A lição da primeira semana abordou o final do Evangelho de João, em que o apóstolo explicou por que escreveu esse evangelho. Nesta semana, voltamos ao início do evangelho, em que João explica a direção na qual ele, inspirado pelo Espírito Santo, pretende conduzir o leitor. Nas primeiras palavras e parágrafos de seus livros, os escritores do Novo Testamento (NT) muitas vezes mencionam os principais assuntos que pretendem abordar. Isso também acontece com João, cujos temas são apresentados como parte de uma grande realidade cósmica que retrata algumas das verdades mais importantes sobre Jesus Cristo – verdades que nos levam a uma época antes mesmo da criação.
Essa apresentação, na abertura do livro, dá ao leitor, já sabendo que Jesus é o Messias, uma vantagem que os personagens do livro não tinham. O leitor pode ver claramente os grandes temas aos quais o evangelista volta constantemente ao contar a história de Jesus. Esses grandes temas estão inseridos dentro do período histórico da vida terrestre de Jesus Cristo.
A lição desta semana começará com os primeiros 18 versos de João 1 (conhecidos como o prólogo de João) e resumirá seus temas principais, os quais também serão examinados em outras partes do Evangelho de João.
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1. O que João revela sobre a Palavra (ou o Verbo), Jesus Cristo? Jo 1:1-5
O Evangelho de João começa com este pensamento extraordinário: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus” (Jo 1:1, NVI). Essa bela frase contém uma profundidade de pensamento que mal conseguimos compreender.
Primeiro, o evangelista remete à história da criação (Gn 1:1): “No princípio”. A Palavra existia antes do início do Universo. João mostra a existência eterna de Jesus.
Ele acrescenta: “e a Palavra estava com Deus”. Em João 1:18, o evangelista indica que a Palavra está “junto do Pai”. Não importa o quanto tentemos imaginar o que isso significa, uma coisa é certa: Jesus e o Pai estão intimamente próximos.
Então, o escritor diz: “e a Palavra era Deus”. Mas como pode a Palavra estar com Deus e, ao mesmo tempo, ser Deus? A resposta é encontrada no texto original grego. A língua grega possui artigo definido (o, a, etc.), mas não artigo indefinido (um, uma, etc.). Em nosso estudo, é importante observar que o artigo definido grego indica algo específico, uma pessoa ou um objeto em particular.
O texto original grego diz, literalmente: “a Palavra estava com o Deus” (grifo nosso). Como o termo “Deus” tem artigo definido, ele aponta para uma pessoa específica: Deus, o Pai. Isto é, a Palavra estava com o Pai. Por outro lado, na frase “e a Palavra era Deus”, o termo Deus não contém o artigo definido – o que, nesse contexto, aponta para as características divinas. Em resumo, Jesus é Deus – não o Pai, mas o divino Filho de Deus, a segunda Pessoa da Divindade.
O apóstolo reforça essa ideia, pois João 1:3 e 4 diz que Jesus é o Criador de todas as coisas. Tudo o que antes não existia, mas que passou a existir, só teve início por meio de Jesus, o Deus criador.
“Desde os dias da eternidade, [...] Cristo era um com o Pai. Era ‘a imagem de Deus’ (v. 4), a imagem de Sua grandeza e majestade, ‘o resplendor da glória’ divina” (Hb 1:3; Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2021], p. 9).
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2. O que foi criado por Jesus, que é Deus, e por que essa é a verdade mais importante que podemos conhecer? Jo 1:1-3, 14
João não começa seu evangelho com o nome “Jesus” ou apresentando Seu papel como Messias/Cristo, mas com o termo grego Logos (traduzido como “Palavra” ou “Verbo”). Na época em que João escreveu, várias correntes filosóficas usavam o termo logos para se referir à estrutura racional do Universo ou à própria ideia de lógica e razão.
Os ensinos de Platão, filósofo grego, dividiam a realidade em dois domínios: o domínio celestial e imutável, onde existe perfeição, e o domínio visível, perecível, mutável, uma representação imperfeita do domínio perfeito, onde quer que existisse (Platão jamais respondeu onde ele estaria). Algumas filosofias identificavam o logos como um intermediário abstrato entre as formas eternas e as formas perecíveis.
João usa o termo Logos de maneira completamente diferente. Ele defende que a verdade, o Logos, não é um conceito etéreo e abstrato que flutua entre o Céu e a Terra. O Logos é uma Pessoa: Jesus Cristo, que Se fez carne e habitou entre nós (Jo 1:14).
