Um documento judaico escrito algumas décadas depois do surgimento da carta aos hebreus, por volta de 100 d.C., contém uma oração: “Tudo isso eu disse diante de Ti, Senhor, porque disseste que foi para nós que criaste este mundo. [...] E agora, ó Senhor, eis que essas nações, consideradas nada, dominam sobre nós e nos devoram. Mas nós, Teu povo, a quem chamaste de primogênito, unigênito, zeloso por Ti e muito querido, fomos entregues em suas mãos” (James H. Charlesworth, org., The Old Testament Pseudepigrapha, v. 1 [Hendrickson Publishers, 1983], p. 536).
Os leitores de Hebreus provavelmente tenham sentido algo semelhante. Se eram filhos de Deus, por que estavam passando por tanto sofrimento?
Paulo escreveu a carta aos hebreus para fortalecer a fé dos crentes em meio às provações. Ele lembrou a eles (e por extensão a nós) que as promessas divinas serão cumpridas por meio de Jesus, que está sentado à direita do Pai e que em breve nos levará para casa. Nesse ínterim, Jesus é o Mediador das bênçãos do Pai para nós. Portanto, precisamos nos apegar à nossa fé até o fim.
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O ponto principal de Hebreus é que Jesus é o Governante, que está sentado à direita do Pai (Hb 8:1). Como Deus, Jesus sempre foi o Soberano do Universo, mas quando Adão e Eva pecaram, Satanás se tornou o príncipe deste mundo (Jo 12:31; 14:30; 16:11). Contudo, Jesus veio e derrotou Satanás na cruz, recuperando o direito de governar sobre aqueles que O aceitam como Salvador (Cl 2:13-15).
Os dois primeiros capítulos de Hebreus focalizam Jesus como Rei.
1. Leia Hebreus 1:5-14. O que é relatado nessa passagem?
Esses versos estão organizados em três seções. Cada uma apresenta um aspecto da cerimônia de entronização do Filho. Primeiro, Deus adota Jesus como Seu Filho real (Hb 1:5). Segundo, Deus apresenta o Filho à corte celestial, que O adora (Hb 1:6, 8) enquanto o Senhor proclama o governo eterno do Filho (Hb 1:8-12). Terceiro, Deus entroniza o Filho – a verdadeira atribuição de poder (Hb 1:13, 14).
Uma das crenças mais importantes do NT é que em Jesus Deus cumpriu Suas promessas a Davi (veja 2Sm 7:8-16; Lc 1:30-33). Jesus nasceu da linhagem de Davi na cidade de Davi (Mt 1:1-16; Lc 2:10, 11). Durante Seu ministério, frequentemente O chamavam de “Filho de Davi”. Ele foi executado sob a acusação de afirmar ser “o Rei dos judeus” (Mt 27:37). Pedro e Paulo pregaram que Jesus ressuscitou da morte em cumprimento das promessas feitas a Davi (At 2:22-36; 13:22-37). E João identificou Jesus como “o Leão da tribo de Judá” (Ap 5:5).
Hebreus, é claro, concorda com esse conceito. Deus cumpriu Suas promessas a Davi em Jesus: deu a Ele um excelente nome (Hb 1:4), O adotou como Seu próprio Filho (Hb 1:5), estabeleceu Seu trono para sempre (Hb 1:8-12) e O assentou à Sua direita (Hb 1:13, 14). Além disso, Jesus conduz o povo ao descanso de Deus (Hb 4) e é o Edificador da casa de Deus (Hb 3:3, 4).
Jesus, então, é o Governante legítimo que faz guerra contra Satanás, o usurpador, por nossa lealdade.
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Um conceito interessante da teologia do Antigo Testamento é que o prometido Rei davídico representaria a nação perante Deus.
2. Compare Êxodo 4:22, 23 com 2 Samuel 7:12-14; Deuteronômio 12:8-10 com 2 Samuel 7:9-11; e Deuteronômio 12:13, 14 com Salmo 132:1-5, 11-14. Que promessas a Israel seriam cumpridas por meio do prometido Rei davídico?
Israel era filho de Deus, e o Senhor lhe daria um lugar em que descansaria do inimigo. Deus também escolheria um lugar na terra de Israel onde Seu nome habitaria. Essas promessas foram transferidas para o prometido Rei davídico, que seria adotado como Filho de Deus, teria descanso de seus inimigos e construiria um templo para Deus em Sião, onde o nome de Deus habitaria. Isso significa que o Senhor cumpriria Suas promessas a Israel por meio desse Rei, que representaria Israel perante Deus.
