O capítulo final de Josué se dá no contexto de uma cerimônia de renovação d a aliança, mas dessa vez conduzida pelo líder idoso de Israel. Embora não seja uma aliança propriamente dita, mas um relato de uma cerimônia de renovação d a aliança, o capítulo possui os elementos dos tratados de suserania do Antigo Oriente Próximo: (1) um preâmbulo no qual o suserano, o iniciador do tratado, é identificado; (2) o prólogo histórico, que descreve o relacionamento entre o suserano e o vassalo; (3) as estipulações da aliança pedindo ao vassalo que manifeste total lealdade ao suserano com base na gratidão e motivado por ela; (4) bênçãos pela obediência e maldições pela quebra da aliança; (5) testemunhas do juramento do vassalo; (6) depósito do documento para leitura futura; e (7) ratificação da aliança.
Josué se aproximava do fim de sua vida; não havia nenhum substituto à vista. A renovação da aliança era um lembrete para Israel de que seu rei era o próprio Yahweh e que, se permanecesse fiel a Ele, desfrutaria de Sua pro teção. Israel não precisava de um rei humano. Como uma nação teocrática, precisava ter sempre em mente que seu único rei era o Senhor.
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“Depois Josué reuniu todas as tribos de Israel em Siquém e chamou os anciãos de Israel, os seus chefes, os seus juízes e os seus oficiais, e eles se apresentaram diante de Deus” (Js 24:1).
Siquém foi o lugar em que Abraão havia construído um altar ao chegar àquela terra e onde Deus lhe dera a promessa da Terra Prometida pela pri-meira vez (Gn 12:6, 7). Agora, quando as promessas feitas a Abraão haviam sido cumpridas, Israel estava renovando a aliança com Deus no mesmo lugar em que a primeira promessa tinha sido feita no início. O apelo de Josué relembra as palavras de Jacó: “Joguem fora os deuses estranhos que há no meio de vocês” (Js 24:23; compare com Gn 35:2-4). A geografia do evento, por si só, transmitia o chamado para demonstrar lealdade total ao Senhor, rejeitando todos os outros “deuses”.
1. Leia Josué 24:2-13. Qual é a ideia principal da mensagem de Deus para Israel?
Deus é o principal agente das ações do passado revisado: “tomei”, “dei”, “enviei”, “atormentei”, “fiz”, “te tirei”, “te livrei”, etc. Israel não era o protagonista da narrativa, mas seu coadjuvante. Foi Deus que havia criado Israel. Se Ele não tivesse intervindo na vida de Abraão, eles estariam ser-vindo aos mesmos ídolos. A existência de Israel como nação não era mérito de nenhum de seus ancestrais, mas obra exclusiva da graça de Deus. O fato de os israelitas serem estabelecidos na Terra Prometida não era motivo para se vangloriarem, mas a própria razão pela qual deveriam servir a Deus.
O discurso do Senhor contém uma mudança que ocorre cinco vezes entre “vocês” e “eles” (os antepassados). Os ancestrais e a geração de Siquém foram tratados como um só. Josué estava procurando mostrar o que Moisés já havia afirmado em Deuteronômio 5:3, que o Senhor não havia feito a aliança apenas com os antepassados, mas com todas as pessoas que esta-vam presentes no momento do discurso de Josué. A grande maioria que estava lá não tinha vivenciado o êxodo. Nem “todos” estiveram no Horebe. No entanto, Josué disse que todos eles estiveram lá. Em resumo, as lições do passado devem ser apropriadas pelas novas gerações. O Deus que atuou em favor dos antepassados, no passado, está pronto para agir em favor da geração atual.
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2. O que Josué pediu que os israelitas fizessem? (Js 24:14, 15.) O que significa servir ao Senhor com integridade e com fidelidade?
O apelo de Josué expressava claramente o fato de que Israel precisava decidir se, por meio da lealdade ao Criador, manteria sua identidade especial e viveria na Terra Prometida, ou se voltaria a ser mais um entre muitos povos idólatras, sem identidade, propósito ou missão claros. A escolha era deles.
O apelo de Josué era duplo: Israel deveria temer o Senhor e servi-Lo “com integridade e com fidelidade” (Js 24:14). Temer o Senhor não significa viver em constante medo e insegurança emocional. Ao contrário, refere-se à reverência e ao temor que resultam do reconhecimento da insondável grandeza, santidade e infinitude de Deus, por um lado, e de nossa pequenez, pecaminosidade e finitude, por outro. Temer a Deus é ter uma consciência constante da magnitude de Suas exigências, um reconhecimento de que Ele não é apenas nosso Pai celestial, mas também nosso Rei divino. Essa consciência levará a uma vida de obediência ao Senhor (Lv 19:14; 25:17; Dt 17:19; 2Rs 17:34). Embora a palavra “temor” descreva a atitude interior que devia caracterizar um israelita, o resultado prático da reverência a Deus era o serviço.
