Lição 6
29 de janeiro a 04 de fevereiro
Jesus, o Sacerdote fiel
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Êx 34-36
Verso para memorizar: “Porque nos convinha um Sumo Sacerdote como Este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e exaltado acima dos Céus” (Hb 7:26).
Leituras da semana: Hb 5:1-10; Gn 14:18-20; 1Pe 2:9; Hb 7:1-3; 7:11-16, 22, 26

O pecado causou um abismo entre Deus e nós. Esse problema se agravou, pois o pecado também implica a corrupção da nossa natureza. Deus é santo, e o pecado não pode existir em Sua presença; assim, nossa própria natureza corrompida nos separou Dele, como dois ímãs na orientação errada se repelem. Além disso, nossa natureza corrompida tornou impossível a nós obedecer à lei divina. O ser humano perdeu de vista o amor e a misericórdia de Deus e passou a vê-Lo como irado e exigente.

Nesta semana, estudaremos as ações incríveis que o Pai e Jesus realizaram para superar esse abismo. Hebreus 5–7 apresentam uma análise cuidadosa do sacerdócio de Jesus. O autor analisa sua origem e seu propósito (Hb 5:1-10) e, em seguida, exorta os leitores a não desconsiderá-los (Hb 5:11–6:8), mas apegar-se à esperança que isso envolve (Hb 6:9-20). Ele também explica as características desse sacerdócio (Hb 7:1-10) e suas implicações para o relacionamento de Deus com os crentes (Hb 7:11-28). Nesta semana vamos nos concentrar especificamente em Hebreus 5: 1-10 e 7:1-28.

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Domingo, 30 de janeiro
Ano Bíblico: Êx 37, 38
Sacerdote em favor dos seres humanos

1. Qual é o papel do sacerdote? Como Jesus o cumpre? Hb 5:1-10

O propósito básico de um sacerdote é mediar entre os pecadores e Deus. Sacerdotes foram designados por Deus a fim de ministrar em favor dos seres humanos; portanto, deviam ser misericordiosos e compreender as fraquezas humanas.

Em Hebreus 5:5-10, Paulo mostrou que Jesus cumpre perfeitamente essas características: foi designado por Deus (Hb 5:5, 6) e nos entende, pois também sofreu (Hb 5:7, 8).

Porém, existem algumas diferenças importantes. Jesus não foi “escolhido dentre os homens” (Hb 5:1). Em vez disso, adotou a natureza humana para, entre outras coisas, servir como Sacerdote em nosso favor. Ele não ofereceu sacrifícios pelos Seus próprios pecados (Hb 5:3), mas apenas pelos nossos, pois Ele não tinha pecado (Hb 4:15; 7:26-28).

Hebreus diz que Jesus orou a quem O podia livrar da morte, e foi ouvido (Hb 5:7). Deus salvou Jesus da segunda morte quando O ressuscitou (Hb 13:20). Hebreus também diz que Jesus “aprendeu obediência pelas coisas que sofreu” (Hb 5:8). A obediência era nova para Jesus, não porque Ele fosse desobediente, mas porque era Deus. Como Soberano do Universo, Jesus não obedecia a ninguém; todos Lhe obedeciam.

O sofrimento e a morte não O aperfeiçoaram no sentido de que tenha progredido moral ou eticamente, nem O tornaram misericordioso. Ao contrário, Jesus veio à Terra porque sempre foi misericordioso. Por isso, teve compaixão de nós (Hb 2:17). O que Hebreus quer dizer é que foi por meio dos sofrimentos que a realidade do amor fraterno de Jesus, a autenticidade de Sua natureza humana e a profundidade de Sua submissão como Representante da humanidade conforme a vontade do Pai foram verdadeiramente expressas e reveladas. Ele foi “aperfeiçoado” no sentido de que Seus sofrimentos O qualificaram para ser nosso Sumo Sacerdote. Foi Sua vida de perfeita obediência e depois Sua morte na cruz que constituíram a oferta de sacrifício que Jesus apresentou ao Pai como nosso Sacerdote.

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1 Pedro 2:9 diz que somos “um sacerdócio real”. O que a vida de Jesus diz sobre como deve ser nosso relacionamento com as pessoas ao desempenhar esse papel sagrado?

Segunda-feira, 31 de janeiro
Ano Bíblico: Êx 39, 40
Segundo a ordem de Melquisedeque

2. Leia Gênesis 14:18-20 e Hebreus 7:1-3. Quem foi Melquisedeque e como ele prefigurou Jesus?

Melquisedeque era rei e sacerdote. Ele também era superior a Abraão, visto que este lhe deu o dízimo. Da mesma forma, Jesus é Rei e Sacerdote (Hb 1:3); diferente de Melquisedeque, porém, Jesus não tinha pecado (Hb 7:26-28).

Hebreus 7:15 explica que Jesus era sacerdote “à semelhança de Melquisedeque”. Isso é o que significa a expressão anterior, “segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 5:6). Jesus não foi sucessor de Melquisedeque, mas Seu sacerdócio era semelhante ao dele.

Por exemplo, Paulo diz que Melquisedeque não tinha pai, mãe, genealogia, nascimento nem morte. Alguns sugeriram que Melquisedeque foi uma encarnação de Jesus na época de Abraão, porém isso não se encaixa no argumento de Hebreus. Melquisedeque “se assemelha” a Jesus, o que implica que não era igual a Ele (Hb 7:3).

