Lição 5
28 de julho a 03 de agosto
A conversão de Paulo
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Is 20–23
Verso para memorizar: “Vai, porque este é para Mim um instrumento escolhido para levar o Meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel” (At 9:15).
Leituras da semana: At 9:1-30; 26:9-11; Dt 21:23; 1Co 9:1; Gl 1:1

A conversão de Saulo de Tarso (que se tornou Paulo) foi um dos acontecimentos mais extraordinários da história da igreja apostólica. A importância de Paulo, no entanto, vai muito além de sua própria conversão, pois ele certamente não foi o único inimigo da igreja a se tornar um cristão genuíno. A questão, em vez disso, diz respeito ao que ele acabou fazendo em prol do evangelho. Paulo tinha sido um incorrigível adversário dos cristãos primitivos, e o mal que ele poderia ter feito à igreja recém-formada era enorme. Ele tinha determinação e apoio oficial para destruir a igreja. No entanto, respondeu fielmente ao chamado de Deus na estrada para Damasco e se tornou o maior dos apóstolos. “Dentre os perseguidores mais cruéis e implacáveis da igreja de Cristo, surgiu o mais hábil defensor e mais bem-sucedido arauto do evangelho” (Ellen G. White, Paulo, o Apóstolo da Fé e da Coragem, p. 9).

As ações anteriores de Paulo, ao perseguir a igreja primitiva, sempre lhe trariam um profundo senso de indignidade, embora ele pudesse dizer com um sentimento de gratidão ainda mais profundo que a graça de Deus não lhe havia sido em vão. Com a conversão de Paulo, o cristianismo mudou para sempre.


No dia 25 de agosto teremos o projeto Quebrando o Silêncio. Aproveite a oportunidade e ajude sua igreja a melhorar a vida da sua comunidade.

Domingo, 29 de julho
Ano Bíblico: Is 24–26
Perseguidor da igreja

Paulo era um judeu helenista. Ele nascera em Tarso, a capital da Cilícia (At 21:39). Contudo, até certo ponto, desviava-se do estereótipo helenista, pois foi levado a Jerusalém, onde estudou sob a orientação de Gamaliel (At 22:3), o mestre farisaico mais influente da época. Como fariseu, Paulo era estritamente ortodoxo, embora seu zelo beirasse o fanatismo (Gl 1:14). Por essa razão, ele levou Estêvão à morte e se tornou a figura fundamental na perseguição que se seguiu.

1. De acordo com Atos 26:9-11, como Paulo descreve suas ações contra a igreja?

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Paulo afirma em outra passagem que o evangelho era uma pedra de tropeço para os judeus (1Co 1:23). Além do fato de que Jesus não se encaixava na tradicional expectativa judaica de um Messias soberano, eles não podiam, de nenhuma maneira, aceitar a ideia de que Aquele que morrera em uma cruz pudesse ser o Messias de Deus, pois as Escrituras declaram que quem é pendurado em madeiro está sob a maldição divina (Dt 21:23). Para os judeus, portanto, a crucificação era em si mesma uma contradição grotesca, a prova mais clara de que as afirmações da igreja sobre Jesus eram falsas.

Lucas, em Atos 9:1, 2, descreve Saulo de Tarso agindo contra os cristãos. Damasco era uma cidade importante que ficava a cerca de 217 quilômetros ao norte de Jerusalém, e possuía uma grande população judaica. Os judeus que viviam fora da Judeia eram organizados em uma espécie de rede, cuja sede estava em Jerusalém (o Sinédrio). As sinagogas funcionavam como centros de apoio para as comunidades locais. Havia constante comunicação entre o Sinédrio e essas comunidades por meio de cartas normalmente levadas por um shaliah, “enviado” (do hebraico shalah, “enviar”). Um shaliah era um agente oficial nomeado pelo Sinédrio para realizar várias funções religiosas.

Quando Paulo pediu ao sumo sacerdote, o presidente do Sinédrio, que lhe desse cartas dirigidas às sinagogas em Damasco, ele se tornou um shaliah, com autoridade para prender os seguidores de Jesus e trazê-los para Jerusalém (compare com At 26:12). Em grego, o equivalente a shaliah é apostolos, do qual deriva a palavra “apóstolo”. Portanto, antes de ser um apóstolo de Jesus Cristo, Paulo era um apóstolo do Sinédrio.


Você já foi zeloso por (ou contra) algo e depois mudou de ideia? Quais lições você aprendeu com essa experiência?

Segunda-feira, 30 de julho
Ano Bíblico: Is 27–29
Na estrada de Damasco

2. Leia Atos 9:3-9. O que aconteceu quando Paulo estava se aproximando de Damasco? Qual é o significado das palavras de Jesus em Atos 9:5 (veja também At 26:14)?

Quando Paulo e seus companheiros se aproximavam de Damasco, por volta do meio-dia, eles viram uma luz vinda do céu que brilhava intensamente e ouviram uma voz. Aquilo não era apenas uma visão no sentido profético, mas uma manifestação divina, voltada, de certa forma, exclusivamente para Paulo. Seus companheiros viram a luz; no entanto, apenas Paulo ficou cego; eles ouviram a voz; mas somente Paulo a compreendeu. O Jesus ressuscitado apareceu pessoalmente a Paulo (At 22:14). Paulo insistia em dizer que vira Jesus, o que o tornava igual aos doze apóstolos como uma testemunha da ressurreição e também uma autoridade apostólica (1Co 9:1; 15:8).

O diálogo seguinte que Paulo teve com Jesus o impressionou infinitamente mais do que a própria luz. Paulo estava absolutamente convencido de que, ao atacar os seguidores de Jesus de Nazaré, estava fazendo a obra de Deus, purificando o judaísmo daquela heresia perigosa e terrível. Para seu assombro, no entanto, ele descobriu não apenas que Jesus estava vivo, mas também que, ao infligir sofrimento aos Seus seguidores, ele estava atacando o próprio Jesus.

