Lição 1
26 de dezembro a 01 de janeiro
Crise de identidade
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Apocalipse 12-14
Verso para memorizar: “Venham, pois, e vamos discutir a questão. Ainda que os pecados de vocês sejam como o escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, eles se tornarão como a lã” (Is 1:18).
Leituras da semana: Is 1; 5:1-7

Perdido na terra do esquecimento. Se você dirigir pela Irlanda, ao longo de uma estrada interiorana estreita, ladeada por cercas vivas, é possível que você encontre a estrada bloqueada por uma manada de vacas retornando para casa após uma saborosa alimentação. Mesmo que nenhum pastor as esteja acompanhando, elas voltam para o curral de seus donos, pois conhecem o lugar a que pertencem e a quem pertencem.

Se um garotinho em uma loja se separa de sua mãe e grita: “Eu me perdi da minha mãe!”, ele pode não saber exatamente onde está nem onde está sua mãe, mas, em meio a uma multidão de mães andando pela loja, ele conhecerá a única que é a sua mãe.

Infelizmente, ao contrário das vacas irlandesas e do garotinho perdido, os judeus se esqueceram de que pertenciam ao Senhor, seu Pai celestial, e, assim, perderam sua verdadeira identidade como povo da aliança. “Criei filhos e os engrandeci, mas eles estão revoltados contra Mim. O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o Meu povo não entende” (Is 1:2, 3).

Nesta semana, examinaremos a obra de Deus para restaurar Seu povo.



Domingo, 27 de dezembro
Ano Bíblico: Ap 15-17
Escutem, ó céus! (Is 1:1-9)

Na breve introdução de seu livro, o profeta identifica seu autor (Isaías, “filho de Amoz”), a fonte de sua mensagem (uma “visão”) e seu assunto (Judá e sua capital, Jerusalém, durante o reinado de quatro reis). Ele também identifica seu público primário como o povo de seu país durante o tempo em que ele viveu. O profeta falou com o povo acerca da condição e do destino dele.

Mencionando os reis em cujos reinados ele atuou, Isaías restringiu o público-alvo e relacionou o livro aos acontecimentos históricos e políticos de determinado período, que nos leva aos relatos de 2 Reis 15–20 e 2 Crônicas 26–32.

1. Qual é a essência da mensagem de Isaías 1:2? Como essa ideia é vista ao longo da história sagrada? Ela também poderia ser declarada sobre a igreja cristã hoje?

__________________________

Observe que a mensagem de Isaías inicia com as palavras “Escutem, ó céus, e ouça, ó Terra” (compare com Dt 30:19; 31:28). O Senhor não estava sugerindo que o céu e a Terra pudessem ouvir ou entender. Em vez disso, Ele usou essa imagem para dar ênfase.

Quando um antigo rei do Oriente Próximo, como um imperador hitita, fazia um tratado político com um governante menos importante, ele invocava seus deuses como testemunhas para enfatizar que qualquer violação do acordo certamente seria observada e punida. Porém, quando o divino Rei dos reis fez uma aliança com os israelitas nos dias de Moisés, Ele não Se referiu a outros deuses como testemunhas. Como o único Deus verdadeiro, Ele convocou os céus e a Terra para que cumprissem essa função (Dt 4:26).

2. Leia com atenção Isaías 1:1-9. Resuma nas linhas a seguir os pecados de Judá. Anote especialmente os resultados desses pecados. De que Judá era culpado e o que aconteceu por causa de sua culpa? Ao mesmo tempo, que esperança é apresentada no verso 9?

_________________________



Segunda-feira, 28 de dezembro
Ano Bíblico: Ap 18, 19
Ritualismo podre (Is 1:10-17)

3. Leia Isaías 1:10. Em sua opinião, por que o profeta usou as imagens de Sodoma e Gomorra? Qual mensagem o Senhor estava apresentando?

_____________________________

4. Leia Isaías 1:11-15. O que o Senhor disse ao povo? Por que Ele rejeitou a adoração que estava sendo oferecida? Assinale a alternativa correta: 

A. ( ) As ofertas eram abomináveis, pois as mãos do povo estavam cheias de sangue.
B. ( ) Eles estavam roubando o Senhor nos dízimos e nas ofertas.

As mesmas mãos que ofereciam sacrifícios e eram erguidas em oração estavam “cheias de sangue”; isto é, culpadas de violência e opressão (Is 1:15; 58:3, 4). Quando maltratavam outros membros da comunidade da aliança, eles estavam demonstrando desprezo pelo Protetor de todos os israelitas. Pecados contra outras pessoas são pecados contra o Senhor.

Evidentemente, o próprio Deus havia instituído o sistema ritual de adoração (Lv 1–16) e designado o templo de Jerusalém como o local apropriado para tal (1Rs 8:10, 11). Mas os rituais foram planejados para funcionar no contexto da aliança que Deus havia feito com o povo. A aliança de Deus com Israel possibilitava Sua habitação entre eles no santuário/ templo. Portanto, os rituais e as orações realizados ali eram válidos somente se o povo expressasse fidelidade a Ele e à Sua aliança. As pessoas que ofereciam sacrifícios sem se arrependerem das ações injustas contra outros membros da comunidade da aliança estavam apresentando rituais de falsidade. Portanto, seus sacrifícios não eram apenas inválidos, mas eram pecados! Seus rituais demonstravam lealdade, mas seu comportamento provava que haviam quebrado a aliança.

