Lição 2
02 a 08 de abril
A queda
Sábado à tarde
Ano Bíblico: 2Sm 5-7
Verso para memorizar: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o Descendente dela. Este lhe ferirá a cabeça, e você Lhe ferirá o calcanhar” (Gn 3:15).
Leituras da semana: Gn 3; 2Co 11:3; Ap 12:7-9; Jo 8:44; Rm 16:20; Hb 2:14; 1Tm 2:14, 15

Em meio a tudo o que Deus deu aos nossos primeiros pais no Éden, veio também um aviso: “De toda árvore do jardim você pode comer livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal você não deve comer; porque, no dia em que dela comer, você certamente morrerá” (Gn 2:16, 17). Esse aviso contra comer da árvore do conhecimento do bem e do mal mostra que, embora Adão e Eva devessem conhecer o bem, não deviam conhecer o mal. Certamente, podemos entender o porquê, não é mesmo?

A ameaça de morte associada à advertência sobre a desobediência (Gn 2:17) se cumpriria: eles morreriam (Gn 3:19). Além de serem proibidos de comer da árvore, também foram expulsos do jardim do Éden (Gn 3:24) e, portanto, não tinham mais acesso ao que poderia ter-lhes dado a vida eterna como pecadores (Gn 3:22).

No entanto, em meio a essa tragédia, veio a esperança apresentada em Gênesis 3:15, chamada de protoevangelho, ou “a primeira promessa do evangelho” encontrada na Bíblia, a primeira vez que os humanos ouviram que, apesar da queda, Deus criou uma saída para todos nós.

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Domingo, 03 de abril
Ano Bíblico: 2Sm 8-10
A serpente

1. Leia Gênesis 3:1; 2 Coríntios 11:3; Apocalipse 12:7-9. Quem era a serpente e como esta enganou Eva?

O texto começa com “a serpente”. A sintaxe da frase sugere ênfase: Além disso, “a serpente” tem o artigo definido, indicando que se trata de uma figura bem conhecida, como se o leitor já devesse saber quem é. Assim, a existência desse ser é afirmada desde a primeira palavra do capítulo.

As Escrituras identificam a serpente como o inimigo de Deus (Is 27:1) e explicitamente a chamam de “diabo e Satanás” (Ap 12:9). Da mesma forma, no antigo Oriente Próximo, a serpente personificava o poder do mal.

“Para realizar sua obra sem que fosse percebido, Satanás preferiu fazer uso da serpente como médium, um disfarce bem adequado ao seu propósito de enganar. Naquele tempo, a serpente era uma das criaturas mais astutas e belas da Terra. Tinha asas e, enquanto voava, apresentava um esplendor deslumbrante, tendo a cor e o brilho de ouro polido” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 29 [53]).Ao falar sobre o diabo, em qualquer forma que apareça, a Bíblia não traz uma simples metáfora. Satanás é descrito como um ser literal e não apenas um símbolo retórico ou um princípio abstrato para representar o mal ou o lado tenebroso da humanidade.A serpente não se apresentou como inimiga de Deus, ao contrário, se referiu às palavras de Deus, as quais ela repetiu e parecia apoiar. Ou seja, desde o início, podemos ver que Satanás gosta de citar Deus e, como se verá mais tarde, até cita as próprias Escrituras (Mt 4:6).Observe também que a serpente não discutiu imediatamente com a mulher, mas fez uma pergunta indicando que acreditava no que o Senhor disse. Afinal, perguntou: “É verdade que Deus disse [...]” (Gn 3:1)? Assim, desde o início, podemos ver o quanto esse ser era astuto e enganador.

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Se Satanás foi capaz de enganar uma pessoa sem pecado no Éden, quanto mais vulneráveis somos nós? Qual é a nossa melhor defesa contra seus enganos?


Segunda-feira, 04 de abril
Ano Bíblico: 2Sm 18, 19
O fruto proibido

2. Leia Gênesis 2:16, 17 e 3:1-6 (ver também Jo 8:44). Compare as palavras da ordem divina a Adão com as palavras da serpente à mulher. Quais são as diferenças entre as falas e qual é o significado dessas diferenças?

Observe os paralelos entre a conversa de Deus com Adão (Gn 2:16, 17) e a conversa de Eva com a serpente. É como se a serpente tivesse substituído Deus e soubesse ainda mais do que Ele. A princípio, ela apenas fez uma pergunta, dando a entender que a mulher talvez tivesse entendido mal a ordem divina; porém, em seguida, Satanás questionou abertamente as intenções de Deus e até O contradisse.

O ataque de Satanás envolvia duas questões: a morte e o conhecimento do bem e do mal. Enquanto Deus afirmou de maneira clara e enfática que a morte deles seria certa (Gn 2:17), Satanás disse que, ao contrário, não morreriam, sugerindo que os humanos eram imortais (Gn 3:4). Enquanto Deus proibiu Adão e Eva de comer do fruto, Satanás os encorajou a fazê- lo, pois, comendo-o, seriam como Deus (Gn 3:5).Os dois argumentos de Satanás, imortalidade e semelhança com Deus, convenceram Eva a comer o fruto. É preocupante o fato de que tão logo a mulher decidiu desobedecer a Deus e comer o fruto proibido, ela se comportou como se Deus não estivesse mais presente e tivesse sido substituído por ela mesma. O texto bíblico alude a essa mudança de personalidade. Na avaliação de Eva sobre o fruto proibido, a Bíblia usou a linguagem de Deus: “vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer” (Gn 3:6). Isso lembra a avaliação de Deus sobre Sua criação: “e viu [...] que era boa” (Gn 1:4, ARC, etc.).Essas duas tentações, a de ser imortal e a de ser como Deus, estão na raiz da ideia de imortalidade das antigas religiões egípcia e grega. O desejo de imortalidade, que acreditavam ser um atributo divino, obrigava essas pessoas a buscar a condição divina a fim de adquirir a imortalidade. Sorrateiramente, essa forma de pensar se infiltrou nas culturas judaico-cristãs e deu origem à crença na imortalidade da alma, que ainda subsiste em muitas igrejas.

