Lição 6
02 a 08 de novembro
A leitura da Palavra
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Jo 12, 13
Verso para memorizar: “Leram no livro, na Lei de Deus, claramente, dando explicações, de maneira que entendessem o que se lia” (Ne 8:8).
Leituras da semana: Ne 8:1-12; Dt 31:9-13; Mt 17:5; At 8:26-38; Lv 23:39-43

O muro de Jerusalém foi terminado. Com a colocação dos portões, os israelitas, sob a liderança de Neemias, haviam completado a tarefa principal. Quando o muro foi concluído, as nações vizinhas ficaram admiradas e “reconheceram que o” Deus dos israelitas “fizera esta obra” (Ne 6:16; ARC). Os inimigos perceberam que o Senhor de Israel era verdadeiro porque, apesar da imensa oposição e ódio que os israelitas haviam enfrentado, eles tinham concluído a obra que se haviam proposto a fazer.

Após a conclusão do muro, Neemias nomeou um governador para Jerusalém (seu irmão Hanani) e um líder para a cidadela (Hananias). Ambos os homens foram escolhidos com base na integridade, confiabilidade e reverência a Deus (Ne 7:2), não na genealogia. O muro foi concluído durante o mês de elul (6o mês; Ne 6:15).

Qual seria a próxima tarefa? Os capítulos seguintes de Neemias (8 a 10) descrevem uma importante série de acontecimentos no mês de tishri, o
7o mês (Ne 8:2). Nesses textos vemos como os filhos de Israel estavam determinados a obedecer à Palavra de Deus e o quanto eles se regozijavam nela.



Domingo, 03 de novembro
Ano Bíblico: Jo 14, 15
O povo se reúne

1. Leia Neemias 8:1, 2. Qual era a importância da Palavra de Deus para o povo? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:

A.(  ) A Palavra tinha muita importância, pois ela continha a Lei que Deus havia prescrito a Israel.

B.(  ) Nenhuma, pois os padrões culturais foram mudados depois do exílio.

Quando os judeus finalmente terminaram a construção do muro e se mudaram para Jerusalém, todos se reuniram na praça da cidade no sétimo mês, o mês de tishri. Esse talvez fosse o mês mais importante para os israelitas, por ser dedicado à Festa das Trombetas (preparação para o juízo de Deus, no 1o dia do mês), ao Dia da Expiação (o dia do juízo, no 10o dia do mês) e à Festa dos Tabernáculos (que servia como lembrança da libertação do Egito que Deus tinha realizado e de Sua provisão durante a jornada pelo deserto, com início no 15o dia do mês). A reunião aconteceu no primeiro dia do mês, com a celebração da Festa das Trombetas. Os ­líderes reuniram os homens e as mulheres da nação para essa assembleia especial a fim de conceder-lhes, mediante a leitura da Lei, uma oportunidade de aprender sobre seu Deus e sua história.

O povo pediu que Esdras trouxesse o livro da Lei de Moisés perante eles e o lesse. Eles até construíram uma plataforma, ou um púlpito, para a ocasião. Não foi algo que os líderes impuseram à congregação. Pelo contrário, o povo pediu que Esdras trouxesse o livro. É provável que ele tenha lido para o povo os livros de Moisés, que incluíam a Lei dada a Moisés no Monte Sinai.

2. Leia Deuteronômio 31:9-13. O que Moisés disse ao povo, e quais lições podemos extrair dessas palavras para nós?

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Em Deuteronômio 31:9-13, Moisés disse aos israelitas que, durante a Festa dos Tabernáculos, eles deveriam se reunir e ler juntos a Lei de Deus. Ele mencionou os vários grupos que deveriam se reunir: homens, mulheres, crianças e estrangeiros que viviam dentro de seus portões.


Uma leitura literal de Neemias 8:1 diz que eles se reuniram “como um só homem”. O que isso revela sobre a importância da unidade no corpo de cristãos?

Segunda-feira, 04 de novembro
Ano Bíblico: Jo 16-18
Lendo e ouvindo a Lei

Esdras “trouxe a Lei” para ler diante da assembleia. O que ele leu para eles? Somente os Dez Mandamentos repetidamente até o meio do dia? A referência ao livro da Lei deve ser entendida como os cinco livros de Moisés, de Gênesis a Deuteronômio, conhecidos como a Torá hebraica. O termo “Lei”, portanto, envolvia apenas uma parte do que foi incluído na leitura; seria melhor traduzi-lo como “instruções” de Deus, que nos permitem conhecer o caminho que devemos trilhar a fim de não perder
o alvo. Quando Esdras leu essas instruções, o grupo ouviu sua história como povo de Deus, começando com a criação até os dias de Josué. Mediante histórias, canções, poemas, bênçãos e leis, eles foram lembrados de suas lutas para obedecer a Deus e da fidelidade do Senhor. A Torá inclui a “Lei”, mas ela é mais do que isso; ela abrange a história do povo de Deus e revela especialmente Sua direção. Consequentemente, ela apresentou à comunidade suas raízes e identidade.

3. Leia Neemias 8:3; Deuteronômio 4:1; 6:3, 4; Josué 1:9; Salmo 1:2; Provérbios 19:20; Ezequiel 37:4 e Mateus 17:5. Como devemos nos relacionar com a Palavra de Deus? Assinale a alternativa correta:

A.(  ) Devemos usar a Palavra de Deus como um amuleto.

