Lição 8
13 a 19 de novembro
Escolham a vida
Sábado à tarde
Ano Bíblico: At 22, 23
Verso para memorizar: “Hoje tomo o céu e a terra por testemunhas contra vocês, que lhes propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolham, pois, a vida, para que vivam, vocês e os seus descendentes” (Dt 30:19).
Leituras da semana: Gn 2:8, 9; Rm 6:23; 1Jo 5:12; Dt 30:1-20; Rm 10:6-10; Dt 4:19; Ap 14:6-12

Uma mulher de 22 anos é diagnosticada com uma doença mortal, um tumor no cérebro. Mesmo com todas as maravilhas da medicina moderna, nada poderia ser feito a não ser prolongar a agonia até o inevitável. Mas essa jovem, Sandy, não queria morrer.

Ela planejou que, após sua morte, seu cérebro fosse congelado em um tanque de nitrogênio líquido, na esperança de preservar suas células cerebrais. E lá ficaria por cinquenta, cem, mil anos, até que em algum momento no futuro, quando a tecnologia tivesse avançado o suficiente, seu cérebro, composto de conexões neurais, pudesse ser conectado a um computador. Então, Sandy poderia “viver”, talvez até para sempre.

História triste, não apenas porque uma jovem estava prestes a perder a vida, mas por ter depositado nesse plano sua esperança. Como a maioria das pessoas, Sandy queria viver, porém fez uma escolha que, no fim, certamente não funcionará.

Nesta semana, ao continuarmos o estudo de Deuteronômio, veremos a oportunidade que nos foi dada de escolher a vida, mas de escolhê-la nos termos que Deus, o Doador e Sustentador da vida, graciosamente oferece.

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Domingo, 14 de novembro
Ano Bíblico: At 24-26
A árvore da vida

Nenhum de nós pediu para estar aqui, certo? Não escolhemos vir à existência, nem escolhemos onde e quando nasceríamos ou quem seriam nossos pais.

Foi assim também com Adão e Eva. Tanto quanto uma folha, uma rocha, uma montanha, eles não escolheram ser criados por Deus. Como seres humanos, não nos foi dada apenas existência (uma rocha tem existência) e não apenas vida (uma ameba tem vida), mas vida como seres racionais livres feitos à imagem divina.

Contudo, também não escolhemos essa existência especial. O que Deus nos oferece, entretanto, é a escolha de existir eternamente; isto é, escolher ter vida eterna Nele, que é possível por meio de Jesus e de Sua morte na cruz.

1. Leia Gênesis 2:8, 9, 15-17 e 3:22, 23. Quais são as duas opções que Deus apresentou a Adão em relação à sua existência?

“No meio do Éden crescia a árvore da vida, cujo fruto tinha o poder de perpetuar a vida. Se Adão tivesse permanecido obediente a Deus, teria continuado a desfrutar livre acesso àquela árvore e teria vivido para sempre. Porém, quando pecou, foi destituído da participação na árvore da vida, tornando-se sujeito à morte. A sentença divina: ‘Tu és pó e ao pó tornarás’ indica completa extinção da vida” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 532, 533).

Desde o início, a Bíblia nos apresenta duas opções: a vida eterna, que é o que originalmente deveríamos ter tido, e a morte eterna, que em certo sentido é apenas voltar ao nada do qual viemos.

É interessante observar que a “árvore da vida”, cujo fruto confere imortalidade, aparece pela primeira vez no primeiro livro da Bíblia e reaparece no último. Leia Apocalipse 2:7 e 22:2, 14. Talvez a mensagem seja que, embora devêssemos ter acesso à árvore da vida, devido ao pecado perdemos esse acesso. Então, no final, uma vez que o problema do pecado esteja solucionado completamente, graças a Jesus e ao plano da salvação, os redimidos, aqueles que escolheram viver, terão acesso à árvore da vida como deveriam ter tido desde o princípio. 

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Por meio de nossas decisões diárias, como estamos escolhendo a vida ou a morte?


Segunda-feira, 15 de novembro
Ano Bíblico: At 27, 28
Sem meio-termo

Em toda a Bíblia, duas opções são apresentadas ao ser humano. No contexto da história do pecado, dois caminhos, dois senhores e dois destinos foram colocados diante da humanidade.

2. Leia os seguintes textos. Quais são as duas opções, declaradas abertamente ou implícitas? De que modo elas são apresentadas?

Jo 3:16

Gn 7:22, 23

Rm 6:23

Rm 8:6

1Jo 5:12

Mt 7:24-27

No final das contas, não existe meio-termo para nós. Antes que o grande conflito termine, o pecado, Satanás, o mal, a desobediência e a rebelião serão erradicados. Depois disso, cada um de nós, individualmente, terá a vida eterna, que Deus planejou para todos antes da criação do mundo, ou enfrentaremos a morte eterna, isto é, “penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do Seu poder” (2Ts 1:9). A Bíblia parece não nos dar outras opções.

Qual será o nosso destino? Essa resposta depende de nós mesmos. Temos a escolha diante de nós: vida ou morte.

3. Sobre a morte eterna, qual das opções abaixo reflete a verdade bíblica?

A. ( ) O lago de fogo queimará os ímpios até que eles sejam completamente extintos e a justiça seja cumprida.

B. ( ) O fogo atormentará os ímpios eternamente.

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No contexto da vida ou morte eterna, por que é reconfortante a verdade bíblica de que o inferno não queima e tortura as pessoas para sempre? Se o tormento eterno e consciente fosse o destino dos perdidos, o que isso diria sobre o caráter divino?


Terça-feira, 16 de novembro
Ano Bíblico: Rm 1-4
Vida e bem, morte e mal, bênção e maldição

Próximo ao final do livro, depois de um longo discurso sobre o que aconteceria ao povo se desobedecesse ao Senhor e quebrasse as promessas da aliança, Deuteronômio 30 começa com a promessa de que, mesmo que caíssem em desobediência e fossem punidos com o exílio, Deus os restauraria à terra. Isto é, caso se arrependessem e abandonassem seus maus caminhos.

4. Leia Deuteronômio 30:15-20. Quais são as opções apresentadas ao antigo Israel, e como refletem o que vemos em toda a Bíblia?

Yahweh colocou diante do povo duas opções, como fez com Adão e Eva no Éden. As palavras hebraicas para “bem” (tov) e “mal” (ra‘) em Deuteronômio 30:15 são as mesmas usadas em Gênesis para a árvore do conhecimento do “bem” (tov) e do “mal” (ra‘). Não há meio-termo, nenhum lugar neutro para se estar. Eles deveriam servir ao Senhor e ter vida ou escolher a morte. E nós temos as mesmas opções.

