Lição 2
01 a 08 de julho
A autoridade de Paulo e o evangelho
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Sl 90–99
Verso para memorizar: “Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo” (Gl 1:10).
Leituras da semana: 2Pe 3:15, 16; Gl 1; Fp 1:1; Gl 5:12

Estudantes de uma universidade construíram um centro em seu campus, onde todos seriam bem-vindos, independentemente da etnia, gênero, status social ou crenças religiosas. Imagine se, anos mais tarde, esses alunos retornassem ao campus e descobrissem que outros estudantes haviam redesenhado o centro. Em lugar da sala grande com bastante espaço para socialização, concebida para proporcionar um sentido de unidade a todos ali, o local tivesse sido subdividido em várias salas menores, com restrições à entrada com base na cor da pele, no gênero, na religião, e assim por diante. Os alunos responsáveis pelo novo desenho poderiam ter argumentado que sua autoridade para fazer essas mudanças vinha de uma prática estabelecida há vários séculos.

Isso é algo parecido com a situação que Paulo enfrentou quando escreveu sua carta às igrejas da Galácia. Seu plano, segundo o qual os gentios podiam se unir à igreja com base unicamente na fé, estava sendo desafiado por falsos mestres, que insistiam na ideia de que os gentios também deviam ser circuncidados antes de se tornarem membros da igreja. A carta aos Gálatas é uma resposta a esse engano.


Convide seus amigos e vizinhos para que participem da semana de oração jovem. Ore suplicando que esses convidados recebam milagres espirituais.

Domingo, 02 de julho
Ano Bíblico: Sl 100–105
Paulo, o escritor de cartas

1. Leia 2 Pedro 3:15, 16. Como a igreja primitiva considerava os escritos de Paulo? O que isso nos ensina sobre a inspiração? Assinale a alternativa correta:

A.( ) Difíceis. Apesar da origem divina da mensagem, os profetas e apóstolos escreveram com suas próprias palavras, segundo sua bagagem cultural e intelectual.

B.( ) Fáceis. Deus tem uma linguagem simples, por isso, Ele ditou cada palavra a Paulo.

Quando Paulo escreveu aos gálatas, sob a orientação do Espírito Santo, tratou de situações específicas que o envolviam e também aos cristãos da Galácia.

Cartas como a Epístola aos Gálatas desempenharam papel importante no ministério de Paulo. Sendo o missionário enviado aos gentios, ele fundou igrejas ao redor do Mediterrâneo. Embora visitasse essas igrejas sempre que possível, ele não podia ficar em um lugar por muito tempo. Para compensar sua ausência, Paulo escrevia cartas às igrejas a fim de lhes dar orientação. Com o tempo, cópias das suas cartas foram compartilhadas com outras igrejas (Cl 4:16). Embora algumas dessas cartas tenham se perdido, pelo menos treze delas no Novo Testamento levam seu nome. Além disso, como mostram as palavras de Pedro, os escritos de Paulo passaram a ser vistos como parte das Escrituras. Isso mostra quanta autoridade seu ministério ganhou nos primórdios da história da igreja.

Antigamente, alguns cristãos acreditavam que o formato das cartas de Paulo fosse único, especialmente criado pelo Espírito a fim de conter a Palavra inspirada de Deus. Essa visão mudou quando dois jovens estudantes de Oxford, Bernard Grenfell e Arthur Hunt, descobriram no Egito cerca de 500 mil fragmentos de papiros antigos (documentos escritos em papiro, um material popular para escrita, usado vários séculos antes e depois de Cristo). Além de encontrar algumas das cópias mais antigas do Novo Testamento, eles encontraram também notas fiscais, declarações de renda, recibos e cartas pessoais.

Para surpresa de todos, verificou-se que o formato básico das cartas de Paulo era comum a todos os escritores de cartas de seu tempo. O formato incluía (1) uma saudação de abertura, que mencionava o remetente e o destinatário e, em seguida, introduzia a saudação; (2) palavras de agradecimento; (3) o corpo principal da carta; e, finalmente, (4) uma declaração de encerramento.

Paulo seguiu o formato básico do seu tempo, falando aos seus contemporâneos por um meio de comunicação e um estilo com o qual eles estavam familiarizados.

Se a Bíblia fosse escrita hoje, quais meios de comunicação, formato e estilo você acha que o Senhor usaria para nos alcançar?


Segunda-feira, 03 de julho
Ano Bíblico: Sl 106–110
O chamado de Paulo

Embora as epístolas de Paulo geralmente sigam o formato básico das cartas antigas, Gálatas contém uma série de características únicas. Essas diferenças podem nos ajudar a entender melhor a situação com a qual Paulo estava lidando.

2. Quais são as diferenças e semelhanças entre a saudação introdutória de Paulo em Gálatas 1:1, 2 com as que ele escreveu em Efésios 1:1, Filipenses 1:1 e 2 Tessalonicenses 1:1? 

A saudação de Paulo em Gálatas é um pouco mais longa do que a saudação das outras cartas. Além disso, ele teve que agir de forma diferente ao descrever a base de sua autoridade apostólica. Literalmente, a palavra apóstolo significa “alguém enviado” ou “mensageiro”. No Novo Testamento, no sentido estrito, ela se refere aos primeiros doze seguidores de Jesus e aos outros a quem o Cristo ressuscitado apareceu e comissionou para ser Suas testemunhas (Gl 1:19; 1Co 15:7-9). Paulo declarou que pertencia a esse grupo seleto.

