Lição 8
13 a 19 de fevereiro
Consolem o Meu povo
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Nm 7, 8
Verso para memorizar: “Ó Sião, você que anuncia boas-novas, suba a um alto monte! Ó Jerusalém, você que anuncia boas-novas, levante a sua voz fortemente! Levante-a, não tenha medo. Diga às cidades de Judá: ‘Eis aí está o seu Deus!’” (Is 40:9).
Leituras da semana: Is 40

Segunda Guerra Mundial terminou em 1945, enquanto um soldado japonês chamado Shoichi Yokoi estava escondido em uma floresta na ilha de Guam. Folhetos que caíam dos aviões americanos anunciavam a paz, mas Yokoi pensou que aquilo fosse uma armadilha. Sendo patriota e leal ao imperador, ele tinha prometido nunca se render. Por não ter contato com a civilização, ele sobrevivia daquilo que encontrava na floresta, uma vida escassa e difícil.

Em 1972, vinte e sete anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, caçadores se depararam com Yokoi enquanto ele pescava, e só então ele soube que a mensagem de paz era verdadeira. Enquanto o restante de seu povo desfrutava de paz havia décadas, Yokoi vinha suportando privações e estresse por muitos anos (Roy Gane, Altar Call; Diadem, 1999, p. 304).

Muitos séculos antes, por meio do profeta Isaías, Deus anunciou que o tempo de tensão e sofrimento de Seu povo havia realmente terminado: “‘Consolem, consolem o Meu povo’, diz o Deus de vocês. ‘Falem ao coração de Jerusalém e anunciem que o tempo da sua escravidão já acabou, que a sua iniquidade está perdoada e que ela já recebeu em dobro das mãos do Senhor por todos os seus pecados’” (Is 40:1, 2).

Nesta semana, examinaremos o que isso significa.



Domingo, 14 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 9-11
Consolo para o futuro (Is 40:1, 2)

1. Em Isaías 40:1, 2, Deus consolou Seu povo. O tempo do castigo dele finalmente havia terminado. Qual castigo foi esse?

A.(  ) Muito possivelmente, o exílio babilônico.
B.(  ) O exílio no Egito.

Existem muitas respostas para essa pergunta. Houve o castigo infligido pela Assíria, o cetro da ira de Deus (Is 10), do qual o Senhor livrou Judá ao destruir o exército de Senaqueribe em 701 a.C. (Is 37). Houve também o castigo infligido por Babilônia, que posteriormente levaria bens e pessoas de Judá em virtude de Ezequias ter mostrado sua riqueza aos mensageiros de Merodaque-Baladã (Is 39). E houve o castigo infligido por uma das outras nações contra as quais Isaías escreveu mensagens de advertência (Is 14–23).

Entretanto, embora a “Assíria” e os “assírios” sejam mencionados 43 vezes de Isaías 7:17 a 38:6, essa nação aparece uma única vez no restante do livro, em Isaías 52:4, onde há uma referência à opressão do Egito e depois dos assírios. Na última parte do livro, é mencionada a libertação do povo do exílio de Babilônia (Is 43:14; 47:1; 48:14, 20), e seria Ciro, o persa que conquistou Babilônia em 539 a.C., que deveria libertar os exilados de Judá (Is 44:28; 45:1; 45:13).

Isaías 1–39 enfatiza os eventos que levaram à libertação do povo da mão dos assírios em 701 a.C., mas no início do capítulo 40, o livro avança um século e meio para o fim de Babilônia, em 539 a.C., e para o retorno dos judeus pouco tempo depois disso.

2. O tema do retorno do exílio babilônico está relacionado a alguma coisa anterior em Isaías?

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Isaías 39 serve como transição para os capítulos seguintes, prevendo um cativeiro babilônico, pelo menos para alguns descendentes de Ezequias (Is 39:6, 7). Além disso, os oráculos de Isaías 13, 14 e 21 profetizavam a queda de Babilônia e a liberdade que isso traria ao povo de Deus: “Porque o Senhor Se compadecerá de Jacó e voltará a escolher Israel, estabelecendo-os na sua própria terra. [...] no dia em que Deus vier a dar-lhe descanso do sofrimento, das angústias e da dura servidão que lhe foi imposta, você proferirá esta sátira contra o rei da Babilônia” (Is 14:1-4). Observe a relação com Isaías 40:1, 2, em que Deus prometeu ao Seu povo um fim para seu sofrimento.

O que significam para você as promessas bíblicas sobre o fim do sofrimento? De que adiantaria nossa fé sem essas promessas? É tão importante nos apegarmos a elas?


Segunda-feira, 15 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 12-14
Presença, Palavra e preparação do caminho (Is 40:3-8)

3. Como o povo de Deus recebeu consolo? Is 40:1-8

Um arauto anônimo anunciou que Deus estava vindo para revelar Sua glória (Is 40:3-5). Outra voz proclamou que, embora o homem fosse transitório como a erva, a “Palavra do nosso Deus permanece para sempre” (Is 40:8).