A inserção de um representante na relação entre Deus e Israel tornou possível a perpetuação de sua relação de aliança. A aliança mosaica exigia a fidelidade de Israel para receber a proteção e as bênçãos divinas (Js 7:1-13). A aliança davídica, no entanto, garantiu as bênçãos da aliança de Deus sobre Israel por meio da fidelidade de uma pessoa, o Rei davídico.
Infelizmente, na maioria dos casos, os reis davídicos não foram fiéis, e Deus não pôde abençoar Israel como queria. O Antigo Testamento (AT) está repleto de exemplos da infidelidade desses reis.
A boa notícia é que Deus enviou Seu Filho para nascer como Filho de Davi, e Ele é perfeitamente fiel. Portanto, Deus é capaz de cumprir Nele todas as promessas que fez ao Seu povo. Quando Deus abençoa o rei, todo o povo compartilha dos benefícios. É por isso que Jesus é o Mediador das bênçãos divinas para nós. Ele é o Mediador na medida em que é o canal pelo qual flui a bênção divina. Nossa esperança final de salvação está somente em Jesus e no que Ele fez por nós.
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3. Compare 1 Samuel 8:19, 20 e Hebreus 2:14-16. O que os israelitas procuravam em um rei e como esses anseios foram satisfeitos em Jesus?
Os israelitas queriam um rei para ser seu juiz e líder na batalha porque se esqueceram de que Deus era seu rei. A restauração completa do governo de Deus sobre Seu povo aconteceu com Jesus. Como nosso Rei, Jesus nos lidera na batalha contra o inimigo.
Hebreus 2:14-16 descreve Jesus como o Campeão dos fracos seres humanos. Cristo enfrenta e derrota o diabo em um combate solo e nos livra da escravidão. Essa descrição lembra a batalha entre Davi e Golias. Depois de ungido rei (1Sm 16), Davi salvou seus irmãos da escravidão ao derrotar Golias. Os termos do combate determinavam que o vencedor escravizaria o povo da outra parte (1Sm 17:8-10). Assim, Davi foi o campeão de Israel. Ele representou a nação.
4. Leia Isaías 42:13 e 59:15-20. Como Yahweh é descrito nessas passagens?
Hebreus 2:14-16 faz referência ao fato de Deus ter livrado Israel em um combate solo. Observe a passagem de Isaías: “Mas assim diz o Senhor: ‘Certamente os presos serão tirados do valente, e o despojo do tirano será resgatado, porque Eu lutarei contra os que lutam contra você e salvarei os seus filhos’”(Is 49:25).
Como cristãos, muitas vezes pensamos que lutamos sozinhos contra Satanás. Quando lemos Efésios 6:10-18, vemos que, sim, estamos em combate com o diabo, mas Deus é nosso Campeão e vai para a batalha antes de nós. Somos parte de Seu exército, e é por isso que temos que usar Sua armadura. Além disso, não lutamos sozinhos. O sujeito em Efésios 6 é plural. Nós, como igreja, pegamos a armadura e lutamos juntos atrás de nosso Campeão, o próprio Deus.
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Hebreus 5–7 apresenta uma segunda função de Jesus. Ele é nosso Sumo Sacerdote. O autor explica que isso cumpre uma promessa que Deus havia feito ao prometido Rei davídico, de que Ele seria “Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (Sl 110:4, conforme citado em Hb 5:5, 6).
5. Leia Levítico 1:1-9; 10:8-11; Malaquias 2:7; Números 6:22-26 e Hebreus 5:1-4. Quais eram as funções que o sacerdote cumpria?
Os sacerdotes eram designados para representar os seres humanos e mediar seu relacionamento com Deus e com o que Lhe pertence. Os sacerdotes eram mediadores. Isso acontecia em qualquer sistema de sacerdócio, judeu, grego, romano ou outro. Os sacerdotes tornavam possível nosso relacionamento com Deus, e o que eles faziam tinha por objetivo facilitar a relação entre o povo e o Senhor.Eles ofereciam sacrifícios em nome do povo, visto que o povo não podia trazer esses sacrifícios a Deus pessoalmente. Os sacerdotes sabiam como oferecer um sacrifício “aceitável” para que as ofertas fossem agradáveis a Deus ou para que proporcionassem purificação e perdão.
