Lição 13
21 a 27 de março
Do pó às estrelas
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Jz 20, 21
Verso para memorizar: “Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e eternamente” (Dn 12:3).
Leituras da semana: Dn 12; Rm 8:34; Lc 10:20; Rm 8:18; Hb 2:14,15; Jo 14:29; Ap 11:3

O livro de Daniel começa com Nabucodonosor invadindo a Judeia e levando cativos para Babilônia; em contraste com isso, a narrativa é concluída com Miguel Se levantando para libertar o povo de Deus da Babilônia do tempo do fim. Isto é, como foi mostrado em todo o livro de Daniel, no fim, o Senhor resolve todos os problemas do Seu povo.

Como vimos também, Daniel e seus companheiros permaneceram fiéis a Deus e demonstraram sabedoria incomparável em meio às provações e desafios do exílio. Da mesma forma, ao enfrentar a tribulação, o povo de Deus do tempo do fim também permanecerá fiel, especialmente durante o “tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação” (Dn 12:1). Como Daniel e seus amigos em Babilônia, os fiéis demonstrarão sabedoria e compreensão. Eles não apenas experimentarão a sabedoria como uma virtude pessoal, mas estarão comprometidos, como consequência dessa sabedoria, a levar os outros à justiça. Alguns morrerão ou serão assassinados e, portanto, retornarão ao pó, mas serão ressuscitados para a eternidade. Como declara o texto bíblico: “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna” (Dn 12:2).



Domingo, 22 de março
Ano Bíblico: Rute
Miguel, nosso Príncipe

1. Leia Daniel 12:1. Quem muda o curso da História no tempo do fim? Como Romanos 8:34 e Hebreus 7:25 nos ajudam a entender o significado desse texto?

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Cada capítulo de Daniel que estudamos até agora inicia-se mencionando o governante de uma nação pagã. Daniel 12 também começa com um governante, mas ao contrário de todos os outros capítulos, o governante é um Príncipe divino, que Se levanta para libertar o povo de Deus das mãos de seus inimigos.

Como vimos no estudo de Daniel 10, Miguel é o mesmo ser celestial poderoso que aparece a Daniel no rio Tigre. Ele surge ali como o representante celestial do povo de Deus. Ele também aparece em outras partes do livro de Daniel como o Filho do Homem (Dn 7), o Príncipe do exército (Dn 8) e o Ungido, o Príncipe (Dn 9). Portanto, Miguel, cujo nome significa “quem é como Deus?”, não deve ser outro senão o próprio Jesus Cristo.

É importante observar o momento da intervenção de Miguel. De acordo com Daniel 12:1, ela ocorre “nesse tempo” (Dn 12:1). Essa expressão se refere à época mencionada em Daniel 11:40-45. Esse é o período que se estende desde a queda do papado, em 1798, até a ressurreição no tempo do fim (Dn 12:2).

Dois aspectos importantes da obra de Miguel podem ser inferidos a partir do verbo “levantar” utilizado em Daniel 12:1 para descrever Sua ação. Primeiramente, esse verbo evoca o surgimento de reis para conquistar e governar. O verbo também tem primariamente uma conotação militar. Isso mostra que Miguel atua como um líder militar que protege o Seu povo e o conduz de maneira especial durante os últimos estágios do grande conflito.

Em segundo lugar, o verbo “levantar” também indica um cenário de juízo. Miguel “Se levanta” para agir como advogado no tribunal celestial. Como o Filho do Homem, Ele vem perante o Ancião de Dias para representar o povo de Deus durante o juízo investigativo (Dn 7:9-14). Portanto, o ato de Miguel Se levantar ou ascender nos lembra dos aspectos militares e judiciais de Sua obra. Em outras palavras, Ele está investido com o poder para derrotar os inimigos de Deus e com a autoridade para representar o Seu povo no tribunal celestial.

Pense no que significa saber que Miguel Se levanta em nosso favor, mesmo agora. Que esperança isso deveria nos dar como pecadores?

Primeiro Deus - Você já experimentou entregar tudo ao Senhor? Há algo que ainda não Lhe foi entregue?

Segunda-feira, 23 de março
Ano Bíblico: 1Sm 1-3
Inscrito no livro

2. Daniel 12:1 fala sobre “todo aquele que for achado inscrito no livro”.  O que isso significa?

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O momento da intervenção de Miguel também é descrito como um tempo de angústia sem paralelo. Isso corresponde ao tempo em que o Espírito de Deus será retirado da humanidade rebelde. Então as sete últimas pragas, como expressões da ira de Deus sobre as nações, serão derramadas sobre a Babilônia do tempo do fim (Ap 16; 18:20-24), e os poderes das trevas serão soltos sobre o mundo. A respeito desse tempo, Ellen G. White escreveu que “Satanás mergulhará então os habitantes da Terra em uma grande angústia final. Ao cessarem os anjos de Deus de conter os ventos impetuosos das paixões humanas, ficarão às soltas todos os elementos de contenda. O mundo inteiro se envolverá em ruína mais terrível do que a que sobreveio a Jerusalém na Antiguidade” (O Grande Conflito, p. 614).

Mas o povo de Deus será libertado durante esse período terrível porque, no juízo investigativo conduzido no tribunal celestial, eles terão sido vindicados por Jesus, o Sumo Sacerdote celestial, e seus nomes estarão escritos no livro.