O serviço que era exigido de Israel é caracterizado por dois termos hebraicos traduzidos com as seguintes expressões: “com integridade” e “com fidelidade”. O primeiro termo (tamim) é usado especialmente como adjetivo para descrever a perfeição do animal sacrificado. O segundo termo que descreve o serviço de Israel é “fidelidade” ou “verdade” (’emet). O termo geralmente significa constância e estabilidade. Geralmente se refere a Deus, cujo caráter é essencialmente caracterizado pela fidelidade, que se manifesta em relação a Israel.
Alguém fiel é confiável e fidedigno. Basicamente, Josué estava pedindo a Israel que manifestasse a mesma lealdade a Deus que Ele havia demonstrado para com Seu povo ao longo da história. Não se trata apenas de conformidade externa com Suas exigências, mas daquilo que vem do coração. Nossa vida deve refletir gratidão a Deus pelo que Ele fez por nós. É assim que nós, hoje, também devemos nos relacionar com Jesus.
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Como um líder verdadeiro e fiel, Josué respeitava o livre-arbítrio de seu povo e desejava que Israel servisse ao Senhor por livre escolha e não por obrigação. Essa era exatamente a ideia apresentada pelo verbo “escolher” (ver Josué 24:22). Em outras passagens, o termo bak?ar (“escolher”) descreve a eleição de Israel por Yahweh (Dt 7:6, 7; 10:15; 14:2). Israel era livre para rejeitar Yahweh após sua eleição divina, mas isso seria absurdo e sem sentido. Israel poderia aceitar a Deus e continuar a viver ou dar as costas a Ele e deixar de existir.
3. Qual foi a resposta de Israel ao apelo de Josué? (Js 24:16-18.) Por que Josué reagiu daquela maneira à resposta deles? Js 24:19-21
Em sua resposta categoricamente positiva, os israelitas descreveram o Deus dos patriarcas e de seus antepassados como “o nosso Deus” (Js 24:17, 18, itálico acrescentado), a quem estavam dispostos a servir com fidelidade total. Depois de uma afirmação tão inquestionável de sua lealdade, esperaríamos palavras de afirmação e encorajamento de Josué. No entanto, esse não é o caso. O diálogo entre Josué e o povo apresenta uma grande revira-volta, na qual Josué parecia desempenhar o papel de “advogado do diabo”. Ele deixou de falar sobre providência de graça que Deus havia revelado no passado e passou a destacar as dificuldades de servir a Deus.
Josué havia conhecido a instabilidade da primeira geração, que também havia prometido obedecer a Deus (Êx 19:8; 24:3; Dt 5:27), mas que tinha se esquecido rapidamente de suas promessas (Êx 32). Assim, Josué, por meio da retórica, desejava conscientizar os israelitas de algumas verdades. Primeiro, a decisão de servir a Deus é séria. Ela terá de moldar toda a nação de acordo com a revelação de Deus. As bênçãos de buscar esse objetivo são evidentes, mas as consequências da desobediência também devem ser bem compreendidas. O perdão dos pecados não é um direito inalienável da humanidade, mas um milagre da graça de Deus.
Em segundo lugar, a decisão dos israelitas de servir a Deus deveria ser uma decisão pessoal, e não algo imposto por um líder, nem mesmo por Josué.
Terceiro, Israel deveria perceber que os seres humanos são incapazes de servir a Deus com suas próprias forças. Servir ao Senhor não se resumia a seguir formalmente as exigências da aliança, mas requeria um relacionamento pessoal com o Senhor e Salvador (ver Êx 20:1, 2; Dt 5:6, 7).
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4. Leia Josué 24:22-24. Por que Josué precisava repetir seu apelo para que os israelitas se livrassem de seus ídolos?
A ameaça da idolatria não é teórica. Anteriormente, nas planícies de Moabe, em um contexto semelhante, Moisés havia pedido a mesma decisão (Dt 30:19, 20). Os deuses agora em questão não eram os do Egito ou da Mesopotâmia, mas aqueles que estavam “no meio deles”. Assim, Josué pediu ao povo que inclinasse o coração ao Senhor. O termo hebraico usado aqui, natah, significa “esticar”, “dobrar”. Ele descreve um Deus que Se inclina e ouve as orações (2Rs 19:16; Sl 31:2, 3; Dn 9:18). Essa também é a atitude exigida de Israel mais tarde pelos profetas (Is 55:3; Jr 7:24). Ela é empregada para indicar a apostasia de Salomão quando seu coração se inclinou para deuses estrangeiros (1Rs 11:2, 4, 9). O coração humano pecaminoso não possui a tendência natural de se inclinar e ouvir a voz de Deus. São necessárias decisões conscientes de nossa parte para incliná-lo a cumprir a vontade de Deus.
A resposta dos israelitas é literalmente a seguinte: “Daremos ouvidos à Sua voz.” Essa expressão destaca o aspecto relacional da obediência. Israel não deveria simplesmente seguir uma rotina de regras sem vida. A aliança trata de um relacionamento vivo com o Senhor, que não pode ser totalmente expresso por meros regulamentos. A religião de Israel nunca teve a intenção de ser legalista; em vez disso, deveria ser uma relação constante de fé e amor com um Salvador santo e misericordioso.