Vida, bem, bênção, em contraste com morte, mal e maldição. Porém, pode-se argumentar com justiça que Deus ofereceu apenas o bem, a vida e as bênçãos. Mas caso escolhessem se afastar Dele, essas coisas ruins seriam o resultado natural, pois eles perderiam a proteção divina especial.

Seja qual for a nossa compreensão, essas opções foram apresentadas ao povo, e fica evidente a realidade do livre-arbítrio. Esses versos, e muitas outras passagens da Bíblia, do AT e do NT, não fazem sentido se não houvesse o dom sagrado da livre escolha.

Em um sentido real, o Senhor disse-lhes: Portanto, com o livre-arbítrio que lhes dei, escolham a vida, a bênção e o bem, não a morte, nem o mal e a maldição.

Parece tão óbvio qual seria a escolha correta, não é? No entanto, sabemos o que aconteceu. O grande conflito era tão real como ainda é no presente, e devemos aprender com o exemplo de Israel o que pode acontecer se não nos entregarmos totalmente ao Senhor e escolhermos a vida e tudo o que essa escolha envolve.

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Leia Deuteronômio 30:20. Observe a ligação entre amor e obediência. O que Israel deveria fazer para ser fiel ao Senhor? Como os mesmos princípios se aplicam a nós?


Quarta-feira, 17 de novembro
Ano Bíblico: Rm 5-7
O mandamento não é muito difícil

Deuteronômio 30 começa com o Senhor dizendo o que aconteceria caso o povo se arrependesse e se afastasse de seus maus caminhos. Que promessas maravilhosas foram oferecidas a eles!

5. Leia Deuteronômio 30:1-10. Embora o texto fale sobre o que aconteceria com eles se desobedecessem, quais são as promessas de Deus a eles? O que isso nos ensina sobre a graça divina?

Ouvir isso foi reconfortante. No entanto, se eles se afastassem do que Deus tinha ordenado, haveria consequências. O Senhor não oferece graça barata. Deveriam, no mínimo, ter percebido nas palavras de Deus Seu grande amor por eles, e, como resposta, amar o Senhor, revelando seu amor sendo obedientes às Suas palavras.

6. Leia Deuteronômio 30:11-14. O que o Senhor disse? Que promessa há nesses versos e quais textos do NT refletem a mesma promessa?

Com essa bela linguagem e lógica inabalável, veja o apelo feito no texto. O Senhor não lhes pediu algo difícil de fazer. O mandamento não era difícil de entender nem misterioso, nem estava fora de seu alcance. Não estava no céu, tão longe que outra pessoa tivesse que buscar, tampouco nos mares, de modo que alguém devesse levar a eles. O Senhor disse: “Pois esta palavra está bem perto de vocês, na sua boca e no seu coração, para que vocês a cumpram” (Dt 30:14). Ou seja, vocês a conhecem o suficiente para ser capazes de a pronunciar, e está em seu coração, e sabem que devem fazê- lo. Portanto, não há desculpa para não obedecer. “Todas as Suas ordens são promessas habilitadoras” (Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 333).

O apóstolo Paulo cita alguns desses versos no contexto da salvação em Cristo, referindo-se a eles como um exemplo de justificação pela fé (Veja Rm 10:6-10).

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Após esses versos, o povo foi instruído a escolher: vida ou morte, bênção ou maldição. Se, pela graça e pela fé, escolhesse a vida, ele a teria. Seria diferente hoje?


Quinta-feira, 18 de novembro
Ano Bíblico: Rm 8-10
Uma questão de adoração

O cerne da aliança entre o Senhor e Israel era a adoração. O que o tornava diferente de todo o mundo era que somente essa nação adorava o Deus verdadeiro, em contraste com os falsos deuses do mundo pagão, que na verdade não eram deuses. “Vejam, agora, que Eu, sim, Eu sou Ele, e que não há nenhum deus além de Mim” (Dt 32:39).

7. Leia Deuteronômio 4:19; 8:19; 11:16 e 30:17. Qual é a advertência comum nesses versos? Por que ela era essencial para a nação de Israel?

Milhares de anos atrás, como hoje, o povo de Deus vivia em meio a uma cultura e ambiente que, geralmente, exalava padrões, tradições e conceitos que conflitavam com sua fé. Por isso, o povo de Deus deve estar alerta, para que os caminhos do mundo, seus ídolos e seus “deuses” não se tornem objetos de sua adoração.

Nosso Deus é zeloso (Dt 4:24; 5:9; 6:15), e somente Ele, como Criador e Redentor, é digno de adoração. Não há meio-termo: ou adoramos o Senhor, que traz vida, o bem e bênçãos, ou adoramos outro deus, que traz morte, mal e maldições.

8. Leia Apocalipse 13:1-15 e concentre-se na questão de como a adoração é apresentada. Em seguida, compare esses versos com Apocalipse 14:6-12. O que acontece em Apocalipse que reflete a advertência dada em Deuteronômio (e em toda a Bíblia) sobre a adoração falsa?

Por mais diferente que seja o contexto, a questão é a mesma: as pessoas irão adorar o Deus verdadeiro e terão vida, ou sucumbirão às pressões, abertas ou sutis, ou ambas, para deixar sua fidelidade a Ele e enfrentarão a morte? Em última análise, a resposta está no coração de cada um. Deus não forçou o antigo Israel a segui-Lo e não nos forçará. Como vemos em Apocalipse 13, força é o que a besta e sua imagem irão empregar. Deus, em contraste, atua por meio do amor.

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Como podemos ter certeza de que, mesmo de forma sutil, não estamos pouco a pouco deixando nossa lealdade a Jesus por algum outro deus?


Sexta-feira, 19 de novembro
Ano Bíblico: Rm 11-13
Estudo adicional

No presente, como no passado, devemos fazer uma escolha. Sim, a palavra crucial é escolha. Ao contrário de uma ideia difundida no cristianismo, segundo a qual, mesmo antes do nascimento, Deus predestinou alguns não apenas a se perderem, mas até a queimarem no inferno para sempre, as Escrituras ensinam que nossa escolha pela vida ou pela morte, bênção ou maldição, bem ou mal, determina qual tríade (vida, bem, bênção – ou morte, mal, maldição) iremos finalmente encarar. É reconfortante saber que, mesmo que alguém faça a escolha errada, o resultado será morte eterna, não tormento eterno em um lago de fogo sem fim.

