Lição 1
28 de setembro a 04 de outubro
Entendendo a história: Zorobabel e Esdras
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Ageu
Verso para memorizar: “Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor, Deus dos Céus, me deu todos os reinos da Terra e me encarregou de Lhe edifi car uma casa em Jerusalém de Judá” (Ed 1:2).
Leituras da semana: Jr 25:11, 12; Dn 9:1, 2; Ed 4:1-7; 7:1-28; Is 55:8, 9

Nos escritos de Jeremias, Deus havia prometido que Seu povo voltaria para Israel após 70 anos de exílio babilônico. O rei Ciro foi o instrumento que Deus usou para permitir que esse retorno acontecesse. Ungido por Deus (Is 45:1), Ciro publicou um decreto por volta de 538 a.C. libertando o povo de Deus e consentindo que este retornasse a Jerusalém para reconstruir o templo. Deus (e não Ciro) falou a respeito da cidade: “Será edificada”, garantindo sua reconstrução; e do templo: “Será fundado” (Is 44:28), movendo o coração de Ciro a conceder permissão para a construção do templo. 

É sempre encorajador ver o povo de Deus reagir positivamente às ações do Senhor: “Então, se levantaram os cabeças de famílias de Judá e de Benjamim, e os sacerdotes, e os levitas, com todos aqueles cujo espírito Deus despertou, para subirem a edificar a Casa do Senhor, a qual está em Jerusalém” (Ed 1:5). 

Vemos aqui um exemplo de pessoas reagindo positivamente aos atos poderosos e graciosos de Deus. Nossas melhores ações resultam da percepção de quem Deus é e do que Ele faz, bem como do conhecimento do modo amoroso como intervém em favor de Seu povo.



Domingo, 29 de setembro
Ano Bíblico: Zc 1-4
O primeiro retorno dos exilados

1. Leia Jeremias 25:11, 12; 29:10; e Daniel 9:1, 2. Quando ocorreu o primeiro retorno dos exilados? Qual profecia esse retorno cumpriu?

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Jeremias havia escrito que a terra de Judá permaneceria desolada por 70 anos, sob o domínio de Babilônia (isso aconteceu no período de 606-605 a.C. a 537-536 a.C.). Então Deus abriria as portas para que os cativos retornassem, por meio da ordem de Ciro, em cumprimento à profecia. Quando Daniel estudou os escritos de Jeremias, percebeu que havia chegado a hora desse retorno prometido.

Em Daniel 9, o profeta estava perturbado, porque os 70 anos estavam quase se findando sem nenhuma mudança aparente, e o novo Império Persa já havia subido ao poder. Ele se lamentou e se voltou para Deus, implorando por misericórdia e pelo cumprimento de Suas promessas. No mesmo capítulo (Dn 9:24-27), Deus assegurou a Daniel que estava cuidando de tudo e que, no futuro, o Libertador morreria pelo povo, para expiar seus pecados, trazer a justiça e cumprir o sistema sacrifical. Na verdade, Deus estava dizendo: “Daniel, não se preocupe. O verdadeiro Libertador (Jesus) certamente virá, mas também lhes enviarei livramento agora”. Pouco tempo depois, Deus moveu Ciro, o rei da Pérsia, a dar a ordem para libertar os cativos. Deus é sempre fiel às Suas promessas (veja em Daniel 10 como Deus interveio para assegurar que Seu povo prosperasse na terra). 

Esdras 1 registra a proclamação do rei Ciro de que a nação de Israel estava livre para retornar a Jerusalém e construir a casa do Senhor. O primeiro grupo que retornou a Judá era composto por cerca de 50.000 pessoas e provavelmente incluísse mulheres e crianças de outros territórios. A ordem dada por Ciro, entre os anos 539 e 537 a.C., não apenas os deixou ir, mas também garantiu que eles retornassem com presentes e ofertas, incluindo os vasos originais do templo, que haviam sido saqueados por Nabucodonosor. Esse evento nos lembra da saída dos israelitas do Egito muitos anos antes, quando Deus moveu o coração dos egípcios para presentear Israel em sua despedida.

Quais outras profecias históricas foram cumpridas exatamente como prometido na Palavra? Você sente conforto ao saber que Deus conhece o futuro e que podemos confiar em Suas promessas?

A partir do mês de outubro teremos o lançamento do Mutirão de Natal. Neste ano o tema será “Mais Amor no Natal”.

Segunda-feira, 30 de setembro
Ano Bíblico: Zc 5-8
Resumo dos reis e eventos

O primeiro grupo de repatriados recebeu a incumbência de reconstruir o templo de Deus. Estudaremos em uma lição posterior a respeito da oposição que se levantou contra a realização dessa tarefa. Por ora, examinaremos a sucessão dos reis persas durante o longo período de construção do templo e reconstrução de Jerusalém. É importante conhecer a história que envolve a obra de Esdras e Neemias, pois ela contribui para que tenhamos uma visão ampliada de suas mensagens.

2. Leia Esdras 4:1-7. Quais foram os reis em cujos reinados ocorreu a oposição à construção do templo?

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Eis a lista dos reis persas, em sua ordem cronológica, ligados aos livros de Esdras e Neemias. A lista começa com Ciro, que estabeleceu o Império Persa e conquistou Babilônia em 539 a.C.

Ciro II, o Grande (559-530 a.C.)
Cambises II (530-522 a.C.)
Dario I (522-486 a.C.)
Xerxes I (485-465 a.C.) [também conhecido no livro de Ester como Assuero]
Artaxerxes I (465-424 a.C.)

Ao estudarmos esses livros, é muito importante perceber que o aparecimento desses reis não é mencionado em ordem cronológica no livro de Esdras. Por exemplo, o conteúdo de Esdras 4:6-24 está inserido antes do capítulo 5, que continua a história da oposição à construção do templo. Consequentemente, as cartas envolvendo Xerxes I (Assuero) e Artaxerxes I, descritas em Esdras 4, ocorreram após os eventos registrados nos capítulos 5 e 6, que tratam de Dario I. Essa sequência pode parecer complicada para os leitores, e isso explica por que houve algumas dificuldades ao longo dos séculos para compreender esses livros. Conhecer a ordem dos acontecimentos nos ajudará a entender as mensagens de Esdras e Neemias.