Para compreender o significado desse livro, devemos ter em mente que a Bíblia menciona dois tipos de livros celestiais. Um contém os nomes daqueles que pertencem ao Senhor e, às vezes, é chamado de “livro da vida”
(Êx 32:32; Lc 10:20; Sl 69:28; Fp 4:3; Ap 17:8).

Além do livro da vida, as Escrituras mencionam livros contendo os registros das ações humanas (Sl 56:8; Ml 3:16; Is 65:6). Esses são os livros usados no tribunal celestial para determinar o compromisso de cada pessoa com o Senhor. São registros celestiais, “bancos de dados” que contêm os nomes e as ações de todo ser humano. Algumas pessoas desaprovam a ideia de ter seus nomes, e especialmente seus feitos, escritos no Céu. Mas, uma vez que entregamos nossa vida a Cristo, nossos nomes são inscritos no livro da vida, e nossas más ações são apagadas no juízo. Esse registro celestial apresenta evidência judicial para todo o Universo de que pertencemos a Jesus e, portanto, temos o direito de ser protegidos durante o tempo de angústia.

Por que somente a justiça de Cristo, creditada a nós, é a nossa única esperança de sermos achados inscritos “no livro”? Comente com a classe.


Terça-feira, 24 de março
Ano Bíblico: 1Sm 4-6
A ressurreição

3.
Leia Daniel 12:2, 3. De qual evento ele falou nessa passagem? Considerando o que entendemos sobre a morte, por que esse evento é tão importante para nós? Assinale a alternativa correta:

A. ( ) Da ressurreição. É importante porque justos e injustos serão salvos.

B.()
Da ressurreição. Os justos terão a vida, e os ímpios, a vergonha eterna.

D

aniel fez provavelmente a referência mais explícita do Antigo Testamento à ressurreição vindoura. E, à medida que refletimos sobre essa passagem, descobrimos algumas verdades muito importantes. Primeiramente, como a metáfora do “sono” indica, nenhuma alma imortal habita corpos humanos. O ser humano é uma unidade indivisível de corpo, mente e espírito. Na morte, a pessoa deixa de existir e permanece inconsciente até a ressurreição. Em segundo lugar, esse texto aponta para a ressurreição futura como uma reversão do que acontece como consequência do pecado. De fato, a expressão traduzida como “pó da terra”, na linguagem original de Daniel 12:2 é “terra do pó”. Essa sequência incomum de palavras remonta a Gênesis 3:19, que, ao lado desse verso de Daniel, é uma das duas únicas passagens bíblicas em que a palavra “terra” precede a palavra “pó”. Isso implica que o pronunciamento da morte feito na queda do ser humano será revertido, e a morte não mais prevalecerá. Como Paulo declarou: “Tragada foi a morte pela vitória” (1Co 15:54).

4.
Leia Romanos 8:18 e Hebreus 2:14, 15. Por quais razões não precisamos temer a morte? Assinale a alternativa correta:

A.()Porque Cristo já a venceu. Ela não terá domínio sobre nós.

B. ( ) Porque quando morremos continuamos existindo em outro plano.

A morte traz ruína e é o fim de tudo por aqui. Porém, recebemos a promessa de que ela não terá a última palavra para os fiéis. A morte é um inimigo derrotado. Quando Cristo quebrou as cadeias da morte e ressurgiu do túmulo, Ele lhe desferiu o golpe fatal. Agora podemos contemplar além da realidade temporária da morte à realidade suprema da vida que recebemos de Deus em Cristo. Visto que Miguel Se levantará (veja Dn 12:1), aqueles que pertencem a Ele também se levantarão da “terra do pó” para brilhar como as estrelas para todo o sempre.

Em meio às dores e à luta da vida, como podemos obter esperança e consolo da promessa da ressurreição no fim? Por que, em um sentido muito real, quase nada mais importa?


Quarta-feira, 25 de março
Ano Bíblico: 1Sm 7-10
O livro selado

5. Leia Daniel 12:4 e João 14:29. Por que o livro de Daniel deveria ser selado até o tempo do fim?

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Na conclusão da última seção principal do livro (Dn 10:1–12:4), o profeta recebeu a ordem para o selar até o tempo do fim. Porém, imediatamente depois disso, o anjo predisse que muitos correriam de uma parte para outra (Dn 12:4, ARC), e o saber se multiplicaria (Dn 12:4, ARA). Embora alguns estudiosos de Daniel tenham tomado essas palavras como uma previsão do progresso científico, que também poderia ser incluído no significado, o contexto parece indicar que correr “de uma parte para outra” (ARC) se refira à busca do próprio livro de Daniel. De fato, quando rememoramos a História, observamos que o livro de Daniel permaneceu, por séculos, uma obscura composição da literatura. Ele pode ter sido conhecido e estudado em certos lugares, mas alguns de seus principais ensinamentos e profecias permaneceram misteriosos. Por exemplo, as mensagens proféticas relacionadas à purificação do santuário celestial, ao juízo, à identidade e obra do chifre pequeno, juntamente com o cronograma de tempo relacionado a essas profecias, estavam longe de ser esclarecidas.