O fato de Paulo negar com tanta força que seu apostolado se apoiasse em qualquer ser humano sugere que havia uma tentativa, por parte de alguns na Galácia, de enfraquecer sua autoridade apostólica. Por quê? Como vimos, alguns na igreja não estavam felizes com a mensagem de Paulo, de que a salvação era fundamentada na fé em Cristo apenas, e não nas obras da lei. Eles achavam que o evangelho apresentado por Paulo estivesse minando a obediência. Esses perturbadores eram sutis. Sabiam que a base da mensagem do evangelho de Paulo estava diretamente ligada à fonte de sua autoridade apostólica (Jo 3:34) e resolveram fazer um ataque poderoso contra essa autoridade.

No entanto, eles não negaram diretamente o apostolado de Paulo. Simplesmente alegaram que ele não era realmente muito importante. Eles provavelmente afirmavam que Paulo não havia sido um dos primeiros discípulos de Jesus. Sua autoridade, portanto, não era de Deus, mas de homens, talvez dos líderes da igreja de Antioquia, que tinham designado Paulo e Barnabé como missionários (At 13:1-3). Ou, talvez, viesse de Ananias, que havia batizado Paulo, no início (At 9:10-18). Na opinião deles, Paulo era somente um mensageiro de Antioquia ou Damasco, e nada mais. Consequentemente, eles argumentaram que sua mensagem era simplesmente sua própria opinião, não a Palavra de Deus.

Paulo reconheceu o perigo dessas afirmações e defendeu imediatamente o apostolado que Deus lhe havia concedido.

Quais sutilezas desafiam a autoridade das Escrituras dentro da igreja? Como reconhecer esses desafios? Como eles têm influenciado seu pensamento a respeito da autoridade da Bíblia?


Terça-feira, 04 de julho
Ano Bíblico: Sl 111–118
O evangelho de Paulo

3. Além de defender seu apostolado, o que Paulo enfatizou em sua saudação aos gálatas? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso. (Compare Gl 1:3-5 com Ef 1:2; Fp 1:2; e Cl 1:2.)

A.( ) A divindade de Cristo.

B.( ) A ressurreição dos mortos.

C.( ) A graça e a paz.

Uma das características singulares das cartas de Paulo é sua maneira de ligar as palavras graça e paz nas saudações. A combinação dessas duas palavras é uma modificação das saudações mais características do mundo grego e judaico. Onde um autor grego normalmente escreveria “saudações” (chairein), Paulo escrevia “graça”, uma palavra que tinha o som parecido em grego (charis). A isso Paulo acrescentava a típica saudação judaica da “paz”.

A combinação dessas duas palavras não é uma simples cortesia. Ao contrário, essas palavras descrevem basicamente sua mensagem do evangelho (Paulo usou essas duas palavras mais do que qualquer outro autor do Novo Testamento). A graça e a paz não eram de Paulo, mas de Deus, o Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

4. Quais aspectos do evangelho Paulo apresentou em Gálatas 1:1-6?

Embora Paulo tivesse pouco espaço em sua saudação inicial para explanar a natureza do evangelho, ele descreveu magistralmente a essência do evangelho em poucos versos. Qual é a verdade central sobre a qual o evangelho está firmado? De acordo com Paulo, não é nossa conformidade com a lei – o conceito que os adversários de Paulo estavam anunciando. Ao contrário, o evangelho se fundamenta inteiramente no que Cristo realizou por nós por meio de Sua morte na cruz e da Sua ressurreição. A morte e a ressurreição de Cristo fizeram algo que nunca poderíamos fazer por nós mesmos: destruíram o poder do pecado e da morte, libertando Seus seguidores do poder do mal, que mantém muitas pessoas no medo e na escravidão.

À medida que Paulo refletia sobre a maravilhosa notícia da graça e da paz que Deus criou para nós em Cristo, ele entrava numa doxologia espontânea, que aparece no verso 5.

Utilizando aproximadamente a mesma quantidade de palavras que Paulo usou em Gálatas 1:1-5, escreva o que o evangelho significa para você. Compartilhe suas palavras com a classe.

No dia 5 de agosto teremos a multiplicação dos pequenos grupos. O egoísmo nos afasta de Deus e das pessoas, mas o milagre do amor nos faz viver em comunidade.

Quarta-feira, 05 de julho
Ano Bíblico: Sl 119
Nenhum outro evangelho

5. O que normalmente aparece depois da saudação inicial nas cartas de Paulo? Qual é a diferença em Gálatas? Gl 1:6; Rm 1:8; 1Co 1:4; Fp 1:3; 1Ts 1:2. Assinale a alternativa correta:

A.( ) Uma petição. Paulo resolveu não pedir nada aos gálatas.

B.( ) Um agradecimento. Paulo omitiu o agradecimento por causa do mau comportamento dos gálatas.

Embora Paulo tivesse abordado todos os tipos de desafios e problemas locais em suas cartas às igrejas, ainda assim ele costumava colocar, depois da saudação inicial, uma palavra de oração ou agradecimento a Deus pela fé dos seus leitores. Ele fez isso até em suas cartas aos coríntios, que estavam lutando com todos os tipos de comportamento questionável (1Co 1:4; 5:1). No entanto, a situação na Galácia era tão perturbadora que Paulo omitiu totalmente a ação de graças e foi direto ao ponto.

