Lição 14
23 a 30 de setembro
Anunciando a glória da cruz
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Mq 1–4
Verso para memorizar: “Longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo” (Gl 6:14).
Leituras da semana: Gl 6:11-18; Rm 6:1-6; 12:1-8; 2Co 4:10; 5:17; 11:23-29

Este estudo sobre Gálatas tem sido intenso. Isso ocorre porque a carta em si é intensa. Conhecendo o chamado do apóstolo e a verdade do que ele pregava (afinal, como ele disse várias vezes, essa verdade veio do Senhor), Paulo escreveu com a inspirada paixão dos profetas do Antigo Testamento – de Isaías, Jeremias, Oseias. Da mesma forma que eles apelaram ao povo de Deus em seu tempo para que se afastasse do erro, Paulo estava fazendo o mesmo com as pessoas do seu tempo.

Não importa quanto fossem diferentes as circunstâncias imediatas, no fim, as palavras de Jeremias poderiam tão facilmente ser aplicadas aos gálatas, como foram para as pessoas nos dias de Jeremias: “Assim diz o Senhor: ‘Não se glorie o sábio em sua sabedoria nem o forte em sua força nem o rico em sua riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-Me e conhecer-Me, pois Eu sou o Senhor, e ajo com lealdade, com justiça e com retidão sobre a Terra, pois é dessas coisas que Me agrado’, declara o Senhor” (Jr 9:23, 24, NVI).

Em nenhum lugar nossa “gloriosa” sabedoria humana, nossas riquezas e nosso poder aparecem mais claramente em toda a sua futilidade e vaidade do que diante da cruz de Cristo – o foco da carta de Paulo ao seu rebanho errante na Galácia.


Forme pequenos grupos entre os jovens de sua comunidade. Fortaleça a comunhão e promova a missão.

Domingo, 24 de setembro
Ano Bíblico: Mq 5–7
Da própria mão de Paulo

1. Compare as palavras finais de Paulo em Gálatas 6:11-18 com as considerações finais que ele fez em suas outras cartas. De que forma o encerramento de Gálatas é semelhante e em que aspecto é diferente das demais? Veja as considerações finais em Romanos, 1 e 2 Coríntios, Efésios, Filipenses, Colossenses, e 1 e 2 Tessalonicenses

As observações finais de Paulo nem sempre são iguais, mas uma série de elementos comuns aparece nelas: (1) saudações a indivíduos específicos, (2) uma exortação final (3), uma assinatura pessoal, e (4) uma benção final. Quando essas características típicas são comparadas às palavras finais de Paulo em Gálatas, duas diferenças significativas aparecem.

Em primeiro lugar, ao contrário de muitas cartas de Paulo, Gálatas não contém nenhuma saudação pessoal. Por quê? Assim como ocorreu com a ausência da tradicional ação de graças no início da carta, esse é provavelmente mais um indício da relação tensa entre Paulo e os gálatas. Paulo foi educado, mas formal.

Em segundo lugar, devemos lembrar que era costume de Paulo ditar suas cartas a um escriba (Rm 16:22). Então, depois de terminar, Paulo muitas vezes tomava a pena e acrescentava algumas breves palavras do próprio punho para concluir a carta (1Co 16:21).
Em Gálatas, no entanto, Paulo não seguiu esse seu costume. Quando pegou a pena do escriba, Paulo ainda estava tão preocupado com a situação na Galácia que acabou escrevendo mais do que era comum. Ele simplesmente não pôde soltar a pena antes de apelar aos gálatas mais uma vez para que abandonassem seus caminhos insensatos.

Em Gálatas 6:11, Paulo enfatizou que escreveu a carta com letras grandes. Realmente não sabemos por quê. Alguns têm especulado que Paulo não estava se referindo ao tamanho das letras, mas ao seu formato malfeito. Eles sugerem que, talvez, as mãos de Paulo estivessem tão debilitadas em consequência da perseguição, ou deformadas por causa do trabalho de fazer tendas, que ele não podia traçar as letras com precisão. Outros acreditam que seus comentários fossem mais uma evidência de sua deficiência visual. Embora ambas as versões sejam possíveis, parece muito menos especulativo concluir simplesmente que Paulo estivesse escrevendo intencionalmente com letras grandes a fim de destacar e enfatizar novamente sua mensagem, semelhante à nossa maneira de enfatizar uma palavra ou conceito importantes sublinhando, colocando em itálico ou escrevendo em letras maiúsculas.

Seja qual for a razão, Paulo certamente queria que os leitores prestassem atenção às suas advertências e admoestações.


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Segunda-feira, 25 de setembro
Ano Bíblico: Naum
Buscando a glória na carne

2. Leia Gálatas 6:12, 13. O que Paulo disse nesses versos?

Embora Paulo tivesse sugerido anteriormente os objetivos e a motivação de seus adversários (Gl 1:7; 4:17), suas observações em Gálatas 6:12, 13 foram os primeiros comentários explícitos que ele fez sobre seus oponentes. Ele os descreveu como pessoas que queriam “ostentar-se na carne”. A expressão “ostentar-se” em grego significa literalmente colocar “uma boa face”. De fato, a palavra para “face”, em grego, é a mesma palavra para designar a máscara de um ator, e essa palavra foi usada igualmente em sentido figurado para se referir ao papel desempenhado por um ator. Em outras palavras, Paulo estava dizendo que essas pessoas eram como atores buscando a aprovação de uma plateia. Em uma cultura fundamentada na honra e na vergonha, a conformidade era essencial, e os que ensinavam os erros pareciam estar buscando aumentar seu grau de honra diante dos seus companheiros judeus na Galácia e dos outros cristãos judeus de Jerusalém.

Paulo apresentou um ponto importante sobre um dos motivos deles: o desejo de evitar a perseguição. Embora a perseguição possa certamente ser entendida em suas formas mais dramáticas, envolvendo violência física, ela poderia ser igualmente prejudicial, mesmo em suas formas mais “leves” de assédio e exclusão. Paulo e outros judeus fanáticos na Judeia, no passado, haviam realizado o primeiro tipo, a violência física (Gl 1:13), mas a segunda forma também teve seu efeito sobre os cristãos.