“‘O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor’ (Rm 6:23). Ao passo que a vida é a herança dos justos, a morte é o destino dos ímpios. Moisés declarou a Israel: ‘Vê que proponho, hoje, a vida e o bem, a morte e o mal’ (Dt 30:15). A morte a que se faz referência nessas passagens não é a que foi pronunciada sobre Adão, pois a humanidade toda sofre a pena de sua transgressão. É a ‘segunda morte’ que contrasta com a vida eterna” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 544).

Perguntas para consideração

1. É Deus quem diretamente traz a punição pela desobediência ou é consequência dos atos de desobediência? Ou podem ser ambos? Como entender esse assunto?

2. O que os textos de Ellen White ensinam sobre o poder para vencer o pecado?

3. Leia Romanos 10:1-10, em que Paulo cita Deuteronômio 30:11-14 ao explicar a salvação pela graça mediante a fé em Jesus em contraste com a busca pela salvação e justiça por meio da lei. Por que ele citou Deuteronômio? Observe especialmente Romanos 10:10. O que Paulo defende?

4. A cultura e a sociedade ao seu redor têm opiniões que levam à adoração falsa?

Respostas e atividades da semana: 1. Comer da árvore e morrer ou não comer e viver. 2. Vida eterna e morte eterna, salvação e perdição. São apresentados de forma direta e clara. 3. A. 4. Obedecer e viver, desobedecer e morrer. A Bíblia nos dá apenas essas opções. 5. Reuni-los, dar-lhes a terra, dar vida e abundância. Deus é misericordioso e perdoador. Ele ama Seus filhos e quer salvá-los. 6. O mandamento não é difícil de se cumprir (Rm 10:6-10). 7. Não adorem outros deuses. A adoração ao Deus verdadeiro era essencial na aliança. 8. A adoração irá determinar vida eterna ou morte eterna. A adoração falsa conduz à morte eterna.

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Resumo da Lição 8
Escolham a vida

TEXTO-CHAVE: Dt 30:19

FOCO DO ESTUDO: Gn 2:8, 9; 3:22; Dt 4:19; 30; Rm 6:23; Ap 14:6-12

ESBOÇO

Na estrutura da aliança em Deuteronômio, a parte que segue as bênçãos e maldições (Dt 27–28), após as estipulações (Dt 5–26), culmina na seção do apelo. Deus lembrou a Israel o que Ele fez – todos os Seus atos de salvação desde a saída do Egito. Ele, então, passou para a próxima etapa e exigiu de Israel obediência às leis e compromisso com a aliança. Em seguida, em paralelo com as antigas alianças do Oriente Próximo, o discurso de Moisés invocou testemunhas (Dt 30:19; 31:19; 32:1-43). O objetivo dessas testemunhas era apoiar o pleito da aliança e conferir ao seu apelo uma característica universal.

Temas da lição

• O grande conflito. Desde o início da história, a Bíblia fala sobre uma luta cósmica entre Deus, com Sua lei de luz e vida, e Satanás, com seu caminho de morte e trevas.

• A obrigação de escolher. Como Adão e Eva no jardim do Éden, Israel é desafiado por Deus a escolher entre dois caminhos. O paradoxo é que se escolherem o caminho errado perderão sua liberdade e não serão capazes de fazer escolhas.

• A questão em jogo. A vida é a questão em jogo.

COMENTÁRIO

O apelo para escolher

Israel tinha acabado de ouvir as bênçãos e as maldições, com ênfase nas maldições. Com isso em mente (Dt 30:1), Israel estava pronto para fazer uma escolha. A fim de preparar o povo para seguir na direção certa no tratado da aliança, Moisés usou dois argumentos. Primeiro, estipulou que todas as promessas condicionais de Deus são articuladas nas conjunções “se” (‘im) ou “quando” (ki): “quando todas estas coisas vierem sobre vocês [...] e voltarem para o Senhor, seu Deus, [...] e derem ouvidos à Sua voz” (Dt 30:1, 2); “Se derem ouvidos à voz do Senhor, seu Deus, guardando os Seus mandamentos e os Seus estatutos, escritos neste Livro da Lei, se vocês se converterem ao Senhor, seu Deus, de todo o coração e de toda a alma” (Dt 30:10; compare com Dt 30:17). Em segundo lugar, Moisés garantiu ao povo que guardar o mandamento de Deus não estava fora de seu alcance: “Não está no Céu [...] esta palavra está bem perto de vocês” (Dt 30:12-14).

Não só é do interesse de Israel obedecer a Deus, por causa de Suas promessas, mas também a obediência está ao seu alcance. Deus, porém, não os força. Eles têm diante de si dois caminhos: vida e morte. Essa era a prerrogativa deles – fazer uma escolha. Moisés estava simplesmente mostrando-lhes os bons motivos pelos quais o caminho da vida era a escolha certa, e ele os incentivou a fazer essa escolha. A solenidade desse apelo foi – como nos antigos tratados de aliança – apoiada por testemunhas que garantiam sua veracidade. Nesse caso, as testemunhas são cósmicas – “céus e terra” – como se o destino, a salvação do mundo, estivesse em jogo. Se Israel falhasse em fazer a escolha certa, todo o projeto da vinda do Messias, o Salvador do mundo, ficaria comprometido.

Perguntas para discussão e reflexão: Por que Deus deseja que escolhamos? Por que só a teologia, o conhecimento da verdade, não é suficiente para a salvação? Alguém disse que a diferença entre o filósofo e o profeta bíblico é que o filósofo faz você pensar, enquanto o profeta faz você escolher. Discuta a diferença entre as duas ações. A escolha não implica pensar? Explique. Como o exercício de pensar ajuda, ou se torna uma armadilha, ao tentarmos fazer a escolha certa?

A escolha de Adão

O apelo para decidir-se é uma reminiscência de outro apelo de Deus para escolher, que também determinou o destino da humanidade (Gn 2:16, 17). Adão também foi confrontado com a mesma escolha entre dois caminhos: “vida e morte”. Nesse caso, Deus também fez uma aliança com um ser humano, baseada na lei divina. Foi o primeiro mandamento de Deus para a humanidade. O Senhor também apresentou aos humanos todos os bons argumentos para guardar Sua lei: o conceito da promessa condicional de vida versus morte, bem como a ideia da possibilidade da obediência, tendo em vista o fato de que Deus deu a Adão todas as árvores das quais poderia comer livremente.