Os sacerdotes também ensinavam a lei de Deus ao povo. Eles eram especialistas nos mandamentos divinos e responsáveis por explicá- los e aplicá-los.
Por fim, também tinham a responsabilidade de abençoar em nome de Yahweh. Por meio deles, Deus mediou Sua boa vontade e propósito benéfico para o povo.
No entanto, em 1 Pedro 2:9, vemos que nós, crentes em Jesus, somos chamados de “sacerdócio real”. Essa função implica privilégios incríveis. Os sacerdotes podiam se aproximar de Deus no santuário. No presente, podemos nos aproximar de Deus por meio da oração com confiança (Hb 4:14-16; 10:19-23). Existem também responsabilidades importantes. Devemos colaborar com Deus em Sua obra de salvar o mundo. Ele quer que ensinemos e expliquemos Suas leis e preceitos aos outros e que ofereçamos sacrifícios de louvor e boas obras que O agradem. Que privilégio e que responsabilidade!
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Hebreus 8–10 focaliza a obra de Jesus como Mediador de uma nova aliança. A antiga era simplesmente um prenúncio das coisas boas que viriam. Suas instituições foram projetadas para prefigurar e ilustrar a obra que Jesus faria no futuro. Assim, os sacerdotes prefiguravam Jesus, mas eram mortais e pecadores, incapazes de oferecer a perfeição que Jesus ofereceu. E eles ministravam em um santuário que era “figura e sombra” (Hb 8:5) do santuário celestial.
Jesus ministra no verdadeiro santuário e nos dá acesso a Deus. Os sacrifícios de animais prefiguravam a morte de Jesus como sacrifício em nosso favor, mas o sangue deles não podia limpar a consciência. Contudo, a morte de Cristo purifica a consciência para que possamos nos aproximar de Deus com ousadia (Hb 10:19-22).
6. Leia Hebreus 8:8-12. O que Deus prometeu na nova aliança?
Ao nomear Jesus como nosso Sumo Sacerdote, o Pai inaugurou uma nova aliança que cumpre o que a antiga podia apenas antecipar. A nova aliança oferece o que somente um Sacerdote humano-divino perfeito e eterno é capaz de entregar. Esse Sumo Sacerdote não apenas explica a lei divina, mas a implanta no coração. Ele apresenta um sacrifício que nos traz perdão, nos limpa e transforma o nosso coração de pedra em um coração de carne (Ez 36:26). Ele de fato nos recria (2Co 5:17). Esse Sacerdote nos abençoa da maneira mais incrível, dando-nos acesso à presença do próprio Pai.
Deus projetou a antiga aliança a fim de apontar para a obra de Jesus no futuro. Era linda em seu modelo e objetivo, porém alguns não entenderam seu propósito. Por não querer deixar os símbolos, as sombras, e abraçar as verdades indicadas por eles, perderam os benefícios maravilhosos que o ministério de Jesus lhes oferecia.
“Cristo era o fundamento e a vida do templo. Os cultos realizados nele simbolizavam o sacrifício do Filho de Deus. O sacerdócio foi estabelecido para representar o caráter mediador e a obra de Cristo. Todo o plano do culto sacrifical era uma representação da morte do Salvador para redimir o mundo. Não haveria eficácia nessas ofertas quando se consumasse o grande acontecimento para o qual haviam apontado por séculos” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 165).
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Apesar de todas as verdades boas e promissoras contidas no livro de Hebreus, há também uma série de advertências cujo clímax está nos capítulos 10–12.
Essas seções têm pelo menos dois elementos em comum. Primeiro, comparam a geração do deserto aos leitores de Hebreus. Segundo, nos exortam a ter fé.
A geração do deserto viu o poder divino por meio de sinais e maravilhas na libertação do Egito. Também ouviu Deus falar do Monte Sinai os Dez Mandamentos, viu a coluna de fogo à noite e a nuvem protetora durante o dia, comeu o maná, o pão do Céu. Também bebeu água que brotava das rochas onde quer que acampasse. Porém, quando chegou à fronteira da terra prometida, não confiou em Deus. Ela carecia de fé, que é a essência do que Deus requer. “Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11:6).
