Lição 9
22 a 28 de fevereiro
Da contaminação à purificação
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Nm 33, 34
Verso para memorizar: “Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado” (Dn 8:14).
Leituras da semana: Dn 8; 2:38; Gn 11:4; Lv 16; Hb 9:23-28

A visão relatada em Daniel 8 foi concedida ao profeta em 548-547 a.C. e apresenta alguns esclarecimentos significativos sobre o juízo referido em Daniel 7. Diferentemente das visões de Daniel 2 e 7, a visão de Daniel 8 deixa de fora Babilônia e começa com a Média-Pérsia, pois naquele momento o Império Babilônico estava em declínio, e os persas estavam prestes a substituí-lo como a próxima potência mundial. A visão de Daniel 8 se assemelha à de Daniel 7. A linguagem e os símbolos mudam em Daniel 8 porque essa visão focaliza de maneira precisa a purificação do santuário celestial em conexão com o Dia da Expiação celestial. Portanto, a contribuição distintiva de Daniel 8 está em seu foco nos aspectos do santuário celestial. Enquanto Daniel 7 mostra o tribunal celestial e o Filho do Homem recebendo o reino, Daniel 8 apresenta a purificação do santuário celestial. Portanto, como os paralelos entre esses dois capítulos indicam, a purificação do santuário celestial retratada em Daniel 8 corresponde à cena do juízo de Daniel 7.



Domingo, 23 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 33, 34
O carneiro e o bode

1. Leia Daniel 8. Qual é o conteúdo dessa visão e qual é o paralelo entre ela e o que vimos em Daniel 2 e 7?

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Assim como em Daniel 2 e 7, o capítulo 8 apresenta outra visão da ascensão e queda dos impérios mundiais, embora com um simbolismo diferente. Esse simbolismo está diretamente relacionado ao santuário de Deus. Nesse caso, os símbolos de um carneiro e um bode foram usados devido à sua relação com o ritual do santuário no Dia da Expiação, uma ocasião de juízo para o antigo Israel. Carneiros e bodes eram usados como ofertas sacrificais no serviço do santuário. Contudo, somente no Dia da Expiação os dois são mencionados juntos. Por isso, esses dois animais foram escolhidos intencionalmente para lembrar o Dia da Expiação, que é o foco principal da visão.

Enquanto a visão se desenrolava, Daniel viu um carneiro dando marradas em três direções diferentes: para o ocidente, para o norte e para o sul (Dn 8:4). Esse movimento tríplice indica a expansão desse poder: “nenhum dos animais lhe podia resistir, nem havia quem pudesse livrar-se do seu poder; ele, porém, fazia segundo a sua vontade e, assim, se engrandecia” (Dn 8:4). Conforme explicado pelo anjo, o carneiro com dois chifres representa o Império Medo-Persa (Dn 8:20), e as três direções provavelmente apontem literalmente para as três maiores conquistas dessa potência mundial.

Em seguida, surge um bode com um grande chifre, que representa o Império Grego, sob o comando de Alexandre, o Grande (Dn 8:21). O fato de que o bode se movia “sem tocar no chão” (Dn 8:5) significa que ele se movia rapidamente. Esse simbolismo comunica a rapidez das conquistas de Alexandre, que Daniel 7 apresenta como um leopardo alado. Mas, como a profecia indica, quando o bode se engrandeceu sobremaneira,
“o seu grande chifre foi quebrado” (Dn 8:8, NVI) e deu lugar a quatro chifres, que se estendiam aos quatro quadrantes da bússola. Isso se cumpriu por ocasião da morte de Alexandre em Babilônia, em junho de 323 a.C., com a idade de trinta e três anos, tendo seu reino sido dividido entre seus quatro generais.

Entre Daniel 2:38 e Daniel 8:20, 21, três dos quatro impérios revelados nas visões foram nomeados. Como esse fato surpreendente confirma a exatidão da nossa interpretação dessas profecias?

Primeiro Deus - Diga todos os dias: “Pertenço ao Senhor, pois a Ele me entreguei.”

Segunda-feira, 24 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 35, 36
A ascensão do chifre pequeno

2. Leia Daniel 8:8-12. Para quais direções o chifre pequeno estava se movendo? Por que é importante entender isso? Assinale a alternativa correta:

A. (  ) Para o ocidente e para o norte. O chifre pequeno jamais seria destruído.
B. (  ) Para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa. Isso é importante, pois revela até onde se estenderia o domínio do chifre pequeno.

Depois de descrever quatro chifres se espalhando aos quatro ventos do Céu, o texto bíblico declara que, de um deles, surgiu um chifre pequeno. A questão aqui é se esse chifre/poder veio de um dos quatro chifres, que, como vimos ontem, representam os quatro generais de Alexandre, ou de um dos quatro ventos. A estrutura gramatical do texto na língua original indica que esse chifre vem de um dos quatro ventos do Céu. E visto que esse poder surge após o Império Grego e suas quatro ramificações, um entendimento comum é que esse chifre seja Roma, pagã e depois papal. Conforme o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, “Este ‘chifre pequeno’ representa Roma em ambas as fases, pagã e papal. Daniel viu Roma, primeiramente em sua fase pagã e imperial, guerreando contra o povo judeu e os cristãos primitivos e, depois, na fase papal, seguindo até o presente e o futuro” (v. 4, p. 926).

