Lição 2
04 a 10 de janeiro
De Jerusalém a Babilônia
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Gn 12-15
Verso para memorizar: “Ora, a estes quatro jovens Deus deu o conhecimento e a inteligência em toda cultura e sabedoria; mas a Daniel deu inteligência de todas as visões e sonhos” (Dn 1:17).
Leituras da semana: 2Rs 21:10-16; Dn 1; Gl 2:19, 20; Mt 16:24-26; 2Co 4:17; Tg 1:5

A Bíblia não se esquiva de mostrar as fraquezas da humanidade caída. De Gênesis 3 em diante, a pecaminosidade humana e seus tristes resultados são revelados com destaque. Ao mesmo tempo, também vemos casos de pessoas que demonstraram grande fidelidade a Deus, mesmo quando confrontadas com incentivos poderosos para serem qualquer coisa, menos fiéis. E alguns dos exemplos mais intensos dessa fidelidade se encontram no livro de Daniel.

Entretanto, ao estudarmos esse livro, tenhamos em mente que o verdadeiro herói da narrativa é Deus. Estamos tão acostumados com histórias que enfatizam a fidelidade de Daniel e de seus amigos que podemos nos esquecer de exaltar a fidelidade Daquele que guiou e sustentou aqueles quatro jovens ao enfrentarem o poder e a sedução do Império Babilônico. Ser fiel já é um grande desafio em nosso país e em nossa localidade, quanto mais quando enfrentamos a pressão de um país, cultura e religião estrangeiros. Mas os protagonistas humanos enfrentam os desafios porque, como o apóstolo Paulo, eles sabem em quem têm crido (2Tm 1:12) e confiam Nele.


Dez Dias de Oração e Resgate: Deus chama cada igreja para um desafio em 2020 – batizar no mínimo um ex-adventista no sábado, dia 15/2, no programa especial do Reencontro, no fim dos Dez Dias de Oração. Você aceita essa missão?

Domingo, 05 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 16-19
A soberania de Deus

À primeira vista, o livro de Daniel começa com um sombrio tom de derrota. Judá havia se rendido a Nabucodonosor e os utensílios do templo tinham sido levados de Jerusalém para a terra de Sinar. A palavra Sinar aparece na Bíblia em Gênesis 11:2 como sendo a localização da Torre de Babel. Sinar é um indício nefasto, pois faz alusão a um projeto firmado em aberta rebeldia para com Deus. Porém, embora os construtores de Babel tivessem fracassado na tentativa de alcançar o céu, as aparências exteriores sugeriram que Nabucodonosor e seus deuses, localizados na terra de Sinar, tinham dominado o Deus da aliança de Israel.

No entanto, as frases iniciais do livro de Daniel deixam claro que a derrota de Jerusalém não foi creditada ao poder superior do rei babilônico; em vez disso, ocorreu porque “O Senhor lhe entregou nas mãos a Jeoaquim, rei de Judá” (Dn 1:2). Muito antes, Deus havia anunciado que, se o Seu povo O esquecesse e quebrasse a aliança, Ele os enviaria como cativos para uma terra estrangeira. Portanto, Daniel sabia que, por trás e além do poder militar de Babilônia, o Deus do Céu estava comandando a marcha da História. Essa visão clara da soberania de Deus sustentou os jovens hebreus e lhes deu força e coragem para enfrentar a tentação e a pressão do Império Babilônico.

1. Leia 2 Reis 21:10-16; 24:18-20 e Jeremias 3:13. Por que Deus entregou Judá e Jerusalém nas mãos dos babilônios? Assinale a alternativa correta:

A. (  ) Porque Judá e Jerusalém fizeram o que era mau perante o Senhor.
B. (  ) Por causa do poder irresistível de Babilônia.

Ao enfrentarmos os desafios do século 21, precisamos retomar a percepção de Deus tão vividamente refletida no livro de Daniel. De acordo com o profeta, o Senhor a quem servimos não apenas dirige as forças da História por Sua soberania, mas também intervém misericordiosamente na vida de Seu povo para conceder-lhe auxílio crucial em tempos de necessidade. E, como veremos mais adiante, Deus fará por Seu povo no tempo do fim o que fez pelos cativos hebreus, independentemente dos vários ataques a eles e à sua fé.

Primeiro Deus - Os recursos que Deus lhe deu estão sendo usados para promover o Reino de Deus na Terra?

Quais desafios você enfrenta, de fontes externas, de dentro da igreja ou de seus defeitos de caráter? Como você pode se apoiar no poder de Deus para vencer o que está diante de você?

