No início do livro de Romanos, Paulo procurou demonstrar uma verdade crucial e fundamental para o evangelho: o triste estado da condição humana. Essa verdade existe porque, desde a queda, todos foram contaminados pelo pecado. Ele está ligado aos nossos genes assim como a cor de nossos olhos.
Martinho Lutero, em seu comentário sobre o livro de Romanos, escreveu o seguinte: “A expressão ‘todos estão debaixo do pecado’ deve ser tomada em um sentido espiritual; ou seja, não como o homem se enxerga nem como os outros o enxergam, mas como ele permanece diante de Deus. Todos estão debaixo do pecado, os transgressores manifestos aos olhos dos homens, bem como os que parecem justos aos seus próprios olhos e diante dos outros. Muitos que realizam boas obras exteriormente o fazem por medo do castigo, por amor ao ganho, pela glória, ou pelo prazer em determinado objetivo, mas não por um espírito voluntário e pronto. Assim, o homem se exercita continuamente na prática das boas obras exteriores, mas interiormente está totalmente imerso em desejos pecaminosos e paixões malignas, que se opõem às boas obras” (Martinho Lutero, Commentary on Romans [Comentário Sobre Romanos], p. 69).
1. “Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé” (Rm 1:16, 17). Qual é o significado desse texto? Você já experimentou as promessas e a esperança encontradas nessa passagem?
Várias palavras-chave ocorrem nessa passagem:
1. Evangelho. Essa palavra é a tradução de um termo grego que significa literalmente “boa mensagem” ou “boa notícia”. Sozinha, ela pode se referir a qualquer boa mensagem, mas como está modificada nessa passagem pelas palavras “de Cristo”, significa “a boa notícia sobre o Messias” (Cristo é a transliteração da palavra grega que significa “Messias”). A boa notícia é que o Messias veio, e as pessoas podem ser salvas pela fé nEle. É em Jesus e em Sua perfeita justiça – não em nós mesmos, nem na lei de Deus – que se pode encontrar a salvação.
2. Justiça. Essa palavra se refere à qualidade de ser justo para com Deus. O livro de Romanos revela um significado específico para ela, que iremos expor à medida que prosseguirmos com o estudo do livro. Devemos ressaltar que, em Romanos 1:17,
a palavra é qualificada pela expressão “de Deus”. É a justiça que vem de Deus, que o próprio Senhor apresentou. Como veremos, essa é a única justiça boa o suficiente para nos conduzir à promessa da vida eterna.
3. Fé. As palavras traduzidas como “crê” e “fé” nessa passagem são as formas verbais e substantivadas dos termos gregos pisteuo (crer) e pistis (crença ou fé), que vêm da palavra peithó (fé, fidelidade). O significado de fé relacionada à salvação será desdobrado à medida que avançarmos no estudo do livro de Romanos.
2. Leia Romanos 3:23. Por que é tão fácil acreditar nessa mensagem hoje? Ao mesmo tempo, por que algumas pessoas questionam a veracidade desse texto?
Surpreendentemente, algumas pessoas realmente se opõem à ideia da pecaminosidade humana, argumentando que as pessoas são basicamente boas. O problema, no entanto, decorre da falta de compreensão sobre o que é a verdadeira bondade. Uma pessoa pode se comparar à outra e se sentir bem consigo mesma. Afinal, sempre podemos encontrar alguém pior do que nós mesmos. Mas isso dificilmente nos torna bons. Quando nos comparamos a Deus, à Sua santidade e justiça, nenhum de nós sai com outra coisa senão um sentimento avassalador de aversão e repugnância de nós mesmos.
Romanos 3:23 também fala sobre “a glória de Deus”. Essa expressão tem sido interpretada de várias maneiras. Talvez a interpretação mais simples seja atribuir-lhe o significado que ela possui em 1 Coríntios 11:7: o homem “é imagem e glória de Deus” (NVI). Em grego, em certo sentido, a palavra para “glória” pode ser considerada equivalente ao termo para “imagem”. O pecado tem desfigurado a imagem de Deus no homem. Os seres humanos pecadores estão longe de refletir a imagem ou a glória de Deus.
3. Leia Romanos 3:10-18. Alguma coisa mudou hoje? Qual dessas representações melhor descreve você, ou como você seria se não fosse por Cristo em sua vida?
Por pior que sejamos, nossa situação não é irremediável. O primeiro passo é reconhecer nossa total pecaminosidade e também nossa impotência para fazer qualquer coisa a respeito dessa situação. É obra do Espírito Santo produzir essa convicção. Se o pecador não resistir a Ele, o Espírito levará o pecador a arrancar a máscara da autodefesa, pretensão e justificação própria, e se lançar sobre Cristo,
implorando Sua misericórdia: “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador” (Lc 18:13, NVI).