Mesmo após o povo dizer três vezes que serviria ao Senhor – o que, como Josué ordenou, envolvia remover os deuses estrangeiros do meio deles –, não há relatos de que isso realmente tenha acontecido. Ao longo de todo o livro, o cumprimento das ordens de Josué (ou de Moisés) são mencionados como exemplos de obediência. Mas a ausência disso no fim do livro deixa em aberto o apelo de Josué. O apelo central do livro para servir ao Senhor não se destinava apenas à geração de Josué, mas também a cada nova geração do povo de Deus que ler ou ouvir essa mensagem.
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5. Leia as últimas palavras do livro de Josué, que foram escritas por um editor inspirado por Deus (Js 24:29-33). De que forma essas palavras não se referem apenas ao passado (a vida de Josué), mas também ao futuro?
O epílogo, que relata a morte de Josué e Eleazar, o sumo sacerdote, encerrou o livro de Josué com um final sóbrio. Ao descrever o enterro de Josué, de Eleazar e dos ossos de José, o autor apresentou um contraste entre a vida fora da Terra Prometida e o início da vida dentro dela. Não havia mais necessidade de ficar vagando. Os restos mortais dos líderes não precisavam mais ser carregados com eles. Os patriarcas sepultaram seus parentes na caverna “de Macpela, em frente de Manre, que é Hebrom” (Gn 23:13, 19; 25:9, 10), enquanto os ossos de José foram sepultados em Siquém, no campo que Jacó havia comprado “dos filhos de Hamor” (Gn 33:19). Agora, a nação enterrava seus líderes no território de sua própria herança, expressando assim um senso de permanência. As promessas feitas aos patriarcas haviam sido cumpridas. A fidelidade de Yahweh é o fio condutor da história que liga a posteridade de Israel ao seu presente e futuro.
Os últimos parágrafos do livro ligam toda a narrativa a uma história maior no passado e também abrem o caminho para o futuro. O ex-arcebispo da Cantuária (Inglaterra), George Carey, em um discurso proferido na Igreja da Santíssima Trindade, em Shrewsbury, declarou que a Igreja Anglicana estava “a uma geração da extinção”.
De fato, a igreja está sempre a uma geração da extinção, e assim foi com o povo de Deus do AT. Um grande capítulo da história de Israel havia chegado ao fim. O futuro do povo dependia do tipo de resposta que ele daria às muitas perguntas que dizem respeito ao futuro: Israel seria fiel ao Senhor? Será que conseguiria continuar a tarefa inacabada de possuir toda a Terra Prometida? Conseguiria se apegar a Yahweh e não se envolver com a adoração de ídolos? Sob o comando de Josué, uma geração permaneceu fiel ao Senhor, mas será que a próxima geração manteria a mesma direção espiritual traçada por seu grande líder? Cada geração sucessiva do povo de Deus, ao ler o livro de Josué, deve responder a essas mesmas perguntas. Seu êxito depende das respostas que derem em sua vida cotidiana e de como se relacionarem com as verdades que receberam.
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Leia, de Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 456-459 (“As últimas palavras de Josué”).
“Entre as multidões que saíram do Egito havia muitos que tinham sido adoradores de ídolos; e tal é o poder do hábito que a prática continuou secretamente, até certo ponto, mesmo depois do estabelecimento em Canaã. Josué tinha consciência desse mal entre os israelitas e percebeu claramente os perigos que resultariam disso. Ele desejava sinceramente ver uma reforma completa entre o exército hebreu. [...] Embora uma parte da hoste hebraica fosse adoradora espiritual, muitos eram meros formalistas. [...] Alguns eram idólatras de coração, que se envergonhariam de se reconhecer como tais” (Ellen G. White, Signs of the Times, 19 de maio de 1881).
“Essa solene aliança foi registrada no livro da lei, para ser sagradamente preservada. Josué ergueu então uma grande pedra debaixo de um carvalho que estava junto ao santuário do Senhor. ‘E disse Josué a todo o povo: Eis que esta pedra nos será por testemunha, porque ela ouviu todas as palavras do Senhor, que Ele nos falou; portanto vos será por testemunha, para que não negueis o vosso Deus.’ Aqui Josué afirma claramente que suas instruções e advertências ao povo não eram suas próprias palavras, mas as palavras de Deus. Essa grande pedra permaneceria para testificar às gerações seguintes [...] e seria uma testemunha contra o povo, caso eles voltassem a se degenerar em idolatria” (Ellen G. White, Signs of the Times, 26 de maio de 1881).
Perguntas para consideração
1. Discuta o significado da expressão: “O Senhor [...] é Deus santo, Deus zeloso” (Js 24:19). Em que sentido Ele é um Deus zeloso?
2. Nosso amor por Deus está ligado à liberdade de escolha que Ele concede? Poderíamos amar se não tivéssemos liberdade? O amor pode ser forçado?
3. Como os líderes de hoje podem passar a tocha para a próxima geração?
4. Em toda a vida de Josué os israelitas serviram ao Senhor. Que conclusão você gostaria que as pessoas tirassem sobre a sua vida?
