Como vimos neste trimestre, Moisés é o personagem central de Deuteronômio. Sua vida, seu caráter e suas mensagens permeiam o livro. Embora a obra fale sobre Deus e Seu amor por ‘am yisra’el (“o povo de Israel”), o Senhor usou Moisés para revelar esse amor ao Seu povo Israel.
Ao nos aproximarmos do final do estudo sobre Deuteronômio, chegamos também ao final da vida de Moisés, pelo menos nesta Terra.
Como Ellen G. White expressou: “Moisés sabia que iria morrer sozinho. Não seria permitido a nenhum amigo terrestre acompanhá-lo em suas últimas horas. Havia um clima de mistério e solenidade em torno da cena que estava perante ele, que fazia com que sentisse um aperto no coração. A mais severa prova era separar-se do povo de quem havia cuidado e a quem demonstrara tanto amor – povo com o qual seu interesse e sua vida tinham estado unidos durante tanto tempo. Contudo, Moisés havia aprendido a confiar no Senhor e, com inquestionável fé, entregou sua vida e seu povo à misericórdia e ao amor de Deus” (Patriarcas e Profetas, p. 470, 471).
A vida e o ministério de Moisés revelaram, assim como sua morte e ressurreição, muito sobre o caráter divino.
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Vez após vez, mesmo em meio à apostasia e peregrinação no deserto, Deus proveu milagrosamente para os filhos de Israel. Isto é, por mais indignos que fossem, a graça fluía para eles. No presente, somos igualmente recipientes de Sua graça, por mais que sejamos indignos dela. Afinal, não seria graça se a merecêssemos, não é mesmo?
Além da abundância de alimento que o Senhor milagrosamente ofereceu ao povo no deserto, outra manifestação de Sua graça foi a água, sem a qual teriam morrido, em um deserto seco, quente e desolado. Falando sobre essa experiência, Paulo escreveu: “e beberam da mesma bebida espiritual. Porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo” (1Co 10:4). Ellen G. White declarou que “onde quer que em suas jornadas necessitavam de água, esta jorrava ali das fendas da rocha, ao lado de seu acampamento” (Patriarcas e Profetas, p. 411).
1. Leia Números 20:1-13. O que aconteceu e como entendemos a punição do Senhor a Moisés?
Por um lado, não é difícil entender a frustração de Moisés. Depois de tudo que o Senhor havia feito pelos israelitas, os sinais, as maravilhas e a libertação milagrosa, finalmente estavam nas fronteiras da terra prometida. E então, o que aconteceu? Faltou água e começaram a conspirar contra Moisés e Arão. Será que o Senhor não podia prover água para eles, como havia feito tantas vezes antes? Claro que sim, e o faria de novo!
Observe, porém, as palavras de Moisés ao bater na rocha duas vezes: “Agora escutem, rebeldes! Será que teremos de fazer com que saia água desta rocha para vocês?” (Nm 20:10). Notamos ira em sua voz, pois ele os chamou de “rebeldes”.
O problema não foi a ira em si, que foi ruim o suficiente, porém compreensível, mas as seguintes palavras: “Teremos de fazer com que saia água desta rocha para vocês?”, como se ele ou outro ser humano pudesse tirar água de uma pedra. No momento da ira, ele pareceu se esquecer de que somente o poder de Deus, atuando entre eles, poderia fazer tal milagre. Ele, mais que todos, deveria saber disso.
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2. Leia Números 20:12, 13. Que motivo específico o Senhor deu a Moisés para ele não entrar na terra? Dt 31:2; 34:4
Segundo o texto, havia mais no pecado de Moisés do que apenas a tentativa de tomar o lugar de Deus, o que já era grave o suficiente. Ele também mostrou falta de fé, o que, para alguém como Moisés, seria imperdoável. Afinal, esse era o homem que, a partir do evento da sarça ardente (Êx 3:2-16), teve uma experiência com Deus diferente do que ocorre com a maioria das pessoas, e ainda, de acordo com o texto, Moisés não creu (Nm 20:12), ou seja, mostrou falta de fé no que o Senhor havia dito e, como resultado, falhou em santificá-Lo diante dos filhos de Israel. Em outras palavras, se Moisés tivesse mantido a calma e feito o correto, mostrando sua própria fé e confiança em Deus em meio à apostasia, ele teria glorificado o Senhor diante do povo e sido, novamente, um exemplo de fé e obediência verdadeiras.
Observe também como Moisés desobedeceu ao que o Senhor lhe disse especificamente que fizesse.
3. Leia Números 20:8. O que o Senhor disse a Moisés que fizesse? O que ele fez? Nm 20:9-11
O verso nove mostra Moisés pegando o bordão como o Senhor lhe havia ordenado. Porém, no verso 10, em vez de falar com a rocha, da qual a água teria então fluído como expressão surpreendente do poder divino, Moisés a feriu, não uma, mas duas vezes. Sim, bater em uma pedra e tirar água dela foi um milagre, mas certamente não tão surpreendente quanto apenas falar com ela e ver o mesmo acontecer.
Claro, superficialmente pode parecer que o julgamento divino sobre Moisés foi extremo: depois de tudo o que ele passou, não teria permissão de cruzar o Jordão até a terra prometida. Desde que essa história é contada, indaga-se por que – por um ato precipitado – o que ele esperava por tanto tempo lhe teria sido negado.
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Pobre Moisés! Depois de chegar tão longe e passar por tanta coisa, ficar de fora do cumprimento da promessa a Abrão: “Darei esta terra à sua descendência” (Gn 12:7).
4. Leia Deuteronômio 34:1-12. O que aconteceu com Moisés, e o que o Senhor disse sobre ele que mostrou como era um homem especial?
“Na solidão, Moisés reviu sua vida de lutas e dificuldades, desde que havia deixado as honras da corte e de um reino que poderia ter sido seu no Egito, para arriscar o futuro com o povo escolhido de Deus. Lembrou- se dos longos anos no deserto com os rebanhos de Jetro, do aparecimento do Anjo na sarça ardente e do chamado para libertar Israel. Viu de novo os milagres do poder de Deus realizados em favor do povo escolhido e Sua paciente misericórdia durante os anos de peregrinação e rebelião. Apesar de tudo que Deus tinha feito pelo povo, apesar das próprias orações e dos esforços de Moisés, apenas dois de todos os adultos do vasto exército que deixou o Egito foram considerados dignos de entrar na terra prometida. Revendo os resultados de seus trabalhos, sua vida de provações e sacrifícios, Moisés tinha a impressão de que quase tudo havia sido em vão” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 471, 472).
Deuteronômio 34:4 diz algo interessante. “Esta é a terra que, sob juramento, prometi a Abraão, a Isaque e a Jacó, dizendo que a daria à descendência deles”. O Senhor usou quase as mesmas palavras que havia dito repetidamente aos patriarcas e seus filhos, sobre dar-lhes a terra. Naquele momento, Ele as repetiu a Moisés.
