Lição 3
08 a 14 de outubro
Entendendo a natureza humana
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Mt 11-13
Verso para memorizar: “Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2:7)
Leituras da semana: Gn 1:24-27; 2:7, 19; Mt 10:28; Ec 12:1-7; 1Rs 2:10; 22:40

A tensão entre a palavra de Deus, “Você certamente morrerá” (Gn 2:16, 17), e a falsa promessa de Satanás, “É certo que vocês não morrerão” (Gn 3:4), não estava restrita ao Jardim do Éden. Ela tem ecoado ao longo da história.

Muitas pessoas tentam harmonizar as palavras de Satanás com as palavras de Deus. Para elas, a advertência: “Você certamente morrerá” se refere apenas ao corpo físico perecível, enquanto a promessa: “É certo que vocês não morrerão” é uma alusão a uma alma ou espírito imortal.

Mas essa abordagem não funciona. Por exemplo, palavras contraditórias de Deus e de Satanás podem ser harmonizadas? Existe uma alma ou espírito imaterial que sobreviva conscientemente à morte física? Existem muitas tentativas filosóficas e até científicas para responder a essas perguntas. Mas, como cristãos que se fundamentam na Bíblia, devemos reconhecer que somente o Deus todo-poderoso, Aquele que nos criou, também nos conhece perfeitamente (veja o Sl 139). Assim, somente em Sua Palavra para nós, as Escrituras, podemos encontrar respostas para essas perguntas cruciais.

Nesta semana vamos considerar como o AT define a natureza humana e a condição dos seres humanos na morte.

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Domingo, 09 de outubro
Ano Bíblico: Mt 14-16
Um ser vivente

1. Leia Gênesis 1:24-27 e 2:7, 19. Que semelhanças e diferenças existem entre a maneira pela qual Deus criou os animais e a humanidade? O que Gênesis 2:7 nos diz sobre a natureza humana?

No sexto dia, Deus deu vida aos animais terrestres e aos primeiros seres humanos, um casal (Gn 1:24-27). Ele “formou da terra todos os animais do campo e todas as aves do céu” (Gn 2:19, NVI) e “formou o homem do pó da terra” (Gn 2:7).

Embora tanto os animais quanto o ser humano tenham sido formados “da terra”, a formação do homem foi distinta da formação dos animais sob dois aspectos principais: primeiro, Deus moldou o homem fisicamente e então “lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2:7). O homem era uma entidade física antes de se tornar um ser vivo. Segundo, Deus criou a humanidade como homem e mulher à própria imagem e semelhança da Divindade (Gn 1:26, 27).

Gênesis 2:7 explica que a introdução do “sopro da vida” no corpo físico de Adão o transformou em “um ser vivente” (Heb. Nephesh chayyah) ou literalmente “alma vivente” (ARA). Isso significa que cada um de nós não tem uma alma que possa existir separada do corpo. Ao contrário, cada um é um ser vivente ou uma alma vivente. A afirmação de que essa “alma” seja uma entidade consciente que possa existir separada do corpo humano é ideia pagã, não bíblica. Compreender a verdadeira natureza da humanidade nos previne de aceitar a noção popular de uma alma imaterial e todos os erros perigosos construídos sobre essa crença.

Não há existência consciente de nenhuma parte do ser humano separada da pessoa como um todo. Deus nos criou de uma forma assombrosa e maravilhosa, e não devemos especular além do que as Escrituras de fato dizem sobre esse assunto. Não apenas a própria natureza da vida é um mistério (os cientistas ainda não chegaram a um acordo quanto ao que significa algo estar vivo), ainda mais misteriosa é a natureza da consciência. Como o tecido material de pouco mais de um quilo (células e compostos químicos), o cérebro, mantém e cria coisas imateriais como pensamentos e emoções? Aqueles que estudam essa ideia admitem que na realidade não sabemos.

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Você é grato pelo milagre da vida e pelo milagre maior, a vida eterna?


Segunda-feira, 10 de outubro
Ano Bíblico: Mt 17-20
A alma que pecar morrerá

A vida humana neste mundo pecaminoso é frágil e transitória (Is 40:1-8). Nada infectado pelo pecado pode ser eterno por natureza. “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado veio a morte, assim também a morte passou a toda a humanidade, porque todos pecaram” (Rm 5:12). A morte é a consequência natural do pecado, que afeta toda a vida neste mundo.

Sobre esse assunto, há dois conceitos bíblicos importantes. Um é que os seres humanos e os animais morrem: “O mesmo que acontece com os filhos dos homens acontece com os animais: como morre um, assim morre o outro. Todos têm o mesmo fôlego de vida, e o ser humano não tem nenhuma vantagem sobre os animais [...] Todos vão para o mesmo lugar; todos procedem do pó e ao pó voltarão” (Ec 3:19, 20).

O segundo conceito é que a morte física de uma pessoa implica a cessação de sua existência como alma vivente (Heb. Nephesh chayyah). Em Gênesis 2:16, Deus havia alertado Adão e Eva de que, se pecassem, comendo o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, eles morreriam.

