José era então o líder do Egito, e seus próprios irmãos se curvaram diante dele sem saber quem ele era (Gn 42). Os irmãos de José se humilharam quando ele os forçou a voltar com Benjamim (Gn 43) e, quando temeram que a segurança de Benjamim estivesse ameaçada (Gn 44), imploraram por graça diante daquele homem poderoso, a quem viam como “o próprio Faraó”. Quando José revelou sua identidade, entenderam que, apesar do que haviam feito, Deus reverteu tudo em bem.
Curiosamente, toda a seguinte sequência de eventos, que deveria ser sobre o sucesso de José, fala mais sobre o arrependimento de seus irmãos. Suas viagens de ida e volta, de José até o pai, e os obstáculos que encontraram fizeram com que se lembrassem de sua maldade para com José e Jacó; eles então perceberam sua iniquidade para com Deus. Os irmãos de José viveram toda essa experiência como um juízo divino. No entanto, a conclusão comovente, que levou todos às lágrimas e alegria, também continha uma mensagem de perdão para eles, apesar de seus atos injustificáveis de maldade.
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Para José, os sonhos de Faraó revelavam o que Deus estava prestes a fazer na terra (Gn 41:28). José, no entanto, não pediu a Faraó que acreditasse no seu Deus. Em vez disso, a resposta imediata de José foi a ação. Ele propôs um programa econômico. A parte econômica do discurso de José foi mantida por Faraó, que estava interessado nessa estratégia que salvaria o Egito quando se cumprisse o significado espiritual do sonho dado por Deus.
1. Leia Gênesis 41:37–57. Qual é o lugar de Deus no êxito de José?
Faraó indicou José para assumir o comando não apenas porque tivesse interpretado corretamente seus sonhos e revelado o futuro problema da terra, mas porque tinha uma solução para esse problema, porque seu “conselho agradou a Faraó” (Gn 41:37), opinião também compartilhada pelos servos do regente. A escolha de Faraó parece ter sido mais pragmática do que religiosa. E ainda, ele reconheceu que a presença do “Espírito de Deus” (Gn 41:38) estava em José, que foi qualificado como “ajuizado e sábio” (Gn 41:39), expressão que caracteriza a sabedoria que Deus dá (ver Gn 41:33; compare com 1Rs 3:12).
Todos os detalhes relatados no texto bíblico se encaixam na situação histórica do Egito naquela época. Politicamente, o fato de Faraó ter nomeado José como vizir (governador) não era incomum no antigo Egito, onde se atestaram casos semelhantes.
Os sete anos seguintes foram de abundância de tal forma que a produção de grãos se estendeu “além das medidas” (Gn 41:49), sinal de providência sobrenatural. A comparação “como a areia do mar” (Gn 41:49) revela que essa era a bênção de Deus (Gn 22:17). José refletiu pessoalmente essa bênção em sua fecundidade, uma coincidência que evidenciou a presença de Deus por trás dos dois fenômenos. Os nomes dos filhos de José mostravam a providência divina na sua vida, que transformou a memória da dor em alegria (Manassés) e a antiga aflição em benção (Efraim). Que exemplo poderoso de como Deus transformou algo ruim em algo muito bom!
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A fome obrigou Jacó a enviar seus filhos ao Egito para comprar grãos. Ironicamente, foi Jacó quem iniciou o projeto de comprar os cereais (Gn 42:1). O infeliz ancião, vítima de circunstâncias além de seu controle, sem saber pôs em movimento uma incrível cadeia de eventos que o levaria a se reencontrar com o filho por quem havia chorado durante tanto tempo.
O caráter providencial desse encontro é destacado por meio de duas circunstâncias fundamentais: primeiro, ele é visto como uma realização dos sonhos de José. O evento previsto nos seus sonhos proféticos (“os feixes de vocês [...] se inclinavam diante do meu” [Gn 37:7]) estava acontecendo. José foi identificado como “governador daquela terra” (Gn 42:6) e “senhor da terra” (Gn 42:30, 33). Sua posição poderosa contrasta com a de seus irmãos necessitados, que “se prostraram com o rosto em terra, diante dele” (Gn 42:6), os mesmos dez irmãos que zombaram de José sobre seu sonho e duvidaram de sua realização (Gn 37:8).
