Lição 3
14 a 20 de julho
A vida na igreja primitiva
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Pv 16–19
Verso para memorizar: “Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo” (At 2:46, 47).
Leituras da semana: At 2:42-46; 3:1-26; 4:1-18, 34, 35; 5:1-11, 34-39

O senso de urgência da igreja primitiva não poderia ter sido mais forte. A resposta de Jesus à pergunta relativa ao estabelecimento do reino messiânico, deixando a questão do tempo em aberto (At 1:6-8), podia ser entendida como se tudo dependesse da vinda do Espírito e da conclusão da missão apostólica. Portanto, quando veio o Pentecostes, os cristãos primitivos pensaram que tudo estava cumprido: eles haviam recebido o Espírito e compartilhado o evangelho com o mundo inteiro. Não que os apóstolos tivessem deixado Jerusalém e saído mundo afora, mas o mundo tinha vindo até eles (At 2:5-11).

O que aconteceu a seguir foi o desprendimento dos bens materiais por parte dos membros da igreja. Percebendo que o tempo era curto, eles venderam tudo o que tinham e se dedicaram ao estudo e à comunhão, enquanto continuavam a testemunhar de Jesus em Jerusalém. A vida comunitária que eles desenvolveram, ainda que eficaz em ajudar os pobres, logo se tornou um problema, e Deus teve que intervir para manter a igreja unida. Esse também foi o momento em que eles começaram a enfrentar oposição. No entanto, em meio a tudo isso, sua fé permaneceu inabalável.



Domingo, 15 de julho
Ano Bíblico: Pv 20–24
Ensino e comunhão

Após o Pentecostes, Lucas muda a narrativa para uma descrição geral da vida da igreja em Jerusalém. “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (At 2:42). Os quatro itens acima podem ser divididos em dois grupos apenas: ensino e comunhão. De acordo com o verso 46, o ensino era realizado no templo, enquanto a comunhão ocorria nas casas dos irmãos.

O pátio do templo era cercado por alpendres cobertos, frequentemente usados para instrução rabínica. O fato de que os cristãos se dedicavam aos ensinamentos dos apóstolos mostra que o dom do Espírito não os levou a uma religião contemplativa, mas a um intenso processo de aprendizagem sob a direção dos apóstolos, cujo ensino autoritativo era validado por sinais e prodígios (At 2:43).

A comunhão espiritual era outra marca distintiva da piedade cristã primitiva. Os fiéis estavam constantemente juntos, não só no templo, mas também em suas casas, onde compartilhavam refeições, celebravam a Ceia do Senhor e oravam (At 2:42, 46). Com essas celebrações diárias, eles expressavam sua esperança no breve retorno de Jesus, quando a comunhão do Senhor com eles seria restaurada no reino messiânico (Mt 26:29).

As casas dos irmãos desempenharam um papel fundamental na vida da igreja primitiva. Os seguidores de Jesus ainda frequentavam as cerimônias diárias do templo (At 3:1) e, no sábado, presumivelmente estavam nas sinagogas com seus irmãos judeus (Tg 2:2), mas os princípios distintivos da devoção cristã eram cumpridos nas casas.

1. Leia Atos 2:44, 45; 4:34, 35. Qual era um dos aspectos importantes da comunhão cristã primitiva?

A. (  ) Eles tinham tudo em comum; vendiam suas propriedades e o dinheiro era distribuído entre os necessitados.

B. (  ) Eles matavam cordeiros como oferta pelo pecado.

Acreditando que o fim estava próximo, eles chegaram à conclusão de que seus bens materiais, ou “propriedades privadas” (para usar um termo mais atualizado), já não eram mais tão importantes. O uso comunitário de seus recursos materiais, portanto, parecia apropriado. Não havia motivo para se preocuparem com o futuro, já que o próprio Messias supriria suas necessidades no reino messiânico (Lc 22:29, 30). Esse compartilhamento permitiu que eles experimentassem um senso mais profundo de unidade, além de se tornar um extraordinário exemplo de generosidade cristã.

Você é generoso com o que recebeu do Senhor?


Segunda-feira, 16 de julho
Ano Bíblico: Pv 25–27
A cura de um coxo

Em Atos 3:1, Pedro e João foram ao templo para a reunião de oração das 3 horas da tarde. Isso indica o caráter essencialmente judaico da fé da igreja nesse período inicial. Ou seja, os apóstolos não iam ao templo apenas para instruir ou fazer novos conversos, mas porque ainda eram judeus e, como tais, ainda estavam comprometidos com as tradições religiosas judaicas (At 20:16; 21:17-26), pelo menos até aquele momento. Ali eles realizaram um milagre impressionante (At 3:1-10), que deu a Pedro a oportunidade de pregar outro sermão.

2. Leia Atos 3:12-26. Quais são as principais ênfases do sermão de Pedro?

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Cinco pontos principais caracterizaram a pregação da igreja primitiva: Jesus era o Messias sofredor (At 3:18); Deus O havia ressuscitado (At 3:15); Jesus havia sido exaltado no Céu (At 3:13); Ele voltaria (At 3:20); e o arrependimento era necessário para o perdão dos pecados (At 3:19).

Em muitos aspectos, estamos levando ao mundo essa mesma mensagem, mesmo que o contexto tenha mudado. Os apóstolos ainda estavam em um contexto judaico no qual, em vez de mudarem de religião, as pessoas simplesmente tinham que “migrar” da antiga aliança para a nova. Como parte do povo de Deus, eles tinham que aceitar o Messias e experimentar o novo nascimento, que resulta de uma verdadeira aceitação de Jesus.

Hoje, embora a situação seja diferente, a mensagem ainda é essencialmente a mesma: Cristo morreu pelos nossos pecados, ressuscitou e virá outra vez. Isso significa, portanto, que podemos encontrar a salvação Nele. Mesmo no contexto das três mensagens angélicas de Apocalipse 14, a cruz, a ressurreição e o retorno de Cristo devem ser a ênfase central dessa mensagem que proclamamos.

