Lição 11
07 a 13 de março
Da batalha à vitória
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Dt 32-34
Verso para memorizar: “Não temas, homem muito amado! Paz seja contigo! Sê forte, sê forte” (Dn 10:19).
Leituras da semana: Ef 6:12; Dn 10; Ed 4:1-5; Js 5:13-15; Ap 1:12-18, Cl 2:15; Rm 8:37-39

Daniel 10 introduz a visão final do livro, que continua nos capítulos 11 e 12. Somos informados desde o início de que essa visão diz respeito a um “grande conflito” (Dn 10:1). Enquanto Daniel 11 esclarece alguns detalhes desse conflito, Daniel 10 mostra suas dimensões espirituais e revela que, nos bastidores das batalhas terrestres, há um conflito espiritual de proporções cósmicas.

Ao estudarmos esse capítulo, veremos que, quando oramos, envolvemo-nos nesse conflito cósmico de tal maneira que as repercussões são profundas. Mas não estamos sozinhos em nossas lutas; Jesus Se envolve na ­batalha contra Satanás em nosso favor. Descobriremos que a luta principal em que estamos envolvidos não é contra as forças humanas terrestres, mas contra os poderes das trevas.

Como o apóstolo Paulo declarou séculos depois de Daniel: “A nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6:12). Em última análise, nosso sucesso no conflito está em Jesus Cristo. Somente Ele derrotou Satanás na cruz.



Domingo, 08 de março
Ano Bíblico: Js 1-4
Novamente, jejum e oração

1. Leia Daniel 10:1-3. O que o profeta estava fazendo novamente?

Daniel não explicou as razões de seu prolongado período de luto. Mas uma intercessão tão fervorosa provavelmente tenha sido motivada pela situação dos judeus, que tinham acabado de retornar de Babilônia à Palestina.

2. Leia Esdras 4:1-5. Quais desafios os judeus estavam enfrentando em seu retorno? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:

A.(  ) Oposição na reconstrução do templo, da parte dos povos ao redor.
B.(  ) Estavam sem condições financeiras para concluir a reconstrução.

Em Esdras 4:1-5, vemos que, naquele momento, os judeus estavam enfrentando forte oposição ao tentarem reconstruir o templo. Os samaritanos tinham enviado relatórios falsos à corte persa, incitando o rei a interromper a obra. Diante dessa crise, Daniel implorou a Deus por três semanas para que Ele influenciasse Ciro a permitir que a obra continuasse.

Naquele momento, Daniel estava provavelmente perto de noventa anos de idade. Ele não estava pensando em si, mas em seu povo e nos desafios que enfrentava. Ele persistiu em oração por três semanas inteiras antes de receber uma resposta de Deus. Durante esse tempo, o profeta seguiu uma dieta muito modesta, abstendo-se de comida de sua escolha e até mesmo de unguento. Ele estava completamente indiferente ao seu conforto e aparência, mas estava profundamente preocupado com o bem-estar de seus companheiros judeus em Jerusalém a milhares de quilômetros de distância.

Ao observarmos a vida de oração de Daniel, aprendemos algumas lições valiosas. Primeiramente, devemos persistir em oração, mesmo quando nossas petições não são respondidas imediatamente. Em segundo lugar, devemos dedicar tempo para orar por outras pessoas. Há algo especial na oração intercessória. Lembre-se de que “mudou o SENHOR a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos” (Jó 42:10). Em terceiro lugar, a oração leva Deus a fazer algo concreto e real. Portanto, oremos sempre, todos os tipos de prece. Diante de provações insuportáveis, grandes problemas e desafios esmagadores, levemos nossos fardos a Deus em oração (Ef 6:18).

Primeiro Deus - Peça ao Senhor, cada dia, o batismo do Espírito Santo.

Leia Daniel 10:12. O que esse texto revela sobre a oração como uma experiência objetiva que leva Deus a fazer alguma coisa, em vez de ser apenas uma experiência subjetiva que faz com que nos sintamos bem a respeito de Deus?

Segunda-feira, 09 de março
Ano Bíblico: Js 5-8
Uma visão do Príncipe

3. Leia Daniel 10:4-9. O que aconteceu com o profeta?

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Ao descrever sua experiência, dificilmente podemos imaginar o esplendor irresistível do que Daniel viu. Aquela figura humana (Dn 10:5, 6)
remete ao “Filho do Homem” retratado na visão do juízo celestial (Dn 7:13). Sua roupa de linho lembra as vestes sacerdotais (Lv 16:4), um aspecto que torna esse personagem semelhante ao “Príncipe do exército” representado em conexão com o santuário celestial (Dn 8). O ouro também é associado aos enfeites sacerdotais como sinal de dignidade real. Por último, a semelhança dessa figura com relâmpago, fogo, bronze e uma voz poderosa a retrata como um ser sobrenatural. Esse ser é alguém investido de atributos sacerdotais, reais e militares. Essa figura também apresenta semelhanças interessantes com o ser celestial que apareceu a Josué pouco antes da batalha contra Jericó (Js 5:13, 14). Na visão, Josué viu o “comandante do exército do SENHOR” (NVI). Curiosamente, a palavra hebraica traduzida como “comandante” (sar) aqui é a mesma palavra traduzida como “príncipe”, em referência a Miguel em Daniel 10:21. Porém, um paralelo mais próximo ocorre entre as visões de Daniel e João.