B.(  ) Devemos ouvir e cumprir as palavras escritas na Bíblia, pois assim teremos sucesso em nossa caminhada cristã.

O fato de as pessoas desejarem ouvir a Palavra de Deus provavelmente era resultado da leitura e do ensino das Escrituras promovidos por Esdras desde a sua chegada a Jerusalém, cerca de 13 anos antes. Ele era dedicado à obra de Deus e determinado a fazer a diferença. A Palavra do Senhor se tornava real para os israelitas à medida que eles continuavam ­ouvindo-a por meio de Esdras. Como resultado, o povo tomou uma decisão consciente de ouvir e obedecer, pois estava interessado em saber mais a respeito de Deus. Portanto, nessa ocasião, eles se aproximaram da Torá com reverência e desejo de aprender.

Fartar-nos da Palavra faz surgir em nossa vida um anseio mais profundo por Deus.


Como você se relaciona com a Palavra de Deus? Ou seja, embora afirme acreditar nela, como essa afirmação se manifesta em sua vida? De que modo você busca obedecer ao que ela ensina? Sua vida seria muito diferente se você não obedecesse à Bíblia?

Terça-feira, 05 de novembro
Ano Bíblico: Jo 19-21
Lendo e interpretando a Palavra

4. Leia Neemias 8:4-8. Como foi feita a leitura da Lei?

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Dois grupos de 13 homens permaneceram com Esdras durante a leitura. O primeiro grupo de 13 (Ne 8:4) ajudou a ler a Palavra de Deus, e o segundo grupo de 13 (Ne 8:7) ajudou na compreensão das passagens. Não temos nenhuma informação sobre como esse arranjo funcionou em praça aberta; entretanto, os homens que ajudaram na leitura possivelmente tenham segurado a Torá (os manuscritos em hebraico eram pesados e precisavam ser desenrolados por outras pessoas), para a lerem sucessivamente e de maneira alternada. Como leram desde a manhã até ao meio-dia, devem ter descoberto um modo de alcançar a todos na praça.

As frases “dando explicações” e “de maneira que entendessem o que se lia” (Ne 8:8) podem se referir à interpretação ou à tradução das passagens. Ambas são igualmente prováveis nesse caso. O povo havia retornado de Babilônia, onde tinham vivido por muitos anos, e onde a língua principal era o aramaico. Portanto, pode não ter sido fácil entender a leitura em hebraico, especialmente para as gerações mais jovens. Esse relato mostra que os leitores da Bíblia podem se beneficiar de explicações ou comentários. A pregação e a explicação tornam o texto vivo e incentivam os ouvintes a aplicar as informações pessoalmente.

5. Como os acontecimentos de Atos 8:26-38 se assemelham ao que estava acontecendo em Jerusalém? Quais são as lições para nós?

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Como protestantes, entendemos que cada cristão deve conhecer a Palavra de Deus por si mesmo e que não deve aceitar cegamente a palavra de mais ninguém quanto à verdade bíblica, independentemente da sua autoridade. Ao mesmo tempo, quem já não foi abençoado porque alguém o ajudou a entender o significado de algum texto? Todos precisamos conhecer nossas crenças por nós mesmos, mas isso não significa que, às vezes, não possamos ser iluminados pelos ensinamentos de outros.



Quarta-feira, 06 de novembro
Ano Bíblico: At 1-3
A resposta do povo

Quando Esdras abriu a Palavra de Deus, a Torá hebraica, o povo se levantou. Antes de ler, ele bendisse o nome de Deus. Após a leitura, “o povo respondeu: Amém! Amém!” (Ne 8:5, 6) em uníssono ao erguer as mãos para o céu. Eles então inclinaram a cabeça e adoraram com o rosto em terra.

6. Leia Neemias 8:9-12. Por que os líderes disseram ao povo: “não pranteeis, nem choreis”? Assinale a alternativa correta:

A.(  ) Porque aquele era um dia consagrado, de alegria ao Senhor.

B.(  ) Porque o povo precisava ser forte para vencer a guerra.

“Assim, nos anos posteriores, quando a Lei de Deus foi lida em Jerusalém aos cativos que voltaram de Babilônia, e o povo chorava por causa de suas transgressões, foram proferidas as graciosas palavras: ‘Não vos lamenteis. [...] Ide, e comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque esse dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força’” (Ne 8:9, 10; Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p. 281).

Enquanto ouviam as palavras de Deus, o povo ficou impressionado com sua própria pecaminosidade e começou a chorar. Quando Deus Se revela a nós e começamos a compreender que Ele é cheio de amor, bondade, misericórdia e fidelidade, nossas insuficiências e falhas em ser o que devemos ser são colocadas em primeiro plano. Ver a santidade de Deus por meio da Sua Palavra nos faz perceber, sob uma nova luz, nossa condição terrível. Essa percepção fez com que os israelitas chorassem e lamentassem, mas eles não deviam se entristecer, “porque a alegria do Senhor” era a sua força (Ne 8:10). Em outras palavras, apesar de seus fracassos, eles podiam confiar no poder de Deus.