Segunda-feira, 06 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 20-22
Fé sob pressão

2. Leia Daniel 1. Os jovens hebreus foram pressionados a se enquadrarem a quais aspectos da cultura de Babilônia?

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Quando chegaram a Babilônia, aqueles quatro jovens tiveram que enfrentar um perigoso desafio à sua fé e às suas convicções: eles foram selecionados para receber treinamento especial para servir ao rei. Os antigos reis costumavam recrutar alguns de seus melhores cativos para servir no palácio real e, assim, transferir sua lealdade ao rei e aos deuses do império que os haviam capturado. De fato, todo o processo pretendia efetuar algum tipo de conversão e doutrinação que resultasse em uma mudança de visão de mundo. Como parte desse processo, os cativos hebreus tiveram seus nomes alterados. Um novo nome sinalizava uma mudança de propriedade e uma mudança de destino. Portanto, ao renomear os cativos, os babilônios pretendiam exercer autoridade sobre eles e forçá-los a assimilar os valores e a cultura da Babilônia. Seus nomes originais, que apontavam para o Deus de Israel, foram substituídos por nomes que honravam as divindades estrangeiras. Além disso, o rei determinou que os rapazes comessem da comida de sua mesa. Comer da comida do rei tinha profundas implicações na Antiguidade. Significava completa lealdade ao rei e refletia dependência dele. E, como a comida era geralmente oferecida ao deus ou aos deuses do império, comer também tinha um profundo sentido religioso. Evidentemente, isso significava aceitar o sistema de adoração do rei e participar dele.

Portanto, Daniel e seus companheiros se encontravam em circunstâncias desafiadoras. Para que eles permanecessem fiéis a Deus e sobrevivessem ao poder opressor do sistema imperial era necessário nada menos que um milagre. Para complicar ainda mais, a cidade de Babilônia também se mantinha como uma expressão monumental da realização humana. A beleza arquitetônica dos templos babilônicos, os jardins suspensos e o rio Eufrates, serpenteando pela cidade, transmitiam uma imagem de poder e glória insuperáveis. Assim, Daniel e seus amigos receberam uma oportunidade de promoção e a chance de desfrutar dos benefícios e prosperidade desse sistema. Eles poderiam deixar de ser cativos hebreus e se tornarem oficiais reais. Transigiriam eles em seus princípios para trilhar o caminho fácil para a glória?


De que maneira esses rapazes poderiam ter racionalizado a decisão de transigir com suas convicções? Você enfrenta desafios semelhantes, ainda que sejam mais sutis?

Terça-feira, 07 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 23-25
Firme decisão

3. Em Daniel 1:7-20, vemos dois fatores em ação: o livre-arbítrio de ­Daniel e a intervenção de Deus. Além disso, que princípio importante aparece no texto?

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Parece que os quatro cativos hebreus não se opuseram aos nomes babilônicos que lhes foram dados. Muito provavelmente, não havia nada que pudessem fazer quanto a isso, além de usar seus nomes hebraicos entre si. Mas em relação à comida e ao vinho da mesa do rei, certamente eles tinham o poder de decidir consumi-los ou não. Portanto, a livre escolha dos quatro homens foi muito importante naquele momento.

No entanto, se um oficial podia alterar seus nomes, ele também poderia alterar o cardápio. Há duas razões prováveis pelas quais os quatro não quiseram comer da mesa do rei.

Primeiramente, as refeições da mesa do rei poderiam conter carnes imundas (Lv 11). Em segundo lugar, a comida era oferecida primeiramente à imagem do deus [babilônio] e depois enviada ao rei para seu consumo. Portanto, quando Daniel, sem recorrer ao subterfúgio ou ao engano, deixou claro que seu pedido tinha uma motivação religiosa, ou seja, a comida no palácio contaminaria a ele e a seus amigos (Dn 1:8), ele estava sendo muito corajoso.

Quando analisamos a interação entre Daniel e o oficial babilônio, alguns pontos importantes se destacam. Primeiro, Daniel parecia entender bem a difícil posição do oficial. Por isso, ele propôs um teste. Dez dias para o consumo das refeições alternativas deviam ser suficientes para demonstrar os benefícios da dieta e, assim, acabar com os medos do oficial. Segundo, a certeza de Daniel de que o resultado seria muito positivo em tão pouco tempo originava-se de sua confiança absoluta em Deus. Terceiro, a escolha de uma dieta à base de vegetais e água aponta para a comida que Deus havia concedido à humanidade na criação (veja Gn 1:29), um fato que pode também ter influenciado a escolha de Daniel. Afinal, qual dieta poderia ser melhor do que a que Deus nos deu originalmente?


Por que a livre escolha de Daniel foi tão importante a ponto de abrir o caminho para que Deus agisse (veja Dn 1:9)? Quais lições podemos extrair desse relato sobre a importância de nossas decisões? Como nossa confiança em Deus deve impactar nossas escolhas?

Quarta-feira, 08 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 26, 27
Imaculado e sábio

Daniel e seus companheiros foram escolhidos para o serviço real porque se encaixavam no perfil estabelecido por Nabucodonosor. De acordo com o rei, os oficiais do palácio deviam ser “sem nenhum defeito” e de “boa aparência” (Dn 1:4). Curiosamente, os sacrifícios e as pessoas que serviam no santuário não deviam ter “defeito” (Lv 21:16-24; 22:17-25). O rei da Babilônia parecia se comparar ao Deus de Israel na medida em que ele exigia qualificações semelhantes para aqueles que serviam em seu palácio. Por outro lado, essas qualificações podem sugerir casualmente que Daniel e seus compatriotas teriam sido sacrifícios vivos para o Senhor ao enfrentarem os desafios do Império Babilônico.