5. Leia Isaías 1:16, 17. O que o Senhor ordenou que Seu povo fizesse? Nesse contexto, como esses versos são semelhantes ao que Jesus disse em Mateus 23:23-28? Que mensagem encontramos para nós nesses textos e no seu contexto?

___________________________



Terça-feira, 29 de dezembro
Ano Bíblico: Ap 20-22
O argumento do perdão (Is 1:18)

6. O que o Senhor disse em Isaías 1:18? Assinale a alternativa correta:

A. ( ) Que o povo devia fazer mais holocaustos e sacrifícios.
B. ( ) Que os pecados do povo poderiam se tornar brancos como a neve.

Deus apresentou poderosas evidências de que os judeus, os acusados, eram culpados de quebra de acordo (Is 1:2-15) e apelou para que eles passassem por uma reforma (Is 1:16, 17). Esse apelo sugere que havia esperança. Afinal, por que instigar um criminoso que merece execução a mudar seu comportamento? Como um prisioneiro no corredor da morte poderia repreender ao opressor, defender o direito do órfão e pleitear a causa das viúvas? Mas quando Deus diz: “Venham, pois, e vamos discutir a questão” (Is 1:18), Ele ainda buscava argumentar com Seu povo, ainda buscava fazê-lo se arrepender e se desviar de seus maus caminhos, não importando quanto eles haviam se tornado degenerados.

O Senhor lhes disse que seus pecados, embora fossem vermelhos como o carmesim, se tornariam brancos. Por que os pecados são vermelhos? Porque vermelho é a cor do “sangue” (culpa de sangue) que enchia as mãos do povo (Is 1:15). Branco, por outro lado, representa a cor da pureza, a ausência da culpa de sangue. Nesse texto, Deus Se oferece para transformar Seu povo. Esse é o tipo de linguagem que o rei Davi utilizou quando clamou a Deus pelo perdão de seu pecado de tomar Bate-Seba e de destruir o marido dela (Sl 51:7, 14). Em Isaías 1:18, o argumento de Deus é uma oferta de perdão ao Seu povo!

7. Como a oferta divina de perdão servia de argumento para que os judeus mudassem seu comportamento? Compare Isaías 1:18 com Isaías 44:22.

_____________________________

Agora vemos o propósito das incisivas palavras de advertência de Deus. Elas não foram ditas para rejeitar o povo, mas para trazê-lo de volta a Ele. Sua oferta de perdão é o argumento que sustenta Seu apelo para que o povo se purifique (Is 1:16, 17). Seu perdão possibilita a transformação por Seu poder. Aqui vemos as sementes da “nova aliança” (Jr 31:31-34), fundamentada no perdão. Começamos “no vermelho”, com uma dívida que nunca poderíamos pagar. Com humilde reconhecimento da nossa necessidade de perdão, estamos prontos para aceitar o que Deus tem para dar.



Quarta-feira, 30 de dezembro
Ano Bíblico: Repassar o Novo Testamento
Comer ou ser devorado (Is 1:19-31)

8. Qual é o tema de Isaías 1:19-31 e que é visto em toda a Bíblia? Assinale a alternativa correta:

A. ( ) Bênçãos mediante a obediência e maldições em caso de rebeldia.
B. ( ) O livramento de Deus.

Observe a estrutura lógica em Isaías 1:19, 20: Se o povo escolhesse obedecer a Deus, comeria “o melhor desta terra” (Is 1:19). Por outro lado, se recusasse Sua oferta de perdão e restauração e se rebelasse contra Ele, seria devorado “pela espada” (Is 1:20). A escolha era deles. Esses versos, portanto, contêm bênção e maldição condicionais.

Isaías 1 reiterou e aplicou as palavras de Moisés, registradas quando a aliança com Israel havia sido estabelecida: “Hoje tomo o céu e a Terra por testemunhas contra vocês, que lhes propus a vida e a morte, a bênção e a maldição” (Dt 30:19, 20).

9. Examine essas palavras de Moisés. Observe que não há meio-termo. É vida ou morte, bênção ou maldição. Por que existe apenas uma das duas opções? Por que não pode haver transigência?

_______________________________

Essas palavras de Moisés resumem a sequência de advertências, bênçãos e maldições que concluem o estabelecimento da aliança em Deuteronômio 27–30 (compare com Lv 26). Os elementos dessa aliança incluem (1) recapitulação do que Deus havia feito por eles; (2) condições/estipulações (mandamentos) a ser observadas para que a aliança fosse mantida; (3) referência a testemunhas; e (4) bênçãos e maldições a fim de advertir o povo do que aconteceria caso eles violassem as condições da aliança.