“De todos os professos cristãos, os adventistas do sétimo dia devem ser os primeiros a exaltar a Cristo perante o mundo. A proclamação da terceira mensagem angélica pede a apresentação da verdade do sábado. Essa verdade, juntamente com outras incluídas na mensagem, tem que ser proclamada; mas o grande centro de atração, Cristo Jesus, não deve ser deixado à parte. É na cruz de Cristo que a misericórdia e a verdade se encontram, e a justiça e a paz se beijam. O pecador deve ser levado a olhar ao Calvário; com a fé singela de uma criancinha, deve confiar nos méritos do Salvador, aceitando Sua justiça, confiando em Sua misericórdia” (Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, p. 156, 157).



Terça-feira, 17 de julho
Ano Bíblico: Pv 28–31
O surgimento da oposição

Não demorou muito para que o sucesso da igreja despertasse a oposição de alguns líderes de Jerusalém. O templo de Jerusalém era dirigido pelo sumo sacerdote e seus associados, que em sua maioria eram saduceus. O sumo sacerdote também era o presidente do conselho do Sinédrio, que naquela época era composto principalmente de saduceus e fariseus. Visto que os saduceus não acreditavam na ressurreição, eles ficaram muito perturbados, pois Pedro e João ensinavam que Jesus havia ressuscitado dos mortos. Presos pelos guardas do templo, os apóstolos foram detidos até o dia seguinte, quando foram levados perante o conselho (At 4:1-7).

3. Leia Atos 4:1-18. Quando perguntaram qual era a autoridade pela qual os apóstolos estavam agindo, como Pedro respondeu? Qual mensagem fundamental nas palavras de Pedro os líderes consideraram tão ameaçadora?

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O desafio quanto à autoridade apresentado pelos líderes judeus sugere uma preocupação com o poder. Pedro, no entanto, declarou não apenas que o milagre tinha sido realizado em nome de Jesus, mas também que a salvação vinha somente Dele. Os apóstolos estavam diante do mais alto conselho judaico; entretanto, eles estavam a serviço de uma autoridade muito maior. Aqueles homens eram simples pescadores galileus, sem instrução formal; por isso, sua coragem e eloquência impressionaram os que estavam ali. Embora os líderes não percebessem isso, os apóstolos estavam cheios do Espírito Santo, exatamente como Jesus havia predito (Mt 10:16-20).

Sem poder negar o milagre, visto que o homem curado também estava presente de modo que todos podiam vê-lo, os membros do Sinédrio ordenaram aos apóstolos que parassem de pregar. Eles temiam a mensagem tanto quanto a crescente popularidade do movimento. Visto que não avaliaram apropriadamente as evidências, eles permitiram que o preconceito e o desejo de autopreservação ditassem suas ações.

As palavras finais de Pedro estão entre as joias mais preciosas do livro de Atos: “Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (At 4:19, 20).

Pense no desejo de poder e quanto ele é perigoso, em qualquer nível e contexto. Sendo cristãos chamados para ser servos, por que devemos ter cuidado com a sedução do poder?


Quarta-feira, 18 de julho
Ano Bíblico: Ec 1–4
Ananias e Safira

A partilha de bens na igreja primitiva não era obrigatória; ou seja, não era uma condição formal para que alguém se tornasse membro. Entretanto, certamente houve vários exemplos de generosidade voluntária que inspiraram toda a comunidade. Um desses exemplos foi Barnabé (At 4:36, 37), que mais tarde desempenharia um importante papel no livro de Atos.

Contudo, também havia exemplos negativos que ameaçavam a unidade da igreja, logo num momento em que os ataques externos haviam acabado de começar.

4. Leia Atos 5:1-11. Quais são as lições dessa história?

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Embora Lucas não tenha dado todos os detalhes, não há dúvida de que o problema fundamental de Ananias e Safira não era a tentativa de manter consigo o dinheiro, mas a prática do engano dentro da comunidade. O pecado deles não foi resultado de um ato impulsivo, mas de um plano cuidadosamente preparado, uma tentativa deliberada de “tentar o Espírito do Senhor” (At 5:9). Eles não foram obrigados a vender sua propriedade e entregar o dinheiro à igreja. Portanto, quando se comprometeram a fazê-lo, eles possivelmente estivessem agindo apenas em seu próprio interesse, talvez até tentando ganhar influência entre os irmãos com o que parecia ser um ato louvável de caridade.

Essa possibilidade ajuda a explicar por que Deus os puniu tão severamente. Mesmo que a vida comunitária da igreja resultasse da convicção de que Jesus estava prestes a vir, um ato como o de Ananias e Safira em um período tão precoce poderia depreciar a importância da lealdade a Deus e se tornar uma influência negativa entre os fiéis. O fato de não haver menção de que Ananias tivesse recebido a chance de se arrepender, como no caso de Safira (At 5:8), pode ser apenas em razão da brevidade do relato.

O ponto principal é que, durante todo o tempo, eles agiram de maneira pecaminosa, e o pecado é um assunto sério aos olhos de Deus (Ez 18:20; Rm 6:23), mesmo que Ele nem sempre o castigue imediatamente. Na verdade, por ser muitas vezes adiado, o castigo deve constantemente nos lembrar de como Deus é longânimo (2Pe 3:9).

Por que devemos cuidar para não exceder os limites da graça, como esses dois membros da igreja primitiva fizeram?


