Lição 11
06 a 12 de março
Amor em ação
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Dt 29-31
Verso para memorizar: “Se abrirem o seu coração aos famintos e socorrerem os aflitos, então a luz de vocês nascerá nas trevas, e a escuridão em que vocês se encontram será como a luz do meio-dia” (Is 58:10).
Leituras da semana: Is 55; 58

Certa vez, um judeu dirigente de louvor em uma sinagoga e sua esposa, que moravam em Lincoln, Nebraska, receberam telefonemas ameaçadores e ofensivos. Eles descobriram que as ligações vinham de um líder de um grupo terrorista, a Ku Klux Klan. Ao identificarem o homem, eles poderiam tê-lo denunciado à polícia. Mas decidiram por uma abordagem mais radical. Quando souberam que ele era paralítico, apareceram em sua casa com uma deliciosa refeição para o jantar! O homem ficou perplexo. Seu ódio se desfez diante do amor. Eles continuaram visitando-o, e a amizade cresceu. O ex-líder da Ku Klux Klan até pensou em se tornar judeu!

“Não é este o jejum que escolhi: que vocês quebrem as correntes da injustiça, desfaçam as ataduras da servidão, deixem livres os oprimidos e acabem com todo tipo de servidão? Será que não é também que vocês repartam o seu pão com os famintos, recolham em casa os pobres desabrigados, vistam os que encontrarem nus e não voltem as costas ao seu semelhante?” (Is 58:6, 7). Ironicamente, o casal que morava em Lincoln obedeceu aos princípios desse jejum ao compartilhar seu banquete com um opressor, libertando-o de seu preconceito!

Nesta semana, estudaremos mais sobre esse importante princípio espiritual, conforme descrito pelo profeta Isaías.



Domingo, 07 de março
Ano Bíblico: Dt 32-34
Comprar de graça? (Is 55:1-7)

1. “Ah! Todos vocês que têm sede, venham às águas; e vocês que não têm dinheiro, venham, comprem e comam” (Is 55:1). Qual é a contradição aqui?

Imagine que você tenha pegado alguns alimentos e anunciado na rua de uma cidade grande aos famintos ali: “Ei, vocês que não têm dinheiro, venham, comprem e comam!” Mas como eles poderão comprar se não têm dinheiro?

No entanto, como fez Isaías, se adicionarmos as palavras “sem dinheiro e sem preço” (Is 55:1), o argumento fica mais claro. Isaías apelou ao povo que aceitasse o perdão (Is 55:7) gratuitamente. Porém, a palavra “comprar” enfatiza que é valioso o que Deus oferece às pessoas para atender às necessidades e desejos delas; portanto, receber esse perdão requer uma transação (uma transferência de algo de valor). Deus oferece gratuitamente o perdão no âmbito de uma restaurada relação de aliança com Seu povo, mas não porque esse perdão foi gratuito para Ele: o Senhor o comprou pelo preço terrível do sangue de Seu Servo. Embora seja gratuito para nós, esse perdão teve um custo enorme para Deus.

2. Leia 1 Pedro 1:18, 19. Qual foi o preço da nossa salvação? Assinale a alternativa correta:

A.(  ) Prata e ouro.
B.(  ) O precioso sangue do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo.

3. Como a abordagem de Isaías em relação à salvação se compara à do Novo Testamento? Ef 2:8, 9

Isaías resumiu o evangelho no Antigo Testamento, que é o mesmo do Novo Testamento. Não havia uma salvação pelas obras na “antiga aliança”, a ser substituída pela salvação pela graça na “nova aliança”. Desde a promessa do Libertador para Adão e Eva (Gn 3:15), sempre houve apenas um caminho de salvação: a graça mediante a fé (Ef 2:8); “o dom gratuito de Deus é a vida eterna em ­Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:23). Desde o antigo Gilgamesh, que realizou façanhas numa busca inútil pela vida eterna, até as atrizes modernas que creem na reencarnação, as pessoas têm procurado caminhos de salvação, mas todos são infrutíferos. Elas precisam conhecer o que Jesus realizou por elas na cruz.

A salvação é gratuita, pois não há nada que possamos fazer para merecê-la. Nossas obras jamais serão boas o suficiente para nos salvar. No entanto, a salvação pode nos custar tudo. O que isso significa? Mt 10:39; Lc 9:23; 14:26; Fp 3:8.


Segunda-feira, 08 de março
Ano Bíblico: Js 1-4
Pensamentos e caminhos elevados (Is 55:6-13)

4. Por que Deus disse que Seus pensamentos e caminhos são mais elevados que os nossos, “assim como os céus são mais altos do que a Terra”? O que isso significa? Is 55:8, 9

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Evidentemente, o Deus que criou o Universo no qual até as coisas mais simples contêm mistérios que nossa mente não pode entender é um Deus cujos caminhos estão além do que podemos sequer começar a compreender. Portanto, diante do conhecimento de Sua infinita superioridade, para nós deveria ser mais fácil receber com humildade a Sua ajuda. (Compare com Isaías 57:15).

