Entre as estações da vida, uma das mais importantes é o casamento. Novamente, é preciso dizer que nem todos se casam, mas, para aqueles que o fazem, o casamento também traz desafios e bênçãos especiais. Entre essas bênçãos está o maravilhoso dom da sexualidade. No tempo e lugar certos, esse dom pode ser uma poderosa expressão de amor.
Ao contrário da opinião popular, a Bíblia não é contra o sexo. Ela é contra o uso indevido desse maravilhoso dom do Criador para o ser humano.
Na verdade, o livro de Cântico dos Cânticos de Salomão, um dos menores e talvez menos lidos livros da Bíblia, descreve o relacionamento entre uma jovem noiva, Sulamita, e seu amado (acredita-se que este seja o próprio rei Salomão). O livro revela os mistérios da intimidade humana e os prazeres do amor conjugal no casamento. Embora Cantares tenha sido frequentemente tratado de maneira alegórica, como um símbolo do relacionamento entre Deus e Seu povo ou entre Cristo e a igreja, ele é, antes de tudo, um poema sobre o amor em um relacionamento muito real entre um homem e uma mulher.
Nesta semana, examinaremos o casamento conforme ele é retratado nesse livro do Antigo Testamento.
1. Como você caracterizaria a visão bíblica sobre o corpo humano? Gn 2:7; Sl 63:1; 84:2; 1Co 6:19, 20; 1Ts 5:23
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Algumas religiões creem no dualismo, uma filosofia que vê o corpo humano como um problema para a vida do espírito. Isto é, o corpo é considerado mau, enquanto o “espírito” é considerado bom. Contudo, nas Escrituras, o corpo humano, inclusive suas características sexuais, integra todo o ser. A vida é “corpo” e “espírito” (veja Gn 2:7). O salmista se doou por inteiro em adoração a Deus (Sl 63:1; 84:2). A pessoa inteira deve ser santificada, separada para o propósito santo planejado por Deus.
2. Cantares reflete uma visão positiva do corpo humano, no contexto da relação sexual. Como esses textos revelam essa atitude? Ct 1:2, 13; 2:6; 5:10-16; 7:1-9. Assinale a alternativa correta:
A. ( ) Cada parte do corpo do homem e da mulher é elogiada e comparada a coisas belas e prazerosas.
B. ( ) Embora o corpo humano seja apresentado de maneira positiva, a descrição de uma relação sexual é perniciosa.
Ao longo desse texto sagrado, o corpo humano é admirado. Os aspectos físicos do amor conjugal não são um constrangimento. Uma extensa série de emoções é apresentada abertamente.
Normalmente existem poderosos tabus sexuais em muitas culturas. Os casados muitas vezes têm dificuldade de se comunicar de maneira saudável em relação à sua vida íntima. Semelhantemente, muitas vezes as crianças são privadas da oportunidade de aprender sobre sexualidade no contexto de um lar cristão, onde os valores piedosos podem ser integrados a informações precisas. A abertura da Bíblia em relação à sexualidade convida o povo de Deus a se sentir mais confortável quanto a esse assunto, de maneira que esse aspecto essencial da vida seja tratado com o respeito e a dignidade devidos a esse dom tão grandioso do Criador.
3. Quais são os vários aspectos do amor apresentados em Cantares? Como podemos descrevê-los? Ct 1:2, 13; 2:10-13, 16; 3:11; 4:1-7; 5:16; 6:6; 7:1-9; 8:6, 7
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Cantares mostra como os amigos passam tempo juntos, comunicam-se abertamente e cuidam um do outro. Nesse livro, dois bons amigos se casam, tornando-se cônjuges. A esposa declara: “Tal é [...] o meu amigo” (Ct 5:16, ARC). A palavra amigo expressa companheirismo e amizade sem a implicação da parceria sexual. Feliz é o marido ou a esposa cujo cônjuge é um amigo(a) querido(a).
Ao longo do poema, elogios íntimos e gestos amorosos transmitem a forte atração, o prazer físico e emocional que o homem e a mulher encontram um no outro. A intimidade natural do amor romântico é um dom do Criador, a fim de ajudar os cônjuges a se unirem intimamente um com o outro no casamento. Visto que os cônjuges estão abertos à obra do amor divino em seu coração, seu amor humano é “refinado e apurado, elevado e enobrecido” (Ellen G. White, O Lar Adventista, p. 99).
Essas passagens do livro de Cantares também comunicam os pensamentos mais elevados sobre o amor. No entanto, o amor verdadeiro não é natural ao coração humano; é um dom do Espírito Santo (Rm 5:5). Esse amor une marido e mulher em uma união duradoura. É o amor comprometido, tão desesperadamente necessário no relacionamento entre pai e filho a fim de desenvolver nos jovens um senso de confiança. É o amor abnegado que une os cristãos no corpo de Cristo. Cantares nos chama a fazer desse amor uma força ativa em nosso relacionamento com nosso cônjuge.
4. Como essa intimidade reflete, à sua maneira, a intimidade que podemos ter com Deus? Quais paralelos podemos traçar? (Exemplos: passar tempo com Deus, entregar-se completamente ao Senhor, etc.)
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5. Que compromisso com a reciprocidade na vida íntima do casal é apresentado em Cantares 4:7–5:1, à semelhança da instrução de Paulo em 1 Coríntios 7:3-5?