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Algumas crenças ensinam que há algo inerentemente imortal em nós. Nossa compreensão do estado dos mortos nos protege contra esse engano perigoso?


Terça-feira, 05 de abril
Ano Bíblico: 2Sm 20, 21
Escondendo-se de Deus

3. Leia Gênesis 3:7-13. Por que Adão e Eva sentiram a necessidade de se esconder de Deus? Por que Deus perguntou “Onde você está?” Como Adão e Eva procuraram justificar seu comportamento?

Depois de pecar, Adão e Eva se sentiram nus, pois tinham perdido suas vestes de glória, que refletiam a presença de Deus (ver Sl 8:5, compare com Sl 104:1, 2). A imagem divina foi afetada pelo pecado. O verbo “fazer”, na frase “fizeram cintas para si” (Gn 3:7), era até então aplicado apenas a Deus, o Criador (Gn 1:7, 16, 25, etc.). É como se eles substituíssem o Senhor ao tentar encobrir seus pecados, um ato que Paulo denuncia como justiça pelas obras (Gl 2:16).

Ao Se aproximar, Deus perguntou: “Onde você está?” (Gn 3:9), o mesmo tipo de pergunta que fez a Caim (Gn 4:9). Claro, Deus sabia as respostas. Suas perguntas foram feitas em benefício dos culpados, para ajudá-los a perceber o que haviam feito e, ao mesmo tempo, levá-los ao arrependimento e à salvação. A partir do momento em que os humanos pecaram, o Senhor esteve trabalhando para sua salvação e redenção.

Todo o cenário reflete a ideia do juízo investigativo, que começa com o Juiz, que interroga o culpado (Gn 3:9) a fim de prepará-lo para a sentença (Gn 3:14-19). Mas Ele também faz isso para levar ao arrependimento, que conduzirá à salvação (Gn 3:15).

No início, Adão e Eva tentaram fugir da acusação, procurando culpar um ao outro, atitude comum entre pecadores. À pergunta de Deus, Adão respondeu que foi a mulher que o Senhor lhe tinha dado (Gn 3:12) que o havia levado a fazer isso. Foi culpa dela (e, implicitamente, de Deus também), não dele.

Eva respondeu que foi a serpente que a enganou. O verbo hebraico nasha’, “enganar” (Gn 3:13), significa dar às pessoas falsas esperanças, levando- as a acreditar que estão fazendo a coisa certa (2Rs 19:10; Is 37:10; Jr 49:16).

Adão culpou a mulher, dizendo que ela lhe deu o fruto, e Eva culpou a serpente, dizendo que ela a enganou. Porém, os dois eram culpados.

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Por que é tão fácil cair na mesma armadilha, de tentar culpar outra pessoa pelo próprio erro? Será que temos coragem de permitir que a graça nos leve à confissão do erro?


Quarta-feira, 06 de abril
Ano Bíblico: 2Sm 15-17
O destino da serpente

4. “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o Descendente dela. Este lhe ferirá a cabeça, e você Lhe ferirá o calcanhar” (Gn 3:15). O que significam as palavras do Senhor à serpente, e que esperança está implícita nesse verso?

Deus começou Seu julgamento com a serpente, pois foi ela que deu início a todo o drama. A serpente foi o único ser amaldiçoado nessa narrativa. Há uma espécie de “reversão” da criação. Enquanto a criação levou à vida, à apreciação do bem e das bênçãos, o juízo levou à morte, ao mal e às maldições, mas também à esperança e à promessa de salvação. Junto ao quadro sombrio da serpente subjugada comendo pó (Gn 3:14) resplandeceu a esperança da salvação da humanidade, que aparece em forma de profecia. Mesmo antes das condenações de Adão e Eva, o Senhor lhes deu esperança da redenção (Gn 3:15). Sim, eles pecaram e sofreriam e morreriam por causa disso. Contudo, existe esperança de salvação.

5. Compare Gênesis 3:15 com Romanos 16:20, Hebreus 2:14 e Apocalipse 12:17. Como o plano da salvação, bem como o grande conflito, é revelado nessas passagens?

Observe os paralelos entre Gênesis 3:15 e Apocalipse 12:17: o dragão (serpente), enfurecido (inimizade); a descendência (semente); a mulher no Éden, a mulher em Apocalipse 12:17. A batalha (o grande conflito) que se moveu para o Éden, com a queda, continuará até o fim dos tempos. No entanto, a promessa da derrota de Satanás já foi feita no Éden: sua cabeça seria esmagada, tema mais explicitamente revelado no Apocalipse, que descreve sua derrota final (Ap 20:10). Ou seja, desde o início, a humanidade recebeu a esperança de que haveria uma saída para a terrível confusão advinda do conhecimento do mal, esperança de que todos nós podemos compartilhar.

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Por que é tão reconfortante observar que, no próprio Éden, onde o pecado e o mal tiveram início na Terra, o Senhor começou a revelar o plano da salvação?