Segundo Paulo, como a geração do deserto, estamos na fronteira da terra prometida (Hb 10:37-39). No entanto, nossos privilégios e responsabilidades são maiores. Não ouvimos Deus falar no Sinai, mas vimos nas Escrituras uma maior revelação divina no Monte Sião: Deus em carne (Hb 12:18-24). Teremos fé? O autor nos incentiva a seguir o exemplo de uma lista de personagens, que culmina com Jesus.
Perguntas para consideração
1. Jesus é o nosso Campeão, que vai antes de nós na batalha contra o diabo. Como podemos lutar unidos atrás do nosso Campeão? O que impede essa unidade? De que maneira Satanás enfraquece a igreja? Como ele enfraqueceu Israel no passado?
2. Somos uma comunidade de sacerdotes sob a direção divina. De que forma sua igreja local pode oferecer melhores sacrifícios de louvor e boas obras a Deus?
3. Nossa situação é semelhante à da geração do deserto pouco antes de tomar posse da terra prometida? Que lições podemos aprender com as semelhanças?
Respostas e atividades da semana: 1. Que Deus adotou Jesus como Seu Filho, estabeleceu Seu trono para sempre e O assentou à Sua direita 2. O Rei prometido seria adotado como Filho de Deus, teria descanso de Seus inimigos e construiria um templo para Deus em Sião. 3. Queriam um rei que os governasse e saísse adiante deles nas suas guerras. Jesus nos socorreu, nos livrou da morte eterna e venceu o diabo. 4. Como um Guerreiro que luta para fazer justiça e vingar Seus filhos. 5. Oferecia sacrifícios pelos pecados tanto do povo como os seus próprios; representava o povo perante Deus; ensinava a Lei ao povo; abençoava o povo em nome do Senhor. 6. Prometeu imprimir Sua lei na nossa mente e a inscrever no nosso coração, bem como usar de misericórdia para conosco e esquecer nossos pecados.
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TEXTOS-CHAVES: Hb 1:5-14; Lc 1:30-33; Sl 132:1-5; Hb 2:14-16; 5:1-4; 1Pe 2:9; Hb 8:8-12
ESBOÇO
Como observamos na semana passada, os primeiros cristãos do NT leram Hebreus como uma carta do apóstolo Paulo. Estritamente falando, porém, o escritor da carta aparenta ser anônimo. Isso gerou um debate que deu origem a pelo menos 13 possíveis candidatos à autoria, como Lucas, Barnabé, Judas, Estêvão, Priscila e Áquila, Apolo ou mesmo Maria, a mãe de Jesus. Quanto a isso, o que se pode inferir com segurança são quatro fatos:
Em primeiro lugar, o autor deve ter sido bem instruído. Hebreus tem, de longe, o melhor grego do NT.
Segundo, o autor estava familiarizado com os métodos judaicos de interpretação das Escrituras, como gezerah shavah (“argumento por analogia”) e outras técnicas semelhantes.
Terceiro, o autor conhecia bem as Escrituras Judaicas. Hebreus tem o uso mais extenso de citações do Antigo Testamento (AT).
Quarto, o autor conhecia Timóteo (Hb 13:23). Todos esses fatos falam em favor, e não contra, a autoria paulina. Certamente, o autor optou por permanecer anônimo por motivos não revelados. O anonimato pode até sugerir que sua mensagem seja mais importante do que sua identidade. Ao mesmo tempo, seríamos negligentes se deixássemos de reconhecer que Ellen G. White atesta a autoria paulina do livro de Hebreus. Seguindo em frente com fé nessa revelação divina, ao longo das lições iremos nos referir ao autor como Paulo.
Temas da lição
A lição da semana enfatiza dois temas: O primeiro é “Cristo nosso Rei”, e o segundo é “Cristo nosso Mediador”.
COMENTÁRIO
Cristo nosso Rei
O primeiro capítulo de Hebreus pode ser resumido em uma curta declaração bíblica: Cristo é “superior aos anjos” (veja Hb 1:4). O segundo capítulo pode ser resumido nesta declaração: Cristo Se tornou “menor do que os anjos” por um tempo (veja Hb 2:9). O que queremos responder em nosso estudo é: O que torna Jesus superior aos anjos e O eleva à posição de Rei?
