Copie Daniel 7:9-14 na versão bíblica de sua preferência. Se estiver com pouco tempo, copie somente Daniel 7:9, 10. Você também pode reescrever as passagens com suas palavras ou fazer um esboço do capítulo.
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1. Leia Daniel 10:1-3. O que o profeta estava fazendo novamente?
2. Leia Esdras 4:1-5. Quais desafios os judeus estavam enfrentando em seu retorno? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:
A. ( ) Oposição na reconstrução do templo, da parte dos povos ao redor.
B. ( ) Estavam sem condições financeiras para concluir a reconstrução.
Em Esdras 4:1-5, vemos que, naquele momento, os judeus estavam enfrentando forte oposição ao tentarem reconstruir o templo. Os samaritanos tinham enviado relatórios falsos à corte persa, incitando o rei a interromper a obra. Diante dessa crise, Daniel implorou a Deus por três semanas para que Ele influenciasse Ciro a permitir que a obra continuasse.
Ao observarmos a vida de oração de Daniel, aprendemos algumas lições valiosas: (a) devemos persistir em oração; (b) devemos dedicar tempo para orar por outras pessoas. (c) a oração leva Deus a fazer algo concreto e real.
Na semana passada, examinamos a profecia sobre o poder e reinado representado pelo “chifre pequeno”, que prevaleceu de 538 a 1798 d.C., isto é, durante o período de “um tempo, dois tempos e metade de um tempo”, ou 1.260 anos (Dn 7:25). O capítulo 7 do livro de Daniel também indica que, em algum momento, após o domínio do chifre pequeno, e antes da segunda vinda de Cristo, ocorreria um julgamento no Céu.
Note que Daniel 7 se encontra em sucessão cronológica, sendo que cada um dos reinos é apresentado na ordem em que aparece na História. Essa é uma observação importante com relação à cena do julgamento no Céu (v. 9, 10).
Leão
Urso
Leopardo
Animal Terrível
Dez Chifres
Chifre Pequeno (538-1798 d.C.)
Julgamento no Céu
Segunda Vinda de Jesus
Esse julgamento no santuário celestial ocorre cronologicamente após o surgimento e domínio do chifre pequeno, mas antes da vinda de Jesus. Depois de ler todo o capítulo de Daniel 7, chega-se à conclusão de que um juízo pré-advento está em andamento no Céu. Ele iniciou após 1798 e terminará quando Cristo deixar o santuário celestial para voltar à Terra em Sua segunda vinda.
A cena do julgamento no Céu é pública, ou seja, ocorre perante o Universo: “E saía um rio de fogo de diante Dele. Milhares de milhares O serviam; milhões e milhões estavam diante Dele. O tribunal iniciou o julgamento, e os livros foram abertos” (Dn 7:10). Em outras palavras, esse é um momento de transparência da parte de Deus perante os habitantes do Universo. Deus realiza um julgamento aberto de todos os nomes inscritos nos livros.
Isso não ocorre porque Deus tenha necessidade de tomar conhecimento de alguma coisa, mas para que o Universo reconheça e confie nas decisões que Ele está tomando. O juízo pré-advento, ou investigativo, também acontece para que os habitantes do Universo, que não caíram em pecado, não tenham dúvidas sobre o caráter do Seu Criador.
O fato de o julgamento ser aberto revela que as questões em jogo no grande conflito estão relacionadas ao caráter de Deus. Ele deseja garantir que fiquem esclarecidas todas as dúvidas que os seres criados tenham a respeito das Suas decisões salvíficas.
Deus sabe quais decisões precisam ser tomadas, mas deseja que as inteligências do Universo também saibam. Antes de permitir que qualquer pessoa que foi infectada pelo pecado entre pelos portões celestiais, Ele realiza um processo de julgamento aberto e transparente diante de todo o Universo. Então todos poderão dizer: “Verdadeiros e justos são os Seus juízos” (Ap 19:2).
