Lição 3
09 a 15 de julho
A gaiola
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Sl 145-150
Verso para memorizar: “Nisso vocês exultam, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejam contristados por várias provações” (1Pe 1:6).
Leituras da semana: Êx 14; 15:22-27; 17:1-7; Pv 3; Lc 4:1-13; 1Pe 1:6-9

“À plena luz do dia, e ouvindo a música de outras vozes, o pássaro engaiolado não aprenderá a canção que o dono procure lhe ensinar. Aprende um fragmento desta, um trinado daquela, mas nunca uma melodia determinada e completa. Eis porém que o dono cobre a gaiola e a coloca onde o pássaro não ouvirá senão o canto que se lhe pretende ensinar. Nas trevas, o pássaro tenta, e tenta de novo, modular aquele canto, até que por fim o entoa em perfeita melodia. O pássaro pode então sair da obscuridade e voltar à luz: não esquecerá jamais a melodia que lhe foi ensinada. É assim que Deus procede com Seus filhos. Ele tem um canto para nos ensinar, e, quando o houvermos aprendido no meio das sombras da aflição, poderemos cantá-lo para sempre” (Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p. 472).

Observe que quem leva o pássaro para as trevas é o próprio dono.

É fácil compreender que Satanás causa dor, mas o próprio Deus participaria ativamente em nos conduzir a crisóis em que experimentamos confusão ou sofrimento?

Resumo da semana: Que exemplos há na Bíblia em que o próprio Deus conduziu pessoas a experiências que Ele sabia que causariam sofrimento? Na sua opinião, que “cânticos novos” Ele queria que aprendessem?

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Domingo, 10 de julho
Ano Bíblico: Pv 1-3
Indo à terra prometida por um beco sem saída

“E, chegando Faraó, os filhos de Israel levantaram os olhos e eis que os egípcios vinham atrás deles, e ficaram com muito medo. Então os filhos de Israel clamaram ao Senhor” (Êx 14:10).

Você já foi vítima de uma armação, conduzido a uma armadilha ou a um beco sem saída? Em alguns casos, pode ser bom, como adentrar inesperadamente uma sala onde amigos o aguardam e todos gritam “Surpresa! Feliz aniversário!” Outras vezes pode ser um choque. Talvez você tenha sido vítima de bullying na época da escola ou um colega de trabalho tenha tentado fazer com que você parecesse mau.

Do dia em que os israelitas deixaram o Egito até chegarem à terra prometida, “O Senhor ia adiante deles, durante o dia, numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho; durante a noite, numa coluna de fogo, para os iluminar, a fim de que caminhassem de dia e de noite” (Êx 13:21). Cada parte da jornada foi conduzida por Deus. Mas olhe para onde Ele os levou primeiro: ao lugar em que o mar estava diante deles, havia montanhas de um lado e de outro, e o exército do Faraó vinha logo atrás!

1. Leia Êxodo 14. Por que Deus levou os israelitas a um lugar em que sabia que eles ficariam amedrontados?

Seguir “a coluna” não assegura felicidade em todo o tempo. Às vezes é uma experiência difícil, porque o treinamento na justiça pode nos levar a lugares que testam nosso coração, o qual é enganoso (Jr 17:9). Nas dificuldades, a chave para saber se estamos seguindo a Deus não é necessariamente a ausência de provações, mas estar aberto à instrução divina e à submissão contínua de nosso coração à Sua liderança.

2. Que lição os israelitas aprenderam com essa experiência? Êxodo 14:31

Por que confiar em Deus às vezes é tão difícil, mesmo conhecendo muitas das Suas maravilhosas promessas? Relembre uma situação difícil à qual você crê que o Senhor o tenha conduzido a fim de lhe ensinar a “acreditar” Nele e a “temê-Lo”.

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Segunda-feira, 11 de julho
Ano Bíblico: Pv 4-7
Águas amargas

“Toda a congregação dos filhos de Israel partiu do deserto de Sim, fazendo suas paradas, segundo o mandamento do Senhor, e acamparam em Refidim; mas ali não havia água para o povo beber” (Êx 17:1).

Talvez não recebamos de Deus tudo o que queremos, mas acaso não podemos esperar obter tudo de que precisamos? Não o que achamos que precisamos, mas o que de fato precisamos?

Havia algo de que os israelitas com certeza precisavam: água. Imediatamente depois que Deus os conduziu por meio de uma nuvem através do Mar Vermelho, eles O seguiram pelo deserto quente e sem água por três dias. Naquele lugar, onde era tão difícil encontrar água, o desespero deles é compreensível.

Aonde Deus os levou? A coluna foi a Mara, onde enfim havia água. Eles devem ter se sentido animados. Porém, quando provaram a água, imediatamente a cuspiram, pois era amarga. “E o povo murmurou contra Moisés, dizendo: – O que vamos beber?” (Êx 15:24).

Então, alguns dias depois, a coluna parou onde não havia água (Êx 17:1).

3. Leia Êxodo 15:22-27 e 17:1-7. O que Deus revelou aos israelitas sobre Si mesmo em Mara e em Refidim? Que lições deveriam ter aprendido?

