
Editoração: Lucas Diemer de Lemos
Revisão: Rosemara Franco Santos
Gratidão e fidelidade
Ao contemplarmos as palavras de Josué em seus últimos momentos de liderança, percebemos que ele nos convida a um equilíbrio espiritual essencial: olhar para trás com gratidão e para frente com fidelidade. Josué lembrou a Israel que cada conquista só havia sido possível porque Deus Se manteve fiel às Suas promessas. Porém, essa fidelidade divina exigia uma resposta humana: exclusividade na adoração e compromisso diário com a obediência. O veterano líder sabia que o futuro do povo dependia da disposição do coração em permanecer firme no Deus que nunca falha. O mesmo princípio se aplica à igreja hoje: nossa segurança espiritual não está apenas nas bênçãos já recebidas, mas na decisão contínua de servir ao Senhor com inteireza de propósito, confiando que Aquele que cumpriu todas as Suas palavras no passado continuará conduzindo Seu povo com a mesma fidelidade no presente e no futuro.
Segurança na jornada
Josué 21:43 a 45 nos apresenta um retrato consistente do caráter de Deus, cuja fidelidade transforma promessas em realidade. Israel podia olhar para a terra conquistada, para os inimigos derrotados e para o descanso finalmente alcançado e reconhecer que nada daquilo era fruto de mérito humano, mas expressão direta da graça e do compromisso divino com Sua aliança. Essa mesma lógica espiritual se aplica à igreja hoje: se Deus foi fiel em cada detalhe do passado, então Seu agir presente e futuro está igualmente garantido. Assim, ao enfrentarmos tentações, provações ou períodos em que Sua intervenção parece demorar, somos convidados a lembrar que o Deus que cumpriu “tudo” para Israel é o mesmo que prometeu sustentar-nos diante da tentação (1Co 10:13) e confirmar cada palavra proferida (2Co 1:20).
Dessa forma, a fidelidade divina é uma lembrança inspiradora e uma base sólida para a perseverança, pois nos conecta a um Deus cujo caráter não sofre variação. Ela orienta nossas escolhas quando nos sentimos pressionados pelas incertezas, fortalece nossa confiança no meio do caos e nos consola quando tudo ao redor parece instável. Além disso, renova diariamente em nós a convicção de que não caminhamos sozinhos, mas acompanhados por Aquele que jamais falhou em Suas promessas. Assim, somos impulsionados a seguir adiante com esperança até o dia em que todas as promessas, inclusive a da redenção final, se cumprirão plenamente na presença do nosso Senhor.
Chamado à fidelidade
Josué procura despertar no povo uma consciência de responsabilidade espiritual. Ele, já avançado em idade, lembra Israel que toda conquista até ali só foi possível porque o Senhor havia lutado por eles. Contudo, Josué também aponta para um desafio presente: ainda havia inimigos na terra, e a preservação da herança dependeria da fidelidade contínua do povo. Ao enfatizar que Deus ainda expulsaria as nações remanescentes, o líder deixa claro que a experiência passada não garantia automaticamente um futuro seguro. Era necessária uma dependência constante de Deus e obediência perseverante à Sua Palavra.
A experiência de Israel ao conquistar Canaã sob a liderança de Josué é um retrato espiritual da vida cristã. Os israelitas venceram porque o Senhor lutou por eles. De modo semelhante, Cristo já venceu as forças do mal na cruz (Cl 2:15), e a vitória que vivemos diariamente só se explica pela ação do Espírito Santo em nós. Assim como Israel precisava confiar no poder divino para expulsar as nações restantes, os cristãos precisam vestir diariamente a armadura de Deus (Ef 6:11-18), buscando força na oração, na Palavra e na dependência constante da graça. A vitória está ao alcance, mas não é automática. Ela se manifesta apenas quando permanecemos conectados Àquele que luta por nós, permitindo que Sua graça fortaleça nossa fraqueza e Sua presença molde nossa caminhada diária.
Vigilância espiritual
Josué falou com muita firmeza porque entendia que a verdadeira ameaça para Israel não estava na força militar das nações vizinhas, mas na sedução sutil de seus valores, crenças e práticas religiosas. Ele sabia que o coração se perde muito antes que a batalha se perca e que a identidade espiritual de Israel correria perigo se a convivência, os vínculos e os compromissos com os povos ao redor enfraquecessem sua lealdade exclusiva ao Deus da aliança. Por isso, insistiu para que o povo evitasse alianças que abrissem portas à idolatria, não por etnocentrismo, mas por cuidado pastoral.
