Lição 2
02 a 08 de janeiro
Crise de liderança
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Gn 4-7
Verso para memorizar: “No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de Suas vestes enchiam o templo” (Is 6:1).
Leituras da semana: Is 6

Ao ser questionado por um de seus discípulos acerca do que era necessário a um bom governo, Confúcio respondeu: “Comida suficiente, armas suficientes e a confiança do povo”.

“‘Mas’, perguntou o discípulo, ‘imagine que você não tenha escolha senão dispensar um desses três, ao que você renunciaria?’”

“Armas”, disse Confúcio.

O discípulo dele insistiu: “Imagine então que você fosse forçado a dispensar um dos dois que restaram, qual seria sua renúncia?”

Confúcio respondeu: “Comida, pois desde a antiguidade a fome tem sido a sina de todos os homens, mas um povo que não confia mais em seus governantes de fato está perdido” (Editado por Michael P. Green, 1500 Illustrations for Biblical Preaching; Grand Rapids, MI: Baker Books, 1989, p. 215).

As pessoas querem uma liderança forte e confiável. Quando um soldado estava se inscrevendo para um segundo período de serviço militar, o recrutador do exército perguntou por que ele queria se alistar novamente. “Tentei a vida civil”, disse ele, “mas ninguém está no comando ali”.

Nesta semana, examinaremos a crise de liderança de Judá e os tristes resultados que se seguiram.



Domingo, 03 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 8-11
O rei está morto. Vida longa ao rei!

1. Isaías 6:1 fala sobre a morte do rei Uzias. De acordo com 2 Crônicas 26, qual é o significado da morte dele?

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Diferentes perspectivas podem ser apresentadas em relação à morte desse rei:

1. Embora o reinado de Uzias tenha sido longo e próspero, “depois que Uzias se tornou poderoso, o seu orgulho provocou a sua queda” (2Cr 26:16, NVI), e ele tentou oferecer incenso no templo. Quando os sacerdotes tentaram impedi-lo, pois ele não tinha autorização para fazer isso, em virtude de não ser descendente de Arão (2Cr 26:18), o rei ficou irado. Naquele momento, o Senhor imediatamente o atingiu com lepra, que ele teve “até ao dia da sua morte; e morou, por ser leproso, numa casa separada, porque foi excluído da Casa do Senhor” (2Cr 26:21). Que ironia Isaías ter tido uma visão do puro, imortal e divino Rei em Sua casa/templo no mesmo ano em que o impuro rei humano havia morrido!

2. Há um contraste marcante entre Uzias e Isaías. Uzias buscou a santidade com presunção, pelo motivo errado (orgulho) e, em vez disso, ­tornou-se ritualmente impuro, de modo que foi separado da santidade. Isaías, por outro lado, permitiu que a santidade de Deus o alcançasse. Admitiu sua fraqueza e ansiava pela pureza moral, o que acabou recebendo (Is 6:5-7). Como o coletor de impostos na parábola de Jesus, ele foi embora justificado: “Porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado” (Lc 18:14).

3. Há uma semelhança impressionante entre o corpo leproso de Uzias e a condição moral do povo: “Não há nada são, a não ser feridas, contusões e chagas abertas” (Is 1:6).

4. A morte de Uzias, aproximadamente em 740 a.C., marca uma grande crise na liderança do povo de Deus. A morte de qualquer governante absoluto já torna seu país vulnerável durante uma transição de poder. Mas Judá estava especialmente em perigo, pois Tiglate-Pileser III havia subido ao trono da Assíria alguns anos antes, em 745 a.C., e imediatamente entrou numa campanha militar que fez de sua nação uma superpotência invencível, ameaçando a existência independente de todas as nações do Oriente Próximo. Naquele momento de crise, Deus encorajou Isaías, mostrando ao profeta que Ele ainda estava no controle.

Leia com atenção 2 Crônicas 26:16. De que maneira podemos cair na mesma armadilha? Como a meditação sobre o sacrifício de Jesus na cruz nos protege desse engano?


Segunda-feira, 04 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 12-15
Santo, Santo, Santo (Is 6:1-4)

Observe Isaías 6:1-4. O rei tinha morrido durante uma grande crise política (os assírios estavam entrando em guerra). Para Isaías, aquele poderia ter sido um momento de medo, em que ele não tivesse certeza de quem estava no controle.

Entretanto, ao ser tomado em visão, Isaías contemplou a glória de Deus em Seu trono, ouviu a antífona dos serafins resplandecentes (“abrasadores”), clamando as palavras “santo, santo, santo”, sentiu o resultante abalo sísmico do chão abaixo dele e olhou através da fumaça rodopiante à medida que ela enchia o templo. Deve ter sido uma experiência impressionante! Com certeza, Isaías agora sabia quem estava no controle, apesar dos eventos externos.

2. Onde estava o Senhor na visão? (Is 6:1.) Por que Ele apareceu a Isaías ali, e não em outro lugar? (Êx 25:8; 40:34-38). Assinale a alternativa correta:

A.( ) Ele estava passeando pela Terra, pois esta era Sua criação.
B.( ) Ele estava no alto e sublime trono no templo, em Sua habitação.

