Paulo demonstrou o argumento de que a justificação, ou a aceitação de Deus, só vem pela fé em Jesus Cristo, pois somente Sua justiça é suficiente para nos dar a aprovação do nosso Senhor. Com base nessa verdade poderosa, Paulo passou a explanar mais sobre esse tema. Demonstrando que a salvação tem que ser pela fé e não por obras, nem mesmo para alguém “justo” como Abraão, Paulo voltou seu olhar para o panorama completo; isto é, o que causou o pecado, o sofrimento e a morte, e como a solução se encontra em Cristo e no que Ele fez pela humanidade.
Pela queda de um homem, Adão, toda a humanidade enfrentou condenação, alienação e morte; pela vitória de um só homem, Jesus, todo o mundo foi trazido a uma nova condição diante de Deus. Mediante a fé em Jesus, o registro dos nossos pecados e, consequentemente, o castigo devido a eles, puderam ser remidos e perdoados para sempre.
Paulo contrastou Adão e Jesus, mostrando como Cristo veio desfazer o que Adão tinha feito e que, pela fé, as vítimas do pecado de Adão poderiam ser resgatadas por Jesus, o Salvador. O fundamento de tudo isso é a morte substitutiva de Cristo na cruz. Ela abriu o caminho para que todo ser humano, judeu ou gentio, fosse salvo por Jesus, que, com Seu sangue, trouxe justificação para todos os que O aceitam.
Certamente, esse é um tema digno de ser exposto, pois é o fundamento de toda a nossa esperança!
1. Leia Romanos 5:1-5. Resuma a mensagem de Paulo. Qual lição você pode tirar para sua vida?
“Ser justificado” é, literalmente, “ter sido justificado”. O verbo grego representa a ação como se ela estivesse completa. Fomos declarados justos, ou considerados justos, não por meio de obras da lei, mas porque aceitamos Jesus Cristo. A vida perfeita que Jesus viveu na Terra e Sua obediência perfeita à lei foram creditadas a nós.
Ao mesmo tempo, todos os nossos pecados foram colocados sobre Jesus. Para Deus, Cristo cometeu esses pecados, não nós, e dessa maneira podemos ser poupados do castigo que merecemos. Esse castigo recaiu sobre Cristo, em nosso favor, para que nunca tenhamos que enfrentá-lo. Que notícia mais gloriosa poderia haver para o pecador?
A palavra grega traduzida como “gloriamos” em Romanos 5:3 é a mesma traduzida como “nos alegramos” (NTLH) em Romanos 5:2. Se ela é traduzida como “nos alegramos” também em Romanos 5:3 (NTLH), a conexão entre Romanos 5:2 e Romanos 5:3 é vista mais claramente. As pessoas justificadas podem se alegrar na tribulação porque fixaram sua fé e confiança em Jesus Cristo. Elas confiam que Deus operará todas as coisas para o bem. Consideram uma honra sofrer por causa de Cristo (Veja 1Pe 4:13).
Observe, também, a progressão em Romanos 5:3-5.
1. Paciência (ARC). A palavra grega hupomone, traduzida como “paciência” significa “perseverança, resistência firme”; perseverança desenvolvida pela tribulação naquele que mantém a fé e que não perde de vista a esperança que tem em Cristo, mesmo em meio às provações e sofrimentos que às vezes tornam a vida tão miserável.
2. Experiência. A palavra grega dokime, traduzida como “experiência” significa, literalmente, “a condição de ser aprovado”; portanto, “caráter”, ou mais especificamente, “caráter aprovado”. Aquele que pacientemente persevera diante das provações pode desenvolver um caráter aprovado.
3. Esperança. A perseverança e a aprovação naturalmente dão origem à esperança encontrada em Jesus e na promessa de salvação nEle. Desde que nos apeguemos a Cristo com fé, arrependimento e obediência, temos esperança.
2. Leia Romanos 5:6-8. O que essa passagem revela sobre o caráter de Deus? Por que ela nos enche de esperança? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:
A.( ) Deus é justo, pois esperou que mudássemos de vida para depois enviar Seu Filho para morrer por nós.
B.( ) Deus é amoroso. Jesus morreu por nós enquanto éramos pecadores.
Quando Adão e Eva transgrediram a exigência divina, Deus deu os primeiros passos rumo à reconciliação. Desde então, Ele tem tomado a iniciativa de providenciar um caminho de salvação e convidar homens e mulheres a aceitá-lo. “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou Seu Filho” (Gl 4:4).
3. Romanos 5:9 diz que podemos ser salvos da ira de Deus por meio de Jesus. O que isso significa? Assinale a alternativa correta:
A.( ) O pecado traz o castigo e a ira de Deus. Jesus, sendo feito pecado por nós, recebeu a ira de Deus em sua medida completa.
B.( ) Jesus convenceu o Pai a abolir a lei para que ficássemos livres da ira.
Na véspera de sua partida do Egito, os israelitas colocaram sangue nos batentes das portas. Esse sangue protegeu seus primogênitos da ira que sobreveio aos primogênitos dos egípcios. Da mesma forma, quando a ira de Deus finalmente destruir o pecado no fim dos tempos, aquele que foi justificado e mantém esse status tem a garantia de que o sangue de Jesus Cristo o protegerá.