Ao falar com Saulo, Jesus usou um provérbio, supostamente de origem grega, com o qual Paulo devia estar familiarizado: “Dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões” (At 26:14). A imagem é a de um boi debaixo de um jugo, tentando se mover contra a vara pontiaguda usada para guiá-lo. Quando isso acontece, o animal só se fere ainda mais.

Essa afirmação indica uma luta na mente de Paulo – a Bíblia se refere a isso como a obra do Espírito (Jo 16:8-11) – que remontava ao que acontecera com Estêvão. “Saulo havia tido um papel de destaque no julgamento e condenação de Estêvão, e a impressionante evidência da presença de Deus com o mártir o deixara em dúvida quanto à justiça da causa que ele havia assumido contra os seguidores de Jesus. Sua mente estava profundamente agitada. Em sua perplexidade, consultou aqueles em cuja sabedoria e discernimento tinha plena confiança. Os argumentos dos sacerdotes e das autoridades convenceram-no, afinal, de que Estêvão havia sido um blasfemo, que o Cristo sobre o qual o discípulo martirizado pregara tinha sido um impostor” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 112, 113).


Por que é sábio dar atenção à sua consciência? Sem a direção do Espírito Santo, a consciência seria um guia seguro?

Terça-feira, 31 de julho
Ano Bíblico: Is 30–33
A visita de Ananias

Quando percebeu que estava falando com o próprio Jesus, Saulo fez a pergunta que daria a Cristo a oportunidade que Ele estava esperando: “Que farei, Senhor?” (At 22:10). A pergunta indica contrição por causa de suas ações até aquele momento; porém, mais importante, ela expressa uma disposição incondicional de que Jesus guiasse sua vida a partir daquele momento. Levado a Damasco, Saulo deveria aguardar instruções adicionais.

Em Atos 9:10-19, a Bíblia revela como o Senhor atuara para preparar Saulo de Tarso para sua nova vida como o “apóstolo Paulo”. Em uma visão, Jesus incumbiu Ananias de visitar Saulo e colocar as mãos sobre ele para que sua visão fosse restaurada. Ananias, no entanto, já sabia quem era Saulo, como também sabia quantos irmãos já haviam sofrido e até perdido a vida por causa dele. De igual maneira, ele entendia muito bem por que Saulo estava em Damasco e, com certeza, não queria se tornar sua primeira vítima ali. A hesitação de Ananias é perfeitamente compreensível.

Ananias, entretanto, não sabia que Saulo acabara de ter um encontro pessoal com Jesus, o que mudaria sua vida para sempre. Ele não sabia que, em vez de continuar trabalhando para o Sinédrio, Saulo – para o espanto de Ananias – havia sido recém-chamado por Cristo para trabalhar para Ele. Isso significava que Saulo não era mais um apóstolo do Sinédrio, mas um instrumento escolhido por Cristo para levar o evangelho a judeus e gentios.

3. De acordo com Gálatas 1:1, 11, 12, qual reivindicação especial Paulo fez em relação ao seu ministério apostólico?

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Em Gálatas, Paulo insistiu em dizer que havia recebido sua mensagem e seu apostolado diretamente de Jesus Cristo, não de nenhuma fonte humana. Isso não contradiz necessariamente a função desempenhada por Ananias em seu chamado. Ao visitá-lo, Ananias apenas confirmou a comissão que Saulo já recebera do próprio Jesus na estrada de Damasco.

Na verdade, a mudança na vida de Saulo foi tão dramática que nenhuma causa humana lhe pode ser atribuída. Somente a intervenção divina pode explicar como o mais obstinado adversário de Jesus pudesse, de repente, aceitá-Lo como Salvador e Senhor, abandonar tudo – convicções, reputação e carreira – e se tornar Seu apóstolo mais dedicado e produtivo.


A conversão de Saulo ilustra a atuação da graça. Embora duvidemos de que algumas pessoas aceitarão a verdadeira fé, o que aprendemos com a história de Saulo a respeito delas?

Quarta-feira, 01 de agosto
Ano Bíblico: Is 34–37
O início do ministério de Paulo

Em Atos 9:19-25, temos a impressão de que Paulo, após a conversão, permaneceu em Damasco por algum tempo antes de retornar a Jerusalém (At 9:26). Em Gálatas 1:17, porém, Paulo acrescenta que, antes de ir a Jerusalém, foi para a Arábia, onde aparentemente viveu em isolamento por um certo período. “Ali, na solidão do deserto, Paulo teve ampla oportunidade para sossegado estudo e meditação” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 125).

4. Leia Atos 9:20-25. Como Lucas descreve o ministério de Paulo em Damasco? Ele teve sucesso?

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Quando Paulo partiu de Jerusalém com as cartas do sumo sacerdote, seu alvo inicial era os cristãos judeus que provavelmente tinham se refugiado nas sinagogas de Damasco (At 9:2). Então, depois de retornar da Arábia, ele finalmente chegou às sinagogas, porém, não para prender os cristãos, mas para aumentar seu número; não para difamar Jesus como um impostor, mas para apresentá-Lo como o Messias de Israel. O que será que deve ter se passado na mente daqueles que, tendo ouvido falar de Saulo apenas como um dos seus perseguidores, agora o ouviam testemunhar de Cristo? O que eles poderiam fazer, a não ser ficar maravilhados com o que Saulo de Tarso se tornara e com o que ele estava fazendo pela igreja? (Provavelmente eles não faziam ideia da influência que esse novo converso, afinal, viria a ter.)

Sendo incapazes de contradizer Paulo, alguns de seus oponentes conspiraram para lhe tirar a vida. O relato de Paulo sobre esse episódio (2Co 11:32, 33) sugere que seus adversários o denunciaram às autoridades locais para alcançarem seu objetivo. No entanto, com a ajuda dos fiéis, Paulo conseguiu escapar em um cesto, possivelmente através da janela de uma casa construída no muro da cidade.