6. Quais palavras fortes Paulo utilizou para demonstrar sua preocupação com o que estava acontecendo na Galácia? Gl 1:6-9; 5:12. Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:

A.( ) O apóstolo amaldiçoou os que estavam pregando outro evangelho.

B.( ) Chamou de “filhos do diabo” os que pervertiam o evangelho.

Paulo não reteve as palavras em sua acusação contra os gálatas. Ele os acusou de trair sua vocação como cristãos. A palavra abandonando (NVI) ou passando (RA), que aparece no verso 6, muitas vezes era usada para descrever soldados que desistiam de sua lealdade ao país, abandonando o exército. Paulo estava dizendo que os gálatas eram desertores que estavam virando as costas para Deus.

De que maneira os gálatas estavam abandonando a Deus? Eles passaram a aceitar um evangelho diferente. Paulo não estava dizendo que há mais de um evangelho, mas que havia alguns na igreja que, ao ensinar que a fé em Cristo não era suficiente (At 15:1-5), estavam agindo como se tivesse outro. Paulo ficou tão incomodado com essa distorção do evangelho que desejou que qualquer pessoa que pregasse um evangelho diferente caísse sob a maldição de Deus! (Gl 1:8). Paulo foi tão enfático sobre esse ponto que chegou a dizer basicamente a mesma coisa duas vezes (Gl 1:9).

Até mesmo em nossas igrejas, há uma tendência de enfatizar a experiência acima da doutrina. Dizem que o mais importante é a experiência e o relacionamento com Deus. Por mais importante que seja a experiência, o que Paulo ensina sobre a importância da doutrina correta?


Quinta-feira, 06 de julho
Ano Bíblico: Sl 120–134
A origem do evangelho de Paulo

7. Os perturbadores da Galácia alegaram que o evangelho de Paulo era dirigido por seu desejo de obter a aprovação dos outros. Em sua carta, o que Paulo poderia ter feito de maneira diferente, se estivesse apenas buscando a aprovação dos homens? Gl 1:6-9, 11-24.

Por que Paulo não exigiu que os gentios convertidos fossem circuncidados? Seus oponentes alegaram que isso ocorreu porque ele queria conversões a qualquer custo. Talvez eles tivessem pensado que, pelo fato de Paulo saber que os gentios teriam restrições em relação à circuncisão, ele não exigiu isso. Insinuaram que ele gostava de agradar o povo! Em resposta a tais alegações, Paulo apresentou a seus oponentes as fortes palavras de Gálatas 1:8, 9. Se tudo o que ele quisesse fosse aprovação, certamente teria respondido de outra forma.

8. Para Paulo, por que é impossível ser seguidor de Cristo e, ao mesmo tempo, querer agradar as pessoas? Assinale a alternativa correta:

A.( ) Porque é impossível agradar as pessoas. Cada uma deseja algo diferente.

B.( ) Porque os servos de Cristo desagradam as pessoas que não aceitam o evangelho, e os que desejam agradar as pessoas não podem servir a Cristo.

9. Em Gálatas 1:11, 12, Paulo disse que havia recebido seu evangelho e autoridade diretamente de Deus. Quais são os argumentos apresentados nos versos 13-24 para provar esse conceito? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:

A.( ) Ele foi separado desde o ventre materno para realizar a obra de Deus.

B.( ) Deus teve que escolher Paulo para uma missão, pois ele era muito capaz.

C.( ) Paulo destruía a igreja e passou a construí-la. Portanto, era impossível que o evangelho que pregava fosse dele próprio.

Os versos 13-24 trazem um relato autobiográfico da situação de Paulo antes da conversão (v. 13, 14), na conversão (v. 15, 16) e posteriormente (v. 16-24). Paulo afirmou que as circunstâncias que envolveram cada um desses acontecimentos tornaram absolutamente impossível que qualquer pessoa afirmasse que ele havia recebido o evangelho de outra pessoa, a não ser Deus. Paulo não ficaria indiferente, permitindo que alguém depreciasse sua mensagem, questionando seu chamado. Ele sabia o que lhe havia acontecido, o que havia sido chamado a ensinar, e faria isso, não importando o que custasse.

Você tem certeza do seu chamado em Cristo? Como saber o que Deus lhe chamou para fazer? Ao mesmo tempo, mesmo que esteja certo da sua vocação, por que você deve ouvir o conselho dos outros?


Sexta-feira, 07 de julho
Ano Bíblico: Sl 135–139
Estudo adicional

“Em quase todas as igrejas havia alguns membros judeus de nascimento. A esses conversos os mestres judeus tinham fácil acesso e, por meio deles, ganhavam um ponto de apoio nas igrejas. Com argumentos bíblicos, era impossível derrubar as doutrinas ensinadas por Paulo. Por isso, eles recorriam às medidas mais inescrupulosas para neutralizar sua influência e enfraquecer sua autoridade. Declaravam que ele não havia sido discípulo de Jesus e não tinha recebido nenhum chamado da parte dEle, mas ousava ensinar doutrinas diretamente opostas aos ensinos defendidos por Pedro, Tiago e outros apóstolos […].