Em segundo lugar, esse encontro providencial é descrito como uma resposta. As semelhanças linguísticas e temáticas entre os dois eventos destacam o caráter de justa retribuição. A frase “disseram entre si” (Gn 42:21) também foi usada quando começaram a conspirar contra José (Gn 37:19). A estada dos irmãos na prisão (Gn 42:17) relembra a de José (Gn 40:3, 4). Na verdade, seus irmãos relacionaram o que estava acontecendo com eles com o que haviam feito, talvez 20 anos antes. “Então disseram entre si: – Na verdade, estamos sendo castigados por causa de nosso irmão, pois vimos a angústia de sua alma, quando nos pedia, e não lhe demos ouvidos; por isso, nos sobrevém agora esta ansiedade” (Gn 42:21).
Rúben disse: “O sangue dele está sendo requerido de nós” (Gn 42:22). Essas palavras relembraram sua advertência anterior: “Não derramem sangue” (Gn 37:22), e reforçaram a ligação entre o que estavam enfrentando e o que tinham feito.
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Jacó não poderia permitir facilmente a partida de Benjamim, seu único filho com Raquel que permanecia com ele. Tinha medo de perdê-lo, pois já havia perdido José (Gn 43:6-8). Somente quando não havia mais alimento (Gn 43:2) e quando Judá se comprometeu a garantir o retorno de Benjamim (Gn 43:9), Jacó finalmente consentiu em uma segunda visita ao Egito e permitiu que Benjamim fosse com seus irmãos
3. Que efeito teve a presença de Benjamim no curso dos eventos? Gn 43
A presença de Benjamim dominou os eventos. Quando todos os irmãos estavam diante de José, ele foi a única pessoa que José viu (Gn 43:16) e o único chamado “irmão” (Gn 43:29). Enquanto Benjamim é chamado pelo nome, todos os outros não são identificados; são simplesmente chamados de “homens” (Gn 43:16).
José chamou Benjamim de “meu filho”, como uma expressão reconfortante de afeto especial (Gn 43:29; compare com Gn 22:8). A bênção de José referia-se à “graça” (Gn 43:29), uma reminiscência de seu pedido de graça, o qual não foi atendido (Gn 42:21). José deu a Benjamim a graça que ele não recebeu de seus outros irmãos.
Enquanto os irmãos de José temiam ser presos por causa do dinheiro devolvido, José preparava um banquete para eles por causa da presença de Benjamim. É como se ele tivesse um efeito redentivo sobre a situação. Quando todos os irmãos estavam assentados de acordo com a idade e respeitando as regras de honra, Benjamim, o mais jovem, foi servido cinco vezes mais do que os outros (Gn 43:33, 34). No entanto, esse favoritismo não os incomodou, como acontecia quando José era o favorito de seu pai, o que levou a suas ações terríveis para com seu meio-irmão e seu pai (Gn 37:3, 4).
“Por esse sinal de favor para com Benjamim, esperava averiguar se o irmão mais novo era olhado com a inveja e o ódio que haviam sido manifestados para com ele. Ainda supondo que José não compreendia sua língua, os irmãos conversavam livremente uns com os outros. Assim ele teve uma boa oportunidade de conhecer seus verdadeiros sentimentos. Ainda desejava prová-los mais e, antes de sua partida, ordenou que seu próprio copo de prata fosse escondido no saco de mantimentos do mais novo” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 187, 188 [228, 229]).
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4. Leia Gênesis 44. Por que José colocou o copo de adivinhação no saco de mantimentos de Benjamim e não no de outro irmão?
Essa história é paralela à anterior. Como antes, José deu instruções específicas; e, mais uma vez, encheu os sacos com alimento. Dessa vez, no entanto, José adicionou a estranha ordem para colocar seu precioso copo no saco de mantimentos de Benjamim.
Os eventos tomaram um curso diferente. Na viagem anterior, os irmãos voltaram a Canaã para levar Benjamim com eles. Agora, eles precisavam voltar ao Egito para enfrentar José. Na situação anterior todos os irmãos encontraram a mesma coisa nos sacos. Dessa vez, Benjamim foi apontado como aquele que tinha o copo de José. Inesperadamente, Benjamim, que sendo convidado de honra teve acesso à taça de José, tornou-se suspeito de ter roubado aquele artigo precioso. Ele iria para a prisão.