Na virada do século 20, as pessoas viviam com a ideia de que a humanidade estava se tornando melhor, que a moralidade aumentaria e que a ciência e a tecnologia ajudariam a inaugurar uma utopia. Acreditava-se que os seres humanos estivessem essencialmente no caminho da perfeição. Mediante o tipo certo de educação e treinamento moral, as pessoas pensavam que poderiam aperfeiçoar muito a si mesmas e a sociedade. Tudo isso deveria começar a acontecer em massa quando entrássemos no maravilhoso mundo novo do século 20.
Infelizmente, as coisas não aconteceram desse jeito, não é mesmo? O século 20 foi um dos mais violentos e bárbaros de toda a história, ironicamente, em grande parte graças aos avanços da ciência, o que tornou muito mais possível que as pessoas matassem outras numa escala com a qual os mais depravados loucos do passado só puderam sonhar.
Qual foi o problema?
4. Leia Romanos 1:22-32. De que maneira vemos as coisas que foram escritas no primeiro século se manifestando hoje no século 21? Assinale a alternativa correta:
A.( ) Os pecados descritos no primeiro século não ocorrem hoje com tanta intensidade quanto ocorreram no passado.
B.( ) A lista de pecados de Romanos 1:22-32 é um retrato fidedigno da atualidade.
Podemos necessitar de fé para acreditar em muitas coisas sobre o cristianismo, entre elas a ressurreição dos mortos, a segunda vinda de Jesus, um novo céu e uma nova Terra. Mas quem precisa de fé para crer no estado decaído da humanidade? Hoje, cada um de nós está vivendo as consequências dessa condição arruinada.
5. Concentre-se especificamente em Romanos 1:22, 23. Como vemos esse princípio sendo manifestado hoje? Ao rejeitar a Deus, o que os humanos em nosso século passaram a adorar e idolatrar? E, ao fazê-lo, como se tornaram tolos?
Em Romanos 1, Paulo estava lidando especificamente com os pecados dos gentios, os pagãos que haviam perdido Deus de vista havia muito tempo e, portanto, caído nas práticas mais degradantes.
Porém, ele não deixaria também seu próprio povo, seus compatriotas, dispensados da advertência. Apesar de todas as vantagens que lhes foram dadas (Rm 3:1, 2), eles também eram pecadores, condenados pela lei de Deus e necessitavam da graça salvadora de Cristo. Nesse sentido – de serem pecadores, de terem transgredido a lei de Deus e de necessitarem da graça divina para a salvação – os judeus e os gentios eram iguais.
6. Leia Romanos 2:1-3, 17-24. Contra o que Paulo advertiu nessas passagens? Qual lição todos nós, judeus ou gentios, devemos tirar dessa advertência? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:
A.( ) Não devemos ser hipócritas.
B.( ) A lei moral não tem mais validade.
“Depois que o apóstolo mostrou que todos os pagãos são pecadores, de maneira especial e enfática, ele mostrou que os judeus viviam em pecado também, sobretudo porque obedeciam à lei apenas exteriormente, ou seja, de acordo com a letra e não segundo o espírito” (Martinho Lutero, Commentary on Romans [Comentário Sobre Romanos], p. 61).
Muitas vezes, é fácil ver e apontar os pecados dos outros. Quantas vezes, porém, somos culpados das mesmas coisas, ou piores ainda? O problema é que temos a tendência de ignorar nossos pecados, ou nos sentimos melhores observando quanto as pessoas são ruins comparadas a nós.
Paulo não tolerou nada disso. Ele advertiu seus compatriotas a não se apressarem a julgar os gentios, pois eles, os judeus, mesmo como povo escolhido, eram pecadores. Em alguns casos, eles eram ainda mais culpados do que os pagãos a quem estavam prontos a condenar, pois, como judeus, tinham recebido mais luz do que os gentios.
O argumento de Paulo em tudo isso é que nenhum de nós é justo, nenhum de nós satisfaz o padrão divino, ninguém é inerentemente bom nem santo. Judeus ou gentios, homens ou mulheres, ricos ou pobres, tementes a Deus ou os que O rejeitam, todos estamos condenados. E, se não fosse pela graça de Deus revelada no evangelho, não haveria esperança para nenhum de nós.
7. “Desprezas a riqueza da Sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?” (Rm 2:4). Qual mensagem esse texto revela sobre a questão do arrependimento?
