A esperança do AT não se fundamenta em concepções gregas sobre a imortalidade natural da alma, mas no ensino bíblico da ressurreição final dos mortos.
Como poderia um corpo humano que já não existe, cremado em cinzas ou destruído por outros meios, ser trazido à vida novamente? Como alguém que morreu, talvez há séculos ou mesmo há milênios, pode recuperar a identidade?
Essas perguntas nos levam a refletir sobre o mistério da vida. Estamos vivos e desfrutamos a vida que Deus graciosamente nos concede todos os dias. Mesmo sem entender a origem sobrenatural da vida, sabemos que no princípio Deus trouxe a vida à existência a partir da não vida pelo poder de Sua Palavra (Gn 1; Sl 33:6, 9). Então, se Deus foi capaz de criar a vida na Terra pela primeira vez do nada (latim ex nihilo), por que duvidar de Sua capacidade de recriar a vida humana e restaurar sua identidade original?
Nesta semana vamos refletir sobre como o conceito da ressurreição final se desenrolou nos tempos do AT, com foco especial nas declarações de Jó, de alguns salmistas e dos profetas Isaías e Daniel.
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1. Leia Jó 19:25-27 e compare com João 1:18 e 1 Timóteo 6:16. Quando e em que circunstâncias Jó esperava “ver a Deus”?
A vida não é justa. Observamos isso especialmente quando vemos o “bom” sofrendo e o “injusto” prosperando (Sl 73:12-17; Ml 3:14-18). Por exemplo, Jó era “íntegro e reto”, “temia a Deus e se desviava do mal” (Jó 1:1). Mesmo assim, Deus permitiu que Satanás o afligisse de várias maneiras. No aspecto físico, seu corpo foi devastado por uma doença dolorosa (Jó 2:1-8). No aspecto material, ele perdeu seus rebanhos (Jó 1:13-17). No tocante à sua família e aos de sua casa, perdeu alguns de seus servos e até mesmo os próprios filhos (Jó 1:16, 18). E, no aspecto emocional, estava cercado de amigos que o acusavam de ser um pecador impenitente que merecia o que estava enfrentando (Jó 4:1–5:27; 8:1-22; 11:1-20, etc.). A sua própria esposa declarou: “Você ainda conserva a sua integridade? Amaldiçoe a Deus e morra!” (Jó 2:9).
Jó não sabia que havia se tornado o epicentro de uma luta cósmica entre Deus e Satanás. Afligido por essa luta, lamentou o próprio nascimento e desejou nunca ter nascido (Jó 3:1-26). No entanto, expressou sua fidelidade incondicional a Deus: “Ainda que Ele me mate, Nele esperarei” (Jó 13:15, ARC). Mesmo imaginando que sua vida teria fim, ele manteve a certeza de que a morte não teria a palavra final. Com forte convicção, afirmou que, embora morresse, seu Redentor um dia Se levantaria, e ele veria a Deus em sua carne (Jó 19:25-27). “Este é um vislumbre inequívoco da ressurreição” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 3, p. 617).
Que esperança gloriosa em meio a uma tragédia dessa! Cercado pela doença e dor, pelo colapso econômico, pela reprovação social e pelo abalo emocional, Jó ainda podia ansiar pelo dia em que ressuscitaria dos mortos e contemplaria seu amado Redentor. Na verdade, sua declaração sobre a ressurreição estava repleta da mesma certeza com que, séculos mais tarde, Marta disse a Jesus: “Eu sei que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia” (Jo 11:24). Jó, como Marta, teve que reivindicar essa promessa pela fé, embora, diferentemente de Jó, Marta logo tenha recebido poderosa evidência empírica de sua crença.
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2. Leia o Salmo 49. O que levou o salmista a ter tanta certeza de sua ressur- reição final (Sl 49:15) em contraste com os que pereceram sem essa certeza (Sl 49:6-14)?
O Salmo 49 fala sobre a falsa confiança dos tolos “que confiam nos seus bens e se gloriam na sua muita riqueza” (Sl 49:6), que “chegam a dar o seu próprio nome às suas terras” (Sl 49:11) e que vivem apenas para fazer o bem a si mesmos (Sl 49:18). Agem como se suas casas e sua própria glória durassem para sempre (Sl 49:11, 17).
Mas os tolos se esquecem de que sua honra desaparece e que eles perecem assim como os animais (Sl 49:12). “Como ovelhas, estão destinados à sepultura, e a morte lhes servirá de pastor. [...] A aparência deles se desfará na sepultura, longe das suas gloriosas mansões” (Sl 49:14, NVI).
Conforme declarou Jó séculos antes: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei” (Jó 1:21; 1Tm 6:7). O salmista aponta que tanto o tolo quanto o sábio morrem, deixando “as suas riquezas para os outros” (Sl 49:10).