“Antigamente, Deus falou, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, mas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também fez o Universo” (Hb 1:1, 2). Paulo quis mostrar ao seu público, e a nós, que Deus falou e ainda fala. Ele falou em diferentes períodos de tempo “antigamente” e fala “nestes últimos dias”. Sua mensagem tem diferentes destinatários: os “pais” e “nós”. Ele fala por meio de diferentes agentes: os “profetas” e o “Filho”. Deus fala “de muitas maneiras”.
Quais são algumas de Suas vias de comunicação? Deus falou face a face com Adão e Eva (Gn 3); falou com Moisés no meio de uma sarça ardente, algo que chamamos de teofania, uma revelação divina (Êx 3:2-6); a Balaão por meio de um jumento (Nm 22:28); ao menino Samuel, chamando-o pelo nome (1Sm 3:10); a Elias em voz mansa e suave (1Rs 19:12); a Isaías por meio de uma visão no templo (Is 6:1-9); e a Oseias por meio de suas circunstâncias familiares (Os 1:2). Todos esses modos de comunicação têm algo em comum: são incompletos.
Sua declaração final e culminante é apresentada “nestes últimos dias”, quando Ele fala por meio de Seu “Filho”. Deus não falou apenas por meio das palavras de Jesus; mas também por meio das ações Dele e do Seu caráter. A revelação divina é progressiva, porém não é de verdadeiro para mais verdadeiro, de maduro para mais maduro. Em vez disso, é um movimento para a frente e contínuo em Sua revelação de Si mesmo à humanidade. Ao falar por meio das palavras e ações de Jesus, o próprio Deus é quem fala.
Imediatamente após a menção do Filho, Paulo fez sete afirmações sobre Ele (Hb 1:2-4) que O elevam muito acima de qualquer anjo. Primeiro, Cristo é constituído “Herdeiro de todas as coisas” (Hb 1:2). Se Ele é o Herdeiro principal, Seus seguidores serão coerdeiros com Ele e “hão de herdar a salvação” (Hb 1:14). Com base no tema da herança, os primeiros cristãos afirmaram que Cristo, por meio de Sua ressurreição e exaltação, recebeu uma herança celestial compartilhada com Seus seguidores. “O vencedor herdará estas coisas” (Ap 21:7). Da mesma forma, a Bíblia afirma que “os injustos não herdarão o Reino de Deus” (1Co 6:9, 10).
Em segundo lugar, Cristo foi o Agente da criação do Pai “pelo qual também fez o Universo” (Hb 1:2). Cristo, como Herdeiro, não é apenas o Agente do tempo do fim (escatológico), por meio de quem Deus fala nestes últimos dias, mas também o Agente da criação (protológico). A função protológica do Filho aponta para Sua vitória escatológica. João confirma isso implicitamente ao dizer que “todas as coisas foram feitas por Ele, e, sem Ele, nada do que foi feito se fez” (Jo 1:3).
Terceiro, Cristo “é o resplendor da glória de Deus” (Hb 1:3). Algumas versões da Bíblia preferem a tradução “o brilho da glória de Deus” (NTLH). Além disso, Cristo é “a expressão exata do Seu Ser” (Hb 1:3). O termo grego para “expressão exata” [charact?r] indica uma marca impressa em um objeto, especialmente em moedas. Ambas as descrições de Jesus como o “brilho” de Deus e como a “expressão exata” mostram que Ele é a representação completa e adequada do divino. Os dois compartilham a mesma “expressão do ser”. O que Paulo transmite nesse texto é sinônimo do que Jesus testifica: “Quem vê a Mim vê o Pai” (Jo 14:9). Não há melhor revelador de Deus do que Jesus Cristo. Se quisermos saber quem é Deus, devemos conhecer Jesus.
Quarto, “sustentando todas as coisas pela Sua palavra poderosa” (Hb 1:3). Cristo não apenas falou e coisas vieram à existência, mas Ele sustenta as coisas em existência por Sua palavra poderosa.
Quinto, Cristo fez “a purificação dos pecados” (Hb 1:3). Aquele que foi o instrumento da atividade criativa de Deus é também o instrumento de Sua atividade salvífica, purificando o arrependido de seus pecados. O autossacrifício de Cristo purifica “nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!” (Hb 9:14).