Os estudiosos descobriram que esses elementos aparecem na mesma ordem nos tratados políticos que envolviam povos não israelitas, como os hititas. Portanto, a fim de estabelecer Sua aliança com os israelitas, Deus usou um meio para que eles entendessem. Ele queria que ficassem gravadas em sua mente, com a maior força possível, a natureza e as consequências do relacionamento que os obrigava mutuamente, no qual eles estavam escolhendo entrar. Os benefícios da aliança eram surpreendentes, mas, se Israel quebrasse o acordo, estaria em pior situação do que nunca.

Como você tem vivenciado o princípio de bênçãos e maldições na sua vida cristã?


Quinta-feira, 31 de dezembro
Ano Bíblico: Vista geral de toda a Bíblia
Um sinistro cântico de amor (Is 5:1-7)

10. Leia o cântico de Isaías 5:1-7. Qual é o significado dessa parábola?

_______________________________

Deus explicou o significado da parábola somente no final, no verso 7. Ao usar uma parábola, Ele fez com que o povo se examinasse objetivamente, a fim de admitir sua verdadeira condição. Deus usou efetivamente essa abordagem com o rei Davi (veja 2Sm 12:1-13). Ao chamar isso de “cântico de amor”, o Pai revelou desde o início Sua motivação para com o povo. Seu relacionamento com ele se originava de Seu caráter, que é amor (1Jo 4:8). Ele esperava, em troca, uma resposta de amor. Mas, em vez de “uvas”, ele recebeu “uvas bravas”, que significa, no hebraico, “coisas estragadas”. 

11. O que o Senhor quis dizer em Isaías 5:4: “Que mais se podia fazer à Minha vinha, que Eu não lhe tenha feito”?

___________________________

Deus declarou nos versos seguintes: “Pois Eu lhes digo o que vou fazer com a Minha vinha: Derrubarei sua cerca para que ela seja transformada em pasto; derrubarei o seu muro para que seja pisoteada. Farei dela um terreno baldio” (Is 5:5, 6, NVI).

Quando pecamos, Deus não nos afasta de Si, removendo Sua proteção e nos destruindo. Ele pacientemente nos dá uma oportunidade de receber perdão (2Pe 3:9). O Senhor não elimina ninguém que atenda ao Seu convite, mas apela enquanto há esperança de resposta. O Senhor não aceita imediatamente o “não” como resposta porque sabe que somos ignorantes e enganados pelo pecado. Mas se não Lhe correspondermos, Ele reconhecerá nossa escolha e nos deixará no caminho em que escolhemos estar (Ap 22:11).

Se rejeitarmos persistentemente os apelos de Deus por meio de Seu Espírito, a situação pode ficar finalmente irreversível (Mt 12:31, 32). Afastar- se de Cristo é perigoso (Hb 6:4-6). Há um limite para o que Deus pode fazer, porque Ele respeita nossa livre escolha.

Considere o conceito encontrado em Isaías 5:4, sobre o “que mais se podia fazer à vinha”. À luz do sacrifício feito na cruz pelas nossas transgressões, o que mais poderia ter sido feito por nós? Isso nos dá certeza de salvação e nos leva ao arrependimento e mudança de vida?


Sexta-feira, 01 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 1-3
Estudo adicional

No contexto de Isaías 1:4, Ellen White escreveu: “O professo povo de Deus havia se separado Dele, perdido a sabedoria e pervertido seu entendimento. Via só o que estava perto, pois tinha se esquecido da purificação de seus pecados de outrora. Movia-se de maneira inquieta e incerta na escuridão, procurando apagar de sua mente a recordação da liberdade, da tranquilidade e da felicidade das quais desfrutava em sua condição anterior.  Mergulhava em todo tipo de loucura presunçosa e imprudente, colocava-se em oposição às providências de Deus e aprofundava a culpa que já tinha sobre si. Dava ouvidos às acusações de Satanás contra o caráter divino e representava a Deus como se Ele fosse destituído de misericórdia e perdão” (Comentário Bíblico Adventista do S.timo Dia, v. 4, p. 1251, 1252).

Perguntas para consideração

1. Como podemos “nos lavar” (Is 1:16)? O que essa expressão significa? (Veja Fp 2:12, 13).
2. Como Jesus adaptou, expandiu e aplicou o cântico sobre a vinha?(Mt 21:33-45; Mc 12:1-12; Lc 20:9-19). Quais são as lições da história acima para nós, adventistas do sétimo dia?
3. Qual é a relação entre o perdão que Deus oferece e a transformação que Ele realiza em nossa vida? O que vem primeiro: a transformação ou o perdão? É importante saber isso?
4. O que significa se colocar em oposição às “providências de Deus”?

Resumo: Quando a nação Se esqueceu de Deus e desprezou Suas bênçãos, o Senhor mostrou que ela devia prestar contas de sua aliança com Ele. Felizmente, Ele apontou a condição dela, advertiu-a sobre as consequências destrutivas de abandonar Sua proteção e a instigou a permitir que Ele a curasse e purificasse.