Você já encontrou fatos na Bíblia que o deixaram perplexo? Como podemos confiar em Deus e em Sua Palavra quando nos deparamos com situações que parecem não ter sentido? Por que essa confiança é importante? (Veja Is 55:8, 9).


Terça-feira, 01 de outubro
Ano Bíblico: Zc 9-11
O segundo retorno dos exilados

Em Esdras 7:1-10 e 8:1-14, vemos que o rei Artaxerxes I permitiu que Esdras retornasse a Jerusalém (o ano era 457 a.C.) e levasse com ele todos os que desejassem retornar à pátria de Israel. Não se sabe muito sobre a relação entre Esdras e o rei, nem se o escriba trabalhava para a corte. O capítulo 8 de Esdras lista os chefes das famílias dos que retornaram, começando com os sacerdotes, seguidos pela linhagem real e terminando com a população judaica em geral. Doze famílias foram mencionadas de maneira específica, dando a impressão de que essa é uma referência proposital às doze tribos de Israel.

O livro de Esdras lista cerca de 1.500 homens e um total aproximado de 5 a 6 mil pessoas, contando mulheres e crianças. Esse grupo era muito menor do que o primeiro grupo que havia retornado anteriormente com Zorobabel e Josué.

3. Leia Esdras 7:1-10. O que essa passagem nos ensina sobre esse servo do Senhor? Assinale a alternativa correta:

A.( ) Esdras era um sacerdote rebelde.

B. ( ) Ele era um escriba e tinha profundo conhecimento da Lei de Moisés.

Esdras era um escriba com um legado sacerdotal. Ele era descendente de Arão, irmão de Moisés, que foi o primeiro sacerdote da nação de Israel. Devido aos fatos registrados no relato bíblico, e com base na tradição judaica, Esdras é tido em alta conta até hoje. Não se sabe se ele serviu como escriba na corte do rei Artaxerxes; portanto, a menção do nome dele como escriba se deve às suas responsabilidades anteriores ou às habilidades que ele começou a exercer após sua chegada a Judá. O fato de Esdras ter sido enviado como líder da expedição indica que ele deve ter trabalhado para Artaxerxes em alguma função de confiança.

Esdras foi identificado como um escriba ou mestre “hábil” (Ed 7:6, 10, ARC) e com o coração “preparado” (ARC). A palavra “hábil” significa literalmente “rápido”, sugerindo alguém de rápida compreensão e manipulação mental de informação. O servo do Senhor era conhecido por sua perspicácia na interpretação da Lei de Deus. Além disso, o fato de ter sido escolhido pelo rei para liderar um grupo de israelitas a Judá é prova da coragem e capacidade de Esdras.

Esdras preparou seu coração para “buscar a Lei do Senhor” (Ed 7:10). Como podemos aplicar esse princípio à nossa vida?


Quarta-feira, 02 de outubro
Ano Bíblico: Zc 12-14
O decreto de Artaxerxes

4. Leia Esdras 7:11-28. Quais foram os componentes do decreto do rei? Por que essas instruções foram importantes para o povo de Israel?

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O decreto de Artaxerxes se assemelha ao primeiro decreto de Ciro. O rei aconselhou todos os que estavam dispostos, especialmente os da linhagem sacerdotal, a fazer a viagem a Jerusalém. Embora, de acordo com os documentos históricos de Murashu, a maioria dos judeus tivesse permanecido na Pérsia (como demonstrado na história de Ester), havia aqueles que esperavam a oportunidade de começar uma nova vida na terra natal de seus ancestrais. O rei dirigiu a maior parte de seus comentários aos tesoureiros do território Trans-Eufrates. Os tesoureiros deviam conceder a Esdras tudo que fosse preciso para restaurar a cidade e “para ornar a Casa do Senhor” (Ed 7:27). Por fim, o rei comissionou Esdras a assegurar a observância apropriada da Lei de Deus e da lei da terra mediante a criação do sistema judicial. A ordem e a organização resultantes dessa ordenança são aspectos importantes em toda sociedade. Além disso, o rei ofereceu condições para que Esdras e os israelitas restaurassem sua terra natal.

O interesse do rei pela reconstrução da cidade e do templo indica que ele passou a crer no Deus de Esdras? Artaxerxes chamou o Senhor de o “Deus de Israel, cuja habitação está em Jerusalém” (Ed 7:15). A terminologia que o rei usou para designar o Deus de Israel indica que ele via o Senhor apenas como outra divindade local que precisava ser apaziguada por meio de donativos. Ele não queria que esse deus local se zangasse com ele e seus filhos (Ed 7:23). Além do mais, devemos observar que 457 a.C. é também o ano de uma revolta egípcia contra o governo persa; portanto, é provável que as ações favoráveis do rei tenham sido planejadas para obter a lealdade da província de Judá.

Infelizmente, apesar do envolvimento que o rei tinha com Esdras e Neemias, isso não fez dele um crente em Deus. Não há nada nos textos que indique sua conversão, o que significa que o Senhor pode usar até mesmo pessoas descrentes para cumprir Seus propósitos na Terra.

Mesmo em meio a tanta dor e sofrimento, como podemos confiar na soberania de Deus sobre o mundo?


Quinta-feira, 03 de outubro
Ano Bíblico: Malaquias
A importância da educação

5. Leia Esdras 7:6, 10. O que esses textos ensinam sobre a importância da educação religiosa adequada? Assinale a alternativa correta:

A. (   ) A instrução adequada da Palavra nos capacita para cumprir os propósitos de Deus.

B. (   ) A educação bíblica não é tão importante quanto o sucesso profissional.

A sincera devoção de Esdras a Deus e sua decisão de estudar, praticar e ensinar a Palavra de Deus (Ed 7:6, 10) o prepararam para um ministério superior em Israel. O texto bíblico afirma que ele se dedicava ao estudo, à prática e ao ensino da Lei do Senhor.