Devemos notar que a bondade de Deus conduz os pecadores ao arrependimento. Deus não usa coerção. Ele é infinitamente paciente e procura atrair todas as pessoas pelo Seu amor. Um arrependimento forçado destruiria todo o propósito desse ato, não é mesmo? Se Deus forçasse o arrependimento, não estariam todos salvos? Por que Ele forçaria alguns a se arrepender e outros não? A tristeza pelo pecado deve ser uma ação do livre-arbítrio, uma resposta ao mover do Espírito Santo em nossa vida. O arrependimento é um dom de Deus, mas temos que estar preparados e abertos para recebê-lo, uma escolha que só nós podemos fazer por nós mesmos.
8. De acordo com Romanos 2:5-10, o que receberão aqueles que resistem ao amor de Deus, recusam-se a se arrepender e permanecem na desobediência? Assinale a alternativa correta:
A.( ) Ira, tribulação e angústia no dia do juízo.
B.( ) Perdão, pois todos serão salvos.
Em Romanos 2:5-10, e frequentemente em todo o livro de Romanos, Paulo enfatizou o lugar das boas obras. O conceito de justificação pela fé sem as obras da lei jamais deve ser interpretado como significando que as boas obras não tivessem lugar na vida do cristão. Por exemplo, em Romanos 2:7, Paulo afirmou que a salvação alcança aqueles que a buscam “perseverando em fazer o bem”. Embora o esforço humano não possa trazer a salvação, ele faz parte de toda a experiência da salvação. É difícil entender como alguém pode ler a Bíblia e sair com a ideia de que obras e atos não têm importância nenhuma! O verdadeiro arrependimento, o que vem voluntariamente do coração, sempre será seguido por uma determinação de vencer e abandonar as coisas das quais precisamos nos arrepender.
“A terminologia bíblica mostra, portanto, que o pecado não é uma calamidade que se abateu sobre o inconsciente ser humano, mas o resultado de uma atitude e escolha ativa da parte do ser humano. Além disso, pecado não é a ausência do bem; é “não atingir” as expectativas de Deus. É um caminho mau que o ser humano escolhe por livre e espontânea vontade. Não se trata de uma fraqueza pela qual os seres humanos não podem ser responsabilizados, pois o ser humano, na atitude ou no ato de pecar, escolhe deliberadamente um caminho de rebelião contra Deus, de transgressão contra a Sua lei, e deixa de ouvir a Palavra de Deus. Pecado é tentar ultrapassar os limites estabelecidos por Deus. Em resumo, pecado é rebelião contra Deus” (Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, p. 239).
“Foi-me apresentado terrível quadro da condição do mundo. […] Jamais o vício ergueu a cabeça disforme com tal ousadia como o faz agora. O povo parece estar entorpecido, e os amantes da virtude e da verdadeira piedade se acham quase desanimados por sua ousadia, força e predominância. A abundante iniquidade não se limita apenas aos incrédulos e zombadores. Quem dera que assim fosse! Mas não é. Muitos homens e mulheres que professam a religião de Cristo são culpados. Mesmo alguns que professam estar esperando Seu aparecimento não estão mais preparados para esse acontecimento do que o próprio Satanás” (Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 2, p. 346).
Perguntas para discussão
1. O que você diria àqueles que insistem em dizer que a humanidade está melhorando? Quais são os argumentos contra essa ideia?
2. Com base na citação de Ellen G. White acima, por que você não deve se desesperar, mas continuar reivindicando as promessas do perdão e da purificação? Satanás quer que você diga: “Não adianta. Sou corrupto. Jamais serei salvo, então é melhor desistir”. Mas Jesus lhe diz: Eu não “te condeno; vai e não peques mais” (Jo 8:11). A quem você dará ouvidos?
3. Por que é importante compreender o pecado e a depravação humana? O que ocorre quando perdemos de vista essa triste realidade? Um falso entendimento da nossa condição pode nos levar a quais erros?
4. Pense no número incontável de protestantes que escolheram morrer em vez de abandonar a fé. Somos fortes para morrer pela nossa fé?
Respostas e atividades da semana: 1. Reflexão pessoal. 2. Divida a classe em dois grupos e promova um debate sobre o tema da universalidade do pecado. Após alguns minutos, peça a um representante de cada grupo que exponha as conclusões do grupo. 3. Reflexão pessoal. 4. B. 5. Atualmente, algumas religiões pregam, no lugar de Deus, a adoração a imagens feitas por homens. O Senhor é desonrado, e os adoradores tornam-se tolos, pois esses ídolos não falam, não respondem e não podem fazer nada. 6. A. 7. Pergunte aos alunos quem é o responsável por promover o arrependimento em nós. 8. A.
TEXTO-CHAVE: Romanos 3:23
O ALUNO DEVERÁ
Saber: Que os seres humanos caíram num poço de pecado e morte do qual não conseguem se libertar.
Sentir: A condição de impotência e nutrir a certeza de que Deus não o abandonou.