4. Leia Gálatas 2:19, 20, Mateus 16:24-26 e 2 Coríntios 4:17. De acordo com esses versos, como podemos permanecer fiéis em meio às tentações que enfrentamos? Assinale a alternativa correta:

A. (  ) Confiando em nós mesmos e em nossa capacidade.
B. (  ) Negando a nós mesmos e perseverando na fé.

Deus honrou a lealdade dos quatro cativos hebreus e, ao final dos dez dias, eles pareciam mais saudáveis e mais nutridos do que os outros que comeram da mesa real. Assim, Deus concedeu aos Seus quatro servos “o conhecimento e a inteligência em toda cultura e sabedoria”, e somente a Daniel o Senhor “deu inteligência de todas as visões e sonhos” (Dn 1:17). Esse dom desempenhou uma função significativa no ministério profético de Daniel.

Assim como Deus honrou a fé de seus servos na corte de Babilônia, Ele nos dá sabedoria ao enfrentarmos os desafios do mundo. A partir da experiência de Daniel e de seus companheiros, percebemos que é realmente possível permanecer incontaminados dos elementos corruptores da nossa sociedade. Também aprendemos que não precisamos nos isolar da sociedade e de sua vida cultural para servir a Deus. Daniel e seus companheiros não apenas viveram em meio a uma cultura fundamentada em mentiras, erros e mitos, mas foram instruídos nessas mentiras, erros e mitos. Contudo, eles permaneceram fiéis.


Não importa onde vivamos, enfrentamos o desafio de permanecer fiéis ao que acreditamos em meio a influências culturais e sociais contrárias a essa crença. Identifique as influências negativas em sua cultura. Você está resistindo a essas influências?

Quinta-feira, 09 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 28-30
A prova final

5. Leia Daniel 1:17-21. Qual foi o segredo para o sucesso dos quatro jovens? (Veja também Jó 38:36; Pv 2:6; Tg 1:5).

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Depois de três anos de treinamento na “Universidade da Babilônia”, os quatro hebreus foram levados perante o rei para a prova final. Eles não eram apenas mais saudáveis do que os outros alunos, mas também os superaram em conhecimento e sabedoria. Os quatro foram imediatamente contratados para servir ao rei. Não devemos nos esquecer de que esse conhecimento e sabedoria evidentemente incluíam muito paganismo. No entanto, eles aprenderam mesmo assim, e aprenderam muito bem, ainda que não acreditassem nessas coisas.

Nabucodonosor pode ter pensado que esse sucesso estivesse relacionado com a dieta do palácio e ao programa de treinamento ao qual os quatro alunos haviam sido submetidos. No entanto, Daniel e seus companheiros sabiam (e a narrativa mostra isso claramente) que seu desempenho superior não foi devido ao sistema babilônico. Tudo tinha vindo de Deus. Que exemplo poderoso do que o Senhor pode fazer por aqueles que confiam Nele! Não devemos temer o poder opressor da mídia, dos governos e de outras instituições que ameaçam destruir nossa identidade como filhos de Deus. Quando colocamos nossa confiança em Deus, podemos ter a certeza de que Ele pode nos sustentar em momentos difíceis e nos preservar contra todas as adversidades. O segredo é fazermos escolhas certas quando confrontados com desafios à nossa fé.

Observando Daniel 1, aprendemos algumas lições muito importantes sobre Deus: (1) Ele está no controle da História. (2) O Senhor concede sabedoria para que possamos nos orientar no ambiente hostil de nossa cultura e sociedade. (3) Ele honra os que confiam Nele mediante a convicção interior e o estilo de vida.

O capítulo conclui indicando que “Daniel continuou até ao primeiro ano do rei Ciro” (Dn 1:21). A menção a Ciro nesse verso é significativa: ela apresenta um vislumbre de esperança em meio a uma experiência de exílio. Ciro foi o escolhido por Deus para libertar Seu povo e permitir que ele voltasse para Jerusalém. Embora o capítulo comece com a derrota e o exílio, ele conclui com um vislumbre de esperança e uma volta ao lar. Este é o nosso Deus: nos momentos mais difíceis da nossa vida, Ele sempre abre uma janela de esperança para que vejamos a glória e a alegria que estão além do sofrimento e da dor.


Primeiro Deus - Desconfie sempre do seu poder e capacidade. Isso fará você confiar cada vez mais em Cristo.

Sexta-feira, 10 de janeiro
Ano Bíblico: Gn 31-33
Estudo adicional

Daniel e seus companheiros, em Babilônia, foram aparentemente mais favorecidos pelas circunstâncias em sua juventude do que José, nos primeiros anos de sua vida no Egito; no entanto, estiveram sujeitos a provas de caráter quase tão severas como as dele. Vindo de seu lar hebreu, de relativa simplicidade, esses jovens da linhagem real foram transportados à mais magnificente das cidades, para a corte de seu maior rei, e separados, a fim de ser instruídos para o serviço especial do palácio. As tentações que os cercavam naquela corte corrupta e luxuosa eram fortes. O fato de que eles, os adoradores de Jeová, eram cativos em Babilônia, de que os utensílios da casa de Deus tinham sido postos no templo dos deuses daquela cidade e de que o próprio rei de Israel era prisioneiro nas mãos dos babilônios era orgulhosamente mencionado pelos vitoriosos como evidência de que sua religião e seus costumes eram superiores aos dos hebreus. Sob tais circunstâncias, e por meio das próprias humilhações ocasionadas pelo afastamento de Israel dos mandamentos de Deus, Ele apresentou a Babilônia evidências de Sua supremacia, da santidade de Suas ordens e do resultado certo da obediência. E esse testemunho Ele deu, como unicamente poderia ter dado, por meio daqueles que ainda mantinham firme sua fidelidade” (Ellen G. White, Educação, p. 54).