Ezequiel, Daniel e João estavam no exílio quando receberam suas respectivas visões (Ez 1; Dn 7:9, 10; Ap 4; 5). Como Isaías, eles precisaram do consolo e encorajamento de saber que Deus ainda estava no comando, mesmo que seu mundo estivesse desmoronando. Daniel e Ezequiel eram cativos em uma nação pagã que havia destruído sua terra, e João foi exilado em uma ilha deserta por um poder político hostil. Evidentemente, essas visões lhes deram o que eles precisavam para permanecer fiéis, mesmo durante situações de crise.

“Quando Isaías contemplou essa revelação da glória e majestade de seu Senhor, sentiu-se oprimido com o senso da pureza e santidade de Deus. Que contraste entre a incomparável perfeição de seu Criador e a conduta pecaminosa dos que, como ele, faziam parte do povo escolhido de Israel e Judá!” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 307).

A santidade transcendente de Deus, enfatizada na visão de Isaías, é um aspecto fundamental de sua mensagem. Deus é santo e exige santidade de Seu povo. O Senhor concederia essa santidade ao povo se ele apenas se arrependesse, deixasse seus maus caminhos e se submetesse a Ele em fé e obediência.

Todos já estivemos em situações em que tudo parecia perdido. Mesmo que você não tenha tido uma visão da “glória do Senhor”, a exemplo de Isaías, de que maneira o Senhor sustentou sua fé durante essa crise? Que lição você extraiu dessa experiência?


Terça-feira, 05 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 16-19
Uma nova pessoa (Is 6:5-7)

No santuário/templo, somente o sumo sacerdote podia se aproximar de Deus no santo dos santos, no Dia da Expiação, e com uma protetora nuvem de incenso; caso contrário, ele morreria (Lv 16:2, 12, 13). Isaías viu o Senhor, embora não fosse sumo sacerdote, nem estivesse queimando incenso! O templo “se encheu de fumaça” (Is 6:4), lembrando-nos da nuvem na qual a glória de Deus aparecia no Dia da Expiação (Lv 16:2). Aterrorizado e pensando que aquele seria seu fim (Êx 33:20; Jz 6:22, 23), Isaías clamou, reconhecendo seu pecado e o pecado de seu povo (Is 6:5), o que lembra a confissão do sumo sacerdote no Dia da Expiação (Lv 16:21). “Em pé [...] na [...] divina presença no interior do santuário, ele sentiu que, se dependesse de sua própria imperfeição e ineficiência, seria inteiramente incapaz de executar a missão para a qual havia sido chamado” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 308).

3. Por que o serafim usou uma brasa viva do altar para purificar os lábios de Isaías? (Is 6:6, 7). Assinale a alternativa correta:

A.(  ) Porque o fogo simboliza o poder de Deus que queima o pecado.
B.(  ) Para torturá-lo e castigá-lo.

O serafim explicou que, quando a brasa tocou os lábios do profeta, a ­culpa e o pecado dele foram removidos (Is 6:7). O pecado não estava limitado ao discurso impróprio, porque os lábios significam não apenas a fala, mas a pessoa que a pronuncia. Purificado, Isaías podia oferecer um puro louvor a Deus.

O fogo é um agente de purificação, pois queima a impureza (Nm 31:23). Mas o serafim usou uma brasa do fogo sagrado e especial do altar, que Deus havia acendido e que era mantido em permanente combustão ali (Lv 6:12). Portanto, o serafim tornou Isaías puro e santo. Além disso, na adoração no santuário ou templo, a principal razão para se tirar uma brasa do altar era acender o incenso. Compare essa ocasião com Levítico 16:12, 13, em que o sumo sacerdote devia tomar um incensário cheio de brasas do altar e usá-lo para acender incenso. Porém, em Isaías 6, o serafim utilizou a brasa no próprio profeta, em vez de no incenso. Enquanto Uzias desejava oferecer incenso, Isaías se tornou um incenso! Assim como o fogo santo queimava o incenso para encher a casa de Deus com a fragrância sagrada, esse fogo inflamou o profeta para espalhar uma mensagem santa. Não é por acaso que nos próximos versos, de Isaías 6:8 em diante, Deus tenha enviado Isaías ao Seu povo.

Qual foi a resposta de Isaías à visão (Is 6:5)? O povo pecador foi criado por um Deus santo (Is 6:3). Por que o Cristo crucificado foi a única resposta para esse problema?


Quarta-feira, 06 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 20-22
Comissão real (Is 6:8)

Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: – A quem enviarei, e quem há de ir por Nós? Eu respondi: – Eis-me aqui, envia-me a mim” (Is 6:8).

Após ter sido purificado, Isaías aceitou imediatamente o chamado de Deus para ser um representante a quem Ele pudesse enviar em Seu nome. Na linguagem do Novo Testamento, Isaías teria sido chamado de apóstolo; isto é, “aquele que é enviado”.