Paulo sabia, desde o início, que enfrentaria desafios (At 9:16). Oposição, perseguição e sofrimento de diversas fontes seriam frequentes em seu ministério, mas nada abalaria a sua fé nem o seu senso de dever, apesar das dificuldades e provações que enfrentaria praticamente a cada passo de sua nova vida em Cristo (2Co 4:8, 9).


Apesar das lutas e da oposição, Paulo não desistiu. Como podemos fazer o mesmo quando se trata da fé, isto é, como perseverar em meio ao desânimo e oposição?

Quinta-feira, 02 de agosto
Ano Bíblico: Is 38–40
Retorno a Jerusalém

Tendo fugido de Damasco, Paulo voltou para Jerusalém pela primeira vez desde que havia partido como um perseguidor. Isso aconteceu três anos após sua conversão (Gl 1:18). Não foi um retorno fácil, pois ele enfrentou problemas tanto dentro quanto fora da igreja.

5. Leia Atos 9:26-30. O que aconteceu com Paulo quando ele chegou a Jerusalém?

Em Jerusalém, Paulo tentou se juntar aos apóstolos. Embora, naquela época, ele já fosse cristão há três anos, a notícia de sua conversão parecia tão inacreditável que os apóstolos, como Ananias antes deles, estavam bastante céticos. Eles temiam que isso fizesse parte de uma conspiração cuidadosamente elaborada. Barnabé, um levita de Chipre (At 4:36, 37), portanto, um judeu helenista, abrandou a resistência dos apóstolos e lhes apresentou Paulo. Eles também devem ter ficado maravilhados com o que Deus fizera a Paulo, uma vez que perceberam que ele era um cristão genuíno.

Essa resistência, no entanto, nunca desapareceria inteiramente – se não por causa das ações passadas de Paulo em perseguir a igreja, então, pelo menos por causa do evangelho que ele pregava. Como no caso de Estêvão, os judeus cristãos da Judeia, incluindo os apóstolos, demoraram muito para compreender o alcance universal da fé cristã – uma fé que não se baseava mais no sistema cerimonial do Antigo Testamento, especialmente no sistema sacrifical, que havia perdido sua validade com a morte de Jesus na cruz. As relações mais próximas de Paulo dentro da igreja na Judeia sempre foram com os cristãos helenistas: além do próprio Barnabé, seu círculo de amigos incluía Filipe, um dos sete (At 21: 8), e Mnasom, também de Chipre (At 21:16). Muitos anos depois, os líderes da igreja de Jerusalém ainda acusariam Paulo de pregar basicamente a mesma doutrina que Estêvão havia pregado anteriormente (At 21:21).

Durante os quinze dias em que ficou em Jerusalém (Gl 1:18), parece que Paulo decidiu compartilhar o evangelho com os mesmos judeus incrédulos que ele havia instigado contra Estêvão algum tempo antes. Assim como ocorrera com Estêvão, no entanto, seus esforços encontraram forte oposição, representando uma ameaça à sua vida. Em uma visão, Jesus lhe disse para deixar Jerusalém para sua própria segurança (At 22:17-21). Com a ajuda dos irmãos, ele foi até o porto da cidade de Cesareia e, de lá, seguiu para sua cidade natal na Cilícia, onde ficou por vários anos antes de iniciar suas viagens missionárias.



Sexta-feira, 03 de agosto
Ano Bíblico: Is 41–44
Estudo adicional

Um general que tomba em combate está perdido para seu exército, mas sua morte não acrescenta força ao inimigo. Mas quando um homem preeminente se une às forças opositoras, não apenas se perdem seus serviços como ganham clara vantagem aqueles com quem ele se une. Saulo de Tarso, em caminho para Damasco, podia facilmente ter sido morto pelo Senhor, e muita força se teria retirado do poder perseguidor. Mas Deus, em Sua providência, não apenas preservou a vida de Saulo, mas converteu-o, transferindo assim um campeão do campo do inimigo para o lado de Cristo” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 124).

“Cristo ordenou aos Seus discípulos que fossem e ensinassem a todas as nações. Porém, os ensinamentos anteriores que eles haviam recebido dos judeus dificultavam sua compreensão completa das palavras do Mestre e, portanto, eles demoraram para agir de acordo com esses ensinamentos. Os discípulos se chamavam de filhos de Abraão e se consideravam herdeiros da promessa divina. Somente depois de vários anos, após a ascensão do Senhor, a mente deles foi suficientemente expandida para que entendessem [...] a intenção das palavras de Cristo, de que deveriam trabalhar pela conversão dos gentios e também dos judeus” (Ellen G. White, Paulo, o Apóstolo da Fé e da Coragem, p. 38).

Perguntas para discussão

1. “Por que Me persegues?” (At 9:4). Para Paulo, essa pergunta era uma indicação de que Jesus de Nazaré realmente havia ressuscitado dos mortos e indicava a identificação espiritual que existe entre Jesus e Sua igreja (veja também Mt 25:34-45). Assim, qualquer dano causado à igreja é causado ao próprio Jesus. O que isso significa para nós hoje?

2. Testemunhar de Jesus envolve sofrer por Ele. Não é por acaso que a palavra grega para “testemunha” (martys) veio a ser associada a “martírio”. O que significa sofrer por Jesus?

3. Existe um velho dito latino, Credo ut intelligam, que significa: “Eu acredito para que possa entender”. Como essa ideia nos ajuda a compreender o que aconteceu com Saulo? Antes de sua conversão, ele não entendia. Só depois de sua experiência ele foi capaz de compreender. Que lição podemos extrair disso nos momentos em que nos frustramos com aqueles que não acreditam em verdades que nos parecem tão claras?