Alguns lutam com a ideia da ira de um Deus amoroso. Mas é exatamente por causa do Seu amor que essa indignação existe. Como o amoroso Criador não ficaria irado contra o pecado? Se Ele fosse indiferente a nós, não Se importaria com o que nos acontece. Mas o pecado destruiu a criação divina. O Criador não deveria estar enfurecido contra todo esse mal?
4. De acordo com Romanos 5:10, 11, por quais outras razões devemos nos alegrar?
Alguns comentaristas veem em Romanos 5:10 uma referência à vida de Cristo na Terra, durante a qual Cristo desenvolveu o caráter perfeito que Ele nos oferece como crédito. Embora seja isso o que a vida perfeita de Cristo realizou, Paulo parece ter enfatizando o fato de que, ao passo que Jesus morreu, Ele ressuscitou e vive para sempre (Hb 7:25). Porque Ele vive, somos salvos. Se Cristo tivesse permanecido no túmulo, nossas esperanças teriam perecido com Ele. Em Romanos 5:11, Paulo apresentou razões para nos alegrarmos no Senhor, por causa do que Jesus realizou.
A morte é o inimigo absoluto. Quando Deus criou a família humana, Seu plano era que os membros dela vivessem para sempre. Com poucas exceções, o ser humano não quer morrer; e aqueles que querem, tem esse desejo somente após passar por grandes angústias e sofrimentos. A morte vai contra nossa natureza mais fundamental, pois, desde o início, fomos criados para viver para sempre. A morte devia ser desconhecida para nós.
5. Leia Romanos 5:12. O que Paulo descreveu nesse texto? O que isso explica?
Comentaristas têm discutido e debatido mais sobre essa passagem das Escrituras do que sobre a maioria das outras. Talvez a razão seja, conforme observado no Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 6, p. 580, a “tentativa de usar a passagem para fins diversos do que Paulo pretendia”.
Um ponto sobre o qual eles discutem é: De que maneira o pecado de Adão passou para a sua posteridade? Os descendentes de Adão compartilharam a culpa do pecado de Adão, ou são culpados diante de Deus por causa de seus próprios pecados? As pessoas têm tentado obter a resposta para essas perguntas a partir desse texto, mas essa não é a questão da qual Paulo estava tratando. Ele tinha outro objetivo em mente. Ele estava ressaltando o que já havia declarado: “todos pecaram” (Rm 3:23). Precisamos reconhecer que somos pecadores porque essa é a única maneira de perceber que necessitamos de um Salvador. Nesse texto, Paulo estava tentando fazer com que seus leitores percebessem quanto o pecado é ruim e o que ele trouxe a este mundo por meio de Adão. Em seguida, ele mostrou o que Deus nos oferece em Jesus, o único remédio para a tragédia trazida sobre o nosso mundo mediante o pecado de Adão.
No entanto, esse texto fala somente do problema, a morte em Adão, não da solução, a vida em Cristo. Um dos aspectos mais gloriosos do evangelho é que a morte foi tragada pela vida. Jesus atravessou os portais da sepultura e rompeu seus laços. Ele disse: “Eu Sou o primeiro e o último e Aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap 1:18). Visto que Jesus tem as chaves, o inimigo não pode mais segurar suas vítimas na sepultura.
6. Leia Romanos 5:13, 14. O que Paulo ensinou sobre a lei nessa passagem?
Sobre o que Paulo estava falando nesse texto? A expressão “até o regime da lei” é paralela à declaração “de Adão a Moisés”. Ele estava falando sobre o período desde a criação até o Sinai, antes da introdução formal das regras e leis do sistema israelita, que incluíam, obviamente, os Dez Mandamentos.
“Até o regime da lei” significa até que as exigências de Deus fossem detalhadas nas diversas leis dadas a Israel no Sinai. O pecado já existia antes do Sinai. Como não poderia existir? Por acaso a mentira, o assassinato, o adultério e a idolatria não eram pecados antes? Claro que sim!
De fato, antes do Sinai, os seres humanos, em geral, tinham apenas uma revelação limitada de Deus. Porém, eles obviamente conheciam o suficiente para serem responsabilizados. Deus é justo e não vai punir ninguém injustamente. As pessoas que viveram no mundo antes do Sinai morreram, como Paulo apontou nessa passagem. A morte passou a todos. Embora não tivessem pecado contra um mandamento expressamente revelado, ainda assim eles haviam pecado. Eles tinham as revelações de Deus na natureza, às quais não responderam e, portanto, foram considerados culpados. “Os atributos invisíveis de Deus […] claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo […]. Tais homens são, por isso, indesculpáveis” (Rm 1:20).
7. De acordo com Romanos 5:20, 21, para qual propósito Deus Se revelou mais plenamente na “lei”? Assinale a alternativa correta:
A.( ) Para que o povo entendesse a lei como meio de salvação.
B.( ) Para que a transgressão fosse ressaltada.
A instrução dada no Sinai incluía a lei moral, embora esta tivesse existido antes disso. No entanto, essa foi a primeira vez, de acordo com a Bíblia, que essa lei foi escrita e amplamente proclamada.