Também se sugeriu que Melquisedeque fosse um ser celestial, mas isso destruiria o argumento de Hebreus. Se Melquisedeque não teve pai, mãe, começo nem fim, ele seria o próprio Deus. Isso representa um problema. O sacerdócio celestial de Melquisedeque, totalmente divino, teria precedido o ministério de Jesus. Se fosse esse o caso, “que necessidade haveria ainda de que se levantasse outro Sacerdote” (Hb 7:11)?

Hebreus usou o silêncio das Escrituras a respeito do nascimento, da morte e genealogia de Melquisedeque para construir uma tipologia, um símbolo, para o ministério sacerdotal de Cristo (Gn 14:18-20) e para o fato de que o próprio Jesus era eterno. Em suma, Melquisedeque foi um rei-sacerdote cananeu que serviu como um tipo de Cristo.

“Foi Cristo que falou através de Melquisedeque, o sacerdote do Deus altíssimo. Melquisedeque não era Cristo, mas era a voz de Deus no mundo, representante do Pai. E através de todas as gerações do passado, Cristo falou; Cristo dirigiu Seu povo e tem sido a luz do mundo” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 409).

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O que a revelação sobre Melquisedeque nos ensina sobre a forma pela qual Deus trabalha entre aqueles que nunca ouviram missionários pregando?


Terça-feira, 01 de fevereiro
Ano Bíblico: Lv 1-4
Sacerdote eficiente

“Portanto, se a perfeição fosse possível por meio do sacerdócio levítico – pois foi com base nele que o povo recebeu a lei –, que necessidade haveria ainda de que se levantasse outro Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, e não segundo a ordem de Arão?” (Hb 7:11).

Sacerdotes são mediadores entre Deus e os seres humanos. No entanto, os sacerdotes levitas não podiam prover acesso completo e seguro a Deus, pois não ofereciam perfeição (Hb 7:11, 18, 19), visto que eles mesmos não eram perfeitos.

Os sacrifícios de animais também não poderiam limpar a consciência do pecador. Seu propósito era apontar para o ministério de Jesus e Seu sacrifício, o único que proporcionaria a verdadeira purificação do pecado (Hb 9:14; 10:1-3, 10-14). A função dos sacerdotes levitas e seus sacrifícios era temporária e ilustrativa. Por meio do ministério deles, Deus queria levar as pessoas a depositar fé no futuro ministério de Jesus, “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1:29).

3. Leia Hebreus 7:11-16. Por que houve necessidade de mudar a lei?

Hebreus 7:12 explica que a mudança do sacerdócio tornou necessária uma mudança na lei. Por quê? Porque havia uma lei muito rígida que proibia a pessoa que não fosse da linhagem de Levi por meio de Arão de servir como sacerdote (Nm 3:10; 16:39, 40). Hebreus 7:13, 14 explica que Jesus era da linhagem de Judá. Paulo argumenta que Sua designação como sacerdote significa que Deus mudou a lei do sacerdócio.

A vinda de Jesus também implicou uma mudança na lei dos sacrifícios. Os pecadores eram obrigados a trazer diferentes tipos de sacrifícios para obter expiação (Lv 1–7), mas ao vir Jesus e oferecer um sacrifício perfeito, a lei dos sacrifícios de animais também foi posta de lado (Hb 10:17, 18) como resultado da nova aliança e da revelação mais completa do plano da salvação.

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Pense na infinidade de sacrifícios de animais oferecidos na antiguidade, todos apontando para Jesus, e ainda assim nenhum deles podia realmente pagar pelos pecados da humanidade. Por que somente a morte de Jesus poderia fazer isso?


Quarta-feira, 02 de fevereiro
Ano Bíblico: Lv 5-7
Sacerdote eterno

4. Leia Hebreus 7:16. Como Jesus Se tornou sacerdote?

Jesus recebeu o sacerdócio com base em uma vida que não tem fim e por possuir um ministério eterno, o que significa que Seu ministério nunca será superado nem ultrapassado. Jesus salva completamente, eternamente, “totalmente” (Hb 7:25). A salvação que Cristo oferece é total e plena. Alcança os aspectos mais profundos da natureza humana (Hb 4:12; 9:14; 10:1-4). A intercessão de Jesus diante de Deus abrange todos os benefícios concedidos sob a nova aliança. Ela inclui muito mais do que o perdão de pecados; implica colocar a lei em nosso coração, nos tornar novas pessoas Nele e nos levar a propagar o evangelho ao mundo (Hb 8:10-12). Como Um com Deus e com os seres humanos, Ele nos representa diante do Pai. Como Aquele que ofereceu a vida em sacrifício, Jesus tem um favor inabalável perante Deus.

5. Leia Hebreus 7:22. O que Jesus Se tornou em relação à nova aliança?

Jesus é o Fiador da nova aliança, pois Deus jurou que Ele seria Sacerdote “para sempre” (Hb 7:21). É muito fácil não entender a importância desse juramento. Paulo já havia se referido aos juramentos que Deus fez à geração do deserto e a Abraão (Hb 3:7-11; 6:13-15). A diferença é que esses juramentos foram feitos a seres humanos mortais. Os juramentos permanecem em vigor enquanto os beneficiários estiverem vivos. O juramento de Deus à geração do deserto e a Abraão foi válido enquanto houve uma geração do deserto e descendentes de Abraão (ver Gl 3:29).