4. Em Refidim, que pergunta fizeram os filhos de Israel? (Êx 17:7). Você já fez a mesma pergunta? Se sim, por quê? Como se sentiu e que lições aprendeu após obter a resposta?

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Terça-feira, 12 de julho
Ano Bíblico: Pv 8-11
O grande conflito no deserto

“Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo. Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome” (Lc 4:1, 2).

5. Leia Lucas 4:1-13. Que lições você pode aprender com esse relato sobre como vencer a tentação e não ceder ao pecado?

Tentações podem ser bem difíceis, pois apelam para coisas que desejamos muito, e sempre parecem chegar nos momentos em que nos encontramos mais fracos.

Lucas 4 apresenta a tentação de Jesus por Satanás e revela questões difíceis. À primeira vista, parece que o Espírito Santo conduziu Jesus à tentação. No entanto, Deus não nos tenta (Tg 1:13). Em vez disso, Deus nos leva a crisóis. O que causa impacto ao lermos Lucas 4 é que o Espírito pode nos levar a provas que nos deixam expostos às tentações de Satanás. Nessas ocasiões, quando sentimos as tentações, podemos pensar que não seguimos a Deus da forma correta. Mas isso não é necessariamente verdade. “Frequentemente, quando nos encontramos em situação difícil, duvidamos de que tenhamos sido guiados pelo Espírito de Deus. No entanto, foi o Espírito que dirigiu Jesus ao deserto para ser tentado por Satanás. Quando Deus nos submete à prova, tem um plano a realizar para nosso bem. Jesus não confiou presunçosamente nas promessas de Deus, indo sem que Lhe fosse ordenado ao encontro da tentação, nem Se entregou ao desânimo quando ela veio. Nós também não devemos agir assim” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 92 [128, 129]).

Às vezes, no crisol, somos queimados em vez de purificados. Portanto, é reconfortante saber que, quando caímos sob a tentação, podemos ter esperança, porque Jesus Se manteve firme. Ele carregou nossos pecados, pagou a penalidade pela nossa falha em resistir à tentação e passou por um crisol pior do que qualquer um de nós jamais enfrentaremos. Por isso, não somos rejeitados nem abandonados por Deus. Há esperança, mesmo para o “principal” dos pecadores (1Tm 1:15).

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Você enfrenta tentações? Peça ao Senhor que lhe ensine a praticar as lições de Jesus. Não é preciso sucumbir à tentação, mas, se isso ocorrer, você tem um Salvador.


Quarta-feira, 13 de julho
Ano Bíblico: Pv 12-15
Um legado duradouro

6. Leia 1 Pedro 1:6, 7. O que o apóstolo disse?

Pedro estava escrevendo para pessoas que enfrentavam dificuldades e, muitas vezes, se sentiam sozinhas. Ele escreveu “aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pe 1:1, ARC). Essa é a região que conhecemos atualmente como Turquia ocidental. Um pouco depois, o apóstolo disse que sabia que estavam experimentando “várias provações” (1Pe 1:6).

7. O que Pedro quis dizer com “estrangeiros” e “dispersos”? Como isso podia ser um peso extra nas provações deles?

Ser cristão naquela época era algo novo; havia poucos crentes espalhados por vários lugares em que eram a minoria, e, muitas vezes, eram mal interpretados, na melhor das hipóteses, e, na pior, perseguidos. Pedro lhes assegurou, no entanto, que essas provas não eram aleatórias nem caóticas (1Pe 1:6, 7). A fé genuína é o objetivo daqueles que perseveram em meio a “várias provações”.

8. Que suprema segurança Pedro buscou dar a essas pessoas em meio às provações? O que essa esperança significa para nós? 1Pe 1:6-9

Quaisquer que tenham sido as provações e os sofrimentos deles, como compará-los à eternidade que os espera quando Cristo voltar? As palavras de Pedro para eles são as palavras de Deus para nós, independentemente do que estejamos enfrentando. Por mais difíceis ou dolorosas que sejam nossas provações, nunca devemos perder de vista o fim último, a vida eterna em um novo Céu e uma nova Terra, sem dor, sofrimento nem morte. Com essa promessa diante de nós, que nos foi garantida mediante a morte de Jesus, é importante que não percamos a fé. Em vez disso, em meio às provações, peçamos que o Senhor nos livre de tudo que prejudique nossa fé.

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Quinta-feira, 14 de julho
Ano Bíblico: Pv 16-19
Provação pelo fogo

Havia um jovem a quem chamaremos de Alex. Ele tinha saído de uma juventude problemática: drogas, violência e uma experiência na prisão. Então, através da bondade de um membro da igreja (a quem Alex tinha roubado), ele aprendeu sobre Deus e entregou o coração a Jesus. Embora ainda tivesse problemas e lutas, e elementos do passado permanecessem, Alex era uma nova pessoa em Jesus. Ele amava a Deus e procurava expressar esse amor obedecendo aos Seus mandamentos (1Jo 5:1, 2). Em dado momento, sentiu que deveria se tornar pastor. Tudo apontava para isso. Sem dúvida, ele estava respondendo ao chamado divino.