De acordo com o texto bíblico, o chifre pequeno primeiramente realizou um movimento horizontal “e se tornou muito forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa” (Dn 8:9). Essas três direções correspondem às três principais áreas que caíram sob o domínio de Roma pagã.

À medida que o chifre pequeno se torna o principal protagonista da visão, sua expansão vertical recebe atenção detalhada. Nesse sentido, o chifre corresponde precisamente ao chifre pequeno de Daniel 7, como mostra a seguinte comparação: (1) ambos os chifres são pequenos no início (Dn 7:8; 8:9); (2) ambos se tornam grandes posteriormente (Dn 7:20; 8:9); (3) ambos são poderes persecutórios (Dn 7:21, 25; 8:10, 24); (4) ambos se engrandecem e são blasfemos (Dn 7:8, 20, 25; 8:10, 11, 25); (5) ambos têm como alvo o povo de Deus (Dn 7:25; 8:24); (6) ambos têm aspectos de sua atividade delineados pelo tempo profético (Dn 7:25; Dn 8:13, 14); (7) ambos se estendem até o tempo do fim (Dn 7:25, 26; 8:17, 19); e (8) ambos enfrentam a destruição sobrenatural (Dn 7:11, 26; 8:25). Por fim, visto que o chifre pequeno de Daniel 7 representa o papado, a expansão vertical do chifre pequeno em Daniel 8 deve representar o mesmo poder. Portanto, como em Daniel 2 e 7, o principal poder final é Roma, tanto pagã quanto papal.



Terça-feira, 25 de fevereiro
Ano Bíblico: Dt 1-3
O ataque ao santuário

3. De acordo com Daniel 8:10-12, que tipo de atividade o chifre pequeno realiza? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:

A. (  ) Atinge o exército dos Céus e tira do Príncipe o sacrifício diário.
B. (  ) Ele se dobra ao Príncipe dos exércitos e Lhe rende adoração.

Em Daniel 8:10, o chifre pequeno tenta replicar, no nível espiritual, os esforços dos construtores de Babel (Gn 11:4). Os termos “exército” e “estrelas” podem designar o povo de Deus no Antigo Testamento. Israel é chamado de hostes/exércitos do Senhor (Êx 12:41). Daniel descreveu o povo fiel de Deus resplandecendo como as estrelas (Dn 12:3). É claro que isso não é um ataque literal aos corpos celestes, mas uma perseguição ao povo de Deus, cuja “pátria está nos Céus” (Fp 3:20). Embora milhares de cristãos tenham sido mortos por imperadores pagãos, o foco agora está nas ações verticais do chifre pequeno. Portanto, o cumprimento supremo dessa profecia deve estar ligado à Roma papal e à sua perseguição através dos séculos.

Além disso, Daniel 8:11 fala sobre um “Príncipe”, mencionado em outras porções de Daniel como “Messias, o Príncipe” (Dn 9:25; ARC),  “Miguel, vosso Príncipe” (Dn 10:21) e “Miguel, o grande Príncipe” (Dn 12:1). Ninguém, a não ser Jesus Cristo, poderia ser o referente dessa expressão. Jesus Cristo é o Príncipe do “exército” mencionado acima e o nosso Sumo Sacerdote no Céu. Portanto, o papado e o sistema religioso que ele representa ofuscam e tentam substituir a função sacerdotal de Jesus.

Em Daniel 8:11, o “sacrifício diário” aparece em conexão com o santuário terrestre a fim de designar os aspectos diversos e contínuos dos serviços rituais – incluindo os sacrifícios e a intercessão. É mediante esses serviços que os pecadores são perdoados, e o problema dos pecados é resolvido no tabernáculo. Esse sistema terrestre representa o ministério de intercessão de Cristo no santuário celestial. Portanto, como a profecia prediz, o papado troca a intercessão de Cristo pela intercessão dos sacerdotes. Por meio dessa adoração falsificada, o chifre pequeno tira o ministério de intercessão de Cristo e simbolicamente derruba o lugar de Seu santuário.

“Deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou” (Dn 8:12). Jesus declarou que Ele é a verdade (Jo 14:6) e que a Palavra de Deus é a verdade (Jo 17:17). Em contrapartida, o papado proibiu a tradução da Bíblia para o idioma do povo, colocou a interpretação das Escrituras sob a autoridade da igreja e a tradição ao lado da Bíblia como regra de fé.


O conhecimento da verdade bíblica é importante em contraste com as tradições humanas?

Quarta-feira, 26 de fevereiro
Ano Bíblico: Dt 4-7
A purificação do santuário

4. O que ocorre em Daniel 8:14? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:

A. (  ) O sacerdote oferece um novilho.
B. (  ) O santuário é purificado.

Após o ataque devastador do chifre, foi feito o anúncio de que o santuário seria purificado. A fim de entender essa mensagem, devemos ter em mente que a purificação do santuário mencionada em Daniel 8:14 corresponde à cena do juízo descrita em Daniel 7:9-14. E visto que esse juízo ocorre no Céu, o santuário também deve estar localizado nesse mesmo lugar. Portanto, enquanto Daniel 7 descreve a intervenção de Deus e Sua relação com os assuntos humanos a partir de uma perspectiva judicial, Daniel 8 descreve o mesmo evento do ponto de vista do santuário.