5. Leia Isaías 55:6-9. O Senhor diz que Seus caminhos e pensamentos são mais altos do que podemos imaginar. Qual é o contexto dessas palavras? O que Ele faz que é tão difícil de entender?

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De todos os grandes mistérios do Universo, certamente o maior de todos é o do plano da salvação, um mistério que mal podemos começar a entender (veja Ef 6:19). O fato de o Criador do Universo ter Se humilhado para Se revestir da humanidade, vivido em trabalho árduo e sofrimento, apenas para morrer em nosso favor, em sacrifício pelo pecado, a fim de nos perdoar e mostrar misericórdia é uma verdade que impressionará o coração dos seres criados por Deus por toda a eternidade.

“Os anjos desejam examinar atentamente o tema da redenção; será a ciência e o cântico dos remidos por todos os incessantes séculos da eternidade. Não seria ele digno de atenta consideração e estudo agora?

“O assunto é inesgotável. O estudo da encarnação de Cristo, de Seu sacrifício expiatório e obra mediadora, ocupará a mente do diligente estudante enquanto o tempo durar; e contemplando o Céu com seus inumeráveis anos, exclamará: ‘Grande é o mistério da piedade!’” (Ellen G. White, Minha Consagração Hoje, p. 360).

Examine as coisas ruins que você faz: pessoas que machuca, palavras cruéis que fala, decepções causadas aos outros e a si mesmo. No entanto, por meio de Jesus, você é perdoado de tudo isso e permanece perfeito aos olhos de Deus. Se isso não é um mistério, o que seria então?


Terça-feira, 09 de março
Ano Bíblico: Js 5-8
Companheiros de jejum (Is 58:1-8)

6. Qual é o “jejum” referido em Isaías 58:3?

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Esse deve ser o jejum do Dia da Expiação, o único jejum ordenado por Deus (Lv 16:29, 31; 23:27-32). Isso é confirmado em Isaías 58:3 pela expressão análoga “nos humilhamos” [“afligimos a nossa alma”, ARA], que segue a terminologia de Levítico. Humilhar-se/afligir-se refere-se a várias formas de abnegação, incluindo o jejum (Sl 35:13; Dn 10:2, 3, 12).

O contexto do Dia da Expiação explica o mandamento de Deus: “Ergue a voz como a trombeta” (Is 58:1). Essa espécie de trombeta de chifre de carneiro, chamada shofar, deveria ser tocada como memorial ou lembrete dez dias antes do Dia da Expiação (Lv 23:24). Além disso, a cada cinquenta anos, no Dia da Expiação, ela devia anunciar o início do ano do Jubileu, o ano da liberdade (Lv 25:9, 10; compare com Is 27:13).

7. Leia Isaías 58:3-7. Do que o Senhor estava reclamando a eles? O que havia de errado com o “jejum” do povo?

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Parece que o povo esperava que o Senhor o parabenizasse por sua “piedade”. Evidentemente, ele tinha entendido tudo ao contrário. Praticar a abnegação no Dia da Expiação era expressar gratidão e lealdade a Ele no dia em que o sumo sacerdote se apresentava diante de Deus para purificar o santuário e, assim, purificar cada um dos pecados dos quais o povo já havia sido perdoado ao longo do ano (Lv 16; compare com o capítulo 4). Os atos do povo deveriam ser realizados em reconhecimento e gratidão ao Deus que o tinha salvado no dia do juízo, e não a fim de obter a aprovação do Senhor pela “piedade” e “devoção” dele. Afinal, os pecados do povo haviam contaminado o santuário de Deus. Esse santuário tinha que ser purificado com sangue derramado por causa do que o povo havia feito.

8. Uma das lições cruciais desses textos é mostrar a diferença entre ser meramente religioso e ser verdadeiramente seguidor de Cristo. Como vemos a diferença nesses textos? Enfrentamos o mesmo perigo apresentado nessa passagem, isto é, crer que nossos rituais religiosos de alguma forma revelam que estamos realmente obedecendo ao Senhor como Ele nos pede?



Quarta-feira, 10 de março
Ano Bíblico: Js 9-13
Jejum para contendas (Is 58:1-12)

Dez dias após o toque da trombeta ter lembrado o povo de Deus que o Senhor era aclamado seu Rei, no Dia da Expiação, quando a humildade da nação por meio de sua abnegação devia confirmar sua lealdade a Ele como Rei, o profeta levantou a voz como uma trombeta para declarar que o povo estava se rebelando contra Ele (Is 58:1).

9. Leia Isaías 58:6-12. O que Deus considera verdadeiros atos de abnegação? Afinal, o que é mais difícil: privar-se de algumas refeições ou usar seu tempo e dinheiro para alimentar os moradores de rua em sua cidade? Qual é o princípio a ser visto por trás desses atos? Como essas ações abrangem a verdadeira religião?

