A primeira metade de Marcos concentra a atenção em quem Jesus é. Seus poderosos ensinamentos e milagres apontam para a mesma verdade: Ele é o Messias. Nesse ponto crucial da narrativa, Jesus pergunta aos discípulos quem eles acreditam que Ele seja.
Pedro dá uma resposta clara a essa pergunta, e Jesus começa imediatamente a explicar para onde estão indo Seus passos como Messias – em direção à cruz.
Da última parte de Marcos 8 até o fim de Marcos 10, Jesus Se concentra em ensinar Seus discípulos a respeito de Sua jornada. Nesses capítulos, Ele fará previsões sobre a cruz, que serão seguidas por instruções especiais sobre o discipulado. Essas lições poderosas continuam relevantes ainda hoje.
Essa seção do segundo evangelho é marcada pela cura de dois cegos, uma na metade de Marcos 8 e outra no fim de Marcos 10. Esses dois milagres, situados no início e no fim da seção, ilustram de maneira bastante vívida que o discipulado inclui uma percepção espiritual sobre quem é Jesus e para onde Ele estava indo. Assim como Seus ensinamentos desafiaram os 12 discípulos há 2 mil anos, continuam a confrontar os discípulos de hoje com o profundo custo e o benefício de seguir Jesus.
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
1. Leia Marcos 8:22-30. Por que foi necessário que Jesus tocasse duas vezes no cego para curá-lo, e que lições podemos tirar desse relato?
Os evangelhos relatam as histórias de vários cegos curados por Jesus. Além da passagem de Marcos 8, que estamos estudando, Bartimeu foi curado (Mc 10:46-52). Mateus refere-se a dois homens cegos (Mt 20:29-34), e João 9 conta a história de Jesus curando um cego de nascença que se lavou no tanque de Siloé.
Contudo, a história de Marcos 8 é peculiar. Ela é mencionada apenas em Marcos e é o único milagre de Jesus que requereu duas ações para trazer saúde perfeita. Há o detalhe comovente de que Jesus tomou o homem pela mão e o levou para fora da aldeia. Conseguimos sentir Sua compaixão pela deficiência do homem.
Mas por que foi necessário tocar no homem duas vezes? Esse foi o único milagre que envolveu duas ações, mas isso não aconteceu por falta de poder de Jesus. É mais provável que Ele tenha contado uma parábola em forma de ações, ilustrando que às vezes leva tempo para desenvolver a percepção espiritual. Isso estava acontecendo com os discípulos. Essa seção de Marcos começa e termina com a cura de um cego. Jesus estava ensinando os discípulos especialmente sobre Sua morte, que ocorreria em breve. Eles tiveram dificuldade em entender essa predição, embora Jesus tivesse falado sobre isso várias vezes. A restauração da visão é uma metáfora do crescimento no discipulado.
Professores gostam de fazer perguntas. Estas são a chave para desbloquear a compreensão dos alunos. Em Marcos 8, chegamos ao ponto decisivo do livro. Três características confirmam isso. Primeira, Jesus perguntou sobre Sua identidade, algo que Ele não tinha feito antes. Segunda, Pedro foi a primeira pessoa não possuída por demônios que reconheceu que Jesus é o Messias. Terceira, logo após essa revelação de quem é Jesus, Ele começou a explicar para onde estava indo – para a cruz.
Por que Jesus disse aos Seus discípulos para não contarem a ninguém que Ele era o Messias? Isso parece ser contrário à Sua vontade de estabelecer o Reino de Deus. Contudo, nos dias de Jesus, a ideia de “Messias” muitas vezes tinha conotações políticas, devido à crença de que Ele derrubaria o domínio romano. Jesus não veio para ser esse tipo de Messias; por isso, pediu silêncio sobre Sua identidade.
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
Os discípulos chegaram a um ponto crucial na sua relação com Jesus. Eles agora sabiam que Ele era o Messias. O leitor de Marcos sabe disso desde o início do livro (Mc 1:1) e, portanto, tem uma vantagem sobre os discípulos, que, às vezes, demoravam bastante para compreender verdades espirituais.
Quando Jesus chamou os discípulos pela primeira vez, Ele disse que os faria pescadores de gente (Mc 1:17). Mas não mencionou os problemas. Agora que eles sabiam quem Ele era, Jesus revelou o objetivo de Sua missão: que era necessário que Ele sofresse muitas coisas, fosse rejeitado, fosse morto e ressuscitasse depois de três dias.
Foi uma notícia chocante. Pedro, que havia acabado de confessar que Jesus era o Messias, chamou-O de lado e O repreendeu por dizer essas coisas. Tudo isso tinha sido contado em discurso indireto, mas agora Marcos relata as palavras de Jesus, que devem ter doído nos ouvidos de Pedro, pois Cristo o chamou de Satanás e lhe disse que saísse do Seu caminho, uma vez que esses pensamentos não estavam de acordo com a vontade de Deus.
“As palavras de Pedro não eram para ajudar e consolar Jesus na grande prova que estava diante Dele. Não estavam em harmonia com o plano divino de graça para com o mundo perdido, nem com a lição de sacrifício que Jesus viera ensinar com Seu exemplo” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2021], p. 331).