O santuário terrestre foi moldado de acordo com sua contraparte celestial e servia para ilustrar os amplos desdobramentos do plano de salvação. A cada dia, os pecadores traziam seus sacrifícios para o santuário, onde as pessoas eram perdoadas de seus pecados confessados à medida que estes eram, em certo sentido, transferidos para o santuário, que, como resultado, ficava contaminado. Por isso, um processo periódico de purificação era necessário a fim de limpar o santuário dos pecados registrados nele. Esse processo era chamado de Dia da Expiação e ocorria uma vez por ano (veja Lv 16).

Por que o santuário celestial precisa de purificação? Por analogia, podemos dizer que os pecados confessados dos que aceitaram Jesus foram “transferidos” para o santuário celestial, assim como os pecados dos israelitas arrependidos haviam sido transferidos para o santuário terrestre. No Dia da Expiação terrestre, muitos animais eram mortos, simbolizando a posterior morte de Jesus – dessa maneira os pecadores podiam sobreviver no Dia da Expiação.

E se isso acontecia no Dia da Expiação terrestre, quando o santuário era purificado, muito mais deveria ocorrer no santuário celestial, em que somente o sangue de Cristo nos faz sobreviver no juízo! A purificação do santuário, descrita em Daniel 8:14, é a contraparte celestial do serviço terrestre, cuja mensagem fundamental é: como pecadores, necessitamos do sangue do Messias para nos perdoar os pecados e nos habilitar a sobreviver no juízo.

O que Hebreus 9:23-28 revela sobre a salvação que temos mediante o sacrifício de Jesus?


Quinta-feira, 27 de fevereiro
Ano Bíblico: Dt 8-10
O calendário profético

5. Qual foi a pergunta feita em Daniel 8:13? Como isso nos ajuda a entender a resposta no verso seguinte?

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Qual é o cronograma das 2.300 tardes e manhãs? Primeiramente, devemos observar que após Daniel ter visto o carneiro e o bode, e em seguida as ações e os danos causados pelo chifre pequeno, a visão passa a uma pergunta, em Daniel 8:13. Essa pergunta diz respeito especialmente ao que ocorrerá no fim desse período profético, não à sua duração. Além disso, esse período não pode ser limitado apenas à duração das ações do chifre pequeno, pois o termo “visão” inclui tudo, desde o carneiro até as ações do chifre pequeno. Portanto, esse deve ser um longo período de tempo histórico real.

À pergunta “até quando durará a visão” (carneiro [Média-Pérsia], bode [Grécia] e o chifre pequeno e suas ações [Roma, pagã e papal]), o outro ser celestial respondeu: “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado” (Dn 8:14). Como já foi observado, esse período é muito longo porque começa durante a época do Império Medo-Persa e se estende pelos dias do Império Grego e de Roma pagã e papal, milhares de anos. De acordo com o método historicista de interpretação (veja a lição 1), esse período profético deve ser calculado com base no princípio do dia/ano, o que significa que as 2.300 tardes e manhãs correspondem a um período de 2.300 anos. Caso contrário, os 2.300 dias corresponderiam a um pouco mais do que apenas seis anos, um tempo muitíssimo curto para todos os eventos da visão. Portanto, o princípio do dia/ano deve estar em vigor.

Daniel 8 não apresenta as informações que nos permitem calcular o início desse período de tempo, o que evidentemente poderia estabelecer seu fim. Mas Daniel 9 apresenta essa informação crucial (veja a lição da próxima semana).

Os 2.300 anos dessa profecia constituem a mais longa profecia de tempo da Bíblia. Pense nisto: 2.300 anos! É muito tempo, especialmente se comparado ao nosso tempo de vida atualmente. Como esse contraste nos ajuda a ser pacientes com Deus e em nossa espera pelos eventos finais?

Primeiro Deus - Você já reconheceu que tudo o que possui vem da amorosa mão de Deus?

Sexta-feira, 28 de fevereiro
Ano Bíblico: Dt 11-13
Estudo adicional

seguinte tabela resume a sequência dos reinos descritos em Daniel 2, 7 e 8. O que ela revela sobre a purificação do santuário?


Há paralelos entre os capítulos. Não apenas as nações são descritas de maneira paralela, a cena do juízo em Daniel 7, que surge após os 1.260 anos (538 d.C. – 1798 d.C.) de Roma papal, está em paralelo com a purificação do santuário, que em Daniel 8 também surge depois de Roma. Esse juízo celestial em Daniel 7, que leva ao fim do mundo, é a mesma coisa que a purificação do santuário em Daniel 8. São dadas duas representações diferentes da mesma coisa, e ambas ocorrem após o período de 1.260 anos de perseguição perpetrada pelo chifre pequeno.

Perguntas para discussão

1. De acordo com a tabela, a purificação do santuário (ou o juízo em Daniel 7) deve ocorrer antes ou depois dos 1.260 anos do chifre pequeno? Antes ou depois do estabelecimento do reino eterno de Deus?