Ecoando essa advertência, o Senhor reforçou: “A alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18:4, 20, ARA). Essa afirmação tem duas implicações principais. Uma é que, uma vez que todos os seres humanos são pecadores, estamos sob o inevitável processo de envelhecimento e morte (Rm 3:9-18, 23). Outra é que esse conceito bíblico invalida a noção de uma suposta imortalidade natural da alma. Se a alma fosse imortal e existisse em outro reino após a morte, não morreríamos realmente afinal, não é?

A solução bíblica para o dilema da morte não é uma alma sem corpo que migra para o paraíso ou para o purgatório, ou mesmo para o inferno. A solução é a ressurreição final dos que morreram em Cristo. Em Seu sermão sobre o Pão da Vida, Jesus declarou: “A vontade do Pai é que todo aquele que vir o Filho e Nele crer tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6:40).

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A segunda vinda de Jesus é assegurada pela primeira. De que terá servido a primeira vinda se não houver a segunda? Que esperança teríamos sem essa promessa?


Terça-feira, 11 de outubro
Ano Bíblico: Mt 21-23
O espírito volte a Deus

3. Leia Gênesis 2:7 e Eclesiastes 12:1-7. Que contraste há entre essas duas passagens? Como elas nos ajudam a compreender melhor a condição humana na morte? (Veja também Gênesis 7:22).

Como já vimos, a Bíblia ensina que o ser humano é uma alma (Gn 2:7), e a alma deixa de existir quando o corpo morre (Ez 18:4, 20).

Mas e quanto ao “espírito”? Ele não permanece consciente mesmo após a morte do corpo? Muitos cristãos acreditam que sim, e até tentam justificar seu ponto de vista citando Eclesiastes 12:7, que diz: “e o pó volte à terra, de onde veio, e o espírito volte a Deus, que o deu”. Mas essa declaração não sugere que o espírito dos mortos permaneça consciente na presença divina.

Eclesiastes 12:1-7 descreve, em termos bastante dramáticos, o processo de envelhecimento, culminando com a morte. O verso 7 refere-se à morte como a reversão do processo de criação mencionado em Gênesis 2:7. Como já foi dito, no sexto dia da semana da criação “formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2:7, ARA). Mas Eclesiastes 12:7 nos diz: “o pó volte à terra, de onde veio, e o espírito volte a Deus, que o deu”. Assim, o fôlego de vida que Deus soprou nas narinas de Adão, e que também forneceu a todos os outros seres humanos, retorna a Deus ou, em outras palavras, simplesmente deixa de fluir para eles e através deles.

Devemos ter em mente que Eclesiastes 12:7 descreve o processo de morte de todos os seres humanos e o faz sem distinguir entre justos e ímpios. Se os supostos espíritos de todos os que morrem sobrevivem como entidades conscientes, então os espíritos dos ímpios estão com Deus? Essa ideia não está em harmonia com o ensino das Escrituras. Como o processo de morte ocorre da mesma forma com os seres humanos e com os animais (Ec 3:19, 20), a morte nada mais é do que deixar de existir como ser vivo. Como afirma o salmista: “Se escondes o rosto, eles se perturbam; se lhes cortas a respiração, morrem e voltam ao pó” (Sl 104:29).

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É certo dizer que a morte faz parte da vida? A morte não é o oposto da vida? Que esperança há neste verso: “O último inimigo a ser destruído é a morte” (1Co 15:26)?


Quarta-feira, 12 de outubro
Ano Bíblico: Mt 24-26
Os mortos não sabem nada

4. Leia Jó 3:11-13; Salmos 115:17; 146:4 e Eclesiastes 9:5, 10. O que aprendemos nesses textos sobre a condição do ser humano na morte?

Alguns argumentam que essas passagens (Jó 3:11-13; Sl 115:17; 146:4; Ec 9:5, 10), escritas em linguagem poética, não podem ser usadas para definir a condição do ser humano na morte. É verdade que, às vezes, a poesia pode ser ambígua e facilmente mal interpretada, mas não é esse o caso quanto a esses versos. Sua linguagem é clara e seus conceitos estão em plena harmonia com os ensinamentos do AT sobre o assunto.

Primeiro, em Jó 3, o patriarca lamenta o próprio nascimento (Nos momentos mais terríveis, quem não desejou nunca ter nascido?). Reconhecia que, se tivesse morrido ao nascer, estaria dormindo e em repouso (Jó 3:11, 13).

O Salmo 115 define o local em que os mortos são mantidos como um lugar de silêncio, porque “os mortos não louvam o Senhor” (Sl 115:17). Isso não parece descrever que os mortos, os fiéis (e agradecidos), estejam no Céu adorando a Deus.

De acordo com o Salmo 146, as atividades mentais do indivíduo cessam com a morte (Sl 146:4).

Eclesiastes 9 acrescenta que “os mortos não sabem nada” e, na sepultura, “não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma” (Ec 9:5, 10). Essas declarações confirmam o ensino bíblico de que os mortos são inconscientes.

O ensino bíblico da inconsciência na morte não deve gerar pânico nos cristãos. Primeiro, não há inferno de fogo eterno, nem purgatório temporário esperando pelos que morrem perdidos. Segundo, há uma recompensa maravilhosa esperando por aqueles que morrem em Cristo. Não é de admirar que “para aquele que crê, a morte é de pouca importância [...]. Para o cristão, a morte é apenas um sono, um momento de silêncio e escuridão. A vida está escondida com Cristo em Deus, e ‘quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então, vós também sereis manifestados com Ele, em glória’” (Cl 3:4; Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 632).