Os seguidores de Jesus são chamados a ter o mesmo objetivo que Ele: tomar a cruz e segui-Lo. A crucifixão era o método de execução mais cruel, humilhante e intimidante praticada pelos romanos. Todos queriam evitar a cruz. Então, por que alguém iria querer tomar a cruz como símbolo de sua devoção a Jesus?
Jesus explicou não apenas o custo do discipulado, mas também o grande valor que ele possui. No paradoxo da fé cristã, perder a vida é a única forma de encontrá-la. Por outro lado, ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida eterna, é absurdo. Como o missionário Jim Elliott expressou em seu diário de 28 de outubro de 1949: “Não é tolo aquele que abre mão do que não pode reter para ganhar o que não pode perder.”
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
3. O que Pedro, Tiago e João viram com Jesus? Mc 9:1-13
Em Marcos 9:1, Jesus predisse que alguns dos que estavam com Ele não passariam pela morte antes de verem a chegada do Reino de Deus com poder. Isso se cumpriu alguns dias depois, quando Jesus levou Pedro, Tiago e João sozinhos a um alto monte. Lá Ele foi transfigurado diante deles na glória do reino celestial.
Moisés e Elias vieram do Céu para conversar com Jesus. Lucas observou que eles falavam sobre a partida (em grego, êxodo) de Jesus, que Ele estava prestes a realizar em Jerusalém (Lc 9:30, 31). Assim, essa cena de glória está ligada à morte de Jesus (Mc 9:9). Isso daria esperança aos discípulos quando Cristo fosse crucificado.
Ao descer o monte, na manhã seguinte, os três discípulos perguntaram a Jesus sobre a vinda de Elias. É provável que essa ideia estivesse ligada à expectativa de que Elias reapareceria antes do Messias (Ml 4:5, 6). Jesus respondeu que Elias já tinha vindo, fazendo referência a João Batista. Assim como haviam matado João, Jesus seria morto, mas ressuscitaria depois de três dias.
Depois da noite de glória, o cenário no sopé da montanha estava um caos (Mc 9:14-29). Os nove discípulos não conseguiram curar um menino possuído por um demônio. Quando Jesus entrou em cena, todos correram para vê-Lo. A história descreve o poder do demônio sobre a criança. Jesus pareceu demorar perguntando sobre os detalhes da situação. Isso foi demais para o pai, que deixou escapar: “Se o senhor pode fazer alguma coisa, tenha compaixão de nós e ajude-nos” (Mc 9:22).
Jesus percebeu a expressão de dúvida. Ele disse, em outras palavras: “O que você quer dizer com ‘Se o senhor pode’?” (Mc 9:23). De repente, como um relâmpago, o pai viu que não era apenas o filho que tinha um problema – ele próprio tinha um problema de incredulidade, que poderia impedir a cura do seu filho. O pai, desesperado, se lançou à misericórdia de Jesus com a frase memorável: “Eu creio! Ajude-me na minha falta de fé!” (Mc 9:24). Então Jesus curou o menino.
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
4. Leia Marcos 9:30-41. O que há de diferente na segunda predição de Jesus sobre Sua morte e ressurreição? (Compare com Mc 8:31.) Sobre o que os discípulos discutiam, e que instrução Jesus lhes deu?
Na primeira predição, Jesus Se referiu àqueles que iriam rejeitá-Lo e matá-Lo. Na segunda predição, Ele mencionou o fato de que seria traído. O traidor não foi apontado naquele momento, mas o leitor já sabe quem é, porque Judas já tinha sido identificado (Mc 3:19). Novamente, Jesus disse que seria morto e ressuscitaria após três dias. Mas os discípulos pareciam ainda menos interessados nos detalhes dessa predição do que na primeira. Notícias indesejáveis não geram discussão.
Em Marcos 8:27, Jesus estava ao norte do mar da Galileia, perto de Cesareia de Filipe. Em Marcos 9:30, Ele estava passando pela Galileia, e em Marcos 9:33, Ele entrou em Cafarnaum. Assim, percebemos que Jesus viajou do norte para o sul. No entanto, em algum momento da jornada, os 12 discípulos haviam ficado para trás. Em casa, Ele perguntou o que tinham discutido no caminho. Ninguém disse nada, um sinal claro do desconforto que tiveram com a pergunta, quase como crianças surpreendidas fazendo algo errado. A conversa deles foi sobre quem era o maior. Mesmo que a maioria das pessoas não admitam, a questão de quem é o maior é algo em que todos pensam. Mas no Reino de Deus essa ideia é virada de cabeça para baixo.
Jesus respondeu ao problema em duas etapas. Primeiro, declarou que para alguém ser o primeiro (o maior), precisa se tornar servo. Segundo, ilustrou o que queria dizer por meio de uma ação. Jesus tomou a criança e a colocou no meio do grupo. A criança deve ter se sentido intimidada, mas Jesus a tomou nos braços, deixando-a tranquila. Cristo ensinou que se recebermos a criança, O receberemos. E se O recebermos, receberemos o Pai. Assim, a criança está relacionada ao próprio Deus.
João fez uma pergunta sobre os de fora, e Jesus ensinou a lição de que aqueles que não estão contra nós estão a favor de nós. O Senhor declarou que ajudar os que estão no serviço cristão, mesmo em pequenas coisas, não passa despercebido no Céu.