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Salomão a convidou: “Vem comigo” (Ct 4:8, ARC). Sua noiva correspondeu ao convite. Mais tarde, ela o convidou: “Que o meu amado entre em seu jardim” (Ct 4:16, NVI). Ele também atendeu ao convite (Ct 5:1). As Escrituras ensinam nesses textos que não deve haver força nem manipulação nesse ambiente íntimo. Ambos os cônjuges entram de maneira voluntária e amorosa nesse relacionamento. “Meu jardim” é “seu jardim”.
“Salomão” e “Sulamita” compartilham nomes derivados da palavra hebraica shalom, que significa “paz” ou “plenitude”. A admiração deles é mútua (Ct 4:1-5; 5:10-16). O equilíbrio em seu relacionamento é evidenciado até mesmo no estilo poético dos versos emparelhados. A expressão da aliança, “o meu amado é meu, e eu sou dele” (Ct 2:16), ecoa a linguagem do Éden: “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2:23).
6. Como a descrição da união conjugal mediante a palavra “conhecer” enriquece a compreensão do nosso relacionamento com Deus? Gn 4:1, 25; 1Sm 1:19; Lc 1:34; Jo 17:3; 1Co 8:3. Assinale a alternativa correta:
A. ( ) Mostra que precisamos ter mais informações e teorias sobre Deus.
B. ( ) Como o homem “conhece” a mulher e tem tem intimidade com ela, devemos ter uma experiência profunda com Deus.
A Bíblia usa a palavra “conhecer” para designar a união entre o marido e a esposa. Nesse “conhecimento” amoroso, o mais íntimo e oculto do ser é oferecido ao outro. Não apenas dois corpos, mas também dois corações são unidos em “uma só carne”. A palavra “conhecer” também descreve a relação entre os indivíduos e Deus. Para o cristão perspicaz, o conhecimento afetuoso e singular do matrimônio apresenta uma profunda visão do mais sublime e santo mistério de todos os tempos: a união entre Cristo e a igreja.
Leia Cantares 4:8–5:1. Cantares 4:16 e 5:1 são o centro desse livro e descrevem, por assim dizer, seu clímax no momento em que o casamento entre Salomão e Sulamita é consumado.
7. A que Salomão se referiu nas seguintes passagens? Ct 4:12, 16; 5:1; 8:8-10. Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:
A. ( ) À pureza e virgindade da amada comparadas a um jardim fechado ou a uma fonte selada.
B. ( ) Ao pecado de sua amada, que caía em tentação e era um jardim destruído.
Em Cantares, encontramos algumas das evidências mais convincentes das Escrituras acerca do plano de Deus de que as pessoas permaneçam sexualmente puras até o casamento. Uma das mais poderosas é uma referência à infância de Sulamita, quando seus irmãos indagavam se ela seria um “muro” ou uma “porta” (Ct 8:8, 9). Em outras palavras, ela permaneceria pura até o casamento (um muro) ou seria promíscua (uma porta)? Como adulta, ela confirmou que havia mantido a pureza para seu marido: “Eu sou um muro” (Ct 8:10). Na verdade, Salomão confirmou que ela ainda era virgem até a noite de núpcias, afirmando que ela era “um jardim fechado, [...] manancial recluso, fonte selada” (Ct 4:12). A partir de sua experiência, ela pôde aconselhar suas amigas a dar os passos do amor e do casamento com muito cuidado. Três vezes em Cantares Sulamita se dirigiu a um grupo de mulheres chamadas de “filhas de Jerusalém” para aconselhá-las a não despertar a intensa paixão do amor até o momento apropriado (Ct 2:7; 3:5; 8:4), isto é, até que se encontrassem em segurança na íntima aliança do casamento, assim como ela.
Pela segunda vez no poema, o amado convidou sua noiva a ir embora com ele (Ct 2:10; 4:8). Antes do casamento, ela não podia aceitar o convite dele, mas depois ela o convidou a ir até seu jardim (Ct 4:16), e ele aceitou alegremente (Ct 5:1). Ele não foi apenas atraído por sua beleza; ela arrebatou seu coração (Ct 4:9); ele estava embriagado com seu amor (Ct 4:10) e empolgado, pois, a partir daquele momento, e para sempre, ela era dele e de mais ninguém: “Jardim fechado és tu, minha irmã, noiva minha, manancial recluso, fonte selada” (Ct 4:12). Em sua união com essa mulher perfeita, ele se viu alcançando a terra prometida: “Os teus lábios, noiva minha, destilam mel. Mel e leite se acham debaixo da tua língua” (Ct 4:11).
Deus tinha um propósito especial ao criar a humanidade como homem e mulher (Gn 1:26-28). Embora cada um revele a Sua imagem, a união dos sexos opostos em “uma só carne” no casamento reflete a unidade da Divindade de modo especial. A união do masculino e do feminino também proporciona a procriação, expressão humana original da imagem divina.
8. Qual é a atitude das Escrituras em relação às práticas sexuais que não estão de acordo com o plano do Criador? Lv 20:7-21; Rm 1:24-27; 1Co 6:9-20. Assinale a alternativa correta:
A. ( ) A Bíblia adverte sobre o erro e suas graves consequências.
B. ( ) A Escritura é flexível e elogia a diversidade sexual.
As Escrituras desaprovam tudo o que altera ou destrói a imagem de Deus na humanidade. Ao estabelecer como proibidas certas práticas sexuais, Deus guia Seu povo rumo aos propósitos corretos para a sexualidade.