Curiosamente, o livro de Isaías não começa, como outros livros proféticos, com a descrição de seu chamado profético (Jr 1:4-10; Ez 1–3). Em outras palavras, ele já devia ter sido chamado para ser profeta, mesmo antes dos eventos do capítulo 6. A Bíblia mostra que um encontro divino pode encorajar um profeta mesmo após o início de seu ministério (Moisés: Êx 34; Elias: 1Rs 19). Além disso, em contraste com outros exemplos, em que Deus ordenou a outras pessoas que atuassem como profetas, em Isaías 6, o profeta se ofereceu para uma missão especial. Parece que os capítulos 1 a 5 de Isaías apresentam as condições em que o profeta havia sido chamado pela primeira vez, após as quais Deus avivou seu ministério, ao ­encorajá-lo no templo e reconfirmar sua comissão como porta-voz do Senhor.

4. Deus encorajou Isaías em Seu templo. Há evidências em outras partes da Bíblia de que o santuário de Deus era um local de encorajamento? (Sl 73:17; Hb 4:14-16; 10:19-23; Ap 5). O que esses textos revelam?

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O santuário de Deus não apenas vibra com um poder impressionante; é um local em que pessoas fracas e defeituosas, como nós, podem encontrar refúgio. Podemos ficar tranquilos ao saber que Deus está trabalhando para nos resgatar por meio de Cristo, nosso Sumo Sacerdote.

João também viu Cristo representado como um cordeiro sacrifical que tinha acabado de ser abatido, com a garganta cortada (Ap 5:6). Não era uma visão bonita. A descrição sustenta que, embora Cristo tenha ressuscitado e subido ao Céu, Ele leva continuamente consigo o evento da cruz. Ele ainda é levantado a fim de atrair todas as pessoas para Si em Seu altar.

Temos encontrado encorajamento no templo celestial pela fé, em oração? Hebreus 4:16 nos convida a nos achegarmos ao trono de Deus com ousadia, “a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna”. Se alguém perguntasse como temos encontrado graça e misericórdia nos momentos de necessidade, o que responderíamos?


Quinta-feira, 07 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 23-25
Apelo espantoso (Is 6:9-13)

5. Quando Deus enviou novamente Isaías, por que Ele deu ao profeta uma mensagem tão estranha para levar ao Seu povo? Is 6:9, 10

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Para não pensarmos que Isaías tivesse ouvido errado ou que essa mensagem não fosse importante, Jesus citou essa passagem para explicar por que Ele ensinava por meio de parábolas (Mt 13:13-15).

Deus não deseja que ninguém pereça (2Pe 3:9). Por isso, Ele enviou Isaías ao povo de Judá e Jesus ao mundo. Deus não quer destruir, mas salvar. Mas enquanto alguns atendem a Seus apelos, outros se tornam resistentes. Entretanto, Deus continua apelando a eles, a fim de conceder-lhes oportunidades de arrependimento. Contudo, quanto mais eles resistem, mais endurecidos se tornam. Assim, o que Deus lhes faz resulta no endurecimento do coração deles, mesmo que o Senhor deseje que essas ações o amoleçam. O amor de Deus é imutável; nossa resposta individual ao Seu amor é a variável crucial.

A função de um ministro, como Moisés, Isaías, Jeremias, Ezequiel ou mesmo Cristo, é apelar, mesmo que as pessoas rejeitem a mensagem. Deus disse a Ezequiel: “Eles, quer ouçam quer deixem de ouvir, porque são casa rebelde, saberão que um profeta esteve no meio deles” (Ez 2:5). A função de Deus e a de Seus servos é oferecer às pessoas uma escolha justa, a fim de
que elas sejam advertidas adequadamente (compare com Ez 3:16-21), mesmo que acabem escolhendo a destruição e o exílio (Is 6:11-13).

6. Com essa ideia em mente, como entendemos a função de Deus no endurecimento do coração do Faraó?

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Em Êxodo 4:21, Deus disse: “Eu lhe endurecerei o coração”. Essa é a primeira das nove ocasiões em que Deus disse que endureceria o coração do faraó. Mas também há nove ocasiões em que o faraó endureceu seu próprio coração (por exemplo, Êx 8:15, 32; 9:34).

Faraó possuía livre-arbítrio, ou ele não seria capaz de endurecer o próprio coração. Mas o fato de que Deus também endureceu o coração de faraó indica que Ele iniciou as circunstâncias às quais Faraó reagiu, ao fazer sua escolha de rejeitar os sinais divinos. Se o faraó tivesse sido receptivo a esses sinais, eles teriam amolecido, e não endurecido, seu coração.

Você já sentiu seu coração sendo endurecido ao Espírito Santo? O que causou esse endurecimento? Você achou isso assustador na ocasião? Qual é a saída? (1Co 10:13).