Os líderes religiosos judeus ainda tinham uma significativa influência política em muitas regiões. Eles tinham a aprovação oficial de Roma; por isso, muitos cristãos judeus estavam desejosos de manter boas relações com eles. Circuncidando os gentios e ensinando-lhes a observar a Torá, os perturbadores da Galácia poderiam encontrar um ponto comum com os judeus locais. Isso não apenas lhes permitiria manter contato amistoso com as sinagogas, mas eles também poderiam até reforçar seus laços com os cristãos judeus em Jerusalém, que tinham uma desconfiança crescente acerca da obra que estava sendo feita entre os gentios (At 21:20, 21). Em certo sentido, suas ações também poderiam tornar mais eficaz seu testemunho aos judeus.

Independentemente da situação que Paulo tinha em mente, seu pensamento era claro: “Todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3:12).

Pense nas razões que essas pessoas tiveram para ensinar seus erros. Parecia bastante razoável, considerando todas as coisas. Será que até mesmo os “melhores” motivos não podem nos desviar do caminho, se não tivermos cuidado? Você já fez coisas erradas pelos motivos certos?


Terça-feira, 26 de setembro
Ano Bíblico: Habacuque
Gloriando-se na cruz (Gl 6:14)

“Quanto a mim, que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo” (Gl 6:14, NVI).

Depois de revelar os motivos que levaram alguns a insistir na circuncisão, Paulo apresentou sua mensagem do evangelho aos gálatas uma última vez, embora apenas de maneira resumida. Para Paulo, o evangelho tem por base dois princípios fundamentais: (1) a centralidade da cruz (v. 14) e (2) a doutrina da justificação pela fé (v. 15). Na lição de hoje, o foco está no primeiro.

Vivendo no século 21, é difícil compreender o impacto originalmente causado pelos comentários de Paulo a respeito da cruz (Gl 6:14). Hoje, a cruz de Cristo é um símbolo comum e apreciado, que desperta sentimentos positivos para a maioria das pessoas. Nos dias de Paulo, porém, a cruz não era algo de que se pudesse vangloriar, mas algo a ser desprezado. Os judeus achavam ofensiva a ideia de um Messias crucificado, e os romanos consideravam a crucificação tão repulsiva que ela nem sequer era mencionada como forma de punição adequada para um cidadão romano.

O desprezo com o qual o mundo antigo considerava a cruz de Cristo é visto claramente no primeiro desenho registrado de uma crucificação. Datado do início do segundo século, um fragmento de um desenho antigo retrata a crucificação de um homem com a cabeça de um jumento. Abaixo da cruz, e ao lado da figura de um homem com as mãos levantadas em adoração, uma inscrição dizia: “Alexandre adora seu deus”. A questão é clara: a cruz de Cristo era considerada ridícula. Foi nesse contexto que Paulo ousadamente declarou que ele não poderia se gloriar em nada mais além da cruz de Cristo!

3. De acordo com Gálatas 6:14; Romanos 6:1-6; 12:1-8; e Filipenses 3:8, que diferença a cruz de Cristo fez no relacionamento de Paulo com o mundo?

A cruz de Cristo muda tudo para o cristão. Ela nos desafia não apenas a reavaliar nossa maneira de ver a nós mesmos, mas também a maneira pela qual nos relacionamos com o mundo. O mundo (este século de maldade e tudo o que isso implica) está em oposição a Deus (1Jo 2:16). Pelo fato de que já morremos com Cristo, o mundo já não mais tem o poder escravizador que mantinha sobre nós, e a antiga vida que um dia dedicamos ao mundo não mais existe. Seguindo a analogia de Paulo, a ruptura entre o cristão e o mundo deve ser como se os dois tivessem morrido um para o outro.

A cruz afetou seu relacionamento com o mundo? Que diferença ela fez na sua vida? Qual é a diferença entre sua vida hoje e a sua vida antes de se entregar ao Senhor, que morreu por você?


Quarta-feira, 27 de setembro
Ano Bíblico: Sofonias
Uma nova criatura

Tendo enfatizado a centralidade da cruz de Cristo para a vida cristã, Paulo destacou o segundo princípio fundamental da sua mensagem do evangelho: a justificação pela fé.

Como vimos durante o trimestre, Paulo tinha basicamente colocado a circuncisão em oposição ao evangelho. No entanto, ele não era contra essa prática em si. Paulo havia feito várias declarações fortes contra a circuncisão (Gl 5:2-4), mas ele não queria que os gálatas concluíssem que ser incircunciso seria mais agradável a Deus do que ser circuncidado. Esse não era o seu argumento, porque as pessoas podem ser igualmente legalistas acerca do que fazem quanto acerca do que não fazem. Espiritualmente falando, a questão da circuncisão por si mesma é irrelevante. A verdadeira religião não está baseada no comportamento exterior, mas na condição do coração humano. Como o próprio Jesus disse, uma pessoa pode parecer maravilhosa por fora, mas estar espiritualmente podre por dentro! (Mt 23:27).

4. De acordo com Gálatas 6:15 e 2 Coríntios 5:17, o que significa ser uma nova criatura?

Ktisis é a palavra grega traduzida por “criatura”. Ela tanto podia se referir a uma “criatura” individual (Hb 4:13) como a toda a ordem “criada” (Rm 8:22). Em ambos os casos, a palavra implicava a ação de um Criador. Esse era o ponto que Paulo queria apresentar. Tornar-se uma “nova criatura” não era algo que podia ser realizado por algum esforço humano – quer fosse a circuncisão, quer fosse qualquer outra coisa. Jesus Se referiu a esse processo como o “novo nascimento” (Jo 3:5-8). É o ato divino em que Deus toma uma pessoa espiritualmente morta e sopra nela a vida espiritual. Essa é também mais uma metáfora para descrever o ato de salvação que Paulo geralmente definia como justificação pela fé.

Paulo se referiu a essa experiência da nova criação em 2 Coríntios 5:17. Ele explicou que tornar-se uma nova criatura significa muito mais do que uma mudança em nosso status nos livros do Céu. Essa experiência produz uma transformação em nossa vida. Como observa Timothy George, ela “envolve todo o processo de conversão: a obra regeneradora do Espírito Santo que leva ao arrependimento e fé, o processo diário de mortificação e vivificação, e o crescimento na santidade, que por fim leva à semelhança com Cristo” (Galatians [Gálatas], p. 438).