O mesmo princípio se aplica hoje a nós: o desafio moderno não é viver isolados do mundo, mas não permitir que o mundo dite nossos valores. Relacionamo-nos com todos, trabalhamos, estudamos e convivemos, mas guardamos um coração firmado na Palavra, discernindo amizades, parcerias e influências que possam nos afastar de Cristo. O equilíbrio está em viver de forma missionária, sem absorver aquilo que compromete nossa identidade espiritual, lembrando que a maior batalha da fé acontece em nossa mente.
Justiça e graça
A Bíblia apresenta a ira de Deus não como explosão emocional, mas como a resposta justa e santa de um Deus que ama profundamente e que não compactua com o mal. Israel conhecia bem esse aspecto do caráter divino, pois havia experimentado as consequências da infidelidade tanto no deserto quanto na Terra Prometida. Josué, no fim de sua vida, lembrou ao povo que as mesmas promessas que garantiram bênçãos também sustentavam as advertências: rejeitar a aliança seria rejeitar a proteção divina e enfrentar o juízo, realidade tão séria que o próprio Israel poderia sofrer o mesmo destino dos cananeus.
Longe de contradizer o amor de Deus, a ira divina o confirma, pois é justamente porque Ele ama que Se opõe ao pecado que corrói, escraviza e destrói Seus filhos. A cruz evidencia essa realidade de maneira ainda mais profunda: ali, Cristo tomou voluntariamente sobre Si nossa culpa, revelando que a justiça de Deus não objetiva punir o pecador, mas abrir-lhe o caminho da reconciliação. Pela fé, somos libertos da ira futura e acolhidos no abraço restaurador Daquele que não tolera o mal porque deseja preservar a vida. Assim, a ira divina não revela um Deus severo e arbitrário, mas um amor santo que leva a sério tanto a justiça quanto a redenção de cada ser humano.
Amor e fidelidade
Josué nos lembra de que a única forma de Israel permanecer protegido da idolatria e da ruptura espiritual era cultivar um relacionamento de apego profundo e intencional ao Senhor, um compromisso que envolve afeto, decisão e perseverança. O verbo “apegar-se” descreve justamente essa relação de aliança, semelhante ao vínculo matrimonial, sustentada por escolhas diárias, e não apenas por sentimentos passageiros. Por isso, quando Deus ordena que Seu povo O ame, Ele não está exigindo sentimentalismo religioso, mas chamando-nos a uma resposta consciente ao amor que já demonstrou primeiro. Amar ao Senhor significa manter-se ligado a Ele, confiar em Sua liderança e obedecer a Seus mandamentos como expressão de lealdade.
Desse modo, o amor torna-se a resposta natural da gratidão: nasce do que Deus fez, manifesta-se na obediência e se aprofunda enquanto caminhamos com Ele. Assim, ordenar o amor não contraria sua essência, mas direciona nosso coração à única fonte capaz de torná-lo possível: o próprio Deus. Amar ao Senhor, pois, é alinhar o coração com Sua vontade, permitir que Sua graça molde nossos afetos e escolher permanecer com Aquele que nos libertou e nos trouxe para Si. Esse amor torna-se a base da obediência, como expressão viva de um relacionamento transformador, capaz de sustentar nossa fidelidade mesmo em meio às adversidades da vida.
Conclusão
Josué nos lembra de que viver na “Terra Prometida” exige maturidade espiritual e constância na aliança com Deus. A fidelidade manifestada por Deus no passado deveria produzir no povo gratidão, confiança e obediência, pois o maior perigo não vinha dos inimigos externos, mas da deterioração interna da fé. Por isso, ele convoca Israel a manter viva a memória das obras divinas, a cultivar vigilância e a se apegar diariamente ao Senhor como expressão de lealdade. Da mesma forma hoje, Cristo já conquistou a vitória por nós, mas a jornada cristã requer permanência, dependência e um amor que se traduz em escolhas diárias. Assim, avançamos confiantes rumo ao cumprimento final das promessas de Deus, fortalecidos pela graça que nos sustenta.
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Volney da Silva Ribeiro é professor, escritor e teólogo. É graduado em Letras (português e espanhol) e em Teologia. Além disso, é pós-graduado em Gestão Educacional. Foi diretor pedagógico e administrativo de escola particular (2008 a 2010), vice-diretor de uma creche-escola (2024 e 2025) e consultor pedagógico da Associação Cearense da Igreja Adventista do Sétimo Dia (2020 a 2022). Desenvolve o ministério de pregação há mais de duas décadas e serve a Deus atualmente como primeiro-ancião na Igreja Adventista do Sétimo Dia de Aldeota, em Fortaleza, Ceará.