Quinta-feira, 07 de abril
Ano Bíblico: 2Sm 18, 19
Destino humano

6. Leia Gênesis 3:15-24. Como resultado da queda, o que aconteceu com Adão e Eva?

Embora o juízo divino sobre a serpente seja explicitamente identificado como maldição (Gn 3:14), não acontece o mesmo quanto ao juízo divino sobre a mulher e o homem. A única vez que a palavra “maldita” é usada novamente se aplica apenas à “terra”, o solo (Gn 3:17). Ou seja, Deus tinha outros planos para o homem e a mulher. Eles receberam uma esperança que não foi oferecida à serpente.

Ainda que vivessem verdadeiramente no paraíso e não tivessem absolutamente nenhuma razão para duvidar do Criador, de Suas palavras ou de Seu amor por eles, nossos primeiros pais desobedeceram a Deus de modo aberto e flagrante. Entretanto, como qualquer pai amoroso, o Senhor queria apenas o bem para eles, não o mal. Porém, visto que conheciam o mal, Deus faria tudo o que pudesse para salvá-los dele. Assim, mesmo em meio a esses juízos, a esperança não se perdeu para eles.

Visto que o pecado da mulher ocorreu devido à sua associação com a serpente, o verso que descreve o juízo divino sobre a mulher está relacionado ao juízo da serpente. Não apenas Gênesis 3:16 segue imediatamente Gênesis 3:15, mas os paralelos entre as duas profecias indicam de forma clara que a profecia sobre a mulher em Gênesis 3:16 deve ser lida em conexão com a profecia messiânica em Gênesis 3:15. O juízo divino sobre a mulher, incluindo a gravidez, deve, portanto, ser entendido sob a perspectiva positiva da salvação (compare com 1Tm 2:14, 15).

O pecado do homem aconteceu porque ele ouviu a mulher em lugar de Deus. Por isso, foi amaldiçoado o solo de onde o homem havia sido tirado (Gn 3:17). Como resultado, ele teria que trabalhar arduamente (Gn 3:17-19), e então voltaria à terra (Gn 3:19), algo que nunca deveria acontecer e que nunca fez parte do plano original divino.

É significativo que, contra essa perspectiva desesperadora da morte, Adão tenha se voltado para a mulher, em quem viu esperança de vida por meio do parto (Gn 3:20), mesmo em meio à sentença de morte.

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Temos a tendência de pensar que “conhecimento” em si é bom, mas por que nem sempre é esse o caso? Sobre quais coisas é melhor nada sabermos?


Sexta-feira, 08 de abril
Ano Bíblico: 2Sm 20, 21
Estudo adicional

Considere a conexão entre “a árvore da vida” e “a árvore do conhecimento do bem e do mal”. Ambas estão “no meio do jardim” (Gn 2:9), porém há mais entre as duas árvores do que uma relação geográfica. O ser humano tirou o fruto do conhecimento do bem e do mal e desobedeceu a Deus. Assim, perdeu o acesso à árvore da vida, e não poderia viver para sempre, pelo menos no estado de pecado. Essa conexão é a base de um princípio profundo. As escolhas morais e espirituais têm impacto na vida biológica, como vemos na instrução de Salomão a seu filho (Pv 3:1, 2). Essa conexão reaparece na nova Jerusalém, onde apenas a árvore da vida estará (Ap 22:2).

“Ao criar Eva, Deus pretendia que ela não fosse nem inferior nem superior ao homem, mas em todas as coisas lhe fosse igual. O santo casal não devia ter nenhum interesse independente um do outro e, no entanto, cada um possuía individualidade de pensamento e de ação. Depois do pecado de Eva, porém, tendo ela sido a primeira na transgressão, o Senhor lhe disse que Adão teria domínio sobre ela. Devia ser sujeita a seu marido, o que constituía parte da maldição. Em muitos casos, essa maldição tem tornado o destino da mulher extremamente doloroso, fazendo de sua vida um fardo. O homem tem abusado em muitos aspectos da superioridade que Deus lhe deu, exercendo poder arbitrário. A sabedoria infinita idealizou o plano da redenção, pelo qual a humanidade tem segundo tempo de graça mediante outra prova” (Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 402 [484]).

Perguntas para consideração

1. Deus confrontou Adão e fez-lhe perguntas não apenas para estabelecer sua culpa, mas para levá-lo ao arrependimento. Esse motivo reapareceu no caso de Caim (Gn 4:9, 10), no dilúvio (Gn 6:5-8), na torre de Babel (Gn 11:5) e em Sodoma e Gomorra (Gn 18:21). Como, nesses incidentes, se revela a ideia de um juízo investigativo?

2. Por que Eva pensou que comer do fruto lhe daria sabedoria? Como evitar o erro de desafiar a Palavra de Deus a fim de obter algo “melhor” do que o que Deus oferece?

Respostas e atividade da semana: 1. Satanás. Ela enganou Eva ao misturar verdade com mentira. 2. Enquanto Deus proibiu Adão e Eva de comer do fruto, Satanás os encorajou a comer dele. É como se a serpente tivesse substituído Deus e soubesse ainda mais do que Ele. 3. Porque estavam nus. Deus queria levá-los a refletir sobre o que haviam feito para que se arrependessem e fossem salvos. A justificativa deles foi culpar um ao outro. 4. A serpente seria esmagada na cruz. Haveria esperança para a humanidade por meio do Descendente, Jesus. 5. Pela morte de Jesus, o diabo foi derrotado. O dragão (a serpente) faz guerra contra os descendentes da mulher. Deus esmagará Satanás debaixo dos pés dos santos. 6. Foram expulsos do jardim, experimentaram sofrimentos e, por fim, a morte.