Respostas e atividades da semana: 1. Embora Deus cuide de Seus filhos e os crie, eles se distanciam Dele e se rebelam contra Ele. Desde a queda, vemos uma interminável sequência de episódios de afastamento de Deus. Infelizmente, essa é uma realidade de grande parte da cristandade hoje, visto que, em virtude do pecado, é muito mais fácil nos afastarmos do que nos aproximarmos Dele. 2. Judá abandonou o Senhor e blasfemou contra o Santo de Israel. Como consequência, sua terra e cidades foram assoladas, e as lavouras estavam sendo devoradas por estrangeiros. Se Deus não tivesse intervindo e deixado alguns sobreviventes, a terra de Judá teria sido destruída como Sodoma e Gomorra. 3. Sodoma e Gomorra foram destruídas por causa de seus graves pecados. O Senhor advertiu o povo acerca de um destino semelhante ao daquelas cidades. 4. A. 5. Deus ordenou que o povo cessasse de fazer o mal, que se lavasse e se purificasse das maldades e injustiças que havia cometido contra os mais vulneráveis. Além disso, Deus pediu que eles voltassem seus olhos para os órfãos e viúvas. 6. B. 7. O perdão e graça oferecidos por Deus não custaram nada para o povo, mas tudo para Deus. Seu perdão tornava possível a transformação do povo. 8. A. 9. A aliança envolve uma escolha no contexto do conflito entre o bem e o mal; não podemos ficar com as duas opções. 10. Deus é o Senhor da vinha, e a vinha que produziu uvas bravas é o povo de Deus. O Senhor da vinha fez tudo ao Seu alcance para que ela produzisse uvas boas, porém, ainda assim, ela produziu uvas bravas. Portanto, a vinha não servia para mais nada senão para ser destruída. 11. Deus faz tudo o que Ele pode para que sejamos restaurados e transformados, mas precisamos fazer a nossa escolha.



Resumo da Lição 1
Crise de identidade

Foco do Estudo: Isaías 1; 5

ESBOÇO

Os capítulos 1 a 5 de Isaías servem como unidade introdutória ao livro do profeta. Eles descrevem não apenas a condição vil da sociedade israelita em geral, mas também sua condição espiritual. O foco na condição espiritual de Israel constitui a ênfase principal do livro. A religião do povo de Deus está corrompida.

Existe esperança em meio a tal situação? Sim! Essa é a razão pela qual alguns chamam o livro de Isaías de Evangelho do Antigo Testamento. Isaías 1:2 testifica que o Senhor suscitou Seu povo: “Criei filhos e os fiz crescer”. Por meio da linguagem figurativa da vinha, Isaías 5 descreve o cuidado de Deus por Seus filhos: “Ele cavou a terra, tirou as pedras e plantou as melhores mudas de videira. No meio da vinha Ele construiu uma torre e fez também um lagar. Ele esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas. [...] Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu não lhe tenha feito?(Is 5:2, 4).

Deus, com Seu caráter amoroso, restringe-Se de destruir Seu povo. Por meio do profeta Oseias, contemporâneo de Isaías, o Senhor descreveu Sua angústia e agitação interior sobre a condição apostatada de Seus filhos: “Como poderia Eu abandoná-lo, Efraim? Como poderia entregá-lo, Israel? Como faria com você o que fiz com Admá? Como poderia fazer de você outra Zeboim? Meu coração se comove dentro de Mim; toda a Minha compaixão se manifesta” (Os 11:8). Deus fez outro esforço para trazer de volta a Si o Seu povo. Sua mensagem não deixou de declarar a Israel sua condição pecaminosa. Assim, Ele notavelmente continuou apelando para que retornassem a Ele. Por essa razão, Deus pronunciou: “o SENHOR é quem fala” (Is 1:2). Tendo em mente esse contexto, o estudo desta semana aborda três tópicos principais: (1) a declaração “o SENHOR é quem fala”; (2) o tema da nação pecaminosa; e (3) o convite: “Venham, pois, e vamos discutir a questão. [...] Se estiverem dispostos e Me ouvirem” (Is 1:18, 19).

Comentário

“O SENHOR é quem fala”

O texto de Isaías 1:1 indica que a visão diz respeito diretamente a Judá/Jerusalém. Contudo, ao usar a expressão “Escutem, ó céus, e ouça, ó Terra” (Is 1:2), Isaías sugere que a mensagem abrange uma audiência maior. Como leitores, precisamos estar em sintonia com o fato de que o público principal desse livro profético eram as pessoas da época de Judá. Ao mesmo tempo, também precisamos ter consciência de que o escopo da mensagem de Isaías se estende muito além do tempo e do local em que foi escrita e do público a quem se destinou originalmente.

Muitas vezes, Isaías usa expressões como “o SENHOR falou” ou outras frases análogas. As profecias no livro de Isaías são relevantes pois são mensagens ditas pelo Senhor, e esse ponto é enfatizado no primeiro capítulo do livro de várias formas: “O SENHOR é quem fala” (Is 1:2), “escutem a palavra do SENHOR” (Is 1:10), “O SENHOR diz” (Is 1:18), “a boca do SENHOR o disse” (Is 1:20), e “o Poderoso de Israel, diz” (Is 1:24, NVI). O autor quer deixar claro que as visões vêm do Senhor. Em outras palavras, existe uma visão porque Deus a revelou.