9. Qual é a orientação para os cristãos quanto à sua sexualidade e a dos outros em um mundo caído? Rm 8:1-14; 1Co 6:15-20; 2Co 10:5; Gl 5:24; Cl 3:3-10; 1Ts 5:23, 24
__________________________________________________________________________________________Aguardamos a libertação da corrupção do pecado no retorno de Cristo. Esperamos em fé, considerando-nos mortos para o pecado mediante a morte de Cristo na cruz e vivos Nele mediante Sua ressurreição. Por meio do poder do Espírito, nossa natureza pecaminosa é crucificada e obedecemos a Cristo em nossos pensamentos. Nosso corpo e sexualidade pertencem a Deus e os usamos de acordo com Seu plano divino.
Deus perdoa os que se arrependem do pecado (1Jo 1:9). O evangelho permite que indivíduos que antes se entregavam à promiscuidade e à atividade sexual pecaminosa, participem da comunhão cristã. Devido à extensão em que o pecado alterou a sexualidade humana, alguns podem ser incapazes de viver uma restauração completa nesse aspecto da experiência humana. Alguns, por exemplo, podem escolher uma vida de celibato em vez de se envolverem em qualquer relação sexual proibida pela Palavra de Deus.
“O casamento recebeu a bênção de Cristo e deve ser considerado uma instituição sagrada. A verdadeira religião não deve agir contra os planos do Senhor. Deus ordenou que homem e mulher se unissem em santo vínculo matrimonial, para criar famílias que, coroadas de honra, fossem símbolos da família do Céu. E, no início do Seu ministério público, Cristo deu Sua decidida aprovação à instituição que havia criado no Éden. Assim, declarou Ele a todos que não recusará Sua presença em ocasiões de matrimônio, e que o casamento, quando unido à pureza e santidade, verdade e justiça, é uma das maiores bênçãos concedidas à família humana” (Ellen G. White, Filhas de Deus, p. 180, 181).
O amor sexual no casamento é maravilhoso. Mas um relacionamento duradouro não pode ser fundamentado na beleza exterior e nos prazeres físicos. O corpo envelhece e se deteriora, e nenhuma dieta, exercício e cirurgia plástica nos manterão para sempre jovens. O casamento de Salomão e Sulamita foi um compromisso vitalício. Por três vezes eles confirmaram que pertenciam um ao outro (Ct 2:16; 6:3; 7:10). A primeira vez foi um reconhecimento de propriedade mútua (compare com Ef 5:21, 33). Na segunda vez, ela inverteu a ordem para confirmar sua submissão (veja também Ef 5:22, 23). A terceira vez ele expressou seu desejo por ela (Ef 5:24-32). Esse amor não pode ser apagado nem afogado (Ct 8:7); é como um selo que não pode ser quebrado (Ct 8:6).
Perguntas para discussão
1. A descrição da esposa perfeita (Ct 4:1-5; 6:8 e 7:1-9) se compara à expressão de Adão quando viu Eva? (Gn 2:23) Como o marido deve se relacionar com a esposa? (Ef 5:28, 29).
2. Alguns veem em Cantares uma alegoria da relação que existe entre Deus e Seu povo ou entre Jesus e Sua igreja. Embora precisemos ter cuidado para não “alegorizar” demais, quais características do relacionamento entre essas duas pessoas podem ser comparadas ao nosso relacionamento com Deus? Compare também com Is 54:4, 5; Jr 3:14; 2Co 11:2.
3. Leia Provérbios 31:26; 25:11 e Cantares 5:16. Nossas palavras são importantes o bastante para destruir ou fortalecer nosso cônjuge e enfraquecer ou fortalecer nosso casamento? Use os seguintes textos como ilustração adicional: Tg 1:26; 3:5-11.
Respostas e atividades da semana:
1. Somos seres completos, tendo corpo (matéria, pó da terra) e fôlego de vida (sopro de Deus). Somos indivisíveis.
2. A.
3. O amor percorre uma jornada: a amizade, o romance, o carinho, a admiração e o sexo.
4. Assim como na intimidade com nosso cônjuge, podemos nos doar completamente a Deus, passar tempo com Ele e servi-Lo de maneira abnegada.
5. Cantares revela o convite que Salomão e sua amada fazem um ao outro para entrarem “no jardim”. O convite e o prazer são recíprocos. Paulo também falou da intimidade sexual do marido e da mulher. O corpo dele pertence a ela; e o dela, a ele.
6. B.
7. V; F.
8. A.
9. Devemos crucificar as paixões da carne e viver pelo Espírito.
Quando Deus contemplou tudo o que havia criado, incluindo o corpo humano, Ele declarou que tudo era “muito bom” (Gn 1:31). Essa aprovação por si só poderia ser usada como justificativa para censurar a atividade sexual, se não houvesse outros textos bíblicos sobre o assunto. Mas esse não é o caso. A partir de dezenas de textos das Escrituras sobre o assunto, podemos concluir explícita e implicitamente que a sexualidade humana faz parte do plano de Deus. No entanto, ela é cuidadosamente regulada (Gn 1:28; 4:1; 9:1; Êx 20:14; Lv 18:1-30; Pv 6:32; 1Co 6:9; Gl 5:19; Hb 13:4).