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
5. Leia Marcos 9:42-50. O que une os ensinos de Jesus nessa passagem?
À primeira vista, esse texto parece uma coleção de diferentes ensinos de Jesus reunidos sem conexão. No entanto, um olhar atento revela que cada ensino sucessivo tem ligação com o anterior. O texto gira em torno de três expressões principais que desdobram a instrução passo a passo: “leva [...] a tropeçar”, “fogo” e “sal”.
O primeiro ensino diz respeito aos “pequeninos”, referindo-se aos crentes, mesmo os menores entre eles. Mestres e líderes são incumbidos no Reino de Deus da responsabilidade de zelar pelos pequeninos irmãos com cuidado especial, de maneira semelhante à ética do AT de cuidar de todos, especialmente dos mais fracos da sociedade antiga – viúvas, órfãos e estrangeiros. Usando uma hipérbole, Jesus disse que seria melhor ser jogado ao mar do que fazer pecar um desses “pequeninos”.
A expressão “fizer tropeçar” nos leva ao ensino mais longo dessa passagem. Duas questões confrontam o leitor. Primeiro, Jesus estava realmente ensinando que as pessoas deveriam cortar a mão ou o pé ou arrancar o olho? Segundo, Ele estava ensinando que haverá um inferno ardendo eternamente? A resposta à primeira pergunta é não, Jesus não ensinou a mutilação, que era rejeitada no judaísmo (Dt 14:1; 1Rs 18:27, 28). Para ilustrar Seu ensino, o Senhor usou uma hipérbole, uma figura de linguagem caracterizada pelo exagero. Se perder a mão, o pé ou o olho é terrível, quanto mais desastroso deveria ser para o cristão levar alguém a pecar!
A segunda questão também tem resposta negativa; Jesus não ensinou a existência de um inferno que arderá eternamente. A passagem contém um aspecto cômico. Pense em pessoas na cidade celestial com apenas um olho, um pé ou uma mão. Pense em pessoas com o corpo inteiro indo para o inferno. Não deveria ser o contrário? Haverá alguém com o corpo perfeito no inferno? É uma comédia sobre um tema muito sério. Isso mostra que Jesus ilustrou a ideia com uma hipérbole. O pecado deve ser levado tão a sério que seria melhor perder a mão, o pé ou o olho do que pecar.
O inferno terá consequências eternas, mas não o fogo em si. Os que se perderem não arderão para sempre, mas perecerão para sempre (Jo 3:16), uma grande diferença!
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
Leia, de Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 340-344 (“O poder da fé”), e p. 345-355 (“Quem é o maior?”).
“‘A humildade precede a honra’ (Pv 15:33). Para ocupar um elevado cargo diante dos seres humanos, o Céu escolhe o obreiro que, como João Batista, assume posição humilde diante de Deus. O discípulo mais semelhante às crianças é o mais eficiente no trabalho para Deus. Os seres celestes podem cooperar com aquele que procura não se exaltar, mas salvar os outros” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2021], p. 349).
“Em tudo que tivermos vantagem sobre outros – seja educação e cultura, nobreza de caráter, princípios cristãos ou experiência religiosa – estamos em dívida para com os menos favorecidos; e, naquilo que estiver ao nosso alcance, devemos ajudá-los. Se somos fortes, devemos sustentar as mãos dos fracos. Anjos de glória, que contemplam continuamente o rosto do Pai no Céu, alegram-se em servir aos Seus pequeninos. Aqueles [...] que possuem muitos defeitos de caráter estão especialmente sob a guarda deles. Os anjos estão sempre presentes onde são mais necessários, ao lado dos que têm a mais dura batalha a combater contra o próprio eu, e cujo ambiente é o mais desanimador” (O Desejado de Todas as Nações, p. 353).
Perguntas para consideração
1. Leia Marcos 8:27-29. Com frequência você testemunha de sua fé?
2. Qual é o equilíbrio entre a experiência de comunhão com Cristo no topo da montanha e a experiência de serviço às necessidades dos outros?
3. Qual é a diferença entre a visão do mundo e a visão divina sobre grandeza? Como Deus considera os grandes do mundo? Quão distorcidos e deturpados são os ideais da sociedade?
4. Levamos a sério o pecado? Achamos melhor ter o corpo mutilado do que pecar?
Respostas e atividades da semana: 1. O milagre foi um processo; cada etapa ampliou os efeitos da obra de Cristo; em cada etapa do milagre, precisamos exercer nossa fé. 2. O custo do discipulado é negar a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir a Cristo; é perder a vida por causa do evangelho e não se envergonhar de Jesus e de Sua Palavra. 3. Jesus sendo transfigurado, e Moisés e Elias conversando com Ele sobre o Seu sacrifício. 4. Na segunda predição,Jesus disse que seria entregue, ou traído; nessa predição, os discípulos não questionaram, pois tiveram medo. 5. Três expressões aparecem nos ensinos: “Se alguém ou alguma coisa fizer você ou algum dos pequeninos pecar”, será lançada no “fogo”; devemos ser o sal da terra, mas, se perdermos o nosso sabor, seremos salgados com o fogo do juízo final, que purifica e leva à extinção dos rebeldes. Por isso, não devemos ser motivo de escândalo ou tropeço, não devemos nos exaltar sobre os irmãos e precisamos viver em paz com todos.