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Resumo da Lição 2
A queda

TEXTO-CHAVE: Gn 3:15

FOCO DO ESTUDO: Gn 3; Ap 12:7-9; Rm 16:20; Hb 2:14; 1Tm 2:14, 15

ESBOÇO

Introdução: Nos primeiros dois capítulos da Bíblia, observamos que, em cada estágio da criação, Deus avaliou seis vezes Sua obra como “boa” (Gn 1:4, 10, 12, 18, 21, 25). No fim da semana da criação, durante Sua sétima avaliação, Deus considerou Seu trabalho “muito bom” (Gn 1:31). Além disso, os primeiros humanos foram descritos como ‘arom, “nus”, “inocentes” (Gn 2:25), ainda não seduzidos pela serpente, caracterizada como “astuta” (Gn 3:1). Os humanos desobedeceram ao primeiro mandamento de Deus de não comer da “árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gn 2:17). Como resultado, o mal e a morte surgiram, e o primeiro casal teve que deixar o jardim do Éden. Foi nesse contexto de desesperança que a primeira profecia de esperança, o primeiro evangelho, ecoou. É significativo que a primeira profecia messiânica (Gn 3:14, 15) esteja localizada exatamente no centro da estrutura do capítulo (ABCDC1B1A1):

A – Gn 3:1-5. Serpente-Eva, Deus ausente: tentação de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.

B – Gn 3:6-8. Adão-Eva: vestes humanas

C – Gn 3:9-13. Deus-Adão-Eva: juízo investigativo

D – Gn 3:14, 15. Deus-serpente: profecia messiânica

C1 – Gn 3:16-19. Deus-Eva-Adão: Sofrimento

B1 – Gn 3:20, 21. Adão-Eva: vestes feitas por Deus

A1 – Gn 3:22–24. Somente Deus: Proibição de comer da árvore da vida

A estrutura do capítulo destaca dois temas principais: tentação e salvação.

COMENTÁRIO

A tentação de Eva

A primeira seção do texto (Gn 3:1-13) conta a história da tentação e analisa seu mecanismo. Ironicamente, a tentação começou com uma conversa teológica ou, mais precisamente, uma discussão exegética sobre o significado da palavra de Deus: “É verdade que Deus disse [...]?” (Gn 3:1). A serpente iniciou a discussão fazendo uma pergunta à mulher, que respondeu de imediato. O diálogo entre a serpente e a mulher se desdobrou em duas rodadas. Observemos a estratégia da serpente e o erro da mulher.

Rodada 1 (Gn 3:1-3)

A estratégia da serpente (leia Gn 3:1). Que método pedagógico a serpente usou para aproximar-se da mulher? Por que a serpente pareceu concordar com Deus? Como a serpente comentou a palavra de Deus? O que torna seu comentário perigoso e enganoso? O erro da mulher (Gn 3:2, 3). Por que a mulher estava próxima à serpente? Por que ela lhe respondeu de imediato? Por que a resposta dela foi longa em comparação com a pergunta da serpente?

Rodada 2 (Gn 3:4-6)

A estratégia da serpente (leia Gn 3:4, 5). Quais foram as duas questões que a serpente abordou em sua resposta à mulher? Como essas duas questões se relacionam entre si? O que esses dois argumentos dizem sobre o interesse da mulher?

O erro da mulher (leia Gn 3:6). Que elementos da resposta da mulher indicam a influência da serpente sobre ela? Por que Adão não conversou com Eva sobre sua decisão de comer do fruto?

Assim que Eva ouviu as últimas palavras da serpente, “como Deus, vocês serão” (Gn 3:5), desejou ser como Deus. A frase que descreve o primeiro movimento em direção à tentação, “vendo a mulher que a árvore era boa”, é uma repetição exata da avaliação regular de Deus sobre Sua criação: “E Deus viu que isso era bom”. Esse paralelo sugere, talvez, que a intenção da mulher fosse tomar o lugar do Criador, como se ela mesma tivesse criado o fruto e esse fosse sua propriedade.

A salvação da humanidade

Deus já havia explicado sobre a consequência dessa desobediência: a morte (Gn 2:17). Essa perspectiva é imediatamente confirmada nos textos que falam de uma natureza conturbada (Gn 3:17, 18), da primeira violência humana e da primeira morte de um ser humano (Gn 4:8).

Assim, a primeira profecia messiânica se destaca em contraste com um pano de fundo da primeira experiência humana de desesperança. A profecia tem a forma de um belo poema. A estrutura temática e o ritmo das palavras desse texto sugerem duas estrofes, ou sistemas rítmicos compostos por dois ou mais versos recitados como uma unidade. Depois de uma declaração introdutória de três palavras, a primeira estrofe (Gn 3:14) progride em seis versos com um ritmo irregular de palavras.

Após uma introdução de uma palavra, a segunda estrofe (Gn 3:15) progride em quatro versos com um ritmo regular de palavras.