Quinta-feira, 19 de julho
Ano Bíblico: Ec 5–8
A segunda prisão dos apóstolos

Se os apóstolos podiam ser usados para trazer o juízo de Deus sobre o pecado, como no caso de Ananias e Safira, eles também poderiam ser usados para trazer a graça de Deus aos pecadores. Seu poderoso ministério de cura (At 5:12-16) era uma prova tangível de que o Espírito de Deus estava atuando por meio deles. É impressionante que as pessoas acreditavam que até mesmo a sombra de Pedro podia curar as pessoas. O paralelo mais próximo nos evangelhos é o de uma mulher que havia sido curada ao tocar as vestes de Jesus (Lc 8:43, 44). Lucas, no entanto, não declara que a sombra de Pedro realmente tinha poder de cura, mas que as pessoas pensavam assim. No entanto, mesmo que a superstição popular estivesse envolvida, Deus ainda assim concedia a Sua graça.

Não obstante, quanto mais os apóstolos eram cheios do Espírito, e sinais e prodígios se multiplicavam, mais os líderes religiosos se enchiam de inveja. Isso os levou a prender os apóstolos uma segunda vez (At 5:17, 18). Foi somente após sua libertação miraculosa (At 5:19-24) e outro discurso ousado de Pedro, destacando que eles deveriam “obedecer antes a Deus do que aos homens” (At 5:29, NVI), que algumas autoridades começaram a considerar a possibilidade de que influências sobrenaturais poderiam estar em operação.

5. De acordo com Atos 5:34-39, como Gamaliel tentou dissuadir o Sinédrio de tirar a vida dos apóstolos?

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O Sinédrio era controlado pelos saduceus, sendo os fariseus uma minoria influente. Gamaliel era um fariseu e um doutor da lei. Ele era tão altamente estimado pelos judeus, que se tornou conhecido como Rabban (“nosso mestre”), em vez de simplesmente Rabi (“meu mestre”). Paulo foi um de seus discípulos (At 22:3).

Gamaliel relembrou outros dois movimentos rebeldes na história recente de Israel, que também haviam atraído seguidores e causado tumultos. Seus líderes, no entanto, haviam sido mortos e, seus seguidores, completamente dispersos. A lição que ele extraiu disso foi que, se o movimento cristão fosse de origem humana, logo desapareceria. Por outro lado, se fosse um movimento divino, como afirmavam os apóstolos, como poderiam resistir? O conselho de Gamaliel prevaleceu. Os apóstolos foram açoitados e, mais uma vez, ordenados a não falar em nome de Jesus.

Bons conselhos podem muitas vezes ser necessários e úteis. Como podemos ser mais abertos a receber conselhos, mesmo quando eles apresentam o que não queremos ouvir?


Sexta-feira, 20 de julho
Ano Bíblico: Ec 9–12
Estudo adicional

Nós somos os mordomos, que recebemos de nosso Senhor que se ausentou o encargo de cuidar de Sua casa e de Seus interesses, desde que Ele veio servir a este mundo. Ele voltou ao Céu, deixando-nos encarregados de Seus assuntos, e espera que aguardemos e vigiemos até Seu aparecimento. Sejamos fiéis a nosso encargo, para que, vindo de repente, Ele não nos ache dormindo” (Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 8, p. 37).

“As pessoas precisam ser impressionadas com a santidade de seus votos e promessas em favor da causa de Deus. De maneira geral, não se considera que essas promessas sejam tão obrigatórias quanto uma nota promissória feita de um ser humano para outro. Mas será que uma promessa é menos sagrada e obrigatória por ter sido feita a Deus? Por lhe faltarem alguns termos técnicos e seu cumprimento não ser obrigatório por lei, o cristão desconsiderará a obrigação na qual empenhou sua palavra? Nenhuma nota ou compromisso legal é mais obrigatório do que uma promessa feita em favor da causa de Deus” (Comentário Bíblico Adventista, v. 6, p. 1173).

Perguntas para discussão

1. Entre muitas outras coisas, Jesus deixou dois legados imediatos aos discípulos: a expectativa de Seu breve retorno e uma missão mundial. Como esses dois fatores devem afetar nosso senso de missão e o chamado para pregar o evangelho ao mundo?

2. Alguém disse: “Devemos estar prontos como se Jesus fosse voltar hoje, mas continuar trabalhando [na missão da igreja] como se Ele fosse demorar mais cem anos.” Essa opinião é correta? Como podemos aplicá-­la ao nosso chamado?

3. Por que a vida, a morte, a ressurreição e o retorno de Jesus devem estar no centro da nossa pregação? O que seria de nossa pregação sem esses eventos?

4. O que a história de Ananias e Safira nos ensina sobre a dificuldade para conhecer o coração dos outros, seja para o bem ou para o mal?

5. Você conhece alguns Gamaliéis modernos? Você desempenha essa função em relação a outras pessoas? Compartilhe com a classe exemplos de como o ato de dar ou receber conselhos sábios fez algum bem para você. Quais lições podemos aprender com esses relatos?

Respostas e atividades da semana: 1. A. 2. Peça a participação da classe. Cada aluno deve destacar uma ênfase do sermão de Pedro. 3. Pela autoridade de Jesus. Os líderes temiam que o nome de Jesus assumisse a autoridade que eles tinham sobre o povo, fazendo-os perder o prestígio. 4. Promova um debate a respeito de como podemos agir como Ananias e Safira nos dias de hoje. Pensem juntos em maneiras de fugir dessas situações. 5. Seu argumento foi que se as obras dos apóstolos eram de Deus, elas prosperariam. Se não, por si mesmas, fracassariam.



Resumo da Lição 3
A vida na igreja primitiva

TEXTOS-CHAVE: Atos 2:32-47; 5:1-11

O ALUNO DEVERÁ

Conhecer: A importância de responder corretamente ao chamado do evangelho.
Sentir: Cultivar um novo relacionamento com Deus e com a comunidade de fé.
Fazer: Viver e compartilhar sua fé.

