Lição 10
28 de maio a 03 de junho
Jacó-Israel
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Ne 12, 13
Verso para memorizar: Então Deus “disse: ‘Seu nome não será mais Jacó, e sim Israel, pois você lutou com Deus e com os homens e prevaleceu’” (Gn 32:28).
Leituras da semana: Gn 32:22-31; Os 12:3, 4; Jr 30:5-7; Gn 33; 34:30–35:29

A mão de Deus e Sua fidelidade às promessas da aliança são reveladas na história familiar de Jacó.

Nesta semana veremos Jacó voltando para casa, tendo que enfrentar Esaú, vítima de sua traição. O que seu irmão, tão gravemente injustiçado, faria com ele?

Felizmente, em meio ao medo do que estava por vir, o Senhor Deus dos pais de Jacó apareceu novamente a ele em um incidente que mais tarde seria conhecido como o “tempo de angústia para Jacó” (Jr 30:5-7). E, naquela noite, Jacó, o “enganador”, tornou-se “Israel”; um novo nome para um novo começo, que resultaria em uma nação com o seu nome.

A história dos patriarcas e de sua família é contada nas Escrituras para nos mostrar que Deus é fiel para cumprir o que prometeu e que o fará ainda que às vezes pareça que Seu povo faz de tudo para impedir esse cumprimento.

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Domingo, 29 de maio
Ano Bíblico: Et 1-4
Lutando com Deus

Longe de Labão, Jacó logo teve outra experiência com Deus. Sabendo que seu irmão, Esaú, estava se aproximando com “quatrocentos homens” (Gn 32:6), ele orou fervorosamente ao Senhor e declarou: “Sou indigno de todas as misericórdias e de toda a fidelidade que tens usado para com o Teu servo” (Gn 32:10). Jacó, na verdade, estava entendendo melhor do que se tratava a graça. E como o Senhor respondeu?

1. Leia Gênesis 32:22-31 e Oseias 12:3, 4. Qual é o significado espiritual dessa história incrível?

Jacó estava angustiado. Após fazer o que podia para proteger sua família, acampou para passar a noite. Repentinamente, foi atacado por “um Homem” (Gn 32:24). Esse termo pode ter conotações especiais, evocando a presença divina (Is 53:3). Daniel o usou para se referir ao Sacerdote celestial Miguel (Dn 10:5); essa palavra foi usada por Josué para descrever o “Príncipe do exército do Senhor”, a quem ele chamou pelo próprio nome do Senhor YAHWEH (Js 5:13-15).

Em meio à luta, deve ter se tornado óbvio para Jacó que ele estava lutando com o próprio Deus, como revelaram suas palavras: “Não O deixarei ir se Você não me abençoar!” (Gn 32:26). No entanto, seu apego fervoroso a Deus e sua recusa em deixá-Lo também revelam o ardente desejo de perdão e de estar bem com Seu Senhor.

“O erro que determinara o pecado de Jacó ao obter pela fraude a primogenitura estava agora apresentado claramente diante dele. Não havia confiado nas promessas de Deus, mas procurara pelos seus próprios esforços efetuar aquilo que Deus teria cumprido no tempo e da maneira Dele” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 160 [197, 198]).

A evidência de que ele havia sido perdoado foi a mudança de seu nome, de uma lembrança de seu pecado para uma que celebrava sua vitória. “Seu nome”, disse o Anjo, “não será mais Jacó [o enganador], e sim Israel, pois você lutou com Deus e com os homens e prevaleceu” (Gn 32:28).

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Qual tem sido sua experiência em relação à luta com Deus? O que significa isso e por que às vezes é importante termos esse tipo de experiência?


Segunda-feira, 30 de maio
Ano Bíblico: Et 5-7
O encontro dos irmãos

De Peniel (“vi Deus face a face”; Gn 32:30), o lugar em que teve essa experiência com Deus, Jacó se dirigiu ao encontro com seu irmão. Após 20 anos de separação, Jacó o viu chegando com 400 homens (Gn 33:1). Ele estava preocupado e, portanto, preparou a si mesmo e sua família. 

2. Leia Gênesis 33. Que conexão há entre a experiência de Jacó, de ver a face de Deus em Peniel, e sua experiência de ver o rosto de seu irmão? O que isso sugere em relação ao nosso relacionamento com Deus e com nossos “irmãos”, não importa quem sejam eles?

Jacó se curvou sete vezes diante de seu irmão (Gn 33:3) a quem ele chamou várias vezes de “meu senhor” (Gn 33:8, 13, 15) e se identificou como seu “servo” (Gn 33:5; compare com Gn 32:4, 18, 20). As sete reverências de Jacó relembram as sete bênçãos de seu pai (Gn 27:27-29); além disso, quando se curvou, especificamente reverteu a bênção de seu pai, que determinou que nações o reverenciassem (Gn 27:29).

É como se a intenção de Jacó fosse pagar sua dívida com seu irmão e devolver a bênção que havia roubado dele (ver Gn 33:11). Quando Esaú viu Jacó, contra todas as expectativas, correu para ele e, em vez de matá-lo, “o beijou; e choraram” (Gn 33:4).