Após o exílio, o povo de Deus recuperou o que recebera no Sinai e que depois acabou rejeitando durante toda a sua apostasia, pela qual foi castigado, isto é, a presença de Deus e a Sua Palavra, elementos fundamentais da aliança de Deus com Israel, consagrados em Seu santuário (Êx 25:8, 16). Por terem transgredido a Sua Palavra, Deus abandonadora Seu templo (Ez 9–11), mas Ele estava voltando. Sua presença e Sua Palavra trazem conforto, libertação e esperança.

4. Qual preparação era necessária para a vinda do Senhor? Is 40:3-5

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Não era apropriado que um rei fosse sacudido ao ser transportado por uma estrada irregular. Sua vinda era precedida por uma preparação do caminho. Quanto mais o Rei dos reis! Sua vinda, aparentemente do leste, onde Ele estivera no exílio com Seu povo como um santuário para eles (Ez 11:16), exigiria uma reorganização do terreno. A construção literal de uma estrada nivelada através das colinas acidentadas a leste de Jerusalém seria algo difícil, mesmo com dinamite e escavadeiras. Só Deus poderia realizar a obra; Ele aplanaria “os caminhos ásperos” (Is 42:16). Mas o Senhor não precisava de estrada literal, pois possui carruagem de querubins transportada pelo ar (Ez 1; 9–11).

O Novo Testamento aplica a profecia de Isaías à obra realizada por João Batista (Mt 3:3). Sua mensagem era: “Arrependam-se, porque está próximo o Reino dos Céus” (Mt 3:2), e o batismo que ele realizou foi “de arrependimento para remissão de pecados” (Mc 1:4). Portanto, a preparação era o arrependimento e afastamento do pecado para receber o consolo do perdão e da presença de Deus.

Jeremias 31:31-34 proclamou a mesma mensagem espiritual com bastante antecedência para que os exilados de Judá entendessem a natureza espiritual da obra de preparação do caminho para Deus. O Senhor prometeu um novo começo aos que estivessem dispostos: uma “nova aliança” em que Ele colocaria Sua lei no coração deles. Ele prometeu ser o Deus deles. Eles conheceriam o Seu caráter, pois Ele os tinha perdoado.

Se murchamos como a erva, que esperança temos? Em que não devemos confiar? (Is 40:6-8)


Terça-feira, 16 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 15, 16
A origem do evangelismo (Is 40:9-11)

5. Qual acontecimento é descrito em Isaías 40:9-11? Assinale a alternativa correta:

A.(  ) A primeira vinda de Cristo.
B.(  ) A destruição dos ímpios.

Posteriormente, em Isaías, surge um arauto masculino anunciando boas-novas para Jerusalém (Is 41:27; 52:7). Porém, em Isaías 40:9, o arauto que proclama, de um monte alto, “Eis aí está o seu Deus!”, é feminino, um fato mostrado no hebraico.

No Salmo 68, Davi louvou a Deus porque Ele “faz com que o solitário more em família; liberta os cativos e lhe dá prosperidade” (Sl 68:6). Embora aqui essas palavras se apliquem ao êxodo da escravidão egípcia, Isaías usou as mesmas ideias com referência à proclamação de um segundo “êxodo”: o retorno do cativeiro babilônico.

Enquanto isso, o Novo Testamento aplica Isaías 40:3-5 a João Batista, que preparou o caminho para Cristo, o Verbo eterno que Se tornou a presença do Senhor encarnada entre Seu povo (Jo 1:14).

Ainda antes de João, outros haviam falado sobre as boas-novas de Sua vinda. Entre os primeiros, estavam os idosos Simeão e Ana, que conheceram o menino Jesus quando Ele foi dedicado no templo (Lc 2:25-38). Como os arautos de Isaías, eles eram masculino e feminino. Simeão aguardava ansiosamente o consolo/conforto de Israel na forma do Messias (v. 25, 26).

À luz da profecia de Isaías, não parece coincidência que Ana, uma profetisa, tivesse sido a primeira a anunciar publicamente ao povo de Jerusalém, no monte alto do templo, que o Senhor havia chegado: “E, chegando naquela hora, dava graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém” (Lc 2:38). Esse foi o início do evangelismo cristão como o conhecemos: a proclamação do evangelho, as boas-novas de que Jesus Cristo veio para trazer a salvação. Posteriormente, Cristo confiou a outra mulher, Maria Madalena, a primeira notícia de Sua ressurreição triunfante (Jo 20:17, 18), que garantia que Sua missão evangélica no planeta Terra havia sido cumprida. A carne é como a erva, mas a Palavra divina que Se tornou carne é eterna (veja Is 40:6-8)! 

Veja Isaías 40:11. Qual imagem é apresentada nesse verso? Escreva um parágrafo sobre como você, pessoalmente, experimentou o “pastoreio” do Senhor. Por que é bom relembrar como o Senhor o guiou?