“O coração de Paulo ficou agitado quando viu os males que ameaçavam destruir rapidamente essas igrejas. Imediatamente ele escreveu aos gálatas, expondo suas teorias falsas e, com grande severidade, repreendeu os que tinham abandonado a fé” (Ellen G. White, Sketches From the Life of Paul [Esboços da Vida de Paulo], p. 188, 189).

Perguntas para reflexão

1. Qual é o significado do evangelho para você?

2. Na saudação de Paulo aos gálatas, ele declarou que a morte de Jesus ocorreu por uma razão específica. Qual foi essa razão, e qual o significado disso hoje?

3. Em Gálatas 1:14, Paulo disse que ele era extremamente zeloso das tradições de seus pais. Por “tradições” ele provavelmente se referia tanto às tradições orais dos fariseus como ao próprio Antigo Testamento. Existe espaço para as tradições em nossa fé? Que advertência a experiência de Paulo nos apresenta hoje em relação à questão da tradição?

4. Por que Paulo era “intolerante” com os que tinham crenças diferentes das dele? Como seria vista em nossa igreja hoje uma pessoa com uma postura tão firme e intransigente?

Resumo: Os falsos mestres da Galácia estavam tentando enfraquecer o ministério de Paulo, afirmando que seu apostolado e mensagem do evangelho não lhe tinham sido dados por Deus. Paulo enfrentou essas duas acusações nos primeiros versos de sua carta aos Gálatas. Corajosamente, ele declarou que só há um meio de salvação e descreveu como os eventos que envolveram sua conversão demonstravam que sua vocação e evangelho só podiam provir de Deus.

Respostas e atividades da semana: 1. A. 2. Com antecedência, escolha quarto alunos e distribua os textos bíblicos entre eles. Peça que eles estudem a saudação introdutória designada a cada um deles e que compartilhem no próximo sábado com a classe. 3. F; F; V. 4. Peça para os alunos compartilharem suas respostas em classe no sábado. 5. B. 6. V; F. 7. Com uma semana de antecedência, escolha um aluno para responder essa questão e trazer sua resposta no sábado. Permita que outros compartilhem suas respostas. 8. B. 9. V; F; V.


Participe do projeto “Reavivados por Sua Palavra”: acesse o site http://reavivadosporsuapalavra.org/

Resumo da Lição 2
A autoridade de Paulo e o evangelho

TEXTO-CHAVE: Gálatas 1:10

O ALUNO DEVERÁ

Conhecer: Os argumentos de Paulo quanto à autenticidade do seu chamado evangélico e de seus ensinos.

Sentir: A ardente paixão e a determinação com que Paulo defendeu a verdade do evangelho e lutou contra os ensinos errôneos na Galácia.

Fazer: Apegar-se às verdades das Escrituras e apoiar fortemente sua defesa.

ESBOÇO

I. Conhecer: A defesa de Paulo

A. Como os primeiros parágrafos de Paulo em Gálatas apresentaram sua posição em relação a seu chamado e autoridade para abordar e corrigir ensinamentos doutrinários?

B. Como o relato que Paulo fez de sua história no ministério ampara sua alegação de autoridade? Como essas alegações foram fundamentadas por outros na liderança da igreja?

II. Sentir: As fortes emoções de Paulo

A. Quais frases no início da carta de Paulo ilustram seus fortes sentimentos em relação à doutrina equivocada e seus efeitos sobre os membros da igreja? Por que Paulo foi afetado de maneira tão forte?

B. De que maneira os erros doutrinários causaram destruição na história da igreja?

III. Fazer: Chamado atual para defender o evangelho com fervor

A. Quais desafios doutrinários específicos a igreja enfrenta hoje e que exigem da nossa parte uma defesa dedicada, determinada e ousada?

B. O que precisamos fazer para garantir nosso apoio às verdades bíblicas em cooperação com Cristo e Seu corpo, para a glória do evangelho?

RESUMO: Paulo iniciou sua carta aos Gálatas com uma referência autorizada e sucinta à supremacia dos dons da graça de Deus e uma firme condenação de qualquer doutrina contraditória.

Ciclo do aprendizado

Motivação

Focalizando as Escrituras: Gálatas 1:10

Conceito-chave para o crescimento espiritual: O evangelho pregado por Paulo ainda é o fundamento inabalável para a fé cristã. Tudo na nossa vida deve ser submetido à sua autoridade.

Para o professor: Enfatize o fato de que, embora Paulo tivesse defendido sua autoridade para ensinar, ele chamou a atenção para a única autoridade verdadeira: Jesus Cristo.

A internet e outras formas de tecnologia moderna tornaram possível aos “sintonizados” entre nós o acesso a uma incrível quantidade de informações. Ao mesmo tempo, essa acessibilidade tornou mais viável do que nunca simplesmente “ignorar” as vozes das quais discordamos ou que nos desafiam. Assim, nossa visão de mundo é formada pelas autoridades que consideramos confiáveis.

O mundo em que Paulo escreveu aos gálatas não era muito diferente. Havia muitas pessoas afirmando ser autoridades, com todos os tipos de razões plausíveis indicando que seus adversários não eram autoridades. Os adversários de Paulo, defendendo um evangelho que não era, de fato, um evangelho, atacaram Paulo, enfraquecendo suas reivindicações de autoridade e semeando confusão e desconfiança dentro da igreja. Paulo respondeu fundamentando sua autoridade não nas próprias qualidades pessoais, mas no melhor de todos os fundamentos: seu encontro com Jesus Cristo e a mensagem recebida (o evangelho).