Mais tarde, Jacó comentou com Esaú: “ver o seu rosto é como contemplar o semblante de Deus” (Gn 33:10). A razão para essa declaração extraordinária de Jacó é seu entendimento de que Esaú o havia perdoado. O verbo hebraico ratsah, “alcançar favor” (Gn 33:10), é um termo teológico que se refere a qualquer sacrifício que seja “agradável”, “aceito” por Deus, o que então implica perdão divino (Lv 22:27; Am 5:22).

A experiência de Jacó com o perdão divino em Peniel, onde ele viu a face de Deus, se repetiu em sua experiência com o perdão de seu irmão. Jacó viveu o Peniel uma segunda vez, a primeira foi um preparo para a segunda. Jacó foi perdoado por Deus e por seu irmão. Ele deve ter entendido, ainda mais do que antes, o significado da graça.

O que você aprendeu sobre a graça pela maneira como outras pessoas (além do Senhor) já o perdoaram?


Terça-feira, 31 de maio
Ano Bíblico: Et 8-10
Violência contra Diná

Após ter se reconciliado com seu irmão, Jacó desejou se estabelecer em paz na terra de Canaã. A expressão vaiyavo shalem [“chegou são e salvo”] (Gn 33:18), em que shalem, que deriva do verbo shalam [“estar seguro”, “estar completo”, “estar em paz”], é usada pela primeira vez para caracterizar sua jornada.

Depois de ter comprado um pedaço de terra dos habitantes (Gn 33:19), Jacó ergueu um altar ali, mostrando sua fé e sua compreensão do quanto dependia do Senhor. Para cada um dos sacrifícios oferecidos, havia um ato de adoração.

No entanto, pela primeira vez em sua vida, Jacó-Israel estava exposto aos problemas de se estabelecer na terra. Como Isaque em Gerar com Abimeleque (Gn 26:1-33), Jacó tentava encontrar um lugar entre os cananeus.

3. Leia Gênesis 34. O que aconteceu para atrapalhar os planos que o patriarca tinha de uma existência pacífica?

A história desse incidente sórdido destaca a ambiguidade dos personagens e de suas ações. Siquém, que violou Diná, também foi sincero e amoroso com ela e desejou fazer as pazes. Ele estava até mesmo disposto a submeter-se ao rito da circuncisão.

Enquanto isso, Simeão e Levi, que se apresentaram como defensores de Deus e de Seus mandamentos, e que resistiram ao casamento misto com os cananeus (Lv 19:29), recorreram à mentira e ao engano (Gn 34:13) e estavam prontos para matar e saquear (Gn 34:25-27). Suas ações não foram apenas repreensíveis (por que não punir apenas Siquém?), mas tinham o potencial de causar muito mais problemas.

Quanto a Jacó, ele se preocupava apenas com a paz. Quando lhe foi denunciado o estupro de sua filha, ele nada disse (Gn 34:5). No entanto, depois de ouvir sobre o que seus filhos tinham feito, ele os repreendeu abertamente por causa do que poderia se seguir: “Vocês me criaram um problema e me fizeram odioso entre os moradores desta terra, entre os cananeus e os ferezeus. Como somos pouca gente, eles se reunirão contra mim, e serei destruído, eu e a minha casa” (Gn 34:30).

 

Nesses relatos vemos engano após engano, bem como atos de bondade e graça. O que isso nos diz sobre a natureza humana?


Quarta-feira, 01 de junho
Ano Bíblico: Jó 1, 2
Idolatria prevalecente

4. Leia Gênesis 34:30–35:15. Que lições podemos aprender nessas passagens sobre adoração verdadeira?

Após a reclamação de Jacó de que sua paz com os cananeus havia sido comprometida, e depois que seus dois filhos foram repreendidos (Gn 34:30, 31), Deus o exortou a deixar Siquém e retornar a Betel a fim de renovar sua aliança. O Senhor lhe disse que, uma vez lá, ele deveria construir um altar.

Depois da ordem de Deus, Jacó disse a seu povo que eliminasse os ídolos cananeus saqueados da cidade de Siquém e os deuses domésticos roubados por Raquel (Gn 31:19, 32). Tudo isso também é crucial para a ideia da aliança com Deus.

Esses ídolos foram mantidos e, provavelmente, adorados, apesar do compromisso de Jacó com Deus. Não bastou deixar Siquém para escapar da influência cananeia. Jacó teve que tirar os ídolos do acampamento e do coração do povo.

O arrependimento consiste em mais do que uma mudança física de um lugar para outro, ou de uma igreja para outra. O mais importante é que busquemos, pela graça de Deus, eliminar a idolatria do nosso coração, independentemente de onde vivemos, pois podemos fazer ídolos de praticamente qualquer coisa.

Quando Jacó obedeceu a Deus e procedeu de acordo com o mandamento divino, o Senhor finalmente interveio, e “o terror de Deus” (Gn 35:5) afetou todas as pessoas ao seu redor, e não ousaram atacar Jacó. Ele estava pronto para adorar com “todo o povo que estava com ele” (Gn 35:6), sugerindo que a unidade familiar tinha sido restaurada. Jacó deu àquele lugar o nome de El Betel, uma lembrança de seu sonho da escada, um sinal de que a reconexão entre o Céu e a Terra, rompida por algum tempo, havia sido restaurada.