Contudo, quando Adão usou sua liberdade para escolher o caminho do mal, o bem se misturou com o mal. Ele perdeu a capacidade de distinguir claramente entre o bem e o mal e, portanto, sua liberdade de escolher entre os dois caminhos. Como afirma Ellen G. White: “O homem perdeu tudo porque tinha preferido ouvir o enganador em vez Daquele que é a verdade, que unicamente tem o entendimento. Por misturar o mal com o bem, sua mente se tornou confusa, e suas faculdades mentais e espirituais se tornaram entorpecidas. Não mais poderia apreciar o bem que Deus tão livremente havia concedido” (Educação, p. 25).

Perguntas para discussão e reflexão: Leia Gênesis 3:22. Como você explica o fato de que, de acordo com a tradução desse texto, os humanos se tornaram semelhantes a Deus, no que diz respeito à distinção entre o bem e o mal, porque pecaram? O que o texto diz de fato?

Considere o seguinte problema de tradução. A mesma forma do verbo hayah, “era”, é usada para descrever a condição da serpente, que inclui um tempo anterior: “A serpente era [hayah] mais astuta” (Gn 3:1, ARC). Nesse verso, o verbo “ser” também é usado no mesmo tempo verbal para descrever uma condição anterior e não algo presente. Na verdade, a mesma ideia já foi expressa pela serpente: “Como Deus, vocês serão conhecedores do bem e do mal” (Gn 3:5). Nesse verso, o conhecimento envolve discernimento, saber a diferença entre o certo e o errado. Esse discernimento só era possível enquanto Adão era igual a Deus, completamente sem pecado. A única maneira de conhecer o bem e o mal não é, como disse a serpente, conhecer (experimentar) o mal e o bem, mas conhecer apenas o bem. Na verdade, assim que os humanos conheceram o mal, eles perderam sua capacidade de discernir entre o bem e o mal e, portanto, o senso do “bem” (Jacques B. Doukhan em “Gênesis”, Seventh Day Adventist Bible Commentary; veja Gn 3:22).

Adore-O

Quando Deus apresentou a Adão e a Israel a escolha entre a vida e a morte, Ele não estava apenas pedindo um “sim”. A decisão significava mais do que mera afirmação. Essa decisão envolvia primeiro a escolha de Adão e de Israel de “amar ao Senhor”. Tudo em ambas as narrativas se resume à questão da adoração. A questão não é a lei. A religião não deve existir por causa da religião, mas por causa de Deus. Religião à parte de Deus é apenas outra tradição da cultura humana.

A obediência à lei é válida na medida em que é a expressão do amor de alguém por Deus. A razão dessa escolha exclusiva é o fato absoluto de que há um só Deus: “Não há nenhum deus além de Mim” (Dt 32:39). Outra vez, é reafirmado o monoteísmo que está no cerne do livro de Deuteronômio. Para deixar ainda mais claro, o verso aplica essa verdade à realidade da vida e da morte: “Eu mato e Eu faço viver” (Dt 32:39). Sim, Deus dá vida, mas e quanto ao assassinato? Se Deus é definido como o Deus da vida, por que essa referência à morte? Na verdade, essa declaração não significa que Deus mata e vivifica, literalmente. Essa frase se refere a dois opostos (vida e morte), para implicar a totalidade, a abrangência do poder divino.

É uma forma de linguagem para se referir ao monoteísmo. É por isso que a adoração diz respeito apenas ao Deus da criação, que deu a vida e criou tudo. Somente com Deus temos certeza de vida. Quando Deuteronômio explica que da obediência de Israel “depende a vida e a longevidade” do povo (Dt 30:20), é para lembrar à nação de que a vida dela depende inteiramente do Senhor. A única forma de sobreviver, de permanecer vivo, é, portanto, “apegando-se a Ele” (Dt 30:20). No entanto, mesmo esse apego que o profeta hebreu tem em mente não é a experiência dos místicos. A resposta de adoração ao Deus Criador e ao Seu amor não equivale a sentimentos, a uma confissão sentimental ou a um louvor; é um movimento muito concreto na realidade da vida: “andem nos Seus caminhos” (Dt 30:16).

Perguntas para discussão e reflexão: Comente a diferença entre o misticismo oriental e a religião bíblica. Qual é a diferença a respeito do lugar de Deus e da religião na vida? Como a ideia da evolução afeta o conceito de adoração?

APLICAÇÃO PARA A VIDA

Dois irmãos receberam a mesma educação e usufruíram dos mesmos privilégios; no entanto, apenas um teve uma vida gratificante, com um trabalho frutífero e uma família feliz. O outro falhou totalmente e acabou na prisão, sem ninguém para cuidar dele. Que papel as escolhas desempenham nas diferentes trilhas da vida? Até que ponto as escolhas são determinadas pela educação, riqueza e ambiente de vida? Discuta a justiça das escolhas em relação à condição de justiça social.

No início do dia, ao fazer uma pausa para a meditação diária, pense no seu trabalho, no seu cônjuge (se tiver) e nos seus amigos. Faça a si mesmo as seguintes perguntas: Como posso fazer felizes as pessoas ao meu redor? Que mudanças em meus hábitos essa decisão exigiria para que isso se concretizasse? Pense em sua vida: Que escolhas ruins você fez que precipitaram seu fracasso? Que boas escolhas você fez que o levaram ao sucesso? Onde estava Deus em suas escolhas?

Você está encarregado de um culto de adoração. Qual é a sua prioridade? Seu amor pelo Senhor? Sua cultura? O amor dos seus amigos? Considerando o fato de que todos esses componentes são essenciais na adoração, o que você vai escolher que irá conciliar a tensão entre o dever de reverência e a necessidade de desfrutar o calor de sua comunidade?

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Orações de um empresário

Quando Kiyong ora, coisas maravilhosas acontecem. Certo dia, enquanto ele orava, o proprietário de uma empresa de contabilidade na Coreia do Sul se sentiu impressionado a plantar uma igreja adventista. Os líderes lhe indicaram um antigo edifício que não ficava muito distante de sua casa. Começado o trabalho, 40 pessoas foram batizadas logo no primeiro ano de funcionamento. E, à medida que ele trabalhava e orava, o número de batismos aumentou para 98 em dois anos e meio. Kiyong decidiu orar por 100 batismos. “Por favor, nos abençoe com 100 batismos.” Ao abrir os olhos, de repente se lembrou de uma mulher que, há três anos, não tinha contato. Ele procurou informações sobre ela e descobriu que abrira uma escola de arte para crianças. Então, comprou um buquê colorido e foi até a escola entregar o presente.