Contudo, a partir da Reforma Protestante, mais e mais pessoas começaram a estudar o livro de Daniel. No entanto, apenas no tempo do fim o livro foi finalmente aberto, e seu conteúdo mais completamente revelado. Como observou Ellen G. White, “desde 1798, porém, o livro de Daniel foi descerrado, aumentou-se o conhecimento das profecias, e muitos têm proclamado a mensagem solene do juízo próximo” (O Grande Conflito,
p. 356). “No final do século 18 e início do século 19, despertou-se um novo interesse pelas profecias de Daniel e Apocalipse em diferentes lugares do mundo. O estudo dessas profecias difundiu a crença de que o segundo advento de Cristo estava próximo. Vários estudiosos na Inglaterra, Joseph Wolff no Oriente Médio, Manuel Lacunza na América do Sul e Guilherme Miller nos Estados Unidos, junto com outros estudiosos das profecias, declararam, com base no estudo das profecias de Daniel, que o segundo advento estava prestes a ocorrer. Essa convicção se tornou a força motivadora de um movimento mundial” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 4, p. 970).

Pense na grande vantagem que temos hoje de poder relembrar a História e ver como as profecias históricas de Daniel se cumpriram. Isso nos ajuda a confiar nas promessas de Deus?


Quinta-feira, 26 de março
Ano Bíblico: 1Sm 11-13
O tempo de espera

6. Leia Daniel 12:5-13. Como o livro foi concluído?

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Curiosamente, a cena final ocorre no rio Tigre, o lugar da última importante visão de Daniel (Dn 10:4). No entanto, a palavra usada aqui não é a palavra hebraica comum para rio, mas o termo ye’or, que geralmente designa o rio Nilo. Isso nos lembra do Êxodo e mostra que, assim como o Senhor libertou Israel do Egito, Ele libertará o Seu povo no tempo do fim.

Três cronogramas proféticos foram apresentados. O primeiro deles (“um tempo, dois tempos e metade de um tempo”) responde à pergunta: “Quando se cumprirão estas maravilhas?” (Dn 12:6). As “maravilhas” se referem às coisas descritas na visão de Daniel 11, que são uma elaboração de Daniel 7 e 8. Mais especificamente, esse período de tempo foi mencionado em Daniel 7:25 e depois em Apocalipse 11:3; 12:6, 14 e 13:5. Ele também corresponde aos 1.260 anos de supremacia papal, que se estenderam de 538 d.C. a 1798 d.C. E Daniel 11:32-35 se refere à mesma perseguição sem mencionar sua duração.

Os outros dois períodos de tempo, 1.290 e 1.335 dias, respondem a uma pergunta feita pelo próprio Daniel ao homem vestido de linho: “Qual será o fim destas coisas?” (Dn 12:8). E ambos começam com a remoção do “sacrifício diário” e o estabelecimento da “abominação desoladora”. Na lição sobre Daniel 8, descobrimos que o sacrifício “diário” se refere à intercessão contínua de Cristo, que foi substituída por um sistema falsificado de adoração. Portanto, esse período profético deve começar em 508 d.C., quando Clovis, rei dos francos, converteu-se à fé católica. Esse importante evento preparou o caminho para a união entre Igreja e Estado, que prevaleceu ao longo da Idade Média. Assim, os 1.290 dias terminaram em 1798, quando o papa foi preso sob a autoridade do imperador francês Napoleão. E os 1.335 dias, o último período profético mencionado em Daniel, terminaram em 1843. Essa foi a época do movimento Milerita e do estudo renovado das profecias bíblicas. Foi um tempo de espera e esperança no retorno iminente de Jesus.

Ao longo de todo o livro de Daniel, vemos duas coisas: o povo de Deus sendo perseguido e, por fim, sendo justificado e salvo. Como essa realidade pode nos ajudar a permanecer fiéis, independentemente de nossas provações imediatas?

Primeiro Deus - Existe algo que está distraindo você, desviando-o do caminho do Céu? Prazeres, faltas dos outros, riquezas, etc.?

Sexta-feira, 27 de março
Ano Bíblico: 1Sm 14-16
Estudo adicional

As profecias apresentam uma sucessão de acontecimentos que nos levam ao início do juízo. Isto se observa especialmente no livro de Daniel. Entretanto, a parte de sua profecia que se refere aos últimos dias, Daniel teve ordem de fechar e selar até ‘o tempo do fim’. Não poderia, antes que alcançássemos o tempo do juízo, ser proclamada uma mensagem relativa ao mesmo juízo e baseada no cumprimento daquelas profecias. Mas, no tempo do fim, diz o profeta, ‘muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará’ (Dn 12:4, ARC).

“O apóstolo Paulo advertiu a igreja a não esperar a vinda de Cristo em seu tempo. ‘Porque não será assim’, diz ele, ‘sem que antes venha a apostasia e se manifeste o homem do pecado’ (2Ts 2:3, ARC). Não poderemos esperar pelo advento de nosso Senhor senão depois da grande apostasia e do longo período do domínio do ‘homem do pecado’. Esse ‘homem do pecado’, que também é denominado ‘mistério da injustiça’, ‘filho da perdição’ e ‘iníquo’, representa o papado, que, conforme foi anunciado pelos profetas, deveria manter sua supremacia durante 1.260 anos. Esse período terminou em 1798. A vinda de Cristo não poderia ocorrer antes daquele tempo. Paulo, com a sua advertência, abrange toda a dispensação cristã até ao ano de 1798. É depois dessa data que a mensagem da segunda vinda de Cristo deve ser proclamada” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 356).