Respostas e atividades da semana: 1. Peça a participação dos alunos. 2. Saulo viu a luz de Cristo e caiu por terra. Jesus lhe perguntou por que Saulo O perseguia. Saulo perguntou quem estava falando e ouviu a resposta: “Eu Sou Jesus, a quem tu persegues.” Ele foi encaminhado a Damasco, à casa de Ananias, e ficou cego durante três dias. O que aprendemos com esse relato? 3. Peça a participação dos alunos. 4. Saulo logo começou a pregar nas sinagogas, e as pessoas ficavam espantadas com sua conversão. Porém, não demorou muito para que ele fosse perseguido e tivesse que deixar Damasco na calada da noite. O sucesso de sua pregação despertou a perseguição. 5. Peça a participação dos alunos.



Resumo da Lição 5
A conversão de Paulo

A conversão de Paulo

TEXTO-CHAVE: Atos 26:8-19

O ALUNO DEVERÁ

Conhecer: As etapas da conversão de Saulo.
Sentir: Perceber a receptividade de Saulo às orientações de Deus.
Fazer: Compartilhar da determinação de Saulo no serviço de Deus.

 

ESBOÇO

I. Conhecer: As etapas na formação de Saulo

A. Quais foram as principais motivações que guiaram a vida de Saulo antes de sua conversão?
B. O que possibilitou a transformação de um perseguidor em um apóstolo?

II. Sentir: A receptividade e obediência de Saulo

A. Qual foi a causa da receptividade de Saulo ao chamado de Deus?
B. Qual é a relação entre a ordem de Deus: “Levanta-te e entra na cidade” (At 9:6) e a declaração posterior de Paulo: “Não fui desobediente à visão celestial” (At 26:19)?
C. Como Saulo permaneceu fiel à declaração de Deus de que ele era Seu “instrumento escolhido” (At 9:15)?

III. Fazer: Servir a Deus resolutamente

A. Como você pode ser um instrumento escolhido para Deus em sua comunidade?
B. Quais coisas você precisa abandonar e quais você precisa adotar a fim de experimentar a verdadeira conversão?

 

Ciclo do aprendizado

Motivação

Focalizando as Escrituras: Gl 1:1; 1Co 9:1

Conceito-chave para o crescimento espiritual: Paulo foi um homem de grande fé, certeza e coragem – tudo isso em virtude de seu compromisso irrestrito com Jesus, a quem Paulo encontrou na estrada para Damasco. Esse único incidente teve um impacto permanente na vida Paulo; fez dele um mensageiro corajoso e cheio do Espírito Santo. Por isso, Paulo pôde escrever com confiança à igreja de Corinto sobre a Fonte de sua força em meio ao conflito: “Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor?“ (1Co 9:1). A Lição desta semana mostra que nossa fé e coragem vêm apenas de nossa obediência ao chamado para ser discípulos de Jesus.

Para o professor: Paulo descreveu a si mesmo como “o menor dos apóstolos” (1Co 15:9). No entanto, nenhuma pessoa foi tão influente quanto Paulo na propagação das boas-novas sobre Jesus ao mundo. Esse “menor dos apóstolos” cruzou o maior número de fronteiras para espalhar o evangelho, estabeleceu a maior parte das igrejas da sua época e escreveu a maioria dos textos da teologia cristã. Paulo testificou que seu chamado não era “da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai” (Gl 1:1). Jesus, ao confrontar o futuro apóstolo na estrada para Damasco, mudou a vida de Paulo para sempre. A formação desse grande apóstolo é o foco da Lição desta semana.

Discussão: Embora Paulo tenha se destacado em muitas áreas da vida e do serviço, por que ele descreveu a si mesmo como “o menor de todos os santos” (Ef 3:8)? Qual é a função da humildade para que sejamos seguidores e testemunhas eficientes para Jesus? Pense em alguém que tenha deixado uma impressão permanente em você. Você se tornou uma pessoa melhor por causa disso?

Compreensão

Para o professor: “Quando Cristo Se revelou a Paulo, e ele se convenceu de que estava perseguindo Jesus na pessoa de Seus santos, ele aceitou a verdade como é em Jesus. Manifestou-se em seu caráter e mente um poder transformador e ele se tornou um novo homem em Cristo Jesus. Recebeu a verdade tão plenamente que nem a Terra nem o inferno poderiam abalar sua fé” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 346). A lição desta semana examina Saulo: o perseguidor, o convertido e o apóstolo.

Comentário bíblico

I. Saulo, o perseguidor

(Recapitule com a classe At 7:58; 8:1, 3; 26:9-11.)

As primeiras quatro referências a Saulo no livro de Atos registram sua vida como perseguidor dos primeiros cristãos. Na primeira referência, Saulo guarda as vestes dos homens que arrastaram Estêvão para ser apedrejado (At 7:58). Na segunda, em Atos 8:1, Lucas relata que Saulo havia consentido na morte de Estêvão – um ato que levou à sua eleição como “membro do conselho do Sinédrio” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos,
p. 102). A busca pelo poder geralmente começa com uma transigência silenciosa e, em seguida, rapidamente passa ao caminho da autopromoção. Um ato mau leva a outro ainda mais ousado. Cada ato mau, passo a passo, nos leva a vender nossa consciência ao maior arrematador. Na terceira referência, em Atos 8:3, Saulo executou sua ação diabólica em Jerusalém, devastando “a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres”, encerrando-os no cárcere. A quarta, em Atos 9:1, mostra que o jovem fariseu não se contentou em oprimir os cristãos de Jerusalém. O zelo de Paulo para destruir a igreja o impeliu a ir para Damasco, onde vivia um número considerável de seguidores de Cristo. Sua missão de morte agora tinha o selo do sumo sacerdote de Jerusalém (At 9:1). “Durante algum tempo”, Saulo “foi um instrumento poderoso nas mãos de Satanás para promover sua rebelião contra o Filho de Deus” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 102). Então, ele recebeu aquela visão ofuscante na estrada para Damasco.

Pense nisto: Gamaliel foi um fariseu preeminente e um renomado mestre do judaísmo. Diante da conspiração dos fariseus para matar os apóstolos, ele impediu esse plano mediante seu sábio conselho de que eles deveriam deixar os apóstolos em paz, pois, se o cristianismo procedia de Deus, eles não seriam capazes de destruí-lo (At 5:39). Saulo foi o brilhante discípulo de Gamaliel. O que, então, fez com que ele fosse contra o conselho de seu mestre e assumisse a missão de matar os cristãos?