Mas há um contraste radical entre eles. De um lado estão os tolos que perecem, embora tentem encontrar segurança em suas próprias posses e realizações transitórias. Por outro lado, os sábios contemplam além da saga humana e da prisão da sepultura, a gloriosa recompensa que Deus tem reservado para eles (1Pe 1:4). Com essa percepção em mente, o salmista pôde dizer com confiança: “Mas Deus remirá a minha alma do poder da morte, pois Ele me tomará para Si” (Sl 49:15).
Compatível com a esperança do AT, essa declaração não sugere que no momento de sua morte a alma do salmista voaria imediatamente para o Céu. O salmista estava dizendo simplesmente que não permanecerá para sempre na sepultura, pois chegará o tempo em que Deus irá redimi-lo da morte e levá-lo às cortes celestiais.
Mais uma vez, a certeza da ressurreição futura é retratada, trazendo esperança, segurança e significado à existência presente. Portanto, os sábios receberão uma recompensa eterna mais gloriosa do que os tolos seriam capazes de reunir nesta vida curta.
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3. Leia o Salmo 71. O que o salmista quis dizer quando pediu a Deus que o tirasse de novo “das profundezas da terra” (Sl 71:20)?
No Salmo 49 encontramos uma expressão tocante de esperança na ressurreição, em contraste com a falsa certeza do tolo que confiou em sua riqueza. No Salmo 71, o salmista buscou segurança e esperança em Deus enquanto estava cercado por inimigos e falsos acusadores que diziam que o Senhor o havia abandonado (Sl 71:10, 11).
Em meio às provações, o salmista encontrou consolo e segurança ao relembrar como Deus tinha cuidado dele no passado. Primeiro, observou que Ele o havia sustentado desde o nascimento e até mesmo o tirou do ventre de sua mãe (Sl 71:6). Então, reconheceu que o Senhor o havia ensinado desde sua juventude (Sl 71:17).
Com a certeza de que Deus era sua rocha e fortaleza, o salmista suplicou: “Sê Tu para mim uma rocha habitável, em que eu sempre possa me refugiar”. “Não me rejeites na minha velhice; quando me faltarem as forças, não me desampares”. “Ó Deus, não Te ausentes de mim; Deus meu, apressa-Te em me socorrer!” Então, ele acrescentou: “Tu, que me fizeste passar muitas e duras tribulações, restaurarás a minha vida, e das profundezas da terra de novo me farás subir” (Sl 71:3, 9, 12, 20, NVI).
A expressão “das profundezas da terra” poderia ser entendida literalmente como uma alusão à futura ressurreição física do salmista. Mas o contexto parece favorecer uma descrição metafórica da condição de profunda depressão do salmista como se a terra o estivesse engolindo (compare com o Sl 88:6 e 130:1). Portanto, podemos dizer que se trata, “em primeiro plano, de linguagem figurada, mas também aponta para a ressurreição física” (Bíblia de Estudo Andrews, nota sobre o Sl 71:20).
No final, o que importa é compreendermos que, seja qual for a situação, Deus está lá, Ele Se importa e, no fim das contas, nossa esperança não se encontra nesta vida, mas na vida futura – a vida eterna que teremos em Jesus após a nossa ressurreição, por ocasião de Seu retorno.
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4. Que contraste há entre os que perecerão para sempre (Is 26:14; Ml 4:1) e os que receberão a vida eterna (Is 26:19)?
Isaías apresenta um contraste importante entre a majestade de Deus e nossa fragilidade (ver Is 40). Embora sejamos como a erva que seca e as flores que caem, a palavra de Deus permanece para sempre (Is 40:6-8). Contudo, apesar de nossa pecaminosidade humana, a graça salvífica de Deus está disponível para todos os seres humanos e se torna efetiva até mesmo para os gentios que abraçam Sua aliança e guardam o sábado (Is 56).
No livro de Isaías, a esperança da ressurreição é ampliada de forma significativa. Enquanto as alusões anteriores à ressurreição foram expressas especialmente a partir de perspectivas pessoais (Jó 19:25-27; Sl 49:15; 71:20), Isaías fala dela incluindo a si mesmo e a comunidade da aliança (Is 26:19).
Isaías 26 contrapõe o destino distinto dos ímpios e o dos justos. Por um lado, os ímpios permanecerão mortos após a “segunda morte” (Ap 21:8) e jamais serão trazidos à vida novamente. Eles serão completamente destruídos, e toda a sua memória perecerá para sempre (Is 26:14). Essa passagem enfatiza o ensinamento de que não há almas nem espíritos sobreviventes que permanecem vivos após a morte. Sobre a destruição final dos ímpios, que acontece depois, o Senhor declarou em outro lugar que os ímpios serão queimados, e não lhes restarão “nem raiz nem ramo” (Ml 4:1).