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Pense nos salvos. Eles fecham os olhos na morte e, quer fiquem na sepultura por 1.500 anos ou por 5 meses, não faz diferença para eles. A próxima coisa que verão será o retorno de Cristo. Como, então, os mortos estão em melhor condição que os vivos?


Quinta-feira, 13 de outubro
Ano Bíblico: Mt 27, 28
Descansando com os antepassados

5. Leia Gênesis 25:8; 2 Samuel 7:12; 1 Reis 2:10 e 22:40. O que esses textos acrescentam à sua compreensão a respeito da morte?

O AT expressa de diferentes maneiras os conceitos de morte e de sepultamento. Uma é a ideia de ser reunido ao seu próprio povo. Por exemplo, a respeito de Abraão, nos é dito que ele “expirou e morreu após uma longa velhice, e foi reunido ao seu povo” (Gn 25:8). Arão e Moisés também foram reunidos ao seu respectivo povo (Dt 32:50).

6. Reis bons e maus foram para o mesmo lugar ao morrerem. O que isso nos ensina a respeito da natureza da morte? 2Rs 24:6; 2Cr 32:33

Outra maneira de descrever a morte é afirmar que alguém descansou com os antepassados. Sobre a morte do rei Davi, a Bíblia diz que ele “descansou com os seus antepassados e foi sepultado na cidade de Davi” (1Rs 2:10, NVI). A mesma expressão é usada também a respeito de vários outros reis hebreus, tanto fiéis como infiéis.

Identificamos pelo menos três aspectos significativos sobre descansar com os antepassados. Um é a perspectiva de que mais cedo ou mais tarde chegará o momento em que precisaremos descansar de nossos labores cansativos e sofrimentos. Outro aspecto é a convicção de não sermos os primeiros e únicos a seguir essa trilha indesejável, pois nossos antepassados já nos antecederam. Um terceiro é que, ao sermos sepultados perto deles, não estamos sozinhos, mas permanecemos juntos mesmo durante a inconsciência da morte. Isso pode não fazer muito sentido para algumas culturas individualistas modernas, mas era significativo nos tempos antigos.

Aqueles que morrem em Cristo podem ser sepultados perto de seus entes queridos, mas mesmo assim não há comunicação entre eles. Permanecerão inconscientes até aquele dia glorioso quando serão despertados de seu sono profundo para se juntarem aos que morreram em Cristo.

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Como seria se os mortos estivessem conscientes e vissem como está a vida na Terra, especialmente a dos seus queridos, que muitas vezes sofrem após a morte deles? Porque, então, o fato de que os mortos dormem pode ser tão reconfortante para os vivos?


Sexta-feira, 14 de outubro
Ano Bíblico: Mc 1-3
Estudo adicional

Texto de Ellen G. White: O Grande Conflito, p. 444-458 (“O mistério da morte”).

Se você já passou por uma cirurgia e recebeu anestesia geral, pode ter uma vaga ideia de como deve ser para os mortos. Mas, mesmo sob anestesia, seu cérebro ainda funciona. Imagine como seria quando as funções cerebrais parassem completamente, o que ocorre na morte. Os mortos fecham os olhos, e o próximo evento que verão será a volta de Jesus ou Seu retorno após o milênio (Ap 20:7-15). Até lá, todos os mortos, os justos e os ímpios, descansarão por um tempo que lhes parecerá um instante. Para os vivos, a morte parece durar muito tempo, mas para os mortos dura apenas um instante.

“Se fosse verdade que a alma passa diretamente para o Céu no instante em que alguém morre, então poderíamos muito bem almejar a morte em lugar da vida. Por causa dessa crença, muitos têm sido levados a colocar fim à sua existência. Quando dominados pelas dificuldades, dúvidas e frustrações, parece fácil romper o tênue fio da vida e voar além, para as bênçãos do mundo eterno [...].

“Em parte alguma nas Escrituras Sagradas se encontra a declaração de que é por ocasião da morte que os justos vão para sua recompensa e os ímpios para seu castigo” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 450, 458).

Perguntas para consideração

  1. A Bíblia considera o ser humano um todo, que permanece consciente apenas como pessoa indivisível. Essa noção nos ajuda a entender a natureza da morte?

  2. O mundo foi dominado pela teoria da imortalidade natural da alma, com todas as suas ramificações. Por que nossa mensagem sobre o estado dos mortos é tão crucial? Por que, entre os cristãos, encontramos forte oposição a esse ensino maravilhoso?

  3. A compreensão do estado dos mortos nos protege do que pode “aparecer” diante de nossos olhos? Por que nem sempre podemos confiar no que vemos, principalmente se acharmos que vemos, ou pensamos ver, o “espírito de um querido morto”?