Sexta-feira, 08 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 26, 27
Estudo adicional

Práticas iníquas tinham se tornado tão predominantes entre todas as classes que os poucos que permaneciam fiéis a Deus eram muitas vezes tentados a perder o ânimo, dando lugar ao desencorajamento e desespero. Parecia que o plano de Deus para Israel estava à beira do fracasso total, e a nação rebelde fosse receber o mesmo destino de Sodoma e Gomorra.

“Diante de tais condições, não é de admirar que Isaías tenha hesitado em assumir a responsabilidade, quando Deus o chamou, durante o último ano do reinado de Uzias, para levar a Judá as mensagens de advertência e reprovação. Ele sabia muito bem que encontraria uma obstinada resistência. Considerando a própria incapacidade para enfrentar a situação e levando em conta a rebeldia e incredulidade do povo pelo qual ia trabalhar, sua tarefa pareceu-lhe impossível de ser realizada. Deveria ele em desespero renunciar à sua missão, deixando Judá entregue à idolatria? Deveriam os deuses de Nínive reger a Terra, desafiando o Deus do Céu?” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 306, 307).

Perguntas para consideração

1. Se um cético ou ateu o desafiasse com a pergunta: “Como você pode provar que seu Deus está no comando?”, o que você responderia?

2. Se Deus está no comando, por que pessoas inocentes sofrem? Será que Isaías 1:19, 20 significa que apenas coisas boas acontecerão aos fiéis e somente coisas ruins ocorrerão aos rebeldes? (Jó 1; 2; Sl 37; 73). Como podemos conciliar nossa compreensão do caráter de Deus com o mal que acontece às pessoas?

3. Em Isaías 6, por que existem tantas conexões com o Dia da Expiação? Considere o fato de que nesse dia de juízo anual Deus limpava Seu povo, purificando do pecado os fiéis (Lv 16:30) e eliminando os infiéis
(Lv 23:29, 30).

Resumo: Em um momento de insegurança, quando a fraqueza da liderança humana era dolorosamente evidente, Isaías recebeu uma grandiosa visão do Líder supremo do Universo. Paralisado pela própria inadequação, mas purificado e fortalecido pela misericórdia de Deus, Isaías estava pronto para ir, como embaixador do Eterno, a um mundo hostil.

Respostas e atividades da semana: 1. A morte de Uzias simbolizava o resultado da impureza e rebeldia do povo. Ele havia sido um rei bom, reto e justo perante o Senhor. Porém, no fim da vida, tornou-se orgulhoso e recebeu um castigo de Deus. 2. B. 3. A. 4. Sim. Os textos revelam que o santuário era um local em que os fracos encontravam graça e misericórdia. 5. Porque Ele sabia que alguns resistiriam à mensagem e endureceriam o coração, fazendo com o que o povo não fosse curado. 6. Ao afirmar que Deus “endureceu” o coração de Faraó, Moisés quis dizer que Deus iniciou as circunstâncias pelas quais Ele sabia que Faraó endureceria seu próprio coração.



Resumo da Lição 2
Crise de liderança

Foco do estudo: Isaías 6

ESBOÇO

O foco do nosso estudo nesta semana é Isaías 6, particularmente os três primeiros versos. O primeiro deles menciona que Isaías teve uma visão do “Senhor assentado sobre um alto e sublime trono” e que a visão ocorreu “no ano da morte do rei Uzias”. Portanto, a visão poder ser datada aproximadamente entre 740 e 739 a.C. Por que o profeta se refere à morte do rei? É uma referência histórica simples? Isaías, ao aludir ao famoso monarca, quer contrastar o rei humano com o majestoso e glorioso Rei do Universo. Entre outros atributos, a santidade é uma das principais características do anfitrião soberano. Este estudo está dividido em três seções: (1) Esplendor humano, (2) Rei Supremo e (3) Nosso santo e glorioso Senhor.

COMENTÁRIO

Esplendor humano

Alguns estudiosos sugerem que a visão do capítulo 6 de Isaías serve como uma unidade de ligação entre os capítulos anteriores (1–5) e o restante do livro. Por exemplo, Edward J. Young mantém a ideia de que, nos cinco primeiros capítulos do seu livro, o profeta apresenta o núcleo de sua mensagem e, em seguida, relata seu chamado profético (Edward J. Young, The Book of Isaiah: The English Text, With Introduction, Exposition, and Notes [O Livro de Isaías: O Texto em Inglês, com Introdução, Explicação e Notas]. Grand Rapids, MI: Eerdmans Publishing Company, 1985, v. 1, p. 233).