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
TEXTOS-CHAVE: Marcos 8:31-33, 38; 9:1, 7
FOCO DO ESTUDO: Marcos 8:27-38; 9:1-8
ESBOÇO
Introdução: O reino de Deus é um tema predominante em Marcos. Jesus declara que Ele representa o reino de Deus. O Salvador veio para restituir Seu povo a esse reino. Assim, tudo em Sua agenda terrena tinha o propósito de cumprir o plano redentivo de Deus. Ninguém podia desviar Cristo de Sua missão. Com dedicação incansável, Ele Se dedicou totalmente a isso. Confirmando a obra terrena de Jesus, o Pai, no evento da transfiguração, anunciou, mais uma vez, que Ele é o Seu Filho e convidou os Seus seguidores para obedecerem a Cristo.
Temas da lição: O estudo desta semana cobre os dois tópicos a seguir:
1. A prioridade da missão de Jesus à luz do plano redentivo de Deus.
2. A glória do Reino de Deus, conforme destacada em Marcos 9:1 e retratada, especificamente, no evento da transfiguração.
COMENTÁRIO
A prioridade de Jesus
Em seu evangelho, Marcos dá muita atenção aos atos de Jesus em benefício das pessoas. Ele descreve, por exemplo, a interação de Jesus com a multidão ou com um indivíduo a quem Se dirige. Os discípulos de Cristo estão sempre presentes nas narrativas, mas não desempenham papel de destaque em muitas das cenas. Contudo, Marcos 8:27-33 é uma perícope, ou seleção narrativa, na qual há uma interação bastante estreita entre Jesus e Seus discípulos. A cena começa com o diálogo Dele com todos os discípulos. Depois, no fim, o diálogo concentra-se em um único discípulo, Pedro.
A conversa começa com a pergunta de Jesus sobre Sua própria identidade. Alguns discípulos expressaram a diferença de opiniões que havia entre as pessoas sobre quem era Jesus e qual era Sua missão. Outros identificaram Jesus com a obra de João Batista ou com alguns dos profetas. A pergunta de Jesus aos Seus discípulos não significa que Ele não soubesse quem era. Em vez disso, Ele queria destacar o propósito de Sua vida na Terra e desejava que Seus discípulos compreendessem Sua missão. Por isso, após a resposta de Pedro: “O senhor é o Cristo” (Mc 8:29), Jesus começa a revelar alguns eventos futuros de Sua jornada. Pedro identificou Jesus como ho Christos, “o Cristo” (com artigo definido), o Messias, o Ungido (veja William Arndt, F. W. Gingrich e Frederick W. Danker, eds., A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature [Chicago, IL: University of Chicago Press, 2000], p. 1091). O caráter messiânico de Jesus está em harmonia com a perspectiva escatológica do evangelho: Ele é o Eleito a quem Deus enviou para redimir Israel. Depois de afirmar a identidade messiânica de Jesus, Marcos delineia detalhes sobre Sua missão como o Messias, dizendo: “Então Jesus começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do Homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que, depois de três dias, ressuscitasse” (Mc 8:31). Jesus desejava que Seus discípulos compreendessem plenamente Sua vida na Terra: que Ele sofreria durante Seu ministério, morreria e depois ressuscitaria.
Marcos 8:32 e 33 descreve uma conversa particular entre Pedro e Jesus. De acordo com Marcos, Pedro começou a repreender Jesus. Mateus cita as palavras exatas ditas por Pedro: “Que Deus não permita, Senhor! Isso de modo nenhum irá Lhe acontecer” (Mt 16:22). A resposta de Jesus a Pedro foi surpreendentemente severa: “Saia da Minha frente, Satanás! Porque você não leva em consideração as coisas de Deus, e sim as dos homens” (Mc 8:33). Por que Jesus reagiu a Pedro dessa maneira? Pela simples razão de que o discípulo estava tratando do aspecto mais essencial de Sua vida e ministério: o plano divino de redenção. Jesus jamais permite que alguém interfira no plano de Deus, mesmo que essa interferência venha acompanhada de “boas” intenções. Jesus permitiu que as pessoas discordassem Dele. Tolerou insultos. Sofreu agressões sem reclamar. Mas uma coisa Ele jamais permitiu: o obstáculo ou a tentativa deliberada de parar ou abortar o plano do Pai para a Sua vida.
O plano do Pai motivava Jesus; era a razão de Sua vida e mais importante do que o próprio sustento físico: “A Minha comida consiste em fazer a vontade Daquele que Me enviou” (Jo 4:34; compare com Mc 6:31). O que sustentava a vida de Jesus era o plano de Deus; diante disso, todas as outras coisas eram secundárias. A Sua vida estava em perfeita submissão à vontade de Deus. Da mesma forma, os seguidores de Jesus só podem reivindicar pertencer verdadeiramente a Ele quando vivem uma vida centrada em Deus e no plano da redenção.
Aqueles que verão um vislumbre da glória do Reino de Deus
“Em verdade lhes digo que, dos que aqui se encontram, existem alguns que não passarão pela morte até que vejam ter chegado com poder o reino de Deus” (Mc 9:1).