A ênfase está, dessa vez, no Deus de Betel, e não no lugar em si. Essa percepção pessoal ecoou novamente quando Deus lembrou a Jacó de seu nome “Israel” (Gn 35:10), com a dupla promessa que essa bênção indicava. A bênção de Jacó, em primeiro lugar, significa fecundidade, a transmissão da semente messiânica e a geração de muitas nações (Gn 35:11); e em segundo lugar, aponta para a terra prometida (Gn 35:12).

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De que maneira sutil a idolatria pode entrar em nossa vida? O que fazer a esse respeito?


Quinta-feira, 02 de junho
Ano Bíblico: Jó 3-5
A morte de Raquel

5. Que infortúnios Jacó teve em sua família disfuncional? Gn 35:15-29

Assim que Jacó saiu de Betel, três incidentes relacionados entre si marcaram a última etapa de sua jornada em direção à terra prometida: o último filho de Jacó nasceu; Raquel morreu; e Rúben, o primeiro filho de Jacó com Lia, dormiu com a concubina de Jacó. Embora o texto não diga por que o jovem fez algo tão mau, pode ser que ele quisesse de alguma forma desonrar o nascimento do último filho de Jacó e humilhar a memória de Raquel.

O nascimento do último filho de Jacó está ligado a Belém (Gn 35:19), que está dentro dos limites da terra prometida. Esse nascimento foi, então, o primeiro cumprimento da promessa divina para o futuro de Israel. A parteira, profeticamente, se dirigiu a Raquel com as mesmas palavras que Deus usou para tranquilizar Abraão: “Não tenha medo” (Gn 35:17, compare com Gn 15:1).

Jacó mudou o nome que Raquel deu a seu filho, Benoni, que significa “filho de minha tristeza”, para mostrar sua dor, para Benjamim, que significa “filho da mão direita”, talvez para indicar a direção do sul, a fim de expressar a esperança na terra prometida e o que Deus disse que faria por Seu povo depois que se estabelecesse ali.

No entanto, durante esse tempo, Rúben teve relações sexuais com Bila, a concubina de seu pai, serva de Raquel (Gn 35:25; 30:3). Não sabemos por que ele cometeu esse ato escandaloso, a não ser como outro exemplo de depravação humana.

Surpreendentemente, Jacó não reagiu a essa violação horrível (Gn 35:22). Talvez nesse ponto de sua vida, ele acreditasse que Deus cumpriria Sua palavra, apesar do pecado e do mal que às vezes acontecia ao seu redor.

Essa lição de fé está implícita na lista dos 12 filhos de Jacó, ancestrais de Israel (Gn 35:22-26). Não eram as pessoas mais agradáveis e gentis. No entanto, apesar dos problemas, das confusões e do completo mal, como no caso de Rúben e Bila, a vontade de Deus seria cumprida por meio dessa família, ainda que fosse desordenada.

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Apesar do erro humano, os propósitos de Deus serão cumpridos. Imagine o que aconteceria se as pessoas cooperassem e obedecessem. De modo muito mais fácil, com menos sofrimento, estresse e demora, a vontade divina seria realizada, concorda?


Sexta-feira, 03 de junho
Ano Bíblico: Jó 6, 7
Estudo adicional

Leia Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 158-164 [195-203] (“A noite de luta”).

“A experiência de Jacó durante aquela noite de luta e angústia representa a prova pela qual o povo de Deus deverá passar pouco antes da segunda vinda de Cristo. O profeta Jeremias, em santa visão, olhando para esse tempo, disse: ‘Ouvimos uma voz de tremor e de temor e não de paz. […] Por que se tornaram pálidos todos os rostos? Ah! Que grande é aquele dia, e não há outro semelhante! É tempo de angústia para Jacó; ele, porém, será livre dela’ (Jr 30:5, 7). [...]

“Assim como Jacó foi ameaçado de morte por seu irmão irado, o povo de Deus estará em perigo por parte dos ímpios, que procurarão destruí- lo. E assim como o patriarca lutou toda a noite para conseguir livramento da mão de Esaú, os justos clamarão a Deus dia e noite por livramento dos inimigos que os cercam. [...]

“Quando, em sua angústia, Jacó segurou o Anjo e com lágrimas implorou Seu favor, o Mensageiro celestial, para provar-lhe a fé, lembrou-o também de seu pecado e se esforçou para escapar dele. Jacó, porém, não quis soltá-lo. Tinha aprendido que Deus é misericordioso e se entregou à Sua misericórdia. Fez referência ao arrependimento de seu pecado e implorou livramento. Ao rever sua vida, quase chegou ao desespero; mas segurou firmemente o Anjo e, com fortes gritos de aflição, insistiu em sua súplica até que prevaleceu.

“Assim será a experiência do povo de Deus em sua luta final com os poderes do mal. [...]” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 162 [201-203]).

Perguntas para consideração

1. Por que a fraqueza de Jacó foi a oportunidade para Deus? Qual é a relação entre a experiência de Jacó e esta frase: “Quando estou fraco, então sou forte” (2Co 12:10)?

2. Por que a Bíblia revela detalhes sórdidos da vida de muitos de seus personagens?

3. Quais são os ídolos da nossa cultura, da nossa civilização? Como podemos ter certeza de que não estamos adorando ninguém, nem nada além do Senhor?