Por outro lado, os justos serão ressuscitados para receber a recompensa. Deus “tragará a morte para sempre” e “enxugará as lágrimas de todos os rostos” (Is 25:8). “Os teus mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão. Despertem e cantem de alegria, vocês que habitam no pó, porque o Teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho da vida, e a terra dará à luz os seus mortos” (Is 26:19). Os justos participarão do banquete que o Senhor preparará para todos (Is 25:6). A ressurreição reunirá os justos de todas as eras, incluindo seus entes queridos que morreram em Cristo.
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Como veremos, o NT fala muito sobre a ressurreição dos mortos; e, como já vimos, a ideia da ressurreição dos mortos também aparece no AT. Nos tempos do AT, as pessoas tinham a mesma esperança que temos da ressurreição final. Marta, que viveu na época de Jesus, já tinha essa esperança (Jo 11:24). Sem dúvida, mesmo então, os judeus tinham algum conhecimento da ressurreição nos últimos dias, ainda que nem todos acreditassem nela (veja At 23:8).
5. Leia Daniel 12. Que esperança de ressurreição podemos encontrar nos escritos desse grande profeta?
Daniel 12:1 refere-se a Miguel, “o grande Príncipe”, cuja identificação tem sido bastante contestada. Visto que cada uma das grandes visões no livro de Daniel culmina com a manifestação de Cristo e Seu reino, isso também deveria ocorrer com relação a essa passagem específica. No livro de Daniel encontramos alusões ao mesmo Ser divino como “Príncipe desse exército” (Dn 8:11), “Príncipe dos príncipes” (Dn 8:25), “Ungido, o Príncipe” (Dn 9:25) e finalmente como “Miguel, o grande Príncipe” (Dn 12:1). Portanto, devemos identificar Miguel também como Cristo.
Os textos do AT considerados até aqui (Jó 19:25-27; Sl 49:15; 71:20; Is 26:19) falam da ressurreição de pessoas justas. Mas Daniel fala da ressurreição de justos e de injustos. Quando Miguel Se levantar, “muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, outros para vergonha e horror eterno” (Dn 12:2).
Muitos consideram que esse verso fale sobre uma ressurreição especial de algumas pessoas, tanto fiéis quanto infiéis, no retorno de Cristo.
“As sepulturas se abrem, e ‘muitos dos que dormem no pó da terra’ ressuscitam, ‘uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno’ (Dn 12:2). Todos os que morreram na fé da mensagem do terceiro anjo saem glorificados do túmulo para ouvir o concerto de paz, estabelecido por Deus com aqueles que guardaram Sua lei. ‘Até mesmo aqueles que O traspassaram’ (Ap 1:7, NVI), os que zombaram e escarneceram da agonia de Cristo e os mais obstinados inimigos de Sua verdade e de Seu povo ressuscitarão para contemplá-Lo em Sua glória e ver a honra conferida aos fiéis e obedientes” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 528, 529).
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Texto de Ellen G. White: Profetas e Reis, p. 423-431 (“Visões de um futuro glorioso”).
A ciência ensina que a matéria é composta de átomos, e estes são compostos de duas partículas menores, quarks e léptons, os quais, acredita-se, são os blocos construtores da realidade física. Se o mundo é constituído de quarks e léptons, não poderia Deus, que criou e sustenta o mundo, reconfigurar essas partículas na ressurreição? Zombando da ressurreição, Bertrand Russell perguntou o que aconteceria com os que foram comidos por canibais, pois seus corpos passaram a fazer parte dos canibais. Quem receberia o quê na ressurreição? Mas suponha que o Senhor pegue os quarks e léptons, os blocos construtores fundamentais da existência, de qualquer lugar e, com base nas informações que possui sobre cada um de nós, nos reconstrua a partir desses quarks e léptons. Ele não precisa dos nossos originais. Ou Ele poderia simplesmente chamar à existência novos quarks e léptons. Seja como for, o Deus que criou o Universo pode nos recriar e promete fazer isso na ressurreição dos mortos.
“O Doador da vida chamará a Sua herança adquirida, na primeira ressurreição, e, até aquela hora triunfante, quando soará a última trombeta e o vasto exército ressurgirá para a vitória eterna, todo santo que dorme será conservado em segurança, guardado como joia preciosa, conhecido de Deus por nome. Pelo poder do Salvador que neles habitou e por terem sido participantes da natureza divina, são ressuscitados” (Comentários de Ellen G. White, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 4, p. 1258).
Perguntas para consideração
- Estima-se que existem dois trilhões de galáxias por aí, cada uma composta de bilhões e bilhões de estrelas. Algumas estrelas têm planetas que as orbitam, assim como os planetas do sistema solar orbitam o Sol. Deus criou essas estrelas, as sustenta e as conhece pelo nome (Sl 147:4). Embora essa realidade não prove que Deus ressuscitará os mortos, como ela revela um poder que pode realizar esse milagre?
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Hebreus 11 destaca as expectativas dos “heróis da fé”. Esse capítulo enriquece nossa compreensão da esperança que eles tinham antes da ressurreição de Jesus?