Para João, o Logos é a Palavra de Deus, o qual Se comunicou, isto é, Se revelou à humanidade da forma mais profunda possível: Deus Se tornou um de nós.
No Evangelho de João, o Logos representa o Deus eterno, que entra no tempo e no espaço, que fala, age e Se relaciona com os seres humanos em nível pessoal. O Deus eterno Se tornou um ser humano, um de nós.
O apóstolo indica que o Logos “Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1:14). A palavra grega traduzida como “habitou” significa “armou uma tenda”. João está se referindo a Êxodo 25:8, quando Deus disse aos israelitas que fizessem um santuário, uma construção em formato de tenda, para que pudesse habitar no meio do povo. Da mesma forma, na encarnação, Jesus, o Filho de Deus, assumiu a carne humana, ocultando Sua glória para que as pessoas pudessem entrar em contato com Ele.
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3. Leia João 1:9-13. Que dura realidade João retrata sobre como as pessoas respondem a Jesus?
O prólogo do evangelho (Jo 1:1-18) descreve não apenas quem é Jesus, a Palavra (Logos), mas também como as pessoas se relacionam com Ele. Em João 1:9, Cristo é chamado de a “verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina toda a humanidade” (grifos nossos). Essa luz ilumina o mundo, tornando-o compreensível. Como diz C. S. Lewis: “Creio no cristianismo assim como creio que o Sol nasceu, não apenas porque o vejo, mas porque por meio dele eu vejo tudo mais” (O Peso da Glória [Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017], p. 138).
Observe as implicações do texto de João 1:9. A luz chega a todos, mas nem todos a acolhem. Como veremos no estudo de amanhã, um tema de João é a maneira como as pessoas recebem ou rejeitam a Cristo. Esse tema começa aqui. É triste que Jesus veio para o Seu povo de Israel e muitos não O receberam como o Messias.
Em Romanos 9 a 11, Paulo trata do mesmo tema trágico, o fato de muitos judeus terem rejeitado Jesus. Mas Paulo não termina com uma nota negativa; ele diz que, de fato, muitos judeus, juntamente com gentios, aceitarão Jesus como o seu Messias. O apóstolo adverte os gentios para que não se gloriem contra os judeus: “Pois, se você foi cortado daquela que, por natureza, era uma oliveira brava e, contra a natureza, foi enxertado numa oliveira boa, quanto mais esses, que são ramos naturais, serão enxertados na sua própria oliveira!” (Rm 11:24).
Seguindo a mesma ideia, João diz que todos os que receberem Jesus como Salvador se tornarão filhos de Deus. Isso acontece quando cremos em Seu nome (Jo 1:12, 13).
Aqui está a ligação entre o prólogo e a conclusão do evangelho. Em João 20:31, o apóstolo explica por que escreveu seu livro. Assim, a introdução e a conclusão do evangelho formam uma espécie de unidade, apresentando conceitos relacionados que abrangem tudo o que está entre ambas. Essa ligação aponta para o objetivo central do Evangelho de João: que as pessoas sejam salvas crendo em Jesus como o Salvador.
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4. Leia João 3:16-21; 9:35-41; 12:36-46. Como esses textos repetem o tema da fé/incredulidade encontrado no prólogo?
No Evangelho de João, a humanidade está dividida em dois grandes grupos: os que creem em Jesus e O aceitam como o Messias e os que, tendo a oportunidade de crer, escolhem não fazê-lo.
Os discípulos estão no primeiro grupo, além de pessoas como Nicodemos (que passam a crer lentamente), a samaritana e o cego de nascença. No segundo grupo estão fariseus e sumos sacerdotes, pessoas que presenciaram a multiplicação de pães e peixes e até um dos discípulos, Judas.
É interessante observar que o substantivo “fé/crença” (em grego, pistis) nunca ocorre no Evangelho de João. No entanto, o verbo “crer” (pisteu?) aparece 98 vezes, em comparação com o total de 241 vezes em todo o NT! Esse verbo é um tema muito importante em João. O fato de que o evangelho usa apenas o verbo (em vez do substantivo) parece indicar um aspecto bastante ativo de se tornar cristão. Ser alguém que crê em Jesus é algo que fazemos, e isso se expressa na maneira de viver, não apenas em um conjunto de crenças. O diabo também crê em Jesus (Tg 2:19).
Em João, a principal diferença entre os dois grupos é a forma como se relacionam com Jesus. Os crentes, ou os que passam a crer, têm uma abertura para com Jesus, mesmo quando Ele os confronta ou repreende. Eles vão a Cristo e não fogem. Jesus é a luz que brilha sobre eles. Pela fé, crendo, tornam-se filhos de Deus.