Esse também era um dia especial, um dia santo, a Festa das Trombetas (Rosh Hashaná), no qual o curto toque das trombetas sinalizava a importância da preparação do “coração” para o juízo do Senhor (Dia da Expiação, celebrado no 10o dia do mês de tishri). O toque das trombetas indicava o chamado para estar diante de Deus e arrepender-se. Visto que a intenção daquele dia era lembrar o povo de que devia se voltar para Deus, o choro e o lamento é compreensível. Mas os líderes lembraram os israelitas de que, como tinham se arrependido, Deus os havia escutado e, portanto, era hora de se alegrar no perdão de Deus.


Jesus teve que ir para a cruz como a única maneira de resolver o problema do pecado e nos dar esperança. O que isso revela sobre a gravidade do pecado?

Quinta-feira, 07 de novembro
Ano Bíblico: At 4-6
A alegria do Senhor

A frase “a alegria do Senhor é a vossa força” (Ne 8:10) serve como um lembrete de que Deus deseja que nos regozijemos e desfrutemos a vida. Acima de tudo, não é qualquer tipo de alegria, mas a alegria que vem porque conhecemos a Deus e a realidade do Seu amor. Todos os dias devemos nos esforçar para nos deleitar no Senhor e em Sua bondade, ­regozijando-nos por tudo o que Ele nos concedeu. Além disso, a alegria em Deus nos dá forças para enfrentar o dia e lidar com o que surge em nosso caminho.

7. Leia Neemias 8:13-18. O que ocorreu ali e o que isso revela sobre o povo e seus líderes naquele momento?

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No dia seguinte, os líderes do povo foram a Esdras para aprender mais sobre o Livro Sagrado. Essa iniciativa demonstrada pelos líderes revelou seu desejo de conduzir a comunidade a Deus. Eles entenderam que não poderiam guiar o povo da maneira certa se eles mesmos não buscassem o Senhor e o conhecimento Dele.

8. Leia Levítico 23:39-43. O que os israelitas deveriam fazer? Por quê?

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O texto de Neemias 8:15 menciona que os israelitas estavam agindo de acordo com o que estava “escrito”. Vemos aqui outro exemplo de como desejavam seriamente obedecer à Palavra de Deus, especialmente porque depois de décadas em cativeiro haviam aprendido a desobedecer. Além disso, conforme o texto de Levítico, eles deveriam celebrar a festa “e, por sete dias”, alegrar-se “perante o Senhor”, seu Deus (Lv 23:40). Em outras palavras, ao se lembrarem dos atos divinos de misericórdia, graça e salvação, o povo precisava se alegrar com o que o Senhor havia feito por eles.


Pense no que recebemos em Jesus (Ele está simbolizado em todas as festas do antigo Israel). Como podemos nos alegrar no Senhor mesmo durante provações difíceis e dolorosas? Por que, especialmente durante esses momentos, é crucial que façamos isso?

Sexta-feira, 08 de novembro
Ano Bíblico: At 7-9
Estudo adicional

Texto de Ellen G. White: Profetas e Reis, p. 661-668 (“Instruídos na Lei de Deus”).

“Agora eles deviam manifestar fé em Suas promessas. Deus havia aceitado o seu arrependimento; deviam agora alegrar-se na certeza do perdão dos pecados e na sua restauração ao favor divino [...].

“Toda conversão verdadeira ao Senhor produz permanente alegria na vida. Quando um pecador se rende à influência do Espírito Santo, ele vê sua própria culpa e mácula em contraste com a santidade do grande Examinador dos corações. Ele se vê a si mesmo condenado como transgressor. Mas não deve por causa disso se entregar ao desespero; pois o seu perdão já está assegurado. Ele pode se alegrar na certeza do perdão dos pecados, no amor de um Pai celestial perdoador. É a glória de Deus envolver os seres humanos pecadores arrependidos nos braços do Seu amor, ligar suas feridas, purificá-los do pecado e vesti-los com as vestes da salvação” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 668).

Perguntas para discussão

1. Em quais condições você pode sentir “a alegria do Senhor” (Ne 8:10) como sua força? Precisamos fazer algo para experimentar o poder de Deus e Seu perdão? O quê?

2. Como encontrar o equilíbrio entre o lamento pelos nossos pecados e a alegria no Senhor? Essas atitudes não são contraditórias entre si? Como a Lei e o evangelho apresentam a resposta? (Veja Rm 3:19-24).

3. Em Neemias 8:10 foi dito ao povo: “Ide, comei carnes gordas, tomai bebidas doces e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força”. Como podemos nos alegrar em Deus? O que o fato de ser “consagrado” significa nesse contexto?


Respostas e atividades da semana: 1. V; F. 2. Por intermédio de Moisés, o Senhor mandou o povo se reunir a cada sete anos a fim de ler as Palavras do Senhor aos homens, mulheres, crianças e até estrangeiros. O contato com a Palavra é de extrema importância para a vida espiritual. 3. B. 4. Primeiramente, Esdras abriu o Livro, e o povo ficou em pé. Em seguida, ele bendisse o nome do Senhor, e o povo se prostrou com o rosto em terra. Para a leitura, dois grupos se revezavam. Além da leitura, havia a explicação do texto. 5. Assim como Filipe ajudou o eunuco etíope a compreender o que lia, foi necessária a ajuda de pessoas para que o povo compreendesse a Palavra. 6. A. 7. Esdras e os líderes leram, na Lei do Senhor, a ordem para que o povo habitasse em tendas no sétimo mês. Assim, eles se organizaram para recolher ramos de árvores e construir tendas a fim de cumprir essa ordem. Isso mostra que os líderes estavam dispostos não só a obedecer ao Senhor, mas a levar o povo a fazer o mesmo. 8. Foi-lhes ordenado comemorar a festa do Senhor durante sete dias. Após terem colhido os melhores frutos da terra, eles deviam celebrar a festa com alegria e morar em tendas durante uma semana para lembrar os atos maravilhosos do Senhor ao tirá-los do Egito.