No caso do juramento ao Filho, entretanto, cuja vida é indestrutível, será válido para sempre. O fiador de outrem estava sujeito às mesmas penas que a pessoa a quem ele afiançava, incluindo a morte. O Pai estabeleceu Jesus como garantia de que Ele não deixará de cumprir Suas promessas. Por isso, podemos ter certeza da salvação que recebemos em Cristo.

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Quinta-feira, 03 de fevereiro
Ano Bíblico: Lv 8-10
Sacerdote sem pecado

6. Leia Hebreus 7:26. Quais são as cinco características de Jesus nessa passagem?

Jesus era santo, não havia falhas em Seu relacionamento com Deus (Hb 2:18; 4:15; 5:7, 8). A Septuaginta, tradução do AT para o grego antigo, usava o mesmo termo para designar aqueles que mantêm sua relação de aliança com Deus e com os outros.

Jesus não tem mácula. Ele permaneceu puro e intocado pelo mal, apesar de ser tentado em “todas as coisas” (Hb 4:15; 2:18). A perfeita impecabilidade de Jesus é importante para Seu sacerdócio. A antiga aliança estipulava que as vítimas do sacrifício deveriam ser “sem defeito” para ser aceitáveis (Lv 1:3, 10). A obediência perfeita de Jesus durante Sua vida terrena tornou possível que Ele Se oferecesse como um sacrifício aceitável a Deus (Hb 9:14).

Jesus foi “separado dos pecadores” quando ascendeu ao Céu. O tempo verbal grego sugere que esse seja um estado presente para Jesus, que começou em um ponto específico no tempo. Jesus suportou a hostilidade dos pecadores durante Sua vida terrestre, mas foi vitorioso e Se assentou à destra de Deus (Hb 12:2, 3). Jesus também está “separado dos pecadores” no sentido de que era sem pecado (Hb 4:15).

Jesus Cristo foi “exaltado acima dos céus”, isto é, exaltado acima de tudo que existe e, portanto, Ele é um com Deus. Nos Salmos, Deus é Aquele que está “exaltado [...] acima dos céus” (Sl 57:5, 11; 108:5).

Jesus era totalmente humano, mas não era um ser humano pecador como nós (Hb 2:14-16; 4:15). Jesus é perfeito, não simplesmente porque nunca pecou, mas porque não foi corrompido pelo pecado como nós.

No entanto, por ter sido totalmente humano, também é nosso exemplo. Ele nos mostra como correr a corrida da vida (Hb 12:1-4). Ele é o exemplo que devemos seguir (1Pe 2:21-23). Por ser “santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores” (Hb 7:26), Ele é nosso Salvador e nós também podemos refletir Seu caráter.

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Embora Jesus fosse um ser humano como nós, Ele nunca pecou. Consegue entender quanto Ele é santo? A promessa de que Sua santidade será creditada a nós pela fé ajuda a nos dar certeza da salvação?


Sexta-feira, 04 de fevereiro
Ano Bíblico: Lv 11, 12
Estudo adicional

“Cristo está vigilante. Ele sabe tudo sobre nossos fardos, perigos e dificuldades; e apresenta muitos argumentos em nosso favor. Ele adapta Suas intercessões às necessidades de cada pessoa, como fez no caso de Pedro. […] Nosso Advogado enche a boca de argumentos para ensinar os que são Seus, e que estão sendo provados e tentados, a se prepararem contra as tentações de Satanás. Ele interpreta todo movimento do inimigo e conduz os acontecimentos” (Ellen G. White, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 7, p. 1036, 1037 [Carta 90, 1906]).

“O objetivo de Satanás era causar uma eterna separação entre a humanidade e Deus. Entretanto, em Cristo ficamos em união mais íntima com Ele do que se nunca tivéssemos pecado. Ao assumir nossa natureza, o Salvador Se ligou à humanidade por um laço que jamais se romperá. Ele estará ligado a nós por toda a eternidade. ‘Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito’ (Jo 3:16, ARC). Não O deu somente para levar os nossos pecados e morrer em sacrifício por nós, deu-O à raça decaída. Para assegurar Seu imutável conselho de paz, Deus deu Seu Filho unigênito para que Se tornasse membro da família humana, mantendo para sempre Sua natureza humana. Essa é a garantia de que Deus cumprirá Sua palavra. [...] Deus assumiu a natureza humana na pessoa de Seu Filho e a levou ao mais alto Céu. [....]. O Eu Sou é o Mediador entre Deus e a humanidade, colocando a mão sobre ambos. [...]. O Céu está abrigado na humanidade, e ela, envolvida no coração do Amor infinito” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 25, 26).

Perguntas para consideração

1. Vimos que Jesus “apresenta muitos argumentos em nosso favor”. O que isso significa para você? O que isso ensina sobre o amor de Deus por nós? Por que precisamos de Alguém argumentando em nosso favor?

2. “Em Cristo chegamos a ficar em mais íntima união com Ele do que se nunca houvéssemos pecado”. O que isso significa? Como experimentar essa proximidade?