Respostas às perguntas da semana: 1. Em Josué 24:2 a 13, Deus relembra Sua fidelidade desde Abraão até a conquista de Canaã, destacando que tudo foi obra Dele, não de Israel. Suas promessas foram cumpridas na conquista da terra de Canaã. 2. Josué exigiu uma decisão radical: servir só a Yahweh com “integridade” e “fidelidade”. 3. Israel prometeu fidelidade à aliança com Deus, mas Josué desafiou sua sinceridade, pois conhecia seu coração propenso à idolatria. 4. A repetição do apelo revela que confissões verbais não bastam – era necessário abandonar ídolos concretos. 5. O epílogo aponta para o futuro: a menção da terra não totalmente conquistada, a fidelidade temporária e os ossos de José prenunciam tanto a apostasia em Juízes quanto a esperança escatológica.
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TEXTO-CHAVE: Js 24:15 FOCO DO ESTUDO: Js 24; Gn 12:7; Dt 17:19; Dt 5:6; 1Rs 11:2, 4 , 9; 2Tm 4:7, 8
ESBOÇO
Introdução: No estilo mosaico, o livro de Josué termina com um discurso no qual o líder exorta o povo a se comprometer com uma decisão. Após uma vida longa e marcada por desafios, Josué está preparado para concluir sua missão. Na primeira parte do discurso, as palavras dele são de Yahweh, relatando o que Deus fez por Israel desde o chamado de Abraão (Js 24:1-13). Ao usar 19 verbos na primeira pessoa, Deus reforça o papel passivo de Israel nessa empreitada, em contraste com o uso repetido da segunda pessoa “você/seu” para descrever Israel.
A segunda parte do discurso começa com o advérbio “agora” (atta), introduzindo o úl- timo chamado de Josué para uma resposta presente, um apelo ao povo para exercer sua liberdade de escolha. Segue-se uma cerimônia de renovação da aliança, na qual duas testemunhas foram estabelecidas: o próprio povo e outro memorial de pedra. Ainda ecoando o fim de Deuteronômio, o diálogo entre Josué e o povo estabeleceu uma tensão entre duas trajetórias: uma em direção à conformidade, estabilidade e unidade; e outra em direção à deslealdade, incerteza e desintegração. Nessa encruzilhada, cada decisão individual repousava. Josué deixou sua escolha clara no centro do capítulo: “Eu e a minha casa serviremos o Senhor” (Js 24:15).
O livro conclui com três sepulturas (Js 24:29-33). A nota sobre o local de descanso final dos restos mortais de José encerrou um ciclo que começou em Gênesis. Como a morte de Arão e Moisés em Deuteronômio, as mortes de Josué e Eleazar marcaram o fim de uma era. Nas águas desconhecidas dessa nova era, Israel podia confiar no compromisso inabalável de Deus com Suas promessas.
COMENTÁRIO
Em Siquém novamente
Na Bíblia, geografia também é teologia. A providência de Deus em trazer Israel a Siquém para essa renovação da aliança não fora coincidência. Séculos antes, Jacó esteve em Siquém quando Deus apareceu a ele, instruindo-o a ir para Betel (Gn 35:1). Em pre- paração para a jornada, Jacó orientou sua família: “Joguem fora os deuses estranhos que há no meio de vocês, purifiquem-se e troquem de roupa” (Gn 35:2). O povo obedeceu, entregando seus deuses estrangeiros e os anéis ornamentais, que foram enterrados sob um carvalho. Como resultado, o terror de Deus esteve sobre os habitantes de Canaã até que Jacó chegou a Betel para construir um altar em honra a Yahweh (Gn 35:3-7). Em Betel, Deus reafirmou Sua promessa a Jacó em termos faJacó chegou a Betel para construir um altar em miliares: “Eu Sou o Deus Todo-Poderoso; seja fecundo e multiplique-se; uma nação e multidão de nações sairão de você, e reis procederão de você. A terra que dei a Abraão e a Isaque darei também a você e, depois de você, à sua descendência” (Gn 35:11, 12).
Da mesma forma, Josué promoveu um reavivamento espiritual, reafirmando o compromisso de Deus com Suas promessas. De pé na mesma região em que os ídolos haviam sido enterrados por Jacó, Josué lembrou Israel sobre o perigo da idolatria e a importância da fidelidade (Gn 35:2-4; comparar com Js 24:14, 15, 19, 20). Nesse ponto, os filhos de Israel estavam na mesma encruzilhada. Siquém era um lugar de decisão, um lugar para olhar para o futuro, sem esquecer o passado. Tal escolha determinaria não apenas o destino individual, mas também o coletivo, de Israel. A remoção dos deuses estrangeiros em Siquém consolidou a identidade singular da casa de Jacó. A questão no tempo de Josué era se Israel permaneceria com as características de Israel.
Eu ou nós?
Uma das diferenças de cosmovisão entre a sociedade ocidental moderna e a sociedade no mundo bíblico é a relação entre personalidade individual e coletiva. No contexto temporal, as escolhas individuais sempre estiveram associadas ao impacto na comunidade como um todo. Essa ideia é demonstrada em Josué 24:6, onde Deus declara: “Quando tirei os seus pais do Egito, vocês chegaram até o mar”, mesmo que muitos dos presentes ainda não tivessem nascido na época do êxodo.