Quarta-feira, 17 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 17-19
Criador misericordioso (Is 40:12-31)

6. Como Isaías 40 desenvolve os temas da misericórdia e poder de Deus?

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Ao longo desse capítulo, a misericórdia e o poder de Deus se entrelaçam e até se misturam, pois ambos são necessários para que Deus salve Seu povo. Ele deseja salvá-lo porque é misericordioso; Ele é capaz de salvá-lo porque é poderoso. Observe abaixo o encadeamento desses atributos de Deus:

Misericórdia (Is 40:1-5): consolo, a vinda do Senhor para libertar.
Poder (Is 40:3-8): glória, permanência em oposição à fraqueza humana.
Misericórdia (Is 40:9-11): boas-novas de libertação, Pastor do Seu povo.
Poder (Is 40:12-26): Criador incomparável.
Misericórdia (Is 40:27-31): como Criador, Ele dá poder aos fracos.

Após ter apresentado o poder de Deus em termos de Sua glória e permanência (Is 40:3-8), Isaías detalhou Seu poder e sabedoria superior, que fazem com que a Terra e seus habitantes pareçam insignificantes (Is 40:12-17). Nessa passagem, o estilo de Isaías, com perguntas retóricas e analogias vívidas referentes à Terra e suas partes, parece a resposta de Deus a Jó (Jó 38–41).

7. Qual foi a resposta para a pergunta retórica de Isaías: “Com quem vocês querem comparar Deus?” (Is 40:18)?

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Para Isaías, assim como para Jó, a resposta era evidente: ninguém. Deus é incomparável. Mas o profeta se referiu à resposta sugerida pelas ações de muitos povos antigos, a de que Deus era como um ídolo (Is 40:19, 20).

Isaías refutou essa noção. Já parecia tolice utilizar um ídolo à semelhança de Deus, mas, para ter certeza de que as pessoas entenderiam o argumento, ele detalhou a singularidade do Senhor e introduziu o argumento irrefutável de que Ele era o santo Criador (Is 40:21-26).

8. Como o verso 27 revela a atitude das pessoas a quem a mensagem de Isaías foi dirigida? Em que aspecto somos culpados de ter a mesma atitude?

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O objetivo da mensagem divina era consolar Israel! Como Jó, o sofrimento do povo o tinha deixado confuso e desanimado quanto ao Seu caráter.

Isaías 40 não fala apenas da misericórdia de Deus e de Seu poder, mas dizem que Ele é o Criador. É importante entender essa verdade? O sábado reforça esse ponto crucial?


Quinta-feira, 18 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 20, 21
O problema da idolatria (Is 40:19, 20)

A idolatria destrói um relacionamento íntimo e singular com Deus ao substituí-Lo por outra coisa (Êx 20:4, 5; Is 42: 8). Portanto, os profetas se referiram à idolatria como “adultério” espiritual (Jr 3:6-9; Ez 16:15-19).

9. Como Isaías caracterizou os ídolos (Is 41:29)? Por que essa descrição de um ídolo é tão precisa?

Os idólatras antigos acreditavam que adoravam poderosas divindades por meio de imagens ou símbolos dessas divindades. A adoração de um ídolo como representação de outro deus é uma transgressão do primeiro mandamento: “Não tenha outros deuses diante de Mim” (Êx 20:3). Mas se a intenção era que o ídolo representasse o Deus verdadeiro, como no caso do bezerro de ouro
(Êx 32:4, 5), o Senhor também rejeitava o ídolo como uma semelhança de Si mesmo, pois ninguém sabe retratá-Lo (Dt 4:15-19), e nada pode representar Sua glória e grandeza incomparáveis. Portanto, um ídolo em si funciona como outro deus, e adorá-lo é uma transgressão do primeiro e do segundo mandamentos.

O povo de Deus não precisava de ídolos, pois tinha com ele Sua verdadeira presença na Shekinah, no santuário. Adorar um ídolo era substituir e, portanto, negar a presença real do Deus verdadeiro.

10. Que tipo de idolatria enfrentamos hoje? A idolatria tem aparecido em formas mais sutis na igreja? Como?

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“Muitos que levam o nome de cristãos têm servido a outros deuses além do Senhor. Nosso Criador exige suprema devoção e primazia na lealdade. Qualquer coisa que tenha a tendência de diminuir nosso amor a Deus ou de interferir no serviço devido a Ele, torna-se dessa forma um ídolo” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 2, p. 1118).

Os escritos antigos mostram que a idolatria era sedutora, pois se tratava de materialismo. Usando modos de adoração com os quais as pessoas se identificavam, os idólatras honravam forças que, segundo sua crença, proporcionavam fertilidade e prosperidade. Era a religião de autoajuda. Parece familiar?

Pouco antes da volta do Senhor, tendo Seu caminho sido preparado pela obra de uma mensagem de reconciliação final de Elias (Ml 4), a escolha será a mesma dos dias de Isaías: adoraremos o Criador ou adoraremos outra coisa? (Ap 13; 14). No fim, sempre adoramos algo.



Sexta-feira, 19 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 22-24
Estudo adicional

Texto de Ellen G. White: Profetas e Reis, p. 311-321 (“O Deus de Israel”).