Na faculdade, as coisas foram bem no início, até que tudo começou a dar errado, e sua vida começou a desmoronar. Sua fonte financeira estava secando. Um amigo próximo se voltou contra ele, fazendo acusações falsas, mas que prejudicaram sua reputação. Em seguida, ele adoeceu e não conseguia se recuperar. Ninguém sabia o que ele tinha, e isso impactou seus estudos de modo que ele temeu ter que abandoná-los. Além disso, ele sofria tentações com drogas, disponíveis na comunidade, e chegou um momento em que cedeu à tentação. Alex não conseguia entender por que tudo isso estava acontecendo, especialmente porque tinha certeza de que o Senhor o havia conduzido àquela faculdade. Será que Alex estava enganado a esse respeito? Caso estivesse, toda a sua experiência com Deus tinha sido um enorme erro? Até os elementos mais básicos de sua fé estavam sendo postos em dúvida.

9. Imagine que, em meio a essa crise, Alex fosse até você e pedisse conselho. O que lhe diria? Que experiências você teve que poderiam ajudá-lo? Que versos bíblicos você usaria? Os seguintes textos seriam úteis nessa situação? Pv 3; Jr 29:13; Rm 8:28; 2Co 12:9; Hb 13:5

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"Quase todos os que seguem o Senhor passaram por crises em que foram tentados a duvidar de que Deus os conduzia. O importante nessas situações é se apegar às pro- messas, relembrar de como Ele nos guiou no passado e orar por fé e perseverança. O Senhor não desiste de nós. É possível não sucumbir à tentação de desistir Dele?"


Sexta-feira, 15 de julho
Ano Bíblico: Pv 20-24
Estudo adicional

Textos de Ellen G. White: Patriarcas e Profetas, p. 281-290 (“O êxodo”), p. 291-302 (“Do Mar Vermelho ao Sinai”); O Desejado de Todas as Nações, p. 81-89 [114-123] (“A tentação”).

“Na antiguidade o Senhor conduziu Seu povo a Refidim e pode deci- dir levar-nos para lá a fim de testar nossa fidelidade e lealdade para com Ele. Em misericórdia para conosco, Ele nem sempre nos coloca nos lugares mais fáceis, pois, se o fizesse, em nossa autossuficiência nos esquecería- mos de que o Senhor é nosso ajudador em tempos de necessidade” (Ellen G. White, Cristo Triunfante, p. 119).
“Ele anseia Se manifestar a nós, e revelar os suprimentos abundantes ao nosso dispor, e permite que nos venham provas para reconhecermos nossa limitação e aprendermos a recorrer ao Seu auxílio. Ele faz verter da rocha águas refrescantes.
“Enquanto não estivermos face a face com Deus, quando veremos como somos vistos e conheceremos como somos conhecidos, nunca saberemos quantos fardos Ele suportou por nós, e quantos mais teria alegremente suportado se, com fé pura, os houvéssemos levado a Ele” (Ellen G. White, Minha Consagração Hoje, p. 8, 9)."

Perguntas para consideração

  1. Embora a tentação seja algo individual, existe alguma tentação coletiva, coisas contra as quais nós, como grupo, devemos nos proteger?
  2. Você já foi levado a “lugares desagradáveis”? Por que eram desagradáveis? Se tivesse de revisar essas experiências no presente, as veria de forma diferente?
  3. Deus permite que sejamos purificados por provas. Contudo, como entender as provas que parecem não ter valor – por exemplo, uma morte repentina por acidente?
  4. A oração intercessória nos ajuda a resistir às provações e nos manter fiéis?
  5. Conhece alguém que, tendo enfrentado provas, se desviou do caminho? O que podemos fazer de forma tangível para ajudar a conduzir essa pessoa de volta a Deus?

Respostas e atividades da semana: 1. Para testar a confiança deles. 2. O povo temeu o Senhor e confiou Nele e em Moisés. 3. Deus fazia prodígios e demonstrava cuidar de Israel. Porém, o povo continuava murmurando. 4. “Está o Senhor no meio de nós ou não?”. Resposta pessoal. 5. Jesus não colocou Deus à prova. Ele não dialogou com o tentador. Jesus mencionava passagens da Bíblia. 6. Pedro encorajou os que sofriam provas e tribulações. 7. Eram cristãos que estavam espalhados devido às perseguições. Eram a minoria, e muitos viviam distantes de familiares e amigos. 8. A salvação da alma. A vida eterna com Cristo é a esperança que nos mantém firmes. 9. Comente com a classe.

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Resumo da Lição 3
A gaiola

TEXTO-CHAVE: 1Pe 1:6

FOCO DO ESTUDO: Êx 14; 15:22-27; 17:1-7; Pv 3; Lc 4:1-13; 1Pe 1:6-9

ESBOÇO

Na semana passada, estudamos vários tipos de crisóis. A lição desta semana concentra-se mais nos crisóis de maturidade. Embora seja verdade que muitos de nossos problemas são criados por nós, Deus é, em última instância, o Soberano de todo o Universo e da história das nações, bem como de nossa vida individual. Ele quer que cresçamos como indivíduos, mas também como famílias, comunidades e nações. No contexto da queda, o crescimento assume dimensões adicionais.