Wheeler Robinson foi o primeiro estudioso a aplicar o conceito de “personalidade coletiva” ao texto bíblico. O conceito, que vem da lei inglesa, refere-se ao “fato de que um grupo ou corpo pode ser considerado legalmente como um indivíduo, possuindo os direitos e deveres de um indivíduo” (J. W. Rogerson, “Corporate Personality,” The Anchor Bible Dictionary [Nova York: Doubleday, 1992], p. 1156). Robinson usou o termo em dois sentidos: responsabilidade coletiva e representação coletiva. Embora tenha sido criticado por falta de precisão e pelo uso de princípios antropológicos, que hoje são ultrapassados, a ideia de Robinson não deve ser totalmente ignorada. Em estudos bíblicos, seu conceito foi apropriadamente atualizado como “solidariedade coletiva”, que se refere à “oscilação ou relação recíproca entre o indivíduo e a comunidade que existia na mente semítica. O ato do indivíduo não é meramente um ato individual, pois afeta a comunidade e vice-versa. O indivíduo é frequentemente representativo da comunidade e vice-versa” (G. K. Beale, The Right Doctrine From the Wrong Texts? Essays on the Use of the Old Testament in the New [Grand Rapids, MI: Baker Academic, 1994], p. 37).
A solidariedade coletiva não é apenas uma realidade inegável por trás do texto bíblico – e ainda viva em muitas sociedades que enfatizam a interdependência, a conformidade e a forte identidade familiar hoje –, mas também um pressuposto básico da tipologia bíblica. Na verdade, esse conceito esteve no centro do evangelho. No lado negativo, embora não sejamos responsáveis pelo pecado de Adão, seu fracasso abriu a porta para o mal, cuja influência ninguém, exceto Cristo, foi capaz de conter de forma plena. Como disse Paulo, “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado veio a morte, assim também a morte passou a toda a humanidade, porque todos pecaram” (Rm 5:12). No lado positivo, a vitória de Cristo como o novo Adão, o representante da nova humanidade, trouxe a influência do bem e a possibilidade de vitória para todos: “Um morreu por todos; logo, todos morreram” (2Co 5:14). Paulo complementou essa noção dizendo: “Portanto, assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os seres humanos para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos para a justificação que dá vida” (Rm 5:18).
Liberdade individual
No contexto das bênçãos e maldições temporais da aliança, Deus nunca lidou com Seu povo individualmente. A imagem do NT da igreja como o corpo de Cristo está enraizada nesse entendimento social. No AT, a soma das decisões individuais sempre afetava o povo como um todo. Esse conceito ficou evidente na oração de Daniel, na qual ele buscou perdão por pecados que não havia cometido pessoalmente (Dn 9).
No entanto, a Escritura afirma claramente o valor da liberdade individual. De acordo com Ezequiel, “A pessoa que pecar, essa morrerá. O filho não pagará pela iniquidade do pai, nem o pai pagará pela iniquidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele, e a maldade do ímpio cairá sobre este” (Ez 18:20; compare com Dt 24:16). De um ponto de vista eterno, Deus lidará conosco individualmente. Podemos enfrentar as consequências dos pecados dos outros, mas não a culpa deles.
O discurso final de Josué apresentou essa tensão entre identidade coletiva e individual. Enquanto, em um sentido coletivo, ele mencionou os atos de redenção de Deus no passado e fez alusão aos atos de juízo de Deus no futuro, seu apelo foi individual. Essa liberdade individual deve ser entendida dentro dos limites da aliança. Na verdade, a liberdade sem forma é um vácuo. As pessoas podem decidir se vão se casar, mas, uma vez que concordam em se casar, elas ficam vinculadas dentro dos limites da aliança do casamento. Em termos práticos, a liberdade desenfreada se transforma em escravidão.
Na linguagem bíblica, é importante notar que ser liberto da escravidão é chamado de redenção, não de liberdade. Quando Israel deixou o Egito, não se tratou apenas de poder escolher se serviria ou não, mas sim de ter a liberdade de escolher a quem servir. De fato, “o desafio de Josué consolida o argumento de que os que se tornam Israel são aqueles que são escolhidos e resgatados por Yahweh. Aqueles que permanecem Israel são aqueles que escolhem e servem Yahweh” (Mark Ziese, Joshua [Joplin, MO: College Press Publishing Company, 2008], p. 383). Nesse sentido, “liberdade é o estado que emerge depois que Deus agiu para remover todos os obstáculos, sociais, espirituais (pecado e morte), econômicos e institucionais, que bloqueiam o propósito para o qual fomos criados. Esse propósito é conhecer, amar, adorar e desfrutar de Deus para sempre” (Esau McCaulley, “Freedom”, em Douglas Mangum, ed., The Lexham Theological Wordbook, Logos Edition [Bellingham, WA: Lexham, 2014]).
Liberdade é o presente mais poderoso que Deus dá às Suas criaturas. No entanto, como a história humana mostrou, também é o mais perigoso porque pode ser mal utilizado, com consequências terríveis. Deus é, essencialmente, amor, e não há amor sem liberdade. Portanto, a questão não é se temos liberdade, mas como usamos esse presente incrível. Essa questão foi abordada no fim do livro de Josué.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
O desafio da liberdade
Não é fácil ser livre. Essa ideia é demonstrada na história de Israel, a quem Deus levou ao deserto para aprender a essência da liberdade. Embora esse período tenha sido prolongado, a escola do deserto não deveria ter durado mais do que um ano e meio – aproximadamente o tempo entre o Êxodo e a chegada em Cades-Barneia (Êx 19:1; Nm 10:11; Dt 1:2).