4. Quais semelhanças encontramos entre a visão que Daniel teve de Deus no capítulo 10 e as visões de Josué 5:13-15 e Apocalipse 1:12-18?

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O texto relata que aqueles que estavam com Daniel ficaram atemorizados; o próprio Daniel caiu enfraquecido no chão. A manifestação da presença de Deus simplesmente o deixou arrasado. No entanto, quaisquer que fossem seus medos imediatos, a visão do profeta mostra que Deus está no controle da História. De fato, à medida que a visão se desenrola, vemos que o Senhor apresentou a Daniel um esboço da História humana desde os tempos do profeta até o estabelecimento do reino de Deus (Dn 11 e 12).

Se, como vimos repetidamente em Daniel, o Senhor pode manter a História humana sob controle, o que Ele pode fazer por nós individualmente?


Terça-feira, 10 de março
Ano Bíblico: Js 9-13
Tocado por um anjo

5. Leia Daniel 10:10-19. O que aconteceu cada vez que o anjo tocou Daniel?

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Profundamente afetado pelo esplendor da luz divina, o profeta caiu. Então um anjo apareceu para tocá-lo e consolá-lo. Ao lermos a narrativa, observamos que o anjo tocou Daniel três vezes.

O primeiro toque habilitou o profeta a ficar de pé e ouvir as palavras de conforto vindas do Céu: “Não temas, Daniel, porque, desde o primeiro dia em que aplicaste o coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, foram ouvidas as tuas palavras; e, por causa das tuas palavras, é que eu vim” (Dn 10:12). A oração do servo de Deus moveu o Céu. Para nós, isso é uma garantia de que o Senhor ouve nossas orações, o que é um grande conforto em tempos difíceis.

O segundo toque habilitou Daniel a falar. O profeta derramou suas palavras diante do Senhor, expressando seus sentimentos de temor e emoção: “Meu Senhor, por causa da visão me sobrevieram dores, e não me ficou força alguma. Como, pois, pode o servo do meu Senhor falar com o meu Senhor? Porque, quanto a mim, não me resta já força alguma, nem fôlego ficou em mim” (Dn 10:16, 17). Portanto, Deus não apenas fala a nós; Ele deseja que abramos nossa boca para contar a Ele nossos sentimentos, necessidades e aspirações.

O terceiro toque lhe trouxe força. Ao reconhecer sua inadequação, o anjo o tocou e o consolou com a paz de Deus: “Não temas, homem muito amado! Paz seja contigo! Sê forte, sê forte” (Dn 10:19). Lembre-se de que o anjo foi enviado a Daniel em resposta às suas orações, a fim de dar-lhe discernimento e compreensão. Em outras palavras, a visão que se segue no
capítulo 11 tem a intenção de encorajar Daniel em resposta ao seu luto e meditação acerca da situação em Jerusalém. Com Deus ao nosso lado, podemos ter paz mesmo quando enfrentamos aflições. Seu toque amoroso nos habilita a olhar para o futuro com esperança.

 

“Enquanto nos movemos em nossos afazeres comuns, podemos ter bem perto o Céu” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 48). O Céu e a Terra estão intimamente ligados. Como você pode viver de maneira diferente se mantiver essa verdade viva em seu coração?


Quarta-feira, 11 de março
Ano Bíblico: Js 14-17
Um grande conflito

6. O que foi revelado em Daniel 10:20, 21?

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O mensageiro celestial revelou a Daniel a guerra cósmica que ocorre nos bastidores da História humana. Assim que Daniel começou a orar, teve início uma batalha espiritual entre o Céu e a Terra. Seres celestiais começaram uma luta contra o rei da Pérsia para deixar que os judeus continuassem a reconstrução do templo. Sabemos desde o início de Daniel 10 que o rei da Pérsia era Ciro. No entanto, um rei humano sozinho não pode oferecer oposição significativa a um ser celestial. Isso indica que, por trás do rei humano, existia um agente espiritual maligno que instigava Ciro a impedir que os judeus reconstruíssem o templo.

Uma situação semelhante ocorre em Ezequiel 28, em que o rei de Tiro representa Satanás, o poder espiritual por trás do rei humano daquela cidade. Assim, não é de admirar que os reis da Pérsia contra quem Miguel lutou incluíssem Satanás e seus anjos. Isso mostra que a oposição humana à reconstrução do templo tinha um equivalente no reino espiritual.

7. Que tipo de batalha foi descrita em Daniel 10:13? Assinale a alternativa correta:

A.(  ) Uma batalha espiritual.
B.(  ) Uma batalha literal.