Perguntas para discussão

1. Fale sobre os desafios culturais e sociais que você enfrenta como cristão em sua sociedade. Quais são eles e como a Igreja pode oferecer uma resposta a esses desafios?

2. Para Daniel e seus amigos, teria sido fácil transigir quanto à sua fé; afinal, os babilônios tinham derrotado a nação judaica. O que mais era necessário para “provar” que os “deuses” babilônicos eram superiores ao Deus de Israel, e que, portanto, Daniel e seus companheiros precisavam aceitar esse fato? Nesse caso, a quais verdades bíblicas importantes eles podem ter se apegado a fim de encontrar apoio nesse período? (Jr 5:19; 7:22-34.) Por que é importante conhecer a Bíblia e entender a verdade presente?

3. Por que a fidelidade é tão importante, não apenas para nós, mas para aqueles a quem ela serve de testemunho do caráter do Senhor, a quem procuramos servir?

 

Respostas e atividades da semana: 1. A. 2. Os quatro hebreus foram pressionados a comer as finas iguarias do rei para que ficassem, segundo a visão do rei, inteligentes para servir em seu palácio. Eles rejeitaram as iguarias e pediram, em seu lugar, legumes e água. 3. Daniel e seus três amigos decidiram, naquilo que lhes cabia, tomar uma posição ao lado de Deus. Quanto aos seus novos nomes, não puderam fazer nada; porém, em relação à comida do rei, optaram pelos preceitos divinos. O Senhor interveio, mostrando a Aspenaz o efeito da decisão deles. 4. B. 5. O segredo foi a sabedoria concedida por Deus e a obediência ao Senhor.



Resumo da Lição 2
De Jerusalém a Babilônia

ESBOÇO

TEXTO-CHAVE: Daniel 1:17

FOCO DO ESTUDO: Daniel 1; Gênesis 39; Ester 4; Ester 5

Introdução

Daniel 1 prepara o cenário para o que se desenrola ao longo do livro e apresenta seus principais temas. Deus surge como o personagem principal, exercendo domínio sobre reis e reinos mundiais, bem como ajudando Seu povo fiel (os que permaneceram fiéis) na sua experiência de vida em terra estrangeira. Entre a multidão de cativos, quatro jovens dominam com inigualável sabedoria as complexidades da corte babilônica, enquanto se comprometem de todo o coração a permanecer fiéis ao Deus de seus pais.

Temas da lição: A lição desta semana aborda três questões principais.

1. O contexto de Daniel

Mesmo em meio a um evento tão trágico quanto o exílio, Deus estava no controle. O exílio não ocorreu como um incidente inesperado desencadeado pelo poder de Babilônia, mas pela execução do mais severo juízo divino que por muito tempo havia sido anunciado sobre um povo impenitente.

2. A educação de Daniel

Enquanto passavam pelo processo educacional, Daniel e seus companheiros decidiram resistir à doutrinação do império. Embora as aparências externas indicassem que Deus havia perdido a batalha para as divindades pagãs, esses jovens permaneceram fiéis e agiram de acordo com a Palavra de Deus.

3. A sabedoria de Daniel

Um aspecto importante que caracterizou Daniel e seus companheiros foi a sabedoria deles. Essa característica se refere a algo mais do que sabedoria ou conhecimento intelectual; indica uma capacidade divinamente concedida de ver a vida a partir da perspectiva divina.

Aplicação para a vida

Embora a vida possa ser marcada por circunstâncias difíceis e inexplicáveis, o Deus a quem servimos tem todas as coisas sob controle e pode transformar o mal em bem. Nossa visão de mundo (cosmovisão), que consiste nas nossas ideias e convicções individuais, as quais caracterizam nossa percepção de Deus e da realidade em geral, é uma ferramenta muito importante para nos ajudar a direcionar nosso caminho na vida. Permitamos que as Escrituras sejam a fonte e o fundamento da nossa cosmovisão, como foi para Daniel.

Comentário

1. O contexto de Daniel

O exílio não aconteceu como um incidente inesperado, desencadeado pelo poder de Babilônia, ou por uma decisão aleatória do Senhor. Na verdade, vários profetas já haviam advertido o povo de Deus de que, a menos que se arrependessem dos seus pecados e voltassem a ser fiéis à aliança, seriam punidos pelos exércitos inimigos que destruiriam o templo e os levariam cativos para uma terra estrangeira. O profeta Jeremias, que profetizou naqueles tempos, também exortou as autoridades do reino de Judá a se entregarem a Babilônia, porque essa era a vontade de Deus. Assim, depois de muitas advertências desprezadas, Nabucodonosor subiu a Jerusalém e submeteu Judá ao controle do Império Babilônico.

Para entender a experiência de Daniel e seus amigos, precisamos ter em mente que o exílio foi uma deportação em massa de uma população de sua terra natal, com o objetivo de destruir sua identidade e facilitar o controle pelo poder dominante. Esse tipo de deportação tinha geralmente como alvo as classes mais altas, os nobres, os líderes e os pensadores. Somente os pobres eram autorizados a permanecer na terra natal, a qual muitas vezes era devastada pela guerra. Tal estratégia política e militar era amplamente praticada no mundo antigo pelos assírios e pelos babilônios. Em 722 a.C. os assírios destruíram o norte de Israel e deportaram grande parte da sua população para outras partes do império. Judá não prestou atenção ao que aconteceu ao seu vizinho e encontrou o mesmo destino nas mãos dos babilônios.