Respostas e atividades da semana: 1. A culpa do pecado trouxe angústia para Jacó. Na busca do perdão divino, ele lutou com Deus. Isso representa a angústia dos fiéis antes da volta de Jesus. 2. Ver o rosto do irmão foi como ver a face de Deus, pois Esaú tinha perdoado Jacó, assim como Deus o havia perdoado. Se Deus nos perdoa, devemos perdoar os irmãos. 3. Simeão e Levi se vingaram da violência contra Diná, o que resultou em problemas maiores. A ação deles foi pior que a de Siquém. 4. Precisamos, pela graça de Deus, eliminar a idolatria de nosso coração. Quando fazemos isso, somos abençoados. 5. A morte de Raquel; Rúben, filho de Lia, dormiu com a concubina de Jacó, serva de Raquel.

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Resumo da Lição 10
Jacó-Israel

TEXTO-CHAVE: Gn 32:28

FOCO DO ESTUDO: Gn 32–35; Os 12:3, 4; Jr 30:5-7

ESBOÇO

Introdução: Jacó estava livre de Labão. Sob a bênção divina, Jacó se tornou rico. Parecia que finalmente estava feliz. Ele alcançou seu objetivo e estava voltando para Canaã. Mesmo assim, havia a profunda preocupação com seu futuro naquela terra e com a ameaça representada por seu irmão. Foi precisamente nesse momento que Deus escolheu aproximar-Se dele. Esse confronto extraordinário mudaria radicalmente seu caráter. Como resultado, Jacó foi renomeado como Israel. Seu encontro com Deus em Peniel corresponde ao seu encontro em Betel. Os dois relatos ecoam um ao outro em palavras, estrutura e temas. Enquanto Betel começou ao pôr do sol, Peniel terminou ao nascer do sol, com a perspectiva de um futuro glorioso. Depois de uma noite de luta, Jacó surgiu desse encontro com uma bênção e um novo nome. Ele teve um encontro pessoal com o Deus de amor e viveu. Por sua vez, Jacó foi capaz de olhar para a face do inimigo, seu irmão, Esaú, com humildade e amor. Então, voltou-se para sua família e foi confrontado com a iniquidade dela – o estupro de Diná, os assassinatos cometidos por seus filhos e, finalmente, a idolatria que ainda prevalecia em sua casa.

Temas da lição:

  • A angústia de Jacó. O problema de Jacó antes de chegar à terra prometida contém uma lição de dependência divina e prefigura a angústia escatológica do povo de Deus no tempo do fim.
  • Lutando com Deus. O encontro de Jacó com Deus o forçou a se confrontar e a mudar. Seu confronto contém lições sobre o significado da conversão.
  • O rosto do irmão. Como resultado de seu encontro com Deus, Jacó pôde ver o rosto de Deus no rosto de seu irmão.

COMENTÁRIO

A angústia de Jacó

A angústia de Jacó (tsarah) inspirou o profeta Jeremias a respeito da terrível condição de Israel no exílio (Jr 30:7). No entanto, além desse evento particular, a linguagem do profeta sugere claramente que ele tinha em vista o futuro e escatológico Dia do Senhor (compare Sf 1:14-18). Daniel aplicou a mesma expressão, referindo-se à “angústia” ou “tribulação” (tsarah) no tempo do fim (Dn 12:1; compare com Mt 24:15, 21).

A angústia de Jacó se originava de duas causas. A primeira era horizontal e estava relacionada ao irmão. A segunda era vertical e se relacionava com Deus. A primeira preocupação de Jacó era com seu irmão, a quem enviou dois grupos de mensageiros. Essa iniciativa foi uma operação estratégica para salvaguardar o segundo grupo: caso o primeiro fosse atacado, o segundo teria tempo para fugir. Jacó decidiu enviar “mensageiros” a Esaú. Chamou seus dois grupos de mensageiros humanos pelo mesmo nome, makhaneh, “grupos” (Gn 32:7 [8]). Jacó entendia que, para recuperar seu relacionamento com Deus, ele devia restaurar seu relacionamento com seu irmão.

Semelhantemente a seu avô Abraão, Jacó implorou a ajuda de Deus. Dirigiu seu apelo somente ao Senhor, pois foi Ele quem ordenou que retornasse a Canaã (Gn 32:9), o mesmo Deus que prometeu garantir sua posteridade (Gn 32:12). Jacó se referiu à maravilha da graça divina (Gn 32:10). As duas palavras hebraicas, khesed (“misericórdia”) e ‘emet (“verdade”), são as mesmas palavras que o servo de Abraão usou quando bendisse a Deus por ter ouvido sua oração (Gn 24:27). Depois de orar, Jacó acampou durante a noite. No entanto, antes de descansar, agiu novamente. Assim, o texto se move para frente e para trás entre a oração e a ação. Visto que ele não era ingênuo, e sua fé não o tornava passivo, protegeu seu acampamento. Jacó organizou leva após leva de presentes a ser entregues a Esaú para aplacá-lo (Gn 32:20). O verbo hebraico kpr, para “apaziguar”, significa “expiar”. A associação com outras palavras como minkhah, “presente”, uma palavra que se refere à oferta (Lv 2:1-14), e nasa ‘panim, “perdoar” ou “aceitar”, atesta uma perspectiva religiosa. Jacó tinha em mente sua reconciliação passada com Deus (Gn 32:22-32) ao tentar se reconciliar com seu irmão (compare com Mt 5:23).