Perguntas para discussão

1. Quais perigos enfrentamos ao estabelecermos datas para acontecimentos futuros do tempo do fim? O que ocorre com a fé de muitos quando esses eventos previstos não acontecem? Qual princípio profético essencial encontramos nas palavras de Cristo em João 14:29 que nos ajuda a entender como usar a profecia para nosso benefício espiritual e evitar a armadilha de fazer ou acreditar em falsas predições?

2. Hoje temos comunicação instantânea e incríveis avanços científicos que nem sempre são para o bem. Isso torna a ideia de um “tempo de angústia, qual nunca houve” (Dn 12:1) algo que não é tão difícil de imaginar? Por quê?

3. Somente pelo evangelho podemos ser inscritos no livro. Sem ele, que esperança temos?

 

Respostas e atividades da semana: 1. Miguel, que vive para interceder por nós (Hb 7:25; Rm 8:34). 2. Que Deus mantém um registro de todas as nossas ações (boas e más) para serem usadas na hora do juízo. Porém, com Seu sangue, Ele apaga as nossas más ações e escreve nosso nome no livro da vida. 3. B. 4. A. 5. Porque aqueles acontecimentos não envolviam o tempo de Daniel. Foram revelados a fim de que, quando ocorressem, as pessoas cressem. 6. O livro foi concluído com o Ser divino dizendo que Daniel não devia se preocupar com o tempo em que as coisas ocorreriam, pois ele descansaria e, um dia, seria levantado para receber a sua herança.



Resumo da Lição 13
Do pó às estrelas

RESUMO DA LIÇÃO 13

Do pó às estrelas

ESBOÇO
TEXTO-CHAVE: Daniel 12:3
FOCO DO ESTUDO: Daniel 12; Romanos 8:34; Lucas 10:20; Romanos 8:18; Hebreus 2:14, 15; João 14:29; Apocalipse 11:3

Introdução

Três tópicos na lição desta semana merecem atenção especial porque, nessas áreas, os Adventistas do Sétimo Dia têm visões distintas: O papel e a natureza de Miguel, a natureza específica da ressurreição e as profecias de tempo em Daniel 12.

Temas da lição

1. Miguel, nosso Príncipe

Comentaristas cristãos, em geral, entendem que Miguel nada mais é do que um preeminente anjo. No entanto, há evidências bíblicas significativas que apontam para Miguel como o pré-encarnado Filho de Deus.

2. A ressurreição

A ressurreição descrita em Daniel não é a ressurreição geral, mas uma ressurreição especial que acontecerá imediatamente antes da segunda vinda de Jesus.

3. Profecias de tempo

Várias tentativas foram feitas para interpretar as profecias de tempo mencionadas em Daniel 12 como períodos de tempo literais que se cumprirão no futuro. No entanto, as melhores evidências indicam que essas profecias de tempo coincidem com as profecias de longo alcance de Daniel 7, 8 e 9, e se sobrepõem a elas.

Aplicação para a vida

Considerando que o Deus de Daniel é o nosso Senhor e nós somos o Seu povo, as promessas para o profeta também são nossas. Miguel, a saber, Jesus Cristo, é nosso representante no santuário celestial. Ele é o Deus vivo que dirige a história e cuida de nós. Assim, podemos viver no presente e olhar para o futuro com alegria e confiança.

Comentário

A seguir estudaremos com mais profundidade os três temas da lição resumidos anteriormente:

1. Miguel, nosso Príncipe

Entre todos os personagens retratados no livro de Daniel, um deles merece atenção especial. Esse personagem aparece pela primeira vez para proteger os três hebreus na fornalha de fogo ardente. Seu nome não é mencionado, mas Nabucodonosor, mesmo partindo de uma perspectiva pagã, reconheceu imediatamente que Ele devia ser um “Filho dos deuses” (Dn 3:25). Então, na visão do juízo celestial, vemos o que aparenta ser o mesmo personagem, que Se manifesta como o Filho do Homem (Dn 7:13). Ele desempenha Suas funções como o representante dos santos. E “Foi-Lhe dado domínio, e glória, e o reino” (Dn 7:14). Em seguida, Ele aparece como o “Príncipe do exército” (Dn 8:11), cujo ministério sacerdotal foi usurpado pelo chifre pequeno. Finalmente, esse personagem surge como “Miguel” (Dn 10:13). Ele é chamado de “vosso Príncipe” (Dn 10:21) e “o grande Príncipe” (Dn 12:1). Ele é uma figura tanto sacerdotal quanto militar/real.

Em seu papel militar, esse guerreiro real luta contra as forças do mal simbolizadas pelo chifre pequeno, o rei do Norte e o príncipe da Pérsia. Por exemplo, o chifre pequeno, por usurpação, pretendia ser grande (gdl) para engrandecer-se até ao “Príncipe do exército” (Dn 8:11) e atacar o povo de Deus; Miguel, o grande (gdl) Príncipe, grande por direito, levanta-Se para defender o Seu povo. A extrema oposição entre Miguel e os poderes contrários a Deus faz Dele o representante e expressão do próprio Deus.

Note que a designação de Miguel como “um dos primeiros príncipes” (Dn 10:13) não contradiz as considerações anteriores. O mais provável é que essa expressão aponte para o chamado plural de plenitude, como quando Deus Se dirige a Si mesmo na primeira pessoa do plural – “Façamos” (Gn 1:26; Gn 11:7), “um de nós” (Gn 3:22), “por nós” (Is 6:8) – que indica uma pluralidade de “pessoas” dentro da Divindade. Miguel é, na verdade, um dos principais príncipes, porque, como Filho eterno, Ele é uma Pessoa distinta dentro da Divindade e um com o Pai.