Deus nos salva por Sua graça. Sim, Ele nos justifica por meio do sacrifício substitutivo de Jesus Cristo e pela nossa aceitação desse sacrifício pela fé. Mas a graça de Deus não é uma solução barata, que fica no nível declarativo. Sua graça é educativa e transformadora. Vida e salvação não são experiências teóricas. Crescemos somente quando experimentamos de fato o amor incondicional de Deus por nós e quando nos comprometemos a amá-Lo sem reservas, a viver com Ele e permitir que Ele viva em nós. E, como nós e Deus estamos envolvidos em um conflito cósmico, crescemos quando nos comprometemos a tomar Seu lado e a promover Seu reino em resposta ao nosso resgate do reino do pecado e de Satanás. Assim, Deus Se torna o Senhor dos Exércitos, Aquele que nos conduz nessa experiência e que nos leva ao crescimento e à transformação.

Temas da lição
A lição desta semana destaca dois temas:

  1. Deus nos conduz nas lutas deste mundo decaído. Além de nos consolar, isso também nos dá força e confiança no Senhor.
  2. Somente quando Deus nos guia nas batalhas da vida, crescemos e somos transformados."

COMENTÁRIO

“Não nos conduzas à tentação; mas livra-nos do mal” (Mt 6:13, ACF).
Entre maio e junho de 2019, o papa Francisco gerou polêmica ao endossar uma mudança no Pai Nosso. Em vez de “não nos conduzas à tentação”, a nova versão católica da Oração do Senhor seria “não nos deixes cair em tentação”. O principal argumento do papa foi que a tradução “não nos conduzas à tentação” está errada do ponto de vista teológico e pastoral, pois a frase identifica Deus como o tentador em lugar de Satanás. Um pai, afirmou o papa, não levaria seu filho à tentação, mas sim o ajudaria a se levantar quando caísse."

Podemos muito bem nos identificarmos com essa tentativa de isentar Deus da condição de tentador. Mas mudar o texto do Pai Nosso não se justifica. Muitas outras frases bíblicas, como essa, apresentam dificuldades. Os princípios da hermenêutica bíblica e da história da teologia nos ensinam que devemos tentar entender o texto e sua mensagem, em vez de mudar o texto bíblico ou sua tradução para ajudar a resolver seus mistérios de uma forma que certa cultura ou pessoa julgue ser mais apropriado.

Um breve estudo de Mateus 6:13 e seus conceitos-chave, tanto no contexto bíblico imediato quanto no contexto mais amplo, nos ajudará a entender melhor essa frase. No grego do NT, tanto Mateus 6:13 quanto Lucas 11:4 usam exatamente as mesmas palavras para traduzir a frase “não nos conduzas à tentação” (ACF). Assim, a frase é traduzi- da corretamente na maioria das versões. Em vez de tentar reorganizar ou reinterpretar esse verso, precisamos entender seu significado. Em grego, o verbo-chave “conduzir” é a forma subjuntiva aoristo ativa do verbo eispheró, que significa “transportar para dentro”, “trazer para dentro”, “introduzir” (ver, por exemplo, Henry George Lindell e Robert Scott, A Greek-English Lexicon [Oxford: Clarendon, 1996], p. 497). Portanto, não há nenhum erro aqui, nenhuma forma de reinterpretação: Jesus quis dizer “Não nos conduza”, não “Não nos deixes cair”. Em Mateus 26:41 (ver também Mc 14:38; Lc 22:40, 46), Jesus descreveu a tentação como algo em que alguém pode “entrar” (ARA) ou “cair” (NAA).

"Aqueles que argumentam em favor da mudança do texto dessa frase na Oração do Senhor focalizam a palavra tentação, concluindo que Deus não pode nos tentar, pois Ele não pode ser a fonte da tentação. Mas a palavra grega para “tentação” (peirasmos) tem dois significados distintos. O primeiro é “tentação” e está relacionado à sedução ou indução ao pecado (ver, por exemplo, Mt 26:41; 1Tm 6:9). Nesse sentido, é verdade que Deus não está, e não pode estar, nos levando à tentação, porque Ele não é o tentador, como Tiago 1:13, 14 afirma claramente. O segundo significado de tentação é “experimento”, “prova”, “provação” ou “teste”. Em Gálatas 4:14, a doença de Paulo foi uma provação para os gála- tas, e em 1 Pedro 4:12, Pedro admoestou os cristãos a não se surpreenderem com provações ou sofrimentos que se abatessem sobre eles.

Talvez Tiago dê a explicação mais explícita do processo da tentação, especialmente porque usa os dois significados da tentação juntos na mesma passagem. Ele afirma que os cristãos enfrentam as provações com alegria e perseverança (Tg 1:2, 12) e não devem dizer que Deus os tenta, pois Deus não tenta ninguém (Tg 1:13). Em vez disso, a pessoa se afasta de Deus quando seduzida ou tentada por seu próprio desejo (Tg 1:14). Assim, no NT, tentação significa tanto sedução para o pecado quanto provação.