“Nos dias de Isaías, o entendimento espiritual da humanidade havia sido obscurecido por uma concepção errada a respeito de Deus. Durante muito tempo, Satanás havia procurado levar os seres humanos a ver seu Criador como o autor do pecado, do sofrimento e da morte. Aqueles que ele tinha conseguido enganar consideravam Deus como Alguém duro e exigente. Achavam que Ele estivesse sempre pronto para denunciar e condenar, e que não estivesse disposto a receber o pecador enquanto ainda existisse um motivo legal para não ajudá-lo. A lei de amor pela qual o Céu é regido havia sido falsamente apresentada pelo arquienganador como uma restrição imposta à felicidade dos seres humanos, um pesado jugo do qual deviam sentir-se alegres por se verem livres. Ele declarou que os preceitos dessa lei não podiam ser obedecidos, e que as penalidades da transgressão eram impostas arbitrariamente” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 311).

Perguntas para consideração

1. Resuma a mensagem de Isaías 40:12-31. Use imagens de descobertas científicas atuais que mostrem o incrível poder de Deus. Compartilhe seu resumo com a classe.

2. A eternidade da Palavra e a esperança da ressurreição anulam o medo da morte (Is 40:6-8; Jó 19:25-27; Dn 12:2; 1Co 15:51-57; 1Ts 4:13-18)?

3. Ao refletirmos em Isaías 40:12-31, como podemos ser curados do orgulho e arrogância?

Resumo: Por meio de Isaías, Deus trouxe consolo aos que sofriam. O tempo de angústia deles havia terminado, e Deus estava voltando para eles. Em vez de ficar desanimados e confusos, eles poderiam crer que Deus usaria Seu poder criador em favor deles.

Respostas e atividades da semana: 1. A. 2. Sim, está relacionado à profecia sobre a queda de Babilônia, em Isaías 13, 14 e 21. 3. O povo de Deus recebeu consolo ao saber que sua iniquidade havia sido perdoada e que o Senhor estava vindo como havia prometido, visto que Sua palavra permanece para sempre. 4. Era necessário preparar o caminho e endireitar a vereda para o Senhor por meio de uma reforma espiritual e pregação de arrependimento. 5. A. 6. Isaías 40 fala da grandeza e onipotência de Deus ao criar e manter o Universo. Isso demonstra que, além de poderoso, Ele também é misericordioso e compassivo. 7. Isaías, em sua argumentação, respondeu que Deus não pode ser comparado a ninguém, nem mesmo aos ídolos e imagens fundidos pelos artífices. 8. A atitude das pessoas foi a descrença, pois pensavam que seus direitos passavam despercebidos pelo Senhor. Por vezes, também sentimos que Deus Se esqueceu de nós. Porém, isso é um equívoco. 9. “Eis que todos são nada; as suas obras são coisa nenhuma; as suas imagens de fundição são vento e vácuo”. 10. Tudo aquilo que colocamos acima do Criador é considerado um ídolo. Os ídolos modernos podem ser diversos: dinheiro, poder, TV, internet, etc.



Resumo da Lição 8
Consolem o Meu povo

Foco do estudo: Isaías 40:1-3

Esboço

Todo o livro de Isaías está repleto de falas contrastantes sobre juízo e boas-novas da salvação. No entanto, a primeira parte do livro trata principalmente da mensagem do juízo divino em relação a Judá. A segunda parte contém a mensagem do consolo divino a Seu povo. Isaías 40, que vem logo após a primeira seção (Is 1–39), serve como uma introdução aos capítulos seguintes.

A mensagem do Senhor começa com um dos dizeres mais revigorantes e consoladores da Bíblia: “‘Consolem, consolem o Meu povo’, diz o Deus de vocês” (Is 40:1). Essa mensagem lembra o povo de Deus de Sua fidelidade à aliança.

O autor faz alusão à experiência israelita no deserto. Naquela época, nem o povo nem mesmo Moisés podiam ver a glória do Senhor, mas então “toda a humanidade a verá” (Is 40:5). Este estudo está dividido em três seções, intituladas: (1) Da destruição ao consolo, (2) Preparem o caminho e (3) A glória do Senhor revelou.

Comentário

Da destruição ao consolo

A mudança de ênfase nos temas destacados no livro de Isaías é bem conhecida.

A maioria dos comentários bíblicos menciona o contraste dos tópicos entre a primeira parte (Is 1–39) e a segunda parte (Is 40–66) do livro. Vários estudiosos usam esse ponto para defender uma autoria dupla. Contudo, observa-se que Isaías, como os demais profetas pré-exílicos, transmite uma mensagem na qual evidencia-se um aspecto duplo.

Por um lado, os profetas pré-exílicos são mensageiros do juízo, de modo que proclamam o fim da era das bênçãos e favores divinos. Mas também são arautos da salvação, e proclamam uma nova era de generosidade divina. Portanto, o discurso profético desses mensageiros é uma mistura de oráculos de juízos e salvação; e é isso que vemos no livro de Isaías.

Não há razão para não apoiar a teoria que coloca Isaías 40 no período pré-exílico, como uma promessa consoladora de uma restauração futura.

A seção anterior até Isaías 40 tem uma mensagem clara e distinta de juízo para Judá e as nações estrangeiras.

O Dia do Senhor virá. É iminente; o juízo está próximo. Não tardará muito e o melhor das nações, do povo e de seus recursos materiais serão repassados para outras mãos.