Devemos entender esse texto à luz dos últimos versos de Marcos 8, nos quais Jesus fala sobre o custo do discipulado. Ele deixa claro que “quem, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de Mim e das Minhas palavras, também o Filho do Homem Se envergonhará dele, quando vier na glória do Seu Pai com os santos anjos” (Mc 8:38, grifo nosso). Nessa perícope, Jesus Se refere a duas eras ou períodos: a era da geração atual (isto é, de Sua época) e a era da geração que viverá na Terra quando Ele voltar. A transfiguração de Jesus, relatada em Marcos 9:2-7, é uma representação pequena, mas bastante exata, de Sua glorificação futura. Pedro, que estava lá, parece ter entendido o acontecimento dessa forma: “Porque não lhes demos a conhecer o poder e a vinda do nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da Sua majestade” (2Pe 1:16, grifo nosso). A respeito daqueles que “não passarão pela morte”, o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia declara: “É significativo que os três evangelhos sinópticos tenham registrado a narrativa da transfiguração imediatamente após essa previsão. [...] Além disso, os três mencionam o fato de que a transfiguração ocorreu cerca de uma semana após essa declaração, o que implica que o evento foi o cumprimento da profecia. A ligação entre as duas seções da narrativa parece excluir a possibilidade de que Jesus aqui tenha Se referido a qualquer coisa, a não ser a transfiguração, que foi uma demonstração em miniatura do reino da glória” (v. 5, p. 459).
No capítulo 8 de Marcos, Jesus Se refere ao evento escatológico do dia glorioso da Sua segunda vinda, no qual “alguns [daquela geração adúltera e pecadora]” (Mc 8:38) receberão a retribuição final da condenação. A morte, nesse caso, se refere à segunda morte.
Em contraste com essa advertência do fim de Marcos 8, os justos são destacados em Marcos 9:1, numa predição de Jesus a respeito de alguns que não passariam pela morte até que vissem que havia “chegado com poder o Reino de Deus”.
Outra interpretação de Marcos 9:1 deriva do entendimento do verbo “ver”. O termo grego eidon pode ser interpretado de forma mais ampla, com o sentido de “perceber, tomar consciência de alguma coisa, tomar conhecimento especial de algo, experimentar algo, mostrar interesse por” (veja William Arndt, F. W. Gingrich e Frederick W. Danker, eds., A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature [Chicago, IL: University of Chicago Press, 2000], p. 279, 280). Nesse sentido, a promessa de Marcos 9:1 pode incluir outros eventos além do cumprimento da transfiguração. Também pode incluir outras pessoas além de Pedro, Tiago e João, que foram o único grupo que viu a transfiguração de Jesus.
O comentário de R. Alan Cole pode ser bastante útil neste momento: “[Marcos 9:1] deve, portanto, se referir à transfiguração que se segue imediatamente depois, o que parece razoável; ou a eventos posteriores, ocorridos ainda durante a vida humana, como o triunfo de Cristo na cruz, confirmado pela ressurreição (Cl 2:15); ou à vinda do Espírito Santo; ou à extensão posterior das bênçãos do Reino aos gentios” (Mark: An Introduction and Commentary, Tyndale New Testament Commentaries [Downers Grove, IL: InterVarsity, 1989], p. 213, 214).
Outro detalhe importante a ser observado em Marcos 9:1 é que o verbo erchomai, traduzido como “chegado” na frase “ter chegado com poder o reino de Deus”, é usado no tempo perfeito. Esse verbo indica que o reino já chegou. Esse entendimento está em harmonia com a mensagem de Marcos, de que “o reino de Deus está próximo” (Mc 1:15). Mais uma vez, o tema principal desse texto é o reino de Deus. A fervorosa esperança de Jesus era que alguns que estavam ao Seu redor percebessem, ou se tornassem conscientes, da obra do Seu reino antes que chegasse o dia da Sua morte.
Não há dúvida de que o evento da transfiguração e outros acontecimentos que se seguiram, como a crucifixão e a ressurreição de Cristo, foram marcos destinados a provar e fortalecer a fé dos discípulos. Essa ideia parece estar em harmonia com a seguinte declaração de Ellen G. White: “Os discípulos estavam certos de que Moisés e Elias tinham sido enviados para proteger seu Mestre e estabelecer Sua autoridade de rei. No entanto, antes da coroa, era preciso que viesse a cruz. O assunto da conversa não era a consagração de Cristo como rei, mas a morte que ocorreria em Jerusalém” (O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2021], p. 337).
A transfiguração foi, em termos figurados, uma “prévia” do magnífico acontecimento do fim dos tempos: a segunda vinda de Cristo. Um evento tão glorioso que encheu os discípulos de espanto. Moisés e Elias apareceram diante deles e conversavam com Jesus (Mc 9:4). De acordo com Ellen G. White, Moisés e Elias representam os redimidos: Elias representa aqueles que não passarão pela morte, enquanto Moisés representa aqueles que ressuscitarão do pó da terra. “Sobre o monte, o futuro reino da glória foi representado em miniatura: Cristo, o Rei; Moisés, como representante dos santos ressuscitados; e Elias, dos que serão trasladados” (O Desejado de Todas as Nações, p. 337).