Respostas e atividades da semana: 1. Deus moldou o homem fisicamente e depois lhe soprou nas narinas o fôlego de vida. Ele criou homem e mulher à própria imagem e semelhança da Divindade. 2. A alma humana não é imortal, pois pode morrer. 3. A alma morre; o espírito volta a Deus. Mas isso não quer dizer que o espírito dos mor- tos permaneça consciente na presença Dele. O fôlego de vida deixa de fluir. Morrer é deixar de existir como ser vivo. 4. Os mortos dormem inconscientes. 5. Todos os mortos descansam inconscientes na sepultura e não têm contato uns com os outros. 6. Que eles aguardam, inconscientes, a ressurreição e o juízo.

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Resumo da Lição 3
Entendendo a natureza humana

TEXTOS-CHAVES: Gn 1:27, 28; 2:7; Ec 12:7; 1Ts 5:23

ESBOÇO

Deus criou o ser humano à Sua imagem como o ato culminante de Sua criação física. Esse fato é ressaltado pela linguagem poética empregada pela primeira vez na Bíblia: “Deus criou o ser humano à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1:27). A história bíblica da criação é inequívoca em seu ensino de que tanto o homem quanto a mulher foram feitos à imagem de Deus. Eles foram feitos iguais com diferentes funções biológicas, bem como criados em total dependência de Deus. Embora não fossem imortais, pois somente Deus é imortal (1Tm 6:16), poderiam viver eternamente se permanecessem em um relacionamento de confiança e amor com seu Criador.

O monismo bíblico ensina que cada ser humano foi criado como uma unidade e que nenhuma parte de um ser humano pode viver depois que uma pessoa morre. A expressão “alma imortal” e o ensino de que os humanos nascem imortais, ou com almas ou espíritos imortais, não se encontram na Bíblia. Humanos ou almas não são inerentemente imortais. Os seres humanos não têm existência consciente separada do corpo. Depois que ele ou ela morre, a consciência deixa de funcionar. A imortalidade humana é sempre, e somente, derivada de Deus.

COMENTÁRIO

Criados com maestria como almas viventes

O relato da criação deixa claro que os humanos foram criados pelo Senhor. Gênesis 2:7 descreve duas das ações íntimas do Criador. O resultado dessas ações foi a criação do primeiro ser humano, Adão: “[a primeira ação] Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e [a segunda ação] lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e [o resultado] o homem se tornou um ser vivente [nefesh khayah]” (Gn 2:7). Ontologicamente falando, somos uma unidade (corpo + espírito = alma vivente). Deus criou Adão como uma pessoa viva ou um ser humano, literalmente, em hebraico, “uma alma vivente” [ou “ser vivente”]. Nesse contexto, a palavra “alma” significa “pessoa”, “ser”, “personalidade”. A base da antropologia bíblica não é que temos uma alma, e sim que somos uma alma. Hans Wolff pergunta: “O que nepheš [ou nephesh, alma] ... quer dizer aqui [em Gn 2:7]? Certamente não é alma [no sentido tradicional dualista]. Nephesh é projetada para ser vista junto com toda a forma do ser humano, e especialmente com sua respiração; além disso, o ser humano não tem nephesh, ele é nephesh, ele vive como nephesh” (Hans Walter Wolff, Anthropology of the Old Testament [Philadelphia, PA: Fortress, 1974], p. 10).

Deus criou os seres humanos como um vibrante corpo animado, mas não como uma alma encarnada. Assim, os humanos não foram criados com uma alma imortal, como uma entidade dentro deles, de maneira intrínseca, mas como seres humanos eles são almas. Essa doutrina é confirmada pelo uso posterior desse termo nas Escrituras e por outros autores bíblicos. Por exemplo, (1) o livro de Gênesis conta quantas “pessoas” se mudaram para o Egito com Jacó, e essas pessoas são chamadas de “almas” (Gn 46:15, 22, 25, 26, 27); (2) Lucas menciona quantas pessoas foram batizadas após a pregação de Pedro no dia de Pentecostes: cerca de três mil pessoas (At 2:41; literalmente, três mil almas).

O corpo, a alma e o espírito funcionam em estreita cooperação, revelando uma relação de intensa afinidade entre as faculdades espirituais, mentais e intelectuais de uma pessoa. A esses aspectos precisamos acrescentar também uma dimensão social porque somos criados como seres sociais. Paulo elaborou sobre esse aspecto multidimensional do comportamento humano e explicou que, como seres humanos, precisamos deixar Deus nos transformar por Sua graça e por Seu Espírito: “O mesmo Deus da paz os santifique em tudo. E que o espírito, a alma e o corpo de vocês sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5:23).

Assim, tudo o que somos e fazemos deve ser santificado por Deus. Dentro de nossa existência como humanos, experimentamos a vida em um nível físico, emocional, mental/ intelectual, espiritual e social. Não se pode separar esses aspectos. Por exemplo, quando nos envolvemos em exercícios físicos (seja correndo, trabalhando no jardim ou dirigindo), também envolvemos nossos sentimentos, nossos pensamentos, bem como nossas faculdades mentais, espirituais (no caso de orarmos ou recitarmos um texto bíblico ou mesmo nos deixar impressionar pelo Espírito) e sociais (se não estivermos sozinhos) durante o tempo de nossa atividade.