Os incrédulos, por outro lado, normalmente vão até Jesus para afrontá-Lo. Eles são caracterizados por aqueles que amam as trevas e não a luz. Acham difícil aceitar as palavras de Jesus ou O veem quebrando antigas tradições, em vez de atender às expectativas humanas. Eles O julgam, em vez de permitir que a Sua luz os avalie e julgue. Essa atitude, é claro, é vista inúmeras vezes nos líderes religiosos, que, como guias espirituais da nação, deveriam ter sido os primeiros a aceitar Jesus.
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5. Leia João 17:1-5. O que Jesus quis dizer quando orou: “Pai, é chegada a hora. Glorifica o Teu Filho, para que o Filho glorifique a Ti” (Jo 17:1)?
O estudo de ontem analisou o enredo terrestre e humano do Evangelho de João, incluindo os conflitos e diálogos entre as pessoas, sempre girando em torno de quem Jesus é e do que Ele está fazendo. O estudo de hoje concentra-se no enredo divino e cósmico, também encontrado em João.
O prólogo do evangelho começa com a história cósmica. Jesus é apresentado como o divino Filho de Deus, o Criador do Universo. Tudo o que antes não existia, mas passou a existir, só teve início por meio de Jesus (Jo 1:3). Mas o texto prossegue observando a glória que há no fato de Cristo Se tornar um ser humano na encarnação (Jo 1:14). João usa as palavras “glória” (em grego, doxa, “brilho”, “esplendor”, “fama”, “honra”) e “glorificar” (em grego, doxaz?, “louvar”, “honrar”, “exaltar”, “glorificar”) para se referir a receber honra dos seres humanos e para receber honra ou glória de Deus.
Em João, a ideia de glorificar Jesus está ligada ao conceito da Sua hora; isto é, o momento de Sua morte (compare com Jo 2:4; 7:30; 8:20; 12:23-27; 13:1; 16:32; 17:1). A cruz é a hora da glória de Cristo.
Essa ideia é bastante paradoxal, porque a crucifixão era a forma de execução mais vergonhosa e humilhante no antigo mundo romano. Esse incrível contraste, Deus na cruz, ilustra o entrelaçamento do enredo da história humana com a história divina.
No nível humano, Jesus morreu em agonia, como um criminoso desprezado e fraco, clamando: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” Esse lado humano e obscuro da cruz é apresentado em Mateus e Marcos (Mt 27:46; Mc 15:34).
O lado glorioso da cruz, no entanto, é destacado em Lucas e João (Lc 23:32-47; Jo 19:25-30). É um lugar de salvação e misericórdia, onde o Filho Se entrega ao Pai.
É bastante irônico: a suprema glória de Deus é revelada em Sua maior vergonha – carregando sobre Si mesmo os pecados do mundo.
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Lei, de Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2021], p. 9-15 (“Deus conosco”).
“O Senhor Jesus Cristo, o divino Filho de Deus, existiu desde a eternidade como Pessoa distinta, mas um com o Pai. [...] Há luz e glória na verdade de que Cristo era um com o Pai antes de terem sido lançados os fundamentos do mundo. [...] Essa verdade, infinitamente misteriosa em si, explica outros mistérios e verdades de outro modo inexplicáveis, ao mesmo tempo que se reveste de luz inacessível e incompreensível” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas [CPB, 2022], v. 1, p. 210).
“Cristo deve ser revelado ao pecador como o Salvador que morreu pelos pecados do mundo. Ao contemplarmos o Cordeiro de Deus na cruz do Calvário, o mistério da redenção começa a ser revelado em nossa mente, e a bondade de Deus nos leva ao arrependimento. Cristo manifestou um amor que está além da nossa compreensão. [...]
“É verdade que as pessoas às vezes se envergonham dos seus pecados e abandonam alguns dos seus maus hábitos antes mesmo de perceberem que estão sendo atraídas para Cristo. Quando, porém, elas se esforçam para mudar, como resultado de um desejo sincero de fazer o que é certo, é o poder de Cristo que as está atraindo. Uma influência que elas desconhecem atua sobre sua mente. A consciência é despertada, e seu procedimento é aperfeiçoado. Quando Cristo as atrai, levando-as a olhar para Sua cruz e contemplar Aquele a quem seus pecados transpassaram, o mandamento entra na consciência” (Ellen G. White, Caminho a Cristo [CPB, 2003], p. 26, 27).