Ellen G. White apresentou uma ideia importante sobre Esdras: “Descendente dos filhos de Arão, Esdras havia recebido a educação sacerdotal; e em acréscimo a isso adquiriu familiaridade com os escritos dos magos, astrólogos e sábios do reino medo-persa. Mesmo assim não se sentia satisfeito com sua condição espiritual. Suspirava por estar em plena harmonia com Deus; ansiava sabedoria para fazer a vontade divina. E assim preparou ‘seu coração para buscar a Lei do Senhor, e para a cumprir’ (Ed 7:10). Isso o levou a se aplicar diligentemente ao estudo da história do povo de Deus, como se encontra relatado nos escritos dos profetas e reis. Ele estudou os livros históricos e poéticos da Bíblia a fim de compreender por que o Senhor tinha permitido que Jerusalém fosse destruída e Seu povo levado cativo para terras pagãs (Profetas e Reis, p. 608).

“Os esforços de Esdras para reavivar o interesse no estudo das Escrituras se tornaram permanentes, graças ao seu laborioso e constante esforço no sentido de preservar e multiplicar os sagrados escritos. Ele reuniu todos os exemplares da lei que pôde encontrar, fazendo com que eles fossem transcritos e distribuídos. A Palavra pura, assim multiplicada e posta nas mãos de muitos, proveu o conhecimento que era de inestimável valor” (Profetas e Reis, p. 609).

Observe que, embora Esdras tivesse aprendido sobre os costumes dos pagãos, ele percebeu que não estavam corretos; portanto, buscou conhecer a verdade a partir da fonte da verdade: a Palavra de Deus e a “Lei do Senhor”. Ele teve que descartar muito do que havia aprendido nas escolas mundanas, pois, sem dúvida, muitos desses conhecimentos estavam errados. Afinal de contas, que bem lhe fariam os “escritos dos magos e dos astrólogos”?

O que precisamos desaprender do que o mundo nos ensina?


Sexta-feira, 04 de outubro
Ano Bíblico: Vista geral do Antigo Testamento
Estudo adicional

Texto de Ellen G. White: Profetas e Reis, p. 607–617 (“Esdras, o Sacerdote e Escriba”).

Observe a diligente obra de Esdras: “Esdras tornou-se um porta-voz de Deus, educando nos princípios do governo do Céu aqueles que lhe estavam ao redor. Durante os anos restantes de sua vida, estivesse próximo à corte do rei da Média-Pérsia ou em Jerusalém, sua principal tarefa era a de professor. Enquanto comunicava a outros a verdade que aprendia, sua capacidade para o trabalho aumentava. Ele se tornou um homem de ­piedade e zelo. Foi testemunha do Senhor ao mundo quanto ao poder da verdade para enobrecer a vida diária” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 609).

“Na obra de reforma a ocorrer hoje, há necessidade de homens que, como Esdras e Neemias, não obscureçam nem desculpem o pecado, nem se esquivem de vindicar a honra de Deus. Aqueles sobre quem repousa o fardo dessa obra não se sentirão em paz quando o erro é praticado nem cobrirão o mal com o manto da falsa caridade. Eles se lembrarão de que Deus não faz acepção de pessoas e de que a severidade para com uns poucos pode representar misericórdia para com muitos. Eles se lembrarão também de que o Espírito de Cristo deve ser revelado naquele que repreende o mal” (Profetas e Reis, p. 675).

Perguntas para discussão

1. Temos lindas promessas do Senhor. Porém, Deus não Se impõe a nós. Quais escolhas em nossa vida poderiam impedir o cumprimento de Suas promessas a nós?

2. Leia a oração de Daniel 9:1-23. Quais princípios dessa passagem poderiam ser aplicados à sua experiência? O que Daniel estava fazendo, qual era a atitude dele e o que ele estava pedindo? O que mais poderia se aplicar a nós?

3. A Lição desta semana destaca a centralidade da Palavra de Deus no ministério de Esdras e mostra a diligência dele em trabalhar para difundi-la. Qual é a lição para nós em relação à importância que a Palavra de Deus deve ter em nossa vida e em nossa igreja?


Respostas e atividades da semana: 1. Por volta de 538 a 536 a.C. Esse primeiro retorno do povo de Israel cumpria a profecia dos 70 anos de Jeremias. 2.Comente com a classe. 3. B. 4. Em primeiro lugar, o rei decretou que Esdras voltasse a Jerusalém com todos os que desejassem. Depois, ele concedeu a Esdras o ouro e a prata da casa real e de toda a Babilônia e ordenou que ele recebesse as ofertas voluntárias do povo. Em seguida, Artaxerxes orientou que, com o ouro e prata, Esdras comprasse novilhos para fazer sacrifícios no altar do Senhor e fizesse o que bem entendesse com o restante dos recursos. O rei decretou que todos os tesoureiros dalém do Eufrates entregassem a Esdras tudo de que ele necessitasse para a casa do Senhor e que não fossem cobrados impostos nem pedágios dos israelitas. O rei ordenou a Esdras que reforçasse a observância da Lei do Senhor e das leis da terra mediante o sistema judicial. Essas instruções foram importantes para que o povo se orientasse em suas ações. 5. A.

Resumo da Lição 1
Entendendo a história: Zorobabel e Esdras

RESUMO DA LIÇÃO 1

Entendendo a história:
Zorobabel e Esdras

ESBOÇO

TEXTO-CHAVE: Esdras 1:1-3

FOCO DO ESTUDO: Esdras 1; 4:1-5; 7

Deus é o Senhor da história. Ele intervém em favor de Seu povo para cumprir Sua promessa de conduzi-lo ao lar. Ele cuidou dos israelitas e cuidará de nossas necessidades no momento certo.