Discussão inicial: Paulo colocou toda a sua confiança e fé no evangelho que ele havia sido chamado a pregar e nAquele que o havia comissionado a pregá-lo. Em que você coloca sua confiança? Em última análise, quem ou qual é a autoridade para você?

Compreensão

Para o professor: Na igreja primitiva, assim como hoje, a essência do ensinamento estava na Pessoa de Jesus Cristo e em Sua vida e ministério. Naquele tempo, a igreja primitiva não tinha a coleção completa de documentos que conhecemos como o Novo Testamento. No entanto, eles tinham os apóstolos vivos, pessoas que tinham conhecido Jesus e andado com Ele durante Sua existência na Terra. Necessariamente, os apóstolos receberam confiança e autoridade significativas. Enfatize a importância do papel de Paulo como apóstolo e o que significavam os esforços para questioná-lo ou subestimá-lo.

Comentário bíblico

I. “Segundo a sabedoria que lhe foi dada...”

(Recapitule com a classe 2Pe 3:15, 16.)

A maioria dos estudantes da Bíblia bem informados está ciente de que os primeiros cristãos não conheciam outras Escrituras, senão as do Antigo Testamento, e de que o Novo Testamento, como o conhecemos, não se formou até o segundo século, pelo menos. No entanto, Pedro, em sua segunda epístola, referiu-se às cartas de Paulo como Escrituras, ou pelo menos sugeriu esse status, ao compará-las com as “outras Escrituras”. Por isso, alguns estudiosos têm proposto uma data tardia para a carta de 2 Pedro, até mesmo negando sua autoria. Eles perguntam: Como o autor poderia saber que as cartas de Paulo receberiam o status de Escrituras?

Em primeiro lugar, a igreja primitiva reconhecia grandemente a presença de ativa inspiração em seu meio. Os apóstolos, inclusive Paulo, não eram simplesmente indivíduos carismáticos e altamente espirituais que tinham boas ideias e hábeis pensamentos, como poderíamos considerar um determinado pastor ou professor hoje. Parte da estima que eles recebiam ocorria porque haviam conhecido, encontrado e andado com o Cristo vivo e tinham sido considerados dignos de representá-Lo diante do mundo.

Por isso, as coisas que os apóstolos escreveram ou ensinaram tinham autoridade especial. Não sabemos se, na época, esses escritos ou ensinos foram colocados no mesmo nível do Pentateuco ou dos profetas do cânon normativo do Antigo Testamento. Entretanto, eles certamente foram considerados como tendo muita autoridade.

Esse ponto nos leva à situação específica abordada por Paulo em Gálatas. A principal diferença entre Paulo e seus adversários era que Paulo podia alegar e, de fato, alegava ser apóstolo, e seus oponentes não podiam e não reivindicavam para si esse status. Poderíamos supor 

que eles teriam feito tal alegação, se esta pudesse ser provada, ou se os membros da igreja não soubessem o suficiente para refutá-la ou questioná-la. Mas, claramente, sua falta de status era bem conhecida. Tudo o que lhes restava era dizer: “Ei, podemos não ser apóstolos, mas Paulo também não é realmente um apóstolo”.

Pense nisto: Como a atitude demonstrada a Paulo por seus adversários é vista hoje nas tentativas de enfraquecer a autoridade das Escrituras?

II. A autoridade de Paulo

(Recapitule com a classe Gl 1:11-24.)

Como vimos, os adversários de Paulo o atacaram com base em suas qualidades pessoais e na integridade da sua vocação e ensinamentos. Superficialmente, seus ataques violentos poderiam ter sido atrativos às pessoas do ambiente greco-romano do primeiro século. Paulo não havia conhecido Jesus durante Sua vida na Terra, o que ele mesmo admitia. Assim, quer gostasse ou não, ele não podia ser visto da mesma forma que, por exemplo, Pedro.

Além disso, os judaizantes, adversários de Paulo, defendiam a tradição. O respeito pela tradição era uma coisa sobre a qual judeus, romanos e gregos concordavam. Ao contrário da recente crença que progredia, as pessoas daquela época acreditavam que a idade de ouro (literal) tinha sido no passado e que as coisas desde então estavam entrando em decadência. Dessa maneira, coisas consideradas “herdadas” de um passado remoto eram superiores às coisas que haviam surgido recentemente. Muitos gregos e romanos desprezavam a tradição judaica, considerando-a estranha, desagradável ou contrária ao bom senso. Contudo, muitos entre eles também a consideravam com uma espécie de reverência, como uma revelação de uma época em que seus próprios antepassados tinham acabado de sair do barbarismo. Alguns deles até acreditavam nos judeus helenísticos, como Filo de Alexandria, que afirmava, entre outras coisas, que Platão obteve todas as suas ideias de Moisés. Em resumo, a inovação não era valorizada. E Paulo era visto, com ou sem razão, como um inovador.

A resposta de Paulo? Seus adversários estavam absolutamente certos. Ele não havia recebido suas doutrinas por meio do contato pessoal com o Jesus histórico durante Seu ministério terrestre. Ele as tinha recebido do Jesus celestial, ressuscitado, que agora habitava à direita do Pai no Céu. Evidentemente, essa revelação era tão autêntica e poderosa que mesmo os que haviam andado com Jesus durante Seu ministério terrestre eram obrigados a reconhecê-la e, de fato, “glorificavam a Deus” por causa dela (v. 24).