Perguntas para consideração
1. Por que João começa falando sobre Jesus em Seu papel como criador? O que isso nos diz sobre a importância da criação em toda a teologia? Por que é importante que tenhamos uma compreensão correta desse tema, conforme revelado nas Escrituras?
2. O que aconteceria se um ser criado tivesse morrido na cruz, e não o Deus eterno? O que deixaríamos de receber se Jesus não fosse Deus?
Respostas às perguntas da semana: 1. Jesus, a Palavra, é Deus, sempre esteve com o Pai e criou todas as coisas. Ele é a vida e a luz dos seres humanos. 2. Tudo o que existe. Jesus é o Logos, o meio de comunicação supremo de Deus com as criaturas. 3. Jesus criou o mundo e ilumina todas as pessoas, mas nem todas O aceitam. 4. A humanidade está dividida em dois grupos: os que creem e amam a luz, e os que mantêm a incredulidade e amam as trevas. 5. A hora de Jesus, o momento em que Ele é glorificado, é a cruz, a revelação suprema de Deus.
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FOCO DO ESTUDO: João 1:9-13, 14, 18; 17:1-5
ESBOÇO
Introdução: Mais do que em qualquer outro lugar nas Escrituras, o Evangelho de João proclama com ousadia, de forma precisa e poderosa, a verdade de que Jesus é Deus. Como Deus eterno, Jesus precede a criação e a própria eternidade. O discípulo amado aborda o tema da divindade de Jesus com tanta profundidade com o propósito de iluminar a verdade cósmica de que o Verbo Se fez carne.
Assim como Moisés inicia o AT asseverando a verdade da criação, João faz a mesma declaração no NT. Assim, o tema da criação e do seu Criador, o Verbo, que é Deus, une tanto o AT quanto o NT. Ao ancorar o seu evangelho na criação desde o início, João oferece uma âncora teológica para todas as outras discussões que se seguirão.
Para João, o tema de Jesus como Criador era vital, porque Satanás, o grande enganador, odiava a verdade da divindade de Cristo e da Sua igualdade com Deus. Perto do fim do primeiro século, heresias obscuras se infiltraram sutilmente na igreja. Os hereges gnósticos questionaram a realidade da divindade de Jesus, espalhando dúvidas sobre Sua encarnação. Esse perigoso fenômeno ocorreu aproximadamente três décadas após a escrita dos evangelhos sinóticos. Consequentemente, trouxe desânimo entre os crentes e baixou seu moral espiritual.
Os primeiros 18 versículos do Evangelho de João constituem um prólogo ao restante do evangelho. Eles apresentam uma declaração teológica inabalável, concisa e compacta sobre a divindade de Cristo. Cristo, o Verbo, é Deus e sempre existiu. Ele é o Criador, a vida e o Doador da luz; ainda assim, Ele Se tornou um ser humano nascido de Deus e demonstrou Seu amor, Sua graça e Sua glória perante Sua criação.
COMENTÁRIO
O Logos (Verbo) divino em João 1:1 é usado para representar a vontade expressiva e o poder criativo de Deus. Tanto por meio da criação quanto da revelação, Deus expressou claramente Seu caráter e Seus atos, conforme vistos nas Escrituras. E agora, Deus Se revela através do corpo encarnado de Seu Filho. Nenhuma dúvida deve permanecer em nossa mente a respeito do amor de Deus por nós porque Ele Se manifestou em Jesus.
Você se lembra da resposta do Senhor quando Filipe pediu que Ele revelasse o Pai? Jesus disse: “Há tanto tempo estou com vocês, Filipe, e você ainda não Me conhece? Quem vê a Mim vê o Pai. Como é que você diz: ‘Mostre-nos o Pai’?” (Jo 14:9).
“Habitando conosco, Jesus revelaria Deus tanto aos seres humanos quanto aos anjos. Ele era a Palavra de Deus – o pensamento divino tornado audível” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2021], p. 9). João nos diz que essa expressão do caráter de Deus existiu desde o princípio. O que João quis dizer com as palavras “No princípio”? O texto grego não contém o artigo definido “no”, suprido pela versão Nova Almeida Atualizada e outras traduções, que tornam o significado da palavra “princípio” mais específico. A ausência do artigo definido no grego não sugere um tempo definido, como tal, que possa ser determinado ou calculado, mas um tempo indefinível que vai além de qualquer começo. Em outras palavras, o Verbo, Jesus, sempre esteve lá, pré-existente, antes de haver qualquer criação.