A Bíblia registra três importantes incursões e deportações babilônicas contra Judá. A primeira aconteceu em 605 a.C., quando Nabucodonosor, depois de derrotar os egípcios em Carquemis, marchou contra Judá. Ele levou alguns cativos para Babilônia, entre os quais estavam Daniel e seus três amigos. Em 597 a.C., devido às manobras políticas de Jeoaquim, que insistiu numa aliança política com o Egito, Nabucodonosor invadiu Judá pela segunda vez e deportou outra parte da população. Entre os deportados estavam o profeta Ezequiel e o rei Joaquim, filho de Jeoaquim, que havia morrido pouco antes da invasão. Nabucodonosor estabeleceu Zedequias (tio de Joaquim) sobre o trono, esperando assegurar sua lealdade a Babilônia. Mas, apesar das contínuas advertências de Jeremias, o novo rei persistiu em buscar ajuda egípcia para resistir ao domínio babilônico. Finalmente, Nabucodonosor perdeu a paciência e em 586 a.C. marchou contra Judá; dessa vez os babilônicos destruíram Jerusalém e o templo e deportaram outra parte da população para Babilônia.

2. A educação de Daniel

Seria útil estudarmos um pouco sobre o sistema educacional babilônico. Esse conhecimento nos dá uma ideia sobre os tipos de assuntos aos quais os cativos hebreus foram expostos e que tipo de cosmovisão eles enfrentaram.

O primeiro estágio da educação babilônica envolvia o aprendizado das duas principais línguas comuns aos babilônios: o aramaico, que estava se tornando uma língua internacional na época, e o acadiano, que era a linguagem literária usada para comunicar as tradições religiosas e culturais do império. O acadiano exigia o domínio de um complexo sistema de escrita cuneiforme com centenas de caracteres. Nessa primeira etapa, os alunos estudavam textos com relatos de histórias às quais os jovens nativos da Babilônia conheciam desde a infância, como as lendas de Gilgamesh, Sargon e N?ram-Sîn.

No segundo estágio, os estudantes eram apresentados a muitos outros textos, os quais tinham como objetivo aprimorar suas habilidades literárias e ajudá-los a desenvolver uma cosmovisão babilônica. Certo autor assim descreveu esse segundo estágio: “Havia dois propósitos nesse estágio: ocupar a mente do estudante com a ideologia teológica e política presente na capital e prepará-lo para um programa de aprendizado como um júnior ?šipu, uma posição que, segundo o que sabemos a partir de cólofons (anotações encontradas no fim dos manuscritos antigos com informações sobre sua produção), era ocupada por muitos escribas aprendizes. No que se refere à exposição à literatura, a narração de histórias que caracterizava a primeira fase dava lugar a assuntos mais importantes, como a implantação mental de uma cosmovisão e o aprendizado de conhecimentos práticos” (A. R. George, The Babylonian Gilgamesh Epic [A Epopeia Babilônica de Gilgamesh], Oxford: Oxford University Press, 2005, 1:36).

Não sabemos os detalhes do currículo específico atribuído a Daniel e seus amigos. Mas a descrição mencionada anteriormente oferece uma ideia de como a educação era conduzida em Babilônia naquela época. O programa acadêmico imposto a Daniel e seus companheiros pode ter sido tão exigente quanto o que foi descrito aqui. Mas eles se destacaram em toda a sabedoria e conhecimento promovidos pela Universidade de Babilônia!

3. A sabedoria de Daniel

Um aspecto importante do caráter de Daniel e seus companheiros era a sabedoria deles. Enquanto Daniel tentava contornar os desafios da doutrinação babilônica, especialmente no que diz respeito à alimentação, ele agia com tato e sabedoria excepcionais, a fim de evitar comer do que era servido à mesa do rei. Posteriormente, Daniel e seus companheiros foram achados dez vezes mais sábios do que todos os outros sábios de Babilônia. No final do livro de Daniel, encontramos uma referência àqueles que possuem discernimento e também aos sábios, que seriam perseguidos pelas forças do mal, mas que finalmente sairiam vitoriosos (Dn 11:33, 35; 12:3). Mas, para melhor apreciar o tema da sabedoria em Daniel, seria apropriado examinar como esse tema é tratado em outras partes da Bíblia.

Um dos temas bíblicos mais fascinantes é o conceito de sabedoria. Existem até mesmo algumas partes significativas das Escrituras que são chamadas de literatura de sabedoria. Jó, Provérbios e Eclesiastes, juntamente com o Cântico dos Cânticos e vários salmos são considerados textos de sabedoria. Os textos de sabedoria colocam forte ênfase na obediência à Lei de Deus, que geralmente resulta em um viver saudável. Além disso, normalmente, os textos de sabedoria não fundamentam sua mensagem no Êxodo nem em outros importantes eventos de livramento, mas fazem constante referência ou alusão à criação. Deus é o Criador que estabelece as leis que governam o Universo e a sociedade. Portanto, os que observam as leis de Deus têm mais probabilidade de estar cercados pelas bênçãos divinas. O livro de Jó mostra que há exceções a essa regra. No entanto, a exceção finalmente comprova a regra, porque, no fim, Jó recebeu de volta sua vida próspera e feliz.