3. Leia Daniel 10:4-9. O que aconteceu com o profeta nesse texto?
Ao descrever sua experiência, dificilmente podemos imaginar o esplendor irresistível do que Daniel viu. Aquela figura humana (Dn 10:5, 6) remete ao “Filho do homem” retratado na visão do juízo celestial (Dn 7:13).
4. Quais semelhanças encontramos entre a visão que Daniel teve de Deus no capítulo 10 e as visões de Josué 5:13-15 e Apocalipse 1:12-18?
De acordo com Daniel, aqueles que estavam com ele ficaram atemorizados e o próprio Daniel caiu enfraquecido no chão. A visão do profeta mostra que Deus está no controle da história.
Há apoio bíblico para um juízo após a cruz? Os evangélicos afirmam que não existe um juízo pré-advento, porque todo julgamento terminou na cruz. Contudo, um exame da Bíblia indica que os apóstolos, depois da cruz, pregaram sobre um juízo que ocorreria no futuro. “Paulo se pôs a discorrer acerca da justiça, do domínio próprio e do juízo vindouro” (At 24:25); “Pois [Deus] estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do Homem que designou” (At 17:31); e Romanos 2:16 faz alusão a um julgamento futuro: “Isso acontecerá no dia em que Deus julgar os segredos dos homens, mediante Jesus Cristo, conforme o declara o meu evangelho”.
Note que essas referências ocorrem depois da cruz. Paulo estava pregando sobre um Cristo ressurreto. Ele falou a respeito de um juízo no tempo futuro, ou seja, não como um evento que já havia acontecido, mas que ainda iria ocorrer.
Mas e se eu tiver medo do juízo divino? Daniel 7:22 indica que o julgamento é “a favor dos santos”. Em outras palavras, Deus não está tentando deixar você de fora do Céu. Cristo hoje é nosso Advogado junto ao Pai, justamente, para nos conceder condição legal de morar com Ele no Céu quando vier nos buscar. Não temos nada a temer, contanto que, pela fé, O tenhamos aceito como nosso Salvador.
Esse é um juízo que respeita seu livre-arbítrio. Em última análise, ele é uma investigação para ver se você escolheu aceitar a justiça de Cristo, para ver se estamos usando as vestes nupciais, conforme a parábola das bodas contada por Jesus (Mt 22:1-14). Em outras palavras, não iremos ser julgados segundo nosso histórico de boas obras, nem de nossos méritos. Seremos julgados cobertos pelo histórico de Cristo e Seu sangue derramado na cruz.
Teremos oportunidade de saber o porquê das decisões de Deus? A Bíblia revela que teremos a oportunidade
de reexaminar as decisões de Deus quando estivermos no Céu, durante os mil anos, que se seguirão à vinda de Cristo (Ap 20:4-6; 1Co 6:3). Essa etapa do julgamento divino é chamada juízo examinativo. O juízo final e o fogo que cairá para destruir Satanás, os anjos maus e os ímpios, somente acontecerá depois dos mil anos. Em outras palavras, Deus não realizará o juízo executivo até que todos tenham a oportunidade de ver que Seu julgamento foi justo.
Teremos muitas perguntas quando chegarmos ao Céu, especialmente se descobrirmos que alguns dos nossos queridos não estão lá. Deus, em vez de esconder Seus motivos, agirá de maneira aberta e transparente. Ele revelará as informações que O levaram a tomar cada decisão e nos dará mil anos para examinar e comprovar todas elas.
5. Leia Daniel 10:10-19. O que aconteceu cada vez que um anjo tocou Daniel?
Profundamente afetado pelo esplendor da luz divina, o profeta caiu. Então um anjo apareceu para tocá-lo e consolá-lo. Ao lermos a narrativa, observamos que o anjo tocou Daniel três vezes.