O Senhor também disse: “Estou permitindo que você a veja com os seus olhos, mas você não entrará nela” (Dt 34:4, grifo nosso). Não havia como Moisés, parado onde estava, ter visto tudo o que o Senhor lhe apontou, de Moabe a Dã, a Naftali e assim por diante. Ellen G. White esclareceu: foi uma revelação sobrenatural, não apenas da terra, mas de como seria depois que tivessem tomado posse dela.
Era como se Deus estivesse provocando Moisés, cutucando a ferida: Você poderia ter estado aqui se tivesse Me obedecido. Mas o Senhor mostrou a ele que apesar do erro do Seu servo, Deus seria fiel às promessas da aliança feita com os patriarcas e com Israel. Além disso, o Senhor tinha algo melhor para aquele servo fiel e imperfeito.
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“Assim Moisés, servo do Senhor, morreu ali, na terra de Moabe, segundo a palavra do Senhor. Este o sepultou num vale, na terra de Moabe, diante de Bete-Peor, mas até hoje ninguém sabe o lugar da sua sepultura” (Dt 34:5, 6). Assim faleceu Moisés, tão fundamental para Israel, um homem cujos escritos continuam vivos, não apenas em Israel, como também nas igrejas e nas sinagogas atuais.
Moisés morreu, foi sepultado, o povo pranteou e foi isso. As palavras do Apocalipse se aplicam a esse caso: “Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham” (Ap 14:13).
Contudo, a morte de Moisés não foi o capítulo final na história desse profeta.
5. Leia Judas 9. O que aconteceu? Como esse texto explica a aparição de Moisés posteriormente no NT?
Embora tenhamos apenas um vislumbre, que cena incrível é retratada nesse texto! Miguel, o próprio Cristo, disputou com o diabo o corpo de Moisés, que foi um pecador; seu último pecado conhecido, tomar para si a glória que era de Deus, foi o mesmo tipo de pecado que excluiu Lúcifer do Céu. “Subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14:14). A disputa sobre o corpo deve ter ocorrido porque Cristo estava reivindicando para Moisés a ressurreição prometida.
Por que Cristo faria isso por um transgressor da lei? A resposta só poderia ser a cruz. Assim como os sacrifícios de animais apontavam para a morte de Cristo, o Senhor anteviu a cruz e reivindicou que o corpo de Moisés fosse ressuscitado. “Em consequência do pecado, Moisés tinha caído sob o poder de Satanás. Por seus méritos, era um legítimo cativo da morte. Contudo, foi ressuscitado para a vida imortal pelo direito que tinha a ela em nome do Redentor. Moisés saiu do túmulo glorificado e ascendeu com seu Libertador à cidade de Deus” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 479).
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Com a luz adicional do NT, a exclusão de Moisés da terra prometida não parece um grande castigo, afinal. Em vez de uma Canaã terrestre e depois uma Jerusalém terrena (que sempre foi um lugar de guerra, conquista e sofrimento), “a Jerusalém celestial” (Hb 12:22) é sua casa. Uma morada muito melhor, com certeza!
Moisés foi o primeiro exemplo conhecido na Bíblia da ressurreição dos mortos. Enoque e Elias foram levados ao Céu sem passar pela morte (Gn 5:24; 2Rs 2:11). Moisés foi o primeiro a ressuscitar para a vida eterna.
Não se sabe por quanto tempo Moisés dormiu no pó, mas, para ele, não fez diferença. Isso também é verdade em relação a todos os mortos ao longo da história, pois, ao menos no que diz respeito a estar morto, não será diferente de Moisés. Fecharemos os olhos na morte, e o próximo evento que veremos será a segunda vinda de Jesus ou, infelizmente, enfrentaremos o juízo final (ver Ap 20:7-15).
6. Leia 1 Coríntios 15:13-22. Que grande promessa é encontrada nessa passagem e por que as palavras de Paulo só fazem sentido se entendermos que os mortos dormem em Cristo até a ressurreição?
Sem a promessa da ressurreição, não temos nenhuma esperança. A ressurreição de Cristo é nossa garantia; “depois de ter feito a purificação dos pecados” (Hb 1:3) na cruz como nosso Cordeiro pascal, Cristo morreu e ressuscitou dos mortos, e por causa disso temos garantia. Moisés foi o primeiro exemplo de um ser humano pecador ressuscitado dos mortos. Por causa do que Cristo faria, Moisés foi ressuscitado, e por causa do que Cristo fez, se morrermos antes da volta de Jesus, nós também seremos ressuscitados.
Portanto, Moisés é um exemplo de salvação pela fé, a qual se manifestou em uma vida de fidelidade a Deus e confiança Nele, mesmo que o profeta tenha tropeçado em algum ponto. Em todo o livro de Deuteronômio, Moisés chama o povo de Deus a praticar fidelidade semelhante, uma resposta à graça dada a eles, como foi dada a nós, que estamos nas fronteiras da terra prometida.
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“Quando exclamaram com raiva: ‘Faremos sair água desta rocha?’ (Nm 20:10), puseram-se no lugar de Deus, como se o poder estivesse com eles, homens cheios de fragilidades e emoções humanas. Cansado da contínua murmuração e rebelião do povo, Moisés perdeu de vista seu Auxiliador todo-poderoso e, sem a força divina, maculou o relato de seus feitos com uma exibição de fraqueza humana. O homem que poderia ter permanecido puro, firme e abnegado até o fim de sua carreira acabou sendo vencido. Deus foi desonrado perante a congregação de Israel, quando devia ter sido engrandecido e exaltado” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 418).
“No monte da transfiguração, Moisés estava presente com Elias, que tinha sido trasladado. Foram enviados como portadores de luz e glória da parte do Pai ao Seu Filho. E, assim, a oração de Moisés, proferida havia tantos séculos, finalmente se cumpriu. Ele estava na “boa montanha” (Dt 3:25, ARC), dentro da herança de seu povo, dando testemunho Daquele em quem se centralizavam todas as promessas de Israel. Essa é a última cena revelada aos olhos mortais na história desse homem tão honrado pelo Céu” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 479).
Perguntas para consideração
1. Moisés foi ressuscitado e levado ao Céu. Mas, presumimos, ele sabe a terrível confusão das coisas aqui. O restante dos salvos em Jesus Cristo ressuscitará depois que a luta na Terra terminar. Deus foi sábio em planejar nossa ressurreição para o futuro?
2. Embora o NT seja fundamentado no AT, o relato da ressurreição de Moisés não mostra que o NT lança luz nova sobre o AT? Leia Judas 9.
3. Moisés viveu pela fé, mas cometeu erros, como o acesso de ira junto à rocha. A vida dele comprova que somos salvos pela fé, independentemente das obras da lei?
4. Por que a promessa da ressurreição, no fim dos tempos, é a nossa grande esperança? Se cremos que Deus nos ressuscitará, não devemos confiar Nele em tudo o mais?
Respostas e atividades da semana: 1. Moisés feriu a rocha duas vezes. Fez parecer que ele, em vez de Deus, faria o milagre. 2. Não creu em Deus para O santificar. 3. Falar à rocha. Porém, ele a golpeou duas vezes. 4. Morreu. Deus falava com Moisés face a face e nunca houve profeta como ele. 5. Deus levou Moisés para o Céu. Ele ressuscitou e por isso reapareceu em relatos do NT. 6. Os mortos em Cristo serão ressuscitados. Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé e estamos perdidos.