Os adventistas do sétimo dia acreditam que o corpo é importante. O que acontece com o corpo afeta a pessoa e seu caráter. Nossa crença nessa relação de causa e efeito se origina em nossa convicção de que os seres humanos são uma unidade integral das dimensões físicas e não físicas. Na discussão sobre antropologia bíblica, muitas vezes é ouvida a seguinte máxima: “Um ser humano não tem alma; um ser humano é uma alma” (ver Gn 2:7). Isso significa que as ações corporais, como comer, se exercitar, manter contato físico e envolver-se em atividades sexuais, são atividades da alma e não devem ser consideradas eventos isolados que não afetam a pessoa como um todo. Porque Deus criou o nosso corpo e tem uma participação importante em nosso bem-estar, não deveria nos surpreender que Ele tenha algo a dizer sobre nossa vida sexual. Ele sabe que esse assunto é muito importante. Se alguém acha que Deus é reticente quanto a esse assunto e tem restrições severas ou puritanas sobre a sexualidade, deveria ler o livro Cântico dos Cânticos de Salomão.
Alguns dos belos temas encontrados nesses cânticos mostram que o amor tem muitas faces. A Sulamita pode apresentar seu amado às filhas de Jerusalém, declarando: “Tal é o meu amado, e tal o meu amigo” (Ct 5:16 ARC). Ver a intimidade em outros contextos além do físico aprofunda nossa compreensão do amor em exposição. “Conhecer”, uma expressão velada para a união sexual (Gn 4:1), não é apenas um eufemismo aleatório. Ao contrário, é uma descrição significativa da profundidade da familiaridade e vulnerabilidade pessoal que dá à sexualidade o significado pretendido por Deus.
Holismo ou dualismo
Nossa maneira de ver a relação de nossa dimensão material (nosso corpo) com nossa dimensão imaterial (nosso estado mental, emocional e espiritual) exerce tremenda influência sobre nosso modo de viver. Uma das rupturas teológicas mais influentes que ocorreu entre nossa igreja e a tradição cristã existente foi ver o ser humano como um todo e não como uma dualidade. Embora acreditemos que uma pessoa tenha várias características (física, espiritual, mental, emocional), acreditamos que todas essas dimensões sejam interligadas em um todo complexo em que cada dimensão afeta a outra. Repercussões dessa visão são imediatamente aparentes em vários tópicos teológicos. As pessoas podem ser tentadas a pensar que a Igreja Adventista do Sétimo Dia mantém posições singulares sobre determinado número de temas independentes, como: criação, ressurreição, morte, inferno, santificação e saúde. Mas essas posições são fundamentadas na relação bíblica entre a mente e a dimensão física humana. É a nossa visão da integralidade dos seres humanos que nos caracteriza e nos diferencia do dualismo dos demais cristãos.
Um exemplo extremo do gnosticismo profundamente dualista acreditava que qualquer aspecto físico é inerentemente mal, portanto, a sexualidade deve ser estritamente evitada em todas as circunstâncias. Outros gnósticos concluíram que, se o espírito não pode ser afetado pelo corpo (dualismo), o que é feito no corpo é irrelevante. Consequentemente, uma pessoa pode consentir com todo o sexo irrestrito que desejar. Assim, a sexualidade ascética ou a sexualidade hedonista são os resultados extremos de forte dualismo.
Sempre que um cristão pensa que o que ele faz em seu corpo não é tão importante quanto o que é feito na “alma”, está em perigo de flertar com as filosofias gnósticas/dualistas e suas consequências. Um cristão dualista pode estar bem ciente das proibições bíblicas contra o comportamento sexual inadequado. Mas como esse indivíduo fez coisas espirituais, como submeter sua “alma” a Deus, orar, adorar e amar a Deus com o seu coração, então o sexo com seu parceiro antes do casamento não está no mesmo patamar de importância que todos os compromissos “espirituais” que essa pessoa assumiu com Deus. O “espiritual” triunfou sobre o “físico” em sua antropologia religiosa. Esse pensamento deixa o cristão suscetível a cometer pecados no corpo.
Outro problema com essa visão, além do seu contraste com a visão integral da Bíblia, é que ela viola diretamente nossa experiência. A sexualidade deve ser tanto um ato do coração e do espírito quanto do corpo e, preferencialmente, deve ser a expressão de uma entidade completamente não física que chamamos de amor. Novamente, aqueles que se recuperam depois de terem abusado de seu corpo de várias maneiras (por meio de comida, sexo, drogas, etc.) são geralmente levados a perceber que o núcleo de seus problemas não é físico (mas pode ser sua autoimagem, relacionamentos disfuncionais e problemas emocionais). Afinal, nossa vida espiritual e nossos relacionamentos, com Deus e com nós mesmos, são dramaticamente afetados pelo que fazemos em nosso corpo. O físico afeta o espiritual e vice-versa. Essa conclusão pode ser aproveitada para apoiar os princípios bíblicos sobre sexualidade, envolvimento físico pré-matrimonial, abuso de substâncias químicas e problemas de saúde e bem-estar.