1. Por que precisamos aprender a exercer a liberdade?
2. Se você é pai ou mãe, pense em como pode ensinar seus filhos a usar o livre-arbítrio. Discuta suas ideias.
3. Como circunstâncias difíceis podem impulsionar nosso aprendizado?
Idolatria atualmente
Considere a seguinte definição de ídolo proposta por Martinho Lutero em seu comentário sobre o primeiro mandamento em seu Grande Catecismo: “A confiança e a fé do coração sozinhas formam tanto Deus quanto um ídolo. [...] Aquilo a que seu coração se apega e em que confia, esse é realmente seu Deus” (Martinho Lutero, Luther’s Large Catechism; trad. por John Nicholas Lenker [Minneapolis, MN: Luther Press, 1908], p. 44). A idolatria era uma característica básica da cultura nos tempos bíblicos. De fato, era uma ameaça contínua ao povo de Deus que, por fim, levou Israel e Judá ao cativeiro.
Embora, como adventista do sétimo dia, você não adore estátuas de deuses, como a idolatria ainda pode ser uma ameaça à sua fé?
O fim
Assim como Deuteronômio, o livro de Josué termina com uma referência a locais de sepultamento. Parece estranho concluir um livro que é predominantemente sobre vitórias com esse tipo de detalhe.
1. Por que você acha que o livro termina dessa maneira?
2. Que mensagem Deus está transmitindo sobre a natureza da liderança e Seu controle contínuo sobre a história?
3. Como essa mensagem pode afetar sua perspectiva sobre liderança e a supervisão divina da igreja?
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O trabalho dos sonhos
Chile | Jenny
Jenny nunca planejou se mudar dos Estados Unidos para o Chile. Quando se graduou na Universidade Andrews, ela se voluntariou para ensinar inglês por um ano no Chile. Ela pensou que voltaria para os Estados Unidos no final do ano. Mas cinco anos depois, ela se viu dando aulas de Bíblia na Universidade Adventista do Chile.
Eis o que aconteceu.
Desde que era pequena, Jenny queria ser missionária. Enquanto concluía os estudos de Teologia na Universidade Andrews em Michigan, ela falou sobre seu desejo com um de seus professores. O professor havia ajudado outro aluno a ir para o Chile por um ano com o Serviço Voluntário Adventista, e sugeriu que Jenny considerasse um caminho similar.
Jenny gostou da ideia. Depois de se formar na universidade, ela visitou o site VividFaith.org, um site da Igreja Adventista onde as pessoas podem se inscrever em vagas com o Serviço Voluntário Adventista. Ela viu uma vaga no Chile e enviou seu currículo. Em pouco tempo, ela foi aceita e estava viajando para o Chile para passar um ano ensinando inglês no centro de influência.
Jenny não poderia estar mais contente! O ano passou em uma enxurrada de aulas de inglês, estudos bíblicos e amizades. Jenny foi convidada para ficar um segundo ano, e ela concordou.
No final do segundo ano, ela falava espanhol fluentemente, e a Missão Central do Chile da Igreja Adventista estava procurando um assistente bilíngue. Ela recebeu a oferta do cargo como voluntária. Jenny aceitou e, pelos três anos seguintes, administrou os registros de membros da igreja, treinou secretárias da igreja, e atuou como líder local do Serviço Voluntário Adventista – a mesma organização para a qual ela era voluntária.
Ao longo do caminho, ela também se casou com um chileno. Jenny não poderia estar mais feliz!
Então, a Universidade Adventista do Chile ligou, perguntando se ela estaria disposta a dar aulas de Bíblia. Jenny estava muto entusiasmada por voltar às suas raízes depois de se graduar em Teologia na Universidade Andrews.
Quando ela se tornou uma residente legal no Chile, ela fez a transição para ser professora de Bíblia na universidade. Pela primeira vez em cinco anos, ela não fazia parte do Serviço Voluntário Adventista, mas era uma funcionária de tempo integral na universidade.
Hoje, Jenny é uma dos cinco professores de Bíblia na universidade. Ela e os outros professores dão aulas gerais da Bíblia que são exigidas para todos, exceto os estudantes de teologia na universidade. Os estudantes de teologia têm suas próprias aulas. Muitos dos alunos de Jenny aprendem sobre Deus e a Bíblia pela primeira vez em suas aulas. Cerca de três quartos dos 3.000 alunos da universidade vêm de famílias não adventistas.
Jenny, que tem 28 anos, não poderia estar mais feliz. Ser missionária do Serviço Voluntário Adventista abriu as portas para uma carreira que ela nunca sonhou ser possível.
“Eu queria vir ao Chile por um ano e agora já se passaram mais de seis anos”, disse ela. “Eu sinto que era aqui que Deus me queria”.