Os livros de Esdras e Neemias, que originalmente eram um só, começam com uma lição da obra misericordiosa de Deus em favor de Israel por meio do rei Ciro. Os livros se concentram especificamente no período do ministério de Zorobabel e Esdras. O primeiro grupo de exilados, que retornaram a Israel em 537/536 a.C., foi liderado por Zorobabel, o governador, e Jesua, o sumo sacerdote. Essa experiência inicial com a reconstrução do templo em Jerusalém está registrada no livro de Esdras do capítulo 1:1 a 4:5. O capítulo 7 de Esdras inicia com o retorno do segundo grupo de exilados sob a liderança desse servo de Deus cerca de 80 anos depois.

O estudo desta semana começa com as profecias sobre o primeiro retorno dos exilados. Essas profecias, encontradas nos livros de Jeremias e Daniel, consistem na previsão do profeta Jeremias dos 70 anos de exílio (Jr 25:11, 12) e na angústia subsequente de Daniel sobre o cumprimento da profecia, conforme o relato de Daniel 9. Deus assegurou ao profeta que estava cuidando dos exilados e que cumpriria Sua palavra. Ciro, o rei medo-persa, cumpriu a profecia e ordenou que os judeus voltassem e reconstruíssem o templo sob a liderança de Zorobabel.

O segundo grupo de exilados chegou em 457 a.C., cerca de 60 anos após a reconstrução do templo em Jerusalém, em 515 a.C. O capítulo 7 de Esdras, que conta em detalhes esse retorno, é uma apresentação desse servo de Deus, escriba e especialista na Lei do Senhor. Em outras palavras, Esdras era mestre da Torá, havia dedicado a vida a servir a Deus e se esforçava para reavivar o interesse dos exilados na Palavra do Senhor.

 

COMENTÁRIO

 

Para se compreender a mensagem de Esdras e Neemias, é importante reconhecer suas estruturas literárias simplificadas:

Estrutura literária de Esdras (simplificada)

I. Retorno de Babilônia a Jerusalém segundo o decreto de Ciro

1. Em 537/536 a.C., Zorobabel e Jesua, sob a direção divina, levaram de volta a Judá o primeiro grupo de israelitas (Ed 1:1-4:5).

2. O templo de Deus em Jerusalém foi reconstruído sob o reinado de diferentes reis estrangeiros (Ed 4:6–6:22).

II. Retorno de Babilônia a Jerusalém segundo o decreto de Artaxerxes

1. Em 457 a.C., Esdras, sob a direção divina, levou de volta a Judá o segundo grupo de israelitas (Ed 7:1–8:36).

2. A reforma de Esdras (Ed 9:1–10:44).

Estrutura literária de Neemias (simplificada)

I. Retorno de Babilônia a Jerusalém segundo cartas de aval do rei Artaxerxes

1. Em 444 a.C., Neemias, sob a direção divina, levou de volta a Judá o terceiro grupo de israelitas (Ne 1:1–2:10).

2. O muro de Jerusalém foi reconstruído (Ne 2:11–7:3).

II. Estudo da Palavra de Deus, bem como reavivamento e reforma em Israel

1. Os que retornaram foram contados. Eles se dedicaram a Deus, ao estudo de Sua palavra e a cumprir Sua vontade. Os que voltaram, celebraram a dedicação dos muros de Jerusalém (Ne 7:4–12:47).

2. Reformas finais de Neemias (Ne 13:1-13:31).

Familiarize-se com essas estruturas, com os eventos históricos e as datas; melhor ainda, memorize-os. Essas informações evitarão confusão a respeito das três intervenções de Deus em favor de Seu povo para levá-lo de volta a Jerusalém. Além disso, ajudarão você a compreender a mensagem desses dois livros: que o Senhor é fiel e cumpre Suas promessas. Tenha em mente que algumas partes das obras estão escritas de forma temática, não na ordem cronológica (principalmente Esdras 4:6-23).

Dentro do quadro de estruturas literárias simplificadas de Esdras e Neemias, observe os decretos que facilitam as três etapas do retorno do povo de Deus a Jerusalém:

Os três decretos cruciais dos reis medo-persas:

1. O decreto de Ciro, em 538 a.C., por meio do qual os judeus voltam do exílio babilônico e começam a reconstruir o templo em Jerusalém.

2. O decreto de Dario, em 520 a.C., pelo qual os judeus voltam a Jerusalém e prosseguem com a construção do templo (reconstruído e dedicado em 515 a.C).

3. O decreto de Artaxerxes, em 457 a.C., mediante o qual a cidade de Jerusalém é reconstruída e os judeus obtêm autonomia nacional.

Deve-se enfatizar que o desafio de Esdras e Neemias não era reconstruir o templo (ele foi completado e consagrado para adoração em 515 a.C., isto é, quase 60 anos antes de Esdras chegar a Jerusalém). Em vez disso, esses homens tinham o propósito de reconstruir a cidade de Jerusalém, estabelecer sua administração e conquistar autonomia nacional para Israel.

A tabela a seguir lista os reis da Pérsia e os grupos que voltaram a Israel durante seus reinados. Além disso, a quarta coluna lista especificamente o trabalho que cada grupo realizou em Israel e o que aconteceu ali durante o reinado de cada rei persa. A tabela tem o propósito de dar a cada professor uma ideia melhor da sequência dos eventos.

Cronologia dos eventos durante os reinados dos reis da Pérsia

(do período de 537 a 444 a.C.)

 

Rei

Período de reinado

Grupo que retornou e outros eventos importantes

Obra de reconstrução realizada durante o reinado de cada rei

Ciro, “o Grande”

559-530 a.C.

537/536 a.C. O primeiro grupo volta (Zorobabel e Jesua)

Começa a construção do templo

Cambises II

530-522 a.C.

   

Dario I

522-486 a.C.

 

Março de 515 a.C. Templo concluído
e dedicado

Xerxes I (Assuero)

486-465 a.C.