O segundo livro de Crônicas nos oferece um esboço do reinado do rei cuja morte é mencionada em Isaías 6. O capítulo 26 de Segundo Crônicas destaca amplamente a gloriosa carreira de Uzias durante seu reinado de 52 anos sobre Judá (2Cr 26:3). Entre outras realizações e características notáveis, o currículo do rei inclui: habilidade como estrategista militar e a consequente expansão de territórios (2Cr 26:6, 7), formação de um exército bem equipado (2Cr 26:11-14), invenção de tecnologia militar (2Cr 26:15) e prosperidade material em seu território (2Cr 26:9, 10). Tudo isso trouxe ao rei gloriosa fama (2Cr 26:15). Contudo, o mesmo registro acrescenta um detalhe sombrio e pernicioso sobre a vida do monarca: “Mas, depois que Uzias se tornou poderoso, o coração dele se exaltou para a sua própria ruína. Ele cometeu uma transgressão contra o Senhor, seu Deus, pois entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar do incenso” (2Cr 26:16). Obviamente, os sacerdotes se opuseram à intenção do rei. Eles o alertaram que não era sua função oferecer incenso e lhe disseram: “Saia do santuário, porque você cometeu uma transgressão e isso não lhe trará honra da parte do SENHOR Deus” (2Cr 26:18). A Bíblia Almeida Revista e Atualizada traduz a expressão hebraica ???ô? como “honra”. Uma tradução comum é “glória”. Portanto, em vez de glória (???ô?), o rei terá lepra (??ra?a?) até sua morte.

Ellen G. White escreveu: “Uzias ficou furioso pelo fato de ser repreendido dessa forma, sendo ele o rei. Mas não lhe foi permitido profanar o santuário contra os protestos conjuntos dos que tinham autoridade. Enquanto ali estava, numa revolta causada pela ira, foi subitamente ferido pelo juízo divino. Em sua testa apareceu a lepra. Apavorado, deixou o recinto do templo para nunca mais ali entrar. Até o dia de sua morte, alguns anos mais tarde, Uzias ficou leproso – um exemplo vivo da insensatez de abandonar um claro ‘Assim diz o Senhor’. Nem sua exaltada posição nem sua longa vida de serviço poderiam ser invocadas como desculpa pelo presunçoso pecado com que manchou os últimos anos de seu reinado, atraindo sobre si o juízo do Céu” (Profetas e Reis, p. 304).

Desse modo, referir-se à morte de Uzias, como faz Isaías no capítulo 6, é evocar um rei próspero e glorioso, talvez superado apenas pelos dois últimos reis da monarquia unida. No entanto, a glória de Uzias terminou em lepra e, portanto, em morte. Outro rei sentou-se no que outrora havia sido a sede de sua glória.

Rei Supremo

Em contraste com a experiência do famoso (porém inglório) rei Uzias, o profeta expressa a glória do Senhor em Isaías 6:1: “Vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono”. Vale a pena notar que todas as palavras que seguem “SENHOR” apontam para a posição exaltada de YHWH, Rei do Universo.

Isaías aqui usa a expressão “Senhor” (????n?y), deixando claro que ele se refere ao Soberano Governante. Esse detalhe ajuda a aprofundar o contraste entre o Senhor e o governante terrestre de Judá. O Senhor (ainda) está assentado em Seu trono; em outras palavras, Ele permanece estabelecido em Seu trono. Outros reis passaram, e passarão, mas o domínio do Rei do Universo “é domínio eterno, que não passará” (Dn 7:14). O autor enfatiza que o Senhor está assentado “e as abas de Suas vestes enchiam o templo” (Is 6:1), o que significa que a presença do Senhor impregna o templo. Além disso, os seres celestiais adoram perante Ele. Pode-se ver figura semelhante em Apocalipse 4:8: “E os quatro seres viventes, tendo cada um deles, respectivamente, seis asas, estavam cheios de olhos, ao redor e por dentro. Não tinham descanso, nem de dia nem de noite, proclamando: ‘Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir’”.

Nosso santo e glorioso Senhor

Isaías 6:3 registra que os serafins “clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos”. Parece que santidade é a expressão que os seres celestiais preferem usar para se referir ao Senhor. O que a santidade de Deus implica?

Para alguns estudiosos, a santidade de YHWH representa a essência oculta de Seu ser, Sua transcendência absoluta, a perfeição divina que O separa de Sua criação: uma distinção tanto em essência quanto em caráter – e Sua majestade moral.

Por outro lado, alguns pensam que, neste caso, santidade se refere à exclusividade de YHWH para Israel (Teófilo Correa, La Gloria del Señor en Isaías [A Glória do Senhor em Isaías]. Entre Rios, Argentina: Universidade Adventista del Plata, 2017, p. 123). Embora o elemento de distinção ou separação da santidade de Deus seja uma característica que não pode ser negada, pode-se argumentar que a palavra em hebraico expressa mais do que mera distinção.