Esse breve estudo nos ajuda a entender melhor a frase “não nos conduzas à tentação”. Embora Deus não seja o tentador, Ele nos conduz nas lutas que nos sobrevêm. Sua lide- rança nessas provações nos ajuda a exercer nossa liberdade, a crescer no amor e no compromisso com Ele e em nossa compreensão Dele e de nós mesmos no contexto da história do grande conflito. Somente quando experimentamos as provações, podemos também experimentar a liberdade e o crescimento. Deus nos criou para viver e prosperar em um mundo perfeitamente feliz. Mas Ele também criou a árvore do conhecimento do bem e do mal para que tivéssemos a oportunidade de escolher. O Criador não criou a árvore do conhecimento do bem e do mal para induzir a humanidade a pecar. Em vez disso, deu a Adão e Eva a oportunidade de expressar sua liberdade e crescer em seu amor e lealdade a Ele obedecendo aos Seus mandamentos. Deus conduziu os israelitas a um beco sem saída no Mar Vermelho, não para atraí-los ao pecado, mas para ajudá-los a crescer em sua confiança e amor por Ele na disciplina espiritual individual e coletiva.

Mas, se as adversidades da vida, no contexto do grande conflito, apenas nos ajudam a crescer, por que Jesus nos ensina a pedir a Deus que não nos conduza por essas provações? Essa parte da Oração do Senhor nos ensina pelo menos dois aspectos importantes da vida cristã. Em primeiro lugar, seja qual for o benefício do sofrimento, não é uma experiência agradável, pois Deus não nos criou para sofrer. O próprio Jesus, que veio para tomar sobre Si nosso sofrimento e nossa morte, orou na hora da Sua maior angústia: “Aba, Pai, tudo Te é possível; passa de Mim este cálice! Porém não seja o que Eu quero, e sim o que Tu queres” (Mc 14:36; ver também Mt 26:39; Lc 22:42). Ao incluir “não nos conduzas à tentação” na Oração do Senhor, Jesus nos ensinou a nos sentirmos livres para dizer ao nosso Pai quanto queremos evitar as provações da vida, ainda que elas possam, às vezes, ser benéficas. No entanto, Ele nos ensinou pelo exemplo que devemos sempre nos render amorosamente à vontade e à liderança de Deus, porque Ele sabe o que é melhor para nós e para o plano da salvação.

Em segundo lugar, “não nos conduzas à tentação” está imediatamente associado a “mas livra-nos do mal”. Visto que o sofrimento é inevitável neste mundo contaminado pelo pecado, queremos que Deus nos conduza em todas as nossas provações, mas não desejamos ser vencidos pela tentação de Satanás. Aqui, a oração do Pai Nosso proclama a própria essência do evangelho da graça, porque nos ensina que, como cristãos, não somos salvos como super-humanos que lutam as batalhas da vida e contra o próprio diabo. Em vez disso, é Deus quem nos livra do maligno. Mas como somos libertos de Satanás? Mateus 4:1 nos diz que “Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo”. Claro, entendemos que o Espírito Santo não levou Jesus ao deserto para fazê-lo pecar, mas para revelar Jesus como o Messias, como o Salvador do mundo, como Aquele que venceu onde Adão falhou e como Aquele que venceu o mal e derrotou Satanás (veja Mt 4:1-11; 12:28; Mc 1:13; Jo 12:31; 14:30; Hb 2:14-18; 1Jo 3:8). Ao enfrentar as provações e as tentações do diabo, o cristão é libertado pela vitória de Cristo sobre o pecado e Satanás. Portanto, embora o sofrimento e as provações não sejam agradáveis nem desejáveis, devemos passar por eles para nosso próprio benefício. Oramos para que Deus nos conduza, cobertos pela vitória de Cristo sobre Satanás.

Assim, a proposta de mudar as palavras da oração do Pai Nosso não é apenas injustificável e antibíblica, mas também superficial, fazendo com que o conteúdo teológico e pastoral fique empobrecido. Essa revisão também é perigosa por outro motivo: ela abre mais um precedente de mudança da Palavra de Deus por causa do impulso humano e cultural. Mudar o texto em questão na Oração do Senhor envolveria a mudança de muitos outros textos e conceitos bíblicos. É imperativo deixar o texto como está e buscar entendê-lo, em vez de mudá-lo simplesmente porque não se encaixa em uma teologia ou preocupação prática particular.