Existe um forte contraste entre as duas estrofes. A primeira estrofe é negativa e contém uma mensagem de desesperança, que envolve a serpente. A segunda estrofe é positiva e contém uma mensagem de esperança, que envolve o Messias. Na verdade, a segunda estrofe é a única mensagem positiva do capítulo – uma janela de luz na escuridão. Tendo como pano de fundo a desesperança, a queda da humanidade e a perspectiva cósmica da morte e do mal, esse texto bíblico anuncia a futura salvação do mundo em termos proféticos. Segundo esse texto, a redenção da humanidade implicaria necessariamente Abr l Mai l Jun 2022 | 29 | 44027 – LIÇADP 2ºTri'22 Designer Editor(a) Coor. Ped. C. Q. R. F. P4 2 uma luta com a serpente, que se oporia à Descendência da mulher, ou seja, um “Homem” que nasceria no futuro.

Mas o que significa a palavra Descendência? Essa palavra não deve ser entendida em um sentido coletivo, referindo-se à humanidade ou a um povo (Israel, por exemplo), nem em um sentido particular, significando um indivíduo humano específico. É interessante notar que no verso seguinte a “Descendência” foi substituída pelo pronome “Este” (em hebraico, hu’), que é o verdadeiro sujeito do verbo “ferir” (shuf ). Assim, “Este” recebeu uma ênfase especial na estrutura do parágrafo e na sintaxe da frase: aparece como o centro exato da estrofe no exato momento em que o ritmo poético passa de quatro para três tempos.

Essa mudança rítmica indica que esse pronome é o elo da passagem. Além disso, “Este” é a primeira palavra da frase, o que lhe confere ênfase. Das 103 passagens em que o pronome hebraico hu’, “este”, é traduzido na Septuaginta, Gênesis 3:15 é a única ocorrência em que o pronome não concorda com seu antecedente imediato.

Na verdade, a forma grega do pronome (autos) não se refere nem à mulher (não é feminino), nem à descendência (não é neutro). Em vez disso, autos se refere a um indivíduo do sexo masculino. Essa irregularidade sintática nos mostra que os tradutores tinham em mente uma Pessoa específica, um Homem real da história, o Messias. Essa interpretação messiânica de Gênesis 3:15 é atestada até mesmo pelas Escrituras hebraicas. Um dos testemunhos mais eloquentes desse ponto de vista encontra-se no Salmo 110, onde as palavras de Gênesis 3:15 reaparecem e são aplicadas diretamente ao Messias davídico. As palavras do salmo, “Até que Eu ponha os Seus inimigos” (Sl 110:1), são de fato uma repetição verbal das primeiras palavras da promessa de Gênesis, “Porei inimizade”.

Esses são os únicos dois textos da Bíblia em que se emprega essa associação de palavras. Ademais, também está ligada à imagem do inimigo rastejando sob os pés como expressão dessa mesma ideia de vitória (Sl 110:1). Além disso, o tema familiar de “ferir a cabeça”, em Gênesis 3:15, reaparece e é repetido duas vezes (Sl 110:6, 7).

Esses numerosos paralelos entre as duas passagens sugerem que o autor do Salmo 110 tenha se referido à promessa profética de Gênesis 3:15 e a interpretou em um sentido “messiânico”. Aquele que foi retratado em Gênesis 3:15 como esmagando a serpente foi explicitamente identificado como o futuro Messias davídico. No Salmo 110, a obra do Messias vai além da agenda de Gênesis 3:15. O Messias, como a Descendência de Gênesis 3:15, não só esmaga o inimigo, mas também é chamado para sentar-Se à direita de Deus, compartilhar Seu reinado e governar com Ele (Sl 110:1, 2). O Messias também julga e executa reis e muitas nações (Sl 110:5, 6), tendo Deus ao Seu lado direito. Ele até recebe uma função na adoração: ele é um Sacerdote que serve à frente de um cortejo de sacerdotes, e esse sacerdócio se estende para a eternidade (Sl 110:4). Também, a interação entre os nomes do Messias, chamado Adoni, e o Senhor, chamado Adonai, sugere até mesmo uma intenção de identificar o Messias com o próprio Senhor. Esse Messias é Jesus Cristo no trono celestial (Mt 22:44).

Perguntas para discussão e reflexão: Leia Romanos 5:8; Apocalipse 12:7-9. Por que Jesus cumpre essa profecia? Como essa profecia messiânica influencia o ministério messiânico de Jesus Cristo? Por que é importante que Deus seja Aquele que deve lutar contra a serpente e morrer no processo?

APLICAÇÃO PARA A VIDA

Enquanto caminhava pela floresta, um jovem ouviu o canto de um pássaro. Ele se voltou e, para sua surpresa, viu um passarinho que havia caído de uma árvore. Com cuidado e grande empatia, o jovem pegou a frágil criaturinha nas mãos e com ternura colocou o passarinho em uma pilha de esterco quente de animal que estava ali perto. No entanto, o passarinho continuou cantando. Uma raposa que ouviu o canto do pássaro o pegou e o devorou. Essa fábula contém três lições: primeira, quando alguém o coloca no esterco, esse ato não significa que ele quis seu mal. Segunda lição, quando alguém tira você do esterco, esse ato não significa que ele queira o seu bem. Terceira lição, quando você está no esterco, por que cantar?

Questões para discussão e reflexão: Como essas três lições se aplicam ao problema do mal no mundo? Como podem ajudar você a lidar com o mal no mundo e em sua vida?

Discuta a primeira lição (leia Gn 3:17-19). Por que há o mal e a morte? O mal e a morte são uma condição normal do mundo? Discuta. Embora estejamos sob a maldição, qual é a nossa responsabilidade como cristãos no mundo?

Discuta a segunda lição (leia Gn 3:22; Rm 7:22, 23). Por que o bem está misturado com o mal? Qual é a melhor maneira de distinguir entre o bem e o mal?