Como Deus é apresentado no livro? O assunto da mensagem é o Senhor, o destinatário imediato é o Seu povo na época em que Isaías a redigiu, com a clara implicação de que as mensagens incluem o povo de Deus através dos séculos, estendendo-se ao Seu remanescente no fim dos tempos. O Deus de Isaías é retratado de várias maneiras nesse capítulo. Ele é o Senhor, o Santo. Curiosamente, na primeira referência a Deus, o autor usa a expressão “YHWH” [Yahweh], que é a mais frequente em todo o livro. YHWH é o Deus imanente. O nome YHWH revela não apenas a existência eterna de Deus, mas também Seu relacionamento de aliança com Seu povo. No verso 10, Isaías apresenta Deus como “Elohim”, o Deus transcendente e Soberano do Universo. Às vezes, Isaías usa a combinação “o SENHOR Deus” (Is 61:1). Outra referência singular a Deus nesse capítulo é “o Santo de Israel” (Is 1:4), um título característico da escrita de Isaías (há 25 ocorrências).

Nação pecadora

Claramente, o livro de Isaías é sobre a situação do povo de Deus naquela época. Isaías recorda o cuidado amoroso do Senhor em favor de Seu povo: “Criei filhos e cuidei deles” (Is 1:2, NTLH). No entanto, Judá esqueceu o amor fiel de Deus, porque segundo o Senhor, “eles se revoltaram contra” Ele (Is 1:2). Como a experiência do pecado é expressa nessa seção? Existem vários termos hebraicos relacionados ao tema do pecado. Este estudo analisa de forma breve as principais palavras para pecado no primeiro capítulo.

Isaías 1:2 usa a expressão hebraica p??ša? para descrever um ato pecaminoso. Essa expressão é traduzida como “se revoltaram” na frase “eles se revoltaram contra Mim”. A palavra também tem a conotação de “rebelar-se”. Outros significados são “romper” ou ser desleal (Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament [Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento], v. 3. Leiden, Nova York e Colônia: E. J. Brill, 1996, p. 981). Em outras palavras, p??ša? descreve um relacionamento quebrado. Mesmo que, na maioria das vezes, p??ša? seja traduzido como um ato de rebeldia, esse ato é considerado um comportamento criminoso na Bíblia hebraica.

Outra palavra para pecado é ????? (Is 1:4), que, se unida à palavra “povo” pode ser traduzida por “nação pecaminosa”, como acontece na versão Almeida Revista e Atualizada. Neste caso, a palavra original é usada como verbo, e o seu significado básico é “errar o alvo”, “estar em falta, ofender (em conduta ou moral)”, “cometer um pecado” e “ser culpado” (William L. Holladay, A Concise Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament [Um Conciso Léxico de Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento]. Grand Rapids, MI: Eerdmans Publishing Company, 1988, p. 100). Judá é uma nação pecaminosa porque falhou no relacionamento de aliança com o Senhor; esse foi seu erro. Ofendeu o Senhor, portanto seus cidadãos são culpados diante Dele.

A sentença paralela à “nação pecaminosa”, que é a primeira de Isaías 1:4, é traduzida como “povo carregado de iniquidade”. A palavra hebraica traduzida como iniquidade é ??wôn. Esse substantivo descreve uma “atividade corrupta ou errada”, uma ofensa que pode ser consciente ou intencional (ibid., p. 268). Como na palavra anterior, ?????, ??wôn descreve um ato que não está correto.

A segunda parte de Isaías 1:4 descreve a condição dos filhos de Israel: eles são descritos como “filhos que praticam o mal” (“filhos corruptores”, ARA). A causa pode ser encontrada nas próximas linhas: “Rejeitaram o SENHOR, [...] voltaram para trás”. O pecado é descrito aqui como o ato de abandonar o Senhor, e provoca rebelião, mau comportamento, atos errados e culpa. Isaías 1:3 emprega uma descrição surpreendente para sintetizar esse último ponto em relação ao povo de Deus na época: “O boi conhece o seu dono, e o jumento, o lugar onde lhe dão comida, mas Israel não tem conhecimento, o Meu povo não entende” (Is 1:3). A situação de Israel é crítica, mesmo em termos de raciocínio lógico. No entanto, o Senhor tenta novamente buscar Seus filhos. Essa é a base de Sua afirmação: “Venham, pois, e vamos discutir a questão” (Is 1:18).

“Venham, pois, [...] se estiverem dispostos”

Tudo foi feito para que Israel se tornasse uma nação gloriosa. No entanto, naquele momento igualava-se apenas a Sodoma e Gomorra (Is 1:10). Mas o Senhor podia orquestrar o milagre necessário para reabilitá-los. Ele promete: “Voltarei a Minha mão contra você, Jerusalém, purificando-a da sua escória como se faz com potassa e tirando de você todo metal impuro” (Is 1:25).