Fazer: Rejeitar as noções de virtude e progresso humanos que impedem as pessoas de sentir a necessidade de Cristo.
ESBOÇO
I. Saber: Consciência do problema
A. Por que o pecado deveria ser compreendido como um problema universal e permanente, e não como um acidente ocasional e localizado?
B. Com as variadas propostas de cura para os males da humanidade (educacional, política, social, etc.), por que devemos focalizar a solução no que Deus tem realizado por meio de Cristo?
II. Sentir: Enfrentar o problema
A. Quais mentiras culturais nos mantêm insensíveis quanto à realidade do nosso pecado e da nossa necessidade de Deus?
B. Visto que a percepção da nossa pecaminosidade pode ser uma experiência autodestrutiva, como podemos remodelar esse conceito como um primeiro passo em direção a Cristo?
III. Fazer: Combater a negação do problema
A. Como você responderia à declaração de que a humanidade não é tão má (portanto, não precisa de um Salvador), tendo em vista a existência de pessoas amáveis e amorosas que não possuem ligação com o cristianismo?
B. A distinção entre a vida interior e as ações exteriores ajuda a responder à pergunta anterior? Explique.
RESUMO: Os seres humanos terão dificuldade para compreender e apreciar o glorioso evangelho da salvação divina se negarem ou subestimarem a realidade de sua condição pecaminosa coletiva.
Ciclo do aprendizado
Motivação
Focalizando as Escrituras: Romanos 2
Conceito-chave para o crescimento espiritual: Quando uma comunidade específica é abençoada ou privilegiada por Deus, o reconhecimento que essa comunidade tem de seu próprio pecado pode ficar comprometido. Os pecados daqueles que não pertencem à comunidade são ampliados e os pecados dos que pertencem à comunidade são minimizados ou negados. A consciência da necessidade de Cristo é perniciosamente substituída pela presunção e hipocrisia.
Para o professor: O objetivo da lição é impedir que a igreja caia na mesma armadilha em que caiu o interlocutor de Paulo em Romanos 2. Adotar padrão duplo em relação ao pecado implica em desastre teológico e missional. De modo amável, incentive os alunos a reconhecer que essa sutil dimensão do pecado é algo que se aplica a cada um de nós. Reforce as fortes denúncias de Paulo (Rm 2:1-5, 23, 24) para enfatizar que essa questão não é insignificante e que o testemunho da igreja e o caráter de Deus estão em jogo (Rm 2:24).
Discussão inicial: Maximizar o pecado dos outros e minimizar o nosso tem se tornado quase uma segunda natureza. Tome como exemplo um motorista no trânsito: algumas vezes, as palavras e a ira que reprimimos quando outros motoristas erram são muito embaraçosos. No entanto, quando cometemos os mesmos erros, apenas nos desculpamos como se não fosse nada e sussurramos: “Ops”, “lamento por isso”. Foi esse padrão duplo que Paulo expôs em Romanos 2, e é esse mesmo padrão que precisa ser exposto em nossa vida, a fim de que tenhamos consciência de nossas falhas.
Perguntas para discussão
1. Aplicar o problema do pecado apenas aos não cristãos faz com que empreguemos mal o evangelho? Comente.
2. Ter um padrão duplo em termos de pecado e julgamento anula o nosso testemunho ao mundo?
Compreensão
Para o professor: Romanos 2 é um capítulo bastante negligenciado, inserido entre a repetida frase protestante de que “o justo viverá por fé” (Rm 1:17) e as incontestáveis gemas teológicas de Romanos 3–8. Os eruditos têm discutido como Romanos 2 se encaixa na estrutura do livro. Essa confusão dá ampla margem para reflexão. Encoraje a classe a explorar um território inexplorado. Chame a atenção para a maneira pela qual o comportamento específico esboçado em Romanos 2 demonstra que (1) o pecado é um problema universal e (2) a desobediência abordada está enraizada numa presunção pecaminosa acerca da graça de Deus.
Comentário bíblico
I. Juízes sob julgamento
(Recapitule com a classe Rm 1:28-30; 2:1-11.)
Depois de apresentar um discurso acerca do comportamento pecaminoso (Rm 1:23-31), foi preciso acrescentar uma denúncia. Não apenas esses pecados eram praticados descaradamente, mas os pecadores aprovavam plenamente os que cometiam tais pecados (Rm 1:32). Não há alegações de inocência nem ignorância nesse caso, mas ousada rebelião.