Sobre esse assunto, temos o testemunho de línguas antigas. O termo equivalente para a palavra hebraica q??ôš (lê-se “qadoch”, santo) em acadiano é qad?šu, que significa “ser puro, brilhar”, entre outros significados (Jeremy Black, Andrew George e Nicholas Postgate, eds., “Qad?šu(m), A Concise Dictionary of Akkadian [Dicionário Conciso de Acadiano]. Wiesbaden: Harrassowitz Verlag, 2000, p. 282). À luz dessa percepção do testemunho extrabíblico, é possível inferir um elemento com o qual não há comparação devido à essência da natureza divina. Portanto, a expressão hebraica q??ôš, nesse caso, pode se referir à pureza, perfeição e glória oculta de YHWH. Em outras palavras, santidade é a essência do ser de Deus; mas essa essência não está completamente oculta porque é revelada, em parte, em Sua glória que enche toda a Terra. Q??ôš é paralelo a ???ô?. Enquanto o primeiro é a essência do ser de Deus, o segundo é a manifestação Dele. Da mesma forma, podemos deduzir que, quando Sua presença enche o templo, é Sua glória que enche a Terra. Tal é o impacto da santidade do Senhor que Isaías se vê “perdido”, porque, segundo sua descrição, ele é impuro. É claro o contraste entre ele (impuro) e o Deus limpo ou puro (santo).

Aplicação para a vida

Para reflexão: Fama e esplendor são ótimos atrativos para muitas pessoas. O rei Uzias é um exemplo perfeito de alguém que cobiça ambos. Sua intrusão no templo pode ser vista como uma atitude audaciosa, mas suas ações são contra a vontade divina revelada. Seu comportamento é um insulto a Deus e uma blasfêmia ao Seu santo serviço. Ellen G. White afirma que “o pecado que produziu tão desastrosos resultados para Uzias foi o da presunção. Em violação de um claro mandamento de Jeová, segundo o qual ninguém, exceto os descendentes de Arão, devia oficiar como sacerdote, o rei entrou no santuário ‘para queimar incenso no altar’” (Profetas e Reis, p. 304).

1. Se você desempenha uma função de liderança em sua igreja, pense sobre tudo o que isso implica. Com que fidelidade você lida com as coisas sagradas do Senhor?

2. No tempo de Isaías, os reis nem sempre andaram na luz do Senhor. Isaías 1:23 descreve os governantes de Israel: “Os seus príncipes são rebeldes”. Lembre-se de que os seres humanos, mais cedo ou mais tarde, morrerão e desaparecerão. O Senhor que governa para sempre está sentado em Seu trono e está no controle. O que significa o fato de Deus ser soberano? Por que devemos confiar em Seu domínio?

3. No início de seu ministério profético, Isaías recebeu uma visão da santidade do Senhor. Uma experiência semelhante aconteceu quando Moisés foi chamado em Horebe (Êx 3:5, 6). Por que a santidade não é apenas a característica importante da essência do Senhor, mas também o selo de Sua obra e a marca de Seus mensageiros?


Dom de línguas

Após ser curado de uma grave enfermidade, Anatoly prometeu a Deus tornar-se um pastor no Cazaquistão. Mas, não tinha esperança de entrar no seminário. Ele era de uma família pobre, morava em um vilarejo também muito pobre, e não condições financeiras para cumprir a promessa. Relutantemente, Anatoly se mudou para Rússia em busca de um emprego.

“Senhor, o que Tu queres de mim?”, orava diariamente. Enquanto orava, sentiu Deus responder: “Estude para ser tradutor e intérprete”. Anatoly deu uma risada. Ele não era bom aluno. Além disso, todos da familia trabalhavam como engenheiros. Ninguém sabia falar um idioma estrangeiro. Incapaz de se esquecer da ideia de fazer um curso de línguas, ele aproximou-se da mãe em Ushtobe, Cazaquistão, e disse: “Mãe, quero estudar para ser um intérprete.” A mãe ficou surpresa: “Filho, você só conhece o russo e cazaque”, ela respondeu. “Esse tipo de trabalho não é para você.”

O pensamento persistiu em sua mente e a mãe concordou em acompanhálo a Taldikurga, a cidade próxima, onde havia uma faculdade que oferecia curso de inglês. Anatoly falhou no exame de admissão e, triste, voltaram para casa. Mas não conseguiu se esquecer da ideia.

Certo dia, enquanto lia a Bíblia sob uma árvore percebeu, pela primeira vez, que a habilidade de falar várias línguas era um dom do Espírito Santo. Ele leu: “Pelo Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de conhecimento, pelo mesmo Espírito; a outro, fé, pelo mesmo Espírito; (...) a outro, variedade de línguas; e ainda a outro, interpretação de línguas” (1Co 12:8,10).

Anatoly inclinou a cabeça e orou: “Senhor, por favor me dê esse dom.” Um mês depois, enquanto caminhava pelos trilhos de uma ferrovia, encontrou um livro de um curso de inglês. Ao voltar para casa, abriu o livro e leu frases simples em inglês e russo. Após ler duas páginas, fechou o livro e refletiu sobre o que havia acabado de ler. E se lembrou de cada palavra em inglês. Admirado, repetiu mentalmente cada palavra. “Isso é impossível”, pensou. “Deve ser algum tipo de imaginação”. Abriu o livro e leu mais dez páginas. Fechou-o e deu para a mãe.