O fato de José ter usado um copo de adivinhação não significava que acreditasse nisso. “Nunca havia pretendido o poder de adivinhação, mas queria fazê-los crer que podia ler seus segredos” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 188, 189 [229]).
O cálice mágico foi para José um pretexto para evocar o domínio sobrenatural e, assim, despertar em seus irmãos o sentimento de culpa para com Deus. Foi assim que Judá interpretou a mensagem implícita de José, porque ele se referiu à iniquidade que Deus encontrou neles (Gn 44:16). Além disso, o roubo do copo precioso justificaria uma punição severa e, assim, poria à prova o pensamento dos outros irmãos.
A intensidade da emoção dos irmãos e sua reação são significativas. Estavam todos unidos na mesma dor, temendo por Benjamim, que estaria perdido como José, e como ele se tornaria escravo no Egito, embora fosse também inocente. Por isso, Judá se ofereceu para ser levado como escravo “em lugar” de Benjamim (Gn 44:33), assim como o carneiro foi sacrificado “em lugar” do inocente Isaque (compare com Gn 22:13). Judá se apresentou como um sacrifício, uma substituição, cujo propósito era justamente enfrentar aquele “mal” que assolaria seu pai (Gn 44:34).
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5. Leia Gênesis 45. Que lições de amor, fé e esperança podemos encontrar nessa história?
Foi naquele exato momento, em que Judá falou sobre o “mal” que cairia sobre ‘avi, “meu pai” (Gn 44:34), que José “gritou” (Gn 45:1) e então “se deu a conhecer” aos irmãos. Essa expressão, muitas vezes usada para se referir à autorrevelação de Deus (Êx 6:3; Ez 20:9), sugere que foi Deus quem Se revelou ali. Ou seja, o Senhor mostrou que Sua providência reina, mesmo apesar das fraquezas humanas.
Os irmãos de José não podiam acreditar no que estavam ouvindo e vendo. Assim, José foi obrigado a repetir: “Eu sou José, o irmão de vocês” (Gn 45:4), e somente na segunda vez, quando ouviram as palavras precisas, “que vocês venderam para o Egito” (Gn 45:4), foi que acreditaram.
José então declarou: “Deus me enviou” (Gn 45:5). Essa referência a Deus tinha um duplo propósito. Não servia somente para tranquilizar seus irmãos e mostrar que José não abrigava sentimentos ruins em relação a eles, mas era também uma profunda confissão de fé e uma expressão de esperança, porque o que tinham feito foi necessário para o “grande livramento” e a sobrevivência de um “remanescente” (Gn 45:7).
José então exortou seus irmãos a ir para seu pai a fim de prepará-lo para vir ao Egito. Ele proferiu palavras específicas sobre o lugar em que habitariam, isto é, Gósen, famoso por seu rico pasto, “o melhor da terra” (Gn 45:18, 20). Também cuidou do transporte: foram fornecidas carretas, o que convenceria Jacó de que seus filhos não mentiram para ele sobre o que acabaram de vivenciar (Gn 45:27). Jacó considerou essa demonstração visível como evidência de que José estava vivo, e isso era o suficiente para que voltasse a viver (compare com Gn 37:35; Gn 44:29).
Tudo ficou bem. Os 12 filhos de Jacó estavam vivos. Jacó então era chamado “Israel” (Gn 45:28), e a providência divina havia sido manifestada de maneira poderosa.
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Leia, de Ellen G. White: Patriarcas e Profetas, p. 174-182 [213-223] (“José no Egito”); p. 183-194 [224-232] (“José e seus irmãos”).
“Os três dias de confinamento foram de amarga tristeza para os filhos de Jacó. Eles refletiram sobre seu procedimento errado no passado, especialmente sua crueldade para com José. Sabiam que, se fossem condenados como espiões e não pudessem apresentar provas da sua inocência, todos teriam que morrer ou se tornar escravos. Duvidavam de que qualquer esforço deles pudesse levar seu pai a consentir que Benjamim se afastasse dele, após a morte cruel, como imaginava, que José havia sofrido. Tinham vendido José como escravo e temiam que Deus planejasse puni- los, permitindo que se tornassem escravos. José imaginava que seu pai e as famílias de seus irmãos pudessem estar sofrendo por causa da fome, e ele estava convencido de que seus irmãos tinham se arrependido do tratamento cruel que lhe haviam dado e que de forma nenhuma tratariam Benjamim como o trataram” (Ellen G. White, Spiritual Gifts, v. 3, p. 155, 156).