Um tanto inesperado, Paulo reverteu a situação contra a pessoa que estava julgando esses pecados. Ele utilizou o artifício retórico diatribe (crítica severa), num diálogo com um parceiro imaginário para tornar claro seu ponto de vista. Esse parceiro, ao contrário daqueles que aprovavam o flagrante pecado, condenou toda essa perversidade (Rm 2:1). Há apenas um problema. Esse “justo” juiz praticava os mesmos pecados que condenava, e com esse discernimento profundo, Paulo conseguiu colocar todo o mundo no mesmo dilema (Rm 3:9), para que pudesse aplicar a solução do evangelho indiscriminadamente a todas as pessoas. Os judeus, representados pelo crítico parceiro do diálogo (Rm 2:17), e os gentios, com a longa lista de pecados deles, agora estavam no mesmo patamar diante do justo juízo de Deus (Rm 2:3, 5, 16; 3:19).
No entanto, uma questão instigante se levanta: Como uma população que possui conhecimento religioso suficiente para condenar os pecados do mundo pensa que se “livrará do juízo de Deus” (Rm 2:3) enquanto comete os mesmos pecados? Essa questão será respondida em conexão com a próxima seção do comentário.
Pense nisto: Como a abordagem de Paulo para colocar a humanidade “debaixo do pecado” (Rm 3:9) deve mudar para sempre nosso modo de lidar com os pecados dos outros? Quais qualidades de caráter precisam ser cultivadas quando abordamos os pecados que vemos ao redor? Essas qualidades podem nos ajudar a lidar com
os nossos próprios pecados?
II. Falsa segurança
(Recapitule com a classe Rm 2:17-29; 3:1.)
Romanos 1 e 2 são apresentados de modo a colocar judeus e gentios debaixo do pecado, de forma que o evangelho do capítulo 3 seja aplicado de maneira universal. Essa abordagem também é enfatizada no segundo capítulo. No entanto, Romanos 2 também descreve uma versão da falsa segurança que invoca a graça de Deus. Essa falsa segurança destrói a sincera obediência a Deus, ao passo que também coloca a si mesma em lugar da verdadeira “graça [de Deus], mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3:24).
Para responder à pergunta formulada acima, vamos repeti-la: O interlocutor de Paulo pensava que ele e os que ele representa escaparão do juízo de Deus? A resposta é uma interpretação teológica do caráter de Deus como bondoso, longânimo e paciente para com eles (não gentios) a fim de minimizar o juízo para eles (não gentios). Leia Romanos 2:5. Paulo corrigiu essa adaptação indevida dos nobres atributos de Deus ao enfatizar que (1) essas qualidades de caráter pretendem conduzir ao arrependimento e (2) Deus “retribuirá a cada um segundo o seu procedimento” (Rm 2:6). Em outras palavras, Deus é surdo à exaltação de Sua graça quando é usada como desculpa para a desobediência ou como um ostensivo passe livre no juízo, independentemente do comportamento.
Esse fluxo de pensamento também está em paralelo com a última metade de Romanos 2. Há pelo menos dez afirmações mencionando que eles eram especialmente privilegiados. Por exemplo, essas afirmações incluem chamar a si mesmo de judeu, gloriar-se em Deus, ser guia dos cegos, etc. (Rm 2:17-21). Acrescente à lista o sinal da aliança – a circuncisão (Rm 2:25) e a entrega dos oráculos de Deus (Rm 3:2; é aceitável que ser judeu é uma vantagem em “todos os aspectos” (Rm 3:2). No entanto, a confiança de Israel nos atos da eleição de Deus e nos privilégios que acompanham a aliança enquanto eles transgridem essa lei/aliança “desonra a Deus” e motiva os gentios a blasfemarem contra Ele (Rm 2:23, 24).
Paulo corrigiu o padrão duplo invocando um conceito que tem sido uma dor de cabeça perene para os eruditos. Ele declarou no meio do capítulo que “os simples ouvidores da lei [referência a judeus somente] não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei [judeus e gentios] hão de ser justificados” (Rm 2:13). Se Deus não agisse assim, o resultado favorável no juízo seria garantido apenas para judeus, porque nenhum gentio poderia reclamar as bênçãos religiosas e éticas (por exemplo, ouvir a lei) derramadas sobre Israel. No entanto, segundo Paulo, esse tipo de resultado não acontecerá. Deus não tem favoritos, porque Ele não faz “acepção de pessoas” (Rm 2:11).
Todas essas vantagens de ser o povo especial da aliança com Deus pouco vale quando a lei é quebrada. A circuncisão pode ser revertida (Rm 2:25) e a identidade de um judeu, ameaçada (Rm 2:28).
Em suma, a graça de Deus para com Israel, infeliz e desnecessariamente, resultou em presunçosa cegueira em relação ao seu próprio pecado e hipocrisia, especialmente a respeito dos gentios. Paulo, uma espécie de João Batista depois da cruz, enfatizou esse argumento para abrir caminho para a vinda do evangelho de Deus em Cristo nos capítulos seguintes, um evangelho para judeus e gentios, e para todos nós.