“Enquanto Satanás estava procurando influenciar as mais altas autoridades no reino da Média-Pérsia para que não mostrassem favor ao povo de Deus, anjos trabalhavam no interesse dos exilados. Era uma controvérsia na qual todo o Céu estava interessado. Por intermédio do profeta Daniel, temos um vislumbre dessa poderosa luta entre as forças do bem e os poderes do mal. Durante três semanas, Gabriel se empenhou em luta com os poderes das trevas, procurando conter as influências em ação na mente de Ciro; e antes que a contenda terminasse, o próprio Cristo veio em auxílio de Gabriel. ‘O príncipe do reino da Pérsia se pôs defronte de mim vinte e um dias’, Gabriel declara; ‘e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu fiquei ali com os reis da Pérsia’ (Dn 10:13, ARC). Tudo que o Céu podia fazer em favor do povo de Deus foi feito. A vitória foi finalmente ganha; as forças do inimigo foram contidas todos os dias de Ciro, e todos os dias de seu filho Cambises II, que reinou cerca de sete anos e meio” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 571, 572).



Quinta-feira, 12 de março
Ano Bíblico: Js 18-21
Um príncipe vitorioso

O personagem mais ilustre no livro de Daniel é a figura inicialmente chamada de “Filho do Homem” (Dn 7:13) ou “Príncipe do exército” (Dn 8:11). Por fim, descobrimos que Seu nome é Miguel (Dn 10:13), que significa “Quem é semelhante a Deus?”. Ele veio para ajudar Gabriel no conflito com o rei da Pérsia (Dn 10:13). O anjo se referiu a esse Ser celestial como “Miguel, vosso Príncipe” (Dn 10:21), a saber, o Príncipe do povo de Deus.  Miguel aparece posteriormente no livro de Daniel como Aquele que defende o povo de Deus (Dn 12:1). Em Judas 9, descobrimos que Miguel, também chamado de Arcanjo, luta contra Satanás e ressuscita Moisés. Apocalipse 12:7 revela que Miguel permanece como Líder do exército celestial, que derrota Satanás e seus anjos caídos. Portanto, Miguel não é outro senão Jesus Cristo. Assim como o Império Persa possuía um comandante supremo, uma força espiritual por trás de seu líder humano, o povo de Deus tem em Miguel seu Comandante-chefe, que intervém para lutar e vencer a guerra cósmica em seu favor.

8. Leia Colossenses 2:15. Como Jesus conseguiu a vitória no conflito cósmico?

Ao enfrentarmos as forças do mal, podemos ter fé em Jesus, nosso Campeão. No começo de Seu ministério público, Ele triunfou sobre Satanás. Durante Sua vida terrestre, Cristo o derrotou no deserto quando foi atacado com tentações; lutou contra hostes demoníacas e libertou as pessoas do poder das trevas. Jesus venceu o mal mesmo quando este estava disfarçado por trás da tentativa de Pedro de dissuadi-Lo do sacrifício no Calvário. Em Suas últimas palavras aos discípulos, Jesus falou de Sua morte iminente como uma batalha, que culminaria em uma vitória decisiva sobre Satanás: “Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso. E Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim mesmo” (Jo 12:31, 32).

Às vezes olhamos ao redor e só vemos coisas muito ruins. Violência, imoralidade, corrupção e doenças surgem em todos os lugares. Um inimigo, não feito de carne e sangue, ataca-nos brutalmente de todos as formas. Mas não importa a dificuldade das batalhas que temos que travar, Jesus luta por nós e permanece como nosso Príncipe e Sumo Sacerdote no santuário celestial.

Leia Romanos 8:37-39. Como podemos tornar a promessa da vitória uma experiência real em nossa vida cristã?

Primeiro Deus - Onde está o seu tesouro? Lembre-se de que aí também estará o seu coração.

Sexta-feira, 13 de março
Ano Bíblico: Js 22-24
Estudo adicional

Durante três semanas Gabriel se empenhou em luta com os poderes das trevas, procurando conter as influências em ação na mente de Ciro [...]. Tudo que o Céu podia fazer em favor do povo de Deus foi feito. A vitória foi finalmente ganha; as forças do inimigo foram contidas em todos os dias de Ciro, e em todos os dias de seu filho Cambises II” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 572).

“Que grande honra é outorgada a Daniel pela Majestade do Céu! Ele conforta Seu servo tremente e lhe assegura que sua oração foi ouvida no Céu. Em resposta àquela fervorosa petição, o anjo Gabriel foi enviado para influenciar o coração do rei persa. O monarca havia resistido às impressões do Espírito de Deus durante as três semanas em que Daniel estivera jejuando e orando, mas o Príncipe dos Céus, o Arcanjo Miguel, foi enviado para convencer o coração do obstinado rei, a fim de que tomasse alguma decisão para atender à prece de Daniel” (Ellen G. White, Santifica..o, p. 51).

Perguntas para discussão

1. Embora não sejamos os primeiros na história cristã a enxergar essa verdade, como adventistas do sétimo dia, somos fortes defensores do tema do grande conflito, ou a ideia de que o Universo inteiro é parte de uma luta épica entre Cristo e Satanás. E cremos que todo ser humano está, de fato, envolvido nesse conflito. Outros, até mesmo pessoas seculares, falam sobre a realidade de algum tipo de batalha na qual estamos todos imersos. Qual tem sido sua experiência no grande conflito? Como você o vê manifestado em sua vida? Como sua experiência pode ajudar os outros a lutar também?