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TEXTO-CHAVE: Jd 9
FOCO DO ESTUDO: Nm 20:1-13; Dt 34; 1Co 15:13-22
ESBOÇO
Esta última lição deste guia de estudo da Bíblia trata do último capítulo do livro de Deuteronômio, a conclusão. A primeira parte dessa conclusão ecoa a introdução do livro. Ambas as passagens situam Moisés nas “campinas de Moabe [...] em frente de Jericó” (Dt 34:1; compare com Dt 1:5; compare com Nm 36:13), pouco antes da posse da terra. Essa integração marca os limites (início e fim) do livro. Desta vez, porém, o profeta subiu ao topo do monte e teve uma visão de todo o país.
A passagem sobre a morte de Moisés continua, de fato, em Deuteronômio 32:48-52 (antes da bênção do profeta em Dt 33), em que aprendemos que ele foi àquele lugar por ordem divina (Dt 32:48) e em que Deus explicou por que ele não seria capaz de desfrutar da terra. Nesta lição, vamos nos concentrar na ressurreição de Moisés, um evento que não é explicitamente narrado no livro, embora seja sugerido por meio de algumas pistas textuais. Exploraremos o significado do evento da ressurreição do profeta para nossa compreensão da ressurreição da humanidade e para nossa esperança quanto ao reino celestial de Deus, a nova terra prometida.
Temas da lição
Encontraremos os seguintes temas que tornarão este estudo relevante para o povo de Deus, como a verdade presente:
• Justiça e graça.
• Morte e ressurreição.
• O grande conflito.
COMENTÁRIO
Assim como Deuteronômio, o livro de Gênesis termina com uma morte, mas sem sepultura, e com a mesma associação da perspectiva da terra prometida (Gn 50:26). O livro de Gênesis, primeiro dos cinco livros do Pentateuco, começa com a criação e o jardim do Éden e termina com a visão da terra prometida, muitas vezes um símbolo do novo céu e da nova Terra. O significado desses dois eventos será repetido nas Escrituras. Esse padrão literário está presente na estrutura de vários livros da Bíblia: veja, por exemplo, o livro de Isaías, que também começa com a criação (Is 1:2) e termina com a evocação da criação de “novos céus” e “nova Terra” (Is 66:22) e a esperança de uma adoração eterna (Is 66:23), em contraste com o efeito da morte (Is 66:24).
O livro de Eclesiastes começa com a criação do mundo (Ec 1–11) e termina com a destruição do mundo (Ec 12:1-7) e o Dia do Juízo (Ec 12:14). O livro de Daniel começa com uma referência à criação quando Daniel justifica sua dieta aludindo ao relato da criação em Gênesis (Dn 1:12; compare com Gn 1:29). O mesmo padrão estrutural reaparece no NT. João, que inicia seu evangelho com a evocação do evento da criação (Jo 1:1-10), termina o livro apocalíptico com a esperança da vinda de Jesus Cristo e a instauração do reino de Deus (Ap 21:22, 23).
Pode-se considerar que essa mensagem estrutural afetou a estrutura canônica de toda a Bíblia, que começa com a criação (Gn 1–2) e termina com a expectativa da esperança messiânica (Ml 4:5; Ap. 22:20). Observe também que essa associação de pensamentos inspirou a única definição bíblica de fé encontrada em Hebreus 11:1: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam [esperança do reino de Deus; compare com Hb 11:13-16], a convicção de fatos que não se veem” [criação, compare com Hb 11:3]. Essa observação literária é importante, pois atesta a elevada significação da história da ressurreição de Moisés no fim do livro de Deuteronômio e sua mensagem relevante para os leitores da Bíblia.
O julgamento de Moisés
Deus Se lembrou da transgressão de Moisés contra Ele (Dt 32:51) em Meribá de Cades, quando ele bateu na rocha duas vezes. Ellen G. White comenta: “Moisés manifestou falta de confiança em Deus” (Patriarcas e Profetas, p. 417). A resposta divina sugere que era uma questão de fé: “Não creram em Mim” (Nm 20:12). Esse julgamento pode ser esclarecido à luz do incidente do maná em que as pessoas se concentraram no próprio pão e perderam o contato com o Doador do pão (veja lição 12, auxiliar do professor, tópico “Viva pela Palavra”). A atitude de Moisés parece ter sido na mesma linha da reação dos israelitas. Em vez de orar e invocar a Deus pelo milagre, ele bateu na rocha, como se a solução para a sede dos israelitas fosse a água saindo da própria rocha, não do Criador.
O erro de Moisés foi deixar de se referir ao Senhor para glorificá-Lo. Em vez disso, ele se comportou como um mago egípcio, focalizando o poder da magia, em lugar de destacar o poder divino. Inclusive ele se incluiu no pronome “nós” em relação à capacidade de trazer água: “Teremos de fazer com que saia água?” (Nm 20:10). A transgressão de Moisés é o erro de qualquer líder – a tentação de substituir Deus.
Perguntas para discussão e reflexão: Leia Números 20:1-13. Quais outros erros Moisés cometeu em sua resposta ao povo que o levou a merecer o julgamento divino? Que diferença existe entre chamar a rocha e golpeá-la?
A ressurreição de Moisés
O texto de Deuteronômio não menciona a ressurreição de Moisés. Deuteronômio 32:48-50; 33:1 e 34:5 se referem especificamente à sua morte, mas não dizem nada sobre sua ressurreição. Uma série de pistas do texto bíblico, entretanto, aponta para o fato de que ele foi ressuscitado. A indicação mais significativa da ressurreição de Moisés pode ser encontrada nesta estranha frase: “Até hoje ninguém sabe o lugar da sua sepultura” (Dt 34:6). Esta última parte do verso bíblico e o próprio fato de Deus ser mencionado como o único envolvido naquele sepultamento indicam que houve algo especial sobre o sepultamento do profeta.
Além disso, a frase hebraica ‘al pi YHWH’, “segundo a palavra do Senhor” (Dt 34:5), que significa literalmente “na boca do Senhor”, parece referir-se a uma morte excepcional. A partir dessa expressão, um antigo midrash (“comentário”) judaico afirma que Moisés morreu com um beijo de Deus, estranhamente evocando Seu sopro de vida (Gn 2:7) – sugerindo assim a milagrosa recriação de Moisés. As informações sobre a saúde perfeita do profeta (Dt 34:7) quando ele morreu aumentam a anormalidade de sua morte. Ele não morreu naturalmente. O próprio Senhor o matou e então o ressuscitou dos mortos.
Em uma canção, o profeta exaltou o poder de Deus para ressuscitar os mortos (Dt 32:39). Além disso, a associação com a terra que foi prometida aos patriarcas (Dt 34:4), que lembra o Éden (Gn 15:18; compare com Gn 2:13-15), reforça a intenção dessa ressurreição. Moisés não teve permissão para entrar na terra prometida terrestre, mas entrou na terra prometida celestial, uma herança que aguarda o povo de Deus no momento da segunda vinda de Cristo e da ressurreição (Dn 12:2, 3, 13).