Resumo da Lição 6
A leitura da Palavra

ESBOÇO

TEXTOS-CHAVE: Neemias 8:8; Josué 1:8; João 5:39, 40

FOCO DO ESTUDO: Neemias 8

A lição se concentra na importância de se dedicar tempo à Palavra de Deus. Os líderes de Israel e do povo demonstravam um amor incrível pelo Senhor e por Sua Palavra, pois passavam muitas horas ouvindo a leitura das Escrituras em voz alta. Os eventos desse capítulo ocorrem no sétimo mês do ano (tishri), o que é significativo por causa de três dias sagrados e festivais celebrados no primeiro, décimo e décimo quinto dia desse mês (Festa das Trombetas, Dia da Expiação e Festa dos Tabernáculos). Esdras e Neemias, juntamente com todos os líderes, chamaram o povo, incluindo crianças, no primeiro dia, e os levitas começaram a ler e explicar a Palavra de Deus. As pessoas ouviram durante horas as histórias de sua herança e da poderosa presença e fidelidade de Deus para com o povo. A leitura e explicação (e tradução) feitas pelos levitas tocaram profundamente o povo. Ouvindo as mensagens dos livros de Moisés, eles foram convencidos de sua própria pecaminosidade e da santidade de Deus, e começaram a chorar.

Neemias e os levitas encorajaram todos a não chorar nem ficar tristes, mas se alegrar no Senhor por causa de Seu grande amor por eles. Devido à leitura prolongada do Pentateuco, o povo descobriu que no décimo quinto dia do mês se celebrava a Festa dos Tabernáculos. Por isso, reuniram-se novamente para celebrar durante sete dias um festival esquecido e negligenciado.

Durante esse tempo, eles viveram em cabanas nos telhados e pátios de suas casas e por toda a cidade, enquanto estudavam a Palavra de Deus. O oitavo dia culminava em uma assembleia solene.

COMENTÁRIO

Como Neemias 8 a 10 foram escritos do ponto de vista da terceira pessoa, e não da perspectiva da primeira pessoa, conforme se dá no restante do livro, é possível que esses capítulos tenham sido colocados juntos como uma peça central teológica com o objetivo de explicar a condição dos israelitas e sua dedicação a Deus. A atividade dessas passagens provavelmente tenha ocorrido depois que o grupo de Neemias chegou a Jerusalém. É digno de nota que Esdras aparece no capítulo 8, visto que é mencionado junto com Neemias somente em Neemias 8:9 e 12:26. É evidente que o tema desta unidade literária de Neemias 8 a 10 é a dedicação a Deus por meio da leitura das Escrituras, confissão e renovação da aliança. Esdras reaparece na narrativa porque, em vez de construir uma estrutura física, seu papel é levar as pessoas a estudar a Palavra divina. Os capítulos 1 a 6 de Neemias (assim como Esdras 1 a 6) se concentram em projetos de construção, mas depois a atenção é direcionada para a edificação do povo (Ne 7 a 13; também enfatizado em Ed 7 a 10). Neemias 8 demonstra que a leitura da Palavra tem um papel crucial para vivermos inteiramente na presença do Senhor.

Estrutura de Neemias 8

• A. Leitura do livro da Lei (Ne 8:1, 2)

• B. Resposta do povo e louvor ao Senhor (Ne 8:3-6)

• C. Compreensão da leitura (Ne 8:7, 8)

• D. Este dia é consagrado: não se deve prantear nem chorar (Ne 8:9)

• E. A alegria do Senhor é a força do povo (Ne 8:10)

• D’. Este dia é consagrado: não se deve ficar entristecido (Ne 8:11, 12)

• C’. Encontrada a orientação de que deviam viver em cabanas (Ne 8:13-15)

• B’. O povo responde e faz cabanas (Ne 8:16, 17)

• A’. Leitura do livro da Lei (Ne 8:18)

Leitura da Palavra de Deus

A leitura da Palavra de Deus é um conceito importante em Neemias 8. É incrível que as pessoas a tenham ouvido por horas, “desde a alva até ao meio-dia” (Ne 8:3), aproximadamente de cinco a sete horas, e demonstraram receptividade para ouvir. No entanto, dessa vez não se tratava apenas de ouvir a leitura, mas de entender. De fato, “compreensão” parece ser o conceito mais importante da passagem.

Ao longo do capítulo, a palavra bin, traduzida como “entender”, é repetida seis vezes (Ne 8:2, 3, 7, 8, 9, 12). É impressionante ver com que frequência essa palavra e esse conceito ocorrem. O autor intencionalmente repetiu a ideia da compreensão vez após vez para chamar a atenção do leitor. Junto com bin, a palavra sakhal é usada duas vezes e também significa “entender”, bem como “ser sábio e prudente” e “ter entendimento, sabedoria e discrição” (Ne 8:8, 13). Desde o início, afirma-se que todos os que eram “capazes de entender o que ouviam” (Ne 8:2) estavam reunidos, ou seja, adultos e crianças com idade suficiente para compreender as Escrituras. A leitura da Palavra não era apenas para entrar por um ouvido e sair pelo outro, mas devia ter significado e propósito na vida, levando a uma sabedoria maior e à transformação. Adquirir conhecimento não significa armazenar belos conceitos e informações em nosso cérebro. Ao contrário, o conhecimento deve impactar todo o nosso ser.