Sexto, Cristo, depois de realizar Sua obra expiatória, “assentou-Se à direita da Majestade, nas alturas” (Hb 1:3). Essa posição é uma alusão direta ao Salmo 110:1, citado no final do primeiro capítulo: “Sente-se à Minha direita, até que Eu ponha os Seus inimigos por estrado dos Seus pés” (Hb 1:13). Jesus disse ao Sinédrio em Seu julgamento estas mesmas palavras: “verão o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso” (Mt 26:64).
Sétimo, Cristo Se tornou “tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles” (Hb 1:4). Quanto Cristo é superior em relação aos anjos? Essa pergunta é respondida na sequência de citações seguintes (ver Hb 1:5-14). Cristo merece adoração (Hb 1:6), ao contrário dos santos anjos, que não aceitam ser adorados (Ap 19:10; 22:8, 9); Cristo tem um trono e um cetro (Hb 1:8); Ele foi ungido Rei (Hb 1:9); criou os céus e a Terra (Hb 1:10) e está assentado à direita de Deus (Hb 1:13). A frase “Tendo Se tornado tão superior aos anjos”, nesse contexto, aponta para a cerimônia de entronização, conforme a lição de domingo.
Em resumo, o que torna Cristo superior aos anjos? Deus falou de muitas e diferentes maneiras aos pais no passado, mas, nestes últimos dias, Ele fala por meio do Filho, que Se tornou Herdeiro de todas as coisas, é o Criador de todas as coisas, é o reflexo e a marca do próprio Deus, sustenta todas as coisas, fez a purificação dos pecados e sentou-Se à destra de Deus. Assim, Cristo é exaltado acima dos anjos e é superior a eles, que são espíritos ministradores a serviço daqueles que herdam a salvação (Hb 1:14). Além disso, Ele é adorado em Seu trono à direita de Deus. Cristo é nosso Rei.
Cristo nosso Mediador
Um mediador é alguém que se interpõe entre duas partes para chegar a um acordo ou estabelecer um relacionamento. No judaísmo, Moisés é o mediador principal da aliança do Sinai (Gl 3:19, 20). Nas epístolas pastorais, Paulo disse que há “um só Mediador entre Deus e a humanidade, Cristo Jesus” (1Tm 2:5). Hebreus afirmou: Jesus “é também Mediador de superior aliança” (Hb 8:6), ou “Mediador da nova aliança” (Hb 9:15; 12:24). Surgem, então, duas perguntas: (1) O que é essa aliança em Hebreus? (2) Por que a nova aliança é melhor?
Sobre a primeira pergunta, a aliança em Hebreus se refere a um acordo vinculante, um acordo entre suas partes. Paulo falou sobre a aliança antiquada e envelhecida (Hb 8:13) e a nova ou superior aliança (Hb 7:22; 8:6). Com a primeira, Deus estabeleceu um sistema de sacrifícios, sacerdotes levitas e cerimônias (Hb 5:1-4). No entanto, a perfeição moral não poderia ser alcançada por meio desse sacerdócio, pois ele era fraco e ineficaz (Hb 7:11, 18). Por que a perfeição moral não podia ser alcançada? Porque o sangue de touros e bodes não podia tirar os pecados humanos (Hb 10:4). Por que a primeira aliança era fraca e ineficaz? Porque os sacerdotes eram mortais e, portanto, finitos (Hb 7:23). Além disso, os sacerdotes precisavam apresentar sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados antes de poderem sacrificar pelos pecados do povo ao qual representavam (Hb 5:3). Assim, a primeira aliança era falha e se tornou obsoleta com a chegada do sacrifício superior de Cristo e de Seu sacerdócio.
Sobre a segunda pergunta: na segunda aliança, Deus não escolheu um mero sacerdote mortal, mas Aquele que vive para sempre (Hb 7:24). Não havia mais ofertas de touros e bodes que nunca poderiam tirar os pecados do povo. Cristo Se ofereceu uma vez por todas (Hb 7:27; 9:14; 10:12). Ele veio para remover o pecado por meio de Seu próprio sacrifício (Hb 9:26) e limpar a consciência das obras mortas (Hb 9:14). Essa é a razão pela qual a segunda aliança é qualitativamente superior. Cristo é o Mediador dessa aliança superior, nova e melhor. Cristo é nosso Mediador.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
Perguntas para reflexão
1. Se Deus falou no passado, mas também fala no presente, como Ele fala com você? Como você distingue Sua voz de outras “vozes” que competem por sua atenção?