O primeiro toque habilitou o profeta a ficar de pé e ouvir as palavras de conforto vindas do Céu (Dn 10:12). A oração do servo de Deus moveu o Céu. Para nós, isso é uma garantia de que o Senhor ouve nossas orações, o que é um grande conforto em tempos difíceis. O segundo toque habilitou Daniel a falar. O profeta derramou suas palavras diante do Senhor, expressando seus sentimentos de temor e emoção (Dn 10:16, 17). Portanto, Deus não apenas fala a nós; Ele deseja que abramos nossa boca para que possamos contar a Ele nossos sentimentos, necessidades e aspirações. O terceiro toque lhe trouxe força. Ao reconhecer sua inadequação, o anjo o tocou e o consolou com a paz de Deus (Dn 10:19). Lembre-se de que o anjo foi enviado a Daniel em resposta às suas orações, a fim de dar-lhe discernimento e compreensão.
Descubra a relação das passagens abaixo com o texto bíblico-chave (Daniel 7:9-14) da lição desta semana:
Eclesiastes 12:13, 14
Eclesiastes 3:17
2 Tessalonicenses 1:5
Lucas 20:35; 21:36
Romanos 14:10
1 Pedro 4:17
Apocalipse 22:11, 12
Quais outras passagens lhe vêm à mente em conexão com essa seção de Daniel 7?
6.
O que foi revelado em Daniel 10:20, 21?
7.
Que tipo de batalha foi descrita em Daniel 10:13? Assinale a alternativa correta:
A. ( ) Uma batalha espiritual.
B. ( ) Uma batalha literal.
Deus é um Ser transparente em todas as Suas ações. Ele não está realizando um julgamento secreto no santuário celestial para determinar quem se perderá e quem será salvo. O juízo investigativo é um julgamento aberto. Todo o processo ficará à disposição para ser examinado pelos salvos durante mil anos no Céu. Nenhuma dúvida irá pairar no Universo sobre as decisões divinas a respeito dos que herdarão a vida eterna. Essa abertura revela que o grande conflito é uma disputa por corações e mentes. As acusações que Satanás fez contra Deus, diante do Universo, questionando a justiça divina, serão completamente refutadas pela atitude transparente do Senhor no processo e execução do julgamento divino – a fase final do plano da salvação.
Jesus, hoje, é nosso Advogado no Céu. Satanás é o acusador. Quando aceitamos Cristo como Salvador e Senhor, Ele Se torna nosso Representante no Céu. O registro dos nossos pecados é cancelado pelo sangue do Cordeiro. Sua justiça é aceita em lugar da nossa, e pelos méritos de Seu Filho, Deus perdoa nossos pecados.
A mensagem central do juízo é a justificação pela fé, pois é somente por meio da justiça de Cristo que podemos subsistir ao juízo que está ocorrendo no Céu. É reivindicando, pela fé, a justiça de Cristo como nossa que podemos ter paz e esperança durante o julgamento divino.
8. Leia Colossenses 2:15. Como Jesus conseguiu a vitória no conflito cósmico?
Ao enfrentarmos as forças do mal, podemos ter fé em Jesus, nosso Campeão. No começo de Seu ministério público, Ele derrotou Satanás. Durante Sua vida terrestre, Cristo o derrotou no deserto quando foi atacado com tentações; lutou contra hostes demoníacas e libertou as pessoas do poder das trevas. Jesus derrotou o mal mesmo quando este estava disfarçado por trás da tentativa de Pedro de dissuadi-Lo do sacrifício no Calvário.
Às vezes olhamos ao redor e as coisas parecem muito ruins. Violência, imoralidade, corrupção e doenças surgem em todos os lugares. Um inimigo, não feito de carne e sangue, nos ataca brutalmente de todos os lados. Mas não importa a dificuldade das batalhas que temos que travar, Jesus luta por nós e permanece como nosso Príncipe e Sumo Sacerdote no santuário celestial.