O livro anuncia claramente: “Meu povo será levado cativo por falta de entendimento” (Is 5:13). “Eis que virão dias em que tudo o que houver no seu palácio, isto é, tudo o que os seus pais ajuntaram até o dia de hoje, será levado para a Babilônia; não ficará coisa alguma, diz o Senhor” (Is 39:6).

No entanto, o Senhor, o Deus incomparável, porá fim às provações do Seu povo. Considerando que chegará o tempo da libertação, Isaías escreveu esta mensagem de misericórdia usando o recurso do paralelismo (Is 40:1, 2):

A. “Consolem, consolem o Meu povo,

B. Diz o Deus de vocês.

A’. Falem ao coração de Jerusalém”.

A misericórdia divina se fará evidente mais uma vez porque o Senhor declara “que o tempo da sua escravidão já acabou, que a sua iniquidade está perdoada e que ela já recebeu em dobro das mãos do Senhor por todos os seus pecados” (Is 40:2). A maneira enfática em que o Senhor deseja que essa mensagem seja comunicada ao Seu público é notável. Parece que ela é urgente, pois o autor usa o verbo imperativo qir?û, que pode ser traduzido como “proclamar”, “chamar”, “bradar”, “gritar” (Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament [Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento], v. 3, p. 1129). A expressão vai além da ideia do verbo mais genérico “falar”. A expressão “Meu povo” é um indicador do relacionamento de aliança entre Deus e Seu povo. Deus é fiel aos deveres de Sua aliança de liderar e perdoar Seu povo.

Preparem o caminho

Uma seção central em Isaías 40 é a dos versos 3 a 5. Existe uma espécie de inclusio (subdivisão de texto marcada por linguagem ou elemento semelhante em seu início e fim) na unidade. “Preparem o caminho do Senhor!” (Is 40:3) e “a glória do Senhor se manifestará” (Is 40:5).

“Preparem o caminho do Senhor”. O contexto é a restauração de Judá. Essa é a jornada de volta do exílio. Nesta frase é usada a linguagem dos movimentos das figuras da realeza. Parece que algumas regiões com suas montanhas e colinas seriam um terreno difícil para um monarca e sua comitiva; assim, a frase “no ermo façam uma estrada reta” significa guiar, nivelar e livrar-se de obstáculos, como quando se prepara para receber um visitante da realeza (R. Laird Harris, ed., Theological Wordbook of the Old Testament [Dicionário de Palavras Teológicas do Antigo Testamento]. Chicago: Moody Press, 1980, v. 1, p. 417).

O caminho de Babilônia a Jerusalém é uma estrada agreste, permeada por montanhas e terrenos acidentados. Os filhos de Deus passariam por esses caminhos; por isso, é feito o pedido: “Preparem o caminho do Senhor! No ermo façam uma estrada reta para o nosso Deus!” (Is 40:3). O mensageiro pede uma estrada reta pois Judá precisa retornar sem grandes contratempos.

A linguagem pragmática usada nessa parte é digna de nota, principalmente as palavras associadas ao “caminho”. Dessa maneira, o autor tenta vincular a grande manifestação divina com elementos de uso comum. Tais expressões enfatizam a presença de um Deus invisível, mas real, mostrando assim que a participação de Deus na história de Seu povo também será real.

A glória do Senhor revelada

Em Isaías 40:3-5, parece que o profeta faz alusão a algumas das experiências dos israelitas durante a jornada no deserto, em particular o episódio em que Moisés pede para ver a glória de Deus (Êxodo 33:18-23).

Os israelitas receberam a ordem de sair do monte Horebe e seguir em frente. Deus disse a Moisés: “Suba deste lugar, você e o povo que você tirou da terra do Egito” (Êx 33:1), mas o Senhor avisou: “Eu não irei no meio de vocês” (Êx 33:3).

Parece que Moisés se sentiu desconcertado e, por isso, pediu ao Senhor: “Se alcancei favor diante de Ti, peço que me faças saber neste momento o Teu caminho” (Êx 33:13). E no verso 18, Moisés acrescentou: “Peço que me mostres a Tua glória”.

Moisés associa k??ô? a uma aparição visível do Senhor. Assim, neste caso, a solicitação não será concedida. No entanto, Deus responde no verso 19: “Farei passar toda a Minha bondade diante de você e lhe proclamarei o nome do Senhor; terei misericórdia de quem Eu tiver misericórdia e Me compadecerei de quem Eu Me compadecer”. No entanto, no verso seguinte, diz: “Você não poderá ver a Minha face, porque ninguém verá a Minha face e viverá” (Êx 33:20).

O autor do Pentateuco nos mostra como o Senhor redirecionou a questão. Deus destacou Sua revelação em termos de atributos, e não em termos de aparência externa. É como se Deus quisesse destacar a abstração de Seu ser, porque o Senhor não pode ser visto em termos concretos.

Em uma análise cuidadosa dessa perícope do Pentateuco, podemos ver algumas conexões ou influência entre ela e o texto de Isaías, particularmente Isaías 40. O elemento comum em ambas as perícopes é a expressão hebraica k??ô? YHWH (“a glória do Senhor”). Os aspectos mais notáveis aqui são os contrastes entre os dois relatos que Isaías destaca.