Para Ellen G. White, a visão que Moisés teve do país de Canaã a partir do Monte Nebo está relacionada à sua visão da nova Terra, “a boa Terra”: “Ainda outra cena se abriu diante de seus olhos: a Terra livre da maldição, mais linda do que a bela terra da promessa, que poucos momentos antes lhe havia sido apresentada. Ali não havia pecado, e a morte não podia entrar. As nações dos salvos encontrariam ali seu lar eterno. Com inexprimível alegria, Moisés olhou para a cena – um livramento ainda mais glorioso do que jamais poderia imaginar em suas esperanças mais radiantes. Passada para sempre sua peregrinação terrestre, o Israel de Deus entraria finalmente na boa terra. Aquela visão se desfez, e novamente os olhos de Moisés repousaram sobre a terra de Canaã ao longe. Então, como um guerreiro cansado, deitou-se para repousar” (Patriarcas e Profetas, p. 477).
Perguntas para discussão e reflexão: Por que a visão de Moisés relaciona a visão do país de Canaã com a visão do reino de Deus? Por que o Senhor ressuscitou Moisés, e não Abraão ou Daniel? Por que o livro de Deuteronômio termina com a morte de Moisés, e não com sua ressurreição, como é o caso de outros heróis bíblicos?
O grande conflito
É significativo que, para Judas, o evento da ressurreição de Moisés tenha mostrado em miniatura o grande conflito entre Deus e Satanás. A disputa entre Miguel, o grande guerreiro, que é Jesus Cristo, e o diabo, resume todo o destino do mundo. Por um lado, está Satanás, que tem bons motivos para manter Moisés na sepultura por causa de sua falha em ser justo. Por outro lado, está Jesus Cristo, que defende e salva Moisés pelo poder de Seu sangue.
Pergunta para discussão e reflexão: Compare Gênesis 3:15 e Judas 9. Liste os temas comuns entre esses dois textos. Por que Satanás estava tão ansioso para manter Moisés morto?
APLICAÇÃO PARA A VIDA
O significado da transgressão de Moisés
Encontre casos, na Bíblia ou na história, em que um líder político ou religioso substituiu Deus. Quais são os resultados dessa usurpação das prerrogativas e soberania divinas? Discuta os seguintes casos e encontre uma solução para eles: • Um evangelista se vangloria do grande número de batismos que realizou. Como devemos explicar o sucesso evangelístico? • Um membro de sua igreja relata um milagre de cura que Deus realizou em seu favor. Porém, em sua igreja, outro membro está morrendo da mesma doença. Como você explica essa diferença? Como o membro que foi curado deve testemunhar quanto ao método divino preferido para o tratamento? • O que o erro de Moisés ensina sobre seus próprios erros?
O significado da ressurreição de Moisés
Considerando que os seres humanos são mortais, qual é o significado pessoal e teológico da ressurreição dele? Como esse evento fortalece sua fé na realidade da futura ressurreição? A verdade histórica da ressurreição de Moisés confirma a verdade da ressurreição na segunda vinda de Cristo?
Você é pastor e deve levar uma mensagem a um funeral, pregando sobre a história da ressurreição de Moisés. Que temas você precisa apresentar para confortar a família? Que argumentos você deve usar para provar a verdade da ressurreição para essas pessoas? Essa história confortará o coração e ao mesmo tempo fortalecerá a fé dos enlutados?
A história da ressurreição de Moisés ajuda você a entender melhor a ressurreição de Jesus?
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Programa do Décimo Terceiro Sábado
Jugo desigual
Esta história sobre Chang Zeng-Mei, professora indígena, reflete a realidade do povo indígena em Taiwan.
Eu não queria casar com meu esposo porque fui criada na Igreja Adventista e ele pertencia a outra denominação cristã. Mas, nossos pais queriam nosso matrimônio e eu precisava obedecer a eles. Por isso, fui até meu futuro marido, Ming- Huang, e disse: “Nós podemos nos casar, mas não vou mudar minha religião.” Ele não se opôs a isso. Então, começamos a discutir sobre o casamento. Eu queria que a cerimônia fosse realizada na igreja adventista, mas ele disse: “Não! Eu sou o marido e deve ser em minha igreja.”
Tu tentei entrar em um acordo: “Vamos fazer um casamento ao ar livre. Mas, “um pastor adventista deve ser o oficiante.” Um dos primos dele era pastor de uma igreja em Ming-Huang, “Vamos pedir a nosso primo que oficialize a cerimônia”, ao que contestei: “Não, deve ser um pastor adventista. Seu cunhado é adventista, vamos convidá-lo!” A discussão levou algum tempo. Finalmente, eu disse: “Se não for um pastor adventista, não me casarei com você.” Ele respondeu: “Bem, perguntarei à minha mãe sobre o que fazer.” A mãe dele era membro da igreja adventista, o esposo não é da mesma denominação e, após o casamento, ela mudou para a igreja do esposo.
Após conversar com a mãe, Ming-Huang me disse: “Ok, minha mãe disse que podemos convidar um pastor adventista.” Mas esse não foi o fim de nossos problemas. Descobrimos que sua mãe gostava de mim porque queria que eu mudasse seu filho. Ele bebia e não ia à igreja aos domingos. Ela pensou que eu mudaria o comportamento dele, também pensou que me juntaria à sua igreja após o casamento.
Eu me senti desconfortável com a ideia de casar com alguém de fora da minha religião. Ming-Huang sabia que eu me sentia desconfortável, mas àquela altura toda a aldeia sabia que nossos pais queriam que nos casássemos. Se nos separássemos, ele perderia prestígio. Seria muito constrangedor. Além disso, muitas pessoas me elogiavam, dizendo: “Ela é uma boa menina. Você tem que se casar com ela.”
Ele decidiu se tornar adventista para que eu me casasse com ele; então, não perderia prestígio. Um mês antes do casamento, ele fez estudos bíblicos e foi batizado. Eu nunca vou esquecer aquele dia. Ele chorou ao sair da água. Ele queria se casar comigo, mas não queria deixar sua antiga vida. Não queria deixar de beber. Passados seis meses, desde que nossos pais decidiram que deveríamos nos casar, fizemos um casamento ao ar livre e um pastor adventista foi o oficiante. Senti muita pressão depois do casamento. Senti que precisava mudar meu marido. Eu tinha que levá-lo à igreja todos os sábados e ensinar a ele compartilhar Jesus com os outros.