Lutando com Deus

Jacó permaneceu sozinho porque desejava orar em angústia de espírito pela intervenção e proteção divinas. Enquanto orava, “um Homem” (Gn 32:24) se aproximou dele. Pensando que estivesse sendo atacado por um inimigo, começou a lutar com o Homem por sua vida. A qualificação anônima “um Homem” torna misteriosa a identidade dessa pessoa. Jacó identificaria o Homem como Deus (Gn 32:30), assim como o profeta Oseias (Os 12:3, 4). A mesma linguagem seria usada por Isaías em sua descrição do Servo sofredor (Is 53:3). Que Deus tenha assumido a forma humana para Se relacionar com os humanos não era algo inédito (veja Gn 18:1, 17; Jz 6:11). O mesmo termo, “um Homem”, foi usado por Daniel para designar o Sumo Sacerdote celestial (Dn 10:5; compare com Dn 8:11) e o príncipe do exército (Dn 8:11), expressão que designa o próprio Senhor (Js 5:14, 15).

A informação de que esse Homem (Deus) não prevaleceu contém uma importante lição teológica sobre Deus em Seu relacionamento com os humanos. Sua “fraqueza” em Seu confronto com os humanos é uma expressão de Sua graça e amor e do mistério de Sua encarnação para salvar a humanidade. A impressão de fraqueza é imediatamente contradita pela ação seguinte do Homem. Um simples toque foi suficiente para produzir o deslocamento, sugerindo um poder sobre-humano. O lugar do golpe, “a junta da coxa de Jacó” (Gn 32:25), que se refere ao lombo ou à coxa, é um eufemismo para o lugar associado à procriação. O toque divino foi, portanto, uma bênção implícita que apontava aos descendentes do patriarca (Gn 46:26; Êx 1:5). O fato de Jacó ter sido atingido no órgão gerador da vida também está relacionado à proibição alimentar de comer sangue. Pois a vida está no sangue (Gn 9:4). Essa prática é, portanto, mais do que um mero lembrete da história de Jacó; também lembra aquele episódio bíblico e, com ele, suas lições teológicas. Também chama a atenção da pessoa que come carne para o princípio fundamental da sacralidade da vida.

O profeta Oseias interpretou a luta de Jacó com Deus como uma experiência de oração (Os 12:4). É a fé de Jacó que explica sua insistência tenaz (Lc 11:5-8). Assim, o novo nome de Jacó é “Israel”. A explicação do “Homem” apresenta uma série de paradoxos: (1) Jacó lutou com Deus, mas o “Homem” explicou que Jacó lutou também com homens; (2) o nome Israel significa literalmente “Deus luta”, embora essa explicação afirme que foi Jacó quem lutou; (3) Jacó havia acabado de ser atingido pelo “Homem”, que deslocou seu quadril, mas a narrativa explica que foi Jacó quem prevaleceu.

Todos esses paradoxos transmitem lições teológicas importantes: (1) a qualidade do relacionamento de Jacó com Deus dependia da qualidade de seu relacionamento com os homens (nesse caso, Esaú) e vice-versa; (2) o nome Israel, “Deus luta”, lembrava Jacó de que ele devia aprender a deixar Deus lutar por ele (ver Êx 14:13, 14). Jacó prevaleceria na medida em que permitisse que Deus prevalecesse sobre ele, um princípio que seria enunciado por Paulo: “Quando sou fraco, então é que sou forte” (2Co 12:10). Jacó chamou o lugar em que Deus apareceu para ele de Peniel, que significa “a face de Deus”. Esse nome representa a experiência pessoal de Jacó, ou seja, que ele foi confrontado por Deus e sobreviveu. O uso da expressão hebraica “face a face” não significa que Jacó de fato tenha visto a face física de Deus. Essa expressão equivale a ver “a forma do Senhor” (Nm 12:8) e descreve, em vez disso, a experiência de um encontro direto com Deus (Dt 5:4).

O rosto do irmão

Jacó respondeu claramente à relutância de Esaú em aceitar seu presente (Gn 33:9), de modo a conectar seu relacionamento com ele ao seu relacionamento com o Senhor: “ver o seu rosto é como contemplar o semblante de Deus” (Gn 33:10). Jacó viu a “face de Deus” (Peniel) na face de Esaú. A experiência de Jacó com Esaú foi um segundo Peniel – o primeiro Peniel foi um preparo para o segundo. O encontro de Jacó com Deus o ajudou em seu encontro com seu irmão, e sua reconciliação com seu irmão afetaria seu relacionamento com Deus. Jacó entendeu que seu amor a Deus e o amor ao irmão dependiam um do outro. Jesus inferiu essa lição teológica singular das Escrituras:

“Jesus respondeu: – ‘Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Ame o seu próximo como você ama a si mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas’” (Mt 22:37-40).

APLICAÇÃO PARA A VIDA

A angústia de Jacó. “E assim como o patriarca lutou toda a noite para conseguir livramento da mão de Esaú, os justos clamarão a Deus dia e noite por livramento dos inimigos que os cercam” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 201). De que modo a experiência de aflição de Jacó representa uma profecia de esperança para o fim dos tempos? Que aviso e encorajamento recebemos por meio da aflição de Jacó e que podem nos ajudar em tempos de angústia? Você já teve uma experiência pessoal que se assemelhou a um tempo de angústia – um período em que orou angustiado e encontrou o que parecia ser o silêncio de Deus? Como você lidou com essa angústia?