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Qualquer um pode ser religioso e passar por rituais religiosos, mesmo os rituais certos, na hora certa, com todas as fórmulas certas. Mas o ­Senhor não deseja apenas isso. Examine a vida de Jesus. Por mais fiel que Ele tenha sido aos rituais religiosos de Seu tempo, os escritores dos evangelhos se concentram muito mais em Seus atos de misericórdia, cura, alimentação e perdão aos necessitados do que em Sua fidelidade aos rituais.

O Senhor busca uma igreja, um povo que pregue a verdade ao mundo. Mas o que mais atrai as pessoas à verdade, como ela é em Jesus: (1) Estrita adesão às leis alimentares ou disposição para ajudar os famintos? (2) Descanso estrito no sábado ou disposição para gastar seu tempo e energia ajudando os necessitados?

10. O que Mateus 25:40 e Tiago 1:27 nos revelam? Assinale a alternativa correta:

A.(  ) A verdadeira religião é visitar os órfãos e viúvas; aquilo que fazemos ao próximo é como se estivéssemos fazendo a Deus.
B.(  ) A religião perfeita consiste no mero cumprimento de leis e rituais.

Observe, em Isaías 58, as bênçãos que sobrevirão aos que servem aos menos afortunados. O que o Senhor nos revela nesse texto? Seriam as promessas de intervenção sobrenatural em nossa vida, caso façamos essas coisas? Ou estaria o Senhor falando das bênçãos naturais que recebemos ao nos doar aos outros, em vez de sermos gananciosos e egoístas?


Quinta-feira, 11 de março
Ano Bíblico: Js 14-17
Um tempo para nós (Is 58:13, 14)

11. Por que Isaías discutiu sobre o sábado em Isaías 58:13, 14? Que relação isso tem com o contexto do Dia da Expiação dos versos anteriores?

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O Dia da Expiação anual era um sábado cerimonial. Esse sábado especial era como o sábado semanal, em que era proibido todo tipo de trabalho (Lv 23:27-32). Portanto, conforme reconhecida pelos pioneiros adventistas do sétimo dia, a regra de que o período de descanso do Dia da Expiação durava de uma tarde à outra (Lv 23:32) nos informa que ocorre o mesmo em relação ao sábado semanal. Semelhantemente, embora o contexto primário de Isaías 58:13, 14 seja o sábado cerimonial do Dia da Expiação, sua mensagem também se aplica ao sábado semanal.

12. Leia Isaías 58:13. Como deve ser o dia de sábado? Como podemos tornar nossa experiência sabática parecida com o ideal apresentado nesse verso? Além disso, ao pensarmos no que o sábado representa, por que ele deveria ter as características descritas nesse texto?

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Isaías 58 trata de três temas principais: abnegação, bondade social e o sábado.

Quais são as relações entre eles? Primeiramente, os três temas envolvem concentração em Deus, em Suas prioridades e o reconhecimento de nossa dependência Dele. Em segundo lugar, ao realizar essas três coisas, o ser humano busca a santidade ao imitar a Deus (veja Lv 19:2), que, na forma de Cristo, Se humilhou (Fp 2:8), demonstrou bondade abnegada (Jo 3:16), e cessou o trabalho no sábado, no fim da semana da criação (Gn 2:2, 3; Êx 20:11).

Observe essas outras relações entre os temas da abnegação, bondade social e o sábado, conforme retratadas em Isaías 58: a libertação sabática do árduo trabalho semanal é benéfica às pessoas, porque as renova (Êx 23:12, Mc 2:27); Jesus mostrou que atos bondosos são apropriados no sábado (Mc 3:1-5; Jo 5:1-17); a verdadeira observância do sábado traz alegria (Is 58:14), assim como ajudar aos outros (Is 58:10, 11). O que você deve mudar em sua vida para experimentar essas bênçãos?


Sexta-feira, 12 de março
Ano Bíblico: Js 18-21
Estudo adicional

Ninguém pode exercitar verdadeira beneficência sem abnegação. Unicamente por uma vida de simplicidade, de renúncia e estrita economia, nos é possível realizar a obra a nós designada como representantes de Cristo. O orgulho e a ambição mundanos precisam ser expulsos de nosso coração. Em toda a nossa obra, o princípio do altruísmo revelado na vida de Cristo tem que ser desenvolvido. Nas paredes de nossa casa, nos quadros, na mobília, devemos ler: Recolhe ‘em casa os pobres desabrigados’. Em nosso guarda-roupa, cumpre-nos ler: ‘Veste o nu’. Na sala de jantar, na mesa coberta de abundante alimento, devemos ver traçado: Reparte ‘o teu pão com o faminto’” (Is 58:7; Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p. 206).

Perguntas para consideração

1. “Por que vocês gastam o dinheiro naquilo que não é pão, e o seu suor, naquilo que não satisfaz?” (Is 55:2). Estamos trabalhando por algo que não satisfaz? É fácil cair nessa armadilha?

2. Se a abnegação, a bondade e o sábado eram importantes no Dia da Expiação, serão importantes também no Dia da Expiação do fim dos tempos (Dn 8:14), quando a trombeta do Jubileu sinalizará a libertação na volta de Cristo (1Co 15:52; Lv 25:9, 10)?