Pergunta para discussão: Quais são as falsas proteções teológicas que os cristãos conservam e que estão criando um obstáculo ao pleno ministério do evangelho?
Aplicação
Para o professor: “Graça barata”, hipocrisia e descaso para com o cumprimento da lei são problemas monumentais enfrentados pela igreja cristã. Ironicamente, em geral, o livro de Romanos é usado para sustentar esse sentimento antinomiano (contrário à lei). Encoraje a classe a considerar os símbolos de status atuais (adesão religiosa, superioridade étnica, etc.) que podem nos impedir de compreender que todos nós somos pecadores desesperados que precisamos de Deus.
Pergunta para reflexão
Como reconhecer que nossa igreja tem sido especialmente abençoada por Deus, sem cair no mesmo complexo de superioridade que atingiu o judaísmo primitivo?
Criatividade e atividades práticas
Para o professor: Contraste a facilidade que temos para ver os pecados dos outros (Rm 1:18-32) e a dificuldade para perceber os próprios pecados (Rm 2:1, 21-24). O objetivo é que a classe reflita e se humilhe diante de Deus. Como líder da classe, tome a iniciativa e compartilhe sua experiência primeiro. Depois, dê oportunidade aos alunos para que falem.
Atividades
1. Peça que algum aluno conte como Deus revelou que ele tinha algum tipo de preconceito e como Ele o libertou.
2. Frequentemente os adventistas do sétimo dia são rotulados como legalistas por causa da dedicação à lei e ao sábado. Motive a classe a utilizar Romanos 2 para mostrar a hipocrisia de alegarmos o status de salvos enquanto transgredimos a lei de Deus.
Planejando atividades: O que sua classe pode fazer na próxima semana como resposta ao estudo da lição?
O contrabandista de livros
Depois de assistir a uma conferência da igreja adventista, alguns amigos pediram que Vladimir levasse para casa uma caixa com cerca de 100 livros religiosos. Ele queria ajudar, mas estava receoso. O governo muçulmano de seu país, uma antiga república soviética, controla com rigor a distribuição de literatura religiosa. O comitê governamental decide quais títulos específicos podem ser importados.
Mensageiro relutante
Vladimir e um amigo planejavam viajar de ônibus até sua cidade, onde ele trabalhava como pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ele disse aos amigos: “Levarei a caixa somente se o motorista do ônibus assumir a responsabilidade”. Os motoristas dos ônibus sempre aceitavam levar uma carga extra mediante pagamento em dinheiro.
Eles chegaram ao terminal de ônibus e perguntaram ao motorista se poderia transportar os livros. Ele aceitou ajudá-los por cem dólares. Vladimir e o amigo subiram no ônibus com a bagagem de mão e se acomodaram em seus assentos para a longa viagem.
Quando chegaram na fronteira, o motorista dirigiu-se a eles e perguntou o que havia na caixa. Ele queria saber o que falaria para os guardas. “Que tipo de livros estão na caixa?”, ele perguntou. “Livros cristãos”, Vladimir respondeu. O motorista devolveu os cem dólares e disse: “É mais fácil contrabandear cocaína do que livros cristãos.”
Intervenção de Deus
De repente, uma grande ansiedade tomou conta de Vladimir. O que fazer com esses livros? Ele não tinha escolha. Vladimir e o amigo se ajoelharam ao lado do ônibus e guardaram os livros em suas malas. Ao chegarem à fronteira, oraram enquanto entravam na fila de passageiros. A pessoa que estava à sua frente colocou suas bagagens na esteira e atravessou a aduana. Em seguida, eles colocaram as malas na esteira, mas ela não se moveu. O policial apertou o botão para ligar a esteira, mas ela não se moveu. Ele pressionou o botão novamente e seu rosto ficou vermelho pela frustração. Ele golpeou o botão furiosamente e praguejou. Mesmo assim a esteira não funcionou.
O guarda da fronteira olhou para eles. “Tudo bem, podem ir”, disse, fazendo um gesto para que pegassem as malas na esteira. Em silêncio, eles pegaram as malas e atravessaram a fronteira. Só depois de dar vários passos eles ousaram olhar para trás. O guarda havia parado a pessoa atrás deles e ordenou que ela abrisse as malas para uma inspeção manual.
Vladimir e o amigo caminharam em direção ao segundo posto de fronteira para,
finalmente, entrar em seu país. Eles viram as pessoas à frente deles colocando as malas na esteira. Ao chegar a sua vez, colocaram as malas na esteira, o guarda apertou o botão e nada aconteceu. Apertou o botão várias vezes. Ainda assim, nada aconteceu. O guarda começou a praguejar enquanto batia no botão, mas a esteira não se movia! Finalmente, o guarda se virou para eles e disse: “Vão embora”.