II. Saulo, o convertido

(Recapitule com a classe At 9:1-19; 22:1-10; 26:12-18.)

Quando Deus precisa de alguém para cumprir uma missão, Ele encontra Seu escolhido. Por essa razão, Ele escolheu Abraão, que saiu de Ur; Moisés, no deserto; Daniel, em Babilônia; Ester, na Média-Pérsia; João Batista, no deserto; Pedro (do comércio de pesca da Galileia). E Saulo de Tarso. É de extrema importância a conversão de Saulo, pois transformou um destruidor do cristianismo no principal evangelista e missionário global. O encontro com Jesus e a visão ofuscante na estrada que se aproximava de Damasco transformaram Saulo de inimigo declarado do cristianismo em seu principal defensor. A estrada de Damasco deixou de ser um trajeto para o assassinato a fim de se tornar, em vez disso, um encontro com o Jesus ressuscitado. Saulo “ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que Me persegues?” (At 9:4). “Quem és Tu, Senhor? ”, o perseguidor quis saber (At 9:5). A resposta deixou Saulo perplexo: “Eu Sou Jesus” (At 9:5). Na vida do homem, Jesus é sempre o Interruptor – desde Nicodemos, o fariseu; Jairo, o dirigente da sinagoga; a viúva de Naim; a mulher samaritana junto ao poço; o centurião com um servo doente; Lázaro e suas irmãs; Simão, o leproso; Anás e Caifás; Herodes e Pilatos; Saulo e inúmeros outros. Abençoado é aquele que se rende a essa interrupção divina. Saulo, de fato, rendeu-se a Jesus, fazendo a pergunta mais importante da vida: “Senhor, que queres que eu faça?” (At 9:6, ARC). A conversão de Saulo estava concluída e, em Damasco, ele deveria ser informado sobre seu futuro.

Pense nisto: O Jesus ressuscitado fez a seguinte pergunta a Saulo: “Por que Me persegues?” (At 9:4). A implicação da pergunta é muito ampla: qualquer atividade realizada ou palavra falada que deprecie uma pessoa é vista por Jesus como sendo feita contra Ele. Como a pergunta de Cristo a Saulo influencia os aspectos relacionais da sua vida?

III. Saulo, o apóstolo

(Recapitule com a classe At 9:26-30; 26:12-19.)

A transformação de Saulo, de perseguidor mais temido da igreja para seu defensor mais fervoroso, é uma história sem paralelo. O que aconteceu após o encontro com Jesus na estrada para Damasco pode ser agrupado a partir dos relatos em Atos 9 e Gálatas 1:15-24: (1) Quando Ananias pronunciou as calorosas palavras de boas-vindas: “Irmão Saulo”, a hostilidade do perseguidor contra os cristãos desfaleceu (At 9:17). Ananias batizou Saulo. (2) Saulo pregou sobre Jesus em Damasco de maneira convincente. (3) Ele foi para a Arábia (Gl 1:17) a fim de orar, refletir e receber a revelação divina sobre a melhor maneira de servir ao Senhor. (4) Saulo voltou para Damasco e ministrou ali por três anos. (5) Saulo retornou a Jerusalém para se juntar aos discípulos (At 9:26). (6) Os apóstolos não tinham certeza da conversão de Saulo. Portanto, foi preciso que outro converso, Barnabé, declarasse aos apóstolos como Saulo “vira o Senhor no caminho [...], e como em Damasco pregara ousadamente em nome de Jesus” (At 9:27). (7) Saulo permaneceu em Jerusalém, pregando corajosamente, mas os helenistas buscaram acabar com sua vida. (8) Saulo fugiu para sua terra natal, Tarso. (9) Talvez Saulo teria sido o homem esquecido da história cristã, não fosse pela maneira miraculosa pela qual o Espírito Santo atua. Os apóstolos, ao ouvirem sobre um crescimento maravilhoso e multicultural na igreja de Antioquia, enviaram Barnabé para investigar a situação. A chegada de Barnabé fez com que a igreja crescesse ainda mais, e ele viajou até Tarso para recrutar Saulo, a fim de que ele o ajudasse em Antioquia (At 11:25, 26). Logo a dupla “Saulo e Barnabé” realizou a primeira viagem missionária da igreja – uma viagem que continua circulando o globo, aguardando o Mestre, que prometeu retornar quando fosse “pregado este evangelho do reino por todo o mundo” (Mt 24:14).

Pense isto: O sangue dos mártires é a semente da igreja. Discuta como o martírio de Estêvão e a perseguição que se seguiu facilitaram o crescimento mais rápido possível da igreja primitiva.

3 Aplicação

Para o professor: No livro de Atos, Lucas usou o nome “Saulo” 25 vezes e “Paulo” 129 vezes. Qual é o sentido dos dois nomes? O próprio apóstolo deu uma pista em Atos 26:14: “Ouvi uma voz que me falava em língua hebraica: Saulo, Saulo, por que Me persegues?”. Como fariseu, Saulo era bem versado no hebraico (ou a forma mais comum, o aramaico), e nessa língua o nome dele era Saulo. Mas seu nome grego era Paulo. Visto que ele havia sido chamado para ser um apóstolo dos gentios, muitos dos quais falavam o grego, o apóstolo parece ter preferido usar a forma grega de seu nome. Paulo era um perito no que diz respeito à contextualização: “Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (1Co 9:22).

Pergunta para reflexão

De que maneira podemos contextualizar a pregação do evangelho?

Criatividade

Para o professor: Depois de narrar a história de sua conversão diante do rei Agripa, Saulo apresentou o lema irresistível de sua vida desde a experiência na estrada para Damasco: “Não fui desobediente à visão celestial” (At 26:19). Essa breve frase sintetiza toda a vida, o testemunho e o martírio do grande apóstolo. Incentive cada aluno a dizer ou escrever uma declaração que resuma sua vida e propósito como cristão.