Ester casa-se com Xerxes I e se torna rainha

Resistência à reconstrução de Jerusalém

Artaxerxes I

465-425 a.C.

457 a.C. Esdras volta com o segundo grupo






445/444 a.C. - Neemias retorna com o terceiro grupo

Começa o mais longo período profético (Dn 8:14; Dn 9:24-27)

Oposição à reconstrução de Jerusalém
(Ed 4:7-23)

Os muros de Jerusalém são reconstruídos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O retorno do primeiro grupo (537/536 a.C.)

Em cumprimento das profecias de Jeremias e Isaías, o rei Ciro proclamou: “O Senhor, Deus dos Céus [...] me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém” (Ed 1:2). Essa declaração não significa que Ciro se tornou seguidor de Deus. Ele estava tentando agradar os povos de seu reino reconhecendo seus deuses e suas crenças religiosas. O rei reconhecia todos os deuses, pedia a bênção de todos eles, no esforço de ter o apoio de seus súditos. Contudo, a palavra inspirada nos conta que “justo no tempo em que Deus tinha dito que faria com que o Seu templo em Jerusalém fosse reconstruído, Ele moveu Ciro como Seu instrumento para discernir as profecias com respeito a ele mesmo, com as quais Daniel estava tão familiarizado, e a conceder ao povo judeu sua libertação. Tomando o rei conhecimento das palavras que prediziam, mais de um século antes do seu nascimento, a maneira pela qual Babilônia deveria ser tomada; ao ler a mensagem a ele dirigida pelo Rei do Universo [...] seu coração foi profundamente movido, e ele decidiu cumprir sua missão” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 557).

Assim, Ciro publicou o decreto para que os judeus exilados voltassem a Jerusalém. O primeiro retorno não foi um remanejamento forçado; os judeus estavam livres para escolher voltar ou não à sua terra. A divisão que ocorreu entre os reinos do norte e do sul e o rompimento entre as tribos não havia cessado durante o exílio. Apenas os descendentes daqueles que pertenciam ao reino de Judá, o reino do sul, responderam positivamente ao chamado de retornar à terra prometida.

O rei Ciro indicou Sesbazar (cujo significado é “Sin ou Shamash proteja o pai”) como líder da comitiva. Que indício o nome Sesbazar nos dá sobre sua identidade? Eis duas possibilidades: o nome Sesbazar, juntamente com sua menção como líder, aparece somente no início do retorno do cativeiro babilônico. Além disso, o governador do povo é chamado sempre de Zorobabel (que significa “a semente de Babilônia”). Portanto, é comum deduzir que Sesbazar e Zorobabel sejam a mesma pessoa (ambos são nomes babilônicos, mas o segundo poderia ser mais neutro e oficial no âmbito religioso). Ou, pode ser que Sesbazar fosse o governador no início, mas que tenha morrido muito cedo e sido substituído por Zorobabel.

Zorobabel levou o primeiro grupo de exilados a Jerusalém e deu início à reconstrução do templo. Porém, houve muita oposição e por vários anos a obra começou e parou repetidas vezes. Finalmente, Deus enviou os profetas Ageu e Zacarias, em 520/519 a.C., para encorajar os habitantes a concluir o templo. Portanto, levou 20 anos para a conclusão e dedicação do templo desde a chegada dos exilados (515 a.C.).

O retorno do segundo grupo (457 a.C.)

O capítulo 8 de Esdras lista os exilados que voltaram com ele. Além dos sacerdotes e famílias reais, são mencionados 12 líderes de famílias dos judeus. A volta dos exilados relembra ao leitor o êxodo do Egito. Assim como as 12 tribos viajaram do Egito à terra prometida, mais uma vez 12 famílias viajaram a Israel.

O rei Artaxerxes possibilitou o segundo retorno, enviando uma carta com Esdras, abrindo assim a porta aos judeus. Mais uma vez, foi enfatizado que quem desejasse ir a Jerusalém estava livre para fazê-lo. O rei reconheceu o Deus de Israel, que para ele era um “deus” regional. É interessante o fato de que o rei tenha reconhecido a inteligência de Esdras, ao nomeá-lo como líder da expedição, dizendo que ele deveria decidir “segundo a sabedoria do [seu] Deus” (Ed 7:25), que ele possuía. O trabalho de Esdras era ensinar ao povo as leis de Deus e estabelecer sua cultura religiosa. O rei discerniu seu próprio papel nesse trabalho, ao compreender que facilitaria a restauração da religião dos judeus, bem como da identidade deles, ao enviar um grupo de volta com Esdras.

Por meio de seu decreto, que ordenou a restauração de Jerusalém e não apenas do templo, o rei Artaxerxes cumpriu a profecia das 70 semanas de Daniel 9:25. O ano 457 a.C. foi o início das 70 semanas “cortadas” da profecia dos 2.300 dias/anos, fazendo com que ambos os períodos tenham início no mesmo ano. A profecia das 70 semanas terminou em 34 d.C. e culminou com o apedrejamento de Estevão, coincidindo com a proclamação do evangelho aos gentios após a crucifixão de Jesus em 31 d.C. (metade da semana mencionada em Daniel 9:27). O período de 2.300 anos terminou em 1844, sendo esse o período profético mais longo. Seu final marcou o início do juízo pré-advento no Céu (o antitípico Dia da Expiação). Portanto, o tempo do retorno de Esdras à terra de Israel desempenhou um papel crucial na profecia. (Para mais informações a respeito desse tema, veja a lição 3.)

Aplicação para a vida

Em Esdras 1:1, é declarado que o Senhor despertou “o espírito de Ciro, rei da Pérsia”, para ordenar que os judeus regressassem à terra de Israel. Ciro reagiu ao Espírito de Deus, que o impressionou a proclamar aos judeus que reconstruíssem o templo em Jerusalém. É incrível que um rei pagão tenha respondido ao estímulo divino! Despertar vem da palavra ur, que também significa “acordar” ou “levantar”. Assim, Ciro, de certa forma, acordou para o chamado divino.