2. Se somos coerdeiros do reino de Deus com Cristo, como devemos avaliar as coisas transitórias deste mundo?
3. Se Cristo sustenta todas as coisas com Sua palavra poderosa, como Ele tem sustentado você em circunstâncias difíceis?
4. Ouça o hino “De Jesus a Doce Voz” (Hinário Adventista do Sétimo Dia, 541). Preste atenção especialmente ao refrão e reflita sobre o que realmente significa ter Cristo como nosso Mediador.
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º trimestre de 2022
Tema geral: Hebreus: mensagem para os últimos dias
Lição 2 – 1º a 7 de janeiro de 2022
A mensagem de Hebreus
Autor: Adriani Milli Rodrigues
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega
Você já conversou com alguém desanimado? Em geral ficamos incomodados com a situação emocional da pessoa e tentamos levar motivação ao coração aflito, não é mesmo? Mas como você encoraja um rosto abatido? Que tipo de mensagem você usa para isso?
A lição anterior destacou que, dada à condição da audiência imediata de Hebreus, o objetivo da carta é motivar os crentes à perseverança da fé diante do desafio assolador das perseguições. Mas, para atingir esse objetivo, qual seria o conteúdo primordial da epístola? Que tema seria capaz de combater o crescente risco de desânimo dos crentes? A essência da mensagem de Hebreus pode ser resumida em uma única palavra: Jesus. A profundidade com a qual a epístola elabora seu ensino sobre Jesus Cristo, especialmente à luz da perspectiva do Antigo Testamento, nutre a fé dos crentes e desperta a esperança deles em meio às tribulações.
Ao passo que a mensagem de Hebreus contém uma profunda construção doutrinária sobre a pessoa e a obra de Jesus Cristo, a epístola não é apenas um tratado teórico. Antes, essa mensagem tem um propósito prático. O apóstolo considera que ele escreveu o conteúdo da carta “de forma bem resumida” e que o que foi escrito é, de fato, uma “palavra de exortação” que precisa ser ouvida pacientemente pelos crentes (Hb 13:22).
Portanto, a mensagem de Hebreus é eminentemente pastoral, que intencionalmente necessita se fundamentar em profundas ideias doutrinárias e teológicas sobre Jesus Cristo. Em outras palavras, a carta aos Hebreus nos ensina que a mensagem pastoral prática não pode existir sem um sólido fundamento teológico e que, ao mesmo tempo, a elaboração teológica não pode existir como um fim em si mesma, mas com um propósito pastoral prático para abençoar as pessoas.
A expressão “palavra de exortação”, ou de “ânimo” (NTLH), que também traduz adequadamente a noção de encorajamento do termo grego parákl?sis, de Hebreus 13:22, é utilizada no Novo Testamento para se referir a um sermão (At 13:15; veja também 1Tm 4:13). O vocábulo parákl?sis aparece 29 vezes no Novo Testamento e transmite a ideia de exortação, encorajamento, apelo, consolação, conforto. O maior número de ocorrências se encontra em 2 Coríntios, onde o termo é usado 11 vezes (1:3-7; 7:4, 7, 13; 8:4, 17). Ele também aparece em Lucas (2:25; 6:24), Atos (4:36; 9:31; 13:15; 15:31), Romanos (12:8; 15:4, 5), 1 Coríntios (14:3), Filipenses (2:1), 1 Tessalonicenses (2:3), 2 Tessalonicenses (2:16), 1 Timóteo (4:13) e Filemon (7). Em Hebreus, parákl?sis ocorre 3 vezes (6:18; 12:5; 13:22), sendo que seu uso em 13:22 é bastante significativo, pois qualifica o conteúdo da epístola em sua totalidade como uma mensagem de encorajamento.
De acordo com Hebreus 8:1, a mensagem da carta possui um ponto principal, que funciona como uma síntese fundamental do que foi exposto até esse verso, e esta ideia principal da mensagem se refere a Cristo: “Ora, o essencial das coisas que estamos dizendo é que temos tal Sumo Sacerdote, que Se assentou à direita do trono da Majestade nos Céus.” O termo grego kefálion, que significa ponto principal, é traduzido como “o essencial” (NAA, ARA). A NVI traduz o início desse verso da seguinte forma: “O mais importante do que temos dito é […]”. Já a Bíblia de Jerusalém traduz assim: “O tema mais importante da nossa exposição é este […]”. À luz desse verso, podemos dizer que o ponto essencial, ou de maior importância, da mensagem de Hebreus se concentra em Jesus Cristo, particularmente o Cristo que hoje está no Céu. Ele é o princípio de todo encorajamento, a razão e a fonte da nossa perseverança em meio às dificuldades da vida.