Respostas e atividades da semana: 1. O sacerdote oferecia dons e sacrifícios pelos pecados do povo e pelos seus pecados; ele se compadecia dos ignorantes e pecadores, pois ele mesmo tinha fraquezas. Cristo é sem pecado e ofereceu a Si mesmo como sacrifício pelos pecados da humanidade. 2. Foi rei e sacerdote. A Bíblia não apresenta sua genealogia. Ele serviu como tipo de Cristo, pois Jesus também é Rei e tornou-Se Sacerdote. Jesus é eterno. A diferença é que Jesus não tinha pecado. 3. Porque Jesus não era da linhagem de Levi por meio de Arão. 4. Jesus recebeu o sacerdócio com base em uma vida que não tem fim e por possuir um ministério eterno. O sacrifício que Ele oferece é perfeito e eficaz. 5. Jesus Se tornou Fiador. 6. Santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e exaltado acima dos Céus. 

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Resumo da Lição 6
Jesus, o Sacerdote fiel

TEXTOS-CHAVES: Hb 5:1-10; Gn 14:18-20; 1Pe 2:9; Hb 7:1-3; 7:11-16, 22, 26

ESBOÇO

Temas da lição

O pecado nos separou de Deus. Porém, Cristo veio para transpor esse abismo. Para isso, Ele Se tornou nosso Sumo Sacerdote. Seu papel tem semelhanças com o dos sacerdotes humanos, mas também diferenças. Ele é chamado de Sacerdote “segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 5:6). Isso significa que Jesus Cristo é “semelhante a Melquisedeque” (Hb 7:15, NVI). Esse rei e sacerdote era um cidadão contemporâneo de Abrão. Quando uma coalizão de reis atacou Sodoma e Gomorra, eles não apenas as conquistaram, mas levaram cativo Ló, o sobrinho de Abrão. Em resposta, Abrão armou um contra-ataque e resgatou Ló e os outros cidadãos capturados dessas cidades, junto com os bens saqueados. Quando Abrão e os resgatados voltaram da batalha, Melquisedeque, rei e sacerdote de Salém, abençoou Abrão e, em troca, o patriarca deu a Melquisedeque o dízimo de todo o despojo da batalha (Gn 14). Esse Melquisedeque não era Cristo pré-encarnado, nem um ser celestial. Ele era apenas um rei e sacerdote humano, um modelo adequado para Paulo. Melquisedeque, como um tipo de Cristo, se encaixava no argumento do apóstolo. Embora não pertencesse à tribo de Levi, a tribo sacerdotal no antigo Israel, Cristo Se tornou um sacerdote eficaz e superior, pois Seu sacerdócio estava de acordo com a ordem de Melquisedeque, o rei-sacerdote de Salém. Observe que Melquisedeque recebeu o dízimo de Abrão, o que torna seu sacerdócio anterior e superior ao de Levi. Assim, seu sacerdócio tipifica apropriadamente o sacerdócio real de Cristo.

COMENTÁRIO

Qualificações sacerdotais

Hebreus 5:1-4 começa listando as qualificações do sumo sacerdote. “Cada sumo sacerdote, sendo escolhido dentre os homens, é constituído nas coisas relacionadas com Deus, a favor dos homens, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. Ele é capaz de se compadecer dos ignorantes e dos que se desviam do caminho, pois também ele mesmo está rodeado de fraquezas. Por esta razão, deve oferecer sacrifícios pelos pecados, tanto do povo como de si mesmo. E ninguém toma esta honra para si mesmo, a não ser quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão” (Hb 5:1-4).

Ao todo, são listadas doze qualidades de um sumo sacerdote em Hebreus 5:1-4. Primeiro, vem a descrição do ofício: Todo sumo sacerdote é (1) “escolhido dentre os homens”; (2) selecionado “a favor dos homens”; (3) “constituído nas coisas relacionadas com Deus”; (4) nomeado “para oferecer dons e sacrifícios”; (5) apontado para oferecer sacrifícios “pelos pecados”. Em seguida, vêm as características pessoais: (6) “É capaz de se compadecer dos ignorantes e dos que se desviam do caminho”; (7) está “rodeado de fraquezas”. Além disso, (8) “deve oferecer sacrifícios pelos pecados, tanto do povo”; (9) “como de si mesmo”. Por fim, sobre a vocação: (10) “ninguém toma esta honra para si mesmo”; (11) “a não ser quando chamado por Deus”; (12) “como aconteceu com Arão”.

Quatro características do sumo sacerdote se destacam: ele tem solidariedade para com as pessoas (qualidades 1-3), capacidade de moderar suas emoções (qualidade 6), está sujeito à fraqueza (qualidade 7) e, finalmente, tem a vocação do sacerdote (qualidade 12). Discutiremos sobre cada uma antes de voltarmos a atenção às qualificações de Cristo para essa obra.