Perdão, pai!

Horita não foi criada como cristã. Houve um tempo em que Deus não fazia parte de seus pensamentos, a exemplo do que acontece com muitos dos 127 milhões de pessoas no seu país de origem, o Japão. Mas ela pensava muito no pai, a quem não amava.

Seus pais se haviam divorciado quando ela era criança. Horita morava com a mãe e visitava o pai aos finais de semana. Aos 14 anos, o pai adoeceu e ela precisou cuidar dele aos finais de semana. Ela não queria ser sua enfermeira. Era muito estressante, ela era jovem e tinha muitas coisas para fazer. Horita reclamava: “Por que eu?” Sempre que via o pai dizia: “odeio você”. Chorava muito e acreditava que o pai também chorava. Algum tempo depois, ele faleceu. Então, ela decidiu se mudar para os Estados Unidos, para estudar animação.

Antes de iniciar os estudos em Los Angeles, visitou alguns primos adventistas que moravam em Chicago. Eles a convidaram para conhecer a igreja no sábado e ela gostou muito. Aquela foi a sua primeira vez em uma igreja cristã. Mas, quando suas aulas começaram, não sobrava tempo para ir à igreja. Durante seis meses, os primos perguntaram se ela havia encontrado uma igreja adventista em Los Angeles. Finalmente, ela conheceu a Igreja Adventista Filipina de Glendale. Seus planos eram ouvir o sermão e ir para casa conversar pelo Skype com a mãe. Mas a igreja tinha muitos jovens e fizeram questão de que ela ficasse. Almoçaram juntos e a convidaram para sair no fim da tarde.

O sonho

Os novos amigos a convidaram para sair no dia seguinte. Ela se perguntava por que eles eram bondosos com ela. Mais tarde, descobriu que Deus demonstra amor através dos cristãos e seus amigos demonstravam o Seu amor. Desejosa de aprender mais, fez muitas perguntas sobre Deus e sobre a Bíblia. Uma de suas amigas era obreira bíblica e lhe ofereceu estudos bíblicos. Ela aprendeu a gostar dos amigos e passou a desejar ser batizada, mas não conseguia se esquecer de como tratara o pai.

Certa noite, teve um sonho, no qual viu o pai caído no chão. Seu rosto estava muito branco, como se estivesse quase morto. Parecia olhar para ela, sem, no entanto dizer uma palavra. Ela ficou impressionada com a forma que ele a encarava e pensou: “Não, ele nunca me perdoará.” Na noite seguinte, teve o mesmo sonho.  Novamente, vi meu pai caído no chão, mas, desta vez ele sorriu e disse: “muito obrigado.” Ela pensou: “Meu pai me perdoou e isso é o que Deus faz! Embora nem sempre façamos a coisa certa, Ele nos perdoa e nos ama.”

Quando, no sonho, o pai agradeceu, Horita sentiu a alegria da salvação pela primeira vez. O peso no coração desapareceu. Percebeu que havia sido perdoada. Ao acordar, orou: “Muito obrigada, Senhor. Jesus me perdoou e posso sentir Seu amor.”

Barreira quebrada

O sonho eliminou a última barreira para o batismo e ela percebeu que Deus perdoa. Sentiu o amor Dele através dos irmãos da igreja, e entendeu as palavras do apóstolo João: “se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o Seu amor está aperfeiçoado em nós” (1Jo 4:12). Três meses depois do sonho, os primos viajaram até Chicago para celebrar o batismo dela. Eles ficaram surpresos mais felizes com a decisão.

Atualmente, Horita tem 24 anos e trabalha para uma organização não governamental perto de Tóquio. Ela decidiu não trabalhar com animação porque, no Japão, essa arte é usada principalmente para videogames. Ela não quer criar videogames. Em vez disso, trabalha como terapeuta artística infantil.

A organização para a qual trabalha usa terapia artística para ajudar crianças a superar traumas, como o terremoto de 2011 no norte do Japão.

“Oro para que minha mãe aceite Jesus. Também oro pela minha igreja em Tóquio. A Igreja Setagaya treina jovens adventistas japoneses como eu para espalhar o evangelho em todo o Japão. Parte da oferta deste trimestre ajudará a igreja a expandir seu trabalho com os jovens”, diz Horita.

Assista ao vídeo sobre Horita Risa no link: bit.ly/forgive-me-father

Conhecendo o Japão

  • O Japão é um arquipélago, ou uma série de ilhas, na extremidade leste da Ásia. Existem quatro ilhas principais: Hokkaido, Honshu, Shikoku e Kyushu, além de cerca de quatro mil ilhas menores.
  • Três das placas tectônicas que formam a crosta terrestre se encontram perto do Japão, e muitas vezes se movem uma contra a outra, causando terremotos.
  • Mais de mil terremotos acontecem no Japão todos os anos.
  • O Japão também possui cerca de 200 vulcões, dos quais 60 são ativos.
  • O xintoísmo é a maior religião no Japão, praticada por quase 80% da população, mas em pesquisas, apenas uma pequena porcentagem se identifica como xintoístas.

Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2018
Tema Geral: O Livro de Atos dos Apóstolos
Lição 5: 28 de julho a 4 de agosto

A conversão de Paulo

Autor: Wilson Paroschi
Professor de Novo Testamento
Southern Adventist University
Collegedale, TN, EUA

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega

Esboço da lição da semana

I. Perseguidor da igreja (At 9:1, 2)

II. Conversão próximo a Damasco (At 9:3-19)

III. Início do ministério (At 9:20-30)

I. Perseguidor da igreja (At 9:1, 2)

Paulo (ou Saulo) aparece pela primeira vez no relato bíblico no contexto da morte de Estêvão. A descrição de Lucas (At 7:58; 8:1) dá a entender que Saulo exerceu um papel importante, senão de liderança, na ocasião. A lei determinava que, em caso de apedrejamento, as primeiras pedras fossem lançadas pelas testemunhas, certamente para inibir acusações apressadas (Dt 17:7). No caso de Estêvão, porém, as testemunhas haviam sido subornadas para que o acusassem (At 6:11), e o fato de deixarem as vestes aos pés de Saulo (At 7:58) sugere que ele estava, por assim dizer, supervisionando a execução. Por isso ele é descrito como consentindo na morte de Estêvão (At 8:1). As palavras parecem ser cuidadosamente escolhidas para expressar a ideia de que, embora não participando ativamente no apedrejamento, Saulo o aprovou.