2. Leia Efésios 6:10-18. Observe as imagens militares que Paulo utilizou. Quais “instruções para a batalha” nos foram dadas nesse texto a respeito do grande conflito?

3. Em Daniel 10:11, pela segunda vez (veja Dn 9:23) Daniel foi chamado de hamudot, ou “amado”. O que isso revela sobre a ligação íntima, até mesmo um elo emocional, entre o Céu e a Terra? Pense na diferença radical dessa realidade quando comparada à visão ateísta comum de grande parte do mundo moderno. Que esperança essa visão bíblica nos oferece, como pode ser visto nessa referência a Daniel?

 

Respostas e atividades da semana: 1. Comente com a classe. 2. V; F. 3. Daniel teve uma visão à beira do rio Tigre. Nela, ele viu um ser maravilhoso, cheio de esplendor, com os olhos de fogo. Ao contemplá-lo, perdeu suas forças e sentidos. 4. Há muitas semelhanças entre os seres descritos nas visões: os olhos são de fogo; os pés são de bronze; o cabelo e as vestes são brancos como a neve. 5. No primeiro toque do anjo, Daniel pôde se colocar em pé e ouvi-lo; no segundo toque, ele conseguiu abrir a boca e falar; no terceiro, ele se fortaleceu. 6. Um panorama da guerra cósmica entre o príncipe da Pérsia (Satanás estava por trás dele) e Miguel (Jesus). 7. A. 8. Ele venceu na cruz, expondo ao desprezo os principados e as potestades.



Resumo da Lição 11
Da batalha à vitória

 

ESBOÇO

TEXTO-CHAVE: Daniel 10:19

FOCO DO ESTUDO: Efésios 6:12; Daniel 10; Esdras 4:1-5; Josué 5:13-15; Apocalipse 1:12-18; Colossenses 2:15; Romanos 8:37-39

Introdução

Dois temas da lição desta semana merecem ser estudados de modo mais profundo. O primeiro é a guerra invisível que se desenrola nos bastidores do grande conflito. O segundo é a certeza de que nessa guerra não estamos sozinhos. Um Príncipe vitorioso Se levanta para lutar em nosso favor.

Temas da lição

1. Uma guerra invisível

Um dos aspectos mais sombrios do grande conflito entre o bem e o mal é a guerra invisível que acontece no âmbito espiritual. Vemos um retrato dessa realidade no episódio em que as forças do mal estavam influenciando o rei da Pérsia a frustrar o plano divino de reconstruir Jerusalém.

2. Um Príncipe vitorioso

Enquanto o conflito se intensifica, o povo de Deus não está sozinho. Um poderoso e vitorioso Príncipe celestial Se levanta para lutar contra as forças do mal e em favor do povo de Deus, a fim de tornar os Seus planos uma realidade.

Aplicação para a vida

A maior batalha de nossa vida não é contra inimigos visíveis de carne e sangue, mas “sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6:12). Embora, de uma perspectiva humana, essa batalha possa ser um conflito desigual, em que as probabilidades muitas vezes parecem estar contra nós, não temos nada a temer. Jesus luta essa batalha por nós e ao nosso lado, e nos dá a certeza da vitória.

Comentário

A seguir estudaremos de maneira mais profunda os temas da lição resumidos anteriormente:

1. Um grande conflito

Daniel 10 introduz a última visão do livro, que compreende os capítulos 10–12. O ano é 536 a.C., o terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia. Cerca de cinquenta mil judeus retornaram à sua terra natal (Ed 2), e quando começaram a reconstruir o templo, surgiu uma forte oposição. Quando foi rejeitada a participação dos samaritanos no projeto de reconstrução, eles se tornaram inimigos implacáveis dos judeus. Eles escreveram cartas a Ciro descrevendo os judeus como um povo rebelde, para persuadir o rei a interromper o trabalho de reconstrução (Ed 4:6-16, 23, 24). Informado da situação de seus compatriotas, Daniel mais uma vez recorreu ao jejum e à oração. Durante vinte e um dias, ele orou e jejuou em favor dos repatriados. Deus lhe respondeu com a visão de um “grande conflito” em que é levantada a cortina que encobre as realidades invisíveis das visíveis. Foi permitido que o profeta tivesse um vislumbre do conflito celestial que acontece nos bastidores das batalhas terrestres.

À medida que a visão se desenvolve, Daniel logo descobre que a oposição à reconstrução do templo não se restringe às particularidades dos governantes humanos. Na verdade, os acontecimentos políticos envolvendo os judeus, os samaritanos e os persas refletiam um conflito invisível entre os anjos do Senhor e as forças do mal. Essa íntima relação entre o que acontece no Céu e o que ocorre na Terra é uma das características distintivas da profecia apocalíptica. Em seguida, o anjo revelou a Daniel que tinha havido uma batalha entre Miguel e o príncipe da Pérsia, uma batalha que prosseguiria com a Grécia e, posteriormente, continuaria fazendo parte dos conflitos militares entre os reis do Norte e do Sul (Dn 11).