Primeiro, o sumo sacerdote era escolhido dentre seu próprio povo. Ele devia ser um israelita (Êx 29:9, 44; Nm 18:1-7) da tribo de Levi. Arão foi nomeado como o primeiro sumo sacerdote pelo próprio Deus (Êx 28:1). Quando certos indivíduos, como Corá e seu grupo, ousaram nomear a si próprios e a outros para a posição de sumos sacerdotes, Deus os destruiu (Nm 16:15-40). O sacerdócio e suas prerrogativas não eram uma questão insignificante, como demonstrado ao rei Uzias por meio de um surto de lepra em seu próprio corpo quando forçou entrada no templo para queimar incenso no altar (2Cr 26:16-21). Curiosamente, durante o período do segundo templo, ou período intertestamentário, no final do reinado asmoneu, Salomé Alexandra assumiu o trono como rainha (76-67 a.C.), mas não o sacerdócio. Por ser mulher, não poderia ser sumo sacerdote. Então, nomeou seu filho mais velho, Ícaro II, para o cargo. Seu irmão mais novo, Aristóbolo II, não aceitou a nomeação do irmão e disputou o cargo com ele.

Portanto, observamos que o sumo sacerdote terreno sempre foi homem, escolhido do seu próprio povo. Ele também devia mostrar solidariedade, ser israelita, descendente de Arão, da tribo de Levi. Seu trabalho era representar outros seres humanos diante de Deus e oferecer dons e sacrifícios por si próprio e pelo povo. O tema da solidariedade de Cristo para conosco surge em Hebreus 2:17, 18, ressurge em Hebreus 4:14-16 e é desenvolvido posteriormente em Hebreus 5.

Em segundo lugar, o sumo sacerdote, como Hebreus o descreve, é uma pessoa capaz de moderar, ou seja, restringir sua própria emoção para com os ignorantes e os que se desviam. “Ele é capaz de se compadecer dos ignorantes e dos que se desviam do caminho, pois também ele mesmo está rodeado de fraquezas” (Hb 5:2). O sumo sacerdote ideal não era uma pessoa muito severa, mas também não era indiferente ao pecado. Ele compartilhava as responsabilidades gerais durante o ano (Êx 29:38-46); mas ele sozinho oferecia os sacrifícios no Dia da Expiação (Lv 16:1-25) e carregava o Urim e o Tumim (Êx 28:30). Ele precisava fazer todas essas coisas com autocontrole emocional.

Terceiro, embora pelo menos às vezes o sumo sacerdote devia sentir-se frustrado com os pecados cometidos por seu povo (basta lembrar a ocasião em que o sumo sacerdote Eli acusou erroneamente Ana de estar bêbada [1Sm 1:13, 14]), ele era sujeito à fraqueza. Hebreus 5:2 afirma que o sumo sacerdote estava “vestido”, ou estava “rodeado” de fraqueza por baixo de sua elaborada vestimenta externa (Êx 28). Essa distinção importava, pois sua fraqueza o capacitava a lidar com os malfeitores com brandura. Como sumo sacerdote, devia ser solidário com seu povo, conter suas emoções quando frustrado e ter a consciência de que estava sujeito ao pecado. Isso o tornava uma pessoa acessível.

Quarto, não era possível se alistar nem concorrer a esse ofício. O primeiro nomeado, Arão, foi escolhido por Deus, e ninguém estava autorizado a conferir essa honra a si mesmo. Um sumo sacerdote era aceito somente quando era divinamente convocado.

Em resumo, ele devia ser solidário com seu povo, controlar suas emoções, estar ciente de sua fraqueza e assumir o cargo somente quando era convocado por Deus.

Pergunta para reflexão: Quando a igreja aplica disciplina corretiva a alguém que comete algum erro, por que é importante mostrar solidariedade, ter autocontrole emocional e estar ciente da própria fraqueza?

Qualificações de Cristo

Em Hebreus 5:5, 6, Paulo voltou a falar de Jesus. Ele falou sobre duas das qualificações do sumo sacerdote, delineadas na seção anterior, a saber, a nomeação divina e a solidariedade para com os seres humanos.

Primeiro, Cristo não tomou essa honra para Si, foi Deus quem O designou para essa posição. Paulo mostrou isso ao ligar dois salmos. Ambos já haviam sido citados no início e no final de uma série de citações de Hebreus 1:5-14. A primeira citação é a do Salmo 2:7. O Salmo 2 é o salmo messiânico que fala sobre a designação de Jesus Cristo como o Filho adotivo de Deus. A segunda é a do Salmo 110:4 e mostra que Cristo foi chamado por Deus para ser Sacerdote. Suas atividades sacerdotais já haviam sido mencionadas no texto de Hebreus 1:3: “Depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-Se”. Paulo combinou o tema da filiação com o tema do sumo sacerdócio de Cristo. Ele é o Filho designado de Deus e o Sumo Sacerdote perfeito para os seres humanos, “segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 5:6), ou, como Hebreus 7:15 declara, “semelhante a Melquisedeque” (NVI). Como Melquisedeque, Cristo é Rei e Sacerdote. Comparado aos sumos sacerdotes levitas, Jesus Cristo é melhor, pois é capaz de lidar gentilmente com os ignorantes e rebeldes. De igual forma, Ele é capaz de “Se compadecer das nossas fraquezas” (Hb 4:15) e “socorrer os que são tentados” (Hb 2:18). O Senhor “pode salvar totalmente” (Hb 7:25) e aperfeiçoar “para sempre os que estão sendo santificados” (Hb 10:14).

A segunda qualificação de Cristo, mostrar solidariedade para com os seres humanos, é óbvia por Seu sofrimento, aprendizado de obediência e aperfeiçoamento (Hb 5:7-10).