Tornar-se uma nova criatura, no entanto, não é o que nos justifica. Em vez disso, essa mudança radical é a manifestação inequívoca da verdadeira experiência da justificação.

Você percebeu em sua vida as mudanças que devem ocorrer quando nos tornamos “novas criaturas”? O que você pode fazer para facilitar a obra do Espírito Santo?


Quinta-feira, 28 de setembro
Ano Bíblico: Ageu
Considerações finais (Gl 6:16-18)

5. De acordo com Gálatas 6:16, Paulo deu sua bênção aos que, disse ele, “[andassem] conforme essa regra” (NVI). Dado o contexto, de qual “regra” você acha que Paulo estava falando?

A palavra traduzida por “regra” literalmente se referia a uma vara reta ou barra usada por pedreiros e carpinteiros para medir. A palavra posteriormente assumiu um sentido figurado, referindo-se às regras ou padrões pelos quais uma pessoa avalia algo. Por exemplo, quando as pessoas falam sobre o cânon do Novo Testamento, elas estão se referindo aos 27 livros do Novo Testamento, vistos como autoridade para determinar tanto a crença quanto a prática da igreja. Portanto, se um ensinamento não “está à altura” do que se encontra nesses livros, não deve ser aceito.

6. De acordo com Gálatas 6:17; 2 Coríntios 4:10; 11:23-29, quais eram as “marcas de Jesus” que Paulo trazia em seu corpo? O que ele quis dizer quando escreveu que ninguém devia “perturbá-lo” por causa dessas marcas? Gálatas 6:14 poderia ajudar a responder a essas perguntas? Assinale a alternativa correta:

A.( ) Figuras de Jesus tatuadas em seu corpo.

B.( ) Cicatrizes causadas pela perseguição que ele sofreu em nome de Cristo.

C.( ) O selo do Deus Altíssimo, aprovando seu ministério.

A palavra marca vem do termo grego stigmata, da qual também deriva a palavra portuguesa estigma. Paulo poderia estar se referindo à prática comum de marcar os escravos com a insígnia de seu dono como uma forma de identificação, ou à prática de algumas religiões misteriosas, nas quais um devoto marcava a si mesmo como sinal de devoção. Em todo caso, “por ‘marcas de Jesus’, sem dúvida, Paulo se referiu às cicatrizes deixadas em seu corpo pela perseguição e sofrimento (2Co 4:10; 11:24-27). Seus adversários então insistiam em forçar os conversos gentios a aceitar a marca da circuncisão, como sinal de sua submissão ao judaísmo. Mas Paulo tinha marcas que indicavam de quem ele havia se tornado escravo, e para ele não havia fidelidade a ninguém mais, a não ser a Cristo […]. As cicatrizes que Paulo havia recebido de seus inimigos, enquanto estava a serviço de seu Mestre, falavam com mais eloquência de sua devoção a Cristo” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 6, p. 1096).

Quais “marcas”, físicas ou de outra natureza, você tem por causa de sua fé em Jesus? Em outras palavras, o que sua fé lhe custou?


Sexta-feira, 29 de setembro
Ano Bíblico: Zc 1–4
Estudo adicional

A cruz do Calvário desafia e, finalmente, vencerá todo poder terrestre e infernal. Toda influência centraliza-se na cruz, e dela provém toda influência. Ela é o grande centro de atração, pois nela Cristo deu a vida pela humanidade. Esse sacrifício foi oferecido com a finalidade de restaurar o homem à sua perfeição original. E mais: foi oferecido para lhe dar completa transformação de caráter, tornando-o mais que vencedor.

“Aqueles que, na força de Cristo, vencem o grande inimigo de Deus e do homem ocuparão nas cortes celestiais uma posição superior à dos anjos que jamais caíram. Cristo declara: “E Eu, quando for levantado da Terra, atrairei todos a Mim mesmo” (Jo 12:32). Se a cruz não encontra uma influência que lhe seja favorável, ela cria uma influência. Geração após geração, a verdade para este tempo tem sido revelada como verdade presente. Cristo na cruz foi o meio pelo qual se encontraram a misericórdia e a verdade, e a justiça e a paz se beijaram. Esse é o meio que deve mover o mundo” (MS 56, 1899; Comentários de Ellen G. White, Comentário Bíblico Adventista, v. 6, p. 1242).

Perguntas para reflexão

1. Qual significado você encontra no fato de Paulo ter começado e terminado sua carta com uma referência à graça de Deus? Gl 1:3; 6:18.

2. À luz da declaração de Paulo sobre ter sido “crucificado […] para o mundo” (Gl 6:14), qual deve ser o relacionamento dos cristãos com o mundo hoje? Qual deve ser a relação deles com questões ligadas ao meio ambiente, racismo, aborto, etc., se eles morreram para o mundo?

3. Como uma pessoa pode saber se ela tem experimentado a “nova criação” sobre a qual Paulo escreveu?

4. Com base no que você aprendeu neste trimestre, como você resumiria a visão de Paulo sobre os seguintes assuntos: lei, obras da lei, justificação pela fé, antiga e nova aliança, obra de Cristo e natureza da vida cristã?

Resumo: A verdadeira religião não consiste em comportamento exterior, mas na condição do coração. Quando o coração for submisso a Deus, a vida refletirá mais e mais o caráter de Cristo, à medida que a pessoa crescer na fé. O coração deve ser subjugado por Cristo; quando isso acontecer, as outras coisas virão em seguida.

Respostas e atividades da semana: 1. Em classe, façam juntos um quadro das diferenças e semelhanças entre as considerações finais de Paulo em suas cartas. 2. Peça a opinião dos alunos. 3. Peça a opinião dos alunos. 4. Peça a opinião dos alunos. 5. Em classe, retome alguns versos anteriores a Gálatas 6:16, e descubram juntos ao que Paulo estava se referindo por “essa regra”. 6. B.



Resumo da Lição 14
Anunciando a glória da cruz

TEXTO-CHAVE: Gálatas 6:14

O ALUNO DEVERÁ

Conhecer: As palavras finais de Paulo em Gálatas, que revelam a essência de sua paixão pelo evangelho e pela igreja.