Quanto ao conhecimento das tradições judaicas de interpretação das Escrituras e de práticas religiosas, Paulo estava mais habilitado que seus críticos. E esse conhecimento lhe havia trazido pouco proveito! A tradição o havia colocado no caminho errado, que o levou à perseguição dos próprios cristãos judeus que agora alegavam que ele não estava suficientemente enraizado no judaísmo. Na verdade, para se tornar o apóstolo que era, ele teve que abandonar grande parte da ostentação que teria lhe dado mais credibilidade aos olhos de seus acusadores.

Pense nisto: Em seu ministério, Paulo não podia depender de muitas coisas que outros poderiam usar para lhes garantir o próprio valor e autossuficiência. Sobre o que você baseia a certeza de seu chamado e da presença da graça de Deus em sua vida?

Aplicação

Para o professor: Use as seguintes perguntas para desafiar os alunos a fundamentar a vida na autoridade do mesmo Jesus Cristo do qual Paulo dependia em relação à sua autoridade para ensinar e pregar.

Perguntas para reflexão

1. Os adversários de Paulo fundamentavam seus ensinamentos no que era, essencialmente, um apelo à tradição. Qual é o lugar da tradição na vida da igreja e na vida espiritual de uma pessoa?

2. No começo, provavelmente tivesse sido difícil para as “colunas” da Igreja em Jerusalém aceitarem o apostolado de Paulo. Contudo somos informados de que, finalmente, eles louvaram a Deus por isso. E mesmo os que difamavam Paulo na Galácia não atacaram frontalmente as afirmações do apóstolo. Embora aparentemente os adversários de Paulo pudessem dizer que ele estava imaginando coisas, o que mostrou claramente a autenticidade de seu ministério?

Perguntas para aplicação

1. Como nossa vida pode provar aos céticos a realidade de Deus?

2. Paulo falou sobre um evangelho verdadeiro e “outros evangelhos” falsos. Às vezes, a diferença é muito sutil. Como saber que somos guiados pelo verdadeiro evangelho, mesmo quando os falsos evangelhos parecem razoáveis?

Criatividade e atividades práticas

Para o professor: A carta de Paulo aos Gálatas vai ao cerne da razão que temos para as nossas crenças, que é uma questão de autoridade. Ressalte que na vida cristã só existe uma autoridade final, e essa é Jesus Cristo e o evangelho que Ele viveu e pregou. Somos atraídos à autoridade de Jesus pela maneira como ela se manifesta em nossa vida e experiência, assim como as declarações que Paulo fazia a respeito de sua autoridade se demonstravam em seu ministério eficaz e em sua vida radicalmente transformada. A atividade a seguir desafiará seus alunos a avaliar as autoridades que eles aceitam e a tornar Deus e Sua Palavra os primeiros na vida deles.

Atividade

Pergunte aos seus alunos como eles sabem o que sabem. Por que eles acreditam na existência da Antártida, por exemplo? Quantos já foram para lá? Talvez eles conheçam alguém que esteve nesse lugar, mas como eles sabem que essa pessoa é confiável? Peça que os alunos mencionem as evidências de credibilidade das autoridades que eles aceitam, e depois comparem essas autoridades com as Escrituras. Qual é a sua maior fonte de autoridade?

 


Esposo cruel – parte 1

Em uma manhã de sábado, Chadamla (Chadâmila) parou em frente à Igreja Adventista do Sétimo Dia em sua cidade. Sua vida não estava indo bem. Ele ganhava um bom dinheiro dirigindo um táxi de três rodas, mas estava preocupado, pois seu casamento estava em crise. Ele batia na esposa várias vezes por mês, e não conseguia se conter.

Certo dia, ele viu o pastor falando em uma igreja e parou para ouvir. O pastor estava contando a história de Jacó na classe da Escola Sabatina. Descreveu uma escada que alcançava o Céu, com anjos que subiam e desciam a escada, e falou da promessa de Jacó de dar 10% de sua renda, se o Senhor o abençoasse.

Depois que terminou a classe da Escola Sabatina, Chadamla entrou na igreja e perguntou ao pastor onde estava a história que ele havia contado. O pastor lhe deu um exemplar da Lição da Escola Sabatina dos adultos daquele trimestre e uma Bíblia. Chadamla agradeceu e foi para casa.

O problema de Chadwamla

Naquela tarde, Chadamla pensou no que tinha ouvido na igreja e como tinha se tornado um marido tão cruel.

Os espancamentos começaram cerca de três meses depois que Chadamla e sua esposa haviam se casado. Na época, ele tinha 22 anos, e a esposa, 18 anos. Tanto ele quanto a esposa tinham profundas raízes hindus. Chadamla recebeu seu nome em homenagem ao deus hindu do vento. Sua esposa recebeu o nome de uma deusa hindu.

Mesmo antes de se casarem, a esposa de Chadamla sabia que havia sido escolhida pelos espíritos. Ela era possuída por espíritos durante rituais religiosos, perdendo o controle do corpo, dançando e rasgando a roupa. Os aldeões a convidaram para assistir a reuniões espirituais em suas casas. Quando ela entrava em transe, eles pediam conselho aos espíritos, e ela falava.