Respostas e atividades da semana: 1. Na ressurreição final, com seu corpo físico. 2. A sabedoria e a confiança em Deus; o tolo confia nas suas riquezas transitórias. 3. Que o livrasse de sua angústia e depressão, mas também sugeriu a ressurreição física. 4. Os ímpios serão completamente queimados, e não lhes restarão “nem raiz nem ramo”; os justos mortos serão ressuscitados para receber sua recompensa abençoada. 5. Os justos ressuscitarão para a vida eterna.
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TEXTOS-CHAVES: Jó 19:25–27; Sl 73:24; Dn 12:2
ESBOÇO
A morte é deprimente, fria e antinatural. Rouba a vida da certeza e significado e rompe relacionamentos abruptamente. Morrer não faz sentido. Sendo humanos, não fomos feitos para morrer. Morremos somente por causa do pecado.
No entanto, no Jardim do Éden, em meio à escuridão e ao desespero, Deus introduziu a esperança, que brilhou onde não havia esperança, como a lua e as estrelas trazem luz às trevas. Essa esperança começou com a busca de Deus por Adão e Eva (Gn 3:9) e Seu anúncio de que enviaria a Semente prometida para derrotar Satanás (Gn 3:15). A esperança é um presente do próprio Deus para nós. Eva pensou que seu filho primogênito seria esse Salvador (Gn 4:1), mas a morte seria derrotada apenas pelo Messias, Jesus Cristo.
A igreja do Antigo Testamento (At 7:38) vivia por essa esperança, aguardando a vinda do Messias e o estabelecimento de Seu reino. A esperança da ressurreição já é forte no AT. Começa com Jó, culmina com Daniel e, nesse meio-tempo, vários autores testemunharam dela.
COMENTÁRIO
Revisemos brevemente os principais textos relacionados à esperança da ressurreição no AT:
Jó 19:25–27
Pode-se argumentar que não há texto mais poderoso nem mais extraordinário sobre a certeza pessoal da ressurreição do que esse do patriarca Jó. O livro é uma confissão de fé impressionante e eloquente. Seus versos contêm uma das mais belas expressões de esperança em uma ressurreição corpórea.
Aqui está uma declaração que podemos encontrar gravada em muitos túmulos cristãos: a poderosa declaração de Jó de que ele verá Deus em sua carne após a morte é a mais antiga da Bíblia e dá o tom para essa incrível esperança do que Deus fará no final da história da Terra. Jó declarou: “Eu sei que meu Redentor vive” (Jó 19:25). Ele conhecia seu Deus, que está vivo, e O chamou de “Redentor” (hebraico: goel, parente redentor, defensor, vindicador, protetor), como Boaz foi para Rute (Rt 4:14). Jó continua com a certeza de que seu Redentor “vive e por fim Se levantará sobre a Terra” (Jó 19:25) para ressuscitá-lo para uma nova vida.
Infelizmente, em geral as pessoas conhecem e citam apenas o verso 25, mas o que se segue é do mesmo modo crucial: “Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus. Eu O verei por mim mesmo, os meus olhos O verão, e não outros; de saudade o meu coração desfalece dentro de mim!” (Jó 19:26, 27). Observe o tom pessoal da declaração solene de Jó: meu, eu, por mim mesmo, os meus. Ele acreditava firmemente em seu coração que, em sua carne, com seus próprios olhos, ele veria a Deus, mesmo que morresse e sua carne fosse destruída. Essa garantia pessoal de um dia futuro de ressurreição não pode ser expressa de maneira melhor nem mais enfática.
Salmo 16:9, 10
“Por isso o meu coração se alegra e o meu espírito exulta; até o meu corpo repousará seguro. Pois não deixarás a minha alma na morte [sheol, sepultura, morte], nem permitirás que o teu Santo veja corrupção”. Aqui o termo hebraico sheol deveria ser traduzido como “sepultura”, como é feito em muitas outras passagens. Esse termo é encontrado 66 vezes na Bíblia hebraica e, na maioria dos casos, seu significado é sinônimo de sepultura. Tanto os ímpios quanto os justos descem ao sheol (Gn 37:35; 42:38; 44:29, 31; Nm 16:30, 33; 1Rs 2:6, 9; Jó 21:13; Sl 49:17; 89:48; Ec 9:10; Is 14:9, 11, 15; Is 38:10; Ez 31:15-17). Além disso, o Senhor redime os fiéis do sheol (Os 13:14); ninguém pode se esconder de Deus no sheol (Sl 139:8, Am 9:2), e não há trabalho ou outra atividade no sheol (Ec 9:10).
Em nenhum lugar da Bíblia sheol é descrito como o submundo sombrio onde os mortos vivem ou onde as almas ou espíritos humanos continuam a existir. A palavra sheol é uma designação para sepultura, o lugar dos mortos (veja, por exemplo, a consistência da New International Version [Nova Versão Internacional], em que, na maioria dos casos, a palavra sheol é traduzida como sepultura [57 vezes], mas também como morte [cinco vezes], reino da morte [uma vez], profundezas mais profundas [uma vez], portões da morte [uma vez] e profundezas [uma vez]). Davi se regozijou porque após a morte ele descansaria em paz e não seria esquecido pelo Senhor, mas seria ressuscitado para uma nova vida e não experimentaria a destruição duradoura (shakhat significa destruição, corrupção, decadência, cova).