Ao avançarmos com este estudo, analisemos alguns dos elementos envolvidos nesse conflito. Um dos seres celestiais, muito provavelmente Gabriel, contou ao profeta Daniel que o príncipe da Pérsia lhe havia resistido por vinte e um dias até que Miguel veio para ajudá-lo (Dn 10:13). Neste ponto, precisamos determinar se o príncipe da Pérsia, que teve a ousadia de enfrentar um anjo de Deus, era um governante humano ou um agente espiritual. Alguns estudiosos argumentam que o príncipe da Pérsia era Cambises, o filho de Ciro, o qual era rei da Babilônia e reinava com seu pai durante esse tempo. Cambises, conhecido por ser hostil a religiões estrangeiras, é apontado como o governante que interrompeu a reconstrução do templo. No entanto, é difícil imaginar que um rei humano pudesse se opor a um anjo de Deus a ponto de Miguel ter que intervir. Contudo, um argumento mais forte no sentido de que se tratava de um príncipe sobrenatural se encontra no uso da mesma palavra para designar o “príncipe” (sar) da Pérsia e Miguel, o “Príncipe” (sar) que representa o povo de Deus. Assim, por causa desse contraste e oposição, o príncipe da Pérsia deve ter sido um agente maligno agindo em oposição a Miguel, o Príncipe celestial.

Portanto, o “grande conflito” aqui descrito é uma guerra entre Satanás, o príncipe das trevas, que representa os interesses dos inimigos do povo de Deus na Terra, e Cristo, o grande Príncipe que representa o povo do Senhor. Essa guerra se encontra no centro do grande conflito entre o bem e o mal, a qual se torna visível nos males políticos, sociais e religiosos que assolam o mundo. No entanto, à medida que as forças demoníacas aumentam sua oposição aos anjos de Deus e movimentam poderes terrestres para atacar o Seu povo, Miguel, o “grande Príncipe”, entra em cena para proteger e salvar o povo de Deus (Dn 12:1). É sobre Ele que estudaremos a seguir.

2. Um Príncipe vitorioso

Quando Miguel aparece na Bíblia, isso sempre acontece em contextos de conflito. Em Daniel 10, Ele lutou contra o maligno príncipe da Pérsia; em Daniel 12, Ele Se levanta para livrar o povo de Deus nas cenas finais do grande conflito; em Judas, Ele contende com o diabo pelo corpo de Moisés; e em Apocalipse 12, Miguel lutou contra o dragão. Desse modo, fica claro que Miguel é o guerreiro celestial que representa as forças do bem contra os poderes do mal.

Para entender melhor a natureza e identidade de Miguel, devemos ter em mente que uma das mais marcantes descrições de Deus na Bíblia é a de um guerreiro. Ele é chamado de “SENHOR, poderoso nas batalhas” (Sl 24:8) e “homem de guerra” (Êx 15:3). Muitos salmos exaltam o Senhor como um guerreiro vitorioso (Sl 68). Assim, o Senhor luta contra os inimigos do Seu povo, como os egípcios, os cananeus, os assírios e os babilônios. Ele pode até ser visto lutando contra o Seu próprio povo, entregando-os nas mãos dos adversários quando eles romperam com a Sua aliança. No entanto, a figura de Deus como guerreiro também traz esperança no fim dos tempos, pois, no futuro, Deus pelejará contra as nações que oprimiram o Seu povo (Zc 14:3).

É instrutivo observar que nos contextos em que Deus é descrito como um guerreiro, aparece uma forma da interjeição “Quem é como Deus?” (Êx 15:11; Jr 50:44; Sl 35:10; Sl 71:19; Sl 77:13; Sl 89:6, 8; Mq 7:18). Por isso, não é por acaso que Miguel significa “Quem é como Deus?” O significado de Seu nome sugere uma identificação próxima com Deus, que se harmoniza com a função de Miguel como um guerreiro divino. Como tal, Ele Se parece tanto com Deus que nenhum outro ser celestial ou anjo criado jamais poderia se parecer. Por essa razão, Miguel em Daniel deve ser identificado com o Cristo pré-encarnado, o eterno Filho de Deus.

De maneira significativa, João Batista, desde a primeira vez que O viu, entendeu que Jesus era um guerreiro com uma pá na mão que queimaria a palha com fogo que nunca se apaga (Mt 3:12). Posteriormente, João pensou que estivesse errado, uma vez que Jesus estava expulsando demônios e curando os doentes em vez de lutar contra os inimigos de Seu povo. Mas João ouviu um relato de seus discípulos que confirmou sua impressão inicial. Jesus era, na verdade, o guerreiro celestial que estava lutando contra as forças espirituais do mal. Por fim, a batalha mais feroz de Jesus aconteceu na cruz, onde Ele alcançou a maior vitória sobre o mal, não matando, mas morrendo. Na cruz, tendo Ele despojado “os principados e as potestades”, triunfou sobre eles (Cl 2:15). Depois da Sua ressurreição, Jesus subiu ao Céu como um guerreiro vitorioso mostrando os despojos de guerra em um desfile cósmico (Ef 4:7, 8; Sl 68; Sl 24).