Morte – a reversão da vida

A morte provoca uma reversão da atividade divina criadora, de nossa existência como seres vivos. A coisa mais importante a saber é que nossa identidade está nas mãos de Deus. Eclesiastes emoldura esse pensamento em linguagem poética: “Lembre-se do seu Criador, antes que se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, de onde veio, e o espírito volte a Deus, que o deu” (Ec 12:6, 7). “Espírito” aqui significa “caráter” (Sl 32:2), nossa identidade. Não somos esquecidos por Deus, pois nosso nome está no livro da vida (Fp 4:3; Ap 3:5; 13:8; 20:15; 21:27).

Ao contrário do entendimento comum sobre a imortalidade, o espírito humano não sobrevive à morte e não continua sua existência consciente sem fim. A alma como um ser humano é mortal. O profeta Ezequiel deixa claro que a “alma” é mortal quando declara: “A pessoa [hebraico, nephesh] que pecar, essa morrerá” (Ez 18:4). Uma alma, isto é, uma pessoa que não vive segundo a vontade de Deus, perecerá. Isso significa que uma alma (ser humano) pode pecar e morrer. Jesus confirmou isso: “Não temam os que matam o corpo, mas não podem matar a alma; pelo contrário, temam Aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 10:28). Observe que Jesus fala sobre a pessoa inteira (“alma e corpo”, dimensões internas e externas de nossa existência) sendo destruídas no inferno (gehenna), no lago de fogo.

A alma não existe sem o corpo e não sobrevive à morte deste. Somente Deus é capaz de matar a alma, o que significa que a alma não é imortal. Alma aqui significa a vida de uma pessoa, sua total existência e destino (não se refere a uma alma ou espírito imortal); enquanto isso, o corpo representa apenas uma existência física temporária. Claude Tresmontant afirma corretamente: “Aplicando ao hebraico Nephesch [alma] [...] as características da psique [alma] platônica, [...] deixamos que o significado real de Nephesch nos escape e, além disso, ficamos com inúmeros pseudoproblemas” (Claude Tresmontant, A Study of Hebrew Thought, tradução de Michael Francis Gibson [Nova York: Desclee Company, 1960], p. 94).

A morte é um sono ou descanso, e morrer é ser reunido ao povo de Deus, ou seja, ser colocado na sepultura junto com eles (Gn 25:8; 2Sm 7:12; 1Rs 2:10; 22: 40; Sl 13:3; Jo 11:11-15; At 13:36; Ap 14:13). No túmulo, os mortos não sabem nada, não louvam ao Senhor, não trabalham nem planejam, nem fazem nenhuma outra atividade (Jó 3:11-13; Sl 115:17; 146:4; Ec 9:5, 10).

A origem pagã da imortalidade da alma

A crença na imortalidade da alma é tirada da filosofia grega. Pitágoras (c. 571-490 a.C.), filósofo e matemático grego, que foi contemporâneo de Daniel (c. 620-536 a.C.), embora mais jovem que o profeta, baseou seus ensinamentos religiosos no princípio da metempsicose, que postula que a alma nunca morre, mas, ao contrário, está destinada a um ciclo de renascimentos até poder libertar-se desse ciclo através da pureza de vida. Pitágoras acreditava na transmigração, ou na reencarnação da alma repetidas vezes nos corpos de humanos, animais ou vegetais até se tornar imortal. As ideias de reencarnação de Pitágoras foram influenciadas pela religião grega antiga.

Mais ou menos na época de Malaquias (profeta que ministrou em c. de 445-425 a.C.), tendo sido o último profeta do AT, viveu o filósofo grego Platão (c. 428-347 a.C.), que aprimorou esse ensino helenístico, tornando a crença da alma humana imortal tão predominante que se tornou uma visão popular. Durante o período intertestamentário, o ensino do tormento eterno (Judite 16:17) e a prática de orar pelos mortos (2 Macabeus 12:39-45) começou a se infiltrar no judaísmo (para exceções a essas tendências, no entanto, veja também Tobias 14:6-8; Siríaco 7:17; 19:2, 3; 21:9; 36:7-10; Baruque 4:32-35; 1 Macabeus 2:62-64; 2 Macabeus 7:9, 14). Flávio Josefo menciona que os fariseus acreditavam na imortalidade da alma (ver Josephus Flavius, The Jewish War 2. 8. 14; Antiquities 18. 1. 2, 3).

Tertuliano (c. 155-220 d.C.), apologista cristão, foi um dos primeiros cristãos a afirmar que os humanos têm uma alma imortal: “Portanto, devo usar a opinião de Platão, quando declara: ‘Toda alma é imortal’” (Tertuliano, “On the Resurrection of the Flesh”, Ante- Nicene Fathers, v. 3, ed. Alexander Roberts e James Donaldson [Peabody, MA: Hendrickson Publishers Inc., 2004], p. 547).

Oscar Cullmann desafia a visão de Tertuliano e se opõe a ela. Cullmann escreveu um livro muito influente e nele argumenta que a ideia da imortalidade humana é de origem grega, e os teólogos não podem ter as duas coisas: a crença em uma alma imortal e a imortalidade recebida como um dom no momento da ressurreição (Oscar Cullmann, Immortality of the Soul or Resurrection of the Dead? The Witness of the New Testament [Nova York: Macmillan Company, 1958]).