Enquanto conversavam, Kiyong descreveu a igreja. Ele também contou sobre as 98 pessoas que entregaram o coração a Jesus. “Você poderia ser a centésima pessoa”, disse, ao que a senhora respondeu: “Claro, serei a centésima pessoa!”. Feliz, Kiyong sugeriu: “Primeiramente, você precisa fazer estudos bíblicos. Virei à sua casa as 19:30 horas para ensinar a estudar a Bíblia.” Fez uma pausa e continuou, “Chame seu esposo para nos acompanhar!” Kiyong mencionou o esposo porque precisava de duas pessoas para alcançar os 100 batismos.

Depois de sair do trabalho, a senhora telefonou para o esposo: “Amanhã Kiyong virá à nossa casa para nos ensinar sobre a Bíblia.” À semelhança de Kiyong, o esposo dela era um próspero empresário. Mas, não era cristão. Ao contrário, ele adorava, em um santuário, aos ancestrais e deuses. Recentemente, havia decidido melhorar sua fluência na língua inglesa para conseguir mais sucesso no trabalho e encomendou vários livros nesse idioma. Um dos livros era uma Bíblia.

Porém, encontrou dificuldade em ler a Bíblia. Ele a lia em seu escritório, mas se esforçava para compreender. Entendia as palavras em inglês, mas não conseguia entender o significado. Finalmente, desesperado, decidiu orar ao Deus da Bíblia: “Se você é o verdadeiro Deus, envie alguém que me ensine a compreender a Bíblia!” Naquele momento, o telefone tocou. Era a esposa, informando a ida de Kiyong à casa deles para estudar a Bíblia. O homem ficou impressionado! Permaneceu sentado por longo tempo sem se mexer. Sentiu como se um raio atravessasse todo seu corpo — da cabeça, a espinha e, finalmente, a sola dos pés.

No dia seguinte, Kiyong chegou à casa do casal e ficou surpreso ao encontrá-los ansiosos por receber estudos bíblicos. Seus dois filhos adultos estavam presentes e também desejavam aprender sobre o Deus que, tão rapidamente, respondera à oração do pai. A família estudou a Bíblia e aceitou tudo que aprenderam. Finalmente, eles entregaram o coração a Jesus. Deus respondeu à oração de Kiyong de maneira surpreendente. Em vez de 100 batismos, ele atingiu a meta de 102 batismos.

Parte da oferta do trimestre ajudará a espalhar o evangelho na Coreia do Sul através de dois projetos: um centro de cuidado para crianças imigrantes na cidade de Ansan e um centro evangelístico na cidade de Daegu.

Informações adicionais

• Pronúncia de Kiyong: .

• Kiyong construiu três igrejas na Coreia do Sul.

• Faça o download das fotos no Facebook: bit.ly/fb-mq.

• Para mais notícias sobre o Informativo Mundial e outras informações sobre a Divisão do Pacífico Norte-Asiático, acesse: bit.ly/nsd-2021.

 

Esta história ilustra os seguintes componentes do plano estratégico da !greja Adventista, “I Will Go”: Objetivo de Crescimento Espiritual nº 1 – “reavivar o conceito de missão mundial e sacrifício pela missão como um estilo de vida que envolva não apenas os pastores, mas todos os membros da igreja, jovens e idosos, na alegria de testemunhar por Cristo e de fazer discípulos”; Objetivo de Crescimento Espiritual nº 2 – “fortalecer e diversificar o alcance dos adventistas nas grandes cidades, através da Janela 10/40, entre grupos de pessoas não-alcançadas e para religiões não cristãs”. Conheça mais sobre o plano estratégico em IWillGo2020.org.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2021

Tema Geral: A verdade presente em Deuteronômio

Lição 8 –13 a 20 de novembro de 2021

Escolham a vida

Autor: Sérgio H. S. Monteiro

Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

O mundo moderno enfatiza a liberdade. No contexto das Escrituras, essa ênfase está correta. Afinal de contas, o Messias, Jesus, em uma declaração basilar, declarou que a liberdade é o resultado do conhecimento da verdade (Jo 8:32). Nesse sentido, o desejo humano não parece ser contrário ao desejo divino, nem à proposta divina. Infelizmente, essa concordância é, na maioria das vezes, apenas aparente, porém mais em nossos dias do que nos tempos bíblicos. Isso se deve principalmente a uma visão incorreta do que significa a liberdade e qual seja o alcance da liberdade de escolha.

Liberdade é definida hoje como a condição de alguém de agir em conformidade apenas com sua própria vontade e capacidade. Essa definição abrangente é, contudo, perigosa e destoa da realidade apresentada nas Escrituras. Na Palavra de Deus, a liberdade não está relacionada tanto com o que fazemos, mas com o que ou quem escolhemos. De fato, nas próprias palavras de Jesus, registradas por João, a liberdade é resultado de conhecimento da verdade. No mesmo livro de João, Ele declarou ser a própria Verdade (Jo 14:6), igualando-Se à definição bíblica de Lei como a verdade (Sl 119:142). Ainda no mesmo evangelho, Jesus declarou que o conhecimento de Deus, como único Deus verdadeiro, produz a salvação (Jo 17:3). Dessa forma, poderíamos entender que, no pensamento de Jesus, liberdade é salvação, não uma carta branca para agir como quisermos.

Nesse mesmo sentido, Deuteronômio propôs que os israelitas escolhessem a vida. Perceba que no texto não existe a proposta de escolher um curso de ação, mas seu resultado. A questão não é escolher o meio pelo qual se viverá, mas se aquele a quem se propõe a decisão quer viver ou não. Essa é uma lição preciosa. Deus não nos dá opções de como viver, mas nos oferece a escolha de viver ou morrer. A escolha pela vida vem acompanhada imediatamente pela decisão de se submeter aos ditames da vontade soberana de Deus. Essa visão bíblica está em contraste direto com o conceito moderno de livre-arbítrio.

Quando pensamos em livre-arbítrio, imediatamente somos remetidos à ideia de que Deus nos dotou com a capacidade de decidir o que é certo ou errado em relação a nós mesmos. E, com base nessa decisão, escolher um ou outro. Filosoficamente, a ideia de livre-arbítrio é definida pela capacidade de livremente tomar decisões, sem haver necessariamente uma base, uma razão ou um motivo, exceto a própria vontade humana. Popularmente, livre-arbítrio é a frase da moda para libertinagem e busca do prazer desenfreado e sem responsabilidade nem compromisso. É, também, a expressão de escolha que visa a impedir o questionamento de ações ou decisões de forma objetiva.