Uma canção para hoje
A velocidade e o grau com que a cultura ocidental está redefinindo todos os fatores sexuais (gênero, sexo, casamento, expressão sexual apropriada e inapropriada, etc.) são assustadores. Felizmente, os ecos de uma cosmovisão judaico-cristã têm colocado em cheque a liberação determinada pelas sociedades seculares em relação a todas as normas morais fundamentadas na religião. Invocar um poema hebraico de quase três mil anos a respeito do amor, como fonte de orientação sobre intimidade e sexualidade, certamente seria considerado irônico em um grupo de opiniões diversas. No entanto, Cântico dos Cânticos de Salomão contém temas que, se fossem observados, reorientariam o sexo e as relações de acordo com o ideal de Deus, um ideal que sempre restaura a realização e a alegria.
Dois temas serão brevemente mencionados aqui: (1) exclusividade íntima e (2) amor oportuno. É evidente que o drama amoroso no poema é entre Salomão e sua amada. Embora tanto a noiva como o noivo tenham amigos que aparecem frequentemente (Ct 1:4, 5, 11; 2:7; 3:7, 8; 3:11), a intimidade entre Salomão e a Sulamita é exclusiva (Ct 2:16). Agora, imagine um mundo em que esse único princípio fosse levado a sério: um relacionamento íntimo monogâmico por toda a vida com seu melhor amigo (Ct 5:16).
Infelizmente, Salomão se tornou polígamo. Ele foi um perfeito exemplo da transgressão de seus próprios conselhos sábios. A experiência de Salomão é um caso em que devemos fazer o que ele diz e não o que ele fez.
Como a lição observa, a Sulamita é um “muro” e um “jardim fechado” (Ct 4:12; 8:10). Ela corretamente estima seu coração e sua virgindade como valiosos o suficiente para serem entregues somente a um companheiro comprometido por toda a vida. Ela rejeita a tentação de ser uma “porta” giratória para uma multidão de pretendentes indignos (Ct 8:9). As bênçãos que essa perspectiva ocasiona e as mágoas que ela evita são incontáveis. No entanto, o espaço permitirá pelo menos uma percepção menos conhecida acerca da fidelidade a esse princípio.
Embora os valores bíblicos e tradicionais sobre a abstinência sexual até o casamento geralmente sejam ridicularizados como sendo um desmancha-prazeres idealista e antiquado, o oposto pode ser o caso. Existem evidências de que ter inúmeros parceiros sexuais antes de se comprometer com um único companheiro para a vida toda (por meio do casamento) pode minar as perspectivas de um “casamento de alta qualidade” (Ver Galena K. Rhoades e Scott M. Stanley, “Before I Do”: What Do Premarital Experiences Have to Do With Marital Quality Among Today’s Young Adults [“Antes De Dizer Sim”: O que as experiências pré-matrimoniais têm a ver com a qualidade conjugal entre os jovens de hoje?], Charlottesville, Va.: The National Marriage Project, p. 5). Pense nisso por um momento. Deus nunca deveria ser visto como se estivesse restringindo o prazer humano, mas apenas regulando-o para maximizá-lo no tempo certo. Aqui entra em cena nosso segundo tema, amor oportuno: o tema recorrente da Sulamita, fazendo as filhas de Jerusalém jurar de modo que “não despertem nem incomodem o amor enquanto ele não o quiser” (Ct 2:7; 3:5; 8:4, NVI). A sexualidade não apenas foi idealizada para ser expressa com um único companheiro por toda a vida (“Os seus olhos são como os das pombas” [Ct 5:12]. Pombas são conhecidas por ter um único parceiro por toda a vida), mas foi planejada para ser preservada até que um nível de maturidade pessoal e relacional fosse alcançado.
Um fenômeno mundial atual que transgride esses dois princípios dos Cânticos dos Cânticos de Salomão é o aumento assustador da exposição precoce a cenas de sexo por meio da internet e outras mídias. As consequências dessa exposição, sem dúvida, serão estudadas nas décadas futuras. Entretanto, algumas observações preliminares mostram que os caminhos de Deus preservam o potencial de intimidade sexual ao longo da experiência do casamento, enquanto os caminhos alternativos geralmente são prejudiciais. Por exemplo, um artigo da revista Time falou sobre um grupo de rapazes que tentam permanentemente evitar a pornografia. Por quê? Não por razões religiosas nem convicções morais. Em vez disso, eles haviam intoxicado a mente com conteúdo de sexo explícito por tanto tempo, que não eram mais capazes de desempenhar suas funções sexuais normais no mundo real. Como um pai em recuperação, sensivelmente expressou: “Eu diria ao meu filho: ‘Vou ser sincero com você, todas as coisas que são superestimulantes, como pornografia na internet, alimentos não saudáveis e drogas, podem ser divertidas e prazerosas temporariamente. [...] Contudo, elas também têm o potencial de torná-lo insensível às coisas normais e naturais e, finalmente, irão roubar de você a única coisa que você pensava que elas lhe dariam: a capacidade de sentir prazer” (Belinda Luscombe, “Porn and the Threat to Virility” [Pornografia e a Ameaça à Virilidade], Time, Março de 2016).
Enquanto algumas pobres almas estão literalmente destruindo sua capacidade para o prazer sexual por meio da atividade sexual ilícita, Deus está tentando usar todos os meios possíveis, incluindo o Cântico dos Cânticos de Salomão, para preservar e maximizar a satisfação emocional, relacional, espiritual e física que o casamento pode trazer.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
Ainda que seja necessário, é difícil abordar tópicos relacionados à sexualidade em um ambiente de grupo, como a classe da Escola Sabatina. Seja discreto ao apresentar as atividades seguintes e evite o uso de linguagem sexualmente explícita para não ofender as pessoas. Lembre-se, muito provavelmente haja membros da igreja com dificuldades nessa área.