Esse texto transcende a experiência de Davi e tem um significado messiânico mais profundo. O Fiel (hebraico khasid, devoto, o Fiel, o Santo), ou seja, o Messias Jesus Cristo, não apodreceria em Seu túmulo, Seu corpo não iria se decompor, porque Ele ressuscitaria após três dias de descanso (contados inclusive) na sepultura (sheol). O NT cita esse texto como um anúncio profético da ressurreição de Cristo (At 2:25-28; 13:35).
Salmo 49:9-15
O salmista apresenta um contraste entre o destino geral das pessoas e a recompensa dos justos. Por um lado, as pessoas morrerão e irão para o túmulo (sheol) porque elas não irão viver “para sempre” e não deixarão de sofrer decomposição [shakhat]” (Sl 49:9, NVI; compare com Sl 16:10; 17:15). Por outro lado, aqueles que amam o Senhor e Lhe obedecem terão um destino diferente. O poeta declarou: “Deus redimirá [padah, ramson, redimir] a minha vida da sepultura [sheol, túmulo] e me levará para Si [laqakh, receber, tomar]” (Sl 49:15, NVI). Os tradutores da New Living Translation interpretam o texto hebraico de maneira poderosa: “Ele me arrebatará do poder da sepultura”. A Bíblia Viva traduziu o mesmo verso da seguinte forma: “Deus livrará a minha alma do poder da morte”.
Salmo 71:20
“Tu, que me tens feito ver muitas angústias e males, me restaurarás ainda a vida e de novo me tirarás dos abismos da Terra”. Esse salmo é uma oração pelo auxílio divino na velhice. O Senhor esteve com o salmista desde o nascimento e fez grandes coisas por ele; então, ele pediu a proteção divina contra seus inimigos. Deus não apenas restaura a força física e a saúde, mas tem o poder de ressuscitar os mortos. O salmista acreditava no Senhor e esperava que Deus o trouxesse (hebraico: ‘alah, fizesse subir ou ascender) das “profundezas [hebraico: tehom, significando, literalmente, abismo, profundeza] da Terra”, o que pode ser uma descrição figurada da sepultura. Assim, essa imagem poética sugere uma ressurreição corpórea. A tradução da NVI apresenta essa esperança: “Restaurarás a minha vida, e das profundezas da Terra de novo me farás subir”.
Salmo 73:24
Asafe, em sua busca existencial pela compreensão dos enigmas da vida em relação à prosperidade dos ímpios e ao sofrimento dos justos, concluiu que era Deus quem o sustentava e o guiava. Deus assegurava seu futuro e o ressuscitaria para a vida eterna: “Tu me seguras pela minha mão direita. Tu me guias com o Teu conselho, e depois me recebes na glória” (Sl 73:23, 24). Deus dá sentido à vida presente, mas, além disso, assegura nosso futuro mesmo após a morte. O verbo para ser “levantado” é laqakh, o qual é usado na história de Enoque, quando Deus o levou (laqakh; Gn 5:24), bem como na narrativa de Elias que também foi levado para o Céu (laqakh; 2Rs 2:3, 9. Outro verbo usado é ‘alah, subir, como em 2Rs 2:1, 11).
Isaías 26:19
O profeta Isaías, no chamado “Pequeno Apocalipse”, apresenta a esperança da ressurreição e a anuncia com ousadia: “Os teus mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão. Despertem e cantem de alegria, vocês que habitam no pó, porque o Teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho de vida, e a terra dará à luz os seus mortos” (Is 26:19). Uma esperança gloriosa e um futuro brilhante são assim retratados para aqueles que permanecem com o Senhor. Esse verso fala de maneira muito explícita sobre a ressurreição física. O profeta Daniel, como veremos a seguir, fundamenta sua declaração sobre a ressurreição na proclamação de Isaías.
Daniel 12:2, 13
Daniel aponta para um dia de ressurreição: “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, outros para vergonha e horror eterno” (Dn 12:2). A revelação de Deus no AT culmina com essa declaração. A morte é comparada ao sono, e os que estão mortos ressuscitarão: os que serviram ao Senhor receberão a vida eterna, mas os ímpios serão condenados à morte eterna.
Deus também garante a Daniel que ele será ressuscitado para uma nova vida: “Quanto a você, siga o seu caminho até o fim. Você descansará e, ao fim dos dias, se levantará para receber a sua herança” (Dn 12:13). A morte é semelhante a um descanso do trabalho fiel. Depois virá a doce herança: a vida eterna com o Senhor.