Discuta a terceira lição (leia Sl 104:33, 34). Qual é a única solução para o problema do mal no mundo?

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Um homem morto (parte 1)

Dois dias antes do Natal, no Zimbábue, sofri um acidente de carro que, em circunstâncias normais, não sobreviveria. Em 23 de dezembro, minha esposa, Fortunate, e eu deixamos a capital, Harare, para passar o Natal com nossos filhos na casa dos avós em outra cidade. Enquanto dirigíamos, vimos muitas pessoas ao longo da estrada, fazendo sinais com braços, na esperança de conseguirem uma carona. Com a véspera do Natal, os ônibus estavam lotados; e as pessoas ansiosas em voltar para casa para o feriado.

Reconhecemos uma senhora ao lado da estrada e paramos para lhe dar carona. Enquanto entrava no carro, um homem e uma mulher também pediram carona. Não os conhecíamos, mas vimos preocupação em seu rosto e consentimos. Os três passageiros entraram no bagageiro do carro e nós cinco continuamos a jornada.

De repente tudo escureceu.

Quando recobrei a consciência, percebi que o cinto de segurança parecia extremamente apertado. Eu não conseguia me mover. Tudo estava escuro. Eu ouvia alguns sons, vozes fracas à distância. Percebi que algo terrível acontecera. Eu senti o carro ser sacudido. A seguir ouvi o barulho da sirene de uma ambulância ou da polícia. Alguns momentos depois, senti que me tiraram do carro e colocaram na ambulância. Uma enfermeira me perguntou para quem deveria telefonar. “O que aconteceu?”, perguntei, “Um acidente”, ela respondeu. Dei-lhe nomes de duas pessoas: um pastor e o ancião da igreja.

No hospital, o pastor não desperdiçou as palavras: “Vamos levá-lo de volta ao hospital em Harare”, disse. Ele perguntou à enfermeira sobre Fortunate, e soubemos que um guincho atrás de nós a levara e dois passageiros a outro hospital. Ela sofria de hemorragia interna grave. O pastor perguntou se poderia ser transferida para o mesmo hospital que eu seria transferido. Duas ambulâncias foram convocadas. Fortunate e eu fomos levados para Harare. A última coisa que me lembro é de ser levado para fora do hospital.

Nos dois dias seguintes, 24 e 25 de dezembro, Fortunate e eu passamos por três cirurgias. Minha esposa teve um ferimento grave causado pela ruptura do cinto de segurança no seu intestino delgado, sendo necessária a remoção de 40 centímetros do órgão. Sua mão esquerda e pé esquerdo também foram gravemente feridos, e os médicos inseriram pinos metálicos.

Os médicos inseriram em mim placas metálicas no antebraço esquerdo e pinos metálicos na perna direita. A cirurgia mais séria foi para reparar o deslocamento da coluna. O médico teve que operar pela frente do pescoço para inserir um implante em minha quarta e quinta vértebras cervicais. Mais tarde, ele mostrou uma radiografia da minha vértebra e disse: “Você poderia levar isto a qualquer médico do mundo e ele lhe dirá o que estou dizendo agora mesmo: Você é um homem morto. Este raio-x nos diz que você está morto ou paralisado dos ombros para baixo.”

Após duas semanas, Fortunate e eu recebemos alta para realizar o tratamento intensivo de fisioterapia domiciliar. Passamos as seis semanas seguintes reaprendendo a caminhar. Pela primeira, vez ouvimos dizer que cinco pessoas haviam morrido no acidente. Foi uma colisão frontal. O outro carro era conduzido por um jovem que estava bêbado e estava em excesso de velocidade. Mais tarde, vimos os dois veículos avariados. Os carros eram idênticos: ambos Honda Fit vermelhos. Meu velocímetro foi parado a 90 quilômetros por hora, enquanto o dele a 170 quilômetros por hora.

Nossa amiga que estava banco de trás morreu no local, enquanto o casal desconhecido a quem tínhamos oferecido uma carona morreu no dia seguinte, por causa de seus ferimentos. O veículo que nos atropelou tinha três ocupantes. Dois deles, o motorista bêbado e uma mulher idosa sentada ao seu lado na frente, morreram instantaneamente. O homem que estava atrás foi levado ao hospital, e não sabemos se ele sobreviveu.

A notícia deixou Fortunate e eu chocados. Deus poupou nossas vidas de uma maneira incrível. Os milagres não pararam por aí. Quatro meses depois, em abril, pude começar as aulas de pastoral na Universidade Solusi, como havia planejado anteriormente.

Parte da oferta trimestral de 2015 foi destinada a ampliar as instalações do refeitório da Solusi de 500 para mil lugares. Estamos agradecidos pelas ofertas que permitem a escolas adventistas como Solusi onde pessoas podem ser preparadas para proclamar o retorno de Jesus ao redor do mundo.

      Leia mais sobre Alfred na próxima semana.

Informações adicionais

  • Peça que um homem apresente esta história na primeira pessoa.
  • Assista ao vídeo sobre Alfred no YouTube: bit.ly/Alfred-Machona.
  • Faça o download das fotos no Facebook: bit.ly/fb-mq.
  • Para outras notícias do Informativo Mundial das Missões e informações sobre a Divisão Sul-Africana Oceano Índico: bit.ly/sid-2022.