E o Verbo Se fez carne (Jo 1:14, 18)
Compreendemos logos como sendo a verdade, a existência ideal, o pensamento perfeito e a expressão. No pensamento grego, logos era uma noção etérea, pairando sobre a humanidade sem habitar nela. Cristo, o Verbo, não era um conceito filosófico vago, mas uma realidade real e tangível que podia ser vista e tocada. Ele era realmente singular, único, o divino Filho de Deus.
Quando Cristo Se tornou carne à nossa semelhança (não à nossa exata igualdade), Sua humanidade ocultou Sua divindade; ainda assim, Ele permaneceu totalmente Deus. Na verdade, Ele Se tornou semelhante a nós com a finalidade de manifestar compaixão a nós; mas Ele permaneceu diferente do que somos para nos salvar. Que ato incrível de condescendência divina da parte de Deus, ao Se humilhar e Se tornar humano! Não conseguimos compreender plenamente esse mistério do amor divino, mas devemos apreciá-lo e abraçá-lo de coração. Em muitas religiões mundiais, o homem tenta inutilmente experimentar a ascensão aos chamados “deuses”, mas, no cristianismo, Deus desce ao nosso nível para nos encontrar onde estamos.
Em João 1:14, o adjetivo preciso e único que descreve Jesus é a palavra grega monogenous, que se traduz como “unigênito”, que significa literalmente único. Essa singularidade é tão importante e tão indispensável que a nossa salvação depende dela. Pois, sem ela, estaríamos para sempre condenados à morte em nossos pecados, em vez de sermos redimidos pela justiça e pela vida do Filho unigênito de Deus.
A palavra “unigênito” (Jo 1:14, 18) tem sido mal aplicada ao longo da história do cristianismo de maneiras que a Bíblia nunca pretendeu. Por exemplo, já foi sugerido que em algum tempo indefinido e distante, antes de qualquer coisa ter sido criada, o Filho foi gerado ou criado pelo Pai eterno. No entanto, essa é uma ideia falaciosa. Cristo foi verdadeiramente o originador e o Criador de todas as coisas, não um ser criado. João afirma sem qualquer hesitação que Cristo era Deus, e Ele era um com Deus, desde a eternidade: “Todas as coisas foram feitas por Ele, e, sem Ele, nada do que foi feito se fez” (Jo 1:3).
Certamente, a compreensão do mistério da encarnação é desafiadora, pois o Deus infinito Se empenhou em alcançar nossa mente finita para proporcionar nossa salvação. E, para realizar essa salvação, Deus chegou ao extremo de sacrificar Seu Filho unigênito. Esse ato foi verdadeiramente radical. Cristo Se humilhou de forma voluntária, tornou-Se humano e morreu pela humanidade pecadora. Ele voluntariamente alterou Sua natureza eterna a fim de preservar nossa humanidade para sempre. Em vez de permanecer exclusivamente divino, Ele agora é completamente divino e totalmente humano. Que demonstração tangível de amor abnegado para todo o Universo contemplar!
O Filho de Deus encarnado “habitou” entre nós (Jo 1:14). “Habitou” é a tradução da palavra grega skenoo, que significa literalmente que Ele “tabernaculou” [ou acampou] conosco. Essa noção remonta a Êxodo 25:8, em que Deus disse a Moisés: “E farão para Mim um santuário, para que Eu possa habitar no meio deles”. A ideia de que Deus deseja estar conosco continuamente é um dos temas principais de toda a Bíblia. Ele não quer ser um residente temporário, mas permanente. É por isso que o nome celestial do Deus encarnado é “Emanuel”, Deus conosco.
O que há de tão fascinante nessa realidade é a honra que Deus nos concede ao habitar entre nós. Um sinal tangível de que alguém deseja estar conosco é que essa pessoa nos ama. O amor ágape sempre busca a união. Por isso, fez muito sentido quando Jesus prometeu aos Seus discípulos: “E, quando Eu for e preparar um lugar, voltarei e os receberei para Mim mesmo, para que, onde Eu estou, vocês estejam também” (Jo 14:3). Essa bela realidade deve nos encher de santa alegria e confiança para experimentarmos a Sua presença aqui, a fim de que possamos habitar para sempre com Ele em perfeição.
Ouvir ou não ouvir o Verbo (Jo 1:9-13)
Nosso subtítulo aqui também pode ser reformulado para “ver ou não ver o Verbo”. Parece tolice negar a luz que nos ilumina; da mesma forma, é irracional ter ouvidos para ouvir e impedi-los de o fazer. A voz da verdade é alta e clara, mas as pessoas optam por se recusar a ouvir; assim, a luz gloriosa do evangelho se espalha por toda parte, mas as pessoas abraçam as trevas. Num sentido muito real, esse fenômeno faz parte do mistério da iniquidade.