Jonas 2:2
A alusão à ressurreição na história de Jonas está relacionada à sua permanência por três dias na barriga de um grande peixe. Jonas define essa experiência como o mesmo que estar no sheol, ou seja, em uma sepultura (Jn 2:2). Depois de três dias e três noites, ele foi trazido a uma nova vida quando foi vomitado desse sheol. Em sua oração, declarou: “Desci até a terra, cujos ferrolhos se fecharam atrás de mim para sempre. Tu, porém, fizeste a minha vida subir da sepultura, ó Senhor, meu Deus!” (Jn 2:6). Jesus comparou Sua permanência na sepultura e Sua ressurreição com a experiência de Jonas (Mt 12:40).
Oseias 6:2
O profeta Oseias falou sobre o reavivamento espiritual de Israel e o retorno ao Senhor usando a comparação de ser ressuscitado da morte para uma nova vida. As imagens da ressurreição são usadas para explicar essa nova vida do povo de Deus.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
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Como você pode trazer esperança aos que sofrem a morte de um familiar muito amado?
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Como a visão bíblica da ressurreição pode transformar sua atitude em relação à morte e ao desespero?
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Como a esperança da segunda vinda de Jesus pode aumentar a qualidade de seus relacionamentos, seja no casamento, na vizinhança e no local de trabalho?
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Três ingredientes poderosos
Clifton Glasgow
Nova Zelândia | 15 de outubro
Três ingredientes foram responsáveis por transformar as reuniões evangelísticas da Nova Zelândia em uma potência espiritual que ainda está produzindo resultados. Os ingredientes são: oração, Envolvimento Total dos Membros e Hope Channel.
Os membros da igreja se reuniram às 6 da manhã todos os dias da semana por cinco meses para orar por um derramamento do Espírito Santo nas reuniões. Os membros também se apropriaram das reuniões de quatro semanas e meia, organizando-as e convidando parentes e amigos.
Mas o ingrediente surpresa foi o ministério da televisão, impulsionado pelo Hope Channel, que recebeu uma oferta do décimo terceiro sábado em 2016.
“Os membros da igreja envolveram famílias e amigos, mas um grande componente foi o envolvimento de muitas pessoas por meio do Hope Channel”, disse Clifton Glasgow, que ajudou a coordenar as reuniões em quinze locais da maior cidade da Nova Zelândia, Auckland.
Cerca de duzentas pessoas foram batizadas por meio das reuniões. Compartilhamos com você agora quatro dessas histórias.
Tracey
Tracey, uma mãe solteira com cinco filhos, estava lutando contra o abuso de substâncias quando sua mãe, que havia visitado uma Igreja Adventista vários anos antes, sugeriu que ela assistisse ao Hope Channel.
Enquanto Tracey assistia a programas que exaltavam Jesus, o Espírito começou a falar ao seu coração. Não demorou muito para que ela e sua mãe fossem à igreja.
Tracey, que está na casa dos 30 anos, fez estudos bíblicos e abandonou as drogas ilegais durante as reuniões evangelísticas. Agora batizada, ela está estudando para se tornar professora do ensino médio.
Owen e Tina
Owen, um aposentado e líder comunitário na Ilha Waiheke, Auckland, e sua esposa, Tina, ficaram convencidos sobre a mensagem do advento depois de assistirem ao Hope Channel e outro canal de televisão administrado por adventistas locais. Eles gravaram o conteúdo da televisão em DVDs e os distribuíram pela ilha. Eles também oraram por uma igreja e examinaram as propriedades, imaginando como o Senhor providenciaria um edifício.
Quando os líderes da igreja começaram a planejar reuniões evangelísticas para Auckland, Owen se ofereceu para encontrar um salão comunitário para reuniões locais e cuidar de outras logísticas. A participação da noite atingiu 30 pessoas, a maioria das quais não eram adventistas. Então, Owen e Tina foram batizados, tornando-se os primeiros membros de uma igreja de Waiheke que se reúne em um prédio fornecido por outra igreja.
A igreja da ilha é uma das duas igrejas plantadas por meio das reuniões evangelísticas.
Heath e Simone
Heath, um especialista em artes marciais que já treinou tropas de elite do exército, começou a assistir ao Hope Channel com sua esposa, Simone. Ele tinha ouvido falar sobre o Hope Channel de um colega de trabalho adventista na empresa de construção onde trabalhavam.
Heath e Simone foram convencidos pelos programas do Hope Channel, e um desejo cresceu em seus corações de ter um relacionamento com Jesus. O casal começou a frequentar os cultos de sábado e depois participou das reuniões evangelísticas. Eles foram batizados nas reuniões.
Don e Audrey
Don e Audrey, um casal de idosos, tropeçaram no Hope Channel enquanto zapeavam pelos canais de televisão. Eles ficaram surpresos com quão de perto a Igreja Adventista procurava seguir os ensinamentos bíblicos. Em sua igreja, havia desvios dos princípios bíblicos. Então, eles decidiram experimentar a Igreja Adventista.