Nova canção de Handel

Na terceira década do século 18, George Frederic Handel (1685-1759) era um compositor talentoso, tendo escrito vários gêneros musicais. Como escreveu principalmente músicas não religiosas, muitos na Igreja da Inglaterra o viam como um compositor secular, o que gerou tensões com a igreja. No entanto, Handel sempre teve sede de Deus. Em abril de 1737, ele sofreu um derrame ou alguma outra doença psicológica. Embora tenha se recuperado, logo caiu em uma crise financeira, relacional e espiritual. Em conflito com a igreja, com mui- tos na corte e com outros músicos, Handel pensou que fosse desmoronar. Em 8 de abril de 1741, deu o que julgou ser seu último concerto e, aos 56 anos, aposentou-se da vida pública. Mas Handel estava procurando uma nova música! E logo a encontrou. Um amigo, Charles Jennings, compartilhou com ele um livreto que focalizava a vida de Cristo, contendo três partes: (1) profecias sobre a vinda do Messias; (2) a primeira vinda do Messias e Suas paixões; e (3) a glória futura de Sua segunda vinda, o fim do pecado e a aclamação eterna do Messias. Handel redescobriu a figura de Jesus e decidiu dedicar a Ele um oratório. Um convite de Dublin para que Handel compusesse algo para um concerto beneficen- te serviu de catalisador e, assim, nasceu O Messias, o maior oratório de todos os tempos. Handel estava tão absorto na redação de seu novo trabalho que escreveu as três partes com cerca de 260 páginas em 24 dias! Durante esses dias, não saiu de seu apartamento e mal tocava na comida que preparavam para ele. Às vezes, durante a composição, chorava com os textos bíblicos que incluía ou com a glória que via em Jesus. Quando a “nova música”, O Messias, foi apresentada no concerto beneficente em Dublin, arrecadou 400 libras, o que resultou na libertação de 142 homens presos por dívidas. Mas também libertou Handel do crisol espiritual e tem abençoado milhares de pessoas em todo o mundo desde então. Handel morreu na manhã da sexta-feira Santa, 14 de abril de 1759, apenas oito dias depois de ter regido sua obra-prima, O Messias, pela última vez. Foi sepultado na Abadia de Westminster. O monumento na abadia em sua homenagem representa-o segurando o manuscrito do oratório O Messias, parte III, no lugar em que se lê: “Eu sei que meu Redentor vive”.

Uma fonte de inspiração para essa história incrível pode ser encontrada em Spiritual Lives of the Great Composers de Patrick Kavanaugh, revista e expandida (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1996), p. 3-7. Talvez, não fosse a profunda crise por que passou Handel, o mundo jamais teria desfrutado do maior oratório já conhecido. Foi a humildade de Handel diante de Deus, sua busca pela salvação em meio à angústia e seu espírito implacável para avançar na adversidade que o ajudaram a se levantar novamente e cantar uma nova canção.

APLICAÇÃO PARA A VIDA

  1. João Batista foi chamado para anunciar o advento do Messias e Sua missão. No entanto, foi levado a um crisol. João surge como uma figura vitoriosa, apesar da morte, dando um exemplo para todos nós. O que João deve ter sentido em meio ao seu sofrimento, considerando que Jesus não impediu a sua aflição?
  2. Você já teve experiências para as quais não havia saída? Como a fé nos ajuda a enfrentar este tipo de situação?

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Música em meu coração

Gabriela | Bolívia

Alguns cantores famosos se apaixonaram por música na infância, mas este não foi o caso de Gabriela. Ela cresceu em La Paz, Bolívia, com uma paixão por Jesus.

Desde bebê, sua mãe a ensinou sobre o amor de Jesus. Ela cresceu sabendo que os Dez Mandamentos, incluindo o quarto mandamento sobre o sábado do sétimo dia, refletiam Seu caráter de amor. Ela entendia o significado do dízimo e das ofertas.

"Quando tinha nove anos, ela entregou seu coração a Jesus no batismo. Mas com o passar dos anos, ela começou a conhecer as tentações do mundo, e a porta para essas tentações era a música.

Gabriela gostava de cantar para se divertir nas férias escolares. Então, ela foi convidada para se juntar a um grupo musical e aceitou de bom grado, pensando que poderia começar uma carreira musical e se tornar famosa. Aos 19 anos, ela tinha certeza de que cantar era sua vida.

Enquanto estudava em uma universidade, Gabriela cantou com vários grupos musicais. Às vezes, ela se perguntava se não estaria cometendo um erro, como na vez em que se envolveu em um terrível acidente de trânsito e foi a única pessoa ferida. Ela terminou seus estudos de graduação em psicologia.
Então, ela e vários amigos criaram um novo grupo musical que obteve sucesso instantâneo. O grupo se apresentou em inúmeros eventos, e Gabriela gostava de ir a festas e gastar dinheiro com itens luxuosos.

Ela gostava de cantar e de gastar dinheiro. Mas, quando não estava cantando ou gastando dinheiro, ela se sentia vazia por dentro. A vida
parecia não ter sentido."

Gabriela não parou de frequentar a Igreja Adventista completamente. Ela era cristã em algumas manhãs de sábado, mas voltava para sua outra vida após os cultos de adoração.

Em um sábado de manhã, ela ouviu a música especial na igreja e sentiu um desejo em seu coração de cantar para Deus.

"Eu gostaria de cantar na igreja", pensou ela. "Minha mãe ficaria muito orgulhosa de sua filha cantando na igreja."

Logo Gabriela estava frequentando a igreja regularmente, não apenas no culto matinal, mas também no programa vespertino. Ela começou a ouvir cantores adventistas e percebeu que queria deixar a música do mundo, mas lutou contra o desejo de se tornar famosa. Ela orou a Deus pedindo ajuda.

Então, a pandemia de COVID-19 fechou tudo. Gabriela não podia mais se apresentar no palco. Em vez de desespero, ela sentiu uma enorme sensação de alívio. Agora seria mais fácil cortar todos os laços com a parte vazia e sem sentido de sua vida.