A oferta deste trimestre, também conhecida como oferta para projetos missionários, irá para projetos na Universidade Adventista do Chile, em Chillán, no Chile. Um projeto é abrir um centro para o Serviço Voluntário Adventista que enviará 30 missionários para o mundo a cada ano. O centro terá cinco salas de aula para treinar alunos a serem missionários e um auditório com 250 lugares. No segundo projeto da universidade, os dormitórios serão ampliados para permitir que mais 50 alunos vivam no campus. Atualmente, a universidade tem cerca de 3.000 alunos, a maioria deles não é adventista e vive fora do campus. Os novos quartos do dormitório estarão disponíveis para todos, mas são especialmente necessários para os alunos adventistas de Teologia e Educação que vêm para a universidade de lugares distantes e estão estudando para trabalhar nas igrejas e escolas adventistas. Muito obrigado por sua oferta generosa.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2025
Tema geral: Josué
Lição 13 – 20 a 26 de dezembro
Escolham hoje
Autor: Volney da Silva Ribeiro
Editoração: Lucas Diemer de Lemos
Revisão: Rosemara Franco Santos
Minha decisão hoje
O cenário de Josué 24 apresenta uma das cenas mais solenes da história de Israel: um povo reunido diante de seu líder idoso para renovar a aliança com Deus. Josué, consciente de que sua vida se aproximava do fim e de que não havia um sucessor humano designado, conduz o povo a lembrar que o verdadeiro Rei de Israel sempre fora Yahweh. Deus Se apresenta como o grande Soberano que liberta, guia e protege, e Israel é chamado a responder com lealdade. O prólogo histórico lembra que tudo o que o povo possui é resultado da ação graciosa de Deus. Por isso, a aliança é baseada em gratidão: a obediência é o fruto natural de um coração que reconhece viver da misericórdia divina.
Josué destaca que a fidelidade é uma decisão renovada diariamente, feita com consciência e responsabilidade. Ele ensina que a liderança espiritual começa no lar, com exemplos de obediência e confiança em Deus, por meio de uma vida coerente e íntegra. Essa renovação da aliança também evidencia que Israel não dependia de um rei humano para prosperar, pois sua verdadeira segurança estava em permanecer sob o governo amoroso, justo e protetor de Yahweh. Para nós, hoje, o apelo continua o mesmo: escolher de forma intencional viver sob o senhorio de Cristo, permitindo que Ele oriente nossas decisões e nos mantenha firmes na aliança.
Israel em Siquém
A cena em Siquém é profundamente simbólica: o povo se reúne justamente no lugar em que Abraão ouviu pela primeira vez a promessa da terra. Agora, séculos depois, aquela promessa estava cumprida diante de seus olhos. É nesse mesmo solo que Josué os chama a lembrar que toda a história deles é a história das obras de Deus. Em Josué 24:2-13, o Senhor fala em primeira pessoa e repete várias vezes: “Eu tomei… Eu dei… Eu enviei… Eu livrei”. É como se Deus dissesse: “Vocês existem porque Eu intervim. Vocês caminham porque Eu os sustentei. Vocês possuem esta terra porque Eu lutei por vocês”. Assim, o povo é lembrado de que não é o autor de sua própria história, mas objeto da graça divina. Essa consciência de que tudo é um dom de Deus deveria produzir humildade e fidelidade sincera.
Ao narrar a história deles, Deus lembra que, ainda que a geração presente não tenha visto o Êxodo nem pisado no Horebe, eles pertenciam ao mesmo povo da aliança, ou seja, cada geração precisava apropriar-se pessoalmente das obras de Deus. Isso nos mostra que não basta saber o que Deus fez no passado. Hoje, é preciso que cada um de nós tenha os seguintes questionamentos: O Deus que libertou Israel no passado está atuando em minha vida hoje? Estamos nós renovando a aliança com Ele, rejeitando nossos próprios “ídolos modernos”, como orgulho, consumismo e autossuficiência? A história de Israel nos mostra que, quando cada geração escolhe renovar sua fidelidade, Deus continua a agir com poder no meio do Seu povo.
Integridade e fidelidade
No apelo de Josué, Israel é confrontado com uma decisão que definiria sua identidade espiritual: permanecer leal ao Criador, vivendo como um povo distinto e consagrado, ou diluir-se entre as nações idólatras ao redor. Servir ao Senhor “com integridade e com fidelidade” envolve duas dimensões inseparáveis. Primeiro, Josué chama o povo a temer o Senhor, com uma reverência profunda que nasce do reconhecimento da grandeza santa de Deus e da própria fragilidade humana. Esse temor reverente produz obediência e molda o caráter.
Em seguida, Josué descreve o serviço esperado com os termos hebraicos tamim (integridade), ligado à ideia de algo inteiro, completo, sem duplicidade, como os sacrifícios perfeitos oferecidos no altar; e ’emet (fidelidade), que expressa constância, firmeza e confiabilidade, qualidades que refletem o próprio caráter de Deus, cuja fidelidade sustentou Israel desde o início. Josué convida o povo a responder à graça divina com a mesma lealdade que Deus sempre demonstrou. Trata de obedecer por uma devoção que brota do coração e se traduz em uma vida coerente e grata. Essa mesma convocação chega a nós hoje: servir a Cristo com inteireza de vida, combatendo tudo que compete por nossa atenção e renovando nosso compromisso diário com Ele.