Essa distinção é ainda mais enfatizada no Novo Testamento. Miguel liderou o exército celestial, que expulsou o dragão e seus anjos do Céu (Ap 12:7-9). Miguel, também chamado de “arcanjo”, disputou com o diabo acerca do corpo de Moisés (Jd 9). De maneira surpreendente, a voz do “arcanjo” realizará a ressurreição dos santos na vinda de Jesus (1Ts 4:16). Não é de admirar que Cristo tenha associado a ressurreição com a voz do Filho do Homem (Jo 5:28, 29). Assim, a conclusão inevitável é que Miguel é Jesus.

2. A ressurreição

A primeira referência à ressurreição em Daniel 12:2 declara que tanto os justos como os ímpios ressuscitarão dos mortos ao mesmo tempo. Essa ressurreição acontece dentro da estrutura do tempo do fim, quando Miguel Se levanta para salvar Seu povo (Dn 12:1). Portanto, esse despertar deve ser uma ressurreição especial, porque, como é ensinado em outras partes das Escrituras, a ressurreição dos justos em geral acontecerá na segunda vinda de Jesus e a dos ímpios ocorrerá no final do milênio. No entanto, a Bíblia apresenta evidências de uma ressurreição especial daqueles que crucificaram Jesus (Dn 12:2; Mt 26:63, 64; Ap 1:7) e dos que morreram na fé das três mensagens angélicas (Ap 14:13). Como o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia resume de maneira apropriada: “Uma ressurreição especial precede o segundo advento de Cristo. 'Todos os que morreram na fé da mensagem do terceiro anjo' se levantarão nessa hora. Além disso, os que contemplaram com zombaria a crucifixão de Cristo e os que mais violentamente se opuseram ao povo de Deus serão levantados de seus túmulos para ver o cumprimento da promessa divina e o triunfo da verdade (v. 4, p. 969; ver O Grande Conflito, p. 637; Ap 1:7).

Uma segunda referência à ressurreição ocorre em Daniel 12:13, que diferentemente da anterior, acontece no “fim dos dias”. Esse evento é a ressurreição geral dos justos, mencionada em outras partes das Escrituras. Daniel recebeu a promessa de que no “fim dos dias” ele se levantará para receber a sua herança. O termo “herança” (goral) evoca a herança (goral) atribuída a cada tribo depois que o povo de Deus entrou na terra prometida. Esse termo lembra o Êxodo e a promessa da aliança de que Deus daria a terra ao povo. Daniel recebeu a mesma promessa. No final, ele receberá a sua “parte” na nova criação, no novo Céu e na nova Terra. A ressurreição não é a transição de um estado material para um estado imaterial. Na verdade, é a transição de uma condição pecaminosa e degradada para um estado de perfeição. Desfrutaremos a vida em sua plenitude, na realidade concreta dos novos Céus e da nova Terra que Deus trará à existência (Is 65:17; Ap 21:1-5).

3. Profecias de tempo

Ao examinarmos os cronogramas proféticos mencionados em Daniel 12, devemos ter em mente que esse capítulo é uma conclusão e resumo de todo o livro. Três profecias de tempo específicas aparecem em Daniel 12. A primeira previu que “um tempo, dois tempos e metade de um tempo” duraria até que “o poder [yad, mão] do povo santo [fosse] finalmente quebrado” (Dn 12:7, NVI). Essa profecia se refere ao tempo durante o qual os santos estavam na “mão” (yad) da entidade simbolizada pelo chifre pequeno (Dn 7:25), de acordo com Daniel 7. Esse período de três tempos e meio vai de 538 d.C., com o estabelecimento do papado, até 1798, quando o imperador francês Napoleão pôs fim ao governo secular do papado e assim “destruiu” o “poder” (yad) que oprimiu o povo de Deus.

O segundo tempo profético mencionado é o de “1.290 dias”. Essa profecia de tempo devia começar com a remoção do “diário” (tamid) e o estabelecimento da “abominação desoladora” (Dn 12:11). Esses eventos estão relacionados com a obra do chifre pequeno, que removeu o sacrifício diário e estabeleceu a abominação desoladora (Dn 8:9-12). Portanto, esse período profético deve coincidir com os “três tempos e meio” mencionados anteriormente. Seguramente esse tempo se estende até 1798. Nesse caso, remonta a 508 d.C. O principal evento que ocorreu em torno dessa data foi a conversão do rei francês Clóvis à fé católica. Esse importante acontecimento, comparável à conversão de Constantino ao cristianismo, preparou o caminho para a consolidação do poder papal. É interessante que tanto o início como o final desse período profético são marcados pela ação de um líder francês.

Finalmente, o período profético de “1.335 dias” (Dn 12:12) vem com uma bênção aos que estiverem vivos até o final desse tempo (veja também Ap 14:13). Nenhum ponto de partida ou de término é apresentado. Mas parece que esse período de tempo é uma continuação do período anterior dos “1.290 dias”. Assim, a partir da conversão de Clóvis em torno de 508 d.C. os 1.335 dias chegam a 1843/1844, quando a mensagem do primeiro anjo estava sendo pregada e as 2.300 tardes e manhãs estavam chegando ao fim.