Pergunta para reflexão: Leia Hebreus 7:23-25. Por que era necessário ter um Sumo Sacerdote melhor do que os da tribo de Levi?

 

APLICAÇÃO PARA A VIDA

Paulo descreveu Jesus como superior aos anjos por ser o Filho de Deus entronizado (Hb 1). No entanto, por um tempo, Jesus foi feito inferior aos anjos, como Aquele que, por meio de Sua morte, destruiu “aquele que tem o poder da morte”, Satanás (Hb 2). Jesus também foi descrito como Aquele que não pôde prover descanso para a geração do Êxodo devido à sua incredulidade (Hb 3), mas podia oferecer descanso para o povo de Deus pós-messiânico, conforme vemos em Hebreus 4. Jesus também é um Sacerdote semelhante, porém Ele é muito diferente dos sacerdotes levíticos (Hb 5). À luz dessas informações, qual seria a etapa seguinte para a qual Paulo desejava conduzir seu público?

Paulo queria que seus leitores avançassem na compreensão do ministério sumo sacerdotal de Cristo ao notarem a semelhança com Melquisedeque. No entanto, havia alguns obstáculos: os leitores eram preguiçosos para ouvir a palavra; precisavam de leite como cristãos imaturos, em vez de alimento sólido; eram inexperientes na palavra da justiça (Hb 5:11-14). Embora o apóstolo tenha usado termos muito fortes, ele equilibrou sua repreensão exortativa com uma declaração positiva sobre a condição espiritual deles, dizendo: “ainda que falemos desta maneira, estamos certos de que coisas melhores os esperam, coisas relacionadas com a salvação” (Hb 6:9).

Perguntas para reflexão

1. É possível que em nossa jornada espiritual precisemos prestar contas a um terceiro, além de Deus, pelo nosso progresso ou retrocesso? Comente.

2. Seria possível uma autoridade espiritual nos responsabilizar em nível coletivo, assim como Paulo responsabilizou seu público? Por quê?

3. Existem cristãos estáticos ou essa condição seria uma contradição? Explique.

 

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Provando a fé

Elizita Da Silva

Certo dia, recebi um telefonema entusiasmado da minha irmã mais nova. “Estou estudando a Bíblia e as aulas são muito boas! Venha para estudarmos juntas com os missionários!” Ouvir o entusiasmo na voz da irmã aguçou a curiosidade e me encontrei com ela e o casal de obreiros bíblicos, Yuliana e Luis. “Por favor, me ensinem sobre a Bíblia”, pedi. Eu cursava a universidade em Dili, capital de Timor-Leste. Minha irmã, Ermelinda, estava no Ensino Médio e morava na mesma cidade. Nós duas viemos de um pequeno vilarejo rural.

Estudei a Bíblia com o casal quase todos os dias. As lições bíblicas me fascinaram. Aprendi sobre o grande amor de Deus por mim. Descobri que uma forma de mostrar meu amor a Deus é honrando-O com meu corpo, inclusive comendo comidas limpas. Aprendi que uma grande demonstração de amar a Deus é guardando Seus mandamentos. “Se vocês Me amam, obedecerão aos Meus mandamentos” (João 14:15). Eu estava especialmente interessada em ler os Dez Mandamentos, nem sabia que o quarto mandamento começava com: “Lembra-Te do dia do sábado, para santificá- Lo” (Êxodo 20:8).

Quando descobri que Deus não tinha mudado o dia sagrado para o domingo, perguntei ao casal onde poderia guardar o sábado. “Eu quero guardar o sábado, mas qual igreja devo ir?” Luís respondeu: “Temos uma igreja em Dili”, Luís disse, e Yuliana acrescentou: Vocês podem ir todos os sábados.” Ermelinda e eu fomos juntas à igreja. Depois de frequentá-la por duas semanas, decidi ser batizada e me tornar membro da igreja adventista.

Nossos irmãos mais velhos ficaram furiosos quando descobriram que abandonei a denominação da família. Eles me ameaçaram e me espancaram. “Você nunca mais estudará aqui”, disse um deles. “Viemos buscá-la para voltar ao nosso vilarejo”, outro insistiu, obrigaram-me a abandonar os estudos e voltar para o vilarejo. Também me obrigaram a comer carne de porco e ir à igreja com eles aos domingos. Fiquei muito triste. Eu precisava me trancar no banheiro para ler a Bíblia e orar. Mas as ameaças e surras fortaleceram minha fé. Decidi amar a Deus com todo o coração e guardar os mandamentos.

As ameaças e violência física continuaram durante um mês. Felizmente, minha irmã mais nova conseguiu permanecer na capital. Ela me telefonou para contar que a igreja adventista havia organizado um programa de treinamento por dois meses para obreiros bíblicos. Eu queria muito ser obreira bíblica. Admirava muito o casal Yuliana e Luis, que me ensinaram a conhecer a Bíblia e queria seguir o exemplo deles. Desejava ensinar a outros sobre Deus. Um dia, decidi fugir de casa.

Depois de dois meses de treinamento, consegui me tornar obreira bíblica. Eu amava o trabalho e me dediquei a esse ministério. Orava diariamente por minha família e, especialmente, pelos meus irmãos. Passados dois anos, eu me casei com Reinaldo, um moço adventista, mas nenhum membro da família participou da cerimônia do casamento.