Ming-Huang era um homem abatido. Havia perdido boa parte da sua autoestima porque desistiu de muitas coisas para casar comigo. Então, contei que precisava se preparar para ter um filho, e disse a ele: “Você bebeu álcool e alimentos impuros por muito tempo. Seu corpo está contaminado.” Esperamos sete meses. Durante esse tempo, ensinei-o a ter uma alimentação e um estilo de vida saudável. Nossos vizinhos notaram a transformação e o elogiaram como um novo homem. Mas ele não queria ser um novo homem. Depois que nossa filha nasceu, ele voltou a beber. Fiquei triste e magoada, mas não podia abandoná-lo.Dez anos se passaram e tivemos uma segunda filha. Tivemos muitos conflitos. Certo dia, percebi que não podíamos mais seguir aquele caminho. Sugeri que nos separássemos, mas ele não respondeu. Então, levei nossos dois filhos, o bebê e a menina de dez anos, para a casa de amigos. Queria que meu marido ficasse sozinho em casa e pensasse na vida sem a família. Ming-Huang não queria o divórcio. Ele me procurou por três dias e me encontrou na casa de amigos. Ele concordou em mudar seus hábitos.
Amo profundamente meu marido, mas não concordaria em me casar com ele de novo se ele continuasse a fazer tudo aquilo. Eu me casei porque pensei que poderia mudá-lo com a ajuda de Deus. Antes do nosso casamento, eu até orava: “Se você quiser salvar este homem, deve me ajudar a transformá-lo.” Mas a Bíblia está certa quando diz: “Não se ponham em jugo desigual com descrentes” (2Co 6:14). É melhor se casar com um cônjuge de sua própria fé. Salomão, o homem mais sábio que já viveu, aprendeu essa lição da maneira mais difícil.
Se uma mulher adventista é casada com um não adventista, recomendo que você seja um bom exemplo para seu marido em sua fé e estilo de vida. Ore por ele, cozinhe para ele e demonstre sua fé através de sua vida. Como Jesus disse em Mateus 10:16: “Eu os estou enviando como ovelhas entre lobos. Portanto, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas. ” Louvado seja Deus, porque Ele nos salva de nós mesmos. Meu esposo se tornou um esposo e pai carinhoso. Ele também é um bom obreiro e ancião da igreja. Deus é bom!
Há três anos, parte da oferta do trimestre ajudou a espalhar o evangelho entre os povos indígenas em Taiwan, e a oferta deste trimestre ajudará a abrir três centros urbanos de influência voltados para a população indígena e outros grupos em Taiwan. Muito agradecemos por ajudar a pregar o evangelho a todos os grupos de pessoas na Divisão do Pacífico Norte-Ásiatico, com sua generosa oferta.
Informações adicionais
• Peça que uma senhora conte esst história na primeira pessoa.
• Pronúncia de Chang Zeng-Mei: .
• Pronúncia de Ming-Huang: .
• Faça o download das fotos no Facebook: bit.ly/fb-mq.
• Para mais notícias sobre o Informativo Mundial e outras informações sobre a Divisão do Pacífico Norte-Asiático, acesse: bit.ly/nsd-2021.
Essa história ilustra os seguintes componentes do plano estratégico da !greja Adventista, “I Will Go”: Objetivo de Crescimento Espiritual nº 1 – “reavivar o conceito de missão mundial e sacrifício pela missão como um estilo de vida que envolva não apenas os pastores, mas todos os membros da igreja, jovens e idosos, na alegria de testemunhar por Cristo e de fazer discípulos”; e Objetivo de Crescimento Espiritual nº 2 – “fortalecer e diversificar o alcance dos adventistas nas grandes cidades”. Conheça mais sobre o plano estratégico em IWillGo2020.org.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2021
Tema Geral: A verdade presente em Deuteronômio
Lição 13 – 18 a 25 de dezembro de 2021
A ressurreição de Moisés
Autor: Sérgio H. S. Monteiro
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega
Chegamos ao fim de nosso estudo sobre Deuteronômio. Que privilégio poder ler e estudar essa história fantástica que nos foi dada como um presente do passado e refletir sobre ela. Nesse livro, vimos como a história deve ser vivida, como o futuro pode ser moldado pelas experiências históricas e como Deus, o Autor da História, Se revela nesse palco, dando sentido e significado às experiências de vida, não apenas em seu contexto imediato, mas em toda a vida de alguém e, muito além, para a vida da comunidade e a existência de um povo.
Acompanhamos a repetição das histórias de perdão, por parte de Moisés, que as recontou a uma nova geração que se levantou no deserto, em lugar daquela que havia saído do Egito e contemplado milagres e maravilhas. A clara mensagem de Moisés indicava a continuidade de Deus com o povo, ainda que Sua ira não houvesse permitido à geração passada, por sua incredulidade, entrar na terra. Essa entrada na terra não era mais uma realidade distante nem uma promessa difusa, mas uma realização palpável, após tanto tempo de peregrinação. Deus havia cumprido Sua promessa no passado, levando os pais deles até à entrada de Canaã e, de igual forma, havia trazido os filhos ao mesmo lugar, ao portal que, aberto, dava lugar ao encanto da terra prometida, em lugar do deserto escaldante.
Nesse contexto, Moisés foi instruído a formalizar uma nova aliança com aquela geração. Era o convite a entrar na aliança do Senhor, com maior ímpeto de obediência e maior senso de responsabilidade. Porque se Deus é, de fato, perdoador, Ele é também infinito em justiça. Não haveria justificativa para o pecado da descrença nem o pecado de colocar algo ou alguém em lugar de Deus, nas afeições, no amor e no temor. Apenas Ele deveria ser superlativamente amado e somente Ele poderia ser soberanamente temido. O erro da geração passada havia sido o de se esquecer disso. E eles, a nova geração, na nova aliança não poderiam se esquecer.
Essa é a mensagem final de Deuteronômio: responsabilidade para com a Lei e dependência completa da graça. Assim Jesus ensinou em Deuteronômio, como vimos na última semana e, também assim ensinaram os discípulos de Jesus. Essa visão de Deuteronômio como uma nova aliança apresenta profundo impacto na compreensão de como as alianças são renovadas nas Escrituras. Obviamente, é preciso lembrar que a aliança é de Deus, entre a Divindade, em favor do Universo criado, que se torna beneficiário, não constituinte da aliança, como vimos ao longo desse estudo nos meses passados.
Logo, cada renovação da aliança é a renovação proposital da graça subjacente à aliança maior, aquela que é eterna, cujo fundamento é a morte do Cordeiro antes da fundação do mundo (Ap 13:8). E da lição da renovação de Deuteronômio aprendemos que, em hipótese nenhuma, renovar significa colocar de lado um yod ou qualquer outro elemento, por menor que seja, da aliança que se renova. De fato, é o contrário! A renovação da aliança é a repetição positiva dos elementos básicos da anterior, com ressignificação para o momento presente desses elementos: Lei e graça. Assim, cada nova aliança é, de fato, a renovação da provisão de amor e justiça de Deus, que se manifestam profundamente nesse binômio de Lei e graça. A graça não anula a Lei e a Lei não existe sem graça. Daí a profundidade teológica do uso de Deuteronômio no prólogo do Evangelho de João não é alcançada pelos estudos de uma velha perspectiva que isola e antagoniza a Lei e a graça.