Tal rebelião nos lembra do espanto de Deus perante Seu povo pelas escolhas erradas que não fazem sentido. “Pois esta palavra está bem perto de vocês, na sua boca e no seu coração, para que vocês a cumpram. [...] Hoje tomo o céu e a Terra por testemunhas contra vocês, que lhes propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolham, pois, a vida, para que vivam, vocês e os seus descendentes” (Dt 30:14, 19). A rebelião contra a luz e a vida de Deus, ao escolher as trevas e a morte, nada mais é do que seguir o exemplo trágico de Lúcifer.
Temas recorrentes – Crença/descrença
Deus deu a todas as Suas criaturas a liberdade de escolha para que O amassem livremente. No entanto, muitas vezes elas abusam e fazem mau uso dessa liberdade para seu prejuízo. Alguns chegam ao ponto de dizer que qualquer escolha, certa ou errada, é boa, desde que as escolhamos. Afinal, afirmam que a morte de Cristo na cruz lhes concede liberdade de escolha e imunidade às suas consequências.
Mas tal pensamento é perigoso, pois encoraja as pessoas a serem descuidadas nas suas escolhas. Jesus morreu na cruz para nos salvar dos nossos pecados e nos dar vida. A liberdade de escolha foi concedida à humanidade antes da cruz e remonta ao jardim do Éden. Assim, embora a liberdade de escolha esteja sempre disponível para a humanidade, devemos encorajar aqueles que estão no vale da decisão a escolher o que é certo aos olhos de Deus. Alguns dizem que o resultado não importa tanto porque todos os pródigos finalmente retornam para Deus. No entanto, muitos não voltam, embora Deus esteja sempre disposto a perdoar e trazer os rebeldes de volta para Si, quando eles escolhem acreditar Nele.
Temas recorrentes – Glória
Sabendo que Sua hora havia chegado, Jesus estava pronto para enfrentar a cruz. Mas Ele também antecipou a alegria e a glória que O aguardavam. A missão conjunta de salvação sobre a qual o Pai e o Filho fizeram um acordo desde a fundação do mundo estava prestes a ser realizada com sucesso. O diabo logo seria derrotado de forma decisiva na cruz.
Cristo, em Sua obra heroica para salvar aqueles que acreditam Nele, desceu ao abismo mais profundo para então ser ressuscitado em glória. Paulo atesta esse fato quando diz que Cristo “Se humilhou, tornando-Se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso também Deus O exaltou sobremaneira e Lhe deu o nome que está acima de todo nome” (Fp 2:8, 9). Você vê como Paulo contrasta a alegria e a vergonha no ato salvífico de Cristo? Assim, podemos dizer que a antecipação da salvação do mundo por parte de Cristo foi uma experiência gloriosa, apesar da vergonha que Ele suportou na cruz. Jesus “em troca da alegria que Lhe estava proposta, suportou a cruz, sem se importar com a vergonha, e agora está sentado à direita do trono de Deus” (Hb 12:2).
APLICAÇÃO PARA A VIDA
Considere as seguintes questões e comente com a classe:
1. Em relação ao Verbo: Como as palavras de Cristo (o Verbo) O representaram quando Ele esteve aqui neste mundo?
2. Alguma vez você teve dúvidas em relação ao caráter de Deus, o Pai? Por quê? Reflita minuciosamente sobre as palavras de Jesus a Filipe, em que Ele afirma que ver a Ele é equivalente a ver o Pai. Como essas palavras podem ajudar a dissipar suas dúvidas?
3. Como os significados de “único” e “unigênito” se relacionam com a salvação única que nos é oferecida em Cristo?
4. Cristo manterá Sua natureza humana para sempre. Ele efetivamente modificou Sua natureza eterna de maneira definitiva, assumindo completamente a humanidade e a divindade. Como essa realidade impacta sua vida hoje e suas expectativas para o futuro?
5. Se considerássemos que, em vez de nos redimir de nossos pecados, Jesus morreu para nos conferir liberdade de escolha, qual seria o impacto dessa ideia nas decisões fundamentais relacionadas à obediência e desobediência? Há quem pense que Deus é neutro em relação às decisões. Se essa fosse a situação, como você conciliaria essa percepção com o chamado de Deus para que façamos escolhas corretas?
6. Em relação à vergonha e à glória: Como você concilia os dois conceitos na vida e no ministério de Cristo? Você já sentiu vergonha por causa de Cristo? Como essa vivência pode resultar em honra diante de Deus?
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Hora de desistir?