1. A primeira perseguição da igreja

Em seguida ao martírio de Estêvão, “levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém”, o que forçou muitos fiéis a abandonarem a cidade (At 8:1), a maioria dos quais era dos mesmos judeus cristãos helenistas convertidos no Pentecostes (At 2:5, 9-11). Convém notar que Estêvão foi um helenista (At 6:1-5), o mesmo acontecendo com Saulo, que era natural de Tarso, na Cilícia (At 21:39; 22:3). É bem provável que Saulo frequentasse a mesma sinagoga que Estêvão (At 6:9), e que foi dali que veio a oposição contra ele. Ou seja, os problemas disseram respeito mais à ala helenista da igreja, o que parece explicar a razão pela qual os apóstolos (At 8:1) e os demais cristãos palestinos (At 11:1) puderam permanecer em Jerusalém.

Saulo era o líder da perseguição. Sabendo que muitos fiéis haviam fugido para Damasco, uma cidade com grande colônia judaica cerca de 215 km ao norte de Jerusalém (em linha reta), ele foi ao sumo sacerdote e pediu autorização para que estendesse a perseguição até lá (At 9:1, 2; 22:5; 26:12). O sumo sacerdote era o presidente do sinédrio, uma espécie de suprema corte judaica, e era dele a responsabilidade de administrar as comunidades judaicas ao redor do mundo. Isso quase sempre era feito por meio de um shaliah (“enviado”), alguém autorizado pelo Sinédrio para exercer funções administrativas e religiosas. E foi assim, como um shaliah, ou um apóstolo do Sinédrio – a palavra “apóstolo” significa “enviado” – que Saulo partiu para Damasco.

2. A “heresia” cristã

Paulo declarou em 1 Coríntios 1:23 que a fé cristã era “escândalo para os judeus e loucura para os gregos”. O problema para os judeus tinha a ver, acima de tudo, com o fato de Jesus ter morrido numa cruz, pois a lei declarava que todo aquele que fosse pendurado num madeiro seria considerado maldito de Deus (Dt 21:23). Do ponto de vista judaico, portanto, a fé em Jesus postulava uma grotesca contradição, visto que Ele – assim pensavam – não poderia ser ao mesmo tempo o escolhido de Deus e o maldito de Deus. Além disso, Jesus fugia aos padrões estabelecidos no primeiro século: Ele não havia frequentado as escolas rabínicas de Seus dias (Jo 7:15); Seu comportamento não era pautado pelas tradições rabínicas (Mt 11:19; Mc 7:5; Jo 5:1-16); e a mensagem da ressurreição era uma afronta aos saduceus, os líderes máximos do templo e do Sinédrio (At 23:8). Além disso, a crítica feita por Estêvão quanto ao templo e suas cerimônias (At 6:13, 14; 7:48-50) tocava no que de mais sagrado havia no judaísmo do primeiro século. Para Paulo, Estêvão e os demais cristãos não eram somente apóstatas, mas representavam uma ameaça aos pilares da fé judaica. Por isso, decidiu exterminá-los (At 22:4, 5; 26:10, 11; Gl 1:13; Fp 3:6).

II. Conversão próximo a Damasco (At 9:3-19)

A conversão de Paulo nas proximidades de Damasco é mencionada três vezes em Atos, uma por Lucas (9:3-19) e duas em relatos atribuídos ao próprio Paulo (22:6-16; 26:13-18). O apóstolo também a menciona brevemente em Gálatas 1:15-24. O que ocorreu ali foi mais que uma visão no sentido profético, mas um encontro real com o Cristo ressuscitado (At 9:17; 1Co 9:1; 15:8; Gl 1:15, 16) que mudou completamente perspectiva e a vida daquele jovem fariseu, transformando-o do maior inimigo da fé no seu maior defensor. Depois do Pentecostes, nenhum outro evento foi tão imporante para a igreja nascente como esse. Com Paulo, o cristianismo nunca mais seria o mesmo.

O Novo Testamento nos dá preciosas informações sobre a vida de Paulo anterior à sua conversão que muito nos ajudam a entender seu ministério e o evangelho por ele pregado. De família cem por cento judaica (Fp 3:5), Paulo nasceu na cidade de Tarso, capital da província romana da Cilícia (At 21:39; 22:3), o que fazia dele um judeu helenista e profundo conhecedor da cultura greco-romana. Por algum motivo que desconhecemos, Paulo também era cidadão romano por direito de nascimento (At 22:28), o que significa que o pai dele deve ter sido um cidadão romano antes dele. Isso dava uma série de vantagens ao apóstolo e ele soube fazer uso delas, principalmente no contexto de sua prisão e julgamento (At 16:35-39; 22:25-29; 25:10-12). Paulo cresceu em Jerusalém, onde se tornou fariseu (At 23:6; 26:5; Fp 3:5) e foi educado aos pés do maior rabino judeu da época, Gamaliel (At 22:3), o que o habilitava plenamente a discutir questões profundas relacionadas à lei, à história de Israel e à salvação. Muito cedo na vida (cf. At 7:58), alcançou a posição de membro do Sinédrio (At 26:10; cf. 22:20), e era visto por todos “como jovem altamente promissor, e grandes esperanças eram acalentadas com respeito a ele como capaz e zeloso defensor da antiga fé”.