2. Daniel 8 descreve a violência e a maldade na História. Os dois animais, simbolizando dois impérios mundiais, lutam entre si (Dn 8:1-8). O chifre pequeno que surge após eles é violento e perseguidor (Dn 8:23-25). Portanto, as Escrituras não minimizam o sofrimento. Isso nos ajuda a confiar na bondade de Deus, apesar do mal que vemos ao nosso redor?

Respostas e atividades da semana: 1. Sobre um carneiro com dois chifres à beira do rio Ulai e um bode que, não tocando o chão, chega e destrói o carneiro. Um dos chifres do carneiro sobressai. Além do mais, cresce um chifre pequeno entre os olhos do bode. Esse chifre se fortalece até a terra gloriosa e comete atrocidades contra o santuário e os santos de Deus, o que parece se assemelhar ao chifre pequeno de Daniel 7. 2. B. 3. V; F. 4. F; V. 5. “Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados?”. A profecia do verso 14 foi a resposta à pergunta do verso 13.



Resumo da Lição 9
Da contaminação à purificação

ESBOÇO

TEXTO-CHAVE: Daniel 8:14

FOCO DO ESTUDO: Daniel 8; Daniel 2:38; Gênesis 11:4; Levítico 16; Hebreus 9:23-28

Introdução

O tema central de Daniel 8 é o Dia da Expiação celestial. Por essa razão, os animais simbólicos que representam os impérios mundiais são o carneiro e o bode, dois animais usados como sacrifícios no serviço do santuário hebraico, mas apenas no Dia da Expiação.

Temas da lição

1. O chifre pequeno

O chifre pequeno representa o poder que ataca o santuário de Deus e o Seu povo. Esse poder representa Roma em suas fases pagã e papal.

2. O Dia da Expiação

Um foco principal da mensagem profética transmitida por esse capítulo é a purificação do santuário, que segundo o ritual do tabernáculo terrestre era realizada no Dia da Expiação.

Aplicação para a vida

Em nossas lutas diárias contra o pecado e o sofrimento não estamos sozinhos. Temos um Sumo Sacerdote no santuário celestial realizando um ministério especial em nosso favor. Podemos desfrutar da manifestação da graça de Deus e compartilhar nossa confiança com os que nos rodeiam. A mensagem do santuário não apenas nos mostra que somos perdoados, mas também aponta para a erradicação final do pecado.

Comentário

A seguir estudaremos com mais detalhes os temas da lição resumidos anteriormente:

1. O chifre pequeno

Enquanto no capítulo 7 o chifre pequeno surge do quarto animal (Roma pagã), o chifre pequeno do capítulo 8 se origina de um dos pontos cardeais. Alguns comentaristas argumentam que esse chifre representa Antíoco IV, um rei selêucida, que surgiu de uma das quatro divisões do Império Grego de Alexandre e invadiu Jerusalém, profanou o templo e perseguiu os judeus. Um olhar mais atento ao texto bíblico, no entanto, aponta para outro representante, uma interpretação que possui mais validade por duas razões principais.

Primeiro, devemos notar que algumas traduções da Bíblia dão a impressão de que o chifre pequeno surge de um dos quatro chifres que sucederam ao grande chifre do bode grego. Se for assim, isso pode se encaixar com Antíoco. No entanto, o texto hebraico indica que o chifre pequeno surge de um dos pontos cardeais. O texto hebraico diz: “E o bode se engrandeceu sobremaneira; mas, estando na sua maior força, aquele grande chifre foi quebrado; e no seu lugar subiram outros quatro também insignes, para os quatro ventos do céu. E de um deles saiu um chifre muito pequeno, o qual cresceu muito para o sul, e para o oriente, e para a terra formosa” (Dn 8:8, 9, ACF). Existem evidências claras na gramática hebraica para sugerir que na expressão “de um deles”, o que antecede a palavra “deles” são “os quatro ventos do céu”. Nesse caso, o chifre pequeno deve ter se originado de um dos pontos cardeais. Em segundo lugar, o chifre começa pequeno, mas se torna muito forte. Antíoco jamais foi um rei tão forte. Apesar de seu ataque aos judeus, ele foi posteriormente derrotado pelos romanos e teve que voltar para casa humilhado. Terceiro, por causa do princípio de recapitulação presente nas visões de Daniel, sabemos que a cena descrita em Daniel 8:9-14 corresponde à cena do juízo celestial de Daniel 7:9-14. Portanto, o santuário atacado pelo chifre pequeno deve ser o santuário celestial, não o templo de Jerusalém profanado por Antíoco.