Quando os israelitas começaram a se comparar com as exigências divinas, descobriram que estavam muito aquém desse ideal. Em outras palavras, “a ofensa” abundou. De repente, eles perceberam a extensão de suas transgressões. O propósito de tal revelação era ajudá-los a ver sua necessidade de um Salvador e levá-los a aceitar a graça oferecida por Deus gratuitamente. Como foi enfatizado anteriormente, a verdadeira versão de fé do Antigo Testamento não era legalista.
8. Leia Romanos 5:18, 19. Qual é o contraste apresentado nessa passagem? Que esperança nos é oferecida em Cristo?
Como seres humanos, não recebemos nada de Adão, senão a sentença de morte. Cristo, no entanto, interveio e venceu onde Adão caiu, suportando todas provas em favor dos seres humanos. Ele redimiu o vergonhoso fracasso e queda de Adão e, portanto, como nosso Substituto, colocou-nos em vantagem para com Deus. Por isso, Jesus é o “segundo Adão”.
“O segundo Adão era um agente moral livre, considerado responsável por Sua conduta. Cercado por influências intensamente sutis e enganosas, Ele estava em posição muito menos favorável do que o primeiro Adão para ter uma vida sem pecado. Contudo, em meio aos pecadores, resistiu a toda tentação para pecar e conservou Sua inocência. Sempre foi sem pecado” (Comentários de Ellen G. White, em Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 6, p. 1195).
9. De que maneira as ações de Adão e Cristo foram contrastadas em Romanos 5:15-19?
Observe as ideias opostas ali: morte, vida; desobediência, obediência; condenação, justificação; pecado, justiça. Jesus veio e desfez tudo que Adão tinha feito!
É igualmente impressionante o fato de que a palavra “dom” ocorre cinco vezes em Romanos 5:15-17. Cinco vezes! A ideia é simples: Paulo estava enfatizando que a justificação não é obtida; ela vem como um presente. É algo que não merecemos. Como todos os presentes, temos que estender a mão e aceitá-lo. Nesse caso, reivindicamos o presente pela fé.
Leia, de Ellen G. White, “Auxílio na Vida Diária”, p. 470-472, em A Ciência do Bom Viver; “Cristo, o Centro da Mensagem”, p. 383, 384, em Mensagens Escolhidas, v. 1; “A Tentação e a Queda”, p. 60-62, em Patriarcas e Profetas; Evangelismo, p. 577, sobre o estudo das profecias e a salvação; “Justification”, p. 712-714, em The Seventh-day Adventist Encyclopedia; “Componentes da Salvação”, p. 313-325, no Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia.
“Muitos se enganam acerca do estado de seu coração. Não entendem que o coração natural é enganoso mais que todas as coisas, e desesperadamente perverso. Envolvem-se em sua própria justiça e se satisfazem em alcançar sua norma humana de caráter” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 320).
“Há grande necessidade de que Cristo seja pregado como única esperança e salvação. Quando a doutrina da justificação pela fé foi apresentada […], ela foi para muitos como água ao viajante cansado. O pensamento de que a justiça de Cristo nos é imputada, não por causa de qualquer mérito de nossa parte, mas como dom gratuito de Deus, parecia um pensamento precioso” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 360).
“De que maneira Adão prefigurava Cristo (Rm 5:14)? Assim como Adão se tornou causa de morte para seus descendentes, embora eles não tivessem comido da árvore proibida, também Cristo se tornou um Distribuidor de justiça àqueles que são dEle, embora eles não tenham merecido nenhuma justiça; porque mediante a cruz Ele assegurou (justiça) para todos os homens. A figura da transgressão de Adão está em nós, pois morremos como se tivéssemos pecado como ele. A figura de Cristo está em nós, pois vivemos como se tivéssemos cumprido toda a justiça como Ele o fez” (Martinho Lutero, Commentary on Romans [Comentário Sobre Romanos], p. 96, 97).
Perguntas para discussão
1. Escritores e filósofos lamentaram a completa insignificância da vida, porque ela termina na morte eterna. O que responder a eles? Por que a esperança em Jesus é a única resposta para a falta de sentido da vida?
2. A queda de Adão impôs uma natureza caída a todos nós, mas a vitória de Jesus ofereceu a promessa de vida eterna pela fé. O que impede as pessoas de receber essa bênção divina? Como podemos ajudar os que buscam entender essa oferta de Cristo?
Respostas e atividades da semana: 1. Peça que um dos alunos faça um resumo para a classe. 2. F, V. 3. A. 4. Pergunte a opinião da classe. 5. Peça que os alunos formem duplas e respondam: 1. Se Adão e Eva originaram o pecado na Terra, por que temos que pagar pelas escolhas deles? 2. Como isso revela a injustiça que o pecado traz? 6. Escolha um aluno para responder a essa pergunta. 7. B. 8. Comente sobre a vitória de Jesus onde Adão falhou. Pergunte a opinião dos alunos sobre a relação entre a morte e o primeiro Adão, e entre a vida e o segundo Adão. 9. Dê uma folha de papel para cada aluno. Peça que eles dividam a folha em duas colunas. Na primeira, eles devem escrever “Adão”, e na outra “Jesus”. Em seguida, tracem juntos um paralelo entre as ações de Adão e as de Jesus, e suas consequências.
TEXTO-CHAVE: Romanos 5:1, 2
O ALUNO DEVERÁ
Conhecer: Mais implicações espirituais e teológicas da justificação unicamente pela fé.