"Ao se abrirem os livros de registro no Juízo, é passada a limpo perante Deus a vida de todos os que creram em Jesus. Começando pelos primeiros habitantes da Terra, nosso Advogado apresenta os casos de cada geração sucessiva, finalizando com os vivos. Todo nome é mencionado e cada caso, minuciosamente investigado. Aceitam-se nomes e rejeitam-se nomes. Quando alguém tem pecados que permanecem nos livros de registro, para os quais não houve arrependimento nem perdão, seu nome é omitido do Livro da Vida, e o relato de suas boas ações é apagado do livro memorial de Deus. O Senhor declarou a Moisés: ‘Riscarei do Meu livro todo aquele que pecar contra Mim’ (Êx 32:33, ARA). E o profeta Ezequiel escreveu: ‘Desviando-se o justo da sua justiça e cometendo iniquidade, […] de todos os atos de justiça que tiver praticado não se fará memória’ (Ez 18:24, ARA).
“Todos os que verdadeiramente tenham se arrependido do pecado e que, pela fé, tenham reivindicado o sangue de Cristo como seu sacrifício expiatório tiveram o perdão acrescentado ao seu nome, nos livros do Céu. Uma vez que se tornaram participantes da justiça de Cristo e foi verificado que seu caráter está em harmonia com a lei de Deus, seus pecados serão riscados, e eles serão considerados aptos para a vida eterna. O Senhor declara pelo profeta Isaías: ‘Eu, Eu mesmo, sou O que apago as tuas transgressões por amor de Mim e dos teus pecados não Me lembro’ (Is 43:25, ARA). Jesus garantiu: ‘O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de Meu Pai e diante dos Seus anjos’ (Ap 3:5, ARA). ‘Todo aquele que Me confessar diante dos homens, também Eu o confessarei diante de Meu Pai, que está nos Céus; mas aquele que Me negar diante dos homens, também Eu o negarei diante de Meu Pai, que está nos Céus’ (Mt 10:32, 33, ARA).
“O mais profundo interesse manifestado entre os seres humanos nas decisões dos tribunais terrestres dá apenas uma pálida ideia do interesse demonstrado nas cortes celestiais quando os nomes inseridos nos livros da vida aparecem perante o Juiz de toda a Terra. O Intercessor divino apresenta a petição para que sejam perdoadas as transgressões de todos os que venceram pela fé em Seu sangue, para que sejam restabelecidos em seu lar edênico e coroados com Ele como coerdeiros do ‘primeiro domínio’ (Mq 4:8, ARA). Satanás, em seus esforços para enganar e tentar nossa raça, pensou que havia frustrado o plano que Deus tinha ao criar o ser humano. Mas Cristo pede agora que esse plano seja cumprido, como se o homem nunca houvesse caído. Pede, em favor de Seu povo, não somente completo perdão e justificação, mas também participação em Sua glória e o direito de se assentarem em Seu trono” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 483, 484).
DISCUÇÃO
Compartilhe com sua classe o que você extraiu desta lição, por exemplo: descobertas, observações, dúvidas e pontos principais. Perguntas sugestivas para ser discutidas:
- Como você se sente sabendo que Jesus é seu Advogado contra as acusações de Satanás?
- A justiça e os méritos de Cristo são aceitos por Deus em lugar do pecador. De que maneira isso tem impactado seu modo de viver o cristianismo?
- Qual é a relação entre transparência e confiança?
- O que a transparência revela sobre o caráter de Deus?
- Quais são algumas coisas que nos impedem de crer na justiça de Cristo?
- O que o julgamento divino revela sobre o caráter de Deus que o mundo precisa saber?
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2020
Tema Geral: Daniel
Lição 11 – 7 a 14 de março
Da batalha à vitória
Autor: Marcelo Rezende
Editor: André Oliveira Santos
Revisora: Josiéli Nóbrega
Em Daniel 10, temos o plano profético mais completo do livro de Daniel. Os capítulos 10, 11 e 12 formam uma unidade que foi artificialmente separada em três partes em nossas Bíblias. Mesmo assim, essa divisão nos permite entender a dinâmica do conteúdo do capítulo 10 como um prólogo que fornece, de maneira mais detalhada, o contexto da revelação dos capítulos seguintes.