ESBOÇO

I. Conhecer: Respostas fundamentais

A. Quais respostas negativas e positivas são esperadas dos novos cristãos?

B. Como podemos rejeitar as respostas negativas e confirmar as positivas?

II. Sentir: Cultivar novos relacionamentos

A. Como a igreja primitiva cultivava novos relacionamentos?

B. Quais fatores fortalecem ou enfraquecem as relações comunitárias?

C. Como nossa oferta de sacrifício auxilia na proclamação do evangelho e na edificação da comunidade?

III. Fazer: Promovendo a causa diante das adversidades

A. Como a igreja primitiva enfrentou as adversidades, mesmo enquanto crescia?

B. Qual é a nossa reação diante das diferentes personalidades da igreja primitiva: Barnabé, Paulo, Ananias e Safira?

RESUMO

A igreja está comprometida não apenas com o avanço da comissão evangélica, mas também em vencer os esforços de Satanás para frustrar a missão da igreja.

Ciclo do aprendizado

1 Motivação

Focalizando as Escrituras: Atos 2:41-47

Conceito-chave para o crescimento espiritual: O derramamento do Espírito Santo no Pentecostes ocasionou dois grandes milagres entre os discípulos (At 2:39-47). Primeiramente, eles viram a natureza universal do evangelho: Jesus é o Salvador não apenas “para vocês, para os seus filhos” (isto é, os judeus), mas “para todos os que estão longe, para todos quantos o Senhor, o nosso Deus chamar” (At 2:39, NVI). Em segundo lugar, os discípulos descobriram que o crescimento da igreja não depende do que o ser humano pode alcançar, mas do que o Espírito pode realizar por meio do estudo da Palavra, da promoção da comunhão espiritual e de uma vida de fé e testemunho.

Para o professor: Ser batizado em nome de Jesus e receber o Espírito Santo são apenas os primeiros passos para nos tornarmos membros da família de Deus. Após esses passos iniciais, os membros da igreja devem passar por várias experiências que produzam os seguintes resultados: firmeza doutrinária, crescimento na comunhão, partilha do pão, uma vida de oração particular e pública, visitação de casa em casa, vida simples e envolvimento com o crescimento da igreja (veja At 2:42-47). Discuta a importância dessa vida integral da igreja.

Discussão: “Sob a influência dos ensinos de Cristo, os discípulos tinham sido induzidos a sentir sua necessidade do Espírito. Mediante a instrução do Espírito receberam a habilitação final, saindo no desempenho de sua vocação” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 45). Observe duas frases nessa citação: “Sob [...] Cristo” e “mediante a instrução do Espírito”. O que essas frases significam para você?

2 Compreensão

Para o professor: O que é a igreja? É um edifício imponente? É um clube de pessoas de mentalidade semelhante que se reúnem para promover interesses e bem-estar comuns? É um centro de prevenção da crueldade para com o ser humano? É um local de reuniões onde as pessoas se encontram para adorar, estudar e orar a cada sábado? É uma associação beneficente para cuidar dos necessitados, doentes e famintos? Embora essas declarações possam fazer algum sentido, considere o seguinte: “Fraca e defeituosa como possa parecer, a igreja é o único objeto sobre o qual Deus concede em sentido especial Sua suprema atenção. É o cenário de Sua graça, na qual Se deleita em revelar Seu poder de transformar corações” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 12).

A lição desta semana revela três características da igreja: ela é 1) uma comunhão dos salvos; 2) um corpo vivo e centrado na cruz; e 3) um corpo de milagres, unidade e dificuldades

Comentário bíblico

I. A igreja: comunhão dos salvos

(Recapitule com a classe At 2:42-45; 4:34, 35.)

“Salvai-vos” (At 2:40). Esse foi o último apelo de Pedro em seu sermão pentecostal. O que o apóstolo quis dizer com esse apelo? Ele mesmo respondeu: “Salvai-vos desta geração perversa”. Salvar-se é uma experiência dupla. Primeiramente é rejeitar e fugir das perversidades da vida. É arrepender-se do pecado e rejeitar todas as suas seduções. Em segundo lugar, salvar-se significa pertencer completamente e sem reservas Àquele que nos salva – Jesus. Onde há conscienciosa e contínua rejeição do pecado e uma aceitação completa do chamado de Jesus, a salvação se torna uma realidade. Aqueles que são salvos constituem a igreja, o corpo de Cristo. A salvação precede a condição de membro da igreja.

No Novo Testamento, a palavra “igreja” é uma tradução da palavra grega ekklesia, que literalmente significa “chamado”. Na maioria das vezes, a palavra “igreja” é usada para descrever aqueles que são chamados do pecado para a justiça, do egocentrismo para uma vida centrada em Cristo, das coisas deste mundo que se desvanecem à inabalável realidade do lar celestial. Os “chamados” acreditam em Jesus como o Filho de Deus; aceitam-No como seu Salvador e Senhor, e reúnem-se para estudar Sua Palavra, para adorá-Lo como seu Senhor e para compartilhar Sua mensagem com aqueles que não O conhecem. A fé, a comunhão, o estudo, a adoração e o testemunho são algumas marcas essenciais da igreja. Tendo isso em vista, Jesus fez Sua promessa: “Edificarei a Minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16:18).

Pense nisto: “Os que, no Pentecostes, foram dotados com poder do alto, não ficaram por isso livres de tentações e provas” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 49). Pertencer à igreja não é garantia de que continuaremos em Cristo nem de que teremos uma vida livre de tristeza e sofrimento. Como então podemos permanecer como membros inabaláveis do corpo de Cristo, apesar das adversidades e das tentações?

II. A igreja: Um corpo vivo e centrado na cruz

(Recapitule com a classe At 3; 4:1-31.)