3. O que Isaías quis dizer ao dizer que devemos deixar de fazer nossa vontade no sábado, mas, ao mesmo tempo, devemos chamar o sábado de “meu prazer” (Is 58:13)? Como fazer as duas coisas? Lembre-se do contexto de Isaías 58.

Resumo: Em Isaías 55 e 58, o profeta exortou o povo a abandonar seus pensamentos e caminhos e voltar a Deus, cujo ideal para a felicidade dele era muito superior ao do próprio povo. O Senhor teve misericórdia e insistiu que os que foram perdoados também fossem misericordiosos, em harmonia com o espírito do Dia da Expiação e do sábado, pois o dom do perdão divino, se for realmente recebido, transforma o coração.

Respostas e atividades da semana: 1. Neste mundo regido pelas demandas do capital, não se compra sem dinheiro. 2. B. 3. A abordagem de Isaías tem a mesma essência da abordagem do Novo Testamento, pois ambas consideram que a salvação não tem custo para o ser humano. Não há obras da lei suficientes para comprar a salvação. 4. A mente de Deus, Seus pensamentos e Sua maneira de agir não são limitados como os nossos. O perdão de Deus é mais alto do que podemos imaginar. 5. O contexto do perdão e da misericórdia de Deus. 6. O jejum do Dia da Expiação, de abnegação, de privação de alimento e aflição de alma. Porém, o Senhor disse que esse jejum físico do povo era um jejum egoísta, pois as pessoas buscavam seus próprios interesses. 7. O povo jejuava para realizar as obras de seu próprio interesse e para entrar em contendas e rixas, não para repartir o pão com o faminto nem para libertar os cativos, como Deus desejava que fosse o jejum deles. 8. Isaías apresentou as palavras de tristeza e repreensão da parte de Deus com o tipo de jejum que o povo oferecia: um jejum hipócrita, muito preocupado com as aparências exteriores. Infelizmente, hoje podemos incorrer no mesmo erro de pensar que os rituais e símbolos que servem para representar a Deus sejam o próprio Deus. 9. Quebrar as correntes da injustiça, desfazer as ataduras da servidão, deixar livres os oprimidos e acabar com todo tipo de servidão. É também repartir o pão com o faminto e recolher em casa os pobres desabrigados, e, se vir o nu, o cobrir. 10. A. 11. Porque assim como no jejum, o princípio do sábado é o de fazer com alegria a vontade de Deus, não a nossa. 12. O sábado deve ser prazeroso. Devemos buscar os interesses de Deus e dos outros nesse dia.



Resumo da Lição 11
Amor em ação

Foco do estudo: Isaías 55

Esboço

Isaías 55 é um capítulo singular. Ele tem levado muitos a compreender como a salvação é mediada a todos os pecadores que desejam ser salvos. A salvação não tem tanto a ver com o que a pessoa faz, mas tudo a ver com o que Deus fez em favor dela por meio do Servo do Senhor.

O capítulo pode ser dividido em duas partes. A primeira abrange os versos 1 a 5 e a segunda abrange os versos 6 a 13.

Esta lição explora as duas expressões importantes “viverão” e “busquem” em conexão com o convite amoroso: “Converta-se ao Senhor”.

Os três temas que serão explorados são: (1) Misericórdia a todos, (2) A maneira de obter uma vida verdadeira e (3) Converta-se ao Senhor.

Comentário

Misericórdia a todos

O cântico do Servo sofredor descreve de maneira vívida a obra do Messias em favor do ser humano. Ele sofre uma morte vicária. Isaías 54 nos lembra de que tudo o que Deus faz por nós é realizado para obter nossa salvação: “‘Mesmo que os montes se retirem e as colinas sejam removidas, a Minha misericórdia não se afastará de você, e a Minha aliança de paz não será removida’, diz o Senhor, que Se compadece de você”(Is 54:10). O capítulo termina com a garantia que Deus dá ao Seu povo: “Esta é a herança dos servos do Senhor e a Sua justiça que procede de Mim, diz o Senhor" (Is 54:17).

Assim, em linguagem amorosa, Isaías fala da redenção que Deus oferece. No entanto, o convite gratuito e gracioso a todos os que têm “fome e sede” precisa ser aceito. Esse é o tema discutido em Isaías 55: em última análise, as pessoas precisam aceitar a salvação que o Senhor concede. Por esse motivo, o capítulo inicia com o convite:

“Ah! Todos vocês que têm sede, venham às águas;

E vocês que não têm dinheiro, venham, comprem e comam!

Sim, venham e comprem, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite” (Is 55:1).

Esse convite abre a porta a todos, o que inclui pessoas de todos os lugares, muito além das fronteiras de Judá. Ninguém precisa pagar, porque a dívida impagável foi miraculosamente quitada para cada um de nós.

Em Isaías 55:3, em claro paralelismo, o autor explica mais sobre o que esse convite inclui:

A. “Deem ouvidos,

B. E venham a Mim;

A’. Escutem,

B’. E vocês viverão”.