Don e Audrey começaram a frequentar uma Igreja Adventista local. Durante as reuniões evangelísticas, eles decidiram se tornar membros. Com seu encorajamento, suas filhas adultas, que residiam em outros lugares na Nova Zelândia e na França, também começaram a frequentar igrejas adventistas.
Don, que tem cerca de 80 anos, incentiva ativamente as pessoas a assistirem ao Hope Channel distribuindo folhetos em hospitais e outros lugares.
“O Hope Channel se tornou parte integrante do testemunho”, disse Clifton. “Ele fornece uma plataforma maravilhosa para compartilhar a mensagem de Jesus com um mundo que precisa de esperança.”
Obrigado por sua oferta do décimo terceiro sábado em 2016, que ajudou o Hope Channel a se tornar um canal aberto que alcança todos os lares da Nova Zelândia. Sua oferta do décimo terceiro sábado deste trimestre ajudará a levar a TV Hope Channel e a Rádio FM Hope para Papua-Nova Guiné.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2022
Tema Geral: Vida, morte e eternidade
Lição 4 – 16 a 22 de outubro de 2022
A Esperança do Antigo Testamento
Autor: Sérgio H. S. Monteiro
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Rosemara Santos
Os estudiosos sempre buscaram entender em torno de qual tema os outro vários temas das Escrituras transitam. Hoje, a visão mais aceita é a que identifica Deus como esse tema, essa doutrina. Ou seja, Deus é o centro unificador e organizador das Escrituras. De forma mais técnica, é possível dizer que Deus é o centro da Bíblia Hebraica, ou o Antigo Testamento, Jesus é o centro do Novo Testamento e Deus, por meio de Jesus, é o centro unificador das Escrituras. Essa visão propõe uma continuidade da Revelação entre a Bíblia Hebraica e o Novo Testamento, permitindo que os temas, conceitos e histórias de um fluam para o outro, dando-lhes unidade e coesão. Isso significa que um tema encontrado em um deles jamais contradirá um tema encontrado no outro. Ao contrário, haverá um brilhante fio de ouro que ligará cada tema, cada página, cada ensino de um lado e do outro, porque Deus, Seu autor é o tema central do todo da revelação.
A lembrança de que os temas de um testamento serão encontrados e plenificados no outro é sumamente importante para compreender a lição desta semana. Ao estudarmos a esperança, é preciso ter em mente que ela não é um pensamento do Novo Testamento, mas subjaz à própria existência da revelação da Bíblia Hebraica, em Gênesis 3:15 que, em meio à torpe realidade da entrada do pecado no mundo e, por meio do pecado a entrada da morte, Deus fez uma declaração de esperança. De fato, a primeira declaração de esperança: a morte, que ora entrava, seria destronada pela vitória do Descendente da mulher.
Note-se que a esperança em Gênesis 3:15 não foi declarada em termos de continuidade da vida após a morte, o que daria razão à serpente. A promessa, ao contrário, envolvia batalha, morte e uma vitória final, que também envolvia morte, mas que daria vida. E essa é a tônica da ideia de esperança na Bíblia Hebraica, como aliás, em toda a Bíblia. Ou seja, o ser humano não vive na esperança de uma vida desencarnada, nem de uma libertação da alma através da morte, mas de algo diferente, maior, que envolve, sim, a morte, mas que a ela vence, no corpo. Esse “algo” é conhecido nas Escrituras pelo nome de ressurreição.
A ideia bíblica de ressurreição aparece já alegoricamente na história da entrada de Noé na arca, em Gênesis 6. O tempo que Noé passou na arca, pode ser visto, através dos olhos de Jonas, com uma imperfeita analogia do tempo no Sheol, marcado não pela consciência mas pelo afastamento de Deus e de Sua presença. O texto de Gênesis 8:1 parece indicar isso, ao dizer que “Deus se lembrou de Noé” (wayyzkhor elohim et noach). A forma verbal wayyzkhor, cujo significado é lembrar, é utilizada para Deus sempre em contexto de aliança ou de auxílio para alguém que está em necessidade (Gn 19:29; 30:22; 42:9; Ex 2:24). Noé, assim como Jonas, esteve envolto em morte e, por isso, necessitava de que Deus Se lembrasse dele e o trouxesse para a vida.
O texto da Akedah, em Gênesis 22, quando Abraão foi ordenado a sacrificar seu filho Isaque, já dentro do pensamento judaico foi visto como um símbolo poderoso da ressurreição. O Midrash (conjunto de histórias judaicas sobre um tema) de Gênesis, 56, afirma que a ressurreição se dará em virtude do “terceiro dia de nosso pai Abraão”, em uma clara referência à sua viagem de 3 dias a Moriah, onde ofereceu seu filho ao Eterno. De acordo com comentaristas judeus, na mente de Abraão, Isaac efetivamente morreu durante o caminho, sendo ressuscitado pela intervenção divina após esse período já em Moriah.