Temos o sagrado dever de continuar batalhando ao lado do nosso supremo Comandante. Como Jesus, devemos lutar nessa batalha espiritual não matando, mas morrendo. Nossas armas não são armas de fogo e bombas, mas a fé e a Palavra de Deus (Ef 6:10-18). Não lutamos apenas contra forças exteriores, mas contra o pecado que se encontra em nosso coração. “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio Daquele que nos amou” (Rm 8:37). Prossigamos lutando até o dia em que Miguel virá e destruirá o mal em todas as suas formas.

Aplicação para a vida

Imagine esta cena: enquanto visita uma galeria de fotos, você vê uma imagem constrangedora de um homem de meia idade. Sua face está contorcida. Seus lábios estão contraídos. Seus punhos estão cerrados. Seu rosto está cheio de rugas, não por causa da idade, mas por causa da ira. Ao olhar para essa foto, você se torna absolutamente convencido de que não importa quem esteja sendo retratado, você jamais desejaria ser amigo dele. Você até se sente feliz porque esse homem não passa de uma imagem sem vida em exibição.

Em seguida, um guia se aproxima de você, identifica essa pessoa e explica o contexto da imagem. Na verdade, a foto mostra uma visão próxima e detalhada de um advogado. Ele estava em uma sessão de júri defendendo uma idosa viúva. A mulher estava prestes a perder seu único pedaço de terra para uma grande empresa. Por meio de manobras legais, os advogados daquela companhia estavam tentando tomar posse da sua terra. E a foto foi tirada no exato momento em que o advogado estava usando argumentos verbais e não verbais para convencer o juiz a decidir em favor daquela senhora.

1. Como as informações sobre o contexto modificam a sua visão do homem na foto? Você se sentiria confortável em tê-lo como amigo?

2. De que maneira a informação sobre o grande conflito entre o bem e o mal ajuda você a avaliar melhor a imagem do guerreiro que Deus apresenta nas Escrituras?

3. Se o Senhor não fosse um “Deus guerreiro” poderíamos ter alguma garantia de que o mal seria eliminado para sempre?

4. Que diferença faz ter Jesus Cristo como o guerreiro que luta em seu favor contra os exércitos de Satanás?


A grande decisão

O que você faz quando precisa tomar uma decisão? Paula Cristina Ghibut tinha uma grande decisão para fazer. Ela estava com 14 anos e perto de terminar o oitavo ano na Romênia. Ela precisava decidir onde estudar no Ensino Médio. Paula queria ser professora do ensino fundamental. Ela podia estudar na escola publica mais próxima que oferecia o curso de magistério para alunos do ensino médio. Mas, frequentou a escola adventista desde o jardim da infância, que só oferecia o curso de exatas.

Paula orou e leu a Bíblia em sua casa no vilarejo de Targu Mures na região centro-norte da Romênia. Ela conversou com os pais e leu as passagens da escritora pioneira da Igreja Adventista, Ellen White. Enquanto lia, descobriu um conselho que parecia sugerir que as crianças adventistas deveriam estudar em escolas não adventistas para ser uma luz no mundo.

No livro Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, de Ellen White, ela leu: “Os seguidores de Cristo devem separar-se do mundo em princípios e em interesses; não se devem, porém, isolar do mundo” (p. 323). No livro O Grande Conflito, ela descobriu que, no século 18, os valdenses costumavam usar sua influencia cristã para transformar escolas inteiras. Ela pensou que essa seria uma boa oportunidade de falar de Jesus, enquanto se preparava para ser uma professora. Mas, primeiro ela precisava ser aprovada no exame de admissão. Então orou: “Senhor, se for Tua vontade que estude na escola pública, ajudame a passar no exame.”

A concorrência para 150 vagas na escola era forte. Quatro alunos para cada vaga. Paula ficou em sétimo lugar. Mas Paula não sentiu paz. Era difícil sair da escola adventista. Ela sabia que os professores da escola pública não oravam e os alunos não cantavam sobre Jesus. Duas semanas antes das aulas começarem, Paula sonhou que estava na escola pública. Os professores eram orgulhosos, frios e a culpavam pelos erros de seus colegas. Paula ficou magoada com as acusações falsas. No final do dia, enquanto preparava para voltar para casa, ouviu uma voz: “Vá embora e não volte nunca mais!” Paula virou-se para ver que estava gritando, mas não viu ninguém.

Ao acordar pela manhã, tentou entender o significado do sonho. Ela não sabia se era um sonho enviado por Deus, porque sabia que o Inimigo também poderia causar sonhos. “Deus, se esse sonho foi enviado pelo Senhor, por favor confirme de outra maneira”, ela orou. Paula pediu conselho aos pais. Eles lhe disseram que precisava decidir por si. Então ela orou e jejuou por vários dias. Também leu a Bíblia e livros de Ellen White, e ficou impressionada ao ver que tudo o que ela lia indicava que deveria ir para a escola adventista.

Em Conselhos para Pais, Professores e Estudantes, leu: “Confiar as crianças a professores orgulhosos e destituídos de amor, é mau. Nossas escolas da igreja são ordenadas por Deus a fim de preparar as crianças para essa grande obra” (p. 175, 176). Ela pensou: “Eu queria estudar para ser professora na escola pública, mas na escola adventista posso ser treinada ainda melhor, embora a ênfase seja nas ciências exatas.” Também leu no livro Orientação da Criança: “Planejando acerca da educação dos filhos, fora do lar, os pais devem compenetrar-se de que não mais é coisa livre de perigo enviá-los às escolas públicas, e cumpre que se esforcem para os enviar às escolas onde obtenham educação baseada em fundamentos bíblicos” (p. 304).