1 – Uma guerra invisível
Estamos agora no terceiro ano do reinado de Ciro como soberano da Babilônia, 536 a.C. Pouco tempo antes dessa data, os cativos judeus haviam recebido autorização para que regressassem à terra de Israel e reconstruíssem o templo de Jerusalém. A tarefa teve início, mas logo grandes dificuldades começam a surgir com a manifestação da inimizade dos samaritanos, que se opuseram à edificação do templo, e com um complô feito por conselheiros subornados para influenciarem negativamente os reis Persas contra os judeus. Esse quadro levou os judeus ao desânimo e a construção do templo parou (Ed 4:1-5). Daniel iniciou a narrativa se apresentando em estado de luto, jejuando por três semanas no primeiro mês do ano (Dn 10:4), época da festa da Páscoa, um comportamento estranho para um judeu, uma vez que a festa celebrava a libertação do cativeiro egípcio e o início da jornada para a conquista da terra prometida – exatamente o mesmo “clima” de recomeço que os judeus deveriam viver então, depois do regresso do cativeiro babilônico – mas compreensível e justificável devido à gravidade da situação apresentada pelas notícias vindas da terra de Israel.
2 – Um Príncipe vitorioso
Daniel recebeu a visita de um Ser que é descrito como uma figura humana muito semelhante às aparições divinas do AT (relâmpago, fogo), vestido com o linho das vestes sacerdotais, muito semelhante também à visão do Cristo glorificado descrita por João em Apocalipse 1:13-18. O livro de Josué 5:13-15 relata uma visão semelhante em que Josué é visitado pelo Anjo que Se identificou como “Príncipe dos exércitos do Senhor” (Js 5:14) e aceitou receber a adoração de Josué, demonstrando que era um Ser um ser divino, em um contexto muito parecido com Daniel 10, logo após a Páscoa, exatamente no início da conquista da terra de Canaã (Js 5:11). Esse “Homem” visto por Daniel pode ser seguramente identificado como a principal figura celestial apresentada na narrativa do livro: o “Filho de Deus”, que anda na fornalha juntamente com os três judeus em Daniel 3; o “Filho do Homem” de Daniel 7, o Sacerdote de Daniel 8 e o Messias-Príncipe oferecido em sacrifício em Daniel 9. No capítulo 10, Ele é identificado como “Miguel”.
A presença de Miguel é seguida pela aparição de Gabriel, que vem com o propósito de revelar a Daniel o que havia ocorrido nos bastidores do mundo espiritual durante esse período de três semanas (21 dias), que foram passadas em jejum e oração. Gabriel revelou uma luta intensa travada contra o personagem que ele identificou como o “príncipe da Pérsia” (Dn 10:13), que estranhamente possuía força suficiente para fazer oposição a ele. Fica claro ao leitor que esse “príncipe da Pérsia” não é uma mera figura humana, pois homem nenhum teria poder suficiente para resistir a um anjo tão poderoso como Gabriel. A tradução de Daniel 10:13 em português oferecida pela Biblia Hebraica, publicada pela editora Sefer, traduz a palavra “príncipe” (sar) como “representantes celestes dos reis da Pérsia”. É interessante notar que o termo ‘príncipe’ no livro de Daniel nunca faz referência a seres humanos, mas sempre a seres espirituais, como em Daniel 8:11. Esse “príncipe da Pérsia” é uma denominação usada para representar forças satânicas, ou mesmo o próprio Satanás, que exerciam poder de controle e influência sobre Ciro e sobre os governantes humanos persas (identificados no texto como “reis”) contra os judeus e a obra de restauração.