Esta história ilustra o Objetivo de Liderança nº 8 do plano estratégico da Igreja Adventista “I Wil Go” (Eu irei): “fortalecer o discipulado de pastores, professores e outros obreiros da linha de frente e oferecer oportunidades periódicas de crescimento.” O projeto trimestral da Universidade de Solusi ilustra o objetivo missionário nº 4: “fortalecer as instituições adventistas na defesa da liberdade, saúde integral e esperança através de Jesus, restaurando pessoas à imagem de Deus.” Saiba mais sobre o plano estratégico em IWillGo2020.org.

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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 2º Trimestre de 2022

Tema Geral: Gênesis

Lição 2 – 2 a 8 de abril de 2022

 

A queda

 

Autor: Wilian S. Cardoso

Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega 

Gênesis 3 é um dos capítulos mais importantes da Bíblia. Sem ele, não conseguiríamos entender o motivo de tantos males que cobrem a história humana. Precisamente agora, neste momento em que estou escrevendo, a possibilidade de uma 3ª Guerra Mundial assombra nosso planeta, uma vez que tropas militares russas começam a invadir a Ucrânia. Só de pensar em tanta dor, nas perdas (de vidas humanas e de recursos materiais) e no sofrimento que muitas pessoas devem estar passando, o coração fica aflito. Os inúmeros conflitos pessoais ou coletivos que muitas pessoas estão sofrendo agora ou já sofreram no passado, despertam perguntas do tipo: por que isso acontece? Até quando vai ser assim? Por que o mal existe? Essas perguntas são preocupantes, mas devem causar menos dissonância para aqueles que acreditam na Bíblia. A Escritura deixa claro que este mundo não é o mundo que veio originalmente das mãos do Criador. Algo aconteceu.

O capítulo que fala sobre a queda (Gn 3) é o texto crucial intermediário entre duas realidades, pois descreve o evento divisor de águas, que separa os dois momentos do conflito entre o bem e o mal: o mundo pré e pós-pecado. Após o relato geral da criação (Gn 1), Gênesis 2 apresenta o cenário para interpretar o relato da queda e entender o que está em risco para a humanidade. Sem esse capítulo, não teríamos ideia de quanto foi perdido na mordida do fruto pelo jovem casal. Gênesis 4, por outro lado, nos mostra as consequências desse ato através da perda da primeira vida humana e da crescente onda de maldade que se estende a partir de então (Kenneth A. Mathews, “Genesis 1-11:26”, The New American Commentary. Nashville [TN: Broadman and Holman Publishers], 1996], p. 226).

Antes de tudo, é válido saber que, para um leitor em hebraico, essa história começa de forma diferente do que aparece na tradução. O relato de Gênesis 3, na verdade, está ligado à última frase do capítulo 2, que nos diz que Adão e Eva “estavam nus”, porém “não se envergonhavam”. Na tradução, esse versículo não tem nada em comum com o primeiro versículo do capítulo 3: “Mas a serpente, mais astuta que todos os animais selvagens”. No entanto, as palavras “nu” (arom) e “astuto” (arum), estão ambas relacionadas tanto etimológica quanto foneticamente. Assim, no texto hebraico, a palavra “nu” (Gn 2:25) imediatamente conecta a nudez do primeiro casal com a natureza “astuta” da serpente (3:1). Além disso, podemos dizer que, em realidade, o termo “nu” é basicamente a palavra central de Gênesis 3: a história da queda é sobre Adão e Eva primeiro estando nus e não tendo vergonha; e então, estando nus e tendo vergonha; e, por fim, deixando de estar nus por sua própria astúcia; em seguida, deixam de estar nus pela sabedoria divina. Assim, entendemos que, de fato, a última frase do capítulo 2 introduz a história subsequente da desobediência humana no capítulo 3. Essa transição literária é como uma ponte que conecta uma seção a outra: da perfeição da criação ao caos da desobediência.

Diferentemente do que alguns podem pensar, Gênesis 3 não explica a origem do mal, mas onde o mal não tem sua fonte, ou seja, o mal não é algo inerente ao homem, tampouco é uma consequência das ações divinas. O foco é apresentar a origem do pecado no mundo. Isso trouxe toda a maldade que permeia as ações e decisões humanas. Portanto, no relato o pecado é para ser visto como resultado inevitável da violação humana da lei de Deus. E, como seres de ações morais livres, os seres humanos precisam carregar as consequências de suas ações (Nahum M. Sarna, “Genesis”, The JPS Torah Commentary. Philadelphia, PA [Jewish Publication Society], 2001], p. 24).

Em tese, o texto alude ao contraste entre a inocência do casal e a astúcia da serpente, fato que lhes custou a presença no Jardim do Éden. Todos nós conhecemos o relato: após uma interação muito infeliz com a serpente, o casal transgrediu o único mandamento que Deus tinha dado à recém-formada humanidade (Gn 3:20). O tentador é alheio ao casal e se mantém em firme oposição à palavra de Deus. Embora todos nós tenhamos uma ideia de como as serpentes se parecem, a serpente aqui é única porque não havia começado a rastejar com sua barriga até que Deus a punisse. É provável que a imagem que veio à mente dos ouvintes originais, sobre uma serpente com patas, seria semelhante a um dragão, pois essa era uma imagem comum em muitos mitos mesopotâmicos, como por exemplo a luta entre o deus Marduk e a serpente-dragão Tiamat (ver imagens). Seja como for, a substância do que é dito pela serpente é mais importante do que quem ou como ela era (Gerhad von Rad, Genesis, Revised edition [Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 2016], p. 88).

Batalha entre o deus Marduk (Bel) e Tiamat, o dragão do caos aquático.