Brevard Childs explica: “Há muito observa-se que, de acordo com o Antigo Testamento, o ser humano não tem alma, mas é alma (Gn 2:7). Ou seja, ele é uma entidade completa e não uma composição de partes de corpo, alma e espírito” (Brevard S. Childs, Old Testament Theology in a Canonical Context [Philadelphia: Fortress, 1985], p. 199).

Alguns estudiosos tentam defender a vida após a morte simplesmente apelando ao senso comum, porque não há nenhuma declaração bíblica a respeito disso. Por exemplo, Stewart Goetz declara: “As Escrituras como um todo não ensinam que a alma existe. As Escrituras simplesmente pressupõem a existência da alma porque sua existência é afirmada pelo senso comum de pessoas comuns” (Stewart Goetz, “A Substance Dualist Response”, in In Search of the Soul: Perspectives on the Mind-Body Problem – Four Views of the Mind-Body Problem, ed. por Joel B. Green, 2ª ed. [Eugene, OR: Wipf e Stock, 2010], p. 139). O “senso comum” pode, no entanto, ser muito enganador.

O dom da vida eterna

A vida eterna é um dom de Deus para aqueles que creem em Cristo Jesus como seu Salvador pessoal (Jo 3:16; 5:24, 25; 10:27, 28; 17:3; Rm 2:7; 6:22, 23; Gl 6:8). A imortalidade é condicional e depende de nossa resposta positiva à bondade de Deus e de nossa aceitação do evangelho. Essa imortalidade será dada aos crentes na segunda vinda de Cristo (1Co 15:51-55; 1Ts 4:13-18).

APLICAÇÃO PARA A VIDA

  1. O que significa, social e ontologicamente, ser criado à imagem de Deus?

  2. Somente Cristo, por meio de Sua graça, Espírito e Palavra pode restaurar a imagem de Deus no ser humano. Como podemos ser feitos à imagem de Deus?

  3. Se fomos criados mortais sem uma alma imortal, como podemos ter vida eterna?

  4. Deus colocou em cada coração o anseio pela eternidade (Ec 3:11). Como você pode ajudar a despertar esse desejo profundo em colegas de trabalho ou vizinhos agnósticos ou ateus por meio de suas ações e durante suas conversas com eles?

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Uma inesperada estrela de TV

Graeme e Nicqui

Nova Zelândia | 8 de outubro

Graeme inesperadamente se tornou uma espécie de estrela no Hope Channel na Nova Zelândia.

Quando chegou a uma reunião dos Alcoólicos Anônimos, ele foi imediatamente reconhecido por uma estranha que nunca tinha visto antes.

“Eu vi você na TV ontem à noite!”, a mulher deixou escapar.

Todas as 26 pessoas do grupo olharam para Graeme com curiosidade.

Ele havia sido convidado para a reunião para compartilhar sua história de vida, mas havia chegado sem saber como começar. O comentário da mulher sobre vê-lo na televisão deu-lhe uma ideia. Ele contou ao grupo como foi que apareceu na televisão em primeiro lugar. Disse que a razão era porque ele era um alcoólatra em recuperação salvo pela graça de Cristo. Naquele momento, as 26 pessoas na sala ficaram sabendo da TV Hope Channel, que é transmitida para todos os lares da Nova Zelândia.

Quando Graeme conta sua história, ele explica como uma história de vício em trabalho o levou a um vício em álcool de dez anos, que acabou destruindo seu casamento. Mas então ele encontrou a graça salvadora de Jesus e, com a ajuda divina, parou de beber. Ele se casou novamente e apresentou sua nova esposa, Nicqui, à Igreja Adventista do Sétimo Dia. Nicqui agora atua como líder em uma congregação adventista local.

Graeme sente muita compaixão pelas pessoas que lutam contra o alcoolismo nos Alcoólicos Anônimos.

“Embora eu não tenha vontade de beber há muitos anos, tenho o desejo de passar a mensagem de esperança e recuperação para outras pessoas”, diz ele.

Graeme combina uma paixão pelos Alcoólicos Anônimos com seu amor por Deus. “Tento levar o que aprendo em minha vida cristã para minha vida no AA e de minha vida no AA para minha vida cristã”, disse ele. “Na verdade, sou muito abençoado porque temos um grupo familiar da igreja que é muito importante para Nicqui e para mim, onde posso compartilhar coisas que aprendi com os AA.”

Quando ele compartilha sua história nas reuniões dos Alcoólicos Anônimos, os participantes rapidamente descobrem que ele é cristão. Isso surpreende muitos, especialmente aqueles que são ateus ou agnósticos, ou que gostam de xingar e praguejar.

“Você é religioso?”, costumam perguntar. “Não”, responde Graeme. “Você vai à igreja?” “Sim”. “Qual igreja você frequenta?” “A Igreja Adventista do Sétimo Dia.”

Muitas vezes, as pessoas não estão familiarizadas com a Igreja Adventista e sua observância do sábado do sétimo dia. Então, Graeme explica a importância do sétimo dia e enfatiza que é cristão todos os dias.