“José estava satisfeito. Provou seus irmãos e viu neles os frutos do verdadeiro arrependimento dos seus pecados” (Ellen G. White, Spiritual Gifts, v. 3, p. 165).
Perguntas para consideração
1. José teria sido tão gentil com seus irmãos se não tivesse alcançado sucesso? Há indícios na história de José que revelam o caráter dele e que explicam sua bondade?
2. Podemos ver em José uma espécie de precursor de Cristo e do que Cristo sofreu?
3. José havia posto seus irmãos à prova. De que maneira semelhante Deus nos prova?
4. Depois de muitos anos, os irmãos perceberam sua culpa pelo que fizeram a José. O que isso ensina sobre o poder da culpa? Embora sejamos perdoados e aceitemos o perdão de Deus, como perdoar a nós mesmos, apesar de não merecermos o perdão?
Respostas e atividades da semana: 1. Deus dava sabedoria a José, e ele confiava em Deus, mesmo nos momentos difíceis. Deus o honrou. 2. Os irmãos de José tiveram que ir ao Egito para comprar cereais, devido à fome na terra. José os reconheceu e lembrou-se do sonho que tivera. 3. Teve um efeito redentivo. Com a presença de Benjamim, o coração de José se enterneceu, e ele pôde provar seus irmãos. 4. Porque José queria ver se seus irmãos agiriam com Benjamim da mesma forma que agiram com ele no passado. 5. Os irmãos de José demonstraram arrependimento pelo que haviam feito a ele no passado. O amor que sentiam pelo pai e por Benjamim fez com que José os perdoasse. José mostrou a eles perdão ao afirmar a providência divina em todos os eventos de sua vida e dizer que tudo tinha que ter acontecido daquela forma para que houvesse esperança de sobrevivência a todos eles.
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TEXTO-CHAVE: Gn 41:41
FOCO DO ESTUDO: Gn 41:37–45:28; Rm 5:7-11
ESBOÇO
Introdução: José não apenas explicou ao Faraó o significado de seu sonho, que dizia respeito ao futuro problema político e econômico do Egito – ele também lhe apresentou a solução. José não se contentou apenas com a revelação dos planos divinos, tampouco foi passivo, esperando que Deus fizesse outro milagre. Ele sugeriu ao Faraó que designasse um “homem ajuizado e sábio” (Gn 41:33) para administrar a complexa operação de preparação para a fome. Palavras semelhantes foram usadas para qualificar a sabedoria que Deus deu a Salomão (1Rs 3:12) a fim de o ajudar a governar o país (1Rs 3:9). Somente a orientação divina poderia ajudar a resolver o problema iminente. Além dessa lição espiritual, José ofereceu um curso de economia e deu detalhes específicos sobre o método e a estratégia necessária para ajudar o Egito a sobreviver à fome. O Faraó entendeu, então, que José não era apenas um sonhador; era também um homem de sabedoria prática e que sabia o que fazer, bem como um homem de ação que podia implementar a estratégia certa para salvar o país.
Portanto, o Faraó decidiu nomear José como o homem encarregado de todo o Egito e deu a ele todo o poder de que precisava para esse propósito. Depois de todas as provações que José teve que suportar, essa história de sucesso deve inspirar admiração por esse herói bíblico. No entanto, o foco da narrativa bíblica não é José. O final feliz não é sobre sucesso, mas sobre arrependimento, perdão e a presença invisível de Deus no curso da história.
COMENTÁRIO
José, grão-vizir (primeiro-ministro) do Egito
O fato de que a sabedoria excepcional de José desempenhou um papel na decisão do Faraó de nomeá-lo como o grão-vizir da terra estava em harmonia com o costume egípcio de escolher os vizires de preferência entre os homens sábios (ver, por exemplo, os casos de Ptahhotep e Kagemni, que eram vizires e a quem são atribuídas grandes obras de literatura sapiencial). O escopo de seu governo, sobre toda a terra do Egito (Gn 41:41), sugere que José foi nomeado o novo grão-vizir.