Arizona | Pedro
Foi um dia difícil. Pedro decidiu que era hora de renunciar ao cargo de diretor da Escola Adventista do Sétimo Dia Indígena de Holbrook, no Arizona.
“Acho que é isso”, disse ele à esposa. “Acho que é hora de encontrar outro emprego.”
Era o começo do 12º ano de Pedro como diretor. Ele tinha acabado de ter conversas difíceis com vários funcionários. Ele tinha acabado de refletir sobre os desafios do ano escolar. O fardo parecia avassalador.
Mas então Pedro se lembrou de que havia feito uma promessa a Deus em seu primeiro dia como diretor. Ele havia orado: “Deus, o Senhor tem um grande trabalho em me ajudar com este trabalho. Ficarei aqui até que o Senhor diga o contrário”.
Agora, naquele dia difícil, Pedro teve outra conversa com Deus.
“Eu me lembro da minha promessa”, ele disse. “Eu não quero ser um mentiroso. Então, é o Senhor quem está dizendo para mim que é hora de partir?”
Ele não recebeu uma resposta imediata. Então, ele fez o que com frequência dizia para os professores e alunos da Holbrook fazerem. Ele esperou Deus ser Deus.
Uma semana se passou.
Então, Pedro soube que uma garota que havia terminado o primeiro ano na Holbrook dois anos antes queria retornar. A garota, Raine, era preciosa e muito inteligente. Sua mãe a havia tirado da escola por dois anos em meio ao pânico da Covid. Muitos pais nativos norte-americanos tiraram seus filhos da escola durante esses dois anos. Pedro ficou triste com sua saída e agora desejava que ela voltasse. Mas ele estava cético sobre as notícias de que ela queria voltar. Ele já havia ouvido falar duas vezes que ela poderia voltar, e ela não voltara.
Pouco tempo depois, Pedro soube que a mãe de Raine estava pronta para marcar uma entrevista com ele. Pedro entrevistaria todos os alunos que estavam afastados por muito tempo e que gostariam de voltar.
Ele sentiu um lampejo de animação, mas não ficou muito animado porque não tinha certeza de que ela apareceria.
Quando a mãe marcou a entrevista para às 10h da manhã de uma sexta-feira, as emoções bateram forte. Pedro pensou, “Isso está realmente acontecendo!”
Na sexta-feira de manhã, Pedro viu um carro parar no estacionamento. Ele continuou olhando até que alguém saiu do carro. Era a Raine e sua mãe. Elas estavam caminhando em direção ao prédio da administração.
Pedro foi até as portas de vidro da entrada do prédio da administração para recebê-la. Ele se agachou, pressionou o rosto e o nariz contra o vidro, e olhou para fora.
Raine o viu e correu com entusiasmo em direção a ele. Ao se aproximar, Pedro abriu as portas, e ela correu para os braços dele. Era puro amor. Naquele momento, Pedro soube que havia recebido sua resposta. Não era o momento para sair de Holbrook. Deus ainda tinha um plano para ele na escola.
“Eu senti sua falta”, ele disse para Raine.
“Eu também senti a sua”, disse ela.
“É muito bom ver você.”
“É muito bom ver você também.”
Após a entrevista, Raine perguntou se poderia brincar no parquinho. Ela tinha sentido falta dos balanços, do escorredor e de outros brinquedos do parquinho.
“Sim, mas, por favor, me avise antes de ir embora para que eu possa me despedir”, disse Pedro.
Um pouco depois, Raine retornou ao seu escritório.
“Certo, estamos indo embora agora”, disse ela.
“Mal posso esperar para ver você no dia de matrícula no dia 13”, disse ele.
“Você pode adiantar?”, perguntou ela.
“O quê? Você quer voltar aqui antes?”
“Sim.”
“Quem me dera poder fazer isso.”
“Você não é o diretor? Você pode fazer qualquer coisa!”
Era verdade. Pedro poderia fazer qualquer coisa — com Deus.
“Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13, NAA).
Obrigado por suas ofertas que apoiaram a Escola Adventista Indígena de Holbrook. As duas ofertas mais recentes para a Divisão Norte-Americana, recolhidas em 2018 e 2021, estão ajudando a construir um novo Centro de Vida Estudantil no campus.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
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Mostre Holbrook, Arizona, no mapa.
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Saiba que o nome completo do diretor é Pedro Ojeda.
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2024
Tema geral: Temas do Evangelho de João
Lição 3 – 12 a 19 de outubro
A história de fundo: o prólogo
Autor: Manolo Damasio
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Rosemara Santos
Muitas vezes, o autor de uma obra literária se propõe a explicar suas intenções no início do seu trabalho. Como uma espécie de introdução, ele sinaliza aos leitores o tema que pretende abordar.