Novamente cruzaram a fronteira e não se atreveram a olhar para trás enquanto não estivessem longe da alfândega. Então, viram que o guarda estava inspecionando cuidadosamente a mala do passageiro seguinte. Arrumaram as malas no compartimento de bagagem e embarcaram no ônibus. Enquanto se acomodavam nos assentos, agradeceram a Deus.
Guerreiro de oração
No sábado seguinte, após o culto, uma irmã da igreja se dirigiu a Vladimir: “Uma coisa muito estranha aconteceu na semana passada”, disse ela. “Uma voz me despertou no meio da noite e disse: ‘Ore pelo seu pastor.’” A mulher não sabia que o pastor estava viajando. Pensou que ele estivesse em casa dormindo. Ela ignorou a urgente voz e tentou voltar a dormir. Mas a voz voltou, insistindo: “Ore por seu pastor”. Finalmente, ela se ajoelhou e orou durante uma hora.
Vladimir perguntou que horas Deus a havia acordado e instruído que ela orasse. Havia sido exatamente no momento em que ele e o amigo cruzavam a fronteira. Certamente Deus interveio para proteger Sua preciosa literatura.
“Embora eu não possa mencionar meu país, por favor, ore pela obra de Deus. E obrigado pelas ofertas missionárias que ajudarão a levar a mensagem de salvação a muitos na Divisão Euro-Asiática e em todo o mundo”, Vladimir diz.
Resumo missionário
• Os países da União do Sul na Divisão Euro-Asiática possuem em média um adventista para cada grupo de 24.500 habitantes. Imagine ser o único cristão adventista em uma cidade pequena!
• É difícil – e em algumas regiões impossível – realizar reuniões evangelísticas, distribuir literatura ou compartilhar a Bíblia com outra pessoa sem se arriscar a ir para a prisão. Falar do amor de Deus às pessoas é um desafio diário. No entanto, as pessoas famintas anseiam conhecer a verdade sobre Deus, não importa o nome pelo qual eles O chamam.
• Orem por aqueles que vivem nesses países, para que tenham coragem de compartilhar sua fé com os outros.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º trimestre de 2017
Tema geral: Salvação somente pela fé: o livro de Romanos
Lição 3: 14 a 21 de outubro
A condição humana
Autor: Pr. Clacir Virmes Junior, professor de Teologia na FADBA – Cachoeira, Bahia.
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega
Introdução
Para que um tratamento médico seja eficaz é necessário que o diagnóstico seja feito com a maior precisão possível. Ninguém gostaria de comprar remédios, passar por seções de fisioterapia ou até intervenções cirúrgicas sem ter o mais alto nível de certeza quanto ao problema que se quer resolver. De idêntica maneira, para que possamos buscar a cura para o pior problema humano, o pecado, precisamos saber exatamente a extensão de seus efeitos sobre nós.
O poder de Deus
Paulo iniciou o verso 16 de Romanos 1 com a expressão “não me envergonho do evangelho”. Uma vez que o evangelho contrastava (e contrasta ainda hoje) com o pensamento do mundo, é natural que sua pregação traga algum desconforto e até embate. Mas o apóstolo não tinha de que se envergonhar. Afinal, ele chegou à conclusão de que o evangelho é o poder de Deus; não um poder qualquer, mas o poder para salvar eternamente! Depois, lembremos que Paulo estava pensando em ir a Roma para pregar o evangelho e para dali expandir sua mensagem até a Europa. A cidade de Roma era a capital do império, símbolo máximo da grandeza e do esplendor seculares. Entretanto, Paulo sabia que o verdadeiro poder está no evangelho. Por fim, talvez o apóstolo também tivesse em mente os seus antagonistas. Por causa da força de sua mensagem e das divergências que ela gerava ocasionalmente, muitos acusavam Paulo de estar contra os judeus e, até mesmo, de ser contra a lei (ou antinomista). Ao contrário do que muitos irmãos que conheceram sua carta pudessem pensar, apesar desses embates, o apóstolo não se envergonhava de sua mensagem, as boas-novas da salvação pela fé em Cristo Jesus.
Todos pecaram
Para compreender o impacto das palavras de Paulo em Romanos 3:23 é importante conhecer como funcionam os tempos verbais em grego. Os dois tempos verbais gregos que aparecem nesse verso são o aoristo e o presente. O aoristo é o tempo verbal grego que vê a ação como um todo e normalmente é traduzido pelo tempo verbal português que chamamos de pretérito perfeito. Assim, ao dizer que todos pecaram (aoristo), o apóstolo deixou claro que o pecado é característico de toda a nossa vida. Quando vista como um todo, nossa experiência é marcada pelo pecado.