Aplicação para a vida

“Um grupo de estudantes universitários ficou frustrado com a dificuldade de entender o livro de Daniel. Então, decidiram ir ao ginásio jogar basquete. Depois do jogo, eles notaram que um idoso zelador estava sentado no canto lendo. ‘O que você está lendo, João?’, perguntaram. ‘O livro de Daniel’, ele respondeu. 'Oh, você não consegue entender isso’. ‘Sim, eu posso’, respondeu ele. 'É bem simples. Deus vence’” (Adaptado de Bob Fyall, Daniel: A Tale of Two Cities [Daniel: Uma História de Duas Cidades], Great Britain: Christian Focus Publications, 1998, p. 151).

1. Como você lida com o fato de não entender tudo o que lê no livro de Daniel? Quais partes você ainda acha que são confusas e misteriosas? Qual é a principal mensagem de Daniel que você entende claramente?

2. Que diferença faz para sua vida saber que Miguel é o Filho de Deus? O que mudaria se Miguel fosse apenas um ser criado?

3. Como você relaciona as profecias de tempo de Daniel com a ação de Deus na história humana e em sua vida? O que as informações sobre os períodos proféticos revelam sobre o envolvimento de Deus na história humana e em sua vida pessoal?

4. Se você não estiver vivo para suportar os eventos finais que assolarão a terra antes da vinda de Jesus, e se não passar pela sacudidura, a sua experiência seria de segunda categoria? E se o Senhor lhe disser: “Você descansará e, então, no final dos dias, você se levantará para receber a herança que lhe cabe(Dn 12:13, NVI), não seria isso tudo o que você realmente precisa? Justifique sua resposta.


Ciganos descobrem o sábado

Os dois mil habitantes de um assentamento cigano na Eslováquia se consideravam cristãos. Mas ninguém frequentava a igreja nem lia a Bíblia. Depois da independência da Eslováquia em 1993, vários missionários começaram a visitar o assentamento Rakúsy. Primeiramente, um casal que pregava na rua principal todos os domingos. As pessoas se aproximavam para ouvir, mas não entendiam muito porque não liam a Bíblia. Um morador, Peter Mizigar, estava mais interessado em se apresentar com sua banda do que em ouvir a pregação. Ele tocava baixo em casamentos e funerais. Normalmente, os membros da banda, incluindo seu irmão mais novo, Pavol, gastava o que ganhavam em álcool. Mas ele nunca bebia durante as apresentações. Ele era o escolhido para dirigir.

Certo dia, enquanto se apresentava sóbrio, ele percebeu que toda audiência se dividia em dois grupos: um com boas maneiras e inteligência, e o outro com uma atitude mais primitiva. Os outros músicos não percebiam a diferença porque estavam bêbados. Peter assistiu à multidão com fascinação em shows. As diferenças entre os dois grupos de ciganos desapareciam enquanto bebiam. Depois de começarem a beber, o grupo as pessoas educadas despiam-se até a cintura e se comportavam como os do grupo mais simples. Todos os eventos terminavam em uma luta de bêbados, mesmo nos funerais.

Quando uma plateia ligou Peter e outros músicos a um frenesi alcóolico na Republica Tcheca, Peter e seu irmão decidiram sair da banda. “Quero deixar de tocar música mundana”, Pavol disse. “Gostaria de tocar para Deus.” Pavol ouvia as músicas cristãs que os missionários compartilhavam. Em pouco tempo, Peter, Pavol e os outros membros da banda passaram a tocar músicas cristãs na casa de Pavol. Durante uma sessão, Peter notou uma Bíblia em cima da mesa. “Que tipo de livro é este?”, ele perguntou, tomando-a nas mãos. Pavol a arrebatou da mão dele, dizendo: “Coloque na mesa. Não é para você.”

Pavol estava estudando a Bíblia e não queria emprestá-la. Enquanto todos continuaram tocando, Peter colocou a Bíblia sorrateiramente sob o braço e saiu de casa. Em casa, leu-a no mês seguinte, passando por Apocalipse e os evangelhos. Depois de algum tempo, admitiu ao irmão que pegara a Bíblia. Como irmão mais novo, Pavol só pôde pedir a Peter que a devolvesse quando terminasse.

Certo dia, Peter leu Marcos 16:16, onde Jesus disse: “Quem crê e for batizado será salvo.” Ele fechou a Bíblia e abriu de novo. O mesmo verso apareceu: “Quem crê e for batizado será salvo.” Peter abriu e fechou a Bíblia três vezes e todas as vezes abriu no mesmo verso. Ele pegou a Bíblia e correu para a casa o irmão. Pavol estava tocando com dois amigos. “Por favor, venha e me batize”, Peter disse. Ele nada sabia sobre o batismo. Apenas queria obedecer a Jesus e ser batizado. “Você quer que eu o batize?”, Pavol perguntou. 
“Sim, está escrito claramente que quem for batizado será salvo”, Peter respondeu.

Pavol estava hesitante, mas Peter estava inflexível. Os dois irmãos e os dois amigos entraram em um riacho de um metro de profundidade próximo ao assentamento e batizaram um ao outro. Eles confessaram seus pecados a Deus e suplicaram perdão. Depois, experimentaram uma grande alegria e falaram sobre o Céu se regozijar pelos batismos. Depois daquele dia, os quatro homens deixaram de falar palavrões, fumar e beber. Os vizinhos ficaram impressionados. Antes, quando os homens ficavam bêbados as pessoas fugiam de medo.