A transfiguração ocupa papel importante na narrativa do evangelho de Marcos. O fato de que Jesus Cristo é o Filho de Deus foi consolidado por meio desse evento. Deus, o Pai, revelou vislumbres do esplendor do Seu reino. Então, uma nuvem se formou, ofuscando a glória de Deus. O Pai falou da nuvem, contrariando o conselho impetuoso e presunçoso de Pedro. Como diz Marcos, da nuvem “veio uma voz que dizia: – Este é o Meu Filho amado; escutem o que Ele diz!” (Mc 9:7). Essa história ilustra a importância de reconhecermos Jesus como o Filho de Deus. Porém, a narrativa nos ensina que, mais do que simplesmente O reconhecermos, é essencial O obedecermos. Na Bíblia, ouvir é sinônimo de obedecer. Essa obediência, ou escuta, envolve uma entrega diária a Jesus Cristo. Assim sendo, nossa obediência deve acompanhar nosso conhecimento Dele.
Nas seções do evangelho de Marcos que acabamos de estudar, o autor destaca a identidade messiânica de Jesus e dá sinais importantes do poder e da glória do Seu Reino. Suzanne W. Henderson expressa bem esse conceito ao escrever que Marcos, “o segundo evangelista, forja claramente essa identidade dentro do fogo da missão messiânica de Jesus: ele dá aviso antecipado da vitória decisiva de Deus sobre os poderes da presente era maligna” (Christology and Discipleship in the Gospel of Mark [Cambridge: Cambridge University Press, 2006], p. 4).
APLICAÇÃO PARA A VIDA
O evento da transfiguração foi tão indescritivelmente surpreendente que os discípulos ficaram apavorados (Mc 9:6). Peça aos alunos que parem por um momento e pensem na segunda vinda de Cristo. Quais são os primeiros pensamentos que lhes vêm à mente? Solicite a alguns voluntários que compartilhem suas impressões com a classe.
O que acontecerá com os justos mortos por ocasião da segunda vinda de Cristo? Considere o ensino do apóstolo Paulo: “Todos seremos transformados num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1Co 15:51, 52). O apóstolo acrescenta no verso 54: “Então se cumprirá a palavra que está escrita: ‘Tragada foi a morte pela vitória.’” Como essa perspectiva lhe dá esperança e conforto?
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
Eu preciso de você
Trinidade e Tobago | Faith
Em casa, sozinha à noite, Faith, de 11 anos, parou de costurar o botão na camisa de seu uniforme escolar. Ela pegou uma tesoura afiada e cortou os braços lentamente até que o sangue saísse. Ela ficou tonta e pensou que fosse desmaiar.
A vida de Faith começou a descender em espiral alguns meses antes, quando sua mãe foi submetida a uma operação de emergência. Enquanto a mãe se recuperava no hospital, a menina foi deixada em casa sozinha por seis meses na ilha caribenha de Trinidade.
Normalmente, os irmãos mais velhos ou os vizinhos ajudam em uma situação como essa. Mas Faith não tinha irmãos ou irmãs. Os vizinhos não sabiam que ela estava sozinha em casa, e ela não pensou em contar a eles.
Seu pai, que morava em outro lugar e não estava envolvido em sua vida, visitava-a uma ou duas vezes por semana.
“Como você está?”, ele perguntava todas as vezes.
“Estou bem”, Faith sempre respondia.
Às vezes, ele lhe dava dinheiro e depois ia embora. Faith não lhe contava sobre sua vida. Ela não achava que ele entenderia.
Por conta própria, Faith aprendeu a cozinhar arroz e feijão. Quando estes acabavam, ela vivia de pão, manteiga e queijo que comprava com o dinheiro que seu pai dava, e com os poucos recursos que a mãe havia deixado em casa. Ela aprendeu a costurar sozinha para poder consertar suas roupas.
Durante o dia, ela frequentava uma escola só para meninas. Ela já havia sido alvo de bullying antes, mas o problema aumentou depois da hospitalização de sua mãe. As meninas provocavam Faith por causa de seu peso, aparência e inteligência. No começo, Faith respondia gentilmente, esperando que elas se tornassem amigas. Mas nada parecia mudar. Sua autoestima evaporou e ela começou a se odiar.
Certa vez, ela pode visitar a mãe quando alguém lhe deu uma carona de carro até o hospital, localizado a 30 minutos de distância. Sua mãe parecia tão frágil, pálida e sem vida. Quando Faith a viu, começou a chorar. Ela queria contar à mãe sobre o bullying, mas não conseguia.
Na escola, o bullying aumentou. Um dia uma menina disse: “Você deveria se matar. Assim todo mundo ficaria feliz”.
Faith acreditou nisso. Ela achava que merecia ser insultada. Achava que não merecia amor, amigos, ou qualquer coisa boa. Ela começou a se ferir. Ela passava fome. Deixou as unhas crescerem e arranhava seu corpo até sangrar. Então ela mudou para lâminas de barbear, facas e tesouras. Ela queria sentir alguma coisa, qualquer coisa. As notas dela baixaram de 8 para 0.
Então chegou a noite em que ela decidiu cometer suicídio com a tesoura.
Enquanto ficava tonta, ela ouviu uma voz em sua cabeça. Era a voz da mãe. Ela não ouvia a voz há muito tempo.
“Eu preciso de você”, disse a voz. “Eu preciso de você mais do que qualquer outra pessoa, mesmo que ninguém mais precise de você”.
Naquele momento, Faith decidiu não se matar. Ela viveria para a mãe. Ela se forçou a se levantar e enfaixar seus braços.
No dia seguinte, a professora notou os curativos e conversou com Faith em particular.
“Você está bem?”, ela perguntou.