O caminho para retornar a Deus começava com um apelo ao Seu povo para ver sua situação. Primeiro, a vida do povo estava corrompida pelo pecado. O Senhor afirma: “Toda a cabeça está doente, e todo o coração está enfermo. Desde a planta do pé até o alto da cabeça não há nada são” (Is 1:5, 6). O outro grande problema é a religião falsa. O ritualismo substituiu a adoração verdadeira (Is 1:11-14). Essas circunstâncias promoveram a injustiça entre o povo e trouxeram desolação ao país (Is 1:7, 17).

Depois de rogar que Seu povo reconhecesse sua condição, o Senhor pede: “Venham, pois, e vamos discutir a questão” (Is 1:18). A expressão “vamos discutir a questão” vem do verbo hebraico niw????â e implica a noção de uma disputa legal; ambos os litigantes, YHWH e o povo, podem discutir suas queixas. Também sugere a ideia de considerar-se certo (Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament [Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento, v. 1, p. 134). Em outras palavras, Deus chama Seu povo para se defender. Mas como isso pode ser possível para uma nação tão pecadora? O Senhor propõe a solução: “Ainda que os pecados de vocês sejam como o escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, eles se tornarão como a lã” (Is 1:18). Ou seja, o Deus que Isaías apresenta no primeiro capítulo de seu livro é o único que pode purificar e justificar Seu povo. Miqueias, outro profeta contemporâneo de Isaías, pergunta: “Quem é semelhante a Ti, ó Deus, que perdoas a iniquidade e Te esqueces da transgressão do remanescente da Tua herança” (Mq 7:18). Porém, esse presente de perdão pode ser aceito ou rejeitado. Assim, após a oferta em Isaías 1:18, o Senhor esclarece que uma nova vida só é possível “se estiverem dispostos” e ouvirem (Is 1:19). Assim, nesse contexto, a mensagem da parábola de Isaías 5 pode ser melhor compreendida: “E agora, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, julgai, peço que julguem entre Mim e a Minha vinha. Que mais se podia fazer à Minha vinha, que Eu não lhe tenha feito?” (Is 5:3, 4).

Aplicação para a vida

1. O primeiro tema abordado na lição desta semana está relacionado à Palavra de Deus revelada. Na Bíblia, temos “segura a palavra profética” (2Pe 1:19). Portanto, quando estudamos as Escrituras, estamos examinando não um livro comum, mas a Palavra de Deus revelada – aquilo que o Senhor falou.

• O que Ele falou por meio de Seus profetas ainda é relevante para você? Explique.

• Como a Bíblia determina sua identidade como seguidor de Deus?

• De acordo com sua leitura da Bíblia, quais características divinas mais o impressionam?

2. O segundo tema tratou da experiência pecaminosa de Israel, o povo de Deus. O pecado não é exclusivamente uma ação errada; também pode ser um pensamento, como resistir à autoridade do Senhor sobre nossa vida, ou um ato de rebelião interior. Israel enfrenta uma dupla ameaça do pecado: (1) o pecado que mergulha as pessoas nos piores atos de iniquidade; (2) o pecado que leva as pessoas a uma experiência religiosa formal que carece da graça salvadora. Assim, a religião deles é apenas uma religião de aparências – aparentemente viva por fora, mas morta por dentro.

• Como reconhecer que nossa experiência religiosa está caindo no formalismo?

3. Em relação ao perdão divino, Isaías apresenta Deus como Aquele que está interessado na restauração de Seu povo. O Senhor está disposto a nos perdoar e redimir, e o arrependimento faz parte desse processo (Is 1:27). Além disso, temos apenas duas opções: obedecer ou recusar a Sua voz (Is 1:19, 20). Seu convite não mudou ao longo dos tempos: “Venham, pois, e vamos discutir a questão” (Is 1:18).

• Você está disposto a permitir que Deus faça a obra de restauração em sua vida? Caso contrário, qual decisão você precisa tomar para que Deus transforme seu coração?


Evangelismo no posto

Durante uma viagem fria, no inverno, Alyona desejou regressar à Universidade Adventista de Zaoksky, quando o aquecedor do ônibus parou de funcionar. Os outros alunos do grupo musical desejaram a mesma coisa. Eles estavam cansados e não sabiam se conseguiriam consertar os aparelhos. O ônibus com dez pessoas estava há 12 horas de viagem de Zaoksky, Rússia, até Minsk, Bielorrússia.

Então, decidiram telefonar e pedir ajuda ao pai de Alyona. Ele estava na universidade e era muito competente em mecânica de veículos. Assim que recebeu a ligação, pediu que esperassem perto de um posto de combustíveis, para onde ele iria a fim de verificar o problema. A espera dos alunos durou quatro horas e, depois que ele chegou, esperaram mais duas horas enquanto ele consertava o ônibus. Durante aquele período, os estudantes conversaram com um homem grande e musculoso que trabalhava no posto. Ele era muito gentil e até lhes ofereceu chá.