Esse binômio, parte da aliança, tem como resultados o relacionamento responsável com Deus e Sua Lei e a profunda gratidão por Sua graça, que se interpõe à morte exigida e apresenta a salvação imerecida. E na experiência da morte de Moisés, com a qual terminamos nosso estudo, a vemos de forma poderosa.
Aquele grande homem, como ocorre com todas as pessoas, cometeu um ato de impensado afastamento de Deus, causado pela natureza humana, pela emoção humana, enfim, pela humanidade. Ele golpeou uma rocha, em lugar de apenas falar, como Deus lhe havia ordenado. E por um ato simples, e aparentemente sem importância, Deus tomou uma atitude inaceitável para os padrões de julgamento atuais sobre como Deus deveria agir: Ele condenou Moisés a não ver o cumprimento da promessa de entrar na terra. Em Deuteronômio 3:23-26, encontramos um dos mais ríspidos diálogos entre Deus e Moisés: o servo de Deus pediu ao Senhor que o perdoasse e lhe permitisse entrar na terra prometida, ao que Deus, irado lhe respondeu: ´al-Tôsep Dabbër ´ëlay `ôd Baddäbär hazzè, que literalmente significa: Não adicione uma palavra em continuação ao que você disse antes! (Dt 3:26). Em bom português: Não dê mais nem um pio! Que sentimentos devem haver passado na mente de Moisés naquele momento! Talvez todo o seu labor, luta e sofrimento. Seria possível que Deus não tivesse amor por ele? Essa pergunta, que ele não fez, é repetida hoje a cada momento em que Deus não age em conformidade com nossas expectativas e vontades.
Quando isso ocorre, queremos atualizar a Bíblia, subverter a religião, inverter os polos, reinterpretar o que foi dito, porque se não passa pelo meu filtro, que digo ser o filtro de Cristo, não me serve, não é santo, porque o Deus a quem eu digo servir é, ao contrário, meu servo e minha projeção de meu próprio endeusamento. Moisés, ao contrário, se recolheu a seus sentimentos ruins, certamente conhecidos de Deus, e apenas viveu com eles pelos tempos além, sabendo que um Deus que livra todo um povo não pode ser mau. Um Deus que abre o mar, deve saber o que faz. Um Deus que legisla sobre tudo em poucas e diretas palavras sabe o melhor caminho. Em lugar de atualizar a Bíblia ou de subverter a revelação, Moisés atualizou a si mesmo, utilizando as definições de pecado de Deus, e submeteu-se à vontade revelada. O resultado?
Em Deuteronômio 34, Moisés é chamado ao descanso. Ele é levado ao monte Pisga e dali contempla toda a terra prometida. É como se Deus não estivesse satisfeito em impedi-lo de entrar e o quisesse torturar com a visão do que ele não teria naquele momento. Como se alguém convidasse você para almoçar, mostrasse toda comida deliciosa que foi feita e depois fechasse a porta na sua cara! Como Deus poderia ser assim? Ele não era! No capítulo 3:23, Moisés havia pedido a Deus que o deixasse entrar na terra da promessa. Pedir em hebraico aqui é veetchanan, cujo valor numérico é de 515, um número que a tradição judaica diz se referir à quantidade de vezes que Moisés pediu para Deus lhe permitisse entrar na Terra. E Deus disse 515 vezes não. Em Deuteronômio 34, Moisés pediu mais uma vez, 516, e Deus diz outra vez não! Mas, como diz o Midrash, Deus tinha algo muito maior para Moisés. Sua recompensa no ‘olam habaa (mundo futuro) não esperaria até o mundo futuro para ocorrer. Ele seria ressuscitado logo após haver sofrido a consequência de seu pecado (Mt 17; Rm 5:14; Jd 9). Ele representaria aqueles que, passando pela morte, seriam chamados de volta no estabelecimento do reino messiânico. Ele representaria Aquele que venceria a morte de forma definitiva, pondo fim ao seu império doloroso (Rm 5:14; 1Co 15:21-23), Cristo, o Cordeiro de Deus, morto mas vivo pelos séculos dos séculos (Ap 5:3-14).
Mas mesmo sua morte seria incomum. No verso 5 de Deuteronômio 34, sua morte é descrita como ocorrendo ‘al-pi adonay, que literalmente quer dizer, com a boca do Senhor. Os sábios de Israel entendiam que essa expressão indicava que Deus beijou Moisés, antes de sua morte, em um ato de profundo afeto, permitiu que Moisés O contemplasse e, no mais belo cumprimento do Salmo 117, acariciou Seu rosto. Que fantástica forma de descansar! Vendo Deus, tocando Deus, recebendo um beijo de Deus, sendo ressuscitado por Deus!
Portanto, nessa história em Deuteronômio, somos ensinados que o perdão não tira consequências terrenas, mas afasta resultados eternos para nossos atos impensados e pecaminosos. A graça alcançou Moisés, beijou Moisés, o fez descansar e o trouxe de volta à vida. A graça de Deus pode fazer o mesmo a cada um de nós e por todos nós! Shalom!
Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O pastor Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É bacharel em Teologia, mestre em Teologia Bíblica e cursa doutorado em Bíblia Hebraica. É pastor na Escola do Pensar e no Instituto de Estudos Judaicos Feodor Meyer. É membro da Adventist Theological Society, International Organization for the Study of the Old Testament, Society for Biblical Literature e Associação dos Biblistas Brasileiros.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2021
Tema Geral: Deuteronômio
Introdução a Deuteronômio
Autor: Sérgio H. S. Monteiro
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Rosemara Santos
Nome do livro
O quinto livro das Escrituras, completando o chamado Pentateuco é “Deuteronômio”. O título do livro significa “Segunda Lei”, em português, e deriva do termo utilizado na Septuaginta (tradução grega da Bíblia hebraica, datada do 3º ou 4º século a.C.). O título original do livro, entretanto, como era comum nas Escrituras Hebraicas, deriva de suas primeiras palavras: “eleh hadevarim”, ou “estas são as palavras”. O título hebraico acentua a característica discursiva do texto, enfatizando o que é dito nele mesmo, segundo o qual, Deuteronômio se constitui em um discurso feito por Moisés, antes de sua morte (Dt 1:3). Já o título grego enfatiza o conteúdo legal do livro, com sua ampla repetição da Lei. Parece indicar, também, que os tradutores da Septuaginta viam o texto como sendo o texto encontrado pelos auxiliares do rei Josias, e que guiou suas reformas religiosas no 7º século a.C., como já sugerido pelos pais da igreja. Sendo isso um fato ou não, o título grego Deuteronômio se harmoniza de maneira perfeita com o conteúdo do livro, assim como o título hebraico se harmoniza com a forma dele (o que, diga-se de passagem, não aconteceu com outros livros cujo título grego causa apenas confusão, como “Números”, cujo título hebraico é Bamidbar: “no deserto”).
Essa dupla nomenclatura deverá ser mantida em nossa jornada nos próximos três meses, enquanto estudamos o guia da Lição da Escola Sabatina sobre Deuteronômio. Ele nos ajudará a compreender vários aspectos do livro, que podem ser perdidos de outra forma. Devemos, portanto, lembrar em cada leitura que estamos lidando com um discurso de Moisés, carregado do impacto de sua sabida despedida. Nesse discurso, ele relembra ao povo as experiências históricas que o levaram até aquele momento, dando-lhe, por seu turno, uma repetição da própria legislação que brotou de cada uma das experiências vividas.