A resposta do povo

As palavras definitivamente impactaram a assembleia, pois o povo chorou. O que as pessoas ouviram da Lei influenciou sua compreensão de Deus e, por sua vez, mudou sua maneira de ver a si mesmas e ao mundo. Ouvir as Escrituras nos ajuda a ver as coisas da perspectiva divina e a nós mesmos como pecadores. Às vezes, quando as pessoas leem o Antigo Testamento, pensam erroneamente que os que viviam naquela época não podiam ver um Deus amoroso. Mas, a partir dessa passagem de Neemias, vemos que a verdade é o contrário. Passar horas ouvindo a Palavra do Senhor, lendo sobre Sua misericórdia e atos poderosos, não afastou Dele as pessoas, mas as convenceu do Seu amor e de Suas intervenções misericordiosas. Perceberam que eram infiéis, mas Deus era fiel. A beleza e o poder da Escritura é que, por meio dela, o Criador nos busca e suplica que voltemos para Ele, mostrando-nos quem Ele realmente é: o Pai que nos ama e que faz o máximo para nos salvar e nos resgatar para Si mesmo.

O tempo dedicado à Palavra divina leva ao reavivamento pessoal e coletivo. “A Palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração. E não há criatura que não seja manifesta na Sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos Daquele a quem temos de prestar contas” (Hb 4:12, 13). Ler a Palavra em voz alta para o povo teve o efeito de penetrar no coração e na mente; eles responderam com profunda emoção. Sentiram tristeza por causa de sua consciência quanto à sua condição pecaminosa, mas, no fim, reagiram com grande alegria diante de quem Deus é.

Outro tema importante encontrado nesse capítulo (Ne 8) é o papel dos líderes nesse reavivamento. A transformação começou com os líderes que convocaram a assembleia como uma resposta à instrução divina. Eles provavelmente estavam aprendendo com Esdras e Neemias sobre Deus e ficaram impressionados com o amor inabalável e a dedicação desses dois líderes. A liderança explorou ao máximo a oportunidade e facilitou a situação; seguiram as instruções do Senhor e depois colocaram em prática uma estratégia para alcançar as pessoas por meio da leitura. Eles não deixaram as coisas ao acaso, mas organizaram leitores e “ensinadores” e tradutores das Escrituras a fim de maximizar a compreensão.

O desejo dos líderes de aprender com Esdras também revela espírito e atitude receptivos ao ensino. É uma grande tragédia quando as pessoas acreditam que sabem tudo e não precisam aprender com mais ninguém. Infelizmente, essa atitude também exclui a disposição de ser ensinado pelo Espírito Santo. Estar aberto para aprender com os outros e especialmente com Deus é um pré-requisito para fazer a diferença em favor do Senhor no mundo.

Alegria do Senhor

O clímax ou centro da estrutura quiástica do capítulo acima é Neemias 8:10, que também reitera que aquele dia foi consagrado e então proclama que eles não deviam se entristecer. Por quê? “Porque a alegria do Sehor” era a sua força (Ne 8:10). Três vezes o povo foi instruído a não se entristecer nem se afligir, mas “regozijar-se”. Maoz significa “refúgio, força e fortaleza”. Também é traduzido nas Escrituras como “proteção”, mas na maioria das vezes é traduzido como “refúgio, força e fortaleza”. Por exemplo, o salmista escreveu sobre Deus como sendo maoz, nosso refúgio e fortaleza (Sl 31:4; Sl 37:39; Sl 43:2; Sl 52:7). A palavra para alegria (khedwah) só aparece duas vezes na Bíblia. O outro exemplo está em 1 Crônicas 16:27, no cântico de Davi, em que ele louvava a Deus quando a arca da aliança foi colocada no tabernáculo: “Glória e majestade estão diante Dele, força e formosura [khedwah], no Seu santuário”.

A Festa das Trombetas começava com o toque do shofar (chifre de carneiro), que marcava o início da preparação para o Dia da Expiação; portanto, era um tempo (10 dias) de introspecção e arrependimento.

Contudo, Esdras e os levitas disseram aos israelitas que eles deviam parar de chorar e se entristecer, pois esse dia era sagrado. Esdras disse a eles que a alegria que vem do Senhor era a sua força, fortaleza e refúgio. Se quisessem ser firmemente estabelecidos e fortes, precisavam ter a “alegria do SENHOR”. Note igualmente que a santidade e a alegria andam juntas. A alegria vinha da compreensão de que eles haviam sido perdoados por Deus. Essa alegria devia ser demonstrada por meio da experiência de comer e beber com suas famílias, desfrutando de comunhão uns com os outros. Além disso, deviam compartilhar comida com os que não tinham nada pronto para a festa. Houve tempo para introspecção durante os 10 dias que antecederam o Dia da Expiação, porém Esdras queria que as pessoas entendessem que o arrependimento não é a única coisa necessária. Alegrar-se com o que Deus fez ao prover a salvação é igualmente importante. Eles não deviam se esquecer da promessa de salvação, mas regozijar-se por causa dela.