Finalmente, o ônibus foi consertado e todos estavam prontos para voltar para a universidade. Os alunos entraram no veículo, agradeceram ao pai de Alyona pela assistência e continuaram a viagem até Minsk. Uma hora depois, Alyona sentiu um forte desejo para voltar ao posto de combustíveis. Ela queria entregar àquele homem um pendrive com o livro “O Grande Conflito”, de Ellen White. O pendrive era o instrumento que ela e seus amigos usavam para testemunhar de Jesus para as pessoas.

“Precisamos voltar ao posto”, ela anunciou. O grupo reclamou.
“Precisamos entregar o pendrive àquele homem”, Alyona insistiu.
“Sim, precisamos fazer isso”, disse um aluno, Nikita, “mas não voltaremos.”

Os alunos discutiram sobre o assunto durante dez minutos. Eles queriam entregar o pendrive ao homem, mas não parecia muito sábio voltar. Nikita era o mais irredutível em insistir na continuação da viagem até a Bielorrússia. Porém, de repente, ele mudou de opinião. “Precisamos voltar”, disse.

“Por quê?!”, todos exclamaram em uníssono.

Nikita parecia incomodado. “Esqueci meu celular no posto”, ele disse, inclinando a cabeça. O ônibus deu a volta. Todos a bordo ficaram felizes. Alyona era a mais feliz. Afinal, todos queriam testemunhar sobre Jesus para o funcionário do posto. Mas, Nikita se lembrou de que ele era grande e musculoso, e ponderou: “Talvez ele não queira aceitar o pendrive. Obviamente, ele não é cristão e vimos que estava fumando enquanto esperávamos o ônibus ficar pronto.”

Em seguida, os alunos discutiram se o funcionário aceitaria ou não o presente. Enquanto o ônibus se aproximava do posto, Alyona orou com o grupo: “Querido Jesus, por favor, abra o coração do funcionário para que ele aceite o pendrive e se interesse pelo conteúdo.” Enquanto o ônibus estacionava, o funcionário saiu do prédio, tendo na mão o celular de Nikita. Ele os esperava. Timidamente e se sentindo muito pequena, Alyona se aproximou dele, mostrando o pendrive para ele. “Por favor, aceite isso”, ela disse. “Somos cristãos e cremos em Jesus. Queremos lhe dar esse presente. Talvez ajude na sua vida.”

Todos os alunos olharam para o homem. Será que ele aceitaria o brinde?

Os lábios do homem abriram em um largo sorriso. O semblante respondeu positivamente, enquanto agradecia: “Muito obrigado! Com certeza olharei o conteúdo do pendrive.” Alyona não sabe se o homem cumpriu a promessa, mas isso não lhe preocupa. Convencê-lo a ler “O Grande Conflito” é trabalho do Espírito Santo. A responsabilidade dos estudantes era entregar o pendrive.

“Não existem motivos para ter medo de testemunhar de Jesus”, Alyona diz. “Nós subestimamos o poder do Espírito Santo. Ele é muito poderoso. As pessoas também são mais receptíveis que pensamos. Elas desejam conhecer Jesus.” A oferta desse trimestre ajudará a Escola Cristã Zaoksky, onde Alyona frequentou o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, a construir seu próprio prédio escolar no campus da Universidade Adventista de Zaoksky. Atualmente, a escola funciona em salas de aula da universidade. Sua oferta ajudará as crianças a se reunirem na própria sala de aula.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2021
Tema Geral: Isaías: consolo para o povo de Deus
Lição 1 – 26 de dezembro de 2020 a 2 de janeiro de 2021

Crise de identidade

Autor: Sérgio Monteiro
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega e Rosemara Santos

Mesmo sendo conhecido como o grande profeta messiânico, Isaías tem sido pouco estudado. De fato, à parte do capítulo 53, poucos capítulos do seu livro são realmente conhecidos do leitor cotidiano das Escrituras. A lição deste novo trimestre endereça esse problema entre nós adventistas, direcionando-nos no estudo desse profeta. Nesta semana, nosso guia de estudos nos direciona no estudo do capítulo 1, no qual encontramos delineadas as razões do ministério de Isaías.

Perda de identidade

Os primeiros capítulos de Isaías vão rapidamente para a descrição da situação do povo de Israel. O diagnóstico apresentado por Deus é simples e direto: o povo perdera a identidade. Estava perdido em si mesmo e em seus pecados. Utilizando uma linguagem franca e direta, Deus afirma que Israel havia se distanciado dos caminhos que Ele lhes havia proposto, de tal maneira que todos os seus atos estavam maculados por pecados (Is 1:3).

O estado moral de decadência de Israel é descrito de forma poderosa através de uma progressão de expressões hebraicas que vão do “errar o alvo” (chattat), indicativo de pecados por ignorância, até a impressionante declaração de que “deram as costas” (‘achor) ao Santo de Israel e a Ele abandonaram (zor). Nesse caminho, cometeram iniquidades (‘am kevedawon: povo pesado em iniquidade), tornaram o mal a sua marca genética (zera mer’eim: semente do mal) e tinham o desejo de destruir o seu legado (banim mesehchitim: filhos que desejam a destruição).