Sentir: Mais alegria e gratidão pelas bênçãos da salvação.
Fazer: Pensar claramente acerca da queda de Adão e dos privilégios da salvação que temos por meio da fé em Cristo.
ESBOÇO
I. Conhecer: O que ocasionou o pecado e o sofrimento? Qual é a divina solução redentora para a humanidade perdida?
A. O que Satanás e Adão fizeram para que a humanidade caísse em pecado, sofrimento e morte?
B. Por que a vida, morte e ressurreição de Cristo concedeu aos pecadores um novo status diante de Deus?
C. De que modo os contrastes entre Adão e Cristo têm ajudado a explicar a salvação?
II. Sentir: A agonia de Cristo ao ser exposto ao desprezível pecado e ao horror da separação do Pai
A. Como podemos ilustrar a exposição de Cristo ao repugnante pecado?
B. Como podemos sentir o completo abandono de Cristo no Getsêmani e na cruz?
III. Fazer: Refletir sobre o sentimento de Adão ao perceber a magnitude de sua falta
A. O que sentimos quando causamos dor a um amigo?
B. Motive os alunos a compartilhar uma situação em que foram abençoados por perdoar e oferecer graça diante de um doloroso erro de alguém.
RESUMO: Em espírito de oração, analise como o pecado, a expiação de Cristo e a justificação pela fé estão racionalmente inter-relacionados.
Ciclo do aprendizado
Motivação
Focalizando as Escrituras: Romanos 5:1, 2
Conceito-chave para o crescimento espiritual: A justificação pela fé na obra expiatória de Cristo aponta para poderosas implicações para a visão que os crentes devem ter sobre seu relacionamento com Adão e Cristo. Em Adão há apenas culpa, condenação e morte, mas pela fé em Cristo há libertação da culpa e do poder do pecado.
Para o professor: Chegamos a um ponto importante entre o significado dos ensinos bíblicos acerca do pecado, da justificação pela fé em Cristo e da nova vida do crente no Espírito. Portanto, precisamos compreender claramente como devemos nos relacionar com a herança comum que temos em Adão e como, pela fé, podemos compartilhar da herança com Cristo. As bênçãos das quais compartilhamos com Cristo certamente excedem as recompensas que os crentes poderiam conseguir vivendo o legado de Adão. Em Cristo, a vida é tipificada pelas bênçãos “muito mais” transcendentes de estar “reconciliado” com Deus por meio do “sangue” de Cristo e ser “salvo” pela eficácia de Sua “vida” (Rm 5:9, 10).
Discussão inicial: Recapitule com a classe o significado de nossa herança pecaminosa de Adão e do perdão por meio da fé na obra expiatória de Cristo. Motive os alunos a examinar a pergunta: Por que a salvação do poder do pecado por meio da fé em Cristo é fundamental para a subsequente caminhada no Espírito?
Pense nisto: Lembre-se das passagens bíblicas que influenciaram sua caminhada com Deus e que despertaram sua consciência para a necessidade de aceitação diante de Deus e do poder do Espírito no seu discipulado. Ao preparar esta lição, separe um “horário para meditar” sobre o impacto que o pecado teve em Adão e no segundo Adão, especialmente quando nosso Senhor entrou no Getsêmani, o agonizante prelúdio de Sua cruel experiência no Calvário.
Compreensão
Para o professor: Lembre-se de que (1) a realidade doutrinária da justificação pela fé foi claramente estabelecida em Romanos 3:21–4:25, e que (2) Paulo, no capítulo 5, passou a conduzir os leitores a uma reflexão mais ampla acerca das bênçãos éticas, espirituais e teológicas (ou implicações) que a justificação pela fé proporciona ao sincero crente em Cristo.
Comentário bíblico
I. A justificação traz a percepção de bênçãos maravilhosas
(Recapitule com a classe Rm 5:1-5.)
Ser aceito por Deus é como entrar numa sala de jantar e, de repente, perceber que um agradável banquete de iguarias espirituais, “digno de rei”, foi planejado para a nutrição dos filhos de Deus. Além disso, esse generoso banquete desperta um profundo sentimento de gratidão pelo dom da “paz” (Rm 5:1), que concede novo status jurídico diante de Deus e capacita os cristãos a se gloriarem “na esperança da glória de Deus” (Rm 5:2). Essa alegria na “esperança” (Rm 5:4) ainda conduz os cristãos a se gloriarem “nas tribulações” (Rm 5:3). Paulo continuou a explicação com uma irônica afirmação de que as “tribulações” têm um modo de produzir uma maravilhosa reação em cadeia, porque a “tribulação” também “produz perseverança; e a perseverança, experiência; e experiência, esperança” (Rm 5:3, 4). Com a introdução do fator “esperança”, Paulo foi inspirado a proclamar que essa esperança, longe de causar decepção ou confusão, conduz a uma experiência do “amor de Deus” que “é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Rm 5:5).
Pense nisto: As bênçãos listadas são quase inacreditáveis. De que modo a última delas – o dom do Espírito Santo – capacita o cristão a tomar posse de todas as outras que subsequentemente serão concedidas?
II. A fonte de todas as nossas esperanças
(Recapitule com a classe Rm 5:6-11.)