Aplicação para a vida

Esdras ensinou ao povo que a força para o dia a dia vem da alegria no Senhor. Esse preceito parece simples demais. Como a solução mais importante para nossos problemas diários poderia ser alegrar-se no Senhor?

Quando nos concentramos na alegria que vem do Senhor, não importa o que esteja acontecendo em nossa vida, confiamos que Ele é grande o suficiente para lidar com nossas dificuldades. Essa confiança em Deus nos eleva e nos dá coragem para enfrentar as lutas diárias. Isso nos impede de ficar deprimidos e com pena de nós mesmos por causa de nossas circunstâncias. Em vez disso, a alegria nos mantém concentrados no que o Senhor pode fazer e já fez por nós por meio do sacrifício de Cristo na cruz.

Questões para reflexão

1. Pense em personagens bíblicos que passaram por dificuldades e, ainda assim, viram o cuidado de Deus para com eles. O que podemos aprender de cada exemplo?

2. Qual é a importância da nossa atitude? Victor E. Frankl, um sobrevivente do holocausto e psicólogo austríaco escreveu: “Tudo pode ser tirado de um homem, menos uma coisa: a última das liberdades humanas: escolher a atitude em quaisquer circunstâncias, escolher o próprio caminho” (Man's Search for Meaning: An Introduction to Logotherapy [A Busca Humana por Significado: Uma Introdução à Logoterapia; Nova Iorque: Washington Square Press, 1963, p. 104).

Você concorda ou discorda da afirmação dele? Por que a atitude faz tanta diferença em nossa vida?


O pregador do ônibus

Algumas pessoas leem livros ou jogam em aplicativos de celular durante o trajeto de ônibus em direção ao trabalho. Samuel Ndagijimana aproveita para falar sobre Jesus e Sua vinda, todas as manhãs, enquanto vai ao trabalho na capital de Ruanda, Kigali. Ele nunca soube se suas palavras causavam algum tipo de impacto nos ouvintes. Até que, certo dia, estava atravessando a rua quando uma mulher o chamou. “Pastor, por favor, pare!”, disse a mulher. Samuel não era pastor, mas as pessoas assim o consideravam por causa das pregações no ônibus. Ele parou e olhou intrigado para a mulher.

“Eu não a conheço”, disse. “Já nos vimos antes?”

“Você faz um trabalho muito bom, mas talvez não perceba”, respondeu a mulher. “Sempre o vejo no ônibus e você pregou sobre um problema que eu tenho.”

A mulher recordou de um sermão que ele fez sobre colocar Deus em primeiro lugar. “Você disse: ‘Quando chegar ao trabalho, faça de Deus o primeiro lugar da vida. Faça de Deus o primeiro lugar no que vocês falarem ou na forma de agirem.’” Essa mensagem a impeliu a tomar uma importante decisão assim que chegou ao trabalho. Ela explica: “Quando cheguei ao trabalho, enfrentei um problema desafiador. Ajoelhei-me no escritório e orei: ‘Deus, o homem de Deus que pregou hoje cedo disse que devemos colocá-Lo em primeiro lugar. Ajude-me a priorizar o Senhor.” Depois dessa oração, ela se sentiu fortalecida para enfrentar o assédio do chefe.

Algumas horas se passaram e seu chefe apareceu no trabalho. Ele foi direto à mesa dela. “Quando podemos sair?” ele perguntou. “Patrão, não pecarei” respondeu a mulher. “Não posso ir por três motivos: primeiro, sou casada e devo ser fiel ao meu marido. Segundo, sou cristã e não posso pecar contra meu Salvador. Terceiro, sou líder na igreja, devo ser um exemplo para os irmãos.”

O chefe ficou chocado. “Eu me aproximei muitas vezes, e você nunca disse sim ou não”, disse. “Por quê? Você ouviu minha proposta, mas não decidiu nada.” Seus olhos cintilavam de raiva. Você será demitida por isso”, ele rosnou enquanto saía da sala. Ela engoliu seco e orou, pois não queria ser demitida. “Deus, honrei Seu nome no trabalho. Você foi minha prioridade. Se eu for demitida, por favor cuide de meus filhos.”

Para ser demitida, deveria receber uma carta de demissão do chefe. Ela pensou que a carta seria enviada no dia seguinte, mas se enganou. Um segundo dia passou e nenhuma carta chegou. Naquela tarde, em um canal de TV, ela soube que o chefe havia sido demitido. Então, chorou e agradeceu a Deus. A mulher comentou com Samuel: “Eu deveria ser demitida, mas mantive o emprego. Não agradeço a Deus porque meu chefe foi demitido. Agradeço porque Ele protege aqueles que O colocam em primeiro lugar.”

Samuel está determinado a continuar pregando nos ônibus. Ele também às vezes prega na rua. Mas acima de tudo, ele disse, esforça-se para pregar sem palavras. Com a ajuda de Deus, Ele permite que sua aparência e ações revelem Cristo aos outros.

Os membros da Igreja em todo o mundo também pregaram um sermão sem palavras quando contribuíram para a oferta do Décimo Terceiro Sábado de 2016 para abrir uma escola de medicina no campus da Universidade Adventista da África Central, em Kigali. Samuel disse que é grato pela escola de medicina, onde professores e alunos ajudam a espalhar o evangelho nos arredores de Ruanda.