Faith começou a chorar e a gritar. Tudo que tinha sido guardado em seu interior durante todos aqueles meses veio à tona. A professora começou a chorar.
“Você tem comido?”, perguntou ela.
“Não, eu tenho passado fome”.
“Você tem dormido?”
“Não, eu não consigo dormir sem a minha mãe”.
A partir desse dia, a professora cuidou de Faith. Sob seu olhar atento, o bullying diminuiu e finalmente parou.
Então, a mãe voltou para casa. Foi um dia maravilhoso! Faith contou tudo à mãe. Enquanto ouvia, sua mãe começou a chorar. Segurando a mão de Faith, ela disse: “Por favor, prometa que você nunca mais vai se machucar novamente de forma alguma? Prometa que não vai tentar se afastar de mim. Eu preciso de você e eu a amo”.
Faith, entre lágrimas, disse: “Eu prometo”.
Devido às suas notas baixas, Faith precisou repetir o mesmo ano no ano seguinte. Ela ficou chateada, mas a mãe disse que era melhor assim. E foi mesmo. Ela deixou as antigas colegas de sala para trás e estava rodeada por novas colegas que a amavam e a respeitavam. Ela fez muitas boas amizades.
Mamãe começou ir à igreja e convidou Faith para ir com ela. Nenhuma das duas tinha ido à igreja durante anos. Faith não se interessou no início, ela achava que seria chato. Mas ela foi e gostou do louvor e do coral. Então continuou indo e não parou mais. Ela e sua mãe entregaram seus corações a Jesus através do batismo.
Olhando para trás, ela acredita que Deus salvou sua vida ao enviar a voz de sua mãe em um momento de necessidade. “Eu não consigo explicar”, ela disse. “Eu estava em casa sozinha, e sei que ouvi a voz da minha mãe dentro de meus pensamentos. Acho que ela era a pessoa que eu mais precisava naquele momento. Deve ter sido o Espírito Santo. Ele sabia o que eu precisava”.
Para os jovens que também sofrem bullying, ela disse: “Se eu tivesse uma máquina do tempo e pudesse voltar no tempo para a idade de 11 anos, eu diria a mim mesma: 'Você vai ficar bem. Tudo vai ficar bem. Você vai conhecer um monte de pessoas realmente legais que vão amá-la e apreciá-la assim como você é. Tudo que você tem que fazer é colocar Deus em primeiro lugar e tudo ficará bem”.
Essa história missionária mostra uma visão privilegiada da vida em Trinidade e dos desafios missionários que existem lá. Parte das ofertas de 2018 foi destinada à construção de uma igreja na Universidade do Sul do Caribe, que está localizada próximo à casa de Faith.
A Missão Adventista conheceu Faith para ouvir sua história na universidade. Obrigado por suas ofertas deste trimestre que ajudarão a levar esperança aos jovens da Divisão Interamericana.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
-
Mostre Trinidade e Tobago no mapa.
-
Assista a um curto vídeo no YouTube sobre Faith: bit.ly/Faith-IAD.
-
Baixe as fotos desta história pelo Facebook: bit.ly/fb-mq
-
Compartilhe publicações missionárias e fatos rápidos sobre a Divisão Interamericana: bit.ly/iad-2024
Garanta o conteúdo completo da Lição da Escola Sabatina para o ano inteiro. Faça aqui a sua assinatura!
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2024
Tema geral: O Evangelho de Marcos
Lição 7 – 10 a 17 de agosto
“Ensinando discípulos – parte 1”
Autor: Natal Gardino
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Rosemara Santos
A lição desta semana e da próxima tratam de uma grande seção no livro de Marcos (capítulos 8:27 a 10:45) em que Jesus ensina lições que preparam os discípulos para os eventos que viriam. Curiosamente, essa grande seção está situada entre duas curas de pessoas cegas (8:22-26 e 10:46-52). É possível que Jesus estivesse revelando a cegueira dos discípulos em relação ao real sentido de Sua missão, e que Ele quisesse fazer com que enxergassem corretamente.
A cura em duas etapas
Somente Marcos registra a cura de um cego em duas etapas (Mc 8:22-26). Além disso, essa é a única cura bíblica que ocorreu desse modo. Não há explicação para isso. Alguns estudiosos sugerem que a cura teria sido proporcional à fé do homem, que não foi suficiente. Mas isso é muito improvável, pois nesse caso haveria muitas outras pessoas que também teriam tido curas incompletas.
Outros sugerem que, assim como um cozinheiro às vezes “erra a mão” na quantia do sal para mais ou para menos, Jesus teria precisado de um “segundo toque” para completar o que faltou. Tal ideia é absurda. Tudo o que Jesus fazia e faz é perfeito.
Contudo, há uma proposta que parece lógica: ao curar o cego em duas etapas, é possível que Jesus estivesse ensinando fazendo uma referência aos discípulos que ainda não enxergavam direito Sua missão e Seu ministério. Eles precisariam de mais um “toque”. Mas isso dependia de uma entrega total da parte deles. Os discípulos precisavam abandonar ideias distorcidas e confiar Nele.