“Mãe, leia qualquer texto desse livro em russo”, disse. Ela leu várias frases e Anatoly traduziu para o inglês. Chocada, ele se perguntou se havia recebido o dom de línguas que pediu a Deus. Então, entrou em um curso de inglês da cidade e, em dois meses, alcançou o nível intermediário. Em seguida, foi trabalhar numa colheita de melancia. Com o dinheiro, comprou o primeiro notebook. Ele trabalhou mais um pouco e usou o pagamento para contratar a internet e comprar um celular. Com as novas aquisições, aprendeu inglês online.

No ano seguinte, Anatoly se matriculou na faculdade onde anteriormente havia sido reprovado no vestibular. Dessa vez, recebeu uma nota alta. O nível de seu inglês estava tão bom que a faculdade o enviou para uma competição nacional. O reitor da faculdade, que criticava Anatoly por não assistir às aulas de sábado, mudou de ideia ao ver o aluno ficar em segundo lugar e receber 200 dólares na competição nacional.

“Vá à igreja!”, o reitor disse. “Na verdade, quero acompanhar você.” E ele foi. Anatoly se formou com honra em dois idiomas: inglês e turco. Ele não parou no russo, cazaque, inglês e turco. Também aprendeu espanhol quando passou quatro meses na escola adventista no Quirguistão. Então, os líderes da igreja o enviaram para Argentina, a fim de aprimorar o espanhol, e lá aprendeu a língua portuguesa. Quando ele voltou, trabalhou como intérprete e professor de idiomas para a Igreja Adventista no Cazaquistão durante três anos. Então, seu sonho se tornou realidade. Nove anos após de prometer a Deus servir como pastor, ele foi enviado à Universidade Adventista de Zaoksky. 

Anatoly acredita piamente que o dom de línguas e outros dons do Espírito não estão disponíveis somente à igreja primitiva de Atos. “Deus é o mesmo hoje e ontem”, diz. “Se pedimos por Seus dons, Ele nos responderá. Por que não temos os dons do Espírito? Simplesmente porque não pedimos.”

Certa vez, um amigo disse que nunca recebera um dom do Espírito. Anatoly perguntou se ele nunca havia pedido. “Não, nunca pedi”, foi a resposta. Anatoly planeja retornar ao Cazaquistão e servir a Deus como pastor depois da graduação. “Imagine, um rapaz pobre cazaque falando tantos idiomas”, ele diz. “Deus é grande!”

Parte da oferta do trimestre ajudará a Escola Cristã de Zaoksky construir suas próprias instalações na Universidade Adventista de Zaoksky. Muito obrigado pelas generosas ofertas.

Dicas da história
• Localizar Zaoksky, Rússia, no mapa. Ela está localizada ao sul de Moscou. Também mostre Cazaquistão, Quirguistão e Argentina.
• Faça o download das fotos no Facebook (bit.ly/fb-mq).
• Para mais informações missionarias e outras notícias da Divisão Euroasiática acesse o site: bit.ly/2021-ESD.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2021
Tema Geral: Isaías: consolo para o povo de Deus
Lição 2 – 2 a 9 de janeiro de 2021

Crise de liderança

Autor: Sérgio Monteiro
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega e Rosemara Santos

Nesta semana estudaremos de forma mais detida o chamado de Isaías, seu contexto e significado.

É interessante que a descrição do chamado de Isaías é posterior à mensagem de acusação feita por Deus nos primeiros capítulos e à descrição da primeira visão do profeta. Alguns estudiosos propuseram que esse foi um segundo chamado, após o primeiro apresentado no capítulo 2. Enquanto outros entendem que a descrição do capítulo 6 está fora de lugar. Para os efeitos práticos de compreensão do livro, essa questão não tem relevância.

Isaías 6 inicia com a declaração de quando a visão ocorreu, o que nos permite localizar historicamente seu contexto. Uzias teve um reinado próspero que durou 52 anos porque fez o que era reto diante do Eterno (2Rs 15). Uzias foi bem-sucedido como administrador e rei, conseguindo expandir seu reino e aumentar seu poder. E seu poder foi sua fraqueza. Ele tentou usurpar a função do sacerdócio. Não resta dúvida de que havia, portanto, disputa de poder entre o palácio e o templo. É preciso lembrar que, de acordo com a teologia do antigo Israel, o Rei era considerado um ungido do Eterno, sendo por Ele adotado (veja, por exemplo, os Salmos 2 e 110, que falam dessa adoção. Cf. Roland Devaux, Instituições de Israel; Vida Nova, São Paulo, 2004, p. 137-141). Não seria, portanto, difícil que algum rei pretendesse ser maior que o sacerdócio. E isso ocorreu com Uzias.

Como resultado de seu orgulho, ele pretendeu oficiar no tabernáculo, sendo acometido por lepra, ou tsara, que se refere a um amplo espectro de enfermidades de pele. A tradição judaica tem entendido que a tsarat é uma punição direta por pecados relacionados a lashon hará, ou o uso irresponsável da palavra, seja por dizer mentiras, fofocas, ou palavras de ira e orgulho (veja Maimônides, Hilchot Tzara’at), que podem corroer sua alma, sua essência. E foi exatamente isso o que aconteceu com Uzias. A sua liderança foi sendo corroída por seu desejo de fazer o que não lhe era lícito fazer e sua ira o levou a ser punido.