Em 1 Samuel 2:6, Ana, em sua oração, diz que o Eterno é Aquele que faz descer ao Sheol e faz também de lá subir. É interessante notar que ela não menciona uma continuidade nesse Sheol, mas a vida retorna apenas se o Eterno trouxer o ser humano de volta do Sheol, nitidamente apontando para uma esperança de Ressurreição, em um período tão remoto quanto o de Eli e Samuel (século 12 a.C.).
Outro exemplo interessante que pode ser adicionado aos que foram apresentados na lição é o do Salmo 23. Comumente, esse salmo é visto como apresentando o cuidado de um pastor por seu rebanho. Não obstante, uma visão mais contextual nos permite ver aqui também, já na pessoa de Davi, uma esperança da ressurreição. O Eterno, que é o bom Pastor, leva Seu protegido para os pastos de descanso e o conforta em face do vale da sombra da morte (v. 4). Diferente do que se pensa, a figura aqui não é de um vale escarpado em Israel, onde se perde uma ovelha, mas da certeza da morte, oriunda da humanidade de Davi. Mesmo nesse caminho comum a todos os homens, o Eterno lhe é um companheiro e, mais do que isso, é a sua segurança, pois Seu cajado e Seu bordão o confortam. O termo hebraico para cajado, shavet, é usado em textos messiânicos, como Gênesis 49:1 e Números 24:17, e indicam o cetro do poder do Messias, uma referência a sua posição real, mas também um símbolo de Sua autoridade. Da mesma forma, o bastão, descrito como mishne’et, também está associado com o Messias, pois aparece na mão do Anjo do Eterno que dá apoio a Gideão (Jz 6:21). Ambos os símbolos, portanto, são ligados ao Messias, ao Seu governo e à Sua autoridade sobrenatural. O verso 5 do salmo fala de um banquete na presença dos inimigos. O maior dos inimigos do salmista era a morte, que ele enfrentara no verso 3. A presença do Eterno o confortara e Ele usara Sua autoridade para retirá-lo do reino da morte, dando-lhe o conforto de uma nova vida, que inicia com um banquete (cf. Mt 25). Não resta dúvidas de que esse tão amado salmo expressa a esperança real de uma ressurreição. Não é imortalidade desencarnada, mas a capacidade de ter sua cabeça ungida, participar de um baquete, e refestelar-se em uma taça abundante e transbordante, algo que somente poderia ser feito em vida, ou seja através da ressurreição.
Ainda no Salmo 103:4, o Eterno é aquele que resgata a vida do abismo. Aqui não são utilizados os termos controversos nephesh e sheol, mas chai e shachat respectivamente, significando vida e abismo. O termo vida (chai) é ligado ao termo utilizado para descrever o estado de existência em Gênesis 2:7, e o termo abismo (shachat) é associado ao sheol em Jonas 2:5-7 e no Salmo 16:10. A mesma expressão aparece em Jonas 2:7, como o resultado da ação redentiva de Deus, que tira Jonas do Sheol e lhe devolve a vida. Uma eminente figura de ressurreição, que demonstra que o que Deus tira do abismo não é outra coisa que o ser vivo, ou seja, a unidade que Ele criou em Gênesis 2:7.
Como pode ser visto nesses textos, além dos elencados no próprio guia da lição, a real esperança encontrada nas Escrituras veterotestamentárias não está em viver uma vida imortal fora do corpo, através de uma suposta entidade imortal, mas viver uma nova vida em um corpo glorificado, através da ressurreição. E é nessa linha também que o Novo Testamento segue, bem como as tradições judaicas daquele período. E isso era o esperado, uma vez que, mesmo se afastando de alguma maneira do todo da religião antiga de Israel, o povo judeu contemporâneo de Jesus, preservou muito da antropologia hebraica, incluindo a ideia holística da formação do ser humano e a de que o homem poderia viver com o Eterno através da ressurreição, que era um ato da graça de Deus.
A esperança da ressurreição é um tema central da Bíblia, que definiu a própria essência do relacionamento do povo judeu com Deus, de forma que ser judeu incluía crer na ressurreição, e negá-la era abandonar a fé judaica. De fato, um dos 13 princípios da fé judaica, elencados por Maimônides (sábio judeu que viveu entre os séculos 12 e 13 d.C.) é: “Creio com plena fé na ressurreição dos mortos que ocorrerá quando for do agrado do Criador”. Assim vivamos e assim morramos, crendo na esperança de que Ele, quando de Seu agrado, nos trará de volta à vida para viver eternamente com Ele.
Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O Pr. Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É Bacharel em Teologia, Mestre em Teologia Bíblica, cursa doutorado em Bíblia Hebraica pela Theologische Universiteit Apeldoorn. Pastor da Brazilian Adventist Community Church na Associação do Norte da Nova Zelândia e membro a Adventist Theological Society, International Organization for the Study of the Old Testament, Society for Biblical Literature e Associação dos Biblistas Brasileiros.