Sentir: Empatia com a profunda preocupação de Paulo acerca da condição espiritual dos gálatas e do relacionamento deles com o apóstolo e com os falsos mestres.

Fazer: Gloriar-se somente na cruz como centro da sua vida e missão.

ESBOÇO

I. Conhecer: Letras grandes

A. Qual é a diferença entre o encerramento da carta de Paulo aos Gálatas e a conclusão de suas outras cartas?

B. Qual é o assunto mais enfatizado na carta, refletido também no encerramento?

C. Qual era sua única glória, e como ele sofreu por causa dessa paixão?

II. Sentir: Sem interesse em impressionar

A. Se Paulo estivesse interessado em causar boa impressão na igreja, como sua conclusão poderia ter sido diferente?

B. Quais fortes sentimentos são evidentes em sua conclusão?

C. Como a referência ao preço que ele pagou e às marcas em seu corpo, em resultado do trabalho missionário, pode ter tocado o coração dos gálatas?

III. Fazer: Nossa única glória

A. Qual é a motivação central da nossa vida?

B. Sobre quais coisas temos a tendência de nos vangloriar?

C. Nossa vida seria diferente se nos gloriássemos apenas na cruz?

RESUMO: Paulo encerrou sua carta aos Gálatas com um forte apelo pessoal, rejeitando toda submissão exterior a costumes e apegando-se apenas à cruz como sua razão para a vida e o serviço, não importando o custo dessa decisão.

Ciclo do aprendizado

Motivação

Focalizando as Escrituras: Gálatas 6:14

Conceito-chave para o crescimento espiritual: Cristãos sinceros não se gloriam em suas realizações, mas unicamente no sacrifício que Cristo fez em seu favor.

Para o professor: Enfatize a necessidade de nos desapegarmos das coisas do mundo e dos sentimentos de glória e orgulho a elas relacionados.

A distinção entre o cristianismo autêntico e a religião egoísta, por vezes, parece mínima. Aparências à parte, o abismo é gigantesco. O cristianismo se gloria unicamente em Cristo.

A religião egoísta fala ardentemente sobre Cristo e as realizações eclesiásticas. As pessoas, e às vezes até os líderes, precisam ser cuidadosos para não se vangloriarem de suas realizações espirituais, principalmente para evitar comparação com outros que talvez não tenham alcançado tanto sucesso, pelo menos da perspectiva superficial. No entanto, vale a pena realçar somente uma comparação: Cristo em contraste com a humanidade. Nisso realmente não há comparação. Separados de Cristo, o trabalho mais ilustre, o discurso mais eloquente, os acadêmicos mais realizados, a administração mais perfeita se comparam a lixo.

Contrastando implicitamente sua abordagem espiritual com a abordagem de autopromoção de seus oponentes, Paulo declarou que sua única glória era Cristo. Reconhecendo que somente Cristo designava a missão e garantia sua realização com sucesso, Paulo confessou que o esforço humano, separado de Cristo, não é nada. Cristo é o começo. Cristo é a conclusão. Cristo é tudo.

Atividade inicial: Compre uma miniatura de estátua em alguma loja especializada. Durante a reunião da classe, pinte a estátua. Pergunte como a pintura afeta a forma da figura (não afeta em nada). Enquanto a tinta estiver secando, salpique glitter (pó brilhante) sobre a estatueta. Pergunte como o glitter afeta a forma da figura (novamente, não afeta em nada). Se os materiais para essa atividade não estiverem disponíveis, descreva a atividade em suas próprias palavras, enfatizando os seguintes pontos: a substância ou a forma básica da estatueta permanece inalterada; portanto, qualquer reconhecimento pela pintura e pelo brilho deve ser secundário, pois eles não teriam forma sem a estatueta. Os cristãos são a tinta e o glitter, mas Cristo é a substância e, por isso, merece a glória completa. O que significa a vida dos cristãos, à parte da figura de Cristo, que concede forma e vida à missão da igreja?

Compreensão

Para o professor: A compreensão de glória no Antigo Testamento vinha do conceito de peso. As línguas modernas refletem esse entendimento. Algumas gírias por vezes se referem a líderes criminosos como os pesos pesados. Outra expressão diz: “Throw your weight around” (“Jogue seu peso ao redor”, ou seja, use sua autoridade para conseguir o que deseja, indicando a influência, importância, elevada posição social e grande autoridade). O Novo Testamento continuou essa tradição, aplicando o termo principalmente ao nosso Pai celestial e a Jesus Cristo, e somente em um sentido secundário para os seres humanos (Lc 12:27; Jo 7:18). Glória, autoridade, perfeição, ou seja, “peso”, pertencem a Deus. Em comparação, as mais nobres realizações da humanidade são imundas.

Comentário bíblico

I. Gloriando-se na cruz

(Recapitule com a classe Gl 6:14.)

Paulo se gloriava acerca do sofrimento e vergonha representados pela cruz. Os criminosos mais desprezados eram crucificados. Não existia morte mais vergonhosa. Se Paulo fosse pobre, rejeitado, tivesse recebido uma educação deficiente ou sua religião fosse desprezada, sua identificação com a crucificação seria compreensível. Facilmente entendemos por que indivíduos com educação precária se tornam revolucionários e terroristas, mas a identificação de Paulo com a crucificação desafia o raciocínio. Seu testemunho pessoal foi: “Nós é que [...] nos gloriamos em Cristo Jesus e não temos confiança alguma na carne, embora eu mesmo tivesse razões para ter tal confiança. Se alguém pensa que tem razões para confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado no oitavo dia de vida, pertencente ao povo de Israel, à tribo de Benjamim, verdadeiro hebreu; quanto à Lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na Lei, irrepreensível. Mas o que para mim era lucro, passei a considerar como perda, por causa de Cristo. Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar Cristo” (Fp 3:4-8, NVI). Paulo tinha o mais alto nível de conhecimento, possuindo as mais impressionantes credenciais religiosas, educacionais e sociais disponíveis. No entanto, somente o próprio Cristo Se tornou a glória de Paulo. Seus escritos demonstram coerência notável sobre esse ponto. A epístola aos Gálatas, escrita no início de seu ministério, exclama que ele se gloriava unicamente na cruz. A carta aos Filipenses, escrita durante sua prisão posterior, afirma o mesmo. Paulo, escritor de mais de uma dúzia de cartas da Bíblia, o mais célebre missionário cristão do primeiro século, autor da teologia do Novo Testamento, considerava todas as suas realizações apenas lixo, buscando louvor totalmente para Jesus, não para si mesmo.