Paula decidiu continuar na Escola Adventista. Ela aprendeu algumas lições importantes sobre entender a vontade de Deus. Orou, pediu conselho aos pais, leu a Bíblia e os livros de Ellen White. Então, tomou uma decisão, e tem certeza de que foi a melhor. Durante o Ensino Médio, entregou o coração a Jesus e foi batizada aos 16 anos. Agora ela tem 18 anos e se formará em breve. Ela percebeu terá muito tempo para aprender a ser professora na universidade.

“Minha caminhada com Deus tem sido um processo”, ela disse. “Nunca usei drogas e depois tive história miraculosa de conversão. Em vez disso, Deus me conduziu passo a passo. Quero incentivar os jovens a ter um relacionamento crescente com Cristo. Em cada passo da vida precisamos reconhecê-Lo e deixar que Ele atue em nossa vida.”

Há três anos, parte da oferta do trimestre ajudou uma igreja a realizar um programa de evangelismo com os jovens na Romênia. Agradecemos por suas ofertas missionárias.

Dicas da história

• Assista ao vídeo sobre Paula no YouTube: bit.ly/Paula-Ghibut.
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2020
Tema Geral: Daniel
Lição 11 – 7 a 14 de março

Da batalha à vitória

Autor: Marcelo Rezende
Editor: André Oliveira Santos
Revisora: Josiéli Nóbrega

Em Daniel 10, temos o plano profético mais completo do livro de Daniel. Os capítulos 10, 11 e 12 formam uma unidade que foi artificialmente separada em três partes em nossas Bíblias. Mesmo assim, essa divisão nos permite entender a dinâmica do conteúdo do capítulo 10 como um prólogo que fornece, de maneira mais detalhada, o contexto da revelação dos capítulos seguintes.

1 – Uma guerra invisível

Estamos agora no terceiro ano do reinado de Ciro como soberano da Babilônia, 536 a.C. Pouco tempo antes dessa data, os cativos judeus haviam recebido autorização para que regressassem à terra de Israel e reconstruíssem o templo de Jerusalém. A tarefa teve início, mas logo grandes dificuldades começam a surgir com a manifestação da inimizade dos samaritanos, que se opuseram à edificação do templo, e com um complô feito por conselheiros subornados para influenciarem negativamente os reis Persas contra os judeus. Esse quadro levou os judeus ao desânimo e a construção do templo parou (Ed 4:1-5). Daniel iniciou a narrativa se apresentando em estado de luto, jejuando por três semanas no primeiro mês do ano (Dn 10:4), época da festa da Páscoa, um comportamento estranho para um judeu, uma vez que a festa celebrava a libertação do cativeiro egípcio e o início da jornada para a conquista da terra prometida – exatamente o mesmo “clima” de recomeço que os judeus deveriam viver então, depois do regresso do cativeiro babilônico – mas compreensível e justificável devido à gravidade da situação apresentada pelas notícias vindas da terra de Israel.

2 – Um Príncipe vitorioso

Daniel recebeu a visita de um Ser que é descrito como uma figura humana muito semelhante às aparições divinas do AT (relâmpago, fogo), vestido com o linho das vestes sacerdotais, muito semelhante também à visão do Cristo glorificado descrita por João em Apocalipse 1:13-18. O livro de Josué 5:13-15 relata uma visão semelhante em que Josué é visitado pelo Anjo que Se identificou como “Príncipe dos exércitos do Senhor” (Js 5:14) e aceitou receber a adoração de Josué, demonstrando que era um Ser um ser divino, em um contexto muito parecido com Daniel 10, logo após a Páscoa, exatamente no início da conquista da terra de Canaã (Js 5:11). Esse “Homem” visto por Daniel pode ser seguramente identificado como a principal figura celestial apresentada na narrativa do livro: o “Filho de Deus”, que anda na fornalha juntamente com os três judeus em Daniel 3; o “Filho do Homem” de Daniel 7, o Sacerdote de Daniel 8 e o Messias-Príncipe oferecido em sacrifício em Daniel 9. No capítulo 10, Ele é identificado como “Miguel”.

A presença de Miguel é seguida pela aparição de Gabriel, que vem com o propósito de revelar a Daniel o que havia ocorrido nos bastidores do mundo espiritual durante esse período de três semanas (21 dias), que foram passadas em jejum e oração. Gabriel revelou uma luta intensa travada contra o personagem que ele identificou como o “príncipe da Pérsia” (Dn 10:13), que estranhamente possuía força suficiente para fazer oposição a ele. Fica claro ao leitor que esse “príncipe da Pérsia” não é uma mera figura humana, pois homem nenhum teria poder suficiente para resistir a um anjo tão poderoso como Gabriel. A tradução de Daniel 10:13 em português oferecida pela Biblia Hebraica, publicada pela editora Sefer, traduz a palavra “príncipe” (sar) como “representantes celestes dos reis da Pérsia”. É interessante notar que o termo ‘príncipe’ no livro de Daniel nunca faz referência a seres humanos, mas sempre a seres espirituais, como em Daniel 8:11. Esse “príncipe da Pérsia” é uma denominação usada para representar forças satânicas, ou mesmo o próprio Satanás, que exerciam poder de controle e influência sobre Ciro e sobre os governantes humanos persas (identificados no texto como “reis”) contra os judeus e a obra de restauração.