Já o tempo presente em grego enfatiza o aspecto linear de uma ação. Frequentemente os verbos que estão no presente em grego podem ser traduzidos tanto pelo tempo presente em português (por exemplo, “ele faz”) quanto por uma locução verbal que dê a ideia de continuidade no presente, que poderíamos chamar de “presente contínuo” (por exemplo, “ele está fazendo”). A ideia do aspecto linear do tempo presente em grego destaca a permanência ou continuidade de uma ação.
Voltando para Romanos 3:23, vemos que Paulo disse duas coisas sobre nossa condição pecaminosa. Primeiro, “todos pecaram” (aoristo, ação vista como um todo), ou seja, nossa experiência passada e nossa vida vista como um todo está marcada pelo pecado. Além disso, todos “carecem” (presente, ação linear, contínua) da glória de Deus – não importa se pensamos que somos muito bons, ainda assim estamos longe do ideal do Senhor; Sua imagem ainda está maculada, manchada pelo pecado no presente, agora.
Progresso?
Independentemente do dia em que você estiver lendo este comentário, tire cinco minutos e abra o canal de notícias de sua preferência, seja ele qual for. Dificilmente você não verá ali algum reflexo da descrição de um mundo que não aceitou as instruções divinas conforme Paulo descreveu em Romanos 1:28-32. O quadro pintado por Paulo retrata a condição humana nas piores cores e com riqueza de detalhes. Embora seja importante estudar cada uma das palavras usadas pelo apóstolo para descrever a pecaminosidade humana, parece que a intenção principal de Paulo não era ser exaustivo, mas mostrar a profundidade do nosso problema. E ao olharmos para sua descrição, precisamos entender que essa exposição do ser humano longe de Deus não está condicionada historicamente. Ela afeta a existência humana desde a entrada do pecado em nosso mundo.
O que os judeus e gentios têm em comum
A grande questão para Paulo era que existem dois grupos: os que sabem que fazem o que é errado e aprovam sua própria conduta, e aqueles que condenam o que é errado, mas fazem as mesmas coisas, o que é uma atitude hipócrita. O apóstolo apontou para as inconsistências entre o que os judeus pensavam de si mesmos e sua prática. Numa série de cinco perguntas retóricas, Paulo demonstrou o estado deplorável da profissão de fé judaica. Como podiam os judeus ensinar os outros, mas não a si mesmos? Apesar de sua alta profissão, era notório entre eles, entre outras coisas, o roubo e o adultério. A última parte do verso 22 de Romanos 2 parece denotar que alguns judeus tinham horror aos ídolos, contudo não tinham escrúpulos em saquear templos pagãos. Por um lado, seu ensino tinha na mais alta conta a lei de Deus. Ao mesmo tempo Deus era desonrado por eles, porque eles transgrediam sistematicamente a lei que tão ardorosamente defendiam. O discurso moralista tanto de judeus quanto de gregos os afastava da real percepção de sua condição pecaminosa. Independentemente de sua origem étnica, posição social, gênero, educação ou outro qualquer fator biológico, cultural ou social, todos estão perdidos, debaixo do pecado, longe do ideal divino.
O evangelho e o arrependimento
Deus nunca força Suas criaturas. Ele espera que, uma vez demonstrados Seu amor, cuidado, paciência e bondade, elas se voltem para Ele em resposta de gratidão por essas bênçãos. Em Romanos 2:4, o apóstolo deixou claro que mesmo o arrependimento – a noção de que estamos errados em nossa relação com o Senhor, o senso de nossa injustiça, a tristeza pelo pecado – é fruto da ação de Deus, não da nossa. Isso é confirmado em 2 Timóteo 2:25, 26, em que Paulo, instruindo seu cooperador sobre como um líder cristão devia se portar para com os opositores, disse que a disciplina devia ser ministrada com mansidão, na expectativa de que “Deus lhes [concedesse] não só o arrependimento para [que conhecessem] a verdade, mas também o retorno à sensatez.” Que Deus maravilhoso! Ele não apenas nos faz entender quem realmente somos como dá uma solução para o nosso pecado, para que possamos ser quem Ele quer que sejamos por Seu amor.
Conclusão
A profundidade e a extensão do problema do pecado nos seres humanos são muito maiores do que possamos imaginar. Para um problema extremo exige-se uma solução extrema. Entendendo a gravidade de nossa condição começamos a ter noção do significado do que Jesus fez na cruz. Seu sacrifício substitutivo foi a única maneira de redimir cada pessoa que já passou por este planeta. Que ao contemplarmos o quanto Jesus sofreu na cruz, nosso coração se curve cada vez mais ao Seu infinito amor!