Casos de vizires estrangeiros e até mesmo hebreus são atestados ao longo da história egípcia. As responsabilidades do vizir eram consideráveis; ele era o administrador encarregado da justiça legal e o administrador da região. O fato de José ser colocado sobre toda a terra confirma que esse vizir pertence ao Médio Império ou ao Segundo PeríodoIntermediário, quando esse oficial poderia ser selecionado com base em sua sabedoria (Gn 41:39). Em contraste com outros períodos, durante o Segundo Período Intermediário sob o governo dos hicsos, os vizires eram mais poderosos e ofereciam mais estabilidade, apesar de reinados curtos.
A descrição da investidura de José pelo Faraó se encaixa no contexto egípcio. O “anelsinete” (Gn 41:42), que é chamado no texto hebraico de tabba’at, designa o sinete ou selo egípcio, djeba’ot, uma palavra derivada de djeba’, que significa “dedo”, referindo-se à sua posição ao redor do dedo. Esse anel de sinete conferia total autoridade a José para assinar todos os documentos oficiais em nome do rei. O termo hebraico shes, que designa as “roupas de linho fino” (Gn 41:42), é egípcio e se refere ao tecido de linho, que era o principal tecido usado para roupas no Egito antigo. O colar ao redor do pescoço de José (Gn 41:42) se refere ao colar em que pendia o símbolo de Maat, representando equidade e caracterizando a função do “grão-vizir”, palavra turca (derivada do árabe) para ministro-chefe de estado. A classificação de segundo (Gn 41:43) é atestada no antigo Egito como o título do grão-vizir, que era chamado de “o segundo do rei”. A cerimônia do grão-vizir, que envolvia alguém andando em uma carruagem, precedida por pessoas chamando a atenção para sua passagem (Gn 41:43), também era um costume egípcio. A palavra ‘abrek (geralmente traduzida como “ajoelhem-se”) que é usada em nosso texto não é hebraica, mas egípcia. Em egípcio, a palavra ‘abrek significa “atenção”, “abrir caminho” (NVI). Além disso, o Faraó deu a José um nome honorífico para marcar a distinção especial atribuída à sua nova função. O nome egípcio que José recebeu, Zafenate-Paneia (Gn 41:45), corresponde à seguinte transliteração egípcia: djf n t’ pw ‘nkh, que significa “alimento da terra, isso é vida”.
Esse significado não apenas relembra a situação naquele momento, mas também se encaixa no contexto histórico do antigo Egito naquela época, porque o uso do componente introdutório djf (“comida”) é atestado em nomes de altos funcionários das dinastias treze e quatorze, imediatamente anteriores ao governo dos hicsos. O Faraó também deu a José uma esposa egípcia, filha do “sacerdote de Om”, uma das figuras religiosas mais prestigiadas do Egito (Gn 41:45). José então foi bem aceito em todas as sociedades egípcias e podia visitar todos os lugares do país (Gn 41:45, 46).
José encontrou seus irmãos
Após 20 anos, José se encontrou novamente com seus irmãos. Ele tinha 17 anos quando os havia visto pela última vez e 30 anos quando se tornou grão-vizir do Egito. Sete anos depois, no início do período de fome, ele tinha 37 anos. Foi nesse tempo que foram realizados seus sonhos sobre seu pai e seus irmãos se curvando diante dele (Gn 37:7-10). A realização dos sonhos de José se desenvolveu em três fases, porque seus irmãos visitaram o Egito e se encontraram com ele três vezes. O primeiro encontro ocorreu com apenas dez dos irmãos (Gn 42), aqueles que questionavam seus sonhos e o odiavam por causa deles (Gn 37:8, 19). Eles então se curvaram diante de José pela primeira vez (Gn 42:6). O segundo encontro ocorreu com os dez irmãos e com seu irmão mais novo, Benjamim (Gn 43–45); todos eles se curvaram diante de José duas vezes (Gn 43:26, 28). O terceiro encontro ocorreu com Jacó, quando ele foi pela primeira vez ao Egito (Gn 46–47).