Uma igreja viva é uma igreja em crescimento. No Pentecostes, 3 mil pessoas de cerca de 15 regiões linguísticas do mundo (At 2:9-11, 41) aceitaram Jesus como seu Senhor e Salvador e ficaram cheias do Espírito. Assim a igreja começou, e “acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2:47). Daquele momento em diante, um novo elemento entrou na história humana, desafiando os sistemas religiosos e filosóficos do mundo e anunciando que Aquele “Jesus, a quem” eles “crucificaram, Deus O fez Senhor e Cristo” (At 2:36, NVI). Por causa do Crucificado, toda a humanidade será chamada a prestar contas de sua relação com Cristo: ou O aceitam como seu Salvador e entram na vida eterna, ou O rejeitam e O ignoram como se Ele não fosse importante, e enfrentam as consequências da morte eterna. A cruz se torna, portanto, o grande divisor entre a vida eterna e a morte eterna. Os que escolhem se identificar com o Senhor da cruz, tornam-se o corpo do Cristo vivo.

Pense nisto: “Cada cristão via em seu irmão uma revelação do amor e benevolência divinos [...]. A ambição dos cristãos era revelar a semelhança do caráter de Cristo, bem como trabalhar pelo desenvolvimento de Seu reino” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 48). Devemos imitar essa experiência dos primeiros cristãos. Como podemos fazer isso?

III. A Igreja: Um corpo de milagres, comunhão e dificuldades

(Recapitule com a classe At 3; 4; 5:1-11).

A iniciativa divina e a participação humana na composição da igreja a tornam um corpo marcado por milagres, comunhão e dificuldades.

Primeiramente, observe o milagre do crescimento: “Acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2:47). A matemática do crescimento da igreja primitiva é surpreendente: 12, 120, 3.000, outras adições diárias, 5.000 (At 4:4) e, antes do fim do século, o mundo inteiro se tornou a paróquia da fé e alvo do evangelismo. O milagre ia mais além à medida que o evangelho era pregado em todo o mundo. Em Atos 3, o poder de Cristo trouxe libertação a um homem coxo de nascimento. Esse era um caso de desgraça suprema. O homem era fisicamente oprimido, socialmente rejeitado e estava condenado a mendigar moedas ou um pedaço de pão aos frequentadores do templo. Mas, de repente, ele encontrou nas palavras de Pedro um vislumbre de esperança: “Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: [... o] nome de Jesus Cristo, o Nazareno” (At 3:6). Nesse Nome, o apóstolo ordenou ao coxo: “Anda!” (At 3:6). Instantaneamente, o invisível poder da ressurreição de Jesus fez a vida, em toda a sua plenitude, fluir através dos nervos e tecidos mortos do coxo e o fez “andar [...], saltando e louvando a Deus” (At 3:8). Jesus continua sendo o meio de redenção, renovação e revitalização.

Em segundo lugar, observe a unidade na igreja primitiva, bem como a tragédia que a afligiu. A igreja experimentou a unidade não apenas “na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (At 2:42), mas também na vida comunitária (At 4:34, 35). Amar a Deus e viver com outros fiéis, compartilhando a fé e os recursos financeiros, tornaram-se o símbolo claro da comunhão alegre: “Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum” (At 2:44). Por isso, Barnabé, que tinha um campo e o vendeu, trazendo o preço e depositando aos pés dos apóstolos (At 4:36, 37), é um excelente exemplo do que significa a vida comunitária da comunhão cristã. Barnabé (At 4:36) teve uma experiência plena com Jesus. Sua gratidão era completa e sem reservas, seu caráter era puro e limpo, sua vida era transformada e transparente. Ele conhecia Jesus, e Jesus o conhecia. Ele se tornou a força por trás da poderosa igreja de Antioquia e do sucesso de Paulo (At 9:27; 11:25, 26). No entanto, dentro da igreja também estavam as sementes da tragédia: embora a igreja seja a morada dos fiéis, nela também estão pessoas egocêntricas. Embora a jornada cristã abranja a graça e a bondade de pessoas como Barnabé, há também pessoas avarentas e pretensiosas como Ananias e Safira (At 5:1-11).  A veracidade da comunidade cristã é constantemente desafiada pela facilidade com que as declarações falsas e pseudo experiências insistem em permanecer.

Pense nisto: As parábolas do trigo e do joio, dos cabritos e das ovelhas (Mt 13:24-30; 25:31-46) comentam a respeito da permanência de pessoas fiéis e infiéis dentro da igreja.  Como diferenciar os dois grupos?

3 Aplicação

Para o professor: “Segui a luz que tendes. Assentai em vosso coração obedecer ao que conheceis da Palavra de Deus. Seu poder, Sua própria vida, residem em Sua Palavra [...]. Estais edificando sobre a Palavra de Deus, e vosso caráter será formado à semelhança do caráter de Cristo” (Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo, p. 150).

Perguntas para reflexão e aplicação

1. O que significa ser cristão? Isso nos influencia a ser membros fiéis da igreja?
2. Como nosso relacionamento com a Palavra de Deus afeta nossa vida dentro da igreja?

4 Criatividade

Para o professor: Considere as diferenças entre o caráter de Barnabé e o de Ananias e Safira. Discuta o seguinte: 1. Suponha que os três indivíduos tenham sido expostos à verdade em igual medida. Por que eles produziram frutos diferentes na vida? 2. Como as melhores intenções podem se transformar em desastres espirituais?


Queria converter e foi convertido

Ki-Jo Moon começou a interessar-se pela igreja adventista antes que uma colportora batesse em sua porta na Coreia do Sul. Como pastor de outra denominação, procurava entender variados pontos de vista relacionados à religião e comparava a literatura dos presbiterianos, metodistas e adventistas. Notou que todos os livros adventistas eram escritos por Ellen G. White e se perguntava por que davam tanta atenção a uma mulher falecida há tantos anos. Ao mesmo tempo, sentia que algo faltava em sua igreja. Então, perguntou a um dos seus líderes por que não ensinavam sobre Daniel e Apocalipse. Ele respondeu: “Porque não conhecemos muito esses livros.”