Quando Deus Se move na nossa vida, reagimos aos Seus impulsos e à Sua orientação. Tal motivação positiva tem origem na contemplação dos poderosos e misericordiosos atos divinos na história e na nossa vida. O reconhecimento de Deus nos capacita a admirá-Lo, a segui-Lo e a perseverar na caminhada com Ele e na obra que Ele nos dá para fazer. Nosso melhor desempenho vem da percepção do que Deus é e do que tem feito, de saber como Ele intervém amorosamente em favor de Seu povo e de como Ele o move à ação.

Depois de compartilhar o significado de “despertar” ou “levantar” da passagem acima (Ed 1:1), discuta as seguintes perguntas com a classe:

O que motiva você a seguir a liderança divina?
De que forma você sente Deus levantar ou despertar seu coração para fazer algo para Ele?

 

 

 

 


O milagre da perna amputada

O ano era 2017. Phylis Odindo sentiu uma dor insuportável na perna direita. Ela foi ao principal hospital público em Kisumu, Quênia, mas não conseguiu ajuda, por causa de uma greve dos médicos. Sem dinheiro e poucas opções, ela procurou tratamento em uma pequena clínica. O médico não tinha equipamento para fazer o exame de raio-X. Então, olhou a perna e recomendou que fosse amputada.

Phylis, mãe viúva, não queria perder a perna, por isso, decidiu voltar para casa. Entretanto, a dor não diminuiu e ela precisou voltar à clínica, submetendo-se à amputação da perna, logo abaixo do joelho. Três semanas se passaram e Phylis sentiu-se muito doente, sem conseguir se movimentar. Finalmente voltou ao hospital para fazer o exame de raio-X, que diagnosticou necrose do osso da perna. Seria então necessária a amputação do restante do membro.

Após ter feito a cirurgia, Phylis foi hospitalizada. Sua saúde enfraqueceu tanto que começou a perder a esperança. Então, telefonou para Anna, a diretora do ministério da mulher a igreja adventista de Quênia-Re. Anna foi visitá-la e teve certeza de que a enferma estava à beira da morte. Depois de Ana fazer uma oração, Phylis se sentiu mais forte, e até pediu à amiga que continuasse orando. Anna aceitou e lhe deu algo para beber.

No dia seguinte, Anna voltou ao hospital com algumas irmãs da igreja. E repetiu as visitas nos dias seguintes. O pastor e anciãos também foram visitar Phylis para oferecer encorajamento e orações. Phylis também orava enquanto estava na cama do hospital: “Oh, Deus! Tenha misericórdia de mim, tenho apenas um filho!” Esse filho que ela criou sozinha deixou a igreja adventista depois da morte do pai, onze anos antes. Ele ficou revoltado porque a família paterna se apropriou da casa e dos bens após a morte. Em algumas regiões do Quênia, a esposa é responsável pelo bem-estar do marido e é culpada se o marido falece. Os sogros a culparam e levaram todos os seus bens.

Os membros da igreja visitaram Phylis diariamente durante os três meses que ficou internada. Eles ajudaram pagar os medicamentos e conseguir plano de saúde. Ao voltar para casa, os irmãos continuaram visitando-a e ajudando em suas necessidades diárias. Então algo maravilhoso aconteceu. Oito pacientes do hospital pediram para ser batizados. Eles foram tocados pela compaixão demonstrada a Phylis pelos amigos da igreja; assim, desejavam fazer parte dessa família. Em seguida, oito casais vizinhos de Phylis também pediram o batismo. Eles também foram impressionados pelo mesmo cuidado amoroso dos membros da igreja. Quando a mãe de Phylis foi visitá-la, o Ministério da Mulher da mulher da igreja ofereceu um desjejum surpresa na casa dela. A mãe, fiel membro de outra denominação cristã, ficou muito impressionada e contou à filha que desejava participar da igreja adventista. Ela e outra irmã de Phylis foram batizadas. Para a felicidade completa de Phylis, o filho também foi batizado e se casou na igreja adventista em 2018. Ao todo, 25 pessoas foram batizadas desde q Phylis perdeu a perna. Ela acha que é uma troca maravilhosa. “Louvo a Deus porque meu filho voltou à igreja por causa da amputação”, ela diz. “Eu só tenho uma perna, mas isso trouxe benefícios espirituais para mim e minha família. Além de conduzir 25 pessoas a Deus.” Parte da oferta do décimo terceiro sábado ajudará a construir um hospital adventista na cidade de Phylis, Kisumu. Muito obrigado pelas ofertas generosas em prol da saúde física e espiritual no Quênia.

Dicas da História
• Cantar o hino favorito de Phylis, “Importará?”, HA 383, e ler sua passagem favorita: Salmo 23.

• Fazer o download das fotos de resolução média desta história na página do Facebook: bit.ly/fb-mq. As fotos estarão disponíveis nos domingos, seis dias antes de a história ser apresentada. • Fazer o download das fotos em alta-resolução no banco de dados na página: bit.ly/ one-leg-25.

• Fazer o download das fotos em alta-resolução dos projetos do trimestre no site: bit.ly/ECD-projects-2019


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2019

Tema Geral: Esdras e Neemias

Lição 1: 28 de setembro a 5 de Outubro

Autor: Luiz Gustavo Assis
Revisora: Josiéli Nóbrega
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Entendendo a história: Zorobabel e Esdras

Introdução

Neste trimestre, estudaremos os livros de Esdras e Neemias. Originalmente, nos antigos manuscritos hebraicos e gregos das Escrituras, Esdras e Neemias eram apenas um livro. Já durante o período da igreja cristã, esses livros são encontrados separados, assim como encontramos em nossa Bíblia. Ambos os livros descrevem a vida dos judeus durante o Império Persa, que sucedeu o Império Neobabilônico em 539 a.C., após o rei Ciro conquistar a cidade de Babilônia.