Os quatro amigos decidiram estudar a Bíblia diariamente juntos. Algumas vezes eles começavam durante a noite e liam até a manhã seguinte. Outras pessoas se uniram ao grupo da Bíblia. Muitas vezes 50 a 100 pessoas se acomodavam na sala de estar e cozinha da casa de Peter. Durante uma sessão da madrugada, a atenção de Pedro foi atraída a Marcos 16:9, que começava: “Quando Jesus ressuscitou, na madrugada do primeiro dia da semana…” Peter se lembrou de que Jesus e Seus discípulos descansaram no sétimo dia, sábado, e questionou porque os missionários que os visitavam guardavam o domingo. Nenhum missionário respondeu essa pergunta.

O grupo de estudos bíblicos continuou lendo a Bíblia e descobriu o quarto mandamento. Eles começaram a guardar o sábado. Certo dia, Peter mencionou sua perplexidade sobre o domingo a um desconhecido que visitava um parente cigano. O homem, Josif, que por acaso era adventista, contou que havia uma religião que guardava o sábado. Peter convidou Josif para falar no grupo de estudos. Depois Josif levou Peter e seus amigos para visitarem igrejas adventistas da região. Peter ficou impressionado com a reverência do culto adventista.

A sala de estar de Peter se transformou em uma igreja adventista com culto no sábado e outras programações. Em 2015, Peter, o irmão e 24 membros do grupo de estudos bíblicos foram batizados na igreja adventista. Nos dois anos seguintes, mais dez pessoas foram batizadas. Em 2018, uma igreja adventista foi construída nos arredores do assentamento e recebe aproximadamente 100 pessoas todos os sábados.

Essa é a igreja que Deus construiu a partir do zero na sala de estar da casa de Peter. Parte da oferta do trimestre ajudar a criar programas para crianças carentes da igreja em Rakúzy, Eslováquia. Agradecemos muito pelas ofertas que serão doadas neste trimestre e ajudarão esse e outros projetos missionários na Bulgária, Alemanha e Espanha.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2020
Tema Geral: Daniel
Lição 13 – 21 a 28 de março

Do pó às estrelas

Autor: Marcelo Rezende
Editor: André Oliveira Santos
Revisora: Josiéli Nóbrega

Todos nós gostamos de uma boa história! Qual é a receita para que uma história seja boa o suficiente a ponto de captar nossa atenção, criar identificação com os que a conhecem e agradar diversos “gostos”, atendendo todas as expectativas que ela gera? Analisando a estrutura geral de diversas narrativas, podemos ver que uma história realmente boa deve partir de uma situação inicial em que um conflito, um problema ou mesmo uma missão a ser cumprida gere uma tensão, que irá conduzir essa narrativa a um clímax a ser resolvido satisfatoriamente no final, levando seus personagens a um estado de harmonia ou satisfação. A essas sequências damos frequentemente o nome de “final feliz”. Todos nós gostamos de um final que faça valer a pena o tempo empregado em conhecer uma história. Daniel 12 traz o tão esperado “final feliz” para toda a história do livro e, consequentemente, de toda humanidade! Mas não antes de mostrar como o “grande conflito” é solucionado.

1 – Miguel, nosso Príncipe

Daniel 11:45 termina com a menção ao final do “rei do Norte”, causada por uma intervenção externa não completamente esclarecida. O início do capítulo 12 nos mostra a razão de sua destruição – Miguel “Se levanta” para agir em prol de Seu povo. O verbo hebraico empregado aqui para descrever a ação de Miguel como “levantar” é “‘amad” e tem conotações tanto militares (Dn 8:22; 11:3, 4, 14 – levantar-se para guerrear), legais (Is 50:8 – estar contra alguém em juízo) e litúrgicas (Êx 33:9; 1Rs 17:1 – estar diante do Senhor). A combinação desses significados nos faz lembrar das ações anteriormente descritas como realizadas pelo “Filho do Homem” no julgamento de Daniel 7:10, 13, 14, e do “Príncipe”-Sacerdote na purificação do santuário em Daniel 8:14, que acontece após o término dos 2.300 dias e que marca a destruição do chifre pequeno (Roma) sem o “esforço de mãos humanas” (Dn 8:25). Ambas as ações de vindicação acontecem em Daniel 7 e 8 no contexto narrativo da destruição do poder de Roma, no auge de sua força e de seu orgulho contra Deus, manifestados em seu esforço para exterminar o povo do Senhor. Podemos seguramente concluir que, em Daniel 12, o ato de Miguel Se “levantar” é outra descrição da mesma ação de juízo de Daniel 7 e da purificação do Santuário em Daniel 8:14. É por meio da execução desse ato divino de justiça que o poder do “rei do Norte” (animal terrível/chifre pequeno/assolador) é definitivamente destruído e o povo de Deus é finalmente salvo.