Enquanto procurava respostas, Ki-Jo Moon se engajou em discussões contra seitas religiosas. A maioria dos cristãos sul-coreanos categorizava três grupos como seitas: Testemunhas de Jeová, Igreja Adventista do Sétimo Dia e um grupo sul-coreano chamado Novo Céu e Nova Terra. Tendo conhecido um rapaz pertencente ao Novo Céu e Nova Terra, e sem conseguir persuadi-lo, foi até a sede e fez uma palestra bíblica. Em seguida, tentou converter um grupo das Testemunhas de Jeová. Depois, decidiu aprender mais sobre os adventistas e rebater suas doutrinas.

O folheto 
Nessa ocasião, ele conheceu uma colportora e visitou sua casa. Quando ela se apresentou como representante da Casa Publicadora Brasileira, ele orou em silêncio: “Obrigado, Senhor! Tenho curiosidade pelos adventistas e o Senhor trouxe um para mim!” A Srta. Hee-Sook Kim lhe deu um folheto. Mesmo acostumado a jogar fora esse tipo de material, desta vez pensou: “Talvez exista um vislumbre da verdade. Se for assim, quero aprender a conectar com sua espiritualidade e convertê-la.”

Passado algum tempo, ele sentiu desejo de visitar a igreja da Srta. Kim para ver se os adventistas eram mesmo uma seita como ensinava a denominação dele. A princípio, ele foi escondido da esposa, mas ela descobriu um boletim entre seus pertences e um conflito surgiu entre o casal. O pastor planejou outra maneira de ir à igreja sem que a esposa desaprovasse. Kim o convidou para um seminário de saúde na igreja dela. Esse seminário poderia interessar à esposa, por isso, sugeriu que a colportora falasse com ela.

Ele sabia que a esposa nunca aceitaria assistir a um sermão, mas um seminário mais leve seria uma boa maneira de apresentá-la à Igreja Adventista. Desejava que a esposa percebesse a cordialidade dos adventistas, sempre gentis, e queria que ela conhecesse o estilo alimentar que pregavam. Na sua denominação, os pastores sempre se sentam à mesa principal e são servidos no almoço. Mas os pastores adventistas faziam seus próprios pratos e, como as outras pessoas, precisam procurar um lugar para se sentar.

O batismo 
Os seminários de saúde amoleceram a esposa em relação ao que pensava sobre a Igreja Adventista. Posteriormente, o casal participou de reuniões evangelísticas sobre Daniel e Apocalipse. O pastor pensou: “Isto é muito diferente. Temos muita prepotência na minha igreja, mas o pastor adventista me serve uma apetitosa refeição espiritual!” Após as reuniões, o evangelista recomendou que pensassem sobre o batismo. Mas a esposa sugeriu que o marido pensasse mais um pouco. Lembrou que ele não era apenas um dos pastores da igreja, mas o pastor titular. Seguindo o conselho da esposa, ele esperou terminar o mandato como presidente da união local da sua denominação e, então, ser batizado.

No sábado seguinte ao adiamento do batismo, a esposa faltou ao culto, porque não estava se sentindo bem. Naquela tarde, um membro da igreja foi visitar o casal para encorajá-la. Durante a conversa, ele disse: “Você precisa ser batizado!” Ele olhou para a esposa e respondeu: “Vou orar sobre isso. Se é a vontade de Deus, serei batizado.” Mas a esposa, verificando o calendário, acrescentou: “Quatro de fevereiro parece ser uma boa data.” Ele mal podia acreditar no que tinha ouvido! A esposa o tinha dissuadido do batismo há uma semana e agora desejava que ele fosse batizado!

Foi com muita alegria que o casal foi batizado em fevereiro de 2017. Ele espera ansiosamente pelo sermão de sábado, e diz: “Pensei em converter uma colportora adventista e terminei convertido por ela.”

 

Conhecendo a Coreia do Sul

  • Com uma população de 51 milhões de habitantes e uma área de 100 mil quilômetros quadrados, a Coreia do Sul tem uma das maiores densidades populacionais do mundo, com 1.300 pessoas por milha quadrada (500 por quilômetro quadrado). Compare isso com os Estados Unidos, cuja densidade populacional é de 86 pessoas por milha quadrada (33 por km2).
  • Ao nascer um bebê sul-coreano, considera-se que ele já tem um ano.
  • A Universidade Sahmyook foi fundada em 1906 como uma pequena escola chamada Euimyung College por missionários adventistas americanos para melhorar a educação dos trabalhadores da igreja na Coreia. Ela foi obrigada a fechar duas vezes: uma, durante o governo japonês da Coreia; a segunda, durante a Guerra da Coreia. Hoje tem 5.787 estudantes, 86% dos quais não são adventistas.

Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2018

Tema Geral: O Livro de Atos dos Apóstolos

Lição 3: 14 a 21 de julho

A vida na Igreja Primitiva

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

 

Autor: Cristian Piazzetta

Capelão da Escola Adventista

Cachoeirinha, RS

 

Supervisor: Wilson Paroschi

Professor de Novo Testamento

Southern Adventist University

Collegedale, TN, EUA

 

Esboço da lição da semana

            I. Ensino e comunhão (At 2:42-47; 4:32–5:11)

  1. O papel dos apóstolos
  2. Comunhão nos lares
  3. Partilha dos bens
  4. Ananias e Safira
  5. Senso de urgência

II. Oposição das autoridades judaicas (At 3:1–4:31; 5:12-42)

  1. A cura de um paralítico
  2. O sermão de Pedro (o segundo em Atos)
  3. A prisão de Pedro e João
  4. Mais milagres
  5. A segunda prisão dos apóstolos

I. Ensino e comuhnão (At 2:42-47; 4:32–5:11)

Após ter descrito o derramamento do Espírito Santo e a subsequente conversão massiva de judeus no Pentecostes, Lucas dedicou espaço para relatar como era a vida espiritual desses novos conversos incorporados à comunidade cristã. Essa seção foi introduzida com a informação de que os cristãos primitivos perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações (2:42). Essas quatro práticas, portanto, estavam relacionadas à comunhão, que ocorria nos lares, e ao ensino, que acontecia no templo (2:46).