Esdras e Neemias são dois personagens importantes nesses documentos. Esdras é uma figura preeminente nos capítulos 7–10 do livro que leva o seu nome, e Neemias, por sua vez, ocupa um lugar de destaque na sua obra. Esses dois homens foram valiosos instrumentos que Deus utilizou na liderança da difícil tarefa de trazer os judeus de volta para Judá após viverem décadas em Babilônia, no 6º e 5º séculos a.C.

O objetivo deste breve comentário é enfatizar alguns aspetos históricos e linguísticos desses dois livros do Antigo Testamento e examinar como essas informações podem ajudar a caminhada espiritual dos alunos da Escola Sabatina.

O “segundo Êxodo”

A destruição de Jerusalém e do seu templo pelas tropas de Nabucodonosor em 586 a.C. foi um golpe mortal para os habitantes de Judá. Milhares de judeus acabaram sendo levados para Babilônia, onde tiveram que recomeçar a vida numa terra desconhecida. Depois de décadas vivendo ali, Deus chamou homens como Zorobabel, Esdras e, posteriormente, Neemias, para levar de volta Seu povo para Judá. Mas não sem desafios.

Não seria exagero chamar esse momento da história do povo de Deus de “segundo Êxodo”. Se no “primeiro” Êxodo Deus teve que lidar com a obstinação do faraó que não deixava o povo sair do Egito, no “segundo Êxodo” o conforto da vida na região da Babilônia foi uns dos motivos para que muitos judeus se recusassem a encarar a jornada de volta para Judá. Costumamos pensar na vida em Babilônia como algo parecido com a escravidão, em que os judeus tiveram sua liberdade confiscada e viveram amargurados por anos. Sem dúvida, muitos viveram dessa forma, como por exemplo o autor do famoso Salmo 137, que narra a tristeza de alguns moradores de Judá sentados às margens dos rios de Babilônia e cantando alguns dos hinos que eram entoados em Jerusalém. Mas outros compatriotas desse autor estavam prosperando em Babel.

Recentemente foi publicada uma coleção de aproximadamente 200 tabletes de argila escritos em cuneiforme acadiano, uma das línguas da antiga Mesopotâmia, que descrevem o dia a dia de vários judeus que viviam na área rural da antiga Babilônia justamente durante o período do exílio (6º e 5º séculos a.C.). Uma das cidades em que esses judeus moravam e onde muitos desses tabletes foram encontrados era conhecida como Al-Yahudu, cidade de Judá ou “Judaiópolis”. Os judeus que ali moravam aparecem nesses textos construindo casas, plantando tâmaras, comprando e vendendo gado, alugando propriedades, casando, vendendo escravos e até emprestando dinheiro.

Alguns exemplos desses textos nos ajudam a ter uma compreensão melhor da vida diária dos exilados judeus em Babilônia. Um dos tabletes descreve uma certa Sra. Yapa-Yahu, esposa de Rapa, que atuou como fiadora para uma entrega de mais de 1.000 litros de tâmaras de boa qualidade e 900 litros de cevada para seu marido. Em outro tablete, o Sr. Nadabe-Yama foi acusado pelo Sr. Ahiqam de levar uma quantidade de tâmaras que Ahiqam supostamente levaria para seus avaliadores. Nadabe-Yama, no entanto, jurou com uma maldição que ele não havia tomado as tâmaras para si. Num outro documento, o Sr. Eriba e Sr. Ahiqam concordaram em compartilhar um boi para arar um campo e dividir o lucro. Um certo Yarapa concordou em trocar um boi treinado de cinco anos de idade (com um furo na orelha esquerda) com Ahiqam por uma mula da cor da terra com o nome Tabalaia tatuado no pescoço, e que tinha uma mancha vermelha no lado direito de sua coxa. Evidentemente o boi valia mais, e Ahiqam teve que negociar com ele cerca de doze litros de cevada além da mula. Como se vê, a vida de muitos judeus ia de vento em popa em Babilônia.

Um dos tabletes cuneiformes da cidade de Al-Yahudu descrevendo a vida diária de judeus vivendo na antiga Mesopotâmia. Atualmente em exposição no Bible Lands Museum, em Jerusalém. Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Al-Yahudu_Tablets

E o que dizer de Judá nessa época? Se estamos acostumados a pensar em Israel como “a terra que mana leite e mel”, certamente essa fama não corresponde à realidade daquele território no período em que os judeus estavam em Babilônia. A imagem que se obtém através das pesquisas arqueológicas naquela região demonstra uma pobreza generalizada. Além de Jerusalém, a capital do reino de Judá, muitos vilarejos e cidades foram destruídos quando os babilônios invadiram Judá no começo do 6º século a.C. Judá se tornou “uma terra de ninguém, um lugar nada convidativo”. É com esse pano de fundo em mente que devemos ler os livros de Esdras e Neemias. Tente imaginar o difícil trabalho de homens como Zorobabel, Esdras e Neemias ao chamar judeus para sair de Babilônia, a cidade mais importante do mundo na época, e voltar para a insignificante região de Judá. Seria o mesmo que pedir para vários empreendedores bem-sucedidos vivendo em São Paulo ou Nova York se mudarem para a região mais pobre do estado onde você vive.

Dois retornos

É preciso lembrar que a caminhada com Deus muitas vezes requer renúncias e sacrifícios, e foi isso que muitos judeus fizeram. O livro de Esdras registra dois momentos em que judeus saíram de Babilônia, um na época do rei persa Ciro (ca. 539 a.C.) sob a liderança de Zorobabel (Esdras 1 e 2), e outro na época do rei Artaxerxes I, dessa vez sob a guia de Esdras. Em relação ao primeiro retorno, sabemos que o rei Ciro tinha uma atitude muito amistosa para com a religião de outros povos. Apesar de ser persa e adorar deuses do seu país como Ahura Mazda, ele encorajava o culto a outras divindades. Um exemplo dessa atitude está no famoso Cilindro de Ciro, que narra entre outras coisas, a tomada de Babilônia pelas tropas de Ciro e o incentivo ao culto de Marduk, o principal deus do panteão babilônico. Quem sabe, foi por essa atitude “ecumênica” que logo no começo do livro de Esdras lemos um decreto de Ciro convocando judeus para voltarem a Jerusalém e reconstruírem o templo de Javé (1:2-4).