Enquanto em Êxodo, o caminho é apresentado como uma estrada áspera, cheia de pedras, em Isaías, a estrada é pavimentada, nivelada e toda a humanidade é capaz de perceber a glória do Senhor (ver Is 40:3-5). Isaías 52 oferece um contexto semelhante em relação ao capítulo 40 e até a Êxodo 33.

Isaías 52:10 diz: “O Senhor desnudou o Seu santo braço à vista de todas as nações, e todos os confins da Terra verão a salvação do nosso Deus”.

A conexão entre as três passagens é evidente. O primeiro elemento em comum é o caminho ou a estrada, mesmo que sejam retratados de maneira diferente. Em Êxodo 33, é um caminho difícil. Isaías 40 nos mostra um caminho tranquilo, e os caminhos em Isaías 52 são montes. Outro elemento em Êxodo 33 é que o Senhor mostrou as costas; por outro lado, em Isaías a mão do Senhor e Seu braço santo aparecem. Em Êxodo, Moisés mal pode ver a glória do Senhor, mas, em Isaías 40, toda a humanidade pode vê-la. Em Isaías 52, todas as nações também a podem ver. Em Isaías 40, é a glória do Senhor que é mostrada, enquanto em Isaías 52 é a Sua salvação. Assim, Isaías 52 esclarece o que k??ô? YHWH significa em Isaías 40. A humanidade é capaz de reconhecer a glória do Senhor; é o ato poderoso do Senhor de trazer salvação a Judá.

Neste ponto do nosso estudo é útil observar que a expressão “a glória do Senhor” tem mais de uma aplicação na Bíblia. Em alguns casos, a glória do Senhor se refere ao próprio YHWH e à Sua majestade a qual nem os serafins podem contemplar, e à Sua santidade oculta. No entanto, em outros contextos, principalmente em Isaías, a glória do Senhor é equivalente às Suas ações, importância e peso (literalmente) em meio ao Seu povo. Assim, Isaías amplia a ideia da expressão k??ô? YHWH. Ele deixa claro que a ação divina (libertação ou salvação) é tão real como se Ele estivesse ali. Sua promessa de agir em favor de Seu povo deve ser entendida como realismo total.

Aplicação para a vida

1. Deus falou com Seu povo de muitas maneiras no passado e, no presente, continua a transmitir Sua mensagem de conforto e perdão aos Seus filhos.

• Quais promessas bíblicas o confortam mais?

• Por outro lado, uma parte importante da mensagem para a nação de Judá é a garantia de que “a sua iniquidade está perdoada” (Is 40:2).

• Por que é importante que as pessoas recebam o perdão de Deus? (Leia Mc 2:9: “O que é mais fácil? Dizer ao paralítico: ‘Os seus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levante-se, tome o seu leito e ande?’”; e 1 João 2:12: “Filhinhos, escrevo a vocês, porque os seus pecados são perdoados por causa do nome de Jesus”).

2. A frase “voz do que clama no deserto” (Is 40:3, ARA) foi interpretada no Evangelho de João (Jo 1:23) como uma referência ao anúncio de João Batista sobre a primeira vinda de Jesus. Ele fez isso pedindo às pessoas que se arrependessem e fossem batizadas na água como sinal de arrependimento. Como você está usando sua voz para proclamar as boas-novas?

3. Como a glória de Deus pode ser entendida à luz de João 1:14: “E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória, glória como do unigênito do Pai”.


Acidente de carro

Anna, uma garota de 16 anos, morava em um vilarejo distante, no extremo oriente da Rússia, e desejava muito internet em sua casa. Era o ano 2003 e ela não queria ficar de fora desse novo fenômeno. Os pais concordaram em levá-la até uma loja para comprar um modem na manhã de um sábado. Eles não eram adventistas. Entretanto, Anna se batizara havia um ano. Ela conheceu Jesus por intermédio da avó, e sabia que era errado fazer compras no sábado. Porém, queria muito ter internet em casa.

A última coisa de que ela se lembra é de ter saído de casa e entrado no automóvel. Os acontecimentos seguintes foram relatados pela avó. O pai ultrapassou o limite de velocidade enquanto dirigia por uma estrada escorregadia em direção à loja. De repente, o carro entrou na contramão e foi atingido por um caminhão. Os pais morreram no acidente e o caminhoneiro quebrou a perna. Anna ficou hospitalizada em coma, e o médico previu que não sobreviveria.

A avó jejuou, orou e pediu que os irmãos da igreja a acompanhasse. Para surpresa do médico, Anna saiu do coma em três dias e se recuperou rapidamente. Em dois meses, ela voltou para a escola e terminou o décimo ano com o restante da classe. A avó se mudou para a casa de Anna, no vilarejo de Novoshatinsk, região de Primorie, a fim de dar apoio físico e espiritual. Mas, Anna mergulhou em uma tristeza sombria. Sentia uma culpa avassaladora pela morte dos pais. Não culpava a Deus, pois sabia que Ele não havia causado a morte deles. Mas, sabia que era errado fazer compras aos sábados. Ela desejava ter falado aos pais para ficarem em casa. Eles poderiam ligar a internet depois do pôr do sol.