1. O papel dos apóstolos

A função apostólica na igreja primitiva estava essencialmente ligada ao ensino. Assim como eles haviam sido instruídos por Jesus (At 1:3), agora os discípulos deviam passar adiante as orientações para os novos conversos. Tais ensinamentos provavelmente incluíssem conceitos como a morte e a ressureição de Jesus, as Escrituras do Antigo Testamento e, certamente, suas próprias reminiscências de outros ensinos de Cristo. Esse processo de instrução acontecia em geral nas dependências do templo, especialmente no pórtico chamado “de Salomão” (3:11; 5:12, 21, 25 e 42). Como guardiões da vida e dos ensinamentos de Cristo, os apóstolos possuíam autoridade necessária para orientar a igreja em seu estágio inicial.

2. Comunhão nos lares

A vida de intensa comunhão espiritual era outra marca da piedade cristã primitiva. Vivendo em irmandade, eles estavam sempre juntos, celebravam a Ceia do Senhor, oravam e compartilhavam suas refeições com alegria e singeleza de coração (2:44-46). As refeições em questão eram as chamadas Festas da Fraternidade (agap?), que consistiam em refeições regulares praticadas pelos primeiros cristãos, sendo essas ocasiões oportunas para assistir os membros mais pobres da igreja. Há indícios de que, mais tarde, falsos mestres estavam usando essa confraternização para introduzir condutas imorais entre os primeiros cristãos (cf. Judas 4, 12).

3. Partilha de bens

Outra atitude marcante dos cristãos primitivos era a partilha de bens, caracterizada pela prática de vender seus bens e propriedades e de manter todas as coisas em comum, além de atender eventuais necessidades que surgissem entre os mais pobres da igreja (At 2:45). Embora a prática certamente tenha contribuído para promover a unidade entre os cristãos, mais tarde ela se mostrou problemática devido ao empobrecimento da igreja de Jerusalém e à falta de recursos para enviar missionários às nações gentílicas. Por outro lado, considerando que o Espírito Santo estava guiando a igreja, será que esse sacrifício não foi o plano de Deus, promovendo a unidade por meio das ofertas que as igrejas gentílicas também enviaram a Jerusalém, e considerando que Deus providenciou, pelo ministério de Paulo, recursos e oportunidades para que o cristianismo se expandisse em todo o mundo?

4. Ananias e Safira

Deve-se enfatizar aqui que a partilha de bens entre os cristãos primitivos era de caráter voluntário e não um pré-requisito para alguém se tornar membro da igreja. Embora Lucas relate um bom exemplo de ofertas voluntárias, como a de Barnabé (At 4:36, 37), houve dificuldades internas no grupo de crentes, ameaçando a unidade da igreja e a lealdade a Deus, pela falta de integridade em relação aos compromissos assumidos diante de Deus. Isso se torna evidente no caso de Ananias e Safira (5:1-11).

5. Senso de urgência

Embora a atitude generosa da igreja primitiva reflita um desejo autêntico de estar em harmonia com o plano de Deus, e ainda que a partilha de bens certamente tenha sido benéfica aos mais necessitados da comunidade, há indícios de que havia outra motivação por trás desse ato de caridade. É inegável que os primeiros cristãos, até mesmo os próprios discípulos, mantinham uma ardente expectativa pelo breve retorno de Jesus. Questionamentos como: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” (At 1:6) indicam que os primeiros cristãos viam a chegada do reino de Deus sobre a Terra como uma realidade iminente. Possivelmente, o fato de que o Espírito já tinha vindo sobre a igreja (At 2:4) e de que todas as nações debaixo do céu haviam sido evangelizadas (At 2:6-41) tenha levado a comunidade cristã primitiva a entender que o retorno de Cristo fosse apenas uma questão de dias. Afinal de contas, eram essas as duas condições estabelecidas pelo próprio Jesus para que Ele voltasse: o recebimento do Espírito Santo e a pregação a todas as nações (1:8). Ancorados na suposição de que esses dois requisitos já haviam sido cumpridos no Pentecostes, é compreensível a atitude de permanecer em Jerusalém e de vender todos seus pertences. Afinal de contas, por que se preocupar com o amanhã, se não haveria um amanhã? Para os cristãos primitivos, a volta de Jesus era uma questão de dias, e eles queriam estar devidamente preparados. Será que essa postura de viver como se estivessem às vésperas da segunda vinda de Jesus foi guiada pelo Espírito Santo, mesmo que Jesus não estivesse voltando em tão pouco tempo assim? No entanto, permanecer em Jerusalém se mostrou um grave equívoco, não porque Jesus não estivesse voltando naquele tempo, mas porque havia uma missão mundial de pregação do evangelho que devia ser iniciada. O fato é que não foi a igreja de Jerusalém que tomou a iniciativa de promover o evangelismo mundial. Isso coube à Antioquia da Síria e os missionários ainda precisaram contar com as ofertas dos cristãos gentios para aliviar suas próprias necessidades (cf. At 11:29, 30; Rm 15:25-27; 1Co 16:1-3; etc).