Pense nisto: Quando os cristãos compartilham seus testemunhos, eles se concentram mais em si do que na obra de Cristo? Por que é tão difícil a crucificação do próprio eu? Quais são os perigos inerentes à ênfase na autoestima? De onde os cristãos devem tirar seu senso de valor?

II. Uma nova criatura

(Recapitule com a classe Gl 5:2-4.)

Infelizmente, algumas teologias cristãs equiparam a conversão com a mudança do rótulo do frasco, e não do conteúdo. A salvação se torna uma transação jurídica que traz outro status. O cristianismo bíblico, no entanto, declara que o conteúdo da vida deve passar por transformação. Sempre que o domínio se transfere de Satanás para Cristo, tem início um processo que, após sua conclusão, terá revolucionado a vida do indivíduo. Embora esse processo envolva a cooperação do cristão, pois a santificação nunca é imposta, mas aceita voluntariamente, os cristãos nunca devem supor que seus esforços sejam meritórios. Uma estátua não pode exclamar: “Olha o que eu fiz de mim mesma!” Assim como as estátuas não podem criar a si mesmas, os cristãos também não podem se transformar. Jeremias questionou retoricamente: “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas?” (Jr 13:23). Obviamente, o Antigo e o Novo Testamentos concordam em que os cristãos se tornam novas criaturas mediante a graça divina, e não por meio da vontade própria nem de mudanças exteriores superficiais.

Pense nisto: Visto que os cristãos não podem mudar a si mesmos, na direção de qual objetivo eles devem exercer seus esforços religiosos? Por quê? Visto que o estudo da Bíblia e a oração não são inerentemente meritórios, por que os cristãos devem estudar a Bíblia e orar?

Aplicação

Para o professor: Empregadores na área de esportes medem velocidade, habilidade e força física. A preocupação em medir, provar e justificar a si mesmo, muitas vezes produz incalculáveis danos psicológicos. A humanidade precisa desesperadamente da aceitação incondicional que só Cristo oferece.

Perguntas para reflexão

1. Estaria Deus interessado principalmente em recrutar talentos ou em construir relacionamentos? Explique.

2. Quando nos aproximamos de Deus, o que devemos levar?

Perguntas para aplicação

Como lemos no comentário, estátuas não podem exclamar: “Olha o que eu fiz de mim mesma!” Assim como as estátuas não podem criar a si mesmas, os cristãos também não podem transformar a si mesmos. Como a graça de Deus pode despertar e transformar a pessoa desanimada e morta espiritualmente em uma obra-prima viva e ativa?

Criatividade e atividades práticas

Para o professor: Os seres humanos observam a aparência exterior. Deus considera o coração. No começo do ano, muitos fazem resoluções em relação a comportamentos que desejam mudar. Várias dessas decisões já foram quebradas no passado! O que Deus quer, porém, é entrar no coração. Quando Cristo entra no coração humano, hábitos, estilo de vida, pontos de vista e comportamentos automaticamente são mudados. Preocupações egocêntricas são substituídas pelas ordens do reino. Respeitabilidade (aparência exterior) pode existir sem integridade (produzida pela transformação interna), mas Deus não Se impressiona com isso.

Atividade

Cante o hino “Ele Vive” (Hinário Adventista do Sétimo Dia, 112) ou escolha outros hinos de adoração e louvor. Convide os alunos da classe a dar respostas curtas a respeito de como as palavras e a melodia do hino os levam a louvar a Deus e não a eles mesmos.


Programa do décimo quarto sábado

Hino inicial: “Compensa Servir a Jesus” (Hinário Adventista, 332)

Boas-vindas: Diretor ou professor da Escola Sabatina

Oração

Programa: “O Futuro é Agora”

Oferta: Enquanto a oferta é recolhida, peça que as crianças cantem o hino “Sim, Cristo me Ama” (Hinário Adventista, 457)

Hino final: “Jesus Voltará” (Hinário Adventista, 145)

Oração

Participantes: Três oradores e um narrador, incluindo, se possível, pelo menos um adolescente.

Se a igreja for pequena, dois oradores podem se revezar apresentando os relatórios. [Nota: Os participantes não precisam memorizar as partes, mas devem estar suficientemente familiarizados com o material, de modo que não precisem ler todo o texto. Ensaie para que os participantes estejam seguros, adicionando inflexão da voz no momento apropriado.]

Narrador: A Divisão Sul-Asiática abrange três países, Butão, Índia e Nepal, e algumas ilhas. A Índia, país mais populoso dessa Divisão, tem mais de 1,2 bilhão de pessoas. A Índia tem a segunda maior população do mundo. Quase 80% das pessoas do país seguem as crenças hindus. A proporção de muçulmanos é de 13%, e os cristãos estão em terceiro lugar, com 2,3% da população. Cerca de 1,6 milhão de pessoas são adventistas do sétimo dia. Isso significa um adventista para cada 870 pessoas.

Nos últimos 100 anos, a educação adventista lançou a base para o evangelismo. Nossas escolas são altamente respeitadas em todo o país, e muitos não cristãos enviam seus filhos para as escolas adventistas a fim de que tenham o privilégio de obter educação de qualidade. Outros pais são incentivados por amigos ou parentes a matricular seus filhos em uma escola adventista. Mas, quando as crianças aprendem as histórias sobre o amor de Deus, elas compartilham com suas famílias e vidas são transformadas.

Repórter 1: A família de Alisha não era cristã. Quando seus pais lhe permitiram estudar em um grande internato adventista na Índia, eles não sabiam que a escola era cristã. Alisha chegou sabendo pouco sobre Jesus. Ela não entendia inglês, a língua em que as aulas eram dadas. Mas pouco a pouco ela conseguiu aprender.

No início, ela não sabia a razão dos cultos diários no dormitório da escola. Porém, aos poucos, Alisha aprendeu sobre Jesus e começou a amá-Lo. Ela descobriu que adoração a Deus era o centro da sua nova escola.