As passagens inspiradas de Romanos 5:6-11 incluem os atos reconciliatórios de Deus por meio da vida e morte de Cristo. Elas iluminam a maneira pela qual os crentes, conduzidos pelo Espírito, podem “receber” esses poderosos atos de “reconciliação” (Rm 5:11). O Espírito aponta para a morte substitutiva de Cristo como a fonte de todas as “esperanças” dos cristãos.
Perguntas para discussão
1. Provavelmente, as palavras mais profundas nessa passagem sejam as seguintes expressões: “sendo justificados pelo Seu sangue, seremos por Ele salvos da ira” (Rm 5:9). Como devemos interpretar as palavras “sangue” e “ira” quando se trata da amorosa provisão de Deus para nossa “reconciliação” com Ele (Rm 5:10, 11)? O texto de Romanos 5:10, 11 fala da “morte” de Cristo e também de “Sua vida”. Em que sentido podemos dizer que a vida de Cristo reconcilia os crentes?
2. A “vida [de Cristo]” também é imputada aos crentes, assim como a Sua “morte”? Ou a “vida” de Cristo é dada mais como um exemplo de serviço sacrifical e orientação moral? Explique as razões de suas respostas.
III. O primeiro e o segundo Adão
(Recapitule com a classe Rm 5:12-14.)
Estes são os fatos históricos: em Adão toda a humanidade foi incluída no pecado e na culpa. Como tal, Adão se tornou a fonte do pecado, e Cristo (o segundo Adão), a fonte da libertação do pecado – tanto da sua culpa quanto do seu poder. Não conseguimos explicar o pecado (o “mistério da iniquidade” ou “ilegalidade” [2Ts 2:7], mas Paulo declarou que em Cristo há esperança para a vitória sobre ele.
Pense nisto: Não conseguimos explicar a origem do pecado nem nossa herança de Adão. Mas Deus fez provisão em Cristo para a salvação eterna de todos. O que essa provisão tem a dizer acerca da justiça de Deus em permitir que o pecado entrasse no Universo?
IV. Convicção do pecado e libertação dele
(Recapitule com a classe Rm 5:15-21.)
Há outras duas questões que clamam por explicação: (1) Que diferença a lei faz no processo de convencer as pessoas do pecado?; (2) Quão “abundante” é a divina libertação do pecado? O principal propósito da lei, embora conhecida somente de modo geral antes do Sinai, era convencer o pecador do pecado e da necessidade de salvação. Mas com a revelação da lei no Sinai, as pessoas descobriram que estavam com sérios problemas morais, isto é, “a ofensa” do pecado superabundava (Rm 5:20). No entanto, a abundância do pecado tem apontado para uma superabundância de “graça” para salvação do pecado (Rm 5:20, 21).
Pense nisto: É impressionante que a abundante graça de Deus seja “muito mais” transbordante que o pecado e o egoísmo (Rm 5:17). A abundância de otimismo na “abundante” graça de Cristo tem a palavra final quando se refere a qualquer questão acerca da justiça e bondade de Deus em lidar com os muitos desafios relacionados ao nosso pecado. E é somente nessa visão que Romanos 5:15-19 tem sentido redentivo. Qual seria a resposta humana adequada para a promessa de Romanos 5:21, em que lemos: “como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor”?
Aplicação
Para o professor: É notável que a palavra dom ocorre cinco vezes em Romanos 5:15-17. Portanto, a justificação “não é conquistada”, mas é um dom concedido estritamente pela graça de Deus. “Dom” é a palavra definitiva de Paulo acerca da justificação. Com base nessa argumentação, ele passou para as questões relacionadas à nova vida no Espírito a partir do capítulo 6.
Perguntas para reflexão
1. Como essa vasta descrição do conflito humano entre a herança de morte “em Adão” e a de vida “em Cristo” permite que os crentes enfrentem suas tentações mais difíceis e desafiadoras?
2. Quando discutimos sobre o sentido da vida, podemos pensar em uma questão mais prática ou filosoficamente essencial do que a seguinte: Qual é o foco da nossa vida? Estamos vivendo em Adão (uma vida de pecado, isto é, uma vida sem fé em Cristo) ou estamos vivendo em Cristo (por meio da fé nEle)? Em outras palavras: Estamos no “Espírito” ou na “carne”? Dê razões para sua resposta.
Criatividade e atividades práticas
Para o professor: De que modo podemos tornar prática a lição desta semana, com sua ampla visão da morte em Adão e da vida em Cristo? Incentive os alunos a compartilhar momentos em que estiveram “em Adão” e outros em que estiveram “em Cristo”. Oriente-os a não entrar em detalhes embaraçosos ou sombrios, concentrando-se na questão essencial envolvida em sua vida com Deus e em como a libertação por meio de Cristo e Seu Espírito se tornou uma realidade para eles.
Atividades
1. Desafie os alunos a escrever uma breve autobiografia espiritual, com ênfase nos momentos decisivos que desenvolveram sua convicção quanto à necessidade de salvação. Talvez eles queiram relatar como aceitaram a Cristo e como reconheceram a vontade de Deus para eles de modo concreto.