Cada uma das ações acima buscava remeter o povo a um aspecto específico de sua história com o Eterno, no contexto de seu surgimento como nação criada por Deus. Aliás, essa é a tônica do Livro de Isaías. De fato, esse o objetivo final de todos os profetas e o foco do ministério profético. O profeta não é alguém com um diário do futuro. Ele é um mensageiro da aliança que denuncia o estado atual do povo, em relação à aliança do passado, com vistas ao futuro, que é a manutenção da nação, por sua fidelidade e retorno.

Ao denunciar o estado presente, o profeta, como instrumento de Deus aponta, sempre, ao passado mais do que ao futuro. Deus acentua essa ideia ao utilizar uma linguagem que remonta à criação (“Céus e Terra”) e à comparação com animais que em sua história de vida dependem de seu possuidor. O objetivo é trazer a Israel a lembrança de que sua existência é um ato da vontade de Deus e de Sua graça. De fato, essa linguagem remonta a Deuteronômio 26:5, conhecido como “pequena declaração de fé de Israel”, na qual a existência da nação deveria ser anualmente celebrada como ato de Deus.

O esquecimento dessa verdade é resultado dos atos descritos na acusação de Deus. Os múltiplos crimes de Israel resultaram de um esquecimento de quem eram, de onde vieram e a quem pertenciam: haviam perdido sua identidade.

Ritualismo

Estavam demasiadamente confiantes nos rituais que faziam continuamente, nas festividades que celebravam como indicativos de que ainda estavam em comunhão com o Eterno. O ritualismo era, entretanto, vazio.  Faltava um elemento: kavaná ou intenção. Embora essa palavra hebraica não apareça em nosso texto, sua ideia está presente em todo o capítulo. Os sacrifícios não eram oferecidos na busca de perdão, mas como mero ritualismo. Isso é acentuado pelo fato de não haver menção às ofertas específicas para os pecados elencados nos versos anteriores, mas apenas menções gerais a holocaustosoloth) e ofertas de manjares (mincha), além de festas e tempos de reunião, como sábados, luas novas e festividades. O que transparece do texto não é a busca de perdão e aproximação de Deus, através dos sacrifícios, mas uma tentativa de se esconder por trás dos sacrifícios e da aparência de religiosidade.

Perdão

Com esse estado de falsa religião e completa futilidade ritualística, Deus contrasta o oferecimento do perdão, que deveria ser o objetivo primário dos sacrifícios e a celebração maior de cada festa.  Rituais não podiam purificar ninguém que não permitisse que Deus lhe purificasse o coração. Essa é a tônica do argumento do perdão!

A dinâmica do perdão envolve ação divina e ação humana. A ação divina está na causa do perdão, sendo a expressão da graça que traz esperança. Não há lugar demasiadamente distante para a graça. Da graça que transborda no perdão, o efeito é a ação humana em reformar sua vida e transformar suas ações, colocando-as em conformidade com os ditames da aliança com o Deus da graça.

A aliança é uma aliança de graça, mas com requisitos muito claros. Viver por eles é a diferença entre morte e maldição. Nas palavras de Deuteronômio 30, cada ação de Israel deveria ser medida pela sua adequação ou não à aliança, e o resultado seria a benção da terra, promessa repetida em Isaías 1:19, ou a maldição do desterro e exílio. Não pode ser relevado o fato de a aliança de Deus, contrária às alianças hititas e de outros povos antigos, não terminar com a morte, mas com o exílio. Isso se deve justamente à graça, elemento inexistente nas alianças humanas. A graça é o meio pelo qual Deus busca ainda alcançar o seu povo, que vive. Aos mortos não há oportunidade, mas aos exilados sim. O objetivo de Deus na aliança é, portanto, vida, mesmo nas maldições e advertências. E isso é perdão.

Essa aliança é descrita no capítulo 5 de Isaías, como uma cerca de proteção posta pelo Cultivador ao redor de Sua vinha. A figura é impressiva e clara: Deus criou Israel, o alimentou e o fez crescer, como declarado em Deuteronômio 32, bem como em Isaías 1 e Oseias 11. Pôs ao redor de Sua vinha a cerca da identificação e proteção, que é a aliança, expressando Sua vontade, Suas leis e os princípios de Seu reino, mas a vinha não dava frutos bons, apenas uvas bravas. Por isso, Deus, o Cultivador, iria agir. Sua ação, entretanto, não seria arrancar a vinha, mas retirar a cerca, ou seja, a aliança que protegia e identificava. Por que Deus não a destrói simplesmente? A aliança provê resposta. A graça de Deus na aliança buscava educar e trazer para perto, não destruir e afastar. Por isso, vivos, ainda que machucados e desterrados, os habitantes de Judá e de Israel ainda poderiam ser alcançados pela graça de Deus manifesta na aliança.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O Pr. Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É Bacharel em Teologia, Mestre em Teologia Bíblica cursa doutorado em Bíblia Hebraica. É Pastor na Escola do Pensar e no Instituto de Estudos Judaicos  Feodor Meyer. É membro da Adventist Theological Society, International  Association for the Old Testament Studies e Associação dos Biblistas Brasileiros.