Na igreja de Tessalônica, possivelmente houve uma perversão relação à vida cristã em preparação para a volta de Cristo. Alguns membros da igreja possivelmente estivessem abandonando o trabalho para aguardar a volta de Jesus. Paulo foi enfático ao dizer que outras coisas ainda precisavam acontecer para que Jesus voltasse (2Ts 2:3-6), e que aqueles que não quisessem trabalhar, também não deviam comer (2Ts 3:10). Aprendemos aqui uma preciosa lição para nossos dias: precisamos manter o equilíbrio entre o senso de urgência quanto à volta de Jesus e a missão da igreja. Como alguém disse: “Devemos estar prontos como se Jesus voltasse hoje, mas continuar trabalhando [em favor do evangelho] como se Ele ainda fosse levar cem anos para voltar.” A oração de Jesus pelos discípulos em João 17:15-18 ainda é tão válida hoje como foi no primeiro século.

II. Oposição das autoridades judaicas (At 3:1–4:31; 5:12-42)

Assim como a igreja começava a enfrentar dificuldades internas, a oposição externa também começava a surgir, especialmente por parte de alguns líderes judeus de Jerusalém. A liderança do templo era na sua maioria composta por Saduceus, que, como regra, não acreditavam na ressurreição. Logo, eles ficaram muito incomodados com a pregação de Pedro, que, entre outros aspectos, enfatizava que Jesus havia ressuscitado dentre os mortos.

1. A cura de um paralítico

Dos muitos milagres relatados em Atos, a cura do coxo à porta do templo é um dos que mais se assemelham aos milagres de Jesus registrados nos evangelhos. O fato de Pedro realizar a cura em nome de Jesus demonstra, por meio do ministério apostólico, a continuidade da obra que Cristo havia iniciado (At 3:6). Embora os apóstolos estivessem a serviço de Deus e testemunhando em Jerusalém, o fato de eles subirem ao templo para a oração da hora nona (horário equivalente ao sacrifício da tarde, ou seja, 15h) pode sugerir que eles ainda estivessem participando dos sacrifícios cerimoniais mesmo após a morte de Jesus na cruz. Isso demonstra que a compreensão teológica dos primeiros cristãos ainda estava em processo de formação. Assim como a revelação de Deus foi progressiva (cf. Jo 16:12), também o foi a assimilação dessa revelação (cf. Jo 12:16). Deus estava pacientemente trabalhando para o amadurecimento teológico de Sua igreja, e a incrível cura do paralítico deu a Pedro a oportunidade de testemunhar através de outro sermão.

2. O sermão de Pedro (o segundo em Atos)

A segunda mensagem de Pedro em Atos se assemelha em muitos aspectos ao sermão do Pentecostes. O discurso pode ser dividido em duas porções principais: Primeiro o apóstolo estabeleceu a relação entre a cura do paralítico e a proclamação cristã da morte e ressurreição de Jesus (3:12-16) e, segundo, ele aproveitou a ocasião para apelar veementemente aos judeus para que se arrependessem e aceitassem Jesus como o Messias enviado por Deus (3:17-26). Vale mencionar também que nesse sermão Pedro mencionou uma série de títulos de cristãos primitivos que possivelmente fossem usados para identificar Jesus. São eles: Servo, Santo, Justo e Autor da Vida (cf. 3:13-15).

3. A prisão de Pedro e João

Falavam eles ainda ao povo quando os sacerdotes, incomodados com os ensinamentos dos apóstolos, especialmente a ressurreição de Jesus (At 4:2), decidiram mantê-los sub custódia até o dia seguinte, quando seriam julgados pelo Sinédrio. Ao serem interrogados pelas autoridades judaicas quanto à autoridade pela qual estavam pregando e operando prodígios, Pedro e João, cheios do Espírito Santo e com profunda convicção, responderam que era em nome de Jesus Cristo que tal homem havia sido curado. Não podendo negar que o milagre tinha sido, de fato, realizado (o homem curado estava na frente deles), e temendo a crescente popularidade do movimento, as autoridades judaicas deliberaram que os apóstolos deveriam parar de pregar e ensinar no nome de Jesus. Nesse contexto foram proferidas duas das mais belas declarações no livro de Atos: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4:12) e “não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (At 4:20).

4. Mais milagres

Lucas novamente destacou o ministério de cura exercido pelos apóstolos. Tamanha era sua reputação entre as pessoas, que os enfermos eram deixados pelas ruas, para que a sombra de Pedro pudesse ser projetada sobre eles (At 5:15). Embora muitas dessas pessoas viessem de cidades vizinhas na esperança de obter a cura (At 5:16), o ministério dos apóstolos ainda estava restrito a Jerusalém e circunvizinhanças (At 9:32-43). Somente mais tarde o evangelho seria pregado nas regiões adjacentes (At 8:4-40) e finalmente no mundo gentílico (At 11:19-21).

5. A segunda prisão dos apóstolos

Quanto mais crescia a popularidade dos apóstolos, mais se enchiam de inveja os líderes religiosos. Isso os levou a prendê-los uma segunda vez. Mas, a prisão não durou muito. De maneira extraordinária, um anjo abriu as portas do cárcere e libertou os apóstolos, mostrando a validade das palavras de Pedro: “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens” (5:29).

Conclusão

Pontos que devem ser enfatizados na classe:

– A importância dos lares na igreja primitiva.

– A expectativa da volta de Jesus e a missão mundial da igreja.

– O conteúdo da pregação apostólica.

– A resolução dos apóstolos em obedecer primeiro a Deus, depois aos homens.

 

Supervisor do comentário:

Wilson Paroschi ensinou na Faculdade de Teologia do Unasp, Engenheiro Coelho, por mais de trinta anos. Desde janeiro deste ano, é professor de Novo Testamento na Southern Adventist University, em Collegedale, Tennessee, Estados Unidos. Ele é PhD em Novo Testamento pela Andrews University (2004) e realizou estudos de pós-doutorado na Universidade de Heidelberg, na Alemanha (2011).

 

  1. David Noel Freedman, The Anchor Yale Bible Dictionary. New York : Doubleday, 1996, v. 1: p. 90