Ela se tornou amiga do pastor da igreja, e ele a convidou para fazer estudos bíblicos. Ela aceitou alegremente. Quando terminou, decidiu de- dicar seu coração novamente a Deus por meio do rebatismo. Ela sentiu que Deus estava lhe dando uma nova oportunidade de viver para Ele. Gabriela entrou nas águas batismais com menos de um ano de pandemia. Em uma oração em seu batismo, ela declarou que tudo o que ela tinha pertencia a Deus: “Eu dou minha vida, dons e talentos a Seu serviço”. Após seu rebatismo, ela trocou o palco pelo Zoom, onde cantou para glória e honra de Deus. A pedido dos líderes da igreja, ela também começou a conduzir seminários on-line de psicologia e estudos bíblicos. Por influência dela, quatro pessoas foram batizadas durante a pandemia.

Gabriela tem uma mensagem especial para os jovens que podem, como ela, ser tentados a se desviar do caminho que leva a Cristo. “Não perca seu tempo no mundo”, diz ela. “Cada pessoa tem dons e talentos, e você precisa encontrá-los e usá-los para a glória de Deus.”

Parte da oferta do décimo terceiro sábado deste trimestre ajudará a 49 abrir uma nova igreja em La Paz, cidade natal de Gabriela, na Bolívia. Obrigado por planejar uma oferta generosa para o dia 24 de setembro.

Dicas para a história

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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º trimestre de 2022

Tema geral: Provados pelo fogo

Lição 3 – 9 a 16 de julho de 2022

A gaiola

 

Autor: Célio Barcellos

Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

 

Em um dos trechos do poema “Meus Oito Anos”, Casimiro de Abreu escreveu: 

“Oh! Que saudades que tenho da aurora da minha vida Da minha infância querida Que os anos não trazem mais!”. 

Certamente, cada um de nós experimenta momentos de nostalgia que nos aprisionam a um passado que nunca voltará. Particularmente, em meus muitos divãs me vejo como um poeta brasileiro que, longe da sua terra, descreve em versos sentimentos do lugar.

Neste exato momento, me veio à memória uma situação triste e ao mesmo tempo feliz. Triste por se tratar da prisão de um pássaro. Quando eu tinha por volta de 10 anos de idade, ganhei uma gaiola e o prendi. Era um lindo coleiro. Porém, não suportando vê-lo preso decidi libertá-lo para que, em voo livre, ele saísse a cantar. Logo que ele partiu, fiquei feliz. Por maior cuidado que eu tivesse com aquele pássaro e achasse que o ambiente da gaiola fosse seguro, nada se comparava à liberdade que ele teria fora dela.

Como seres humanos, muitas vezes nos sentimos enjaulados pelas circunstâncias da vida. Ou talvez nós mesmos nos enjaulamos à semelhança dos Croods, personagens de um filme americano que, no intuito de se protegerem das feras e dos perigos, viam na caverna a segurança necessária para a sobrevivência. No entanto, ao mesmo tempo se aprisionavam pelo medo. Até certo ponto, as cavernas e gaiolas que criamos podem ser seguras, mas elas nos impedem de enxergar novos horizontes.

A Bíblia diz: “o inimigo de vocês, o diabo, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (1Pe 5:8). Sim, o diabo é uma fera perigosa que não dá trégua para ninguém. Constantemente, ele ameaça a vida humana com sua ferocidade, empurrando suas vítimas para o abismo do pecado. Entre o abismo e a caverna, o melhor é se esconder, em vez de seguir para o precipício. Nesse caso, a caverna, apesar de ser escura e sem conforto, promove segurança, à semelhança de uma gaiola que, para um pássaro ferido, não se torna algo ruim, mas um momento oportuno para total recuperação. Muitas vezes, escolher andar com Cristo é ter a sensação de estar numa caverna tentando se esconder das feras deste mundo.

Ellen White menciona que o pecado ofuscou a imagem de Deus no homem e que o ser humano, no contexto do Éden, à medida que fosse se multiplicando alargaria as fronteiras da terra para uma vida plena em sociedade (Educação, p. 15). Infelizmente, o pecado danificou as coisas e, em lugar de desfrutar de um ambiente saudável e santo, a humanidade passou a se esconder nas cavernas e antros da Terra. Imagine Adão e Eva, expulsos do Jardim e encarando o desconhecido e os perigos que os rondavam!

Enquanto o pecado mostra o estado do homem, a graça de Deus mostra o que ele pode ser. O homem sem Deus é um prisioneiro fadado às trevas do próprio pecado. Adão e Eva se sentiram presos pela liberdade que tinham. Trocaram um lar seguro pela incerteza do desconhecido. Foram fisgados pela ambição de ser deuses, com a ilusão de conhecer o “bem e o mal” (Gn 3:5), mas terminaram prisioneiros da escuridão. Ai do homem, se não fosse a graça para cobrir sua nudez e livrá-lo da escuridão! (Gn 3:21).

O problema é que os descendentes de Adão continuam na mesma toada de que são deuses, mas se esquecem de que são prisioneiros do pecado. O escritor Yuval Harari, em seu livro Homo Deus: uma breve história do amanhã, p. 30, relata que o propósito dos seres humanos é ser deuses, superando o termo “Homo sapiens” para “Homo deus”. Essa percepção de Harari ao atribuir deidade ao ser humano surge pelo fato de que o próprio homem solucionou muitos problemas graves que impediam a longevidade e a qualidade de vida das pessoas. O intuito é superar a “velhice e a morte”.