É interessante notar que o resultado natural de ir ao Senhor é que sua alma viverá. O verbo hebraico na última frase é ?yh, e o significado básico é “viver” ou “permanecer vivo” (David J. A. Clines, ed., Dictionary of Classical Hebrew [Dicionário de Hebraico Clássico], v. 3, p. 204, 205). Tem a conotação de “salvar a vida”. C. F. Keil sugeriu que essa expressão reflete a ideia de não apenas permanecer vivo, mas de obter vida verdadeira (Minor Prophets, Commentary on the Old Testament in Ten Volumes [Profetas Menores, Comentário sobre o Antigo Testamento em Dez Volumes]. Grand Rapids, MI: Eerdmans Publishing Company, 1978, v. 10, p. 279). O que parece ser sugerido aqui é que ?yh é usado no sentido de “retornar à vida ou reviver”.

Assim, de acordo com o verso, a única maneira de encontrar a vida verdadeira, como entidade nacional e como indivíduos, é ouvindo o convite de Deus e indo a Ele.

A maneira de obter uma vida verdadeira

A segunda parte de Isaías 55, versos 6 a 13, reforça as ideias expressas na primeira parte, por meio do uso da outra expressão-chave, o verbo hebraico ?rš, traduzido na Bíblia Almeida Revista e Atualizada como “buscai”:

Busquem o Senhor enquanto Ele pode ser encontrado;

Invoquem-No enquanto Ele está perto” (Is 55:6).

O verbo ?rš é usado no imperativo, o que significa que não é apenas um conselho, mas um comando. O significado básico de ?rš é “procurar”, que tem a conotação de “adoração e compromisso”. Outros possíveis significados são “consultar, pedir informação, buscar orientação, procurar com cuidado “(David J. A. Clines, ed., Dictionary of Classical Hebrew [Dicionário de Hebraico Clássico], v. 2, p. 473; Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament [Léxico Aramaico e Hebraico do Antigo Testamento], v. 1, p. 233).

Buscar o Senhor não é algo estranho à experiência da nação de Israel. Os israelitas foram aconselhados a buscar o Senhor quando vivessem entre nações pagãs: “De lá, vocês buscarão o Senhor, seu Deus, e O acharão, quando O buscarem de todo o coração e de toda a sua alma” (Dt 4:29).

Buscar o Senhor também é uma experiência pessoal. Rebeca buscou o Senhor por causa de uma estranha dificuldade na sua gravidez: “Os filhos lutavam no ventre dela. Então ela disse: ‘Por que isso está acontecendo comigo?’ E ela foi consultar o Senhor” (Gn 25:22). Da mesma forma, o povo de Deus é encorajado a buscar o Senhor, principalmente em tempos de crise. A passagem de 2 Reis 22 narra a experiência do rei Josias: “Vão consultar o Senhor por mim, pelo povo e por todo o Judá, a respeito das palavras deste livro que foi encontrado” (v. 13).

Em alguns casos, a experiência de buscar o Senhor está relacionada à adoração verdadeira e permanece como a antítese da idolatria (Jr 8:2). “No entanto, boas coisas foram encontradas em você, porque tirou os postes da deusa Aserá da terra e pôs no coração o propósito de buscar a Deus” (2Cr 19:3).

Buscar o Senhor também está ligado a um relacionamento de aliança: “Entraram em aliança de buscar o Senhor, Deus de seus pais, de todo o coração e de toda a alma” (2Cr 15:12). E da mesma forma, sobre Jeosafá, diz-se que ele não andou no caminho dos baalins, “pelo contrário, buscou o Deus de seu pai e andou nos Seus mandamentos” (2Cr 17:4). O salmista afirma: “Bem-aventurados os que guardam os Seus testemunhos e O buscam de todo o coração” (Sl 119:2). Não buscar o Senhor leva a comportamentos que nos fazem errar o alvo de cumprir a vontade de Deus, como se vê na experiência de Roboão, de quem foi dito: “Fez o que era mau, porque não dispôs o coração para buscar o Senhor” (2Cr 12:14). Não buscar o Senhor também reflete falta de entendimento: “Do Céu o Senhor olha para os filhos dos homens, para ver se há quem tenha entendimento, se há quem busque a Deus” (Sl 14:2).

Um uso legal de drš com Yahweh como sujeito carrega o sentido de uma exigência. David Denninger sugere que “os profetas alertam contra dois abusos: buscar aqueles que não sejam Yahweh e procurá-Lo sem confiança” (Willem A. VanGemeren, ed., New International Dictionary of Old Testament Theology and Exegesis [Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento], v. 1, p. 995).

Em suma, o ato de buscar o Senhor é sempre indicativo do desejo de restaurar o relacionamento e obter vida verdadeira. Isaías 58:2 fornece mais ideias sobre a busca do Senhor: “Mesmo neste estado, ainda Me procuram dia a dia, têm prazer em saber os Meus caminhos. Como povo que pratica a justiça e não deixa o direito do seu Deus, perguntam-Me por sentenças justas, têm prazer em se aproximar de Deus”. Embora o povo de Deus tenha sido hipócrita em sua busca de Deus (Is 58), a promessa divina é que encontraremos a verdadeira vida quando O buscarmos de todo o coração (Jr 29:13).