Dicas da História

  • • Ler a história de como um anjo apagou o incêndio na plantação de tabaco de Samuel no Informativo dos Menores.
  • • Fazer o download das fotos de resolução média desta história na página do Facebook: bit.ly/fb-mq. As fotos estarão disponíveis nos domingos, seis dias antes de a história ser apresentada.
  • • Fazer o download das fotos em alta-resolução no banco de dados na página: bit.ly/ Bus-Preacher
  • • Fazer o download das fotos em alta-resolução dos projetos do trimestre no site: bit.ly/ECD-projects-2019.

Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2019
Tema Geral: Esdras e Neemias
Lição 6: 2 a 9 de novembro

Autor: Luiz Gustavo Assis
Revisora: Josiéli Nóbrega
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

A leitura da Palavra

O trabalho de Esdras e Neemias não terminou após a reconstrução dos muros de Jerusalém, no mês de elul, o 6º mês (cf. Ne 6:15-19). Alguns dias depois, no começo do mês de Tishri, 7º mês, ocorreu a leitura da Lei de Moisés para os moradores de Jerusalém, descrita no capítulo 8 de Neemias. O sétimo mês do calendário judaico é muito significativo. Logo no primeiro dia do mês, os israelitas deveriam celebrar a festa das trombetas (Lv 23:23-25), que servia como lembrete (Hb zikaron) da proximidade do grande Dia da Expiação, um dia de arrependimento e perdão dos pecados nacionais, que ocorria dez dias mais tarde (Lv 23:26-32). Portanto, a leitura do livro da Lei de Moisés no 7º mês do calendário judaico não foi uma coincidência. Esdras queria chamar a atenção do povo para os momentos solenes que as celebrações daquele mês enfatizavam.

Abaixo, discutiremos brevemente alguns aspectos de Neemias 8 relacionados à leitura do livro da Lei de Moisés, bem como o lugar das Escrituras na nossa adoração.

Um leitor, vários ouvintes

A prática da leitura pessoal das Escrituras Sagradas é um fenômeno relativamente recente. Antes da invenção da imprensa por Gutenberg no final do século 15, moradores de comunidades ao redor da Europa, Oriente Médio e norte da África raramente dispunham de cópias pessoais da Bíblia Sagrada. Além disso, o grau de analfabetismo era alto, o que dificultava toda tentativa de descobrir verdades divinas por conta própria. Desde os tempos bíblicos, a leitura em alto e bom som das Escrituras era basicamente a única forma pela qual as pessoas conheciam seu conteúdo. O profeta Isaías, por exemplo, fala do dia em que “os surdos ouvirão as palavras do livro” (Is 29:18), aludindo a esse fenômeno cultural de leitura pública. Séculos mais tarde, o apóstolo João declarou que é bem-aventurado “aquele que lê (singular) e aqueles que ouvem (plural) as palavras da profecia” (Ap 1:3). O que lemos em Neemias 8 nada mais é do que a maneira mais comum de apreciar as porções das Escrituras naquela época.

Apesar da palavra hebraica sepher ter sido traduzida como “livro” em nossa versão de Neemias 8:1, Esdras, na verdade, usou um pergaminho ou papiro na forma de rolo. O formato de livro que usamos hoje, também conhecido como códice, foi uma inovação ocorrida nos primeiros séculos da época cristã, muito tempo depois da época daquele escriba.

Rolos de manuscritos bíblicos encontrados nas cavernas de Khirbet Qumran, Israel, em 1947.

Intérpretes ou tradutores?

De acordo com Neemias 8:7, 8, Esdras contou com a ajuda de vários auxiliares, incluindo levitas, para explicar ao povo (Hb bîn) distintamente (Hb parash) a leitura do livro da Lei de Moisés. Além de uma interpretação do que estava sendo lido por Esdras, é bem provável que esses auxiliares também estivessem traduzindo a leitura do hebraico, a língua na qual o livro da Lei de Moisés foi escrito, para o aramaico, a língua predominante entre os judeus após o retorno deles da Babilônia. Por séculos, o aramaico foi a língua franca do antigo oriente e sua influência pode ser vista em vários livros bíblicos escritos no período persa. Os livros de Daniel e Esdras, por exemplo, possuem significativas porções escritas em Aramaico (Dn 2:4b-7:28; Ed 4:8-6:18; 7:12-26). O uso do hebraico bíblico ficou tão raro entre os judeus que inúmeras traduções da Bíblia Hebraica foram feitas para o aramaico, os chamados Targumim. Os judeus não só adotaram o alfabeto aramaico a partir daquela época, como também é possível notar inúmeros “aramaísmos” no hebraico usado nesses livros, algo natural para aqueles que falam mais de uma língua. Em suma, é muito provável que, além da explicação da leitura, o trabalho dos auxiliares de Esdras envolvesse uma tradução do texto lido para o aramaico.

Papiro escrito em aramaico encontrado na ilha de Elefantina, em Assuã, no sul do Egito. Trata-se de uma petição de líderes judeus que ali residiam para construir um templo naquela ilha. O texto, inclusive, menciona o ano da petição, 407 a.C., algumas décadas após a obra de Esdras e Neemias em Jerusalém. Fonte: Wikipédia.