Autoria e data
De longa data Deuteronômio foi reconhecido e recebido como um texto mosaico. Ele provinha da pena de Moisés e do período mosaico. Foi apenas com Baruch Spinoza, judeu espanhol do século 17, que dúvidas foram levantadas quanto à autoria mosaica do Pentateuco. Ele afirmou, por exemplo, que Moisés não poderia haver escrito sobre sua própria morte (Dt 34) e, portanto, o livro de Deuteronômio não era de sua autoria.
A principal teoria quanto à autoria do Pentateuco é que o texto é da época da reforma de Josias, por volta de 621 a.C., tendo sido produzido pelo palácio para dar validade a um projeto de poder que se centralizava em Jerusalém em torno do palácio, da figura real, do sacerdócio e do templo. Não obstante, evidências internas demonstram que o livro de Deuteronômio é anterior aos profetas literários, que são datados do 8º século a.C., é anterior ao período da monarquia dividida do 10º século a.C., e à conquista da terra por Josué, entre os séculos 15 e 14 a.C.
Quanto aos profetas, a expressão “O Eterno Deus dos seus pais”, que aparece em Deuteronômio, não é encontrada em nenhum dos profetas literários, mas está registrada três vezes em Êxodo (3:6; 15:12 e 18:4). Igualmente, a situação descrita em Deuteronômio 16 não condiz com o que conhecemos do tempo de Josias, no sétimo século a.C. A reforma de Josias tinha por objetivo especialmente três problemas: os Kemarim (sacerdotes idólatras), os bamot (lugares altos) e os cavalos de bronze para adoração ao deus sol. Nenhum desses itens é mencionado em Deuteronômio, criando uma tremenda dificuldade para os que enxergam uma data no 7º século a.C.
Evidência de que o texto tenha sido anterior à divisão do reino inclui a ausência de qualquer menção ou sugestão de que houvesse divisão entre Judá e Efraim e a frequência de expressões que entendem Israel como uma nação única (cf. Dt 1:13, 15, etc.). Igualmente, o relato demonstra que o livro foi ambientado em um período no qual Israel ainda não habitava em Canaã. Por exemplo, quando as fronteiras da terra são mencionadas, elas são descritas como “terra dos amorreus” e “Líbano” (1:7), e não como “de Dã até Berseba”, como em livros posteriores. A própria legislação de Deuteronômio pressupõe uma sociedade ainda em preparo para a entrada na terra, não uma que já estivesse ali estabelecida. Dos 346 versos dos capítulos 1–26, mais da metade é religioso e moral, enquanto 93 lidam com mandamentos sobre a iminente entrada na terra.
Em resumo, a melhor data para Deuteronômio é aquela apresentada no próprio texto: a iminente entrada na terra, quando Moisés ainda vivia, no fim dos 40 anos de peregrinação no deserto, por volta de 1405 a.C. No esteio da datação, faz todo sentido a autoria mosaica, estabelecida pelo texto de forma indireta e pelas referências posteriores a Deuteronômio como a Lei de Moisés.
Crítica textual
Como todos os livros da Bíblia, Deuteronômio possui também uma longa história textual. Os livros do Pentateuco, por sua vez, não têm uma história textual com variações muito importantes, uma vez que sempre foram considerados no pensamento judaico como ditados por Deus. Dessa forma, o processo de cópia respeitava – e respeita – estritas regras que visam impedir a corrupção do texto. Mas, com o decurso do tempo e principalmente com o surgimento de divisões internas no judaísmo, ainda que não tenha diminuído a importância e sacralidade da Torá/Pentateuco, surgiram tradições textuais diferentes, vistas no próprio texto, sendo as três principais o Pentateuco Samaritano, a Septuaginta e os Manuscritos do Mar Morto.
O texto padrão é conhecido como texto massorético por haver sido preservado por escribas especializados que preservaram a massorá, cujo significado é tradição, reconhecida como a que remontava até Moisés.
Os principais manuscritos massoréticos são o Códice de Alepo, datado de por volta de 920 a.C. e o Códice de Leningrado, datado em 1008 a.C. Esses dois manuscritos são a base do texto das Bíblias Hebraicas de hoje. Esses dois textos são comparados a outros manuscritos e, através de procedimentos próprios da crítica textual, o texto original é restaurado.
O Pentateuco Samaritano é o texto utilizado pelos samaritanos, escrito em alfabeto samaritano, que em poucas coisas se assemelha ao alfabeto hebraico que possuímos, mas que representa o alfabeto utilizado, provavelmente, por Israel antes do exílio da Babilônia. Ele possui não apenas uma língua diferente, mas também versos com versões alternativas, como a versão samaritana dos dez mandamentos, que conclama o povo a fazer um altar no monte Gerizim para adoração. No texto de Deuteronômio, encontramos duas interessantes mudanças também relacionadas com o lugar de adoração. No capítulo 27:2-8, o texto massorético emprega o futuro para indicar que Deus “escolherá” o lugar de adoração. Já no texto samaritano, o verbo utilizado está no passado, informando que ele já “escolheu” e essa escolha é o monte Gerizim, que, no Pentateuco Samaritano, toma o lugar do monte Ebal (v. 4).
A Septuaginta, ou a versão dos LXX, é a versão grega da Bíblia Hebraica, produzida por volta do 3º século a.C., com permissão do Sinédrio. De acordo com a tradição judaica, ela foi produzida por 72 sábios da Torá que, mesmo isolados, produziram um trabalho coerente. O que conhecemos como LXX, entretanto, tem em si mesmo uma história textual, que nos entregou versões, com a LXX propriamente dita e as versões de Teodócio, Símaco e Áquila. As alterações que a LXX preservou no texto de Deuteronômio são de tal importância que geraram toda uma disciplina de estudos. Os resultados desses estudos mostraram que, em algum momento, houve o surgimento de uma tradição textual que divergia do texto hebraico e tinha sido preservada pela LXX. O caminho dessa tradição textual foi no sentido de aproximar Deus do ser humano, focalizando mais em Sua imanência do que em Sua transcendência. Além disso, é clara a influência helenística na tradução da LXX.
A descoberta dos manuscritos do Mar Morto, em 1947, deu novo impulso à pesquisa do texto original dos livros bíblicos. Em relação a Deuteronômio, foram encontrados manuscritos em quase todas as cavernas, sendo a caverna quatro a principal, com 22 manuscritos encontrados. Alguns desses manuscritos concordam com o texto massorético do 9º século a.C., enquanto outros preservam uma leitura próxima da leitura da LXX.
Em suma, hoje possuímos como nunca, uma variedade de manuscritos de Deuteronômio que nos permite, por meio de análises textuais, nos aproximar muito, ou mesmo tocar, os textos como saíram das mãos de Moisés.