Obediência consciente e voluntária
O relato final de Josué mostra que Deus valoriza a liberdade humana: Israel é chamado a escolher a quem servir, não por imposição humana, mas por uma decisão consciente e voluntária que nasce do reconhecimento da graça e da soberania de Deus. Embora o povo responda com entusiasmo, Josué reage de modo surpreendente. Em vez de elogiar a decisão do povo, ele enfatiza a seriedade do compromisso, lembrando que servir ao Senhor não é algo baseado em emoção. Josué conhecia bem a história da primeira geração que, embora tivesse prometido obedecer, rapidamente quebrou a aliança, por isso ele os confronta com a realidade: seguir a Deus envolve responsabilidade e compreensão clara das consequências da desobediência.
Ele também destaca que a decisão deve ser pessoal, não motivada pela influência de um líder, por mais espiritual que seja, e que o verdadeiro serviço a Deus não se limita à observância externa, mas exige dependência constante da graça divina. Servir a Deus, portanto, é um ato de entrega que envolve tanto a vontade humana quanto a ação transformadora do Espírito. O coração humano, por si só, não consegue ser fiel. É apenas por meio de um relacionamento vivo com o Senhor que alguém pode permanecer firme na aliança.
Chamado à fidelidade
A insistência de Josué em repetir o apelo revela que o coração humano não se inclina espontaneamente para Deus. Hoje também podemos carregar “deuses” que não vêm de terras distantes, mas que habitam discretamente “no meio” do nosso cotidiano. Josué sabia que decisões espirituais não se solidificam por declarações emotivas ou sensacionalistas, mas por um exercício contínuo de inclinar o coração, um movimento consciente e relacional. O verbo hebraico “natah” mostra justamente isso: assim como Deus Se inclina para ouvir Seu povo, Seu povo deve se inclinar para ouvi-Lo.
A obediência verdadeira não é um cumprimento mecânico de regras, mas uma resposta viva à voz de Deus. O fato de o texto não registrar explicitamente a remoção dos ídolos sugere que a decisão externa não basta sem uma transformação interna. O livro de Josué termina deixando um apelo aberto para cada nova geração, lembrando-nos de que prometer é fácil, cumprir é um desafio, e esse contraste ressalta a paciência e a graça abundantes de Deus, que continua Se inclinando para nós enquanto aprendemos a nos inclinar para Ele.
Herança, legado e permanência
O encerramento do livro de Josué celebra a vida fiel do líder e o cumprimento das promessas feitas aos patriarcas. Ele também se direciona para o futuro espiritual de Israel. O enterro de Josué, de Eleazar e dos ossos de José sinaliza o fim de um ciclo de peregrinações e o início de uma vida enraizada na Terra Prometida, marcando o cumprimento visível da fidelidade de Deus. Entretanto, esses relatos finais funcionam como um alerta implícito: se a fidelidade de Yahweh é constante, a resposta humana precisa ser renovada a cada geração.
Assim como a igreja hoje está sempre a “uma geração da extinção”, também Israel dependia da decisão de seus filhos e netos de permanecerem firmes na aliança, de resistirem à idolatria e de concluírem a missão inacabada de conquistar toda a terra. O legado de Josué nos convida a refletir sobre que escolhas diárias fortalecem sua caminhada e o aproximam da certeza da salvação. O futuro da igreja, da família e da fé pessoal continua sendo moldado pela maneira como cada geração responde ao chamado permanente de Deus à fidelidade e à missão.
Conclusão
Josué nos lembra que viver na “Terra Prometida” exige maturidade espiritual e constância na aliança; por isso, em Siquém, Israel reconheceu que toda a sua história era fruto da graça divina. A partir dessa consciência, fica claro que a verdadeira fidelidade surge de um coração que se inclina para ouvir a voz do Senhor. Além disso, servir a Deus requer integridade e dependência do Espírito, pois decisões meramente emotivas não sustentam um compromisso duradouro. Contudo, assim como no passado, ídolos antigos e modernos continuam disputando nosso coração, e, por essa razão, cada geração precisa renovar conscientemente sua aliança e viver sob o governo de Cristo com gratidão e responsabilidade. Portanto, terminar bem, como Josué, depende das escolhas espirituais que fazemos hoje, escolhas estas que moldam nosso caráter e influenciam a fé daqueles que virão depois de nós.
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Volney da Silva Ribeiro é professor, escritor e teólogo. É graduado em Letras (português e espanhol) e em Teologia. Além disso, é pós-graduado em Gestão Educacional. Foi diretor pedagógico e administrativo de escola particular (2008 a 2010), vice-diretor de uma creche-escola (2024 e 2025) e consultor pedagógico da Associação Cearense da Igreja Adventista do Sétimo Dia (2020 a 2022). Desenvolve o ministério de pregação há mais de duas décadas e serve a Deus atualmente como primeiro-ancião na Igreja Adventista do Sétimo Dia de Aldeota, em Fortaleza, Ceará.