Converta-se ao Senhor

Isaías 55 começa com um convite aberto àqueles que desejam a salvação. Está aberto a todos. É um convite que traz mudanças radicais na vida, à medida que o destinatário se move de uma experiência salvífica para outra. Por que essa mudança é necessária? Por causa do pecado.

O livro é claro sobre o que o pecado representa para Deus. A mensagem de esperança para Judá em Isaías 40 começa dizendo: “[Jerusalém] já recebeu em dobro das mãos do Senhor por todos os seus pecados” (Is 40:2). O pecado em Isaías é definido como afastamento dos caminhos do Senhor. É viver em oposição à instrução divina (Is 42:24). Em outras palavras, escolher uma vida de pecado é optar por viver separado de Deus: “Mas as iniquidades de vocês fazem separação entre vocês e o seu Deus” (Is 59:2). Assim, o pecado é um sério impedimento no relacionamento entre Deus e a humanidade.

Isaías 55, particularmente o verso 7, segue a mesma orientação: “Que o ímpio abandone o seu mau caminho, e o homem mau, os seus pensamentos”. Aqui deixar significa “renunciar, sair”. Portanto, não inclui a ideia de salvar um ser humano em (ou com) seus pecados, mas dos seus pecados. É importante notar a semelhança entre “caminho” (na Bíblia Hebraica significa “viver”) e “pensamentos”.

A primeira parte do verso 7 nos ajuda a entender o processo pelo qual devemos passar para que Deus nos conceda uma vida restaurada. A maneira de abandonar a vida de pecado é retornar ao caminho do Senhor. É no caminho para o Senhor que o pecador abandona seus caminhos e se torna, passo a passo, uma nova pessoa, adquirindo assim uma nova vida:

A. “Converta-se ao Senhor,

B. Que Se compadecerá dele,

A’. E volte-se para o nosso Deus,

B’. Porque é rico em perdoar.”

Aplicação para a vida

1. “Ouve” e “escuta” são verbos imperativos que a Bíblia costuma usar para proferir o conselho de Deus ao Seu povo por meio de Seus mensageiros. Por exemplo, em Deuteronômio 4:1, lemos: “Agora, pois, ó Israel, ouça os estatutos e os juízos que eu lhes ensino, para que vocês os cumpram, para que vivam, entrem e tomem posse da terra que o Senhor, o Deus de seus pais, está dando a vocês.” Qual tem sido sua experiência em ouvir e escutar a Palavra de Deus?

2. Medite no trecho a seguir em relação ao amor de Deus: “Ou você imagina que, quando um pobre pecador deseja voltar e abandonar seus pecados, o Senhor, com severidade, o impede de se prostrar, arrependido, aos Seus pés? Longe de nós pensarmos assim! Nada pode nos prejudicar mais do que ter um conceito assim do nosso Pai celestial. Ele odeia o pecado, mas ama o pecador. Ele Se entregou, na pessoa de Cristo, para que todos pudessem ser salvos e desfrutar as bem-aventuranças eternas no reino de glória. Que outra linguagem mais forte e mais carinhosa poderia ser empregada em lugar da que Ele escolheu para expressar Seu amor por nós? Ele declara: “Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, Eu, todavia, não Me esquecerei de ti” (Is 49:15; Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 54). Como você experimentou a realidade do amor de Deus em sua própria vida?

3. Peça que os membros da classe falem sobre as experiências deles em buscar ao Senhor.


Um livro e uma escola

Tatyana parou em um sebo quando voltava para casa após um dia de trabalho na Escola Adventista, em Tokmok, Quirguistão. Ela era a nova professora de russo e literatura, que aceitara uma surpreendente proposta de emprego feita pelo diretor. Enquanto Tatyana concluía a compra de vários livros, a vendedora lhe ofereceu outro. “Olha só”, disse. “Este livro é um brinde para você.” Evidentemente, Tatyana não recusaria um livro gratuito. Ela pegou o livro, pagou os outros e colocou todos na bolsa. Em casa, decidiu olhar o brinde que recebeu. O título do livro era “O Grande Conflito”, cuja autora, Ellen G. White, ela não conhecia. Folhou as páginas e viu uma informação de contato de um homem chamado Pavel Noskov impresso na última página. Para sua surpresa, o endereço era o mesmo do prédio onde ela morava.

Nos dias seguintes, enquanto pensava sobre Pavel ser seu vizinho, percebeu que havia uma professora na escola com o mesmo sobrenome. Tatyana levou o livro e o mostrou à professora, Arina. “Você é a esposa de Pavel?”, perguntou. “Sim!”, Arina respondeu. “Pavel é meu esposo.” Então, Tatyana ficou sabendo que a família era adventista e frequentava a igreja todos os sábados. Arina a convidou e seu filho, Andrei, para conversar com ela e o marido, Pavel. Durante um desses encontros, Pavel disse à Tatyana que os adventistas consideravam Ellen White como uma querida profetiza e escritora. Intrigada, Tatyana leu “O Grande Conflito” com muito interesse.