Estrutura
O livro de Deuteronômio consiste basicamente em discursos de despedida de Moisés. Reconhecem-se três discursos principais com apêndices curtos lidando com aspectos da aliança. A estrutura abaixo é um resumo da descrição apresentada por Gleason Archer em Merece Confiança o Antigo Testamento, p. 170, 171:
I. Primeiro Discurso: Revisão Histórica, cap. 11–4:43
II. Segundo Discurso: Leis Pelas Quais Israel Deve Viver, 4:44–26:19
III. Terceiro Discurso: Advertência e Predição, 27:1–30:20
IV. Lei Escrita Entregue aos Líderes, 31:1-30
V. O Cântico de Moisés: A Responsabilidade de Israel Diante da Aliança, 32:1-43
VI. Despedida e Recomendações Finais, 32:44–33:29
VII. A Morte de Moisés, 34:1-12
Tematicamente, é possível perceber uma estrutura circular, tendo o código da aliança, nos capítulos 12–26 como centro e duas molduras: uma interna (capítulos 4–11 e 27–30) e outra externa (capítulos 1–3 e 31–34). Essa estrutura demonstra o papel central da aliança no pensamento apresentado no livro.
Temas
São três os temas centrais do livro de Deuteronômio: Deus, Israel e Aliança.
Deus
Ele é o centro do livro, além de ser o centro das Escrituras. No Pentateuco, e em Deuteronômio em particular, Deus é apresentado por meio das lentes da revelação histórica, mais do que da natureza. Aliás, essa é uma das contribuições e polêmicas da Bíblia Hebraica: Deus é melhor conhecido por meio da Sua ação histórica. A história é o palco da revelação divina e a natureza apenas demonstra Seu poder criador, mas não Sua vontade redentora!
Israel
É o povo escolhido de Deus. Na Torá isso se torna explícito e claro. Em Deuteronômio, somos constantemente relembrados disso. Essa escolha, totalmente fundamentada em um ato livre da graça divina, não se baseia em nada que Israel houvesse apresentado para atrair a Divindade. Ao contrário, Israel havia sido infiel e desobediente e seguiria assim. Entretanto, por ser fiel à Sua aliança, o Eterno Se manteria ligado a esse povo.
Aliança
É o centro do relacionamento entre o Eterno e Israel. Embora nosso conceito de aliança precise ser revisto para perceber como a aliança é puramente divina, feita entre os membros da Divindade para benefício da ordem criada em geral e dos seres humanos em particular, não resta dúvida de que a aliança é o que liga o Céu à Terra, funcionando como um reino no qual os seres criados, perdidos e redimidos são convidados a entrar e viver. O coração de Deuteronômio pulsa com a aliança. No seu próprio centro, nos capítulos 12–26, encontramos o código de conduta dessa aliança, repetida por Moisés, que conclamou os israelitas a entrar nesse compromisso com o Senhor.
Lendo Deuteronômio
Moisés, em seus discursos carregados de emoção, inicia com a lembrança resumida de que eles ali chegaram porque, um dia, Deus prometeu aos seus pais a terra como herança, e isso não foi em decorrência de qualquer ação dos pais, mas pela livre graça amorosa de Deus. Essa é a lembrança fundamental que irá permear a caminhada de Israel, ou que deveria fazê-lo: o único antídoto para a apostasia e fundamento da esperança é a compreensão de que a origem de Israel é o chamado histórico de Deus. Embora Moisés não se preocupe em traçar as origens do povo até a criação, não resta dúvida de que na figura dos “pais” a história primordial está incluída, porque na visão bíblica, os patriarcas, como todos os seres humanos, são resultado dos primeiros 11 capítulos de Gênesis.
Por isso, um método sadio de interpretar e entender Deuteronômio deve levar em consideração alguns aspectos essenciais:
1. O texto é narrativo e apresenta um discurso de despedida de Moisés;
2. Grande parte do discurso apresenta palavras de Moisés e não de Deus.
3. O texto de Deuteronômio serve com um fechamento apropriado para a história iniciada em Gênesis, permitindo perceber várias nuances do amor de Deus individualizado.
O primeiro item deve nos levar a compreender o peso de cada palavra do texto. Os cinco discursos de Moisés que compõem o livro, mais a narrativa de sua morte, quando lidos a partir da perspectiva de um discurso de despedida, trazem uma visão diferente de cada tema apresentado. Não estão ali apenas palavras éticas de um grande professor, ou a narrativa histórica distante de um historiador, nem mesmo as palavras bem equilibradas de um poeta, mas a viva expressão da certeza de sua partida, temperada com a vívida fé histórica, moldada não pelas experiências de outrem, mas dele mesmo, como testemunho para aquela geração que descendia da geração que tinha morrido no deserto, mas também para futuras eras. A emoção é sensível nas palavras de repetição da legislação para aqueles jovens.
E por serem carregadas do tempo de vivência e da emoção do fim, as narrativas históricas de Deuteronômio são pintadas com a tinta da reflexão, e as pinceladas legislativas não são apenas repetidas menções de artigos do código levítico, mas vívidas interpretações daquele código. E aqui somos agraciados com uma oportunidade única: podemos ver Moisés, não como o mediador da entrega da Lei, mas como um intérprete. É possível, e isso é único, pensar nas palavras repetidas da Lei como a maneira pela qual o próprio Moisés entendeu a legislação dada a Ele por Deus e, por meio dele, ao povo! E precisamos permitir que essa realidade, a de que estamos escutando e lendo o que Moisés (certamente guiado pelo Espírito Santo) compreendeu da legislação que Deus lhe havia entregue, quando lermos os textos legais, apareça e faça parte do modelo de intepretação e restrinja nossa vontade de ser independentes em demasia.
Por fim, se mantivermos os dois primeiros artigos de nosso método em foco, aliados ao terceiro, quando estudarmos cada lição durante este trimestre, poderemos perceber que Deuteronômio trata precisamente da história como revelação, usando a expressão tão precisa de Wolfhart Pannemberg. Sim, a história sempre foi vista como um dos meios pelos quais Deus Se revela de forma geral, mas o fato, percebido por Pannemberg em Deuteronômio, é que a história é o palco por excelência da revelação especial, ou do plano da salvação. Por isso, podemos, e mais do que isso, devemos ler Deuteronômio como uma franca declaração histórica de um Deus que não legisla no vácuo, mas fundamenta Suas leis na Sua autorrevelação, contínua e constante, que se dá no palco da história. Ele quer ser não apenas o Autor distante da história, mas parte dela, interagindo com o ser humano e se relacionando com o mundo criado. Nessa verdade impressionante e transformadora apresentada na Torá (Pentateuco) e emocionalmente declarada e repetida nas palavras de Moisés, encontramos o foco do próprio Deuteronômio.
Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O Pr. Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É Bacharel em Teologia, Mestre em Teologia Bíblica, cursa doutorado em Bíblia Hebraica. É Pastor na Escola do Pensar e no Instituto de Estudos Judaicos Feodor Meyer. É membro da Adventist Theological Society, International Organization for the Study of the Old Testament, Society for Biblical Literature e Associação dos Biblistas Brasileiros.