A culpa continuou acompanhando Anna, ao se mudar para a cidade portuária de Vladivostok, onde entrou na universidade. Ela frequentou a única igreja da cidade, mas não conseguia ir todos os sábados. Fazia isso apenas para agradar a avó. Sua vida não seguia os padrões cristãos e a culpa se aprofundou.

A avó orava em favor de Anna e telefonava diariamente para ela. 

“Você leu a Bíblia hoje?”, perguntava gentilmente.

Se Anna respondesse afirmativamente, a avó perguntava o que havia lido.

“Você orou hoje? Não se esqueça de orar.” A avó pedia para compartilhar as lutas e orava com ela pelo telefone. Anna conheceu um professor adventista na faculdade que ajudava com suas atividades. O professor também orou por ela e pedia a igreja para fazer o mesmo.

Certo dia, Anna se lembrou do seu batismo e orou pedindo perdão. “Sei que minha vida está errada. Sei que vivo tempos difíceis. A vida sem Ti não tem sentido. Ajuda-me a fazer amigos novos da igreja. Ajuda-me a ser mais receptiva e alegre. Ajuda-me a orar e ler a Bíblia.” E continuou conversando com Deus regularmente. Ela leu o livro “O Grande Conflito” que a avó lhe presenteara, fazia pouco tempo. No livro, ela percebeu as dificuldades que Martinho Lutero e outros reformadores passaram. Entendeu que Deus perdoa até mesmo os piores dos pecadores e abandonou os maus hábitos. Então, começou a telefonar para a avó diariamente em vez de esperar a ligação.

A fé cresceu e passou a frequentar a igreja todos os sábados, alegremente, para se encontrar com Deus. Ela entendeu que o Senhor perdoara e não se lembrava de seus pecados. Um peso enorme foi retirado do coração.

Hoje, Anna tem 32 anos de idade é professora universitária. Ela é também líder de desbravadores e secretária da igreja. Ainda não tem ideia da razão pela qual o acidente aconteceu, mas não se preocupa com isso. “Muitas pessoas me disseram que não foi minha culpa, mas não acredito que as coisas acontecem por acaso”, ela diz. “Mesmo se o acidente tenha sido ao acaso, é fato que aconteceu no sábado. Até hoje penso algumas vezes sobre o que poderia ter acontecido. Mas o fato é que aconteceu um acidente, e isso mudou minha vida. Eu tinha uma vida antes do acidente e agora tenho outra.”

Anna é grata pelas orações da avó, que está com 80 anos, e outros membros da igreja. Ela diz que eles ajudaram a mudar de vida. “Entendi que muitos problemas que enfrentei foram solucionados porque a igreja orou por mim. Nada na vida vale a pena sem Deus.”

Há três anos, as ofertas missionárias ajudaram a construir uma nova igreja em Vladivostok. Muito obrigado pelo apoio à Igreja Adventista em Vladivostok, com as ofertas e orações. 

 

Dicas da história

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• Para mais informações missionárias e outras notícias da Divisão Euroasiática acesse o site: bit.ly/2021-ESD.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2021
Tema Geral: Isaías: consolo para o povo de Deus
Lição 8 – 13 a 20 de fevereiro de 2021

Consolem o Meu povo

Autor: Sérgio Monteiro
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega

A partir do capítulo 40, o livro de Isaías muda de perspectiva e foco. A mudança parece ser tão drástica que estudiosos críticos do livro chegam a afirmar que, a partir desse capítulo, temos um novo autor. Esse autor teria vivido no período após o exílio de Babilônia e, por isso, podia saber tanto a respeito daquele período, incluindo o nome do libertador: Ciro. O raciocínio por trás dessa posição, além da mudança de foco, é que não existem profecias preditivas, ou seja, não há como Isaías, no 8º século antes de Cristo, ter falado do cativeiro babilônico e da conquista de Ciro, eventos que aconteceriam somente entre os séculos 7 e 6 a.C.

Essa ideia, ainda que comum nos meios acadêmicos, não deve ser aceita, por dois motivos básicos: 1) Mudança de tema não indica mudança de autor. Indica apenas que o foco passou de um tema para outro que, de alguma forma, está ligado ao primeiro; e 2) Profecia preditiva é elemento comum nas Escrituras; a não aceitação dela pressupõe uma visão naturalista e ateísta que não permite a ação de Deus. Por fim, o uso de expressões no passado para o retorno do exílio e a reconstrução da cidade, a partir de Isaías 40, não pode ser tomada como favorável a esses autores, porque mesmo em Isaías 1–39, elementos no futuro são referidos como estando no passado, ou no presente, como os casos de Isaías 7:14 e 9:5, 6.

Afastadas as pressuposições de um novo autor e outro tempo para o texto, devemos perguntar se realmente o capítulo 40 rompe com os capítulos anteriores e muda completamente o foco. Analisando o capítulo 39, a resposta é: Não. O capítulo 40 não rompe com os anteriores, mas continua no tema geral do livro, mas com uma mudança de perspectiva. O capítulo 39 introduz Babilônia e serve de transição entre a seção anterior e a seção que segue: Ezequias, diante dos enviados de Merodaque-Baladã, mostrou seu poder e riqueza, não a glória do Deus de Israel. Por isso, as gerações seguintes seriam “enviadas” para Babilônia, não para contemplar a grandiosidade da cidade, mas como exilados, porque se esqueceram da majestade de Deus.