Graças a Deus, minha família começou a falar comigo novamente. Também sou grata a Deus por meus três filhos que agora estudam na única Escola Adventista do Timor-Leste. Por favor, orem por meus irmãos e pelo resto de minha família. Orem para que a escola seja capaz de ensinar muitas crianças sobre Jesus e Sua Palavra.

Há seis anos, as ofertas ajudaram a construir a primeira e única escola adventista na capital do Timor-Leste, Dili. Parte da oferta deste trimestre ajudará a construir um residencial para que as crianças dos vilarejos distantes das montanhas, à semelhança de Elizita, possam estudar. Desde já, agradecemos as ofertas.

 

Informações adicionais

• Peça que uma mulher compartilhe esta história na primeira pessoa.

• A foto mostra Elizita com o esposo, Reinaldo.

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• Para mais notícias do Informativo Mundial das Missões e outras informações da Divisão do Pacífico Norte-Asiático, acesse: bit.ly/ssd-2022.

 

 

Esta história ilustra os seguintes componentes do plano estratégico do “I Will Go” [Eu irei] da Igreja Adventista: objetivo de crescimento espiritual nº 5 – “discipular indivíduos e família na vida espiritual”. A construção da escola ajudará a concluir o objetivo missionário número 4 – “fortalecer as instituições adventistas na defesa da liberdade, saúde integral e esperança através de Jesus, restaurando pessoas à imagem de Deus.” Saiba mais sobre o plano estratégico em IWillGo2020.org.

 

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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º trimestre de 2022
Tema geral: Hebreus: mensagem para os últimos dias
Lição 6 – 29 de janeiro a 4 de fevereiro de 2022
Jesus, o Sacerdote fiel

Autor: Adriani Milli Rodrigues
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega

Um dos ensinamentos mais belos das Escrituras é a mediação redentiva de Cristo. Mas se esse conceito não for devidamente compreendido à luz da Bíblia, ele pode conter implicações equivocadas a respeito do Pai. Por exemplo, se o Pai nos ama, por que precisamos de um Mediador? Ele necessita ser convencido pelo Intercessor para nos perdoar? Uma das principais maneiras bíblicas de responder adequadamente a essas perguntas é por meio do estudo do sacerdócio de Cristo na Epístola aos Hebreus. De fato, esse estudo não apenas clarifica tais questões como também agrega várias ideias significativas para nossa compreensão da mediação salvífica de Cristo. O texto de Hebreus que fornece informações mais elaboradas acerca da pessoa de Jesus como Sacerdote é Hebreus 5–7, que é precisamente o foco da lição desta semana.
Como mencionado em comentários de lições anteriores, uma característica marcante da organização literária de Hebreus é a alternância entre seções de exposição doutrinária (especialmente sobre Cristo) e de aplicações práticas para a audiência. Após a exortação prática acerca da importância da fidelidade do povo de Deus e da promessa divina de descanso nos capítulos 3 e 4, conforme estudamos na lição prévia, os capítulos 5:1-10 e o capítulo 7 (a seção de 5:11–6:20 contém outra exortação) tratam da nomeação sumo-sacerdotal de Jesus. Considerando a conexão perspicaz das seções de exposição doutrinária em Hebreus, o capítulo 5 inicia como retomada do assunto final do capítulo 2, que foi seguido pela exortação dos capítulos 3 e 4. De maneira mais específica, o final do capítulo 2 menciona explicitamente o sacerdócio de Cristo pela primeira vez na epístola, mas esse sacerdócio recebe uma elaboração mais detalhada a partir do capítulo 5. A partir dessa perspectiva de conexão do capítulo 5 com a seção prévia de exposição doutrinária de Hebreus, podemos destacar pelo menos duas ideias importantes acerca do sacerdócio de Cristo:
(1) As duas características principais de Cristo como Sacerdote no final do capítulo 2 são fidelidade e misericórdia (2:17). Sua fidelidade será base para a elaboração das exortações dos capítulos 3 e 4 (veja 3:1, 2, 6), que ressaltam em contrapartida a necessidade de fidelidade do Seu povo em termos de um coração sensível à voz de Deus (que aponta para o cumprimento de Suas promessas em Cristo), ao passo que a transição do capítulo 4 para o 5 enfatiza a misericórdia de Cristo como Sacerdote (veja 4:15, 16; 5:2), cuja eficiência pressupõe Sua fidelidade (veja 4:15; 5:8; 7:26). Portanto, fidelidade e misericórdia são características fundamentais do sacerdócio de Cristo em Hebreus 5–7, que foram anunciados em 2:17. Aliás, em 2:17 essas características estão diretamente ligadas à encarnação de Cristo, visto que em Sua humanidade Ele foi fiel até o “sofrimento da morte” (2:9, 18), e essa experiência verdadeiramente humana qualifica o misericordioso socorro que Ele nos oferece (2:18).
(2) Em consonância com a ênfase primordial da epístola, que inicia suas considerações com a ideia de que Deus fala pelos eventos da vida e obra do Filho encarnado, conforme destacamos em comentários de lições anteriores, a nomeação sacerdotal do Filho é performativamente pronunciada pelo Pai. O mesmo padrão de ação performativa (uma fala que efetua/realiza algo) que caracteriza a fala divina já é mencionado no contexto da entronização celestial de Cristo no capítulo 1:5:14. Aliás, a cadeia de citações do Antigo Testamento nessa seção, que são entendidas como falas do Pai para o Filho encarnado que efetuam Sua entronização, tem início com o Salmo 2:7 e termina com o Salmo 110:1. Dada a beleza das conexões em Hebreus, o capítulo 5 retoma exatamente esses dois capítulos para explorar o sacerdócio de Cristo. O texto do Salmo 2:7 continua sendo a primeira passagem a ser usada. No caso do Salmo 110, o verso a ser citado não é mais o 1, mas o 4. Enquanto o verso 1 destaca o reinado (“Disse o Senhor ao Meu senhor: ‘Sente-se à Minha direita, até que Eu ponha os Seus inimigos por estrado dos Seus pés’”), o verso 4 enfatiza o sacerdócio (“O Senhor jurou e não voltará atrás: Você é Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”). O uso desses dois salmos em Hebreus 5:5, 6 para explicar a nomeação sacerdotal de Jesus indica que essa nomeação não deve ser separada de Sua entronização. Aliás, o próprio uso da figura de Melquisedeque, que era rei e sacerdote em Salém (Gn 14:18), no Salmo 110 reforça a conexão entre reinado e sacerdócio. Além disso, os salmos 2:7 (“O rei diz: ‘Proclamarei o decreto do Senhor. Ele Me disse: ‘Você é Meu Filho, hoje Eu gerei Você” [ênfase suprida]) e 110:1 (“Disse o Senhor ao Meu senhor: Sente-Se à Minha direita, até que Eu ponha os Seus inimigos por estrado dos Seus pés” [ênfase suprida]) e 4 (“O Senhor jurou e não voltará atrás: Você é Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” [ênfase suprida]) sublinham o caráter performativo das falas de Deus, no sentido de que Ele fala e essas palavras têm efetividade, tanto do ponto de vista régio (entronização) quanto sacerdotal (nomeação). Em outras palavras, é a ação da fala do Pai que entroniza/nomeia o Filho como Rei e Sacerdote.
A partir das duas ideias destacadas acima, temos um bom contexto para compreender a definição de sacerdócio oferecida no início do capítulo 5: “Cada sumo sacerdote, sendo escolhido dentre os homens, é constituído nas coisas relacionadas com Deus, em favor dos homens, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados” (Hb 5:1). Ao passo que a ideia de escolha (“escolhido dentre os homens”) e a natureza geral de seu trabalho (“constituído nas coisas relacionadas com Deus, a favor dos homens”) seja trabalhada nos capítulos 5–7, a especificação do seu trabalho (“para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados”) é elaborada nos capítulos 8–10, com a repetição introdutória da fórmula do sacerdócio de 5:1 em 8:3.
A noção de ser “escolhido dentre os homens” ressalta a importância da humanidade do sacerdócio. Cristo não encarnou apenas para morrer em nosso lugar, mas para que, por meio da fidelidade que O levou até a morte, Ele pudesse interceder por nós de maneira misericordiosa. Essa misericórdia é não somente divina, mas também humana. Sua fidelidade é completamente isenta de pecado (4:15; 7:26-28) e, por isso, Ele tem condições de interceder por nós para nossa salvação (7:25). Desse modo, Sua obediência fiel não representa um aperfeiçoamento no sentido moral, mas uma qualificação pessoal para o sacerdócio (5:7-10).
Ademais, a ideia de ser escolhido significa que o sacerdote não pode nomear a si mesmo, e esse ponto se relaciona com a nomeação divina, que no caso de Cristo se expressa em termos da fala do Pai na nomeação do Filho. Essa nomeação explica como é possível o Cristo encarnado ser Sacerdote, se Ele não é da tribo de Levi (7:11, 14). Essa mudança da lei acerca da ordem do sacerdócio (7:12) é uma mudança da ordem levítica para a ordem de Melquisedeque. Mas a ordem de Melquisedeque é anterior à ordem de Levi (7:4-10), e as Escrituras previram o surgimento futuro dessa ordem (Sl 110:4). Aliás, não foi Cristo que foi feito semelhante a Melquisedeque, mas a própria figura Melquisedeque, em Gênesis 14, foi feita “semelhante ao Filho de Deus” (7:3), isto é, já funcionava como tipo para o sacerdócio real de Cristo.
À luz desse entendimento da nomeação do Pai, podemos retornar às questões iniciais de nosso comentário: o Pai de amor necessita ser convencido por um Intercessor para nos perdoar? Não, muito pelo contrário. Embora o perdão precise ser mediado porque ele é concedido nos termos de uma aliança (esse é um conceito para trabalharmos no comentário de lições futuras), é porque o Pai nos ama que Ele nomeou para nós o eterno e mais perfeito Sacerdote. Que privilégio termos esse fiel e misericordioso Sumo Sacerdote!

Conheça o autor dos comentários para a Lição deste trimestre: Adriani Milli Rodrigues é o coordenador da graduação em Teologia no Centro Universitário Adventista de São Paulo. Possui doutorado (Ph.D) em Teologia Sistemática na Andrews University (EUA) e mestrado em Ciências da Religião pela Umesp. Natural do Espírito Santo, ele trabalha no Unasp desde 2007. É casado com a professora Ellen e tem uma filha, a Sarah, de 7 anos.

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