Gabriel sozinho não conseguiu vencer as forças satânicas em operação na mente de Ciro, mas Miguel foi Aquele que veio em seu auxílio e derrotou não apenas as forças espirituais que agiam sobre os reis Persas, mas garantiu a vitória também sobre o “príncipe da Grécia” – todos os poderes satânicos que exerceriam ainda influência futura sobre os monarcas gregos (Dn 10:13). Miguel é tão poderoso e singular porque Ele não é apenas uma criatura celestial, Ele é o “primeiro dos primeiros príncipes” (Ahad HaSarim HaRishonim), o “Principal dos príncipes”. A mesma ideia de supremacia única é expressa em outra expressão cunhada no Novo Testamento para Ele – o “Arcanjo” Miguel (Jd 9). A Bíblia jamais apresenta essa palavra no plural, “arcanjos”, como uma referência a uma classe hierárquica de anjos. Arcanjo é sempre singular, é uma palavra formada por outras duas palavras gregas: “Arkô” (principal, chefe) e “angelos” (anjo). Arcanjo é uma definição ontológica de Miguel, cujo nome significa “Quem é como Deus?”, retratado como Chefe dos anjos, o verdadeiro “dono dos Anjos”. Somente Ele é como Deus, pois participa da natureza divina. Somente o “Arcanjo” pode enfrentar as forças do mal utilizando Seu nome como uma repreensão direta àquele que um dia intentou usurpar o lugar de Deus (Is 14:12-14). Somente Miguel pode exercer o poder divino de dar vida e ressuscitar a humanidade redimida no dia final, vencendo o último inimigo do povo de Deus – a morte (1Ts 4:16, 17; 1Co 15:26).

Daniel 10 nos faz compreender os anjos e demônios como “super seres” espirituais multidimensionais, presentes e ativos na vida humana, podendo até mesmo apresentar comportamento de domínio territorialista como “príncipes” de nações específicas (c.f. Mc 5:9, 10). Eles podem possuir indivíduos, mas também exercer controle sobre a coletividade e sobre a cultura de uma sociedade. Diante disso fica claro que em todo exercício de poder e controle que existe em nosso mundo, somos completamente inconscientes sobre o que realmente acontece à nossa volta.

Essa visão, compreendida à luz da situação retratada em Esdras 4:4, nos mostra que a reação de desânimo do povo era completamente descabida, pois a vitória já havia sido concedida a eles por Miguel, e não somente sobre Ciro, mas sobre o rei Assuero e os planos genocidas de Hamã, na história de Ester, e também sobre os reis selêucidas (principalmente Antíoco Epifânio), que profanaram o templo em Jerusalém mas foram derrotados pelos Macabeus. E não apenas sobre eles, mas sobre todos os inimigos do povo de Deus que apareceriam durante toda a História, até o tempo de angústia final, quando mais uma vez Miguel Se levantará como o Defensor do povo de Deus (Dn 12:1).

Ao expor os bastidores do mundo espiritual diante de nós, Daniel 10 nos faz entender que os “principados e potestades” (Ef 6:12) malignos presentes no mundo se “alimentam” da nossa produção cultural e daquilo que oferecemos a eles em um relacionamento de codependência espiritual autodestrutiva. Paulo deixou isso muito claro quando afirmou que, ao morrer, Jesus despojou “os principados e as potestades”, e “publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl 2:14, 15). Satanás e todas as forças do mal já foram totalmente esvaziados, eles não possuem nada que possa ser usado contra os filhos de Deus. Todas as armas que eles empregam contra nós foram concedidas por nós a eles. Por isso, mesmo sendo um inimigo totalmente derrotado, devemos usar a armadura de Deus nessa batalha (Ef 6:10-18), para não municiarmos nosso inimigo contra nós mesmos. Satanás já foi vencido! Miguel, nosso Príncipe, já lutou em nosso lugar! A vitória só não será desfrutada por nós se não tivermos fé e não nos apropriarmos do que já é nosso pela garantia do sangue do Filho de Deus! Essa é a principal mensagem de vitória e esperança que Daniel 10 nos oferece.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre:

Atualmente, Marcelo Rezende é pastor do distrito de São Carlos, na Associação Paulista Oeste. Há 20 anos é pastor e tem servido a igreja em diversas funções ministeriais. Possui mestrado em teologia bíblica com ênfase em teologia paulina pelo Unasp-Engenheiro Coelho. É casado com Simone Ramos Rezende e juntos têm dois filhos: Sarah (que nasceu em um dia 22 de outubro – os que estudarem a lição de Daniel entenderão!), e o caçula Daniel (o mesmo nome do profeta!).

1 Jacques Doukhan, Secretos de Daniel – sabiduría y sueños de un príncipe hebreo em el exílio, p. 159.