Como Antíoco não se encaixa nas especificações do chifre pequeno, surge a questão: a que entidade se refere o chifre pequeno? Nesse ponto, devemos ter em mente o paralelismo entre as visões proféticas de Daniel. Assim, o chifre pequeno de Daniel 8 corresponde ao chifre pequeno de Daniel 7. Nesse caso, Roma papal surge como o representante mais óbvio para o chifre pequeno de Daniel 8. No entanto, parece haver uma diferença sutil que vale a pena destacar entre os chifres de Daniel 7 e 8. O chifre pequeno de Daniel 7 surge do quarto animal, o que indica que Roma papal é a continuação ou extensão de Roma imperial. Por outro lado, o chifre pequeno de Daniel 8 aparentemente não surge de nenhum animal, o que sugere que ele representa duas fases contínuas da opressão romana: primeiro, a fase de Roma imperial, a expansão horizontal (Dn 8:9); e então, a fase de Roma papal, a expansão vertical (Dn 8:10-13). É interessante notar que em Daniel 7 o chifre pequeno tenta mudar a Lei de Deus; em Daniel 8, ele concentra o seu ataque contra o Príncipe do santuário e contra o fundamento do próprio santuário. Tais símbolos indicam que o sistema papal apresenta uma contrafação do plano da salvação, a qual ataca tanto a Lei de Deus quanto o Seu plano de salvação.

2. O Dia da Expiação

Diante das atividades agressivas do chifre pequeno contra o santuário e seu ministério (a imposição de um falso sistema de adoração pelo papado), surge a questão: “Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados? (Dn 8:13, ênfase acrescentada). Essa questão pressupõe que passará muito tempo até que o santuário seja restaurado, porque a palavra “visão” aqui se refere à visão do carneiro e do bode, que se estende desde a época do Império da Pérsia até o tempo das terríveis ações do chifre pequeno. Antes de pensarmos na resposta a essa questão de “até quando”, consideremos as figuras do santuário de Daniel 8:9-14.

Essa parte de Daniel 8 está repleta de figuras e termos referentes ao santuário. Palavras como “exército”, “príncipe”, “diário” e “santuário” lembram o sistema de rituais hebraicos. “Exército” (tsaba’) pode se referir aos que ministravam no ritual do santuário; Príncipe (sar) pode corresponder ao Sumo Sacerdote; “diário” (tamid) é uma palavra usada para designar algumas atividades de adoração do santuário as quais aconteciam continuamente, como a oferta do incenso queimado, sacrifícios, etc. Observe que a palavra “sacrifício” usada em algumas versões da Bíblia não aparece no original. Foi acrescentada por tradutores que supõem que a profecia se refere à suspensão dos sacrifícios no templo por Antíoco IV. Na verdade, a palavra hebraica tamid pode ser melhor traduzida como “continuidade” ou “regularidade” e se refere às múltiplas atividades do serviço do santuário, que incluem, mas não se restringem às ofertas de sacrifício. Curiosamente, uma das duas palavras utilizadas aqui para designar o santuário (qodesh) ocorre em Levítico 16, no contexto do Dia da Expiação (a outra é miqdash). Além disso, o paralelo entre essa cena do santuário e o juízo celestial descrito em Daniel 7:9-14 indica que ambas as visões retratam o mesmo evento. Portanto, o santuário mencionado em Daniel 8:14 deve estar situado no Céu.

Agora chegamos à resposta para a pergunta feita em Daniel 8:13: “Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados?” (Dn 8:13). A resposta é: “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado” (Dn 8:14). Essa resposta apresentada por um dos seres celestiais nos informa que o santuário, que é retratado como sendo atacado, será limpo/purificado após 2.300 anos (aplicando o princípio do dia/ano). Um cronograma tão longo como esse se harmoniza com o período de tempo sugerido pela pergunta, que remonta ao tempo do carneiro persa. Embora nenhuma informação seja dada acerca de quando esse período começa ou termina, está claro que deve começar durante o período persa. Mas o ser celestial relata com clareza o que acontecerá quando esse longo período terminar, isto é, a purificação do santuário. No calendário cerimonial israelita, havia um dia especial designado para a purificação do santuário – o Dia da Expiação. Em tais ocasiões, o tabernáculo era purificado (taher) dos pecados do povo de Deus. Daniel 8 menciona um tempo para a purificação do santuário celestial. Essa ação é expressa pelo verbo nitsdaq, que significa ser restaurado, purificado e vindicado. Assim, as principais ideias comunicadas por esse verbo são: (1) o santuário deve ser purificado dos pecados do povo de Deus; (2) o ministério de intercessão divina no santuário celestial deve ser restaurado; (3) Deus deve ser vindicado da profanação de Seu santuário. O sistema papal introduziu distorções no plano da salvação e usurpou a obra intercessória de Cristo por intermédio da consagração da missa, da penitência e da absolvição dos pecados por sacerdotes humanos. A partir da informação apresentada em Daniel 9:23-27, podemos determinar que o ano 457 a.C. marcou o início desse período profético de 2.300 anos. Portanto, esse período profético deve ter terminado em 1844 da nossa era.

Aplicação para a vida

1. Como você se sente sobre a ideia de que o papado distorceu a verdade divina e estabeleceu um falso sistema de adoração?

2. A partir dos símbolos e da linguagem usados em Daniel 8, o que você pode aprender sobre o método de ensino de Deus?

3. Reflita sobre esta declaração de Ellen G. White: “Enquanto o juízo investigativo prosseguir no Céu, enquanto os pecados dos crentes arrependidos estão sendo removidos do santuário, deve haver uma obra especial de purificação, ou de afastamento do pecado, entre o povo de Deus na Terra” (O Grande Conflito, p. 425).