2 – Profecias de tempo

Nas últimas palavras do diálogo entre Daniel e Gabriel (Dn 12:11, 12) são mencionados dois períodos de tempo proféticos a ser cumpridos – 1.290 dias e 1.335 dias. Alguns procuram argumentar pela literalidade da contagem desses tempos defendendo a ideia de que eles se referem a fatos ainda futuros para nós e que acontecerão no desenrolar dos últimos momentos da história. Essa interpretação não se encaixa na estrutura do desenvolvimento de Daniel 12 e muito menos no restante do conteúdo anteriormente revelado no livro. Não podemos nos esquecer de que uma característica literária fundamental para o entendimento do livro de Daniel é o fenômeno da recapitulação de uma única história que é contada e recontada com várias ênfases, sob vários aspectos e progressivamente acrescida de mais detalhes e informações sobre os mesmos eventos. Portanto, considerar os 1.290 dias e os 1.335 dias como eventos não considerados anteriormente na narrativa profética e ainda futuros para nós é romper totalmente com essa organização literária perfeitamente construída nos capítulos anteriores. Soma-se a isso o fato de que o conteúdo temático do livro foi encerrado em Daniel 12:4, dando como concluída toda a revelação da “Escritura da verdade” (Dn 10:21). Logo, tudo que vem depois de Daniel 12:4 já foi dito ou está de alguma forma relacionado com o que já vimos previamente.

Os 1.260 anos (Dn 7:25; 12:7) de supremacia papal, que acontecem como consequência direta da vigência do poder da “transgressão assoladora” de Daniel 8:13 (que é entendida como sendo o domínio da união do poder político com o poder religioso na idade média), dependem completamente de uma ligação cronológica direta com os 1.290 dias que marcam precisamente o momento em que é estabelecida essa “abominação desoladora” (Dn 12:11). Os 1.335 dias, por sua vez, são apresentados como uma extensão do tempo anteriormente mencionado dos 1.290, oferecendo uma benção especial para aqueles que alcançassem a fase da história iniciada nesse período. Por isso, tendo os 1.260 anos como ponto de partida e sabendo que eles são delimitados pelas datas de 538 d.C. (a ascensão do poder papal) e 1.798 d.C. (o término desse poder ocasionado pela prisão do papa), podemos recuar no tempo 1.290 anos, partindo de 1.798 para 508 d.C., normalmente atribuído como o ano da conversão de Clóvis, o rei dos Francos, que desempenhou um papel fundamental para o crescimento do catolicismo na Europa, um momento crucial na História em que o Estado agiu em favor dos interesses expansionistas da religião cristã na Idade Média, estabelecendo assim a “abominação assoladora” que alcançaria o pleno poder em 538 d.C. Por outro lado, tendo o ano de 508 d.C. como ponto de partida, somando 1.335 anos, que seriam a extensão de tempo mencionada em Daniel 12:12, chegamos ao ano de 1843 d.C, um ano antes de 1844, o já referido término dos 2.300 anos anunciados em Daniel 8:14, momento em que tem início o julgamento celestial (Dn 7:10) e a purificação do santuário, que são representados em Daniel 12 como o ato de Miguel “Se levantar” para defender o povo de Deus e derrotar seus inimigos. Logo, aquele que chega a essa época da História e vive a partir dela com essa compreensão dos fatos pode realmente ser considerado um “bem-aventurado” (Dn 12:12).

3 – Ressurreição

Seguindo a receita de uma boa história, o livro de Daniel começa com uma situação de tensão e conflito descrevendo a destruição de Jerusalém e o exílio na Babilônia com todos os desafios, angústias e perigos enfrentados por Daniel e seus companheiros, juntamente com seus fantásticos e miraculosos livramentos. Então, passa a narrar em suas profecias a História da humanidade como um tipo de um “macro-exílio” imposto ao povo de Deus, sujeito aos caprichos de uma Babilônia com um alcance de domínio muito maior, que faria mal a muitos, mas, finalmente, seria destruída pelo Messias – o Rei, o Sacerdote, o Guerreiro Miguel, o sacrifício oferecido para a ratificação da aliança de Deus com Seu povo. Por fim, todos os fiéis do Senhor seriam libertos da “grande cova do leão” satânico por meio da ressurreição dos mortos (Dn 12:2, 13). Assim, todas as profecias de restauração pós-exílicas reveladas aos profetas do passado, em que Israel receberia a terra como herança, o Descendente de Davi seria o Rei soberano e os povos do mundo inteiro se reuniriam na Jerusalém eterna diante do Senhor (Jr 30–33; Is 65–66; Zc 14:16-21) teriam seu pleno cumprimento da forma que Daniel apresenta e na sequência da história contada no livro do profeta.

Algumas pessoas não gostam de saber o final de uma história antes de chegar ao seu fim, pois alegam que, dessa forma, perdem toda a experiência da emoção e do suspense do que está por vir. Mas Deus já nos revelou o “final” com a história ainda em andamento! Embora não saibamos todos os detalhes do que acontecerá até chegarmos ao fim, mesmo vivendo em meio às lutas mais terríveis e aos sofrimentos mais insuportáveis, não precisamos sentir a expectativa ansiosa de quem não conhece a história, porque o final é feliz e nós já sabemos disso!

Conheça o autor dos comentários para este trimestre:

Atualmente, Marcelo Rezende é pastor do distrito de São Carlos, na Associação Paulista Oeste. Há 20 anos é pastor e tem servido a igreja em diversas funções ministeriais. Possui mestrado em teologia bíblica com ênfase em teologia paulina pelo Unasp-Engenheiro Coelho. É casado com Simone Ramos Rezende e juntos têm dois filhos: Sarah (que nasceu em um dia 22 de outubro – os que estudarem a lição de Daniel entenderão!), e o caçula Daniel (o mesmo nome do profeta!).

1 Jaques Doukhan, Secretos de Daniel – sabiduría y sueños de un príncipe hebreo en el exilio, p. 189.