José revelou sua identidade
Vinte e dois anos se passaram desde o momento em que José, com 17 anos, contou pela primeira vez seus sonhos aos irmãos e ao pai, até o momento em que, com 39 anos, se deu a conhecer aos irmãos. A expressão “se deu a conhecer” contém uma alusão velada a Deus. A única outra ocorrência dessa forma verbal no AT refere-se à revelação de Deus de Si mesmo a Moisés (Nm 12:6). O uso dessa forma sugere que, ao se dar a conhecer a seus irmãos, José seria o meio pelo qual Deus se revelaria a eles.
José deve ter notado a apreensão deles com a revelação de que era seu irmão, porque repetiu uma segunda vez: “Eu sou José” (Gn 45:3, 4). Os irmãos ficaram preocupados. Eles podiam até ter dúvidas sobre a afirmação de José, pois ele não forneceu mais informações do que as que os seus irmãos transmitiram a ele. Tudo isso parecia suspeito, principalmente considerando as experiências mais recentes que tiveram com esse homem. Estavam preocupados com a vida deles, e por isso José repetiu uma segunda vez: “Eu sou José”, mas desta vez ele foi mais preciso e acrescentou uma informação que ninguém conhecia, exceto seus irmãos: “o irmão de vocês, que vocês venderam para o Egito” (Gn 45:4). Em seguida, acrescentou que foi Deus quem o “enviou”. Deus o enviou adiante de seus irmãos com um propósito específico: “preservação da vida” (Gn 45:5). José sugeriu que era necessário que eles o vendessem para garantir sua sobrevivência. Assim, os irmãos pensaram que haviam vendido seu irmão, ao passo que, na verdade, era Deus quem estava liderando a operação.
A fórmula “pai de Faraó” (Gn 45:8) reflete o título egípcio itf-ntr, que significa literalmente “pai de Deus”, referindo-se ao Faraó como um deus. José não usou a expressão como na língua egípcia por medo de soar blasfemo para seus irmãos. Esse era um título sacerdotal que pertencia aos mais altos oficiais, incluindo vizires, como Ptahhotep, vizir de Isesi (2675 a.C.). O outro título de José, “governador em toda a terra do Egito” (Gn 45:8), refere-se ao seu governo sobre todo o país das duas terras (Alto e Baixo Egito) e reflete outro título egípcio, nb t3 wy, “Senhor das duas terras”, que era um título oficial permanente do representante do Faraó. Observe que a forma dual da palavra hebraica mitsrayim, para “Egito”, reflete as duas divisões do país. A ênfase de José em sua posição no Egito era intencional: enfatizava sua posição extraordinária, lembrando assim a seus irmãos do sonho que o retratava como governante a quem todos (incluindo seu pai) se curvariam (Gn 37:9). Aludindo ao sonho, José estava usando a realização dele como um argumento implícito para a providência divina.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
José, grão-vizir do Egito. Compare José e Daniel como estadistas. De que maneira esses dois homens servem de modelo para pessoas piedosas que se envolvam na política? Quais são as qualidades de José em comparação com os políticos modernos? Por que seria difícil para um adventista do sétimo dia se tornar um primeiro-ministro hoje? Que motivação levou José a se tornar um líder? Que lições de gestão podemos aprender com seu método? Em classe, discuta as aplicações práticas dessas lições na vida familiar, no trabalho e na igreja.
José encontrou seus irmãos. Por que e como o cumprimento da profecia afeta suas escolhas éticas? Discuta a relação entre o modo como você se comporta na vida diária e sua consciência do tempo do fim. Por que a esperança no reino de Deus deve inspirar a maneira pela qual você trata os outros? Discuta a cena do encontro entre José e seus irmãos. Imagine que sentimentos José deve ter tido. Quais devem ter sido seus sentimentos quando viu seus irmãos e seu pai se curvarem diante dele? Como você deve considerar seus inimigos quando perceber que eles falharam e você teve sucesso?
José revelou sua identidade. Que lições de reconciliação podemos aprender com a atitude de José? Como José poderia ter reagido se ele não tivesse superado suas dificuldades?
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Uma razão para viver
Embora nascido e criado em família cristã, em Luanda, Angola, eu nunca quis ir à igreja. Na minha infância, fiz todo o possível para evitar frequentar as aulas de religião porque isso significava que precisaria me preparar para o batismo. Como um pré-adolescente, era apaixonado pelo rock. Eu copiava o jeito de vestir e o estilo de vida dos roqueiros. Ao mesmo tempo, fiquei fascinado com os símbolos satânicos. Eu associava os símbolos à superioridade e rebelião; então decidi tatuá-los por todo meu corpo.