Daniel é retratado como um homem sábio, não porque tenha dominado as complexidades da língua e literatura dos babilônios. Em vez disso, pode-se dizer que ele era sábio por sua lealdade ao Senhor. Foi por causa das suas convicções teológicas que Daniel recusou o cardápio real e optou por legumes e água, com base na dieta estabelecida por Deus na criação. Além disso, Daniel não recebeu sua sabedoria apenas por meio de diligência e autodisciplina. Essa sabedoria foi concedida por Deus em reconhecimento da fé e confiança que Daniel demonstrava. Tal sabedoria excedeu todas complexidades do currículo universitário babilônico; foi a sabedoria que capacitou o profeta a interpretar sonhos e entender o abrangente plano de Deus para a história humana.

Aplicação para a vida

1. O Livro de Daniel retrata o Senhor permitindo que uma nação estrangeira pisasse Seu próprio povo e saqueasse Seu próprio templo. O que podemos aprender sobre o caráter de Deus com base nesse evento?

2. Como as circunstâncias de Daniel na corte de Babilônia se comparam às de José no Egito e às de Ester na Pérsia? Qual deles você acredita que enfrentou os maiores desafios? Se você pudesse escolher, no lugar de quem gostaria de estar?

3. A lição desta semana abre a possibilidade para uma autoavaliação. Peça que os membros da classe reflitam sobre o seguinte exemplo: Se eu fosse Daniel ou um dos seus amigos:

A. O que pensaria sobre Deus se Ele permitisse que um exército estrangeiro invadisse meu país, destruísse minha cultura e me levasse cativo para uma terra estrangeira?

B. Como agiria se me oferecessem um cargo de destaque no governo, contanto que eu participasse das festas, e dos alimentos e bebidas oferecidos?

C. É mais difícil ser obediente ao Senhor em sua própria terra, entre seu povo, ou entre estrangeiros em um país distante?

D. De que maneira posso construir uma cosmovisão que me ofereça clareza para avaliar a cultura ao meu redor e evitar suas armadilhas?

E. Quando enfrento desafios referentes à observância do sábado, à integridade nos negócios ou no trabalho, ou a respeito dos relacionamentos com amigos não cristãos ou não adventistas, etc., qual é a minha postura, em comparação com a de Daniel?


O milagre da igreja

O pastor Stoyan Petkov orou durante dois anos por uma nova igreja em Sofia, Bulgária. Sem que ele soubesse, enquanto orava, os líderes mundiais da Igreja, nos Estados Unidos, decidiram reservar uma parcela da oferta trimestral do primeiro trimestre de 2020 para a construção de um novo templo para sua congregação. Stoyan não soube que Deus respondeu às suas orações até que o projeto trimestral foi aprovado. Vejamos o que aconteceu.

Stoyan assumiu o pastorado da igreja adventista de Sofia West em 2015. Naquela época, a congregação se reunia em uma igreja evangélica. A localização da igreja era excelente, mas ele notou um problema. A igreja estava morta. As pessoas se reuniam aos sábados, mas era só isso. Não havia curso de culinária ou programas para as crianças durante a semana. Também não havia culto de oração. Stoyan pediu aos proprietários da igreja evangélica para alugar o prédio durante a semana, mas isso lhe foi negado sem explicação. Ele decidiu procurar um novo local por conta própria. Vasculhou na vizinhança, subindo e descendo ruas. Sem nada conseguir, ele criou um grupo de oração para levar esse assunto a Deus.

Os meses se passaram. Em março de 2017, Stoyan deixou de procurar um edifício para a igreja. Em vez disso, anunciou que a igreja realizaria um concerto de Páscoa. O problema é que não havia coral na igreja. Também não tinha um local para o concerto. Stoyan incumbiu aos jovens a organização do concerto e do coral. Os jovens formaram um coral e o pastor alugou um salão para 50 pessoas.

Entretanto, na véspera do concerto o proprietário recuou, dizendo que havia alugado para outra pessoa.

Stoyan caminhou pelas ruas em oração. Ao passar pelo shopping center viu vários salões vazios e considerou falar com o proprietário. Mas ele tinha pouco dinheiro e o proprietário não estava interessado em alugar para grupos religiosos. Entretanto, Stoyan entrou em contato com o proprietário e, para sua surpresa, alugou para que o concerto fosse realizado.

O concerto foi um grande sucesso. Depois, o dono apareceu na loja enquanto os membros limpavam o local. “Vocês são pessoas interessantes”, disse. “Eu esperava muito ruído e gritos, mas vocês são muito educados.” Ao saber que a congregação precisava de um local para alugar, ele sugeriu derrubar uma parede e transformar duas salas em um grande salão. Também ofereceu uma terceira loja em outro piso para que pudessem realizar programas para as crianças para a comunidade. O contrato de aluguel era mais barato do que poderiam conseguir para uma igreja fora da cidade.