Muitas vezes, os amigos de Alisha conversavam com ela sobre Deus. Ela sabia que, se um dia se tornasse cristã, seus pais a rejeitariam. Apesar disso, Alisha e uma de suas amigas aceitaram a Cristo e foram batizadas secretamente.

Quando as meninas vão para casa nas férias escolares, elas se reúnem para falar sobre Deus e compartilhar o que leram na Bíblia. Elas têm o cuidado de falar em inglês para que as famílias não saibam o que estão falando. Alisha esconde sua Bíblia para que seus pais não a vejam.

Alisha sabe que, no futuro, enfrentará muitos desafios por causa de sua decisão de se tornar cristã. Mas ela sabe que Deus a guiará. Ela agradece a Deus porque a levou, juntamente com a amiga, para uma escola na qual tiveram a chance de aprender sobre o Deus vivo e Seu precioso Filho, Jesus.

Narrador: Os estudantes adventistas têm muitas oportunidades de compartilhar a fé com seus colegas de classe. Às vezes compartilham a mensagem por suas palavras, e outras vezes sua fé brilha por meio de suas ações. Recentemente, alguns alunos enfrentaram um desafio em relação ao sábado, mesmo estudando em uma escola adventista. Sua fidelidade ajudou muitos outros a ver que Deus responde às orações.

Repórter 2: Jincy, Cibin, e Remya são estudantes no sul da Índia. Depois de concluir o 9º ano, esses alunos desejavam continuar os estudos, porém teriam que fazer um exame administrado pelo governo.

O exame foi marcado para o sábado, e o diretor se esforçou muito na tentativa de conseguir transferir o exame para outra data. Parecia que não havia esperança, mas os três estudantes insistiam que, mesmo que precisassem repetir o ano, não desonrariam o sábado. O diretor foi ao tribunal em nome dos alunos e, finalmente, o juiz concordou que eles fizessem os exames depois do sábado.

No dia do exame, enquanto os estudantes não adventistas entravam na sala de aula onde o exame deveria ser feito, Jincy, Cibin e Remya foram à igreja. Depois do culto, os três se apresentaram a um supervisor que os colocou em uma sala de aula para que eles não falassem com os alunos que já tinham feito o exame. Os três estudantes fiéis passaram a tarde cantando, orando e lendo a Bíblia. “Foi o melhor sábado que já tive. Sentimos a presença de Deus, e sabíamos que Ele estava conosco”, disse um dos alunos.

Depois do pôr do sol, os três estudantes fizeram o teste. Eles deveriam estar cansados, mas sentiram-se revigorados quando terminaram os exames.

Quando os resultados dos exames foram publicados, os três alunos adventistas souberam que haviam obtido melhores resultados do que os outros alunos que tinham feito o exame no início do dia. Deus abençoou a fidelidade deles.

O jornal local publicou a história dos três estudantes fiéis, e muitas pessoas aprenderam sobre o sábado. Certamente, de outra forma, elas nunca teriam ouvido falar do mandamento de Deus sobre a santidade do sábado. Algumas pessoas têm perguntado por que o sábado é tão especial, e os três jovens têm a chance de explicar para elas as preciosas bênçãos do sábado.

“Meus pais apoiaram minha decisão de guardar o sábado”, disse Remya. “Eles prometeram orar por mim durante o exame. Como consequência, todos nós fizemos ótimo exame, e o resultado honrou a Deus.” A escola planeja construir um prédio com salas de aula em seu campus, de acordo com as exigências do programa do governo para o curso em que esses alunos estão matriculados. Então todos os estudantes adventistas poderão estudar em um campus adventista e não terão que fazer exames aos sábados.

Parte da oferta da Escola Sabatina deste trimestre ajudará a construir prédios com salas de aula em duas escolas adventistas na Divisão Sul-Asiática, que permitirão que mais jovens estudem e aprendam que Cristo não é um deus, mas o único Deus verdadeiro.

Narrador: A divulgação do evangelho no sul da Ásia está avançando rapidamente, graças à educação cristã e aos programas de evangelismo leigo. Porém, os programas dos leigos e dos departamentos organizados da Divisão Sul-Asiática precisam de um lugar para reuniões de treinamento. Essa necessidade está sendo atendida no centro da Índia com a construção do novo Centro de Treinamento Evangelístico, que ajudará a reduzir despesas de locomoção e acomodação dos participantes.

Nossas ofertas missionárias semanais da Escola Sabatina ajudam pessoas de todo o mundo a aprender sobre Jesus. Sem nossa ajuda, talvez, elas nunca ouviriam sobre Ele. Mas hoje podemos ajudar a Divisão Sul-Asiática em seus esforços para fortalecer os membros e alcançar pessoas para Cristo.

Hoje, nossa oferta da Escola Sabatina ajudará a construir dormitórios em duas escolas adventistas e prédios com salas de aula em dois colégios. Ajudará também a concluir a construção de um centro de treinamento e evangelismo para toda a Divisão, no qual pastores e membros leigos aprenderão métodos mais eficazes de conduzir pessoas a Cristo. Vamos fazer tudo o que pudermos para ajudar e apoiar os nossos irmãos e irmãs em toda a Divisão Sul-Asiática, assim como Arão e Hur apoiaram o povo de Deus ao levantar as mãos de Moisés durante a guerra contra Amaleque (Êx 17:8-16). Vamos doar generosamente para que mais pessoas possam ouvir o evangelho.

[Ofertas]


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º trimestre de 2017
Tema geral: “O evangelho em Gálatas”
Lição 14: 23 a 30 de setembro
Anunciando a glória da cruz

 

Autor: Pr. Nilton Aguiar

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

 

Introdução

A cruz sempre esteve em evidência na pregação de Paulo. Suas palavras em 1 Coríntios 2:2 revelam essa verdade. Ele disse: “Decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e Este crucificado”. Para Paulo, a cruz é o ponto decisivo na história da salvação. Nesta semana, veremos que a cruz coloca a ação dos falsos mestres na Galácia e as ações de Paulo em visível contraste. Enquanto os falsos mestres não queriam ser “perseguidos por causa da cruz de Cristo” (Gl 6:12), Paulo se gloriava “na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 6:14a). Para ele, a cruz era o motivo para total dissociação com o mundo (Gl 6:14b).