2. Separe um tempo com a classe para que os alunos mencionem pessoas que, na prática, foram as mais decisivas e influentes em sua caminhada cristã. Motive alguns deles a relatar como o exemplo desses cristãos os capacitou a exercitar seus dons espirituais.
Planejando atividades: O que sua classe pode fazer na próxima semana como resposta ao estudo da lição?
Problemas com o sábado
A mãe de Nikita Kirkachev era adventista e lhe ensinou sobre Deus desde a infância, mas o pai não permitia que ele fosse à igreja. O pai disse que ele poderia fazer o que desejasse depois dos 18 anos. Antes disso, deveria obedecê-lo.
Após completar 18 anos, Nikita se mudou para estudar arquitetura na cidade de Rostov do Don, no sul da Rússia. A primeira coisa que fez depois de desfazer as malas foi procurar a Igreja Adventista do Sétimo Dia mais próxima. Ele começou a estudar profundamente a Bíblia e a guardar o sábado.
Questões quanto ao sábado
Logo, Nikita começou a enfrentar problemas na universidade. Os professores começaram a lhe enviar notificações. Toda vez que faltava a uma aula no sábado, recebia uma mensagem. Como ele faltou a todas as aulas dos sábados, recebeu muitas advertências e corria o risco de ser expulso.
O pai ficou furioso ao descobrir que ele estava frequentando a igreja em vez das aulas. Ele o repreendeu em um longo telefonema. Ele o acusou de se envolver com uma seita religiosa. Nikita percebeu que o pai esperava que, aos 18 anos, seu interesse nas coisas divinas diminuísse. Ele disse ao pai que o amava, mas amava muito mais a Deus e desejava obedecê-Lo.
A mãe ficou feliz porque o filho colocou Deus em primeiro lugar. Ela leu para ele Isaías 41:10, que diz: “Não tema, pois estou com você; não tenha medo, pois Sou o seu Deus.
Eu o fortalecerei e o ajudarei; Eu o segurarei com a Minha mão direita vitoriosa” (NVI). Juntos, oraram por esse problema.
Nikita pediu permissão ao reitor da universidade para não frequentar as aulas aos sábados. Mas o reitor disse que não podia abrir exceção. Ele disse que os outros estudantes o acusariam de favorecê-lo.
Sem outras opções, ele decidiu pedir permissão a cada professor para frequentar as aulas em outros dias. Essa abordagem funcionou por dois anos. Muitos exames também eram feitos aos sábados, e os professores permitiram que Nikita os realizasse em outros dias da semana.
A princípio, seus colegas não o entenderam. Mas começaram a apoiá-lo e defendê-lo diante dos professores.
Entretanto, vários professores não simpatizavam com Nikita. Eles não compreendiam por que Nikita colocava a igreja acima dos estudos. Cada vez mais, ele ficava preocupado com a possibilidade da expulsão, pois sabia que a educação era importante para seu pai, e Nikita não queria decepcioná-lo.
Ultimatos
Um dia, o reitor chamou Nikita ao seu escritório e deu o ultimato que ele tanto temia: “Se você faltar mais uma aula no sábado, vou expulsá-lo”, disse.
Na igreja, os irmãos oraram sobre a situação. Dois pastores visitaram o reitor para explicar por que ele faltava às aulas. Deus interveio. O reitor disse que Nikita poderia ficar se concordasse em fazer um trabalho extracurricular para a universidade. Ele pediu que Nikita ajudasse a organizar várias exposições sobre saúde.
As coisas se acalmaram por um tempo, até que o reitor saiu da universidade, e os problemas começaram novamente.
O maior problema surgiu quando uma professora se recusou a aplicar o exame final em outro dia. Durante todo o semestre, Nikita não havia assistido a nenhuma aula dessa professora porque elas aconteciam aos sábados. Os colegas passavam para ele os exercícios feitos em sala de aula e as tarefas de casa. Quando Nikita explicou à professora por que não podia fazer o exame final no sábado, ela disse: “Venha no sábado ou será reprovado nessa matéria.”
Nikita pensou que esse seria o fim dos seus estudos. O reitor não o apoiou, e a professora continuou irredutível. Ela até agendou o exame final para um sábado.
Nikita clamou pela intervenção divina.
Mudança de coração
Pouco depois dessa oração, uma professora passou por Nikita pelo campus da faculdade, parou ao seu lado e falou. “Venha ao meu escritório”, disse. “E me mostre suas tarefas de casa”.
Era a professora que havia se recusado a ajudar Nikita durante o semestre. De repente, ela queria examinar suas tarefas de casa. Deus tocou o coração da professora, e ele foi aprovado na matéria.
“Ao longo dos desafios por causa do sábado, aprendi a obedecer e a me submeter a Deus. Sou grato porque Ele me deu confiança e esperança para o futuro.
“Logo chegará minha formatura, e começarei minha vida profissional. Não estou preocupado com o futuro por dois motivos: Deus tem sido fiel em cumprir Sua promessa de me sustentar com a destra da Sua justiça, e meu último exame, antes da graduação, não será realizado no sábado”, diz Nikita.
Parte da oferta deste trimestre ajudará a construir um Centro Comunitário Adventista do Sétimo dia em Rostov do Don, onde os estudantes poderão se reunir e compartilhar Jesus com os outros. Obrigado por apoiar a proclamação do evangelho com as ofertas missionárias da Escola Sabatina!