Sua conversão, porém, não só frustrou as expectativas dos líderes judaicos da época como também fortaleceu sobremaneira o movimento cristão. “Um general que tomba em combate está perdido para seu exército, mas sua morte não acrescenta força ao inimigo. Mas quando um homem preeminente se une às forças opositoras, não apenas se perdem seus serviços como ganham clara vantagem aqueles com quem ele se une. Saulo de Tarso, em caminho para Damasco, podia facilmente ter sido morto pelo Senhor, e muita força se teria retirado do poder perseguidor. Mas Deus, em Sua providência, não apenas preservou a vida de Saulo, mas converteu-o, transferindo assim um campeão do campo do inimigo para o lado de Cristo”.

III. Início do ministério (At 9:20-30)

A conversão de Paulo não foi intermediada, nem sequer testemunhada por nenhum dos apóstolos (Gl 1:11, 12), mas aprouve a Deus em Sua graça usar um cristão chamado Ananias para que Paulo recuperasse a visão e fosse batizado (At 9:10-19). Mais tarde, Deus usaria Barnabé para aproximar Paulo dos demais apóstolos em Jerusalém (At 9:26, 27) e integrá-lo nos trabalhos evangelísticos em Antioquia da Síria (At 11:25, 26), de onde o apóstolo sairia em suas três viagens missionárias.

Quando cruzamos as informações dos vários relatos da conversão de Paulo, podemos reconstruir com mais clareza seus primeiros movimentos como cristão. Após a visita de Ananias, Paulo foi à Arábia (Gl 1:17), que era como se chamava o reino nabateano, localizado mais ou menos na região correspondente à moderna Jordânia. Ali, num período aproximado de três anos (Gl 1:18), Paulo se preparou para o início de seu ministério. Deve ter sido um período de reclusão, profundo estudo das Escrituras e comunhão com Deus. Mais ou menos ao final dos três anos, ele voltou para Damasco, que na época estava sob administração nabateana (2Co 11:32). Em Damasco, Paulo começou a pregar, mas logo surgiu a oposição e ele foi forçado a fugir da cidade (At 9:20-25). Foi nessa ocasião que ele foi descido num cesto por uma janela da muralha (2Co 11:33), dirigindo-se em seguida para Jerusalém (At 9:26), onde se encontrou com alguns apóstolos (Gl 1:18, 19) e procurou testemunhar aos mesmos judeus helenistas que, anos antes, haviam se levantado contra Estêvão (At 9:28, 29). Mas eles também procuraram tirar-lhe a vida, pelo que os irmãos o enviaram a Tarso, na Cilícia, sua cidade natal (At 9:30), onde permaneceria por vários anos até que Barnabé fosse à sua procura e o trouxesse à Antioquia (At 11:25, 26). Nada sabemos do ministério de Paulo nesse período, a não ser que ele fez vários conversos ali (At 15:41).

Conclusão

Pontos a ser enfatizados em classe:

– O papel do próprio Estêvão na conversão de Paulo (cf. At 7:60).

– A fiel resposta de Paulo ao chamado de Deus (cf. At 26:19).

– A pergunta de Jesus na estrada de Damasco: “Saulo, Saulo, por que Me persegues?” (At 9:4).

– A revelação por meio de Ananias, de que ele teria um poderoso ministério e que ele muito sofreria pelo nome de Jesus (At 9:15, 16). Mas, mesmo assim, ele foi fiel ao seu chamado (At 26:15).

– A preocupação que Paulo teve de pregar aos mesmos judeus helenistas que anteriormente haviam se levantado contra Estêvão (At 9:29; cf. 6:9).

 

Autor do comentário:

Wilson Paroschi ensinou na Faculdade de Teologia do Unasp, Engenheiro Coelho, por mais de trinta anos. Desde janeiro deste ano, é professor de Novo Testamento na Southern Adventist University, em Collegedale, Tennessee, Estados Unidos. Ele é PhD em Novo Testamento pela Andrews University (2004) e realizou estudos de pós-doutorado na Universidade de Heidelberg, na Alemanha (2011).

 

 

1 Ouve-se, às vezes, que o presidente do Sinédrio na época de Jesus não era saduceu, nem o sumo sacerdote, mas o rabino Gamaliel mencionado em Atos 5:33-39. Tal informação é problemática; ela deriva de fontes rabínicas tardias e suspeitas. A maioria dos estudiosos modernos, tanto cristãos quanto judeus, acredita que as tradições acerca do Sinédrio preservadas na Mishnah reflitam a situação em Jâmnia após a destruição de Jerusalém em 70 AD. As fontes (gregas) do período intertestamentário e do primeiro século são amplamente consideradas mais confiáveis para a reconstrução da história do Sinédrio no período anterior ao ano 70 AD. O NT e o historiador judeu Flávio Josefo concordam que, na época de Jesus e dos apóstolos, os principais integrantes do Sinédrio eram os sumos sacerdotes (archiereis; Mt 27:41; Mc 14:53; Josefo, Wars 2.14.8; 2.15.2—16.3) e outros membros aristocráticos da classe sacerdotal, de onde os sumos sacerdotes eram escolhidos; eles pertenciam ao partido dos saduceus (At 4:1; 5:17; Josefo, Ant. 20.9.1). O sumo sacerdote sempre era o presidente do Sinédrio (1 Macc 14:44; Mt 26:57; At 5:17; 24:1; Josefo, C. Ap. 2.24; Ant. 20.9.1; 20.10.1). O segundo em poder era o capitão do templo (Josefo, Ant. 20.6.2; Lc 22:4, 52; At 4:1, 24, 26). Para outras informações acerca do Sinédrio e o poder do sumo sacerdote no período anterior ao primeiro século, veja 1 Macc 7:33; 11:23; 12:6; 14:24-49; Josefo, Ant. 13.16.2; 14.9.4; 14.10.2; 20.9.1; 20.10.1; Wars 1.10.5-9).

2 Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 112.

3 Ibid., p. 124.