4. Qual é a relação entre a purificação do santuário e a purificação da sua vida como seguidor de Cristo? Você consegue pensar em algum pecado que tenha que abandonar para que se sinta completamente leal a Jesus?

5. Que diferença pode ser percebida entre a obra que Jesus completou na cruz e Seu ministério no santuário celestial? Qual é a relevância de cada um deles em sua vida?

6. Por que Deus precisa realizar um juízo investigativo no santuário celestial? Por que não apenas tomar uma decisão divina instantânea sobre o destino final dos professos seguidores de Cristo? O que esse procedimento judicial revela sobre o caráter de Deus?


A oração no banheiro

Foi um primeiro ano muito difícil na faculdade adventista na Espanha. Dante Marvin Herrman usou suas últimas economias para pagar a mensalidade anual de aproximadamente cinco mil euros. No período de aulas ele trabalhou  para ganhar essa quantia a fim de sustentar a esposa e dois filhos. Agora, ele enfrentava um longo verão longe de casa, trabalhando na colportagem para pagar o segundo ano de estudos.

Dante não se importava com o trabalho duro, mas não havia se matriculado no Centro Universitário Adventista de Sagunto para vender livros. Ele queria passar o verão viajando pelas igrejas, contando quem ele era, um alemão tatuado, que havia abandonado as drogas nas Ilhas Canárias para se tornar adventista. Dante precisava conversar com Deus sobre seus problemas financeiros. Portanto, escolheu um lugar bem tranquilo, o banheiro do apartamento, e fechou a porta. Ajoelhado, desabafou com Deus.

“Papai, o primeiro ano terminou. Recebi as melhores notas da sala e sinto que Tu me chamaste para cá”, disse. Ele sempre se dirigia a Deus como “Papai” nas orações pessoais. “Papai, sei que Tu provês bolsas para alguns alunos. Por favor, não quero trabalhar como colportor com o objetivo de ganhar dinheiro. Quero falar de Jesus. Preciso de liberdade para pregar. Não tenho dinheiro depois de usar minhas economias. Papai, por favor, me ajude.”

Dante fez uma pausa e sentiu algo como uma voz massa e delicada responder em sua mente. “De quanto você precisa?” “Deixe-me ver”, ele respondeu. “Tenho cinco anos de faculdade e o valor é de dez mil euros por ano. Preciso de 50 mil euros.” “Tudo bem Dante”, a voz disse. “Você crê que posso lhe dar essa quantia?” “Você sabe que eu não acredito”, Dante respondeu. “Porém, sou grato porque me que podes ajudar a crer e agradeço pela doação de 50 mil euros.” Passados dez minutos, Dante recebeu exatamente a quantia de que necessitava.

Após orar, ele saiu do banheiro e foi até o quarto de visitas para ver a mãe, que o visitava. “Oi”, ele disse enquanto entrava no quarto. “Saiba que eu te amo?” A mãe estava sentada imóvel na cama e seu rosto estava branco como uma folha de papel. Ela estava com um celular na mão. “O que aconteceu?”, Dante perguntou preocupado. “Aconteceu algo maravilhoso”, ela disse. “O que foi?”, ele insistiu. “Você sabe que, por dez anos, tentei vender minha casa da Alemanha. Bem, recebi uma mensagem no WhatsApp de um homem que quer comprar a casa e ofereceu 50 mil euros a mais do que eu pedi.”

Dante não sabia o que fazer. Ele não achava certo deixar escapar. “Esse é meu dinheiro. Orei por ele.” “Espere”, ele disse em voz alta. “Espere um momento. Preciso ir ao banheiro.” Ali, trancou a porta e ajoelhou-se. “Papai, se eu tivesse pedido 100 mil euros, Você teria me dado?”, perguntou. “Dante. Você pediu 50.000 euros e eu lhe dei a quantia pedida”, foi a resposta. “Sim, mas se eu tivesse pedido 100 mil teria me dado essa benção?” “Sim, poderia ter abençoado com 100 mil euros. Mas você pediu 50 mil euros, por isso dei justamente essa quantia.”

“Posso mudar de ideia?” “Não, não pode,” a voz disse. “Você precisa aprender a pensar alto. Você pensa muito pequeno. Você está pensando somente no momento, mas Eu quero lhe dar mais. Quero que você creia em Mim. Quero que creia que lhe darei o que precisar.” “Tudo bem“, Dante disse. “Mas quem dirá a minha mãe que ela vai precisar dar esse dinheiro?“ “Você crê que posso fazer isso?” “Sim, eu creio, eu creio!”, Dante exclamou. Ele voltou ao quarto de visitas, onde a mãe continuava sentada na cama. “Dante, quer saber de uma coisa?”, ela disse enquanto ele entrava no quarto. “Acho que seria melhor se eu lhe desse essa quantia extra para você pagar seus estudos.”

Dante, que tem 36 anos e está concluindo o segundo ano, crê que Deus guia aqueles que caminham em obediência e fé. “Quando Deus respondeu à minha oração, percebi que caminhar com Deus é ter fé”, diz. “Deus não revelará necessariamente todo o seu futuro. Ele só pede para confiar Nele.”