Da própria mão de Paulo

Um estudo detalhado das cartas de Paulo demonstra que, em muitos aspectos, elas eram semelhantes às cartas de sua época. Ele estava familiarizado com o conteúdo e o formato dessas cartas. Ainda assim, embora seguisse, até certo ponto, o formato-padrão das cartas no mundo greco-romano, ele fazia adaptações para atender aos seus próprios interesses e intenções. Um exemplo disso é a expressão “de meu próprio punho”, a qual “raramente aparece nas cartas helenísticas dos dias de Paulo disponíveis hoje”.

Para entendermos corretamente a função dessa expressão, é preciso levar em consideração que as cartas de Paulo deviam ser lidas em voz alta (1Ts 5:27), e não apenas na igreja para a qual elas foram enviadas, mas também nas outras igrejas (Cl 4:16). Quando os ouvintes na Galácia se depararam com a afirmação: “Vede com que letras grandes vos escrevi de meu próprio punho”, eles esperavam apenas a conclusão da carta, que podia envolver uma bênção (1Co 16:23; Gl 6:16, 18; Ef 6:23-24; 2Ts 3:16, 18) ou uma doxologia (Rm 16:25-27; Fp 4:20).

Mencionar que ele escreveu com o próprio punho era uma forma alternativa de Paulo encerrar suas cartas. Isso ocorre em 1 Coríntios (16:21), Colossenses (4:18) e 2 Tessalonicenses (3:17) e em Gálatas (6:11). Porém, Gálatas difere das outras cartas. Enquanto em 1 Coríntios, Colossenses e 2 Tessalonicenses Paulo mencionou que escreveu a saudação com o próprio punho, e imediatamente encerrou a carta com uma bênção, em Gálatas, entre a menção à escrita do próprio punho (v. 11) e a bênção final (v. 18), encontramos quatro versos em que Paulo retomou o assunto da circuncisão (v. 12-15), um intenso apelo (v. 16) e um discurso de autodefesa (v. 17). Isso significa que, nessas palavras finais, Paulo praticamente resumiu tudo que foi discutido na carta. Os Gálatas naturalmente devem ter entendido a seriedade do problema que Paulo estava combatendo.

Buscando a glória na carne

Em Gálatas 6:12-13, Paulo expôs o engano de uma religião que se fundamenta apenas nas aparências exteriores. Os comentários de Paulo se assemelham à acusação de Cristo contra os fariseus: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia! Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniquidade” (Mt 23:27-28).

Durante seu ministério terrestre, Cristo falou contra aquele tipo de religião que consistia em cerimônias exteriores (Mt 6:2-6; 16-18), e era esse tipo de religião que Paulo estava combatendo. Os judaizantes insistiam na importância da circuncisão como meio de salvação (At 15:1). As palavras de Paulo expõem claramente as verdadeiras razões de seus oponentes para tanta insistência na circuncisão. Primeiro, eles queriam popularidade, o que fica claro a partir das expressões “os que querem ostentar-se na carne” (Gl 6:12) e “para se gloriarem na vossa carne” (Gl 6:13). Segundo, eles eram covardes, o que fica claro pelo fato de que eles queriam evitar perseguição por causa da cruz de Cristo (Gl 6:12). “Eles evitariam perseguição ou por renunciar totalmente o Cristianismo ou por moldá-lo às formas judaicas... Eles não tinham verdadeiro amor pela causa da religião ao insistir na indispensabilidade da circuncisão, visto que seu real motivo era proteger a si mesmos da ira feroz de seus compatriotas”. Porém, eles não passavam de hipócritas, e Paulo expôs sua hipocrisia ao afirmar: “Pois nem mesmo aqueles que se deixam circuncidar guardam a lei” (Gl 6:13). “Eles impuseram um peso sobre os gentios conversos que nem eles mesmos estavam dispostos a carregar”.

Antes de concluir esta seção, é importante destacar que Paulo não era contra expressarmos a fé. A fé “deve ser expressa externamente em atos de adoração a Deus e serviço em nome de Deus às pessoas”.

Gloriando-se na cruz

Paulo contrastou a covardia de seus oponentes com sua própria coragem ao mencionar que ele se gloriava na cruz de Cristo. Sendo a cruz um símbolo de vergonha tanto para os judeus quanto para os romanos, Paulo demonstrou toda a sua convicção na obra expiatória de Cristo ao afirmar que a cruz era seu único motivo de vanglória. Ele não se preocupou com o fato de que podia estar se expondo ao ridículo, pois tinha consciência do papel central que a cruz ocupa no Evangelho. De fato, ele chegou a afirmar que não se envergonhava do evangelho, “porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1:16).

A coragem de Paulo ao assumir destemidamente sua identidade como cristão é uma lição a ser aprendida por todos os cristãos modernos. Numa época em que a Bíblia é rotulada como mito e o evangelho é considerado com desprezo em muito círculos, precisamos nos levantar como Paulo e dizer: “Não me envergonho do Evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”. O poder de Deus Se manifestou na própria vida de Paulo quando o Cristo ressurreto lhe apareceu na estrada de Damasco. Ao afirmar que o Evangelho é o poder de Deus para salvação, Paulo tinha consciência de que sua própria vida havia sido impactada pelo Evangelho. A cruz havia causado um efeito tão poderoso, que Paulo expressou uma total ruptura com o mundo. Como João, ele também sabia que “se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1Jo 2:15). Porém, ambos aprenderam com Cristo que, enquanto estivermos neste mundo, ainda há muito por fazer (Jo 17:15). Nós não somos do mundo (Jo 17:16), mas fomos enviados ao mundo (Jo 17:18). Como podemos estar no mundo e não pertencer ao mundo? Para Paulo, a cruz é a resposta (Gl 6:14).

Uma nova criatura

Como observa Richard Longenecker, a suma da carta de Paulo aos Gálatas e o ponto central de sua mensagem de encerramento são encontrados em Gálatas 6:15. Após expor a motivação dos judaizantes (versos 12 e 13) e o papel central da cruz de Cristo (v. 14), ele pronuncia uma bênção sobre “todos quantos andarem de conformidade com esta regra” (v. 16).