No Ensino Médio, meu melhor amigo era um gótico. Eu adorei esse estilo, usando roupas pretas e pintava a unha de preto. Meu amigo também amava rock, ele decorava o quarto com pôsteres de rock e símbolos satânicos. Em pouco tempo, comecei a usar bebidas alcóolicas e maconha, defendia o ateísmo e declarava abertamente que Jesus era um mito. Na adolescência, comecei a tocar rock e conheci um músico que declarava ter um pacto com o diabo. Gostei da ideia e, certa noite, falei com Satanás que poderia ter minha alma em troca de sucesso musical.
Mas, então minha vida desmoronou. Minha mãe morreu abruptamente, e meu pai, alcóolatra, passou a beber ainda mais. Sendo o mais velho de quatro irmãos, a responsabilidade de cuidar da família caiu sobre mim. Eu me sentia sufocado sob uma carga de problemas que pareciam impossíveis de solucionar. Em meio à crise, fiz uma promessa a mim mesmo de nunca beber ou fumar novamente. Passei a orar a Deus e abandonei a música. Comecei a sair com uma jovem que me apresentou a igreja adventista e frequentamos os cultos divinos.
Depois que nos separamos, reconectei aos meus antigos amigos e velhos hábitos. Entretanto, não estava feliz. Muitas noites adormecia embriagado ou drogado com maconha. Pensamentos suicidas enchiam minha cabeça. Minha vida parecia sem rumo ou propósito. Angustiado, chorei. Lembrei-me de Deus e orei pedindo ajuda. Sentia que estava morrendo e que sobrava poucos dias para viver. Contei à minha nova namorada sobre minhas aflições e ela mencionou um primo, que retornara recentemente a Angola após graduar-se em psicologia. Ele também havia se tornado adventista enquanto estudava no exterior. Durante a terapia, o primo aconselhou a reconstruir minha vida com Deus e explicou como fazê-lo.
Resolvi colocar Deus em primeiro lugar na vida e comecei a desenvolver hábitos saudáveis. A oração se tornou um hábito antes de tomar qualquer decisão, pois buscava somente a vontade de Deus. Enquanto a oração tornava parte regular da minha vida, ganhei coragem de sonhar novamente. Encontrei um motivo para viver.
Lembrei-me de minha antiga namorada adventista e decidi voltar à igreja. Eu me perguntava como me sentiria nos cultos de sábado. O sentimento que tive me surpreendeu. No momento em que coloquei o pé na igreja, desejei ser batizado. Após o culto, matriculei-me imediatamente na classe batismal. Diferentemente de quando era um garotinho, agora queria aprender o significado do batismo e me preparar para esse momento. Durante a classe batismal, aprendi pela primeira sobre Jesus e o plano da salvação. A realidade do amor de Jesus aumentou o desejo de entregar meu coração a Ele através do batismo.
Hoje, posso dizer que, finalmente, sou livre. Vivo um dia após outro, saboreando a verdadeira paz e alegria incríveis. Finalmente, tenho um propósito e responsabilidade na vida: conduzir pessoas ao nosso Salvador e Criador. Antes usava minha influência para conduzir pessoas ao inferno, mas hoje uso, com a ajuda de Cristo, para conduzir pessoas ao Céu.
Parte da oferta trimestral ajudará a inaugurar uma Escola Adventista em minha cidade natal, Luanda, Angola. Muito obrigado pelas generosas ofertas.
Informações adicionais
- Peça que um homem apresente esta história na primeira pessoa.
- Faça o download das fotos no Facebook: bit.ly/fb-mq.
- Para mais notícias do Informativo Mundial das Missões e outras informações sobre a Divisão Sul-Africana Oceano Índico: bit.ly/sid-2022.