Embora fosse hindu, Chadamla não gostava da participação da esposa nas reuniões espirituais. Ele ficava particularmente perturbado com a forma pela qual as reuniões com os espíritos terminavam. Ao deixar a casa onde o ritual era realizado, sua esposa dançava descontroladamente na rua, no caminho para o santuário mais próximo, onde ela sacrificava um galo ou uma cabra pequena. O sacrifício deixava o rosto e as roupas dela salpicados de sangue. Depois do sacrifício, ela recuperava a razão e voltava para casa.

“Não gosto desses rituais”, dizia Chadamla. “Não gosto de ver minha esposa possuída. Eu gritava com minha esposa e batia nela, e dizia para ela não ir.”

A influência do diabo

Chadamla sentia-se mal depois que batia na esposa, mas não conseguia deixar de fazer isso. Algum tempo depois, ele percebeu que os mesmos espíritos malignos que possuíam sua esposa estavam se manifestando também em suas ações.

“Eu não sabia que era o espírito do diabo que estava me provocando para bater em minha esposa”, ele disse. “Mas, depois de ler a Bíblia por algum tempo, percebi que a arrogância é de Satanás.”

Certo dia, enquanto era espancada, a esposa olhou para ele e disse com firmeza: “Quem você acha que sou para me bater desse jeito?” Às vezes, ela fugia para a casa dos pais até que Chadamla se acalmasse. Mas ela sempre voltava, e continuava frequentando os rituais. Duas vezes, ela sofreu abortos durante os rituais.

Na época, Chadamla visitou a igreja adventista perto de sua casa, ouviu os comentários do pastor sobre Jacó e ficou desejoso de saber mais. Chadamla não tinha ideia de como aquela reunião mudaria sua vida.

Parte da oferta da Escola Sabatina deste trimestre ajudará a concluir a construção de um centro de treinamento evangelístico que fica a 30 quilômetros da casa de Chadamla, no centro da Índia. Esse será o primeiro grande centro de treinamento evangelístico em toda a Divisão Sul-Asiática. Ele estará disponível para ser usado pelos membros da igreja local, como Chadamla, pelos pastores e leigos de toda a Divisão. Lembre-se, em suas orações, desse projeto e da causa adventista na Índia. Participe das ofertas missionárias da Escola Sabatina.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º trimestre de 2017
Tema geral: “O evangelho em Gálatas”
Lição 2: 1º a 8 de julho
A autoridade de Paulo e o Evangelho

 

Autor: Pr. Nilton Aguiar

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

 

Introdução

Paulo enfrentou algumas crises de autoridade ao longo de seu ministério. Na Galácia, seu apostolado foi questionado fortemente como uma tentativa de desabonar sua pregação. Paulo reagiu fortemente a essa iniciativa. Porém, não era necessariamente com sua imagem que ele estava preocupado. Ele não procurava agradar a homens, de outro modo não seria um servo de Cristo (Gl 1:10). Há algo maior em risco. Uma vez que ele tinha consciência de que a graça de Jesus é o único meio disponível para a salvação dos homes, ele combatia a ideia de que os gentios devessem ser circuncidados a fim de tornar-se cristãos. Para Paulo, esta era uma negação do sacrifício expiatório de Cristo. Ele escreveu aos Gálatas para corrigir esse pensamento. 

Paulo, o escritor de cartas

A carta era o tipo mais comum de escrita no mundo antigo. De fato, “era o meio pelo qual os monarcas e imperadores administravam seus domínios, e pelo qual as autoridades judaicas em Jerusalém mantinham integrados o culto e a comunidade do povo judeu até a destruição do templo”. Isso significa que Paulo utilizou o meio mais comum da época para servir ao seu propósito de pregar o evangelho, e ainda num formato com o qual seus ouvintes estavam acostumados. Essa é uma boa indicação de como devemos usar a tecnologia e as redes sociais hoje.

Por que Paulo escreveu tantas cartas? Alguém pode se perguntar. O poeta Antônio Campos diria que foi “porque não se pode calar nem falar”. Paulo precisou escrever cartas para fortalecer as igrejas porque não podia estar nessas igrejas. Por outro lado, ele não conseguiria ficar em silêncio diante das dificuldades que as igrejas enfrentavam. Suas cartas eram uma forma de suprir sua ausência. Elas desempenharam um papel tão importante para o desenvolvimento da igreja primitiva, que, logo cedo, começaram a ser vistas como estando no mesmo nível das Escrituras do Antigo Testamento (2Pe 3:16).

O chamado de Paulo

Ao introduzir sua carta aos Gálatas, Paulo afirmou com ênfase seu apostolado. Com exceção de Filipenses e Filemom, na abertura das outras suas cartas, Paulo ligou intimamente o termo apóstolo ao seu nome. Novamente, ele estava seguindo um padrão comum da época. Quando “o imperador manda uma carta para uma cidade em sua capacidade oficial, a saudação inclui todos os seus títulos para mostrar sua autoridade, por exemplo, para legislar para a cidade ou outorgar benefícios. De modo semelhante, Paulo adorna o próprio nome a fim de dar autoridade ao ensinamento de suas cartas”.