“Embora nossos cultos sejam realizados no sábado, eu sou cristão nos sete dias da semana”, diz ele.

Dois médicos que frequentam a igreja de Graeme ocasionalmente encaminham para ele pessoas que lutam contra o alcoolismo. Ele, por sua vez, os apresenta aos Alcoólicos Anônimos.

Graeme não apenas compartilha sua história, mas também ouve as histórias de outras pessoas. Ele leva as pessoas em seu barco e compartilha refeições com elas enquanto fala e ouve. Ele ama seu trabalho evangelístico. Quando chega em casa, ele adora dizer à esposa: “Você simplesmente não acreditaria no que Deus fez hoje!”

Obrigado por sua oferta do décimo terceiro sábado em 2016, que ajudou o Hope Channel a se tornar um canal aberto que alcança todos os lares da Nova Zelândia. Sua oferta do décimo terceiro sábado deste trimestre ajudará a levar a TV Hope Channel e a Rádio FM Hope para Papua-Nova Guiné.

Por Maryellen Hacko

 Dicas para a história 

  • Pronuncie Graeme como “graham”.

  • Pronuncie Nicqui como “niki”.

  • Graeme compartilha seu testemunho pessoal como uma forma de apresentar às pessoas nos Alcoólicos Anônimos o poder transformador de Jesus. Pergunte a seus ouvintes como eles podem compartilhar seus testemunhos pessoais de forma que o Espírito Santo possa transformar corações.

  • Baixe as fotos no Facebook: bit.ly/fb-mq.

  • Baixe publicações e fatos rápidos sobre a missão da Divisão do Pacífico Sul: bit.ly/spd-2022.

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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2022

Tema Geral: Vida, morte e eternidade

Lição 3 – 8 a 15 de outubro de 2022

Entendendo a natureza humana

 

Autor: Sérgio H. S. Monteiro

Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Rosemara Santos

 

Nesta terceira lição do nosso estudo, somos convidados a entender o que a Bíblia fala sobre a natureza do homem. De fato, o entendimento de quem nós somos (antropologia) é, nos dizeres do Dr. Jean Zukowski, “um dos três pilares da macro-hermenêutica bíblica” (os outros dois pilares seriam a teologia e a cosmovisão; os três pilares seriam Deus, homem e mundo). As Escrituras fazem claras afirmações a esse respeito:

  1. O ser humano foi criado à imagem de Deus (Gn 1:27);
  2. O ser humano foi criado à semelhança de Deus (Gn 1:27);
  3. O ser humano é mortal (Gn 2:7).

Mas é interessante notar que existem enormes e acirradas discussões sobre o que cada uma das afirmações acima significa de fato. Por exemplo, qual o alcance da imagem de Deus, ou tselém ‘elohim, no ser humano? É apenas uma linguagem figurada, como dizia Filo de Alexandria, ou envolve apenas a capacidade de pensar e falar, como defendia Maimônides? É a capacidade de amar como em Agostinho? Ou é também a imagem física de Deus, como em alguns manuscritos do apócrifo livro da Sabedoria 2:23 (“Deus criou o homem para a imortalidade e o fez à imagem de Seu próprio ser”, Bíblia del Peregrino).

Igualmente, o que implica ser criado à semelhança de Deus, ou demuth ‘elohim? Seriam as qualidades morais de Deus, como defendiam os pais da igreja?

No contexto dessa discussão, que busca descortinar a relação entre o ser humano e Deus, a própria natureza do ser humano passou a ser também discutida, infelizmente não dentro das linhas da teologia bíblica, mas através da assimilação da filosofia de outras nações e religiões, as quais, invariavelmente aceitaram a ideia de que o ser humano era naturalmente imortal.

No Egito, por exemplo, onde Israel esteve por alguns séculos, era comum a ideia de uma continuidade da vida após a morte, sendo as almas boas levadas para o processo de renascimento quase imediato, determinado por Osíris. Os sumérios, por seu turno, criam em uma existência sóbria após a partida deste mundo, em um lugar chamado kur, no qual reinava Ereshkighal, a deusa do além vida. Essa mesma crença era compartilhada, de forma geral, pelos Assírios, Acádios e Babilônios. Os últimos nos legaram o Épico de Athrahasis com uma descrição da criação do homem, afirmando que ele é composto de pó e sangue do deus rebelde We-ilu, e deve morrer, não por resultado do pecado, mas por determinação de Enki. Diferentemente dos gregos, os povos mesopotâmicos não possuíam um dualismo pleno e absoluto, sendo a alma, algumas vezes associada com o corpo, de forma indissolúvel. Por outro lado, na confusão das crenças, em outro momento a alma era completamente dissociada do corpo no momento da morte, sendo transformada em um fantasma, ou giddim. O povo de Israel certamente entrou em contato com essas crenças da Mesopotâmia, tanto no período em que viveram livres quanto durante o exílio em Babilônia.

Na Pérsia, sob influência de Elam, uma ideia semelhante surgiu, ou seja, os seres humanos sobreviviam à morte, mas com uma existência como sombras em um lugar semelhante ao kur mesopotâmico, mas governado pelo rei Yima. Em um primeiro momento, a sobrevivência dos mortos dependia inteiramente das orações dos vivos. Nos três primeiros dias após a morte, o espírito ficava próximo ao corpo, sujeito aos ataques de Anhrymaniu e, por isso, era necessário um ritual de orações pelos parentes sobreviventes.