Não obstante, como é central à aliança, o exílio não visava destruir o povo, mas humilhar sua cerviz e fazê-lo relembrar que sua prosperidade, poder e força estavam fundamentados na fidelidade a Deus. Por isso, o Senhor anunciou profeticamente que o exílio não duraria para sempre, mas se estenderia somente por um período, no qual Ele enviaria mensageiros para consolar Seu povo, anunciando que eles haviam sido perdoados. Seu perdão adviria, como é requerido pela aliança, do ato de escutar a voz de Deus, arrepender-se e endireitar seus caminhos, como já havia sido declarado no capítulo 1 de Isaías.

A mensagem do capítulo 40 inicia com uma declaração direta de que a dor e o pranto de Judá deveriam ser consolados. O sentido mais básico do termo hebraico utilizado, naham, é entristecer, arrepender, mas que na forma utilizada recebe o sentido de confortar. Não obstante, o uso do verbo aqui parece cumprir dupla função: a primeira e mais direta é anunciar o conforto e o fim das dores, e a segunda é anunciar o meio pelo qual o fim do exílio e o conforto chegaram: arrependimento. E não somente o arrependimento declarado, mas aquele que transforma e endireita a vida. A declaração do verso 1, portanto, apresenta o resultado das ações descritas nos versos seguintes: Deus agirá, expiando os pecados de Israel, ou seja, perdoando a nação; e o povo agirá endireitando o caminho para a chegada do Eterno.

Nesse momento, a visão profética parece ir além do retorno de Babilônia para algo muito maior: a chegada de Deus, o dia do Eterno. A linguagem de comparação entre a grandiosidade de Deus e a diminuta existência das nações serve para contrapor a grandeza orgulhosa de Ezequias, bem como a grandiosidade que o povo encontraria em Babilônia. Deus é o Criador, cujos desígnios não conhecem frustração nem podem ser sondados. Sua glória seria manifesta diante de Israel e de todas as nações. Nada nessa descrição parece ser limitada, nem pode ser, ao período do retorno de Babilônia.

A chegada de Deus, no capítulo 40, é uma menção muito clara à inauguração do reino messiânico. A ideia de Emanuel retorna, ainda que o nome não apareça, nos versos 3, 9, 27-31. Deus é o Soberano de Israel que não Se afasta de Seu povo e o acompanha ao exílio. Também o traria de volta, permanecendo com ele no futuro mais longínquo, quando não apenas as aflições de Israel seriam consoladas, mas a base e a razão de seus sofrimentos seriam destruídas (v. 2). Noutras palavras, nos tempos vindouros, as iniquidades e pecados de Judá e Israel findariam. De que forma? Pelo pagamento de suas iniquidades e culpas.

Esse pagamento não seria oferecido por Israel, mas seria uma ação de Deus. Ou seja, a chegada de Deus incluiria o pagamento dos pecados de Judá. Essa profecia aponta, portanto, para a real maneira de resolver o problema do pecado: a ação divina, que se daria pelo Messias, algo que fica ainda mais explícito nos capítulos seguintes, principalmente no 53.

Por que Israel não podia pagar por sua própria culpa e expiar seus pecados? A resposta é encontrada na própria história pregressa de Israel, Judá e seus reis. O contexto das ações de Ezequias, um rei bom, mas ainda um rei humano, demonstra que o ser humano não consegue manter a justiça e a perfeição necessárias para o colocar além do pecado. Por isso, somente Deus poderia lidar com o pecado, a iniquidade e a culpa de maneira definitiva e completa.

O verso 9 apresenta uma mudança no arauto que anuncia boas coisas. Se nos versos anteriores a voz que clama e o arauto são masculinos, o verso 9 nos traz uma mensageira. Homileticamente, é possível enxergar a figura de Ana, a profetiza, e das mulheres no ministério de Jesus, que participaram tanto da proclamação de Sua chegada, quanto de Sua partida e ressurreição. Exegeticamente, entretanto, parece que o antecedente dos pronomes e verbos femininos seria o Ruach Adonai ou o Espírito do Eterno do verso 7, que em hebraico é feminino. Não seria, então, esse verso uma declaração de que, além da Palavra do Eterno, também o Espírito participaria da proclamação salvífica? A figura do Espírito volta a aparecer no verso 13, como participante no planejamento da criação, e também no capítulo 48:16, 17, sendo enviado para proclamar a libertação, em uma expansão da ideia que encontramos no capítulo 40. Dessa forma, podemos compreender que o conforto e o consolo da proclamação evangélica advêm da participação completa da Divindade no plano de criar o homem, guiar Israel, proclamar a redenção e purificar o povo da nação celestial.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O Pr. Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É bacharel em Teologia, mestre em Teologia Bíblica e cursa doutorado em Bíblia hebraica. É pastor na Escola do Pensar e no Instituto de Estudos Judaicos Feodor Meyer. É membro da Adventist Theological Society, International Association for the Old Testament Studies e Associação dos Biblistas Brasileiros.