A Bíblia nas igrejas adventistas hoje

Como a história de Neemias 8 pode ajudar você, professor(a) da Escola Sabatina, os membros da sua unidade e a igreja? O incidente narrado nesse capítulo nos leva a refletir sobre como a Bíblia tem sido usada nos púlpitos da Igreja Adventista do Sétimo Dia ao redor do Brasil e do mundo. Existem pelo menos três desafios que precisam ser encarados em nossas pregações:

1. Pouco tempo para as Escrituras

Em muitas igrejas adventistas existe uma avalanche de anúncios, divulgações de eventos e resolução de aspectos administrativos da igreja, o que faz com que sobre pouco tempo (e paciência!) para o sermão. Faça o teste na sua igreja. Calcule o tempo do final da Escola Sabatina até o início do sermão. Em algumas igrejas, existe um “intervalo” de quase uma hora! Os calendários de associações ao redor do Brasil estão tão sobrecarregados de datas de eventos e divulgação de programas dos departamentos ao longo do ano que sobram poucos sábados para que o(a) pregador(a) simplesmente abra a Bíblia e estude uma passagem com a igreja. Não me entenda mal, muitos desses programas são importantes e ajudam no dia a dia da igreja, mas abrir a Bíblia e apresentar o que Deus deixou ali revelado é fundamental para a vida de qualquer igreja, seja grande ou pequena. Como igreja, podemos fazer melhor do que estamos fazendo!

2. O método texto-prova

Um método muito comum no uso das Escrituras, seja no púlpito ou em nossos estudos bíblicos, é o texto-prova. Ele funciona mais ou menos assim: eu tenho uma pergunta ou ideia e vou até o texto sagrado em busca de uma passagem que dê base para a minha suposição ou resposta para minha dúvida. Em vez de deixar a Bíblia falar por si mesma, eu imponho nela minhas pressuposições, anseios e ideias. Vale lembrar que as Escrituras não foram dadas para satisfazer nossa curiosidade. Elas têm o objetivo de nos levar até Cristo. Especulações típicas da nossa mente ocidental não encontram respostas nesse livro prático escrito com a mentalidade oriental. Como alguém bem disse numa ocasião, “a Bíblia tem todas as respostas, só não tem todas as perguntas!” Será que estamos agindo como Esdras, abrindo as Escrituras diante do povo de Deus e deixando que Ele fale através delas, ou estamos impondo nossas ideias ao texto sagrado?

Para saber mais sobre esse assunto, recomendo a entrevista feita pelo Pr. Wendel Lima, da Casa Publicadora Brasileira, com o Pr. Elias Brasil de Souza, diretor do Instituto Pesquisa Bíblica da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia (disponível em https://bit.ly/31twoid), e o artigo do Pr. Isaac Malheiros “Dicta Probantia: Uma Reflexão Sobre o Uso de “Textos-Prova” na Hermenêutica Adventista” (Revista Hermenêutica 14.1 [2014]), disponível em https://bit.ly/33KX5Aw.

3. Dependência de Ellen White

Como adventistas, somos abençoados pelo dom profético manifestado na vida e obra de Ellen White. Seus escritos têm ajudado na caminhada espiritual de muitos adventistas ao longo da nossa história. Quando bem utilizados, esses escritos nos direcionam para as Escrituras e para o personagem central delas: Cristo. No entanto, um risco muito comum em alguns sermões é o uso abusivo dos escritos de Ellen White, a tal ponto que trechos de seus livros são mais lidos do que passagens bíblicas. Algumas pessoas chegam a criar elaboradas teorias a partir de complicados textos de Ellen White. O que a própria Ellen White tem a dizer sobre isso:

No trabalho público não tornem preeminente nem citem o que a irmã White tem escrito, como autoridade para apoiar suas posições. Fazer isso não aumentará a fé nos testemunhos. Apresentem as provas, claras e simples, da Palavra de Deus. Um “Assim diz o Senhor” é o mais forte testemunho que vocês podem apresentar ao povo. Que ninguém seja instruído a olhar para a irmã White, e, sim, ao poderoso Deus, que dá instruções à irmã White” (Carta 11, 1894, citado em Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 33, Grifo acrescentado).

Se a referida autora assim sugeriu, quem somos nós para contrariá-la?

Prezado(a) professor(a) da Escola Sabatina, seja como Esdras: abra as Escrituras diante dos membros da sua unidade. Esse é um momento único na semana para eles. Deixe o texto bíblico falar por si mesmo. Não imponha suas ideias nem gostos pessoais na sua explanação. Assuntos como política, especulações proféticas e teorias de conspiração devem ficar longe do momento sagrado da explicação da Palavra de Deus. Foi isso que levou os moradores de Jerusalém a adorar ao Senhor com o rosto em terra (Ne 8:6).

Conheça o autor dos comentários: Luiz Gustavo Assis serviu como pastor distrital no Rio Grande do Sul por cinco anos e meio. Em 2013, continuou seus estudos acadêmicos nos Estados Unidos. Ele possui um mestrado em arqueologia do Antigo Oriente e línguas semíticas pela Trinity Evangelical Divinity School (Deerfield, IL), e atualmente está no meio do seu programa doutoral em Antigo Testamento no Boston College (Newton, MA). É casado com Marina Garner Assis, que por sua vez faz seu doutorado em filosofia da religião na Boston University. Juntos eles têm um filho, Isaac Garner Assis.