Porém, há algo diferente em Gálatas. Duas coisas precisam ser destacadas. Primeiro, as frases “não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum” não aparecem na abertura de nenhuma outra carta. Por contraste, elas enfatizam o chamado divino de Paulo. Segundo, Gálatas não tem ação de graças (comparar com Rm 1:8; 1Co 1:4; Fp 1:3; 1Ts 1:2, para alguns poucos exemplos). Em vez disso, Paulo fez uma severa repreensão logo após a abertura: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho” (Gl 1:6). Tudo isso demonstra que Paulo vinha enfrentando problemas de autoridade na Galácia. Essa é a razão pela qual ele enfatizou seu chamado divino de maneira tão veemente.

O evangelho de Paulo

As palavras graça e paz aparecem combinadas no Novo Testamento dezenove vezes. Dessas dezenove ocorrências, apenas três aparecem fora das cartas paulinas (1Pe 1:2; 2Jo 3; Ap 1:4). Enquanto o termo “graça” (charis) é muito semelhante em grego a uma antiga saudação do mundo greco-romano (chairein), o termo “paz” vem do Antigo Testamento (shalom). Nesse sentido, seria mais natural que Paulo utilizasse a sequência “paz e graça” em vez de “graça e paz”. Porém, existe uma razão para a inversão da ordem: não existe paz sem graça. A graça sempre vem primeiro.

Logo no início de sua carta, Paulo apontou para o fundamento de sua pregação e a mensagem central do Evangelho, a qual alguns da Galácia estavam rejeitando em função de sua proposta de retorno ao sistema legal do judaísmo. Paulo apontou para o sacrifício de Jesus (Gl 1:4a) como a única oferta capaz de nos livrar do pecado (Gl 1:4b) e descreveu Deus, o Pai, como Aquele que provê a oferta (Gl 1:4c). Paulo finalizou a seção com uma doxologia em que ele louva a Deus por Sua iniciativa de salvar a humanidade (Gl 1:5). E nessa “doxologia está implícita uma reprovação aos gálatas por tentarem dividir o trabalho de salvação entre Deus e o homem”. 

Nenhum outro evangelho

A expressão “outro evangelho” em Gálatas 1:6 está em visível contraste com “o evangelho de Cristo” em Gálatas 1:7, o qual Paulo anunciou na Galácia (1:11; 4:13) e também em outros lugares (ver Rm 15:19; 1Co 9:12; 2Co 2:12; 4:4; 9:13; 10:14; Fp 1:27; 1Ts 3:12; 2Ts 1:8). Paulo deixou claro que “a mensagem que os cristãos da Galácia estão dispostos a aceitar no lugar do evangelho que eles haviam recebido dele é tão diferente de sua mensagem que isso constitui “outro evangelho”. Porém, Paulo enfatizou que não existe outro evangelho além do evangelho que ele pregava (Gl 1:8-9). Para falar de “outro” evangelho, ele usou o termo grego heteros, que é usado nesse contexto para significar “outro” de uma espécie diferente. Com isso, Paulo enfatizou que não existe evangelho alternativo, porque só existe um meio de salvação (Ef 2:5, 8; ver também At 4:12).

A origem do evangelho de Paulo

Para esclarecer que tanto seu chamado para ser apóstolo quanto seu evangelho derivavam de Deus, Paulo apelou à sua experiência na estrada de Damasco. Assim como ocorreu na abertura, ele negou novamente a procedência humana de sua mensagem, e a atribuiu à “revelação de Jesus Cristo” (Gl 1:12), referindo-se à experiência de sua conversão. Em 2 Coríntios 12:7, ele deixou claro que teve revelações subsequentes. Portanto, o evangelho anunciado por Paulo foi o que ele recebeu de Deus a partir das revelações. Em Gálatas 1:16, Paulo usou novamente o verbo “revelar” para mencionar que Deus revelou Cristo a ele. Desse modo, para Paulo, Cristo e o evangelho são inseparáveis. Anunciar o Evangelho é a mesma coisa que anunciar a Cristo, e vice-versa.

Conclusão

Paulo foi um homem zeloso pela mensagem do evangelho e o bem-estar das igrejas que ele pastoreava. Sua experiência em Damasco transformou radicalmente sua vida. De fato, foi necessário que algo tão radical quanto a própria aparição de Jesus lhe fizesse mudar de rumo. Paulo tinha plena consciência de que seu chamado tinha origem divina e de que o evangelho que ele pregava lhe fora revelado por Deus, que entregou Cristo para morrer em favor da raça humana. Por isso, ele combateu tão fortemente a ideia de um “evangelho” alternativo. Para ele, a graça de Cristo é o único meio de salvação.

Notas

Helen Elsom, O Novo Testamento e a Escrita Greco-Romana, em Robert Alter e Frank Kermode (organizadores), Guia Literário da Bíblia (São Paulo: Fundação Editora da Unesp, 1997), p. 611.

Antônio Campos, Território da Palavra: Artigos e Cartas aos Amigos (Recife: Bagaço, 2006).

ELSON, Helem, O Novo Testamento e a escrita greco-romana, In: ALTER, Robert; KERMODE, Frank (orgs). Guia literário da Bíblia. São Paulo: Fundação Editora da Unesp, 1997, p. 612.

H. D. M. Spence-Jones, ed., Galatians, The Pulpit Commentary (London; New York: Funk & Wagnalls Company, 1909), p. 45.

F. F. Bruce, The Epistle to the Galatians: A Commentary on the Greek Text, New International Greek Testament Commentary (Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans Pub. Co., 1982), p. 81. 

Biblical Studies Press, The NET Bible First Edition Notes (Biblical Studies Press, 2006), Gl 1:7.