Todas as definições acima acabam por ser muito distantes e mesmo frontalmente contrárias ao que as Escrituras nos apresentam. Primeiro, a experiência deuteronomista, ou seja, a experiência e a história de Israel, lembrada por Moisés nos primeiros capítulos de Deuteronômio e vividas em tempos posteriores, demonstram que o ser humano NÃO possui nenhuma capacidade de decidir o que é certo ou errado. Ele não pode, porque não consegue, definir o que é certo ou errado. Segundo, em nenhum lugar Deus disse ao ser humano que ele poderia decidir ou arbitrar sobre o que seja o certo ou errado. Mas várias vezes, Ele nos convida a escolher o que Ele já decidiu ser certo e nos afastarmos do que Ele decidiu ser errado. Aliás, essa é a tônica dos textos que estudaremos na lição desta semana: escolher. Por fim, nenhuma escolha dentro das Escrituras é tomada no vazio histórico. Ao contrário, Deus primeiro apresentou evidências de Sua contínua presença com os israelitas no passado, como evidenciado pela liberdade da escravidão egípcia, para depois requerer deles a escolha (Dt 26:5 em diante, 30:19). Dessa forma, a escolha bíblica não é fundamentada apenas em sua vontade livre, mas em sua vontade racional. E o apenas é extremamente importante. A escolha ocorre, sim, pela escolha livre, porém jamais somente por ela. De fato, ela deve estar associada a uma compreensão da autorrevelação divina, que, por seu turno, demanda o conhecimento dos atos dessa revelação e de seus eventos de fala. Ou seja, ela é acompanhada pelo desejo divino de que o ser humano O escolha não apenas por anseio das recompensas futuras nem medo das punições, mas principalmente pela continuidade de um relacionamento pleno e crescente com Ele.

Esse é o cerne de Deuteronômio: escolher. E escolher não entre conceitos e ideias, mas entre a entrega do próprio Deus, que é vida, ou não, o que resulta em morte. Os pares vida e morte, benção e maldição, bem e mal, que encontramos em Deuteronômio 30:15-20, podem ser simplificados como uma proposição de escolher Deus e tudo o que Ele representa ou não, e tudo o que isso representa.

E o que representa escolher Deus? Tudo! E o que representa não escolher Deus? Tudo... A diferença é que no primeiro caso, a escolha de Deus nos proporciona o ganho de tudo, enquanto o segundo representa a perda desse tudo. E o que é tudo? Nada menos do que a vida em plenitude. Para o recém-liberto povo de Israel, o tudo era a liberdade e a herança da terra. Afinal, ele havia sido escravo, sem liberdade, sem vida própria, sem direito à existência como nação e sem um lugar para habitar. O tudo, naquele contexto, era palpável. Mas, o tudo de Deus nunca é apenas o que nossas necessidades ditam, mas o que Sua graça anseia. Por isso, o tudo que Deus queria entregar aos israelitas naqueles tempos ia muito além do que eles pensavam. Era, primariamente, a comunhão com Ele e Sua presença com eles. Essa é a vida que Ele propôs que Seu povo escolhesse. Igualmente, a bênção maior que brota da aliança que Deus criou não é nada menor do que Sua presença com eles (Lv 26:11, 12), uma promessa repetida no contexto apocalíptico (Ap 21:3).

O que ganham os que escolhem o caminho indicado por Deus? A vida é o próprio Deus, que Se entregou para que tenhamos vida em abundância (Dt 28:1-12; Jo 10:10).

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O Pr. Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É bacharel em Teologia, mestre em Teologia Bíblica, cursa doutorado em Bíblia Hebraica. É pastor na Escola do Pensar e no Instituto de Estudos Judaicos  Feodor Meyer. É membro da Adventist Theological Society, International  Organization for the Study of the Old Testament, Society for Biblical Literature e Associação dos Biblistas Brasileiros.

 

Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2021

Tema Geral: Deuteronômio

Introdução a Deuteronômio

Autor: Sérgio H. S. Monteiro

Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Rosemara Santos

Nome do livro

O quinto livro das Escrituras, completando o chamado Pentateuco é “Deuteronômio”. O título do livro significa “Segunda Lei”, em português, e deriva do termo utilizado na Septuaginta (tradução grega da Bíblia hebraica, datada do 3º ou 4º século a.C.). O título original do livro, entretanto, como era comum nas Escrituras Hebraicas, deriva de suas primeiras palavras: “eleh hadevarim”, ou “estas são as palavras”. O título hebraico acentua a característica discursiva do texto, enfatizando o que é dito nele mesmo, segundo o qual, Deuteronômio se constitui em um discurso feito por Moisés, antes de sua morte (Dt 1:3). Já o título grego enfatiza o conteúdo legal do livro, com sua ampla repetição da Lei. Parece indicar, também, que os tradutores da Septuaginta viam o texto como sendo o texto encontrado pelos auxiliares do rei Josias, e que guiou suas reformas religiosas no 7º século a.C., como já sugerido pelos pais da igreja. Sendo isso um fato ou não, o título grego Deuteronômio se harmoniza de maneira perfeita com o conteúdo do livro, assim como o título hebraico se harmoniza com a forma dele (o que, diga-se de passagem, não aconteceu com outros livros cujo título grego causa apenas confusão, como “Números”, cujo título hebraico é Bamidbar: “no deserto”).

Essa dupla nomenclatura deverá ser mantida em nossa jornada nos próximos três meses, enquanto estudamos o guia da Lição da Escola Sabatina sobre Deuteronômio. Ele nos ajudará a compreender vários aspectos do livro, que podem ser perdidos de outra forma. Devemos, portanto, lembrar em cada leitura que estamos lidando com um discurso de Moisés, carregado do impacto de sua sabida despedida. Nesse discurso, ele relembra ao povo as experiências históricas que o levaram até aquele momento, dando-lhe, por seu turno, uma repetição da própria legislação que brotou de cada uma das experiências vividas.

Autoria e data

De longa data Deuteronômio foi reconhecido e recebido como um texto mosaico. Ele provinha da pena de Moisés e do período mosaico. Foi apenas com Baruch Spinoza, judeu espanhol do século 17, que dúvidas foram levantadas quanto à autoria mosaica do Pentateuco. Ele afirmou, por exemplo, que Moisés não poderia haver escrito sobre sua própria morte (Dt 34) e, portanto, o livro de Deuteronômio não era de sua autoria.

A principal teoria quanto à autoria do Pentateuco é que o texto é da época da reforma de Josias, por volta de 621 a.C., tendo sido produzido pelo palácio para dar validade a um projeto de poder que se centralizava em Jerusalém em torno do palácio, da figura real, do sacerdócio e do templo. Não obstante, evidências internas demonstram que o livro de Deuteronômio é anterior aos profetas literários, que são datados do 8º século a.C., é anterior ao período da monarquia dividida do 10º século a.C., e à conquista da terra por Josué, entre os séculos 15 e 14 a.C.