Existem duas qualificações cristológicas essenciais que são destacadas em Hebreus 8:1. A primeira é explicitamente declarada: Jesus Cristo é nosso Sumo Sacerdote. A segunda não menciona explicitamente o termo específico, mas sua descrição é suficientemente clara: Jesus é Rei, visto que Ele “Se assentou à direita do trono da Majestade nos Céus”. Portanto, Sumo Sacerdote e Rei são as duas qualificações principais de Jesus Cristo na mensagem de encorajamento de Hebreus.
A estrutura literária do livro de Hebreus é bastante útil para a visualização dessas duas qualificações cristológicas. Diferente de outras epístolas, que tendem a realizar uma discussão teológioco-doutrinária na primeira parte da carta para depois, na segunda parte, traçar implicações práticas para a vida cristã, Hebreus habilidosamente intercala em vários momentos seções de exposição doutrinária com apelos pastorais práticos. Mais especificamente, os dois temas primordiais de exposição doutrinária são a superioridade real de Jesus Cristo (1:5-14; 2:5-18) e a Sua superioridade Sumo Sacerdotal (5:1-10; 7:1–10:18).
Na elaboração desses dois temas cristológicos, vários conceitos do Antigo Testamento são particularmente significativos. Porções sobre o reino davídico (1:5-14) são lidas de um ponto de vista messiânico no contexto da entronização celestial de Cristo, por ocasião de Sua ascensão. A figura de Melquisedeque, especialmente no Salmo 110:4, é usada, dentre vários pontos de comparação tipológica, para a compreensão da combinação das funções de Rei e Sacerdote no Cristo exaltado (5:1-10; 7:1-28). Nos capítulos 8–10 de Hebreus, as discussões tipológicas sobre santuário e ofertas sacrificais realizadas no contexto do sacerdócio levítico são fundamentais para a apresentação de noções acerca da única oferta de Cristo e Sua mediação no santuário celestial. Aliás, a imagem da mediação de Cristo como Rei-Sacerdote celestial é delineada a partir de reflexões tipológicas acerca da mediação de Moisés no Pentateuco e entendida à luz da inauguração da nova aliança, conforme vislumbrada em Jeremias 31:31-34. Enquanto esses conceitos são brevemente mencionados aqui, eles serão explicados em mais detalhes em lições futuras, pois constituem a essência da exposição doutrinária de Hebreus como um todo.
Curiosamente, embora a ênfase primordial de Hebreus acerca do reinado e sacerdócio de Cristo seja a sua realidade celestial, a epístola também ressalta a situação prévia de Sua encarnação e sofrimentos terrestres, que são absolutamente necessários para a adequada compreensão de Sua exaltação celestial. Em outras palavras, Sua vitória celestial não é distante da realidade terrestre, mas teve início no que a lição de terça-feira chama de “combate solo”, tendo em vista Sua vida humana perfeita (4:14-16), Sua morte sacrifical (2:14-16) e Sua vitória na ressurreição, que recebe as honras confirmatórias na ascensão celestial.
A vitória de Cristo oferece um exemplo para a nossa vitória, resguardadas as devidas proporções da nossa própria esfera, e constitui, sobretudo, a fonte da nossa vitória, uma vez que Ele atua como nosso Mediador celestial como Rei-Sacerdote. Você deseja vencer por meio Dele? Essa é a essência da mensagem de Hebreus.
Conheça o autor dos comentários para a Lição deste trimestre: Adriani Milli Rodrigues é o coordenador da graduação em Teologia no Centro Universitário Adventista de São Paulo. Possui doutorado (Ph.D) em Teologia Sistemática na Andrews University (EUA) e mestrado em Ciências da Religião pela UMESP. Natural do Espírito Santo, ele trabalha no Unasp desde 2007. É casado com a professora Ellen e tem uma filha, a Sarah, de 7 anos.
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