1. Anteriormente foi afirmado que o físico afeta o espiritual e vice-versa. Em nenhum lugar isso é tão evidente quanto na atividade sexual. Peça à classe que explique por que isso acontece ou que apresente outros exemplos de interações entre corpo e espírito.
2. Desfrutar “dos prazeres do pecado por uma estação” é um fascínio para todos, inclusive para o cristão (Hb 11:25). Tradicionalmente, a abnegação é vista como a resposta para tal encanto. Mas à luz das reflexões acima, podemos encontrar motivação na busca por um prazer superior em vez de um prazer inferior. Veja se a classe pode elaborar melhor essa estratégia para diferentes questões da vida.
3. Observe a atenção aos detalhes que os personagens do livro Cântico dos Cânticos de Salomão usam para descrever um ao outro. Que atributo de caráter eles possuem que promove tal admiração? Esse atributo é um segredo para um casamento feliz?
Paixão por Jesus
Miguel tem 69 anos e está explodindo de vitalidade. Há alguns anos, ele aceitou prontamente o convite de um amigo, Yraldino “Dino” Fernandez, para liderar estudos bíblicos na casa deste, no carente distrito de La Teja, na capital do Uruguai, Montevidéu. Além dos estudos bíblicos que recebia, Miguel viajava com Dino para realizar mais estudos bíblicos nas casas pessoas no distrito, um lugar onde a Igreja Adventista do Sétimo Dia não tinha representação.
Depois de um ano, os participantes do estudo bíblico foram convidados para uma série evangelística sobre Daniel e Apocalipse. Dezesseis pessoas foram batizadas. “Após as reuniões, decidimos construir uma igreja”, disse Miguel.
Os 16 novos membros alugaram uma casa e se passaram a se reunir todos os sábados. A frequência à igreja cresceu quando o grupo começou a distribuir comida e roupas aos moradores do bairro. O espaço alugado ficou apertado e os membros da igreja procuraram maneiras de expandir a igreja e seu impacto na comunidade.
O problema foi resolvido quando adventistas de todo o mundo ajudaram aquela comunidade a comprar seu próprio prédio e estabelecer um centro de estilo de vida, através de uma oferta trimestral em 2016.
Miguel se diz entusiasmado, ao vislumbrar novas oportunidades disponíveis a essa igreja. “Nosso plano é servir as pessoas da vizinhança, incluindo os sem-teto”, disse ele em uma entrevista na cozinha da igreja, onde são realizadas aulas de culinária saudáveis. “Muitas pessoas carentes vivem por aqui.”
História 2
Essa não foi a primeira vez que Miguel conquistou pessoas para Cristo. Anteriormente, ele e um grupo de membros da igreja adventista do sétimo dia de El Prado viajavam regularmente para uma favela composta principalmente de abrigos rústicos feitos de caixas de papelão em uma região perigosa de Montevidéu. “Eu e
mais quatro amigos ministramos 25 estudos bíblicos todos os sábados”, Miguel conta. “Também levávamos alimento. Tentamos alcançar as pessoas e alimentá-las.”
Os membros da igreja prestaram assistência contínua a 47 adultos e 90 crianças. Eles também construíram uma casa onde as pessoas encontrariam abrigo das enchentes durante a chuva pesada.
As pessoas do assentamento começaram frequentar a igreja. Alguns chegavam de cavalo e carroça. Como resultado desse esforço, houve 21 batismos.
História 3
Miguel trabalhou 27 anos na Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais , ADRA, no Uruguai, e uma de suas melhores lembranças é Walter, um sem-teto diabético e que havia amputado as pernas que apareceu em um centro da agência. Walter não tinha comida nem lugar para morar. Miguel se familiarizou com ele enquanto cozinhava comida no centro. Soube que Walter tinha um passado de glórias como uma antiga celebridade autor de músicas satíricas para o Carnaval do Uruguai, um grande festival anual celebrado em janeiro e fevereiro.
Miguel falou o que Jesus representava na vida e Walter demonstrou interesse. Certo dia depois do almoço, Walter perguntou: “Por que você não me ensina sobre a Bíblia?” A pedido de Walter, ambos foram a um parque arborizado e estudaram a Bíblia juntos sob o calor do sol uruguaio. Inteligente, com desejo e disposição para mudar, Walter aprendia tudo rapidamente. Deixou de fumar e renunciou a alguns outros maus hábitos. No centro da ADRA recebeu alimentação vegetariana e começou a gostar de carne de soja.
Certo dia, enquanto Miguel preparava o sermão, Walter perguntou, “Qual o tema do seu sermão?” Miguel explicou que a ideia do sermão surgiu de um quadro que ficava perto da geladeira. Era uma ilustração de uma criança catando comida de uma lata de lixo e com a pergunta impressa: “Do que você reclama?”
Miguel abriu a Bíblia e leu Lucas 9:13, onde Jesus disse aos discípulos: “Deem-lhes vocês algo para comer”. Isso Ele falou antes do milagre da multiplicação dos cinco pães e dois peixes. Miguel voltou a cozinhar e Walter continuou escrevendo em uma folha de papel. Depois, entregou a folha de papel a Miguel. “Se for útil, darei esse texto para você usar no sermão”, disse ele.