Lutando com Deus. Lembre-se de momentos em sua vida em que você lutou contra tentações e dúvidas; como essas lutas o aproximaram de Deus? Compartilhe seu testemunho com a classe. Como a declaração ousada de Jacó: “Não o deixarei ir se Você não me abençoar!” (Gn 32:26) se aplica à oração? Por que “perder” a luta com Deus significa vencê-la? Como lutar com Deus pode mudar você para sempre? Leia e comente Romanos 7:23-25. Por que devemos “lutar” e por que é tão difícil lutar com Deus? Por que é impossível prevalecer por nós mesmos? Leia Efésios 6:12.

O rosto do irmão. Por que e como sua experiência com o perdão divino o ajuda a perdoar? Por que amar, respeitar e desfrutar as diferenças de alguém de outra raça, cultura ou religião depende de sua experiência de ver o próprio Deus? Que atitudes para com seu irmão ou irmã podem gerar neles a experiência de ver a face de Deus?

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O verdadeiro dia do Senhor

Chamo-me Cristina e cresci em uma casa onde aprendi sobre Deus, mas não sobre a guarda do sábado. Meu pai, um pastor evangélico, ensinou a respeitar todas as religiões, mas não colocava os pés na igreja adventista em nossa cidade, próxima a Luanda, Angola. Ele ouvira rumores negativos que o aterrorizavam sobre a igreja, e proibiu todos os membros da família de entrar nela.

Ao me tornar adulta, por causa do trabalho, mudei para outra cidade e morei com um tio e sua família. Comecei a estudar a Bíblia com meus colegas de trabalho diariamente no horário do almoço. Um adventista dirigia o estudo bíblico. Com exceção dele, todos do grupo acreditavam que o domingo era o dia do Senhor. Sua afirmação que o sábado era o dia santo bíblico me deixou confusa. Eu queria saber mais; então, ele me emprestou um livro adventista e uma coleção de sermões gravados por um evangelista. Li o livro, ouvi os sermões, e um grande conflito surgiu em meu íntimo sobre a guarda do sábado ou do domingo.

Certo dia, cheguei em casa e encontrei meus parentes assistindo os sermões. “Quem é este pastor?”, meu tio perguntou. “Ele é tão inteligente, fala somente o que está escrito na Bíblia!” Pensei comigo: “Eu também quero acreditar somente no que está escrito na Bíblia.” Comecei a estudá-la por conta própria. Enquanto estudava, decidi não seguir tradições humanas, mas procurar cumprir a vontade de Deus.

Ao retornar à minha cidade natal, pedi para ter uma reunião com meu pai e outros líderes da sua igreja. Apresentei a eles as novas verdades que havia descoberto na Bíblia. Falei sobre o sábado, santificado no final da semana da criação, de acordo com em Genesis 2:2-3, e relembrado pela mão de Deus, ao escrever nas tábuas de pedra os Dez Mandamentos em Êxodo 20:8-11. Eu relembrei que Jesus guardou o sábado fielmente quando esteve na terra e os discípulos seguiram Seu exemplo depois de Seu retorno ao Céu.

“Por que não ensinam essas verdades em nossa igreja?”, perguntei.

Conforme meu pai ouvia, os outros líderes reconheceram o entendimento de que o sétimo dia é o sábado. Eles não conseguiram explicar porque preferiam guardar o domingo. Mas me advertiram contra unir à Igreja Adventista. “Você perderá sua posição ministerial na igreja se o fizer”, um deles falou. Respondi-lhe: “Se permanecer em meu cargo ministerial, só ensinarei a verdade encontrada na Bíblia. Pregarei a mensagem adventista.” Consternados, os líderes da igreja enviaram uma carta à igreja adventista local, dizendo que eu era seu membro e que não me tornaria adventista. No entanto, continuei a estudar a Bíblia e fui batizada por um pastor adventista.

Hoje, sou casada com o homem que me ensinou sobre o sábado durante os estudos bíblicos no trabalho. Meu coração está cheio de alegria pelo fato de três de meus irmãos terem sido batizados. Meu pai e minha mãe estão fazendo estudos bíblicos, e tenho fé que, em breve, serão batizados. Por favor, orem por eles e pelos outros membros da família para que busquem seguir somente a vontade de Deus, como encontrada na Bíblia.

Parte da oferta deste trimestre ajudará a concluir quatro projetos em meu país natal, Angola, incluindo uma Escola Adventista em Luanda, perto de onde ela vive, uma Igreja Adventista e uma Escola de Ensino Fundamental na cidade de Belize, um Centro de Aconselhamento Contra a Violência Doméstica na cidade de Lombe e um residencial masculino na Universidade Adventista de Angola, na cidade de Huambo. Muito agradecemos pelas ofertas.

Informações adicionais

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Esta história ilustra os seguintes componentes do plano estratégico do “I Will Go” [Eu irei] da Igreja Adventista: objetivo de Crescimento Espiritual nº 1 – “reavivar o conceito de missão mundial e sacrifício pela missão como um modo de vida que envolva não apenas os pastores, mas todos os membros da igreja, jovens e idosos, na alegria de testemunhar por Cristo e de fazer discípulos” através do “aumento do número de membros da igreja que participam em iniciativas evangelísticas pessoais e públicas com o objetivo de envolvimento total dos membros”; e Objetivo de Crescimento Espiritual nº 5 – “discipular indivíduos e família na vida espiritual”. Os quatro projetos missionários na Angola ilustram o Objetivo Missionário nº 4: “fortalecer as instituições adventistas na defesa da liberdade, saúde integral e esperança através de Jesus, restaurando pessoas à imagem de Deus.” Saiba mais sobre o plano estratégico em IWillGo2020.org.