Quanto aos profetas, a expressão “O Eterno Deus dos seus pais”, que aparece em Deuteronômio, não é encontrada em nenhum dos profetas literários, mas está registrada três vezes em Êxodo (3:6; 15:12 e 18:4). Igualmente, a situação descrita em Deuteronômio 16 não condiz com o que conhecemos do tempo de Josias, no sétimo século a.C. A reforma de Josias tinha por objetivo especialmente três problemas: os Kemarim (sacerdotes idólatras), os bamot (lugares altos) e os cavalos de bronze para adoração ao deus sol. Nenhum desses itens é mencionado em Deuteronômio, criando uma tremenda dificuldade para os que enxergam uma data no 7º século a.C.

Evidência de que o texto tenha sido anterior à divisão do reino inclui a ausência de qualquer menção ou sugestão de que houvesse divisão entre Judá e Efraim e a frequência de expressões que entendem Israel como uma nação única (cf. Dt 1:13, 15, etc.). Igualmente, o relato demonstra que o livro foi ambientado em um período no qual Israel ainda não habitava em Canaã. Por exemplo, quando as fronteiras da terra são mencionadas, elas são descritas como “terra dos amorreus” e “Líbano” (1:7), e não como “de Dã até Berseba”, como em livros posteriores. A própria legislação de Deuteronômio pressupõe uma sociedade ainda em preparo para a entrada na terra, não uma que já estivesse ali estabelecida. Dos 346 versos dos capítulos 1–26, mais da metade é religioso e moral, enquanto 93 lidam com mandamentos sobre a iminente entrada na terra.

Em resumo, a melhor data para Deuteronômio é aquela apresentada no próprio texto: a iminente entrada na terra, quando Moisés ainda vivia, no fim dos 40 anos de peregrinação no deserto, por volta de 1405 a.C. No esteio da datação, faz todo sentido a autoria mosaica, estabelecida pelo texto de forma indireta e pelas referências posteriores a Deuteronômio como a Lei de Moisés.

Crítica textual

Como todos os livros da Bíblia, Deuteronômio possui também uma longa história textual. Os livros do Pentateuco, por sua vez, não têm uma história textual com variações muito importantes, uma vez que sempre foram considerados no pensamento judaico como ditados por Deus. Dessa forma, o processo de cópia respeitava – e respeita – estritas regras que visam impedir a corrupção do texto. Mas, com o decurso do tempo e principalmente com o surgimento de divisões internas no judaísmo, ainda que não tenha diminuído a importância e sacralidade da Torá/Pentateuco, surgiram tradições textuais diferentes, vistas no próprio texto, sendo as três principais o Pentateuco Samaritano, a Septuaginta e os Manuscritos do Mar Morto.

O texto padrão é conhecido como texto massorético por haver sido preservado por escribas especializados que preservaram a massorá, cujo significado é tradição, reconhecida como a que remontava até Moisés.

Os principais manuscritos massoréticos são o Códice de Alepo, datado de por volta de 920 a.C. e o Códice de Leningrado, datado em 1008 a.C. Esses dois manuscritos são a base do texto das Bíblias Hebraicas de hoje. Esses dois textos são comparados a outros manuscritos e, através de procedimentos próprios da crítica textual, o texto original é restaurado.

O Pentateuco Samaritano é o texto utilizado pelos samaritanos, escrito em alfabeto samaritano, que em poucas coisas se assemelha ao alfabeto hebraico que possuímos, mas que representa o alfabeto utilizado, provavelmente, por Israel antes do exílio da Babilônia. Ele possui não apenas uma língua diferente, mas também versos com versões alternativas, como a versão samaritana dos dez mandamentos, que conclama o povo a fazer um altar no monte Gerizim para adoração. No texto de Deuteronômio, encontramos duas interessantes mudanças também relacionadas com o lugar de adoração. No capítulo 27:2-8, o texto massorético emprega o futuro para indicar que Deus “escolherá” o lugar de adoração. Já no texto samaritano, o verbo utilizado está no passado, informando que ele já “escolheu” e essa escolha é o monte Gerizim, que, no Pentateuco Samaritano, toma o lugar do monte Ebal (v. 4).

A Septuaginta, ou a versão dos LXX, é a versão grega da Bíblia Hebraica, produzida por volta do 3º século a.C., com permissão do Sinédrio. De acordo com a tradição judaica, ela foi produzida por 72 sábios da Torá que, mesmo isolados, produziram um trabalho coerente. O que conhecemos como LXX, entretanto, tem em si mesmo uma história textual, que nos entregou versões, com a LXX propriamente dita e as versões de Teodócio, Símaco e Áquila. As alterações que a LXX preservou no texto de Deuteronômio são de tal importância que geraram toda uma disciplina de estudos. Os resultados desses estudos mostraram que, em algum momento, houve o surgimento de uma tradição textual que divergia do texto hebraico e tinha sido preservada pela LXX. O caminho dessa tradição textual foi no sentido de aproximar Deus do ser humano, focalizando mais em Sua imanência do que em Sua transcendência. Além disso, é clara a influência helenística na tradução da LXX.

A descoberta dos manuscritos do Mar Morto, em 1947, deu novo impulso à pesquisa do texto original dos livros bíblicos. Em relação a Deuteronômio, foram encontrados manuscritos em quase todas as cavernas, sendo a caverna quatro a principal, com 22 manuscritos encontrados. Alguns desses manuscritos concordam com o texto massorético do 9º século a.C., enquanto outros preservam uma leitura próxima da leitura da LXX.

Em suma, hoje possuímos como nunca, uma variedade de manuscritos de Deuteronômio que nos permite, por meio de análises textuais, nos aproximar muito, ou mesmo tocar, os textos como saíram das mãos de Moisés.