Em outras palavras, o homem continua prisioneiro da sua cobiça ao querer se tornar um “deus”. O silvar da serpente propondo ruptura com o Criador continua latente em seus ouvidos. A escritora Nancy Pearccey chama o confronto do ser humano com Deus de “atos seculares de fé”. Para ela, não “importa quanto as pessoas se esforcem para suprimir seu conhecimento de Deus, a própria criação continua desafiando-as” (Nancy Pearcey, A Busca da Verdade, São Paulo: Cultura Cristã, 2018, p.111).

Imagine Adão correndo feito um louco atrás de folhas de figueiras para cobrir sua nudez e a nudez de Eva! Os olhos dele deviam estar esbugalhados de tanto pânico. Para onde ele estendia o olhar, se deparava com as digitais de Deus. Ele era um prisioneiro buscando liberdade. Porém, quanto mais ele corria para se esconder, era como se estivesse engaiolado por sua irresponsabilidade em querer ser “deus”. Como diz o salmista: “Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também” (Sl 139:8).

O mesmo acontece com o ser humano atualmente. Ele é um prisioneiro constante e não percebe. Quando ele se dá conta, está envolto em trevas e angústias de alma por desafiar a Deus e à Sua lei. As consequências dos erros parecem não ser suficientes para frear o homem em suas ambições de divindade. Seja na ficção ou na realidade, o ser humano cria os seus Nautilus (submarino que aparece no livro Vinte Mil Léguas Submarinas, de Júlio Verne) e Sputniks (foguete russo que levou o primeiro homem ao espaço) para as profundidades e alturas da Terra. O problema é que ele continua correndo de olhos esbugalhados à semelhança de Adão à procura de um refúgio. Mas quanto mais corre, mais aprisionado se sente!

Fique com as gaiolas divinas em detrimento das gaiolas e cavernas humanas. Davi sabia da importância disso quando fugia de Saul e, dentro de uma caverna, presenciou o rei numa situação constrangedora, mas ainda assim não tomou nenhuma atitude, pois confiava em Deus e sabia que Ele tinha uma solução para seu sofrimento (1Sm 24:3-8). Davi estava engaiolado pela intensa perseguição de Saul. Ele era apenas um jovem salmista que amava a Deus e honrava o rei. No entanto, era odiado por alguém cheio de inveja e desejos ambiciosos.

Será que escrevo para alguém cheio de dúvidas por vivenciar momentos de aflição? Alguém que esteja se sentindo preso como um pássaro mas que não está percebendo o cuidado de Deus? Se você observar o trajeto do povo de Deus, perceberá que a experiência não é nada tranquila, mas semelhante a uma odisseia cheia de intempéries. Muitos se machucam e prosseguem na caminhada; outros desistem, por não enxergarem o pano de fundo de toda dificuldade; e há os que preferem morrer mas não abandonam o trajeto, por entender que Deus está no controle de todas as coisas.

Se tem algo belo no cristianismo é justamente a sua transparência. Jesus não enganou ninguém. Ele disse que não traria paz, mas espada (Mt 10:34). Quem desejasse segui-Lo, teria de tomar a cruz e negar a si mesmo (Lc 14:27). Os discípulos compreenderam tão bem isso que, mesmo aprisionados nos porões, cantavam e engrandeciam o nome de Deus. Eles estavam engaiolados, mas eram sabedores de que Deus estava com eles e de que as provações não eram nada, quando comparadas com a eternidade.

O cristão atual, à semelhança dos seus irmãos no passado que suportaram a provação, deve olhar para a frente e perseverar na caminhada. Mesmo que a estrada esteja difícil ou que as provações surjam, deixando-os aprisionados, o segredo é seguir adiante com a companhia do Espírito Santo. O povo de Israel atravessou o deserto a duras penas. Muitos ficaram pelo caminho, pois confrontaram a Deus e escolheram a rebeldia. Saíram da gaiola da provação divina e se enjaularam na escravidão e nas algemas do pecado. 

O segredo da vida cristã é a perseverança. O mundo é mau e a qualquer momento estamos sujeitos às suas intempéries. O salmista sabia disso e decidiu expressar seu louvor e adoração a Deus de forma poética. Um dia todas as gaiolas e cavernas de sofrimentos passarão. Os redimidos não olharão para trás e nem comporão textos nostálgicos, pois nunca mais terão saudades, já que a presença do Senhor os suprirá para sempre.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: Célio Barcellos é pastor no distrito de Pirassununga, na Associação Paulista Central. Atualmente cursa jornalismo e possui MBA em Liderança Missional. Contribui com artigos em veículos denominacionais e seculares, além de transcrever palestras e pregações para auxiliar a igreja. É natural de Itaúnas/Conceição da Barra, ES. Casado com Salomé Barcellos, tem dois filhos, Kairos Álef, de 18 anos, ilustrador e estudante de Arquitetura, e Krícis Barcellos, de apenas 10 anos.