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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 2º Trimestre de 2022

Tema Geral: Gênesis

Lição 10 – 28 de maio a 3 de junho de 2022

Jacó-Israel

Autor: Wilian S. Cardoso

Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

Após o acordo realizado entre Jacó e Labão, o ciclo Jacó-Labão se fecha para a abertura de uma nova fase. Curiosamente, a conexão dos hebreus com a Mesopotâmia também é encerrada. Na verdade, o retorno seguinte para lá, infelizmente foi, outra vez, por motivo de exílio, embora, não de uma pessoa apenas, mas de toda a nação.

O retorno de Jacó, agora acompanhado de uma grande família, é marcado por um encontro significativo. Da mesma forma que em sua saída da terra da promessa, sua entrada nela é destacada pelo aparecimento de seres celestiais.

A nova era da vida de Jacó, que teve início a partir do episódio descrito nos capítulos 32 e 33, pode ser vista, de forma simples, como um tipo de sanduíche literário, ou seja, duas seções periféricas com um tema em comum que encapsulam uma seção central.

A vida de Jacó, de fato não foi fácil. Com traumas, ansiedades e incertezas, ele fugiu de Canaã e, com os mesmos sentimentos, fugiu de Harã. Após amenizar seu sofrimento emocional com a realização de um pacto de paz entre ele e seu sogro Labão, novas ondas de ansiedade e frustração surgiram à medida que ele se aproximava de sua antiga casa. E não foi apenas uma onda, mas um “tsunami” de sentimentos negativos que abalaram seu coração. A experiência de ter sido enganado muitas vezes por seu tio-sogro, fez com que ele sentisse na própria pele o que Esaú tinha vivenciado. Empaticamente, agora, ele sentiu remorso do grande evento do passado que tinha gerado tudo isso. Ainda que Deus houvesse transformado o mal em bem, ao abençoar Jacó na formação de uma grande família e na conquista da prosperidade, o passado o assombrava. Se Esaú quisesse vingança, a conservação de todas essas bênçãos estaria em risco.

Ao orar por libertação, Jacó repetiu as mesmas palavras ditas a ele por Deus no primeiro encontro (Gn 32:9, 12; 28:13:15). Ou seja, ele estava reivindicando o cumprimento do que lhe havia sido prometido. O texto parece apresentar um Jacó que ainda não estava pronto para receber a promessa da terra, uma vez que ele não havia se tornado a bênção; antes estava à procura dela. Mas, precisamente agora tudo iria mudar em um encontro que abriria seus olhos e o colocaria na linha da fé abraâmica.

Na jornada de Jacó, ele foi criando inimigos por onde passou: primeiro Esaú, depois Labão e novamente Esaú (sem mencionar, posteriormente, seus próprios filhos e os siquemitas). Mas antes do encontro com Esaú, um novo Oponente surgiu no caminho. Entretanto, o desconhecido Homem (Ish) revelou ser o próprio Deus (Peniel = “face de Deus”). Em Harã, Jacó aprendeu que sua vida dependia da provisão de Deus e não de si mesmo (Gn 31:9, 11, 42). E esse crescimento foi um vislumbre do que estava para acontecer em seguida. A transformação de caráter representada pela mudança de nome foi a peça que faltava na vida de Jacó como escolhido de Deus.

Existe um tipo de aliteração entre o nome Yaakov e o verbo lutar (avak) no verso 25: vateka kaf-yerekh Yaakov beheavko imo (“a junta da coxa de Jacó se deslocou, na luta com o Homem”). Em outras palavras, o verso aponta para a personalidade lutadora do homem Jacó. Embora pacato em suas atividades regulares, ele lutava agressivamente por seus ideais. Essa personalidade, porém, não lhe provia a paz que ele tanto almejava. A explicação do Homem divino para seu novo nome, Israel, em contraste, é suportada pelo uso de outro verbo para “lutar”. O verbo sarah só ocorre três vezes em toda Bíblia e sempre está relacionado à luta de Jacó. Assim, a ocorrência principal, no verso 28, parece servir como uma explicação etimológica do nome Israel. Nesse caso, a conotação de sarah representa a ideia de “lutar para se tornar um rei/governante”. Ou seja, o que o texto parece sugerir é que Jacó simplesmente lutava, pensando que esse esforço lhe concederia a posição privilegiada do escolhido de Deus, mas o Senhor lhe mostrou que somente Ele podia lutar para torná-lo um príncipe de Seu reino. O nome Israel deve ser entendido literalmente como “El (Deus) lutará”.

A luta de Jacó, pela primeira vez, não foi apenas física, mas também espiritual. E a declaração de que ele havia prevalecido (v. 28), não quer dizer que tivesse derrotado Deus, mas que ele “finalmente satisfez a exigência que Deus fez na aliança: submissão dócil”. (1)

Assim, enquanto seu encontro com Deus em Betel (Gn 28:10-22) foi para declarar a ele as promessas divinas, o encontro em Peniel (32:2, 30) foi para o cumprimento delas. (2) Deus é fiel a nós enquanto formos submissos à Sua vontade sobre nossa vida.