Estrutura

O livro de Deuteronômio consiste basicamente em discursos de despedida de Moisés. Reconhecem-se três discursos principais com apêndices curtos lidando com aspectos da aliança. A estrutura abaixo é um resumo da descrição apresentada por Gleason Archer em Merece Confiança o Antigo Testamento, p. 170, 171:

I. Primeiro Discurso: Revisão Histórica, cap. 11–4:43

II. Segundo Discurso: Leis Pelas Quais Israel Deve Viver, 4:44–26:19

III. Terceiro Discurso: Advertência e Predição, 27:1–30:20

IV. Lei Escrita Entregue aos Líderes, 31:1-30

V. O Cântico de Moisés: A Responsabilidade de Israel Diante da Aliança, 32:1-43

VI. Despedida e Recomendações Finais, 32:44–33:29

VII. A Morte de Moisés, 34:1-12

Tematicamente, é possível perceber uma estrutura circular, tendo o código da aliança, nos capítulos 12–26 como centro e duas molduras: uma interna (capítulos 4–11 e 27–30) e outra externa (capítulos 1–3 e 31–34). Essa estrutura demonstra o papel central da aliança no pensamento apresentado no livro.

Temas

São três os temas centrais do livro de Deuteronômio: Deus, Israel e Aliança.

Deus

Ele é o centro do livro, além de ser o centro das Escrituras. No Pentateuco, e em Deuteronômio em particular, Deus é apresentado por meio das lentes da revelação histórica, mais do que da natureza. Aliás, essa é uma das contribuições e polêmicas da Bíblia Hebraica: Deus é melhor conhecido por meio da Sua ação histórica. A história é o palco da revelação divina e a natureza apenas demonstra Seu poder criador, mas não Sua vontade redentora!

Israel

É o povo escolhido de Deus. Na Torá isso se torna explícito e claro. Em Deuteronômio, somos constantemente relembrados disso. Essa escolha, totalmente fundamentada em um ato livre da graça divina, não se baseia em nada que Israel houvesse apresentado para atrair a Divindade. Ao contrário, Israel havia sido infiel e desobediente e seguiria assim. Entretanto, por ser fiel à Sua aliança, o Eterno Se manteria ligado a esse povo.

Aliança

É o centro do relacionamento entre o Eterno e Israel. Embora nosso conceito de aliança precise ser revisto para perceber como a aliança é puramente divina, feita entre os membros da Divindade para benefício da ordem criada em geral e dos seres humanos em particular, não resta dúvida de que a aliança é o que liga o Céu à Terra, funcionando como um reino no qual os seres criados, perdidos e redimidos são convidados a entrar e viver. O coração de Deuteronômio pulsa com a aliança. No seu próprio centro, nos capítulos 12–26, encontramos o código de conduta dessa aliança, repetida por Moisés, que conclamou os israelitas a entrar nesse compromisso com o Senhor.

Lendo Deuteronômio

Moisés, em seus discursos carregados de emoção, inicia com a lembrança resumida de que eles ali chegaram porque, um dia, Deus prometeu aos seus pais a terra como herança, e isso não foi em decorrência de qualquer ação dos pais, mas pela livre graça amorosa de Deus. Essa é a lembrança fundamental que irá permear a caminhada de Israel, ou que deveria fazê-lo: o único antídoto para a apostasia e fundamento da esperança é a compreensão de que a origem de Israel é o chamado histórico de Deus. Embora Moisés não se preocupe em traçar as origens do povo até a criação, não resta dúvida de que na figura dos “pais” a história primordial está incluída, porque na visão bíblica, os patriarcas, como todos os seres humanos, são resultado dos primeiros 11 capítulos de Gênesis.

Por isso, um método sadio de interpretar e entender Deuteronômio deve levar em consideração alguns aspectos essenciais:

1. O texto é narrativo e apresenta um discurso de despedida de Moisés;

2. Grande parte do discurso apresenta palavras de Moisés e não de Deus.

3. O texto de Deuteronômio serve com um fechamento apropriado para a história iniciada em Gênesis, permitindo perceber várias nuances do amor de Deus individualizado.

O primeiro item deve nos levar a compreender o peso de cada palavra do texto. Os cinco discursos de Moisés que compõem o livro, mais a narrativa de sua morte, quando lidos a partir da perspectiva de um discurso de despedida, trazem uma visão diferente de cada tema apresentado. Não estão ali apenas palavras éticas de um grande professor, ou a narrativa histórica distante de um historiador, nem mesmo as palavras bem equilibradas de um poeta, mas a viva expressão da certeza de sua partida, temperada com a vívida fé histórica, moldada não pelas experiências de outrem, mas dele mesmo, como testemunho para aquela geração que descendia da geração que tinha morrido no deserto, mas também para futuras eras. A emoção é sensível nas palavras de repetição da legislação para aqueles jovens.

E por serem carregadas do tempo de vivência e da emoção do fim, as narrativas históricas de Deuteronômio são pintadas com a tinta da reflexão, e as pinceladas legislativas não são apenas repetidas menções de artigos do código levítico, mas vívidas interpretações daquele código. E aqui somos agraciados com uma oportunidade única: podemos ver Moisés, não como o mediador da entrega da Lei, mas como um intérprete. É possível, e isso é único, pensar nas palavras repetidas da Lei como a maneira pela qual o próprio Moisés entendeu a legislação dada a Ele por Deus e, por meio dele, ao povo! E precisamos permitir que essa realidade, a de que estamos escutando e lendo o que Moisés (certamente guiado pelo Espírito Santo) compreendeu da legislação que Deus lhe havia entregue, quando lermos os textos legais, apareça e faça parte do modelo de intepretação e restrinja nossa vontade de ser independentes em demasia.

Por fim, se mantivermos os dois primeiros artigos de nosso método em foco, aliados ao terceiro, quando estudarmos cada lição durante este trimestre, poderemos perceber que Deuteronômio trata precisamente da história como revelação, usando a expressão tão precisa de Wolfhart Pannemberg. Sim, a história sempre foi vista como um dos meios pelos quais Deus Se revela de forma geral, mas o fato, percebido por Pannemberg em Deuteronômio, é que a história é o palco por excelência da revelação especial, ou do plano da salvação. Por isso, podemos, e mais do que isso, devemos ler Deuteronômio como uma franca declaração histórica de um Deus que não legisla no vácuo, mas fundamenta Suas leis na Sua autorrevelação, contínua e constante, que se dá no palco da história. Ele quer ser não apenas o Autor distante da história, mas parte dela, interagindo com o ser humano e se relacionando com o mundo criado. Nessa verdade impressionante e transformadora apresentada na Torá (Pentateuco) e emocionalmente declarada e repetida nas palavras de Moisés, encontramos o foco do próprio Deuteronômio.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O Pr. Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É Bacharel em Teologia, Mestre em Teologia Bíblica, cursa doutorado em Bíblia Hebraica. É Pastor na Escola do Pensar e no Instituto de Estudos Judaicos Feodor Meyer. É membro da Adventist Theological Society, International Organization for the Study of the Old Testament, Society for Biblical Literature e Associação dos Biblistas Brasileiros.