Parte da oferta do trimestre ajudará o Centro Universitário Adventista de Sagunto a expandir seu campo com um novo edifício para o seminário, permitindo que mais alunos como Dante possam estudar para servir a Deus.

 

Dicas da história

• Assistir ao vídeo sobre Dante no YouTube: bit.ly/Dante-Herrmann.
• Fazer o download das fotos no Facebook (bit.ly/fb-mq) ou base de dados ADAMS (bit.ly/Dante-photos).
• Fazer o download das fotos dos projetos trimestrais: bit.ly/eud-2020-projects.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2020
Tema Geral: Daniel
Lição 9 – 22 a 28 de fevereiro

Da contaminação à purificação

Autor: Marcelo Rezende
Editor: André Oliveira Santos
Revisora: Josiéli Nóbrega

O momento histórico mencionado no início do capítulo 8 de Daniel é o terceiro ano de Belsazar, rei da Babilônia. Ao contrário do que normalmente se pensa, o poder de Babilônia ainda não havia passado, e a simples menção a Belsazar nos traz à mente a lembrança de sua ação arrogante de exaltar seu poder acima de Deus e profanar os utensílios sagrados do templo do Senhor. Atitudes semelhantes a essas seriam realizadas por outro poder, em escala maior, na visão recebida por Daniel neste capítulo.

Em sua visão, Daniel presencia uma cena de luta entre dois animais: um carneiro e um bode (animais limpos usados nos ritos do santuário), que segundo a interpretação oferecida pelo anjo (Dn 8:20-22) representava os reinos dos medo-persas e dos gregos, em conflitos pela sucessão do poder, culminando com a destruição dos Persas e o predomínio da Grécia. O bode grego, depois de consolidado em seu domínio, teve seu grande chifre quebrado, dando lugar a outros quatro chifres pequenos, os quatro generais de Alexandre, o Grande, que, após sua morte, dividiram o reino entre si. Eles cresceram na direção dos “quatro ventos do céu” (Dn 8:21, 22). A partir de então, a história, de uma forma quase que cômica, descreve o surgimento de um chifre pequeno, que, desvinculado de qualquer corpo, vem voando de um dos pontos cardeais do planeta, caindo no chão e crescendo de forma desmedida em direção ao sul, ao oriente e para a “terra gloriosa”, que, para Daniel, sem dúvida era a terra de Israel. Pela descrição das áreas de expansão do chifre, podemos dizer que ele veio do ocidente e entrou pelo norte da região de Israel. Essa descrição se encaixa perfeitamente com a identificação do Império Romano como sendo esse chifre (a ligação de Roma com o “Norte” será posteriormente desenvolvida em Daniel 11). Alguns comentaristas e algumas traduções da Bíblia afirmam que o chifre pequeno sai de “um dos chifres” do bode, mas na verdade, ele tem sua origem em um dos “ventos do céu”. Em português, uma tradução que capta melhor o original hebraico seria “... e no seu lugar subiram outros quatro também insignes, para os quatro ventos do céu. E de um deles saiu um chifre muito pequeno...” (Dn 8:8, 9 ACF).

Outros indícios fortalecem a conexão entre o chifre pequeno de Daniel 8 e o mesmo símbolo que representa Roma em Daniel 7. Além do uso repetido da imagem do “chifre” (já visto no animal terrível de Daniel 7), encontramos conexões textuais importantes que ligam e identificam os dois agentes como sendo o mesmo poder, mas visto sob perspectivas diferentes: ambos são descritos como “pequenos” – o texto hebraico em Daniel 8:9 usa uma palavra mais incomum para o termo “pequeno” (tseirah) para combinar melhor com a palavra aramaica usada em Daniel 7:8 para pequeno (ze‘erah); a frase “feroz catadura”, em Daniel 8:23, traduzida literalmente como “rosto feroz”, nos lembra o chifre de Daniel 7, com rosto humano mas que falava blasfêmias; ambos são poderes perseguidores do povo de Deus (Dn 7:21, 25; 8:10, 24), atuando dentro de tempos proféticos determinados (Dn 7:25; 8:13, 14); mas, no final, ambos são destruídos de forma sobrenatural (Dn 7:11, 26; 8:25).

O chifre pequeno em Daniel 7 representa exclusivamente o poder religioso de Roma, uma vez que o corpo do animal representa a dimensão política do império. Em Daniel 8, as duas fases do poder de Roma são descritas pela forma com que o crescimento do chifre atua: primeiramente se expandindo horizontalmente entre as nações (poder político) e depois verticalmente (poder religioso), atacando o Messias, o “Príncipe” do povo de Deus, Seu sacerdócio e Seu Santuário. Daniel 8:11, ao descrever os ataques feitos contra o Príncipe de Deus, afirma que o “sacrifício diário” Dele foi “retirado” pelo chifre romano. Na verdade, a palavra “sacrifício” não aparece aqui no texto hebraico, que traz a palavra “tamid”, que pode ser traduzida somente como “contínuo”, referindo-se não apenas aos sacrifícios, mas a todos os rituais e serviços que continuamente ocorriam no santuário. Essa palavra é empregada aqui em Daniel 8 para abranger todo o sacerdócio do Messias.