O texto de 2 Crônicas afirma que a lepra apareceu em sua testa, ou sua fronte, utilizando o mesmo termo hebraico que indicava o local onde a inscrição de santidade ao Eterno deveria ser posta na fronte de Arão (Ex 28:36-38). Isso indica precisamente a natureza divina da punição e a natureza exata de sua falha: inveja associada com orgulho. Ele se tornou impuro ritual e externamente, mas possuía uma natureza e um coração corroídos, em contraste acentuado com Isaías, que, diante do Rei dos Céus, que estava em atitude de condenação contra Uzias, tendo os Céus como trono e o santuário como estrado (conforme entende Rashi, em seu comentário sobre Isaías 6: https://www.chabad.org/library/bible_cdo/aid/15937/showrashi/true/jewish/Chapter-6.htm), se declara pecador e se humilha.

Ao contemplar o Todo-Poderoso, de forma triúna (compare com João 12:40-42 e Atos 28:25), Isaías foi tomado pela certeza de que seus pecados causariam sua imediata destruição. Toda a cena do capítulo 6:1-9 é construída no intuito de apresentar a diferença essencial entre Deus e a criatura e, por isso, é descrita de forma magnífica, com superlativos.

Deus é visto não apenas em um trono, mas em um alto e elevado trono. O primeiro termo ram parece indicar a medida de altura do trono, e o segundo, nise, sua posição. Deus não apenas se assentava em um trono alto, mas em um trono que era mantido em elevada posição, muito além do próprio templo de Jerusalém, indicando, provavelmente, o templo celestial.  Diante Dele estavam serafins, anjos com seis asas: com duas eles cobriam o rosto, em atitude de modéstia, com duas cobriam os pés, e com duas voavam.

Do outro lado dessa cena sublime e espantosa, estava o mortal Isaías, habitante de Israel, que havia sido denunciado nos capítulos anteriores como nação pecadora e cheia de iniquidades, cujo rei e os líderes estavam falhando na função de exercer a liderança dada por Deus, e cujo povo simples falhava em manter-se fiel à aliança de Deus.  A morte era o resultado esperado, mas, pelo arrependimento e confissão, o perdão foi alcançado e o chamado dado.

Em seu livro A Survey of the Old Testament (Abingdon Press, Nashville-TN,1957), p. 241, de maneira perspicaz Willian W. Sloan resumiu a experiência do chamado de Isaías como um modelo do verdadeiro chamado:

1. Temor de Deus: tudo começa com o medo absoluto de um Deus absoluto;

2. Senso da pecaminosidade: a santidade põe a descoberto os pecados;

3. Reconhecimento do perdão: a graça lança os pecados no mar;

4. Chamado: então ouvimos a voz que nos chama;

5. Aceitação: a única resposta é “envia-me a mim”.

Nenhuma verdadeira adoração e serviço pode excluir esses elementos, quando o objetivo é Deus e não o homem. O temor de Deus, entendido como medo absoluto, prepara o mensageiro para não temer os homens a quem a mensagem, geralmente indigesta, deve ser dada. Ao entender que é pecador, mas ainda está vivo, a graça se torna viva e o poder do perdão é mais vívido. Esse perdão é, então, preparatório para o chamado à missão. Por isso, ele não pode ser apenas uma declaração, mas envolve uma dotação de poder. Ele vem com o toque da brasa do altar, que tira a culpa (avon) e expia os pecados (chattath). Os termos hebraicos utilizados aqui são exatamente os mesmos empregados para descrever o estado da nação de Israel no capítulo 1 de Isaías. Ou seja, mesmo o profeta, aqui, é participante dos pecados e culpado das iniquidades.

Foi apenas no momento em que o encontro com Deus ocorreu e a confissão brotou dos seus lábios, que Isaías pôde efetivamente ser transformado em uma nova criatura, capaz de ouvir a voz de Deus, que já falava com ele (o hebraico utiliza uma forma do imperfeito, indicando uma ação continuada). Isso quer dizer que o pecado conseguia tornar Isaías surdo ao chamado de Deus.

Nenhuma adoração, por mais bem pensada e bem-feita que possa ser, se não vier acompanhada dos cinco elementos que encontramos no texto de Isaías 6, é capaz de limpar os ouvidos do ser humano para ouvir a voz de Deus. E nenhum ser humano que tenha sido tocado pela brasa purificadora poderá responder à Voz que em seguida chama de forma diferente da resposta apresentada pelo profeta Isaías: “Eis-me aqui”.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O Pr. Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É Bacharel em Teologia, Mestre em Teologia Bíblica cursa doutorado em Bíblia Hebraica. É Pastor na Escola do Pensar e no Instituto de Estudos Judaicos  Feodor Meyer. É membro da Adventist Theological Society, International  Association for the Old Testament Studies e Associação dos Biblistas Brasileiros.