Aos 15 anos de idade, eu e minha irmã mais velha viajamos para uma cidade próxima a fim de vender livros para pagar os estudos. Certo dia, ao pegar um ônibus lotado no centro da cidade, fiquei em pé ao lado de outros passageiros. Logo me chamou a atenção um rapaz de origem asiática sentado junto à janela. Ele tinha uma Bíblia aberta apoiada em suas pernas. Observei-o durante todo o percurso. Parecia ser um pouco mais velho do que eu. Ainda jovem, tinha um semblante sereno, um olhar brilhante e um sorriso discreto.

Com o tempo, todos esses detalhes ficaram em segundo plano. Um deles, porém, nunca esqueci. Sua Bíblia tinha muitas marcas de estudo. Os parágrafos que pude ver estavam sublinhados ou pintados cuidadosamente com diferentes cores. Havia ainda papéis dobrados criativamente e colados nas margens das páginas. Essa experiência foi fundamental para a construção de minha identidade e autenticidade cristã durante minha adolescência. Por meio daquele exemplo público, entendi por mim mesma o que significava ser uma testemunha viva de Deus.

Muitos anos depois, revivi aquela cena. Estava sentada ao lado de uma senhora na igreja quando, ao olhar para sua Bíblia, lembrei-me daquele moço de origem asiática. A Bíblia daquela mulher estava visivelmente estudada, e cada parágrafo parecia ser especial. Ao fim do culto, procurei puxar conversa com ela. Então descobri que se tratava de uma visitante e que estava pela primeira vez naquela igreja.

Ao expressar minha admiração por seu comprometimento com o estudo da Palavra de Deus, ela tirou de sua bolsa uma agenda. Disse-me que a Bíblia e a agenda eram suas preciosidades. Mostrou-me páginas e páginas contendo anotações detalhadas de versos bíblicos e de sermões de diferentes pastores da TV Novo Tempo. Destacou que sentia-se muito abençoada ao ouvi-los pregar.

Após me certificar de que ela receberia a atenção de quem a convidara e reforçar o convite para que retornasse, voltei para casa naquela noite em silêncio, certa de ter presenciado um dos mais impactantes sermões de minha vida. Agradeci a Deus pelo exemplo vivo de amor às Escrituras e por entender que, muitas vezes, um bom exemplo pode valer mais que mil palavras.

Janete Tonete Suárez