Durante o sermão, Miguel leu as palavras de Walter. Os membros da igreja ficaram profundamente comovidos e vários choraram. Ele havia escrito sob a perspectiva de Jesus. Como se Ele estivesse escrevendo para as pessoas. A mensagem dizia: “Você está reclamando; mas, olhe: à sua volta vivem pessoas sem
teto, sem comida e sem roupas. Você tem um lugar para descansar, comida para comer e roupas para usar.”
Então, Walter escreveu sobre si mesmo.
“Olhe para o que eu sou agora”, disse ele. “Eu costumava ter amigos que bebiam, dançavam comigo e vinham a mim porque era famoso. Mas agora eles vêm para reclamar sobre seus problemas, e eu digo: “Do que você está reclamando? Olhe para mim. Eu não tenho pernas e sou diabético.” Vários meses depois, Walter entregou o coração a Jesus. Quando saiu das águas batismais, gritou em voz alta: “Obrigado, Jesus!”
Miguel disse que ainda ouve o grito triunfante de Walter. Um mês e meio depois do batismo, Walter faleceu. “Espero vê-lo novamente quando nosso Pai celestial vier nos levar para casa”, diz Miguel. “Espero me reunir com ele e com todas as pessoas para as quais Deus nos deu a oportunidade de compartilhar o evangelho. Quero ver todos no Céu.”
Muito obrigado pela oferta do trimestre de 2016 que ajudou a Igreja Adventista do Sétimo Dia de La Teja a adquirir seu próprio prédio e centro comunitário. Obrigado por conquistar pessoas para Jesus ao se unir a missionários como Miguel.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 2º Trimestre de 2019
Tema Geral: Estações da família
Lição 6: 4 a 10 de maio
A canção de amor do rei
Autor: Moisés Mattos
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega
Introdução: O conceito de amor tem sido desvirtuado. Para muitos, o amor é a capacidade de gostarmos de nós mesmos e elegermos pessoas para nos agradarem.
Tal não é o conceito de amor esboçado na Palavra de Deus, que inclui a manifestação de amor entre um homem e uma mulher nos limites do casamento. Nesta semana estudaremos sobre o amor no casamento, especialmente como apresentado pelo enredo de Cantares.
I – Uma descrição do amor no casamento
O livro de Cantares traz imagens que simbolizam o casamento entre Cristo e a igreja. No entanto, primariamente esse não foi objetivo dessa obra poética. Na verdade, o livro traduz com palavras de sua época o romance entre Salomão e a sulamita. Com cores vívidas é pintado o quadro de um relacionamento amoroso envolvendo elogios, reconhecimentos, carícias e intimidade sexual.
Como disse Archer, "temos aí a descrição comovente do romance arrebatador de Salomão com uma jovem humilde, extremamente linda, vinda do campo, talvez de Suném, no território de Issacar (a LXX [Septuaginta] traduz “sulamita” como sounamitis, ou "sunamita"). É possível que originalmente ele a tivesse observado vestida como pastora e que a houvesse conhecido quando a moça cuidava do rebanho em algum campo das redondezas” (Gleason Archer, Enciclopédia de Temas Bíblicos, p. 223).
II – Características do amor e intimidade no casamento
a) Contexto integral – O amor e o sexo são exercidos em um contexto integral, isto é, envolve o ser todo, em seus aspectos físico, mental e espiritual. Quando Deus formou Adão e Eva, os fez seres completos (Gn 2:7). A Bíblia não vê o ser humano em partes separadas, como espírito, alma e corpo, mas como a junção de todas elas. Na primeira carta aos Tessalonicenses 5:23, Paulo fala de uma santificação abrangendo o ser todo, nos aspectos físico, mental e espiritual, incluídos em um só ser. Assim, para que a sexualidade seja completa e correta, precisa abranger todo o ser. Não pode ser apenas o extravasar de uma necessidade física, nem se deter apenas em aspectos mentais ou filosóficos. Ela abrange também a dimensão interpessoal, isto é, o ato sexual exige que consideremos o outro como uma pessoa e não um simples objeto de consumo.
b) Contexto de reciprocidade – Um relacionamento amoroso e sexual envolve um contexto de amor, elogios e reciprocidade. "Cantares mostra como os amigos passam tempo juntos, comunicam-se abertamente e cuidam uns dos outros. Nesse livro, dois bons amigos se casam, tornando-se cônjuges. A esposa declara: “Tal é [...] o meu amigo” (Ct 5:16, ARC). A palavra amigo expressa companheirismo e amizade sem a implicação da parceria sexual. Feliz é o marido ou a esposa cujo cônjuge é um amigo(a) querido(a)” (Lição de segunda-feira).
c) Contexto de intimidade – Uma coisa leva à outra. Casais que se ofendem continuamente não podem desfrutar de uma vida sexual saudável. O que em geral acontece à noite (o sexo) começa pela manhã com palavras carinhosas e afetuosas. Em síntese: Ele precisa expressar o amor através do sexo, mas ela precisa sentir-se apreciada para desejar sexo. Essa relação íntima (sexual) é retratada como um conhecimento. "A Bíblia usa a palavra “conhecer” para designar a união íntima entre o marido e a esposa. Nesse “conhecimento” amoroso, o mais íntimo e oculto do ser é oferecido ao outro. Não apenas dois corpos, mas também dois corações são unidos em “uma só carne” (Lição de terça-feira).