Depois que a igreja de West Sofia mudou de local, a frequência dos membros e os programas comunitários cresceram rapidamente. O shopping center também viu mudanças. Novos inquilinos se mudaram e o centro, que já estava vazio, fervilhava. Foi um grande negócio para o proprietário. “Vocês trouxeram sorte. Muitas pessoas decidiram alugar minhas lojas vagas!”, ele exclamou. A igreja começou a realizar cursos sobre saúde, culinária e programas para crianças. Cinco pessoas foram batizadas no primeiro ano na nova locação.

“Há dois anos, isso era impensável”, Stoyan diz. “Antes eu só ia para igreja, pregava e voltava para casa. Deus abriu portas.” Mas a igreja precisa do seu próprio espaço. O pastor sabia que o aluguel não será sempre com o valor abaixo do mercado. Além disso, a igreja aumentou seus membros para 120, deixando pouco espaço para crescer no salão. Foi assim que Stoyan soube através dos lideres da igreja da Bulgária que sua igreja foi escolhida para receber parte das ofertas do primeiro trimestre de 2020. E ficou muito feliz! 

Ao olhar para trás, ele diz que não existe coincidência. As bênçãos começaram a acontecer quando ele deixou de se preocupar em achar uma nova igreja e passou a se importar em espalhar o evangelho. “O Senhor proveu um novo local quando planejamos o concerto de Páscoa”, diz. “Naquele momento percebi que o Senhor proveria nossa própria igreja de acordo com Seu tempo. Era importante mudarmos para fazer o evangelismo.”

Muito obrigado pelas ofertas que ajudarão a construir uma nova igreja adventista de Sofia West na capital de Bulgária, Sofia.

 

Dicas da história

• Pronúncia de Stoyan:
• Assista ao vídeo sobre Stoyan no YouTube: bit.ly/Stoyan-Petkov.
• Faça o download das fotos no Facebook (bit.ly/fb-mq) ou banco de dados ADAMS (bit.ly/miracle-church).
• Faça o download das fotos dos projetos do trimestre no site: bit.ly/eud-2020-projects.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2020

Tema Geral: Daniel

Lição 2 – 4 a 11 de janeiro

De Jerusalém a Babilônia

Autor: Marcelo Rezende

Editor: André Oliveira Santos

Revisora: Josiéli Nóbrega

A tendência de muitos intérpretes, professores e pregadores é entender a narrativa de Daniel 1 como um manual antigo de vida saudável ou uma espécie de orientação comportamental feita pela Bíblia para aqueles que são forçados por circunstâncias externas a praticar seu estilo de vida em um ambiente hostil à sua fé. Essas abordagens são corretas e úteis para motivar a fidelidade, mas a história contada aqui nos revela um quadro sutil de um conflito muito maior.

Em Daniel 1:2, está escrito que o rei Nabucodonosor triunfantemente transporta os despojos da guerra contra Judá e os deposita como oferenda e reconhecimento da vitória na casa do seu deus, localizada na “terra de Sinear”. Esse nome aparece pela primeira vez em Gênesis 11:2 como descrição geográfica do episódio da conhecida história da torre de Babel. Ao escolher esse nome antigo da região da Babilônia, o narrador deseja que os leitores do seu texto se lembrem daquela narrativa antiga e liguem os dois acontecimentos a um mesmo significado. Qual é a importância disso?

A história da torre de Babel marca o momento em que a humanidade coletivamente se rebelou contra Deus ao manifestar o desejo de autodeterminar seu destino sem levar em conta a vontade divina; ao contrário, o ser humano desejou subjugar Deus pela força da sua união. Gênesis 11:1-9 é muito mais que uma simples descrição do projeto de construção de uma torre cujo topo devia chegar “até aos céus” (Gn 11:4). Historiadores afirmam que a estrutura construída naquela ocasião seria uma espécie de “zigurate”, um tipo de estrutura piramidal escalonada e com um templo no topo que era acessado subindo uma longa escadaria em rituais de procissões em que os homens adentravam a morada terrestre dos deuses do céu. Ao construir um Zigurate a humanidade pretendia, pelos seus próprios esforços, estabelecer um tipo de acesso controlado a Deus, com a estranha intenção de subjugar o poder divino aos caprichos da força da união coletiva demonstrada pelo sucesso dessa empreitada arquitetônica. Esse é o espírito de Babel, “porta de Deus”, um monumento à autossuficiência humana que desejava exaltar a perpetuidade do controle humano do mundo e do acesso a Deus, numa tentativa de manter o homem em seu poder contra Deus.

Ao evocar o nome antigo de Babilônia, terra de Sinear, o texto de Daniel 1:2 estabelece o verdadeiro cenário de toda a trama da história que se estende desde o cativeiro babilônico até o fim dos tempos. Babilônia é mais do que uma mera localidade geográfica. Babilônia representa uma conflagração de poderes rebeldes, uma visão de mundo antropocêntrica e destituída de Deus – a manifestação do antigo desejo do homem de ser seu próprio deus (Gn 3:5).