Tatyana e Andrei começaram a frequentar um grupo de estudos bíblicos que se reunia semanalmente na casa de Pavel e Arina. Mas a mãe de Pavel adoeceu e foi necessário um novo local para reunir o pequeno grupo. Tatyana ofereceu sua casa. Algumas semanas se passaram, uma crise espiritual aconteceu. Tatyana e Andrei se sentiram fortemente impressionados a tomar uma decisão de se tornarem adventistas, ou cortar totalmente as relações com a igreja adventista. Eles contaram a Pavel que não sabiam o que fazer.

“Somente Deus pode salvá-los dessa crise,” Pavel disse. Tatyana e Pavel oraram e ela decidiu frequentar com o filho o primeiro culto no sábado. A experiência foi muito diferente de qualquer coisa que experimentaram. Os membros da igreja foram afetuosos e receptivos. Eles ficaram muito felizes com a visita e os trataram como amigos que não se encontravam havia muito tempo. Tatyana e Andrei sentiram que estavam em casa.

No dia 6 de abril de 2019, Tatyana e Andrei foram batizados. Tatyana credita à escola adventista a missão de conduzi-la com o filho a Deus. “Sou grata a esta escola”, disse. “Se não fosse meu emprego, não pararia no sebo e descobriria que um dos meus vizinhos é adventista. Eu não conheceria a igreja adventista. Deus dirigiu nosso caminho.”

Há três anos, as ofertas missionárias ajudaram a construir um ginásio na Escola Adventista de Tokmok, Quirguistão. Agradecemos muito por apoiar a educação adventista nesse país e em toda Divisão Euroasiática.

 

Dicas da história

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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2021
Tema Geral: Isaías: consolo para o povo de Deus
Lição 11 – 6 a 13 de março de 2021

Amor em ação

Autor: Sérgio Monteiro
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega

Estamos nos aproximando do final de nosso estudo do livro de Isaías. Na última seção, tivemos um estudo extremamente teológico, com profecias de esperança e certeza, cujo foco foi a intervenção divina nos afazeres humanos, de modo que o Senhor invadiu o mundo de pecado e sofrimento para perdoar o pecador e destruir o sofrimento, através do Servo. Agora, entramos em uma nova seção que fala de aspectos práticos da fé de Israel.

De fato, parece que o profeta retorna ao início do livro, com um novo conjunto de acusações, mas não sem antes apresentar um belíssimo convite divino para que o povo retornasse ao Senhor e abandonasse suas ações pecaminosas. É interessante notar que há uma inversão da sequência dos primeiros capítulos, em que, primeiramente, temos acusações contra Israel e depois o cântico da vinha no capítulo 5. Dessa vez, no capítulo 55, começamos com o convite a comprar sem dinheiro, uma representação da graça divina, e nos movemos às acusações de práticas rituais vazias e piedade aparente.

O convite é apresentado em uma linguagem poética poderosa, com um ritmo sensível e marcante. O acento poético recai sobre o chamado de atenção inicial para que TODOS (kol) os que tivessem sede fossem às águas que Ele oferecia. A figura aqui é tomada do costume oriental de vendedores de rua que ofereciam (e ainda oferecem) seus produtos chamando os transeuntes. Aqui, não obstante, não é o oferecimento de um produto, mas o convite a um banquete preparado por Deus, no qual, seguindo a linguagem do banquete de Mateus 22, Ele anunciaria Seu juízo e afastaria as desgraças que recaíssem sobre a terra de Israel.

A linguagem do texto é inclusiva. Seu convite não se limita, como bem percebeu Ibn Ezra, a Israel, mas inclui todos os que têm sede, de todas as nações. A sede e a fome aqui saciadas pelo banquete parecem estar associadas à linguagem contrária de Amós 8:11, em que Deus avisa que iria enviar fome e sede de Sua Palavra sobre a Terra. O texto de Isaías, portanto, deve se referir não à provisão de necessidades naturais e físicas, mas à fome e à sede de ouvir o anúncio salvífico de Deus, através do Servo do capítulo 53, que é referido no verso 4, como o Príncipe e Governador das nações ou povos, em um claro indicativo da universalidade do alcance de Sua mensagem e de Seu reino: todos, judeus e gentios, são chamados a participar da adoração a Deus, sendo agora membros da aliança (v. 3).

Entrar na aliança demanda aceitação dos termos da aliança como vimos nas primeiras lições de nosso estudo. O próprio Deus, nos versos e capítulos seguintes, especifica as condições para participar dessa aliança. Não é suficiente a expressão do desejo e da necessidade que a própria pessoa sente, mas a aceitação do convite divino inclui responsabilidades e mudança de vida. O convite não se baseia em etnia, mas em graça e fé. A graça como atitude e ação divina e a fé, ou fidelidade, como a resposta humana.