Tirado de um baixo-relevo do Palácio de Assurbanipal, Rei da Assíria, 885-860 AEC, em Nimrud.

Museu Britânico

https://en.wikipedia.org/wiki/Tiamat#/media/File:Chaos_Monster_and_Sun_God.png

Impressão de selo cilíndrico neo-assírio (séc. 8 a.C.), possivelmente representando Tiamat como a serpente.

Museu Britânico

https://en.wikipedia.org/wiki/Tiamat#/media/File:Tiamat.JPG

Nos antigos mitos do Oriente Médio, a criação passou a ser representada como uma batalha entre uma serpente marinha, ou dragão, e um deus criador, o qual derrota esse monstro do caos a fim de criar o cosmo ordenado. Essa tese é conhecida como o tema da “luta com o dragão”. Assim, quando a serpente aparece no Jardim do Éden, o público da história entende que o caos apareceu. E embora a serpente nunca seja identificada como Satanás no Antigo Testamento, sua menção pretende representar mais do que apenas o princípio do mal, uma vez que Gênesis 3:15 descreve uma guerra contínua entre a serpente e a semente da mulher. A expressão “todos os dias da sua vida” (Gn 3:14) mostra que a serpente é tratada como um ser pessoal e de natureza mortal. Assim, o papel da serpente é consistente com o adversário (satan) descrito em Jó 1 e 2 e Apocalipse 12 (Mathews, p. 234). No fim da história, a vitória de Deus por meio da punição à serpente e da restauração da ordem no jardim é uma versão branda do tema da luta com o dragão em comparação com os contos mesopotâmicos. Porém, diferente desses mitos, a serpente não tem poder nem valor; das três partes do julgamento divino (Gn 3:14-20) somente a serpente recebe a sentença sem interrogatório prévio, sinal do desdém de Deus por ela e, ao contrário do ser eloquente dos versos iniciais, ela emudeceu diante da declaração divina, tal é sua fraqueza perante o Deus criador.

Depois que Deus declarou a maldição trazida sobre o mundo, Ele expulsou Adão e Eva do Jardim do Éden e os proibiu de entrar ali novamente. No entanto, a maldição dada à serpente em Gênesis 3:15 é uma promessa para o casal e todos os seus descendentes; eles recebem a esperança de uma “Semente” vindoura que derrotaria a serpente e seus seguidores (Allen P. Ross, Creation and Blessing: A Guide to the Study and Exposition of Genesis [Grand Rapids, MI: Baker, 1996], p. 145). Uma vez que a serpente pode ser identificada como Satanás, a promessa de vitória futura sobre a serpente implica a derrota e eliminação de sua influência negativa no mundo. Em outras palavras, essa vitória inclui a futura destruição do mal. Em vista do estado previamente perfeito descrito em Gênesis 1–2, por meio dessa promessa, é evidente que a vitória da Semente realizará algo grandioso. Desse modo, assim que a serpente for derrotada e a Terra ficar livre de sua influência, o mundo será capaz de ser trazido de volta ao estado em que se encontrava em Gênesis 1–2. A despeito da morte, entendida então como uma realidade iminente, Adão chamou sua esposa de Eva (Ravah [vida, ou aquela que traz vida]), porque nela estaria o potencial para toda a vida futura (rai). Ou seja, para ele o nome de sua esposa implica um grau de certeza em uma futura restauração.

Além disso, em vista do relacionamento de Deus com Adão e Eva antes da queda (cf. 3:8, 9), essa promessa parece incluir não apenas a restauração da criação, mas também uma restauração do relacionamento. Assim, a partir do conteúdo dado em Gênesis 3:15 (dentro do contexto de Gênesis 1–3), a esperança oferecida ao primeiro casal pode ser resumida como a promessa de Deus de realizar três ações: (1) destruir o mal (morte da serpente); (2) restaurar a criação; e (3) restaurar o relacionamento interpessoal entre Ele e Seu povo. Esses três temas são aludidos e desenvolvidos grandemente por todo o restante da Bíblia. Portanto, desde o início, podemos ver que a primeira promessa de Deus é enviar uma Pessoa que virá para restaurar o mundo e tornar tudo isso possível. Não é à toa que, ao comentar sobre esse verso, J. Alec Motyer, renomado teólogo irlandês, escreveu: “O todo das Escrituras não está empacotado em cada escritura, mas podemos esperar que cada escritura prepare e abra espaço para o todo. E é isso o que acontece em Gênesis 3:15" (John Alexander Motyer, Look to the Rock: An Old Testament Background to Our Understanding of Christ [Grand Rapids, MI: Kregel, 1996], p. 34). 

Conclusão

Devemos entender que, dos mitos antigos à realidade da palavra de Deus, a cena final da história é sempre a mesma: o grande adversário, a serpente-dragão do caos, um dia será destruída pelo grande e poderoso Deus que trará novamente a ordem ao seu devido lugar, quando mais uma vez, e para sempre, tudo que era, novamente será: muito bom!

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: Wilian Cardoso é casado com Carem Cardoso. É pai de Sarah Cardoso, Noah Cardoso e de Shai Cardoso. É bacharel em Teologia e Filosofia, mestre em Interpretação Bíblica e em Estudos do Antigo Oriente Médio. Trabalhou como pastor da Comunidade Judaico-Adventista de Manaus por 8 anos e também como professor de Filosofia e Sociologia. Atualmente trabalha como professor para o Israel Institute of Biblical Studies filiado à Universidade Hebraica de Jerusalém e se dedica à família e à vida acadêmica.