A formação de uma “nova criatura” só é possível com base na cruz de Cristo (v. 14) e a obra do Espírito no coração do homem (5:16, 18, 22, 25). Paulo estava falando da regeneração do coração. Ao dizer que “nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão”, Paulo chamou a atenção para o que realmente importa na vida cristã, que é a justificação pela fé: o fato de alguém se tornar uma nova criatura por ter sido regenerado por Cristo, no Espírito.

Conforme Paulo deixou claro em 2 Coríntios 5:17, a nova vida tem sua origem em Cristo. “A renovação espiritual emana da união com Cristo. Ela ‘não procede da vontade humana’, pois o homem não pode mudar seu próprio coração. Cristo é nossa própria vida (Gl 2:20). Essa é uma vida nova porque ela apresenta novos pensamentos, novos desejos, novos princípios, novas afeições, e está em relação eterna com o novo nome, o cântico novo, a nova Jerusalém, os novos céus, a nova Terra. Em uma palavra, o novo nascimento inicia o crente em um novo mundo”.

Considerações finais

O termo regra em Gálatas 6:16 é a tradução da palavra grega kan?n. Uma vez que, ao longo do tempo, esse termo assumiu o sentido figurado de padrão, ele “veio a ser usado com referência ao conjunto de escritos considerado autoritativo e o padrão para definir e determinar as crenças e práticas religiosas ortodoxas”, ou seja, a Bíblia Sagrada. Em Gálatas 6:16, Paulo aplicou essa palavra especificamente ao conceito de justificação pela fé. O contexto sugere que “esta regra” se refere à “nova criação”. Os cristãos têm uma regra a seguir. Eles devem andar no caminho da fé. Paulo retomou a ideia de Gálatas 5:25, ao proferir uma bênção a “todos quantos andarem de conformidade com esta regra”. O verbo traduzido como andar tanto em Gálatas 6:16 quanto em 5:25 vem do verbo grego stoiche?, que significa não apenas “andar”, mas “andar alinhado com uma pessoa ou coisa considerada padrão para a conduta de outra pessoa”. Assim, Paulo estava sugerindo que o cristão deve andar no padrão da fé. Esta é a regra. E como andam as pessoas que seguem o padrão da fé? Paulo já havia respondido, nessa mesma carta, que elas seguem o exemplo de Abraão, ou seja, vivem uma vida de obediência. Conforme ele comentou em Romanos 1:5, “viemos a receber graça [...] para a obediência por fé”.

A expressão “não me moleste”, em Gálatas 6:17, pode também ser entendida como “ninguém questione minha autoridade”. Paulo tinha dado demonstrações suficientes de que ele era um apóstolo comissionado por Cristo, e a prova disso estava em sua própria pele: “Trago no corpo as marcas de Jesus”. Paulo estava se referindo aos sofrimentos que ele enfrentou em função da pregação do evangelho. “Como Dean Stanley afirmou certa vez, a vida de Paulo, à exceção da vida de Cristo, é sem precedente na história do mundo. Nenhum santo ou mártir o superou. Não são exageros de sua parte e nem indícios de autocomiseração os comentários feitos para defender-se da acusação de que não é um legítimo apóstolo de Cristo, simplesmente porque não era testemunha ocular de seu ministério (2Co 11:23-29). As emoções estão agitadas ao afirmar: ‘São ministros de Cristo? (falo como fora de mim) eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; em açoites, mais do que eles; em prisões, muito mais; em perigo de morte, muitas vezes’. Uma tradução alternativa, e que provavelmente reflete melhor o pensamento de Paulo, é: “São servos de Cristo? – falo como se a razão estivesse fora de mim – eu, muito mais: em trabalhos, eu muito abundantemente mais! Em prisões, eu muito abundantemente mais! Em açoites, eu muitíssimo abundantemente mais! Em riscos de morte, eu muitíssimas vezes!”. Paulo sofreu ao extremo para anunciar a mensagem do evangelho. Quanto nós estamos dispostos a sofrer?

Conclusão

Nas palavras finais de sua carta aos Gálatas, Paulo, incomumente, resumiu tudo que havia discutido antes. Esse dado, associado com a assinatura de seu próprio punho, demonstrava a seriedade do problema que ele estava combatendo. Paulo denunciou fortemente a natureza hipócrita de uma religião que se preocupa somente com as cerimônias exteriores. Isso não significa que a fé não deva ser expressa. A fé é expressa em atos de adoração a Deus e serviço aos outros. Porém, nada do que realizamos para Deus deve ser motivo de vanglória. Paulo deixou muito claro que a cruz é nosso único motivo de glória. É o que Cristo fez, e não o que fazemos. Isso é andar em novidade de vida. Nessa “nova vida”, a fé é o padrão a ser seguido por todos os crentes; uma fé que leva à fidelidade e obediência. Por ser fiel à comissão que recebeu de Cristo, Paulo passou por vários tipos de sofrimentos. Jesus não prometeu que a jornada cristã seria fácil, mas prometeu que estaria conosco todos os dias. A vitória Dele na cruz é também nossa vitória!

Notas

  1. O autor é pastor, mestre em Ciências da Religião, mestre e bacharel em Teologia, licenciado em Letras e autor de diversos livros e artigos. É docente do curso de Teologia, no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, Cachoeira/BA, e atualmente está cursando o doutorado em Novo Testamento, na Andrews University (EUA). É casado com a professora Cristiane Aguiar, e tem dois filhos: a Karol e o Lucas.
  2. Richard N. Longenecker, Galatians (Dallas: Word, Incorporated, 1998), 289.

  3. H. D. M. Spence-Jones, ed., Galatians, The Pulpit Commentary (London; New York: Funk & Wagnalls Company, 1909), 322.

  4. Idem, 322.

  5. Richard N. Longenecker, Galatians, 296.

  6. Richard N. Longenecker, Galatians, 295.

  7. H. D. M. Spence-Jones, ed., Galatians, 323.

  8. David Noel Freedman, ed., “Canon,” The Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Doubleday, 1992), 837.

  9. William Arndt et al., A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature (Chicago: University of Chicago Press, 2000), 946.

  10. Tavares de Aguiar, Adenilton. O Deus de Toda Graça (Kindle Locations 3467-3468). Casa Publicadora Brasileira. Kindle Edition.