Jesus glorificado ao lado de Elias e Moisés
O relato da transfiguração de Jesus junto a Moisés e Elias é impressionante. Ele está registrado em Mateus 17:1 a 8, Marcos 9:2 a 8 e Lucas 9:28 a 36). Nos três relatos, uma misteriosa afirmação profética de Jesus aparece imediatamente antes dessa cena, como se fosse uma preparação para ela. A afirmação é: “Em verdade lhes digo que, dos que aqui se encontram, existem alguns que não passarão pela morte até que vejam ter chegado com poder o Reino de Deus” (Mc 9:1; Mt 16:28; Lc 9:27).
Então, dias depois, Jesus cumpre essa profecia de modo figurado: “Sobre o monte, o futuro reino da glória foi representado em miniatura: Cristo, o Rei; Moisés, como representante dos santos ressuscitados; e Elias, dos que serão trasladados” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2121], p. 337). Que Moisés ressuscitou da morte é inferido em Judas 1:9 e Romanos 5:14. Caso contrário, Moisés não poderia ter aparecido, considerando o fato de que os mortos estão inconscientes (Ec 9:5, 6, 10).
Um detalhe muito curioso no texto é que Moisés e Elias “conversavam” com Jesus. O assunto principal de sua conversa era “a esperança do mundo, a salvação de toda criatura humana” (O Desejado de Todas as Nações, p. 338). Eles haviam sido levados antecipadamente para o Céu como uma representação de todos os que Cristo salvaria. O pagamento na cruz viria mais tarde. A ressurreição de Moisés e a trasladação de Elias foram como que um “cheque pré-datado”. Se Jesus desistisse de Sua missão ou se Ele falhasse, caindo em alguma tentação, esse “cheque” ficaria sem fundos.
Nesse caso, Moisés e Elias (assim como Enoque) não teriam mais um Salvador, e por isso teriam que voltar à Terra e morrer, sem qualquer esperança de ressurreição. O mesmo aconteceria com cada ser humano que já viveu e que vive na Terra. Os que já morreram jamais ressuscitariam e os que agora vivem não teriam nenhuma esperança além da sepultura. Por isso, Moisés e Elias, além de confortarem o Salvador como mensageiros do Céu, também O motivaram a permanecer firme em Sua missão. Graças a Deus, Jesus suportou tudo até o fim e Se tornou o nosso Salvador!
Ninguém deve se mutilar, mas precisa ser abnegado
Em abril de 2003, o jovem Aron Ralston foi praticar alpinismo sozinho em uma região desértica nos Estados Unidos, sem avisar ninguém. Durante sua prática, caiu entre duas enormes paredes de rocha e, com a força da queda, algumas pedras que também caíram prenderam seu braço em um afunilamento muito apertado. Ele ficou 5 dias nesse lugar, preso pelo braço, sem esperança alguma de que alguém o encontrasse. Ele bebeu toda a sua água e depois precisou recolher na garrafa a própria urina para beber e continuar vivo. Ele sabia que morreria rapidamente de desidratação se continuasse ali. Assim, ele tomou uma decisão radical em favor de sua vida: com um canivete que estava cego, pois tinha sido usado em vão para cavar entre as pedras, ele teria que cortar o braço que estava preso, mesmo que isso lhe causasse extrema dor. E foi o que ele fez. Por isso, está vivo hoje. Sua história se tornou um filme em 2011, com o título “127 Horas”.
Muitas pessoas já mutilaram partes do corpo por entenderem que foi exatamente isso o que Jesus quis dizer em Marcos 9:43 a 48. Agostinho de Hipona, ou “Santo Agostinho”, como é conhecido, foi um dos mais ilustres a fazer isso. Ele amputou seu próprio órgão sexual para não cair em tentação e não perder o Céu. Muitas outras pessoas equivocadas já fizeram isso ao longo dos últimos dois milênios.
No entanto, não foi isso que Jesus quis dizer. Há muitas coisas que servem de empecilho e nos afastam do Céu. São essas coisas que devem ser “amputadas” de nossa vida. Ninguém deve se mutilar, mas devemos ser abnegados! Quais tipos de músicas, filmes, séries, entretenimentos, amizades, lugares ou coisas nos impedem de ter um relacionamento pleno com Jesus? São essas coisas que precisam ser abandonadas.
Além disso, devem ser tomadas firmes decisões em favor da vida que o Céu quer oferecer. Jó, por exemplo, não arrancou os olhos para não cair em tentação, mas diz que fez “uma aliança com os seus olhos” para não cobiçar as moças que lhe parecessem atraentes e tentadoras. Podemos nos decidir ao lado de Jesus e fazer uma aliança de corpo e alma com Ele para fugir da tentação (1Ts 4:3-7).
Conclusão
Jesus estava procurando fazer os discípulos enxergarem corretamente, conhecendo plenamente a verdade. Esse ainda é Seu desejo para nós (1Tm 2:4). Que não arranquemos literalmente os olhos, mãos ou pés, mas que os consagremos ao Senhor enquanto Ele nos ajuda a enxergar a verdade de maneira cada vez mais clara.
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Natal Gardino é mestre em Novo Testamento e doutor em Ministério pela Andrews University. Iniciou seu ministério em 2003 como pastor distrital e atuou em quatro diferentes regiões. Desde 2022 é professor de Novo Testamento no Seminário Adventista de Teologia na FAP (antigo IAP), no Paraná. É casado com Irineide Gardino, psicóloga clínica. O casal tem dois filhos: Kaléo e Nicholas.