No passado, infelizmente setores do pensamento cristão sobre a sexualidade sofreram a influência de correntes com base em visões ascéticas e rigorosas, que sublinhavam aspectos negativos relacionados com ela. O prazer sexual foi considerado sob uma perspectiva sombria. O resultado foi a abominação da sexualidade e o surgimento de muitos prejuízos. Entretanto, a Bíblia, e especialmente Cantares, colocam o sexo dentro do casamento como algo bom e saudável.
d) Contexto de pureza – Cantares 4:12 compara a esposa a um jardim fechado. O seu segredo se abre apenas para o marido. Isso indica pureza moral e fidelidade mútua entre marido e mulher. O texto diz que ela convida o esposo para que entre no jardim (Ct 4:16) e desfrute dos seus frutos excelentes. "Pela segunda vez no poema, o amado convidou sua noiva a ir embora com ele (Ct 2:10; 4:8). Antes do casamento, ela não podia aceitar o convite dele; mas depois ela o convidou a ir até seu jardim (Ct 4:16), e ele aceitou alegremente (Ct 5:1)”; (Lição de quarta-feira).
O sexo foi reservado para o casamento. O homem deixa seu pai e sua mãe para viver com sua mulher; os dois se tornam uma só carne (Gn 2:24). Essa passagem fundamenta toda eventual relação sexual. Quando duas pessoas fazem amor se tornam ‘uma só carne’, uma unidade. O ato sexual une duas pessoas, e isso os torna um casal. Em Mateus 19:5, 6 Jesus retomou a passagem de Gênesis e acrescentou: “Já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar”. Não se deve separar porque, ao se unir sexualmente, consumou-se um casamento. E, a partir daí, podemos fazer uma comparação com Êxodo 22:15, 16, onde se diz que, se algum homem seduz uma jovem não casada deve, como consequência, tomá-la como esposa. Concluímos, por esses e outros textos, que o sexo antes ou fora do casamento não é recomendado por Deus às suas criaturas. Andar fora deste padrão é transgressão do mandamento divino: “Não adulterarás”. Claro que a base de toda discussão sobre esse assunto deveria ser o que todos cremos e nem sempre praticamos: Deus ama o pecador, mas aborrece o pecado.
Conclusão:
Falando sobre sexo, sempre é importante lembrar que a teologia do período pós-apostólico foi influenciada por correntes filosóficas como o gnosticismo, que, com seu dualismo entre matéria, essencialmente má, e espírito, essencialmente bom, gerou dois tipos de comportamento:
a) Liberalismo – Doutrina que se fundamenta na liberdade inconsequente para desfrutar os prazeres da carne. Seus praticantes entregavam-se ao vício e à imoralidade. Esse comportamento liberal é completamente desaprovado pela ética cristã como se observa em toda a Bíblia.
b) Ascetismo – Doutrina moral que tem por base o desprezo do corpo e das sensações físicas de prazer. Seus praticantes chegavam a proibir o casamento e tinham conceitos negativos sobre o sexo. É muito provável que Paulo tivesse isso em mente quando condenou uma heresia que proibia o casamento (1Tm 4:3).
É interessante atentar também para o fato de que muitos dos chamados Pais da Igreja defendiam o celibato. Dentre eles, São Jerônimo, Tertuliano, e o mais famoso, Santo Agostinho. Ele acreditava que o celibato fosse superior ao casamento; e que sexo no casamento devia ser somente para procriação. E foi além: Se o casamento é sacramento, então o sexo é pecado venial. Segundo o Novo Dicionário Aurélio, o pecado venial é aquele “que enfraquece a graça sem a destruir”. Diríamos que seria um pecado com o qual que Deus consentiria. O ponto de vista de Agostinho em relação ao sexo tornou-se, até certo ponto, dominante na Igreja medieval. Dessa forma, tornou-se a palavra autorizada para o catolicismo posterior, como testemunharam o Concílio de Trento e os pronunciamentos dos papas mais recentes (E. C. Gardner, Fé Bíblica e Ética Social, p. 257, 258).
Esses pensamentos equivocados geraram visões distorcidas do sexo, que não correspondem ao ensinamento bíblico. Na Bíblia, o sexo é apresentado como algo bom, dádiva do Criador para o casamento com propósitos de procriação e prazer (Gn 1:27, 28; Pv 5:18, 19; Mt 19:3-6). Some-se a isso que o sexo é o símbolo de uma experiência maior: a união de Cristo com Sua igreja. Em Efésios 5:23-32, Paulo estabeleceu um paralelo entre o casamento humano e a relação entre Cristo e Seu povo. Essa analogia evidencia por implicação que o sexo dentro do casamento não é pecado e que a relação sexual praticada por um casal que se ama é plena de significado bíblico. É o clímax de uma união física, mental e espiritual, abençoada pelo Criador.
Conheça o autor do comentário: O Pastor Moisés Mattos graduou-se em teologia em 1989 e concluiu o mestrado na mesma área no ano 2000 pelo Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia. Cursou também uma pós-graduação em gestão empresarial. Serve à Igreja Adventista há 29 anos como professor de ensino religioso; pastor distrital; departamental em nível de Associação e União; presidente de Missão e Associação. Atualmente, exerce sua atividade como pastor na Associação Paulista Oeste-UCB. Casado com a professora Luciana Ribeiro de Mattos, é pai de Thamires (Jornalista) e Lucas (estudante de Publicidade e Propaganda).