Cilindro de Ciro. Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Cyrus_Cylinder

Quanto ao segundo retorno, ele se deu décadas mais tarde, no ano 457 a.C. Esse evento é descrito em detalhes em Esdras 7 e 8. Se no primeiro retorno Deus usou um governante favorável para liberar Seu povo para retornar a Judá, em 457 a.C. Deus aproveitou uma rebelião que aconteceu no Egito para criar a oportunidade para que uma segunda leva de judeus retornasse a Jerusalém. Em 457 a.C., o príncipe Inaros se rebelou contra o rei persa Artaxerxes I, que, para conter qualquer ambição egípcia de expansão para o Norte, usou o território de Judá como uma área de contenção (buffer-zone). Ele precisava de um governo estável e fiel à administração persa naquele território. Então, o rei viu em Esdras alguém de confiança para enviar de volta para Judá. Deus é o governante da História, e Sua mão está em atividade nos acontecimentos políticos ao redor do mundo, mesmo quando não conseguimos perceber isso claramente.

Mapa do Antigo Oriente: Observe que Jerusalém está localizada na principal (e única) rota que liga o Egito a Canaã, Mesopotâmia e Anatolia (atual Turquia). Para conter qualquer tipo de avanço egípcio em 457 a.C., Artaxerxes I precisava ter um governo estável em Judá, exatamente no mesmo ano em que Esdras retornou para Jerusalém. (Fonte: https://www.enterthebible.org/resourcelink.aspx?rid=1104)

Quem era Esdras?

Esdras era um escriba (Ed 7:6-10), alguém com formação acadêmica, capaz de ler e escrever. O ofício de um escriba era altamente respeitado na Antiguidade, símbolo de status e de alta posição social. É muito provável que a família de Esdras fosse uma daquelas que estavam prosperando em Babilônia, como mencionado anteriormente. Mas Esdras não era qualquer escriba. O relato bíblico diz que ele era um “escriba versado na Lei de Moisés” (7:6). A palavra hebraica traduzida como “versado” nesse texto está relacionada com o verbo mahar, que por sua vez tem o sentido de agilidade, rapidez. Em outras palavras, seu raciocínio era rápido quando o assunto era a Lei de Moisés.

Esdras não só tinha preparo acadêmico e capacidade intelectual, mas também tinha no seu coração o desejo de ensinar outros a respeito da Lei de Deus (7:10). Vendo esse potencial e a disposição de Esdras, Deus o escolheu para ser o líder dessa segunda leva de judeus que estava deixando Babilônia em direção à Judá.

O ofício escribal: Dois escribas acompanhando o rei assírio Senaqueribe durante uma batalha. À direita encontra-se um escriba mesopotâmico segurando um tablete de argila e seus stylus – instrumento para fazer sinais cuneiformes – enquanto à esquerda encontra-se um escriba arameu segurando seu pergaminho e sua pena.

Aplicações para discutir com sua unidade/igreja:

1) Não restam dúvidas de que a vida em Babilônia era muito mais convidativa do que em Judá. Muitos judeus tiveram que escolher entre prosperidade material em Babilônia e um recomeço difícil na terra que Deus prometeu para o Seu povo. Em nossa caminhada com Deus nesta Terra, será que muitas vezes não nos sentimos acomodados em nossa rotina diária, com nosso trabalho, diplomas e bens, a ponto de não ansiarmos a Nova Jerusalém?

2) Assim como Deus usou o governo de Ciro e uma rebelião no Egito em 457 a.C. para benefício do Seu povo, como podemos ver esse mesmo Deus usando a atual situação geopolítica ao redor do mundo em benefício da Sua igreja e para o avanço do Seu evangelho?

3) Quem sabe você, professor, tenha em sua unidade/igreja um jovem que demonstra grande intelecto e comprometimento com o estudo das Escrituras. Quem sabe você esteja diante de um instrumento que Deus esteja preparando para uma grande obra no seu bairro, cidade, ou até país, assim como foi Esdras. Não poupe esforços ou até mesmo recursos para incentivá-lo a buscar a excelência no estudo, para a glória de Deus. Lembro-me de que quando eu era membro da uma igreja no interior de São Paulo, um jovem rapaz tinha no seu coração o desejo de estudar Teologia. Ele tinha boa oratória, bom conhecimento bíblico e coração missionário, mas não tinha uma família que o apoiava nesse objetivo. O estímulo e apoio de alguns irmãos da igreja não foram suficientes, e ele acabou desistindo da faculdade de Teologia. Por ser inteligente, ele não teve dificuldade de entrar numa respeitada universidade federal para estudar Sociologia. Infelizmente, depois de um ano esse jovem não era mais cristão. Ele se tornou ateu. Às vezes me questiono o que Deus tinha planejado fazer por meio daquele rapaz. Não permita que essa história se repita na sua igreja. Existem novos Esdras nos bancos de nossas igrejas.

Conheça o autor dos comentários: Luiz Gustavo Assis serviu como pastor distrital no Rio Grande do Sul por cinco anos e meio. Em 2013, continuou seus estudos acadêmicos nos Estados Unidos. Ele possui um mestrado em arqueologia do Antigo Oriente e línguas semíticas pela Trinity Evangelical Divinity School (Deerfield, IL), e atualmente está no meio do seu programa doutoral em Antigo Testamento no Boston College (Newton, MA). É casado com Marina Garner Assis, que por sua vez faz seu doutorado em filosofia da religião na Boston University. Juntos eles têm um filho, Isaac Garner Assis.