É a graça que representa o mais alto e elevado pensamento de Deus. É na proposta de uma fonte infinita de perdão, oferecida de forma livre e plena que reside o coração da mensagem da graça. Essa mensagem declara a incapacidade do ser humano de lidar com seus próprios erros e a condição fundamental que dá origem a esses erros e seus males: o pecado. Na graça é oferecida resposta para essa incapacidade, demonstrando que Deus possui pensamentos para com os seres humanos que são tão mais elevados do que o Céu é da Terra. Percebam aqui a retomada da linguagem de Céu e Terra, utilizada no capítulo 1. Se ali representavam a extensão do alcance testemunhal no contexto da aliança, aqui representam a diferença entre Deus, como quem propõe a aliança, e o ser humano, seu beneficiário. São os pensamentos de paz, que serão lembrados anos depois, também no contexto de libertação, no livro de Jeremias 29:10 a 13.

A graça, como dito acima, é a atitude divina que deve motivar no homem a resposta da fé, entendida corretamente não apenas como ato de crença, mas como fidelidade, que não é mera expressão externa de medo e subserviência, mas a atitude resultante da aceitação plena da condição de cidadania do Reino da aliança e de suas responsabilidades éticas, morais, sociais e espirituais. A aliança, portanto, nos mostra que as mensagens proféticas não se resumem apenas aos aspectos espirituais, mas devem transformar a totalidade da vida, emprestando significado a cada ato e sentido a cada palavra. É por isso que um jejum agradável a Deus não é meramente sentir fome e mortificar sua alma.

Nos tempos de Isaías, o único jejum ordenado por Deus diretamente, ou indiretamente através dos líderes do povo, era o jejum do Yom Kippur, ou Dia do Perdão (Dia da Expiação). A grandiosidade do dia não estava em seu ritual, mas em seu significado. Não era, portanto, o jejum pelo ato em si, mas pela intenção, que faria o participante se apropriar das bênçãos e do perdão oferecidos e da celebração paradoxal que resultava do afligir da alma. Deveria ser um jejum alegre, uma vez que indicava o último ato de Deus em selar Seu povo par um bom ano novo, cujo início se dava no primeiro dia do sétimo mês, mas que era anunciado durante todo o sexto mês, cujo nome em hebraico, curiosamente é ‘elul’, que utiliza as letras iniciais da frase hebraica ‘ani ledodi vedodi li, eu sou para meu amado e meu amado é para mim, encontrada nos Cânticos de Salomão 6:3 e repetida nos casamentos judaicos até os dias de hoje, em uma declaração de entrega e confiança. Esse é o esperado resultado do Dia do Perdão: uma declaração de amor mútua entre Deus e Seu Povo.

Como toda festividade deve ser lembrada no tempo, também esse momento deve ser eternizado na espiral ascendente que é o tempo bíblico. É no retorno das festividades do Eterno que nos reencontramos com as bênçãos de Seu amor. Na recorrência do tempo astronômico, semanalmente, somos convidados a celebrar, no tempo por Deus reservado, o amor demonstrado tanto na criação (Gn 2:1-3), quanto na libertação do Egito (Dt 5:12-15) e do pecado (Lc 23:53, 54). É na chegada do sábado que devemos encontrar descanso e nos lembrar do perdão que nos é oferecido não apenas uma vez ao ano (nunca foi), mas todos os dias.

Particularmente, entendo que a referência primária do texto não seja ao Yom Kippur. A referência ao jejum nos remete ao Yom Kippur, certamente, mas a referência ao sábado irrompe não no esteio do jejum, nem como elemento a ele associado, mas como uma categoria diferente de requerimento. O requerimento em relação ao jejum é a consideração social e o partir do pão com o necessitado, enquanto a referência ao sábado está na troca dos afazeres diários pelo conceito de oneg (deleite). Mas não o deleite ocioso, ou meramente humano. É o deleite no Senhor, ou seja, a consideração de que aquele tempo pertence a Deus, não para afligir a alma, mas para proporcionar alegria e gozo recorrentes. Por isso, o sábado deve ser dia de alegria e não de pesar.

Qual é o resultado de viver essa fé? Um amor que opera. E opera no sentido correto: primeiro a Deus e então ao homem, ao próximo. A abnegação do serviço compassivo leva ao pé da cruz, para demonstrar que ela está vazia, mas que o santuário está cheio de graça. É para lá que nossos olhos devem se voltar. É ali que entendemos que, como diz o Pr. Alceu de Assis Filho, “A salvação é gratuita, mas o preço foi o sacrifício”. Isso é amor em ação.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O Pr. Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É bacharel em Teologia, mestre em Teologia Bíblica e cursa doutorado em Bíblia hebraica. É pastor na Escola do Pensar e no Instituto de Estudos Judaicos Feodor Meyer. É membro da Adventist Theological Society, International Association for the Old Testament Studies e Associação dos Biblistas Brasileiros.