Gabriel sozinho não conseguiu vencer as forças satânicas em operação na mente de Ciro, mas Miguel foi Aquele que veio em seu auxílio e derrotou não apenas as forças espirituais que agiam sobre os reis Persas, mas garantiu a vitória também sobre o “príncipe da Grécia” – todos os poderes satânicos que exerceriam ainda influência futura sobre os monarcas gregos (Dn 10:13). Miguel é tão poderoso e singular porque Ele não é apenas uma criatura celestial, Ele é o “primeiro dos primeiros príncipes” (Ahad HaSarim HaRishonim), o “Principal dos príncipes”. A mesma ideia de supremacia única é expressa em outra expressão cunhada no Novo Testamento para Ele – o “Arcanjo” Miguel (Jd 9). A Bíblia jamais apresenta essa palavra no plural, “arcanjos”, como uma referência a uma classe hierárquica de anjos. Arcanjo é sempre singular, é uma palavra formada por outras duas palavras gregas: “Arkô” (principal, chefe) e “angelos” (anjo). Arcanjo é uma definição ontológica de Miguel, cujo nome significa “Quem é como Deus?”, retratado como Chefe dos anjos, o verdadeiro “dono dos Anjos”. Somente Ele é como Deus, pois participa da natureza divina. Somente o “Arcanjo” pode enfrentar as forças do mal utilizando Seu nome como uma repreensão direta àquele que um dia intentou usurpar o lugar de Deus (Is 14:12-14). Somente Miguel pode exercer o poder divino de dar vida e ressuscitar a humanidade redimida no dia final, vencendo o último inimigo do povo de Deus – a morte (1Ts 4:16, 17; 1Co 15:26).
Daniel 10 nos faz compreender os anjos e demônios como “super seres” espirituais multidimensionais, presentes e ativos na vida humana, podendo até mesmo apresentar comportamento de domínio territorialista como “príncipes” de nações específicas (c.f. Mc 5:9, 10). Eles podem possuir indivíduos, mas também exercer controle sobre a coletividade e sobre a cultura de uma sociedade. Diante disso fica claro que em todo exercício de poder e controle que existe em nosso mundo, somos completamente inconscientes sobre o que realmente acontece à nossa volta.
Essa visão, compreendida à luz da situação retratada em Esdras 4:4, nos mostra que a reação de desânimo do povo era completamente descabida, pois a vitória já havia sido concedida a eles por Miguel, e não somente sobre Ciro, mas sobre o rei Assuero e os planos genocidas de Hamã, na história de Ester, e também sobre os reis selêucidas (principalmente Antíoco Epifânio), que profanaram o templo em Jerusalém mas foram derrotados pelos Macabeus. E não apenas sobre eles, mas sobre todos os inimigos do povo de Deus que apareceriam durante toda a História, até o tempo de angústia final, quando mais uma vez Miguel Se levantará como o Defensor do povo de Deus (Dn 12:1).
Ao expor os bastidores do mundo espiritual diante de nós, Daniel 10 nos faz entender que os “principados e potestades” (Ef 6:12) malignos presentes no mundo se “alimentam” da nossa produção cultural e daquilo que oferecemos a eles em um relacionamento de codependência espiritual autodestrutiva. Paulo deixou isso muito claro quando afirmou que, ao morrer, Jesus despojou “os principados e as potestades”, e “publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl 2:14, 15). Satanás e todas as forças do mal já foram totalmente esvaziados, eles não possuem nada que possa ser usado contra os filhos de Deus. Todas as armas que eles empregam contra nós foram concedidas por nós a eles. Por isso, mesmo sendo um inimigo totalmente derrotado, devemos usar a armadura de Deus nessa batalha (Ef 6:10-18), para não municiarmos nosso inimigo contra nós mesmos. Satanás já foi vencido! Miguel, nosso Príncipe, já lutou em nosso lugar! A vitória só não será desfrutada por nós se não tivermos fé e não nos apropriarmos do que já é nosso pela garantia do sangue do Filho de Deus! Essa é a principal mensagem de vitória e esperança que Daniel 10 nos oferece.
Conheça o autor dos comentários para este trimestre:
Atualmente, Marcelo Rezende é pastor do distrito de São Carlos, na Associação Paulista Oeste. Há 20 anos é pastor e tem servido a igreja em diversas funções ministeriais. Possui mestrado em teologia bíblica com ênfase em teologia paulina pelo Unasp-Engenheiro Coelho. É casado com Simone Ramos Rezende e juntos têm dois filhos: Sarah (que nasceu em um dia 22 de outubro – os que estudarem a lição de Daniel entenderão!), e o caçula Daniel (o mesmo nome do profeta!).