A questão é: como Roma “tira” o sacerdócio do Príncipe? Mais uma vez o texto hebraico oferece detalhes importantes: a palavra traduzida como “tirado” (rum) também é usada no livro de Levítico para descrever atividades relacionadas aos sacrifícios oferecidos no santuário (Lv 2:9; 4:8, 10, 19; 6:10, 15), podendo indicar aqui que a ação realizada pelo chifre romano contra o Príncipe consistiu em retirar Seu sacerdócio pela implantação de outro sistema sacerdotal em seu lugar. Ao estudarmos a história do cristianismo ocidental, podemos constatar que todo o ritual litúrgico romano, o conceito da missa realizada pelos padres como uma repetição semanal do sacrifício de Jesus, os líderes religiosos vistos como sacerdotes intermediários entre os homens e Deus (tendo inclusive o poder de perdoar pecados!), a intercessão dos santos em favor dos pecadores penitentes e a própria instituição da Igreja como mediadora entre a humanidade e Deus, contribuíram para anular, na teologia e na prática, a centralidade do sacerdócio de Jesus e Sua função como único Mediador entre Deus e o homem, fazendo com que mesmo a ideia da existência de um santuário no Céu ficasse completamente esquecida pelos cristãos, apesar de ser recorrentemente explícita na Bíblia (Êx 25:8, 9; Hb 8:1, 2; Ap 11:19).

A Bíblia é clara ao afirmar a total singularidade de Jesus como nosso Sacerdote e não permite a existência de qualquer outro poder intermediário entre Deus e a humanidade. Qualquer um que se apresentar dessa forma, independentemente da fé professe, comete o sacrilégio da “transgressão assoladora” (Dn 8:13). Somente Jesus é Deus e Homem ao mesmo tempo em sua natureza (1Tm 2:5), somente Ele pode unir as duas partes separadas pelo pecado em uma única natureza indivisível para sempre! A liberdade cristã existe no fato de termos a certeza de que nenhum ser humano, por mais carismático e espiritual que aparente ser, nenhuma instituição, religião ou denominação, tem a autoridade para se oferecer como um meio para nos aproximarmos de Deus. Qualquer ser humano com sua fé depositada no Filho de Deus pode ter a certeza de ter livre acesso a Deus pelo pleno exercício intercessor do sacerdócio de Jesus.

Daniel 8 profetiza o ataque ao santuário e ao sacerdócio do Messias, mas a promessa de uma “purificação do santuário” (nitsdak kodesh) também afirma que chegaria o tempo em que uma ampla restauração aconteceria, no final de 2.300 anos. A palavra nitsdaq pode ser traduzida como “purificar, vindicar, fazer justiça”, indicando que a centralidade e a compreensão do sacerdócio do Messias seriam restaurados, e o santuário celestial, bem como o povo de Deus, seriam vindicados por meio do julgamento descrito em Daniel 7, uma cena que é a exata contraparte dos eventos de Daniel 8:14. O início da contagem dos dias da profecia dos 2.300 anos não é apresentado no texto de Daniel 8. Essa informação é oferecida somente no capítulo seguinte, mas é essa vinculação entre os capítulos 8 e 9, e o fato de os 2.300 anos terem início durante o reinado dos persas, que constituem o verdadeiro motivo para que o reino da Babilônia não fosse mencionado nesse capitulo, uma vez que a profecia do tempo teria início após a queda de Babilônia, que deu início ao reinado dos persas.

Daniel dividiu a visão do capítulo 8 essencialmente em duas partes: a visão (hazon) dos animais e a sucessão dos poderes dos reinos, e a visão (mareh) da purificação do santuário e dos 2.300 anos. A primeira parte foi explicada pelo anjo em Daniel 8:20-26, mas a segunda parte foi deixada sem explicação, por se estender para épocas muito distantes dos dias do profeta, até o tempo do fim (Dn 8:26, 27). O capítulo seguinte soluciona esse mistério.

A profecia de Daniel 8 mostra que o santuário celestial seria purificado. Essa purificação significa a remoção dos pecados dos salvos dos livros de registro celestiais com base nos méritos do sangue de Jesus Cristo, derramado na cruz e apresentado pelo Filho ao Pai no santuário celestial, em favor dos crentes que aceitam a salvação. A purificação do santuário celestial corresponde à purificação e santificação do povo fiel de Deus ao longo dos séculos, de modo especial a partir de 1844, quando começa a purificação do santuário celestial, cujos efeitos alcançam os salvos que viveram em toda a História do povo de Deus, mesmo antes dessa data. Portanto, se há uma purificação no santuário celestial, deve haver uma purificação do coração dos fiéis de Deus.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre:

Atualmente, Marcelo Rezende é pastor do distrito de São Carlos, na Associação Paulista Oeste. Há 20 anos é pastor e tem servido a igreja em diversas funções ministeriais. Possui mestrado em teologia bíblica com ênfase em teologia paulina pelo Unasp-Engenheiro Coelho. É casado com Simone Ramos Rezende e juntos têm dois filhos: Sarah (que nasceu em um dia 22 de outubro – os que estudarem a lição de Daniel entenderão!), e o caçula Daniel (o mesmo nome do profeta!).