Resumo missionário
• Atualmente, Rostov do Don está construída na região de Tanais, uma antiga colônia grega que mais tarde se tornou Fort Tana sob os genoveses e Fort Azak na época do Império Otomano.
• A cidade e suas regiões vizinhas possuem uma variedade de crenças religiosas. A Igreja Ortodoxa Russa é a predominante, mas há um número significativo de católicos, alguns judeus, budistas e cristãos armênios, bem como protestantes.
• Alguns autores famosos associados com Rostov do Don incluem Anton Chekhov, Mikhail Sholokhov, Alexander Pushkin, Maxim Gorky e Alksandr Solzhenitsyn.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º trimestre de 2017
Tema geral: Salvação somente pela fé: o livro de Romanos
Lição 6: 4 a 11 de novembro
Adão e Jesus
Autor: Pr. Clacir Virmes Junior, professor de Teologia na FADBA – Cachoeira, Bahia.
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega
Introdução
Tendo mostrado que a justificação pela fé está fundamentada nas Escrituras, Paulo se voltou para uma discussão sobre a origem do nosso problema com o pecado e a solução oferecida por Cristo. Como pode o sacrifício de uma só pessoa salvar todos os seres humanos? O que aconteceu no Éden e como Jesus reverteu o processo que se iniciou ali?
Justificado pela fé
Depois de declarar sua tese e defendê-la por meio da Bíblia, o apóstolo se concentrou nos efeitos imediatos da justificação. Romanos 5:1 declara que, uma vez que aceitamos pela fé a justiça de Cristo, temos paz com Deus. A ênfase não é a sensação nem o sentimento de paz, mas a realidade objetiva da justificação, embora o sentimento não seja descartado. Uma vez que fomos perdoados, nossa condição de rebeldia diante do Senhor é completamente esquecida e apagada. Estamos reconciliados. Pela obra da graça provida por Jesus, não há mais hostilidade entre nós e Deus.
Romanos 5:2 e 3 tem como pano de fundo a tensão neotestamentária conhecida como já/não ainda. Por um lado, tendo sido justificados, podemos nos alegrar na esperança da glória de Deus. Pela fé, podemos nos enxergar traspassando os portais eternos, vivendo como cidadãos do reino eterno. Ao mesmo tempo, alegramo-nos mesmo nas tribulações. A justificação pela fé não é garantia de uma vida sem problemas enquanto estivermos neste mundo. É a certeza de que, mesmo em meio às perseguições, circunstâncias adversas e todo o mal que possa nos sobrevir, podemos saber que Deus está em meio a todos esses eventos moldando-nos e transformando-nos.
Enquanto ainda pecadores
Sob outra perspectiva agora, o apóstolo voltou a falar sobre a justificação, com foco especialmente na obra de Cristo na cruz. Ele iniciou dizendo que quando Jesus morreu éramos ainda fracos, isto é, ímpios. Aqui há uma retomada da ideia de que todos estão sob a maldição do pecado. Quando Cristo entregou Sua vida no madeiro, toda a humanidade ainda era inimiga de Deus. Paulo, então, reforçou seu argumento mostrando que, mesmo num mundo mal, as pessoas têm o senso de que seria nobre morrer por uma pessoa boa. Mas no caso do sacrifício de Cristo, essa lógica foi completamente subvertida. Jesus morreu por pecadores, por ímpios, por inimigos, e nas mãos deles. E aí está demonstrado Seu grande amor: Ele morreu mesmo que não merecêssemos Seu sacrifício.
Em Romanos 5:9, Paulo declarou que, por causa da justificação que vem do sangue derramado por Jesus, somos salvos da ira. Uma vez que éramos pecadores, por definição, éramos inimigos de Deus. A justa reação divina contra nosso caráter pecaminoso e nossas ações pecaminosas seria a ira. Mas no Calvário, essa ira, em vez de recair sobre nós, foi colocada sobre Jesus, para que nós, que não merecíamos, pudéssemos receber a vida eterna.
O apóstolo, então, prosseguiu explicando que não somente a morte de Jesus, mas Sua vida está a nosso favor. Numa leitura superficial, a expressão “seremos salvos pela Sua vida”, de Romanos 5:10, parece estar falando da vida santa e pura que Jesus viveu durante Seu ministério terrestre. Contudo, o contexto parece indicar que Paulo se referiu à vida de Jesus depois da ressurreição, como que retomando o tema com o qual finalizou o capítulo 4. Isso faz pleno sentido quando unimos esse verso à teologia do santuário encontrada no livro de Hebreus. Após Sua ascensão, Cristo foi entronizado no santuário celestial e vive “sempre para interceder por eles” (Hb 7:25). A obra de Jesus na cruz o habilitou, desde Sua ressurreição, a apresentar os méritos de Seu sangue diante de Deus para que nós constantemente possamos ser justificados e aceitos diante do Senhor.
Morte por meio do pecado
Romanos 5:12 a 19 é uma grande comparação entre Adão e Cristo, o segundo Adão. Na Idade Média, um problema de tradução em Romanos 5:12 trouxe a oportunidade para o surgimento da doutrina do pecado original. No fim do verso, onde lemos “porque todos pecaram”, a Vulgata Latina, a principal versão usada pela igreja de então, traduziu o texto como “in quo omnes peccaverunt”, literalmente “no qual todos pecaram”. Agostinho, partindo daí, desenvolveu a ideia de que todos participavam do pecado original de Adão. Hoje, contudo, a maioria esmagadora dos teólogos entende que a melhor tradução é a que encontramos na Almeida Revista e Atualizada.