Por fim, na Grécia, a doutrina plena de um dualismo absoluto entre corpo e espírito se desenvolveu muito por causa do dualismo entre material e imaterial. Sendo que a matéria é má por essência, os gregos preconizaram que os deuses não podiam se comunicar com essa matéria, sendo ela, na verdade, uma prisão para a essência real e natureza verdadeira do ser humano, sua physis, que era a sua alma, ou psyché. Nós vamos explorar mais esse conceito de psyché mais adiante.

Foi nesse mundo de religiões e filosofias que Israel se desenvolveu como nação e sua religião floresceu. Não seria surpresa, portanto, que em algum momento, o povo flertasse com essas ideias. Na verdade, de modo surpreendente, ocorreu o contrário do que poderia se esperar, pois, durante muitos anos, eles foram únicos na manutenção da crença na mortalidade natural do homem. E isso se deu justamente pela compreensão da natureza humana a partir das Escrituras.

A declaração basilar é, obviamente, a de Gênesis 2:7, que, como no Épico de Athrahasis, descreve a criação do ser humano e a relação de Deus com ele. Na verdade, já em Gênesis 1, sua origem é declarada como resultado de um ato livre de um Agente livre que os planejou para habitar a Terra, cuidar dela e dominá-la (Gn 1:26-29). Ou seja, os seres humanos não são eternos nem preexistentes. Em Genesis 2:7, ao contrário, há uma declaração de que o ser humano não existia e que sua vida ou existência foi o resultado de um processo de composição entre um elemento inerte e sem vida com um elemento vivificante, que é descrito como fôlego de vida ou nishmat.

Esse processo de composição, criação e vivificação é acentuado pelo uso de palavras, verbos e expressões hebraicas que indicam movimento e mudança. No verso 7, o verbo hebraico haia no imperfeito é utilizado junto a uma preposição de movimento, lamed, para expressar uma mudança de estado. Isso significa que existe um movimento narrativo que leva o objeto do verbo a sair de um estado e entrar em outro. O estado no qual se entra é descrito como nephesh chaya, ou alma vivente, indicando que, anteriormente ele não possuía a qualidade de vida, ou seja, ele não era um nephesh chaya.

Isso se torna ainda mais claro quando nos lembramos de que o termo nephesh não carrega, em si, a ideia de uma entidade fora do corpo, mas é a descrição primária do ser, como em Ezequiel 18:4, que afirma que a alma morre. Essa afirmativa, na verdade, ecoa a sentença dada para a desobediência à ordem divina: “certamente morrerás”. E essa certeza permeia a totalidade das declarações antropológicas das Escrituras: o homem, na morte, retorna ao estado anterior ao movimento para vida, descrito em Gênesis 2:7: a inexistência.

Um dos elementos desse processo criativo é descrito como “sopro de vida”, ou o nishmat chayyim. Nishmat efetivamente significa o fôlego que adentra o nariz, como pode ser visto no texto de Isaías 2:22. Esse termo pode ser associado a ruach, como em 2 Samuel 22:16, onde indica um forte sopro de Deus. Ruach, por si mesmo, apenas significa vento, sem nenhuma ideia de uma entidade separada do corpo. E nephesh, literalmente, quer dizer garganta. Cada uma dessas palavras, na língua hebraica, está ligada de forma direta ou indireta com os órgãos por onde passa o ar, o oxigênio, a respiração: nishmat é o ar passando pelas narinas, ruach é o ar na boca, e nephesh é o ar na garganta. Nota-se, portanto, que o uso desses termos na descrição da natureza humana acentua sua necessidade de uma fonte externa de vida. Incidentalmente, quando a Bíblia afirma que a vida do ser humano está no sangue, em Gênesis 9:4, ela corretamente associa o oxigênio com o sangue e sua função vital.

O quadro que pintam as Escrituras quanto à natureza humana inicia com uma declaração que confronta tanto as crenças antigas dos povos vizinhos de Israel quanto as crenças modernas: o ser humano não é imortal. Seu conhecimento, seu labor e sua vida, em primeira instância, estão restritos a este mundo, a uma existência. Quando morre, não passa a um novo estado de existência, mas retorna à condição de inexistência de antes de Gênesis 2:7. O espírito, ruach, que lhe dá capacidade de viver, e o nishmat que lhes adentra as narinas, voltam ao seu Doador, e aquele que um dia foi nephesh chayya, passa a ser um nephesh met, ou morto (Nm 6:6), que, apenas pelo poder de Deus, poderá novamente ser um nephesh chayya, um ser vivo, e vivo para sempre.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O Pr. Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É Bacharel em Teologia, Mestre em Teologia Bíblica, cursa doutorado em Bíblia Hebraica pela Theologische Universiteit Apeldoorn. Pastor da Brazilian Adventist Community Church na Associação do Norte da Nova Zelândia e membro a Adventist Theological Society, International  Organization for the Study of the Old Testament, Society for Biblical Literature e Associação dos Biblistas Brasileiros.