Uma diferença de João em relação aos outros três evangelhos, chamados sinóticos, é o conceito do Cristo pré-encarnado, o que reforça, como já dissemos em comentários anteriores, a explicação que ele dá na conclusão do livro acerca do propósito de sua obra: João coletou evidências que comprovam a divindade de Jesus.
Precisamos reconhecer que a eternidade passada e os elementos que a envolvem são muito profundos para a compreensão humana. João estabelece uma conexão entre a introdução do seu livro com o relato primário da criação no livro de Gênesis (Gn 1:1; Jo 1:18).
O uso de artigos definidos no prólogo do livro nos leva à conclusão de que se trata de duas pessoas distintas: “o Verbo” estava com “o Deus” é o que o texto diz literalmente no seu original grego. Jesus está no início do Universo com o Pai, como um Agente Criador e Eterno (Jo 1:3, 4; Hb 1:3). Essa era uma ideia por demais estranha tanto para judeus quanto para gentios.
No fim do primeiro século, correntes filosóficas tentavam explicar o Universo. Os romanos absorveram a filosofia grega e o pensamento de Platão, que era predominante e entendia o Universo de forma dicotômica – o mundo ideal e o mundo material. Na linguagem deles, o logos dava alguma razão a tudo isso, e para alguns, servia como uma espécie de intermediário entre os dois “mundos”.
João usa o termo logos para se referir a Jesus. Ele surpreende dizendo que o Logos é uma pessoa, um Ser divino que tomou forma humana, fazendo-Se “um de nós” (Jo 1:14).
Mesmo usando a língua grega, João não deixa de pensar em hebraico. A influência do Antigo Testamento está presente e as conexões com a revelação prévia são perceptíveis. Quando João diz que o Logos “Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1:14), o verbo que ele utiliza para habitar, significa literalmente “armou uma tenda” ou “tabernaculou”. Esse conceito nos transporta ao texto de Êxodo 25:8, em que Deus manifesta Seu interesse em “habitar” no meio do Seu povo.
Um paradoxo se estabelece aqui. Semelhantemente ao que Martinho Lutero costumava dizer, “Deus Se revela Se escondendo e Se esconde Se revelando”, no deserto, o tabernáculo escondia a glória de Deus ao mesmo tempo que a revelava. Na encarnação de Jesus, Deus revela Sua glória ao mesmo tempo que a esconde. Em ambos os casos, Ele fez isso para que pudesse Se comunicar com Suas criaturas.
Apresentar esse Cristo é vital para João. No início e no fim do livro (Jo 1:12, 13; 20:31), o apóstolo afirma que há vida no nome de Cristo, e declara que aqueles que O recebem são recebidos como filhos. Essa conexão entre a introdução e a conclusão do livro demonstra que João não perde de vista suas reais intenções: despertar a fé naqueles que ouvem o evangelho para que vivam eternamente.
Entretanto, durante sua narrativa, o apóstolo amado não esconde as reações das pessoas, não importando quem eram elas. Em cada cena parece haver uma tensão entre fé e incredulidade. Os mesmos sinais e prodígios, os mesmos apelos, e às vezes as mesmas advertências, provocam reações completamente distintas. A disposição individual é um fator determinante na recepção do convite divino, e não a quantidade ou magnitude dos milagres.
Enquanto os crentes, mesmo quando frustrados, não deixam de seguir Jesus, os incrédulos, por sua vez, O afrontam com suas ideias e vontades, mesmo diante de cenas extraordinárias.
No grego utilizado por João, ele utiliza quase 100 vezes (40% das ocorrências no NT) o verbo “crer”, e nenhuma vez o conceito de “crença” ou “fé” como substantivo, o que parece indicar, na visão de João, a fé como uma “ação” e não como uma “coisa” que você possui. Ter fé ou crer no evangelho, para João, é uma atitude.
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Manolo Damasio é pastor adventista. Formou-se Bacharel em Teologia pelo UNASP-EC, em 2004. Iniciou seu ministério em Porto Alegre. Em 2008, foi chamado para o Distrito Federal, onde desempenhou diferentes funções. É Mestre em Liderança pela Andrews University e Pós-graduado pelo UNASP, com MBA em Liderança. Atualmente mora no Texas, servindo como pastor da Igreja Adventista Brasileira de Dallas desde 2017. É casado com Jeanne, jornalista e escritora. O casal tem dois filhos, Noah e Otto.