Apesar das grandes discussões em torno do texto, o principal argumento paulino aqui é que Adão foi o iniciador do pecado em nosso mundo. A preocupação de Paulo não era tanto explicar como isso aconteceu, mas atestar o fato de que, uma vez iniciado com Adão, o processo de pecar e a consequente morte a que isso leva foi inevitável. Além disso, o apóstolo quer demonstrar que, uma vez que a morte reinou mesmo antes da entrega da lei no Sinai, a graça de Cristo é mais do que suficiente para resolver o problema do pecado. Um problema tão sério que, mesmo antes que a lei fosse formalizada no Sinai, ele já ceifava suas vítimas.
De Adão a Moisés
Por que Paulo se concentra no período entre Adão e Moisés? Norman Gulley (2012, p. 160) fez o seguinte comentário sobre esse ponto:
O fato de Paulo destacar um período da história humana, de Adão a Moisés, indica que ele não estava preocupado com o pecado hereditário, um problema central em muitas teorias de imputação. Seu foco está na superabundante graça de Cristo apesar do reino do pecado. Adão iniciou a situação do pecado da qual depravação e morte resultaram. Apesar de a morte não ser uma punição pelo pecado de Adão, é uma consequência de seu pecado. O pecado de Adão deu aos seres humanos uma tendência para pecar, uma propensão para o pecado, que está na natureza dos seres humanos no nascimento. A natureza humana tem certas propensões como resultado do relacionamento partido de Adão com Deus.
A conclusão é que, apesar de não estar declarada nos termos do Decálogo, a lei já existia antes. Seus grandes princípios já eram conhecidos, contudo não na forma como foram declarados no Sinai. A essência da lei é o amor, o fundamento mais básico do caráter de Deus. Assim, mesmo que não em termos formais, a lei foi desobedecida e quebrada desde que o pecado entrou no mundo. Por isso, João é claro em definir o pecado: ele é a transgressão da lei (1Jo 3:4), a grande lei do amor.
Jesus, o segundo Adão
A partir de Romanos 5:15, Paulo traçou uma série de paralelos entre Adão e Jesus. O que um trouxe por causa do seu pecado, o outro desfez por Sua graça. Por causa do pecado de Adão, muitos morreram; por causa da morte de Jesus, muitos podem receber vida. A ofensa única de Adão colocou o mundo sob maldição; mas o ato único da cruz, apesar de levar em conta “muitas ofensas”, ou seja, o pecado de todos os seres humanos, trouxe bênção sobre a humanidade inteira. O primeiro pecado trouxe o reino da morte; a morte de Jesus, trouxe o reino da vida. Por causa do nosso primeiro patriarca, todos se tornaram pecadores, mas por causa de Cristo, muitos podem se tornar justos. O pecado trouxe seus efeitos, porém a graça anulou esses efeitos muito além do que possamos imaginar.
Aqui cabe uma nota de cautela. Ao mesmo tempo em que a graça se tornou disponível para todos, assim como o pecado passou a todos os seres humanos, isso não significa que todos se salvarão. No fim de Romanos 5:21, Paulo deixou claro que a vida eterna é dada mediante Jesus Cristo. Apesar de estar franqueada a todos, a salvação é obtida por meio da fé no Redentor. Os efeitos salvíficos da morte substitutiva de Jesus não estão automaticamente “na conta” de todos, a não ser que decidam aceitar a obra do Cordeiro de Deus em seu favor. A teologia que ensina que todos serão salvos, independentemente de suas decisões neste mundo, conhecida como universalismo, não é bíblica. Ela deixa de levar em conta a resposta que cada ser humano deve dar ao grande sacrifício feito por Jesus na cruz.
Conclusão
Há uma implicação importante da discussão de Paulo em Romanos 5 que vai além da mensagem apostólica. Toda a argumentação do apóstolo nesse capítulo depende da historicidade de Adão. Em nossos dias, muitos teólogos negam a realidade histórica do primeiro par, conforme descrita nos primeiros capítulos de Gênesis. Isso acontece especialmente por causa da tentativa de unir uma perspectiva evolucionista com os dados bíblicos. Para isso, ao ler Romanos 5, muitos entendem que Paulo está fazendo referência ao “mito” de Adão, e não a uma realidade histórica. Contudo, não há, em nenhum momento da discussão apostólica qualquer indicativo disso; muito pelo contrário, o apóstolo contrasta duas realidades históricas: a queda no jardim, diante da árvore do conhecimento do bem e do mal, e o reerguimento do ser humano depois do jardim do Getsêmani, no madeiro do Calvário. Qualquer tentativa de diminuir a força do relato da criação conforme descrita em Gênesis colocaria por terra toda a teologia paulina, não só aqui, como em grande parte de sua explanação em outros lugares.
GULLEY, Norman. Systematic theology: creation, Christ, salvation. Berrien Springs: Andrews University Press, 2012. v. 3. 817 p.