A história do conflito de Daniel e seus companheiros na corte do rei Nabucodonosor é estruturada para mostrar o choque dessas duas visões de espiritualidade. O capítulo está divido em uma nota histórica introdutória (Dn 1:1) seguida de três subdivisões marcadas pelas ações divinas: “o Senhor lhe entregou. [...]” (Dn 1:2), “ora, Deus concedeu. [...]”, (Dn 1:9) e “ora, a estes quatro jovens Deus deu o conhecimento. [...]” (Dn 1:17), e uma nota cronológica final mencionando o rei persa Ciro (Dn 1:21). Mesmo diante do trágico cenário da destruição de Jerusalém e de que esse fato tenha sido interpretado à época como derrota do Deus dos judeus, em todo momento Daniel nos faz olhar para além da realidade material concreta e nos faz interpretar toda a história a partir do seu verdadeiro significado espiritual, oculto aos observadores superficiais: Deus é o centro de todas as ações e o personagem principal de toda a história! Foi Ele que entregou Jerusalém a Nabucodonosor, foi Ele que concedeu favor a Daniel e seus companheiros diante de seus superiores babilônicos, foi ele que deu o conhecimento natural e sobrenatural aos seus servos. Toda a condução da história está em Suas mãos. Dessa forma, lemos o desenvolvimento da narrativa com o conforto e mesmo com certa “ironia” prazerosa, que nos faz ver a ineficácia dos intentos arrogantes de Nabucodonosor em todos os seus propósitos de dominar os jovens hebreus e fazer com que eles assimilassem a sua cultura e religião.

Nabucodonosor tinha uma política diversa de outros monarcas conquistadores de sua época, que preferiam destruir e apagar a etnia e os vestígios da cultura dos povos conquistados. Ao contrário, ele reunia a “elite” do conhecimento e da linhagem dos povos conquistados com o objetivo de fortalecer Babilônia com o melhor das nações. Foi essa intenção que colocou os nobres jovens hebreus como parte do programa de estudos da “universidade da Babilônia”. As áreas de aprendizado, e a consequente mudança dos nomes hebraicos de Daniel e seus companheiros, revelam a intenção sinistra de Babilônia em cooptar seus cativos, impondo sobre eles, além de uma nova identidade, uma visão completamente alterada do mundo e de sua realidade. Isso fica claro ao vermos em Dn 1:4-7 as áreas da personalidade humana afetadas pelo programa babilônico de formação: a cultura e a língua (mente, intelecto), a dieta alimentar (o corpo físico) e a espiritualidade (mudança de nomes). Não existe um consenso entre os comentaristas sobre o significado exato dos nomes babilônicos de Daniel e seus companheiros, mas o quadro a seguir nos permite perceber a diferença da natureza teológica entre os nomes hebraicos e babilônicos:

DanielDeus é meu Juiz

BeltessazarPríncipe de Bel ou Bel guarde sua vida

HananiasPresente de Deus

SadraqueServo de Sin (o deus lua)

MisaelQuem é como Deus?

MesaqueQuem é como Aco?

Azarias Aquele a quem Deus auxilia

Abede-NegoServo de Nebo

Uma comparação simples entre os significados dos nomes mostra a ênfase das ações divinas em benefício dos homens demonstrada nos nomes hebraicos, ao passo que os nomes babilônicos ressaltam as ações humanas direcionadas às falsas divindades, o antigo ideal de Babel, a autossuficiência humana em detrimento da graça divina. O embate entre as obras humanas e a graça divina é o que define os comportamentos e as resoluções de Daniel e seus companheiros em relação à alimentação oferecida na corte do rei. Nabucodonosor “determinou” (Dn 1:5) os alimentos a ser consumidos, assumindo assim uma função que cabia apenas a Deus como o provedor. Daniel e seus companheiros não resistiram à mudança dos seus nomes – ela não tinha o poder de mudar seu relacionamento com Deus. Mas eles decidiram agir quando foi desafiada sua confiança em Deus como o verdadeiro Criador e único de quem eles realmente dependiam. Por isso, fizeram a escolha de uma dieta que remontava ao cardápio edênico original, legumes e água, tendo como resultado um verdadeiro milagre de superação em relação aos demais sábios envolvidos nas avaliações finais. Em última instância a questão do comer e do beber aqui vai muito mais além da questão de saúde ou de pureza ritual: envolve um profundo senso de verdadeira adoração.

Logo no início do livro, fica claro que Babilônia é mais do que um país ou uma religião. É também um espírito que pode dominar o coração e perverter a espiritualidade, até mesmo daqueles que professam doutrinas verdadeiras. A tentação de oferecer a Deus nossa obediência como forma de barganha é muito grande e, ao mesmo tempo, muito sutil. A mudança de perspectiva não afeta a validade dos preceitos nem dos princípios a ser seguidos: alimentos impuros continuam sendo impuros; a vontade revelada do Senhor continua sendo a mesma; porém, nossa motivação pode fazer a diferença. Tentar tomar a prerrogativa da ação e transformar Deus em um personagem passivo diante de nossos “bons atos de justiça”, além de ser um grande equívoco pode tornar nosso coração insensível à graça de Deus, desprezando a verdadeira salvação pela fé, a despeito de estarmos repletos de moral e religião.

Conheça o autor dos comentário para este trimestre:

Marcelo Rezende atualmente é pastor do distrito de São Carlos, na Associação Paulista Oeste. Há 20 anos é pastor e tem servido a igreja em diversas funções ministeriais. Possui mestrado em teologia bíblica com ênfase em teologia paulina pelo Unasp-Engenheiro Coelho. É casado com Simone Ramos Rezende e juntos têm dois filhos: Sarah (que nasceu em um dia 22 de outubro – os que estudam a lição de Daniel entenderão!), e o caçula Daniel (o mesmo nome do profeta!).