Até aqui Jacó e todos nós pensávamos que a profecia divina (Gn 25:23), de que ele seria mais forte do que o irmão mais velho, seria por uma vitória física: eles lutaram no ventre, Jacó puxou o calcanhar, barganhou a primogenitura, roubou a bênção e Esaú o esperou com 400 homens; mas, no fim, descobrimos que a grande luta era daquele que se tornaria capaz de dominar o coração para que Deus pudesse agir.

No entanto, a vida após esse grande encontro não foi das melhores. Porém, agora ele conseguiu lidar com os problemas, porque sabia que existia Alguém que lutava por ele. O sonho de estar em um lugar melhor e de ter uma vida de paz é de todos nós, mas a promessa é Dele e somente Dele.

Jacó conseguiu sobreviver a Esaú, bem como a todas as dificuldades posteriores (as lutas com seus filhos, o conflito com os siquemitas, a morte de Raquel, a falsa morte de José, etc.), porque antes de lutar contra tudo isso, ele havia lutado primeiramente com Deus e saiu vencedor. Essa é uma das maiores lições para nós. Somente quando entendermos que é Deus que luta por nós, Ele cumprirá Seu plano em nossa vida, se assim o permitirmos. Deus pode despertar a fé em nós, mas não pode impor que a mantenhamos. Trata-se de uma escolha individual, acreditar que tudo pode mudar e, na verdade, Ele quer a mudança para todos os Seus filhos. Jacó escolheu acreditar, Esaú rejeitou, e cada um de nós representa um dos dois irmãos.

A exemplo disso, Jacó e sua família mal se haviam instalado em Canaã, na região de Siquém, e logo foram assolados pela depravação de seus habitantes no episódio em que sua filha foi abusada. Apesar de uma tentativa de reparo, tal característica despertou o pior nos filhos de Jacó, provocando sua partida para outro local. Porém, antes que chegassem no novo acampamento, Betel, Jacó se lembrou do que havia prometido a Deus na última vez em que estivera naquele mesmo solo, a saber, que se Deus o ajudasse a retornar em paz, Ele seria o seu Deus (Gn 28:21). Por isso, ele realizou ali uma reforma religiosa para que abandonassem qualquer coisa que lembrasse os deuses estranhos, diferentes do único Deus de Jacó. Essa é a primeira ocorrência bíblica de uma reforma religiosa e o prelúdio para a tensão que começaria a se destacar entre os cananeus e os israelitas, entre os deuses falsos de Canaã e o Deus de Israel.

Outro episódio que revelou a forma como Jacó lidava com os problemas agora, foi a morte de sua esposa amada. Raquel adoeceu por complicações no parto do seu segundo filho. Ciente de que não iria sobreviver, ela nomeou seu filho Benoni (lit. “filho de minha aflição”). Jacó, por outro lado, não olhou para o lado negativo, mas como seu avô Abraão, que confiou no poder divino para restaurar a vida de Isaque, caso fosse sacrificado (Gn 22:5), ele renomeou o filho de Benjamim – “filho da mão direita” ou “filho do sul”, em uma demonstração de confiança Naquele que o sustentava. Isso porque a mão direita era vista como sinônimo de força ou, se em referência ao sul, conforme interpretado pelo comentarista judeu Rashi, o nome tem a ver com o local em que ele estava e onde havia acabado de receber a confirmação das bênçãos divinas.

Enfim, de tudo que podemos guardar das histórias de Jacó, foi o seu processo de transformação espiritual que o capacitou para continuar o legado de Abraão. E esses passos foram:

  1. Arrependimento genuíno (Gn 32:3-8; 13-21)
  2. Súplica/oração (Gn 32:9-12)
  3. Resposta divina [perdão] (Gn 32:27-28)
  4. Renovação de caráter (Gn 33:1-3)

Jacó passou pelas mesmas etapas que qualquer um de nós também deve passar. Ainda que, semelhantes a Jacó, venhamos a interferir nos planos divinos, interpolando nossas próprias ações às Dele, Deus é capaz de ajustar nossos erros sobre Seu plano, que é infinitamente maior do que qualquer coisa que venhamos a fazer. Se o nosso coração for humilde e sincero para permitir reconhecer que Ele está, e deve estar, no controle sempre, Ele lutará por mim e por você; e os nossos erros e problemas serão os elementos que Ele usará para fazer de você uma pessoa melhor – mais um guerreiro no Seu grande exército da salvação.

Referências:

(1) PAINE, J. Barton. “ ?????? ”. In: R. Laird Harris; Gleason L. Archer, Jr; Bruce K. Waltke (eds). Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1490. (2) MATHEWS, Kenneth A. Genesis 11:27–50:26. The New American Commentary. Nashville, TN: Broadman and Holman Publishers, 1996, p. 537.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: Wilian Cardoso é casado com Carem. É pai de Sarah, Noah e de Shai. É bacharel em Teologia e Filosofia, mestre em Interpretação Bíblica e em Estudos do Antigo Oriente Médio. Trabalhou como pastor da Comunidade Judaico-Adventista de Manaus por 8 anos e também como professor de Filosofia e Sociologia. Atualmente trabalha como professor para o Israel Institute of Biblical Studies filiado à Universidade Hebraica de Jerusalém e se dedica à família e à vida acadêmica.