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 2º Trimestre de 2022
Tema Geral: Gênesis
Lição 12 – 11 a 18 de junho de 2022
José, príncipe do Egito
Autor: Wilian S. Cardoso
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega
José era agora um governante no Egito. De escravo a prisioneiro injustiçado, Deus o ressuscitou do cárcere para ocupar um dos acentos mais poderosos de todo mundo antigo. Mas, como José viu no sonho, a terra estava prestes a passar por sete anos de fome. E isso não envolvia apenas o Egito, mas incluía igualmente a terra de Canaã, onde a família de José morava. E precisamente por conta dessa situação, os irmãos de José agora viajaram ao Egito em busca de suprimentos, deixando em casa o irmão mais novo. Quando chegaram ao país, imediatamente José os reconheceu, mas eles não perceberam quem ele realmente era. José aplicou vários procedimentos astuciosos sobre eles a fim de testá-los e aferir se o caráter deles havia mudado ou permanecido o mesmo.
Apesar dos truques de José soarem como sádicos, por outro lado, foi necessária muita maturidade em uma pessoa para ter a percepção de que tudo podia ter mudado. Veja que, de forma natural, em geral, tendemos a enclausurar as pessoas em nossos preconceitos. Tecnicamente na axiologia, que é o estudo dos valores, isso é conhecido como juízo de valor. Infelizmente, o juízo de valor humano geralmente está calibrado a partir de um ponto de vista pejorativo, o que nos conduz a fazer discriminações e julgamentos injustos sobre fatos ou pessoas. Com José, portanto, aprendemos que devemos ser lentos em julgar.
Os irmãos de José tinham errado no passado e, portanto, eram culpados. Ele tinha provas experimentais e memoriais de que eles eram homens criminosos e ele podia buscar a vingança contra eles. No entanto, antes de ativar seu juízo de valor e condenar seus irmãos, José deixou de lado o passado e preferiu dar o benefício da dúvida. Deus nos deu a condição de julgar. Na verdade, sem esse atributo não conseguiríamos nos relacionar com a realidade. Mas, precisamos entender que, no processo de julgamento e avaliação, só existe Um que é infalível na execução das sentenças: nosso grande e poderoso Criador.
Para julgar a realidade que nos cerca, precisamos usar como base e como parâmetro os valores de Deus, os conceitos encontrados na Sua Palavra e nossa própria experiência com Ele. José não usou seu poder político como instrumento de vingança, mas, sabiamente, agiu com amor e misericórdia, da mesma forma que Deus agia para com ele (Gn 39:5).
Ao ser pego, Benjamin foi ameaçado de prisão. Mas (e aqui surgiu a cena mais importante de todas), Judá intercedeu, implorando a José que o deixasse tomar o lugar de seu irmão mais novo. O mesmo que no passado havia instigado a venda de José, agora foi aquele que impediu a condenação do outro irmão, a ponto de oferecer sua própria vida. A cena é tão impactante para nós leitores, e muito mais para os personagens que a viveram, que o próprio José não conteve a emoção, revelando sua verdadeira identidade.
Agora, é importante prestar atenção aos detalhes. Eles são reveladores. Os truques executados por José são elementos centrais no relato. De certa forma, são essas ações induzidas por José que levam seus irmãos à percepção de que os erros do passado levam a consequências e que devem ser respondidas diante de Deus com genuíno arrependimento e perdão. Como José, Deus trabalhou através de “truques” (os sonhos de José, Gn 37:5-9; o homem que ele encontrou pelo caminho e lhe indicou a direção para seu fatídico destino, Gn 37:15; a caravana que passou precisamente quando ele estava preso em um poço, Gn 25; o copeiro que mais tarde seria como link entre José e o Faraó, Gn 40:14; etc.). Esses truques foram usados para conduzir José à posição de destaque a fim de não apenas salvar a si mesmo e ao Seu povo escolhido, mas também toda a terra durante aquele período de fome. Então aqui, no grande reencontro entre os irmãos, é como se José, semelhante a Deus, ajustasse os ambientes para conduzir seus irmãos à reflexão sobre seus atos e, consequentemente, ao arrependimento. E, de fato, os irmãos passaram por uma mudança moral nesse processo. Eles foram do ato cruel de vender seu irmão como escravo à disposição de se venderem como escravos para salvar seu irmão.
Essa dinâmica de contrastes apresentada no texto nos revela que Deus não manipula a História, mas, ao mesmo tempo, Ele interfere nela visando a levar-nos a um encontro real com Ele. É como aquele velho conceito popular de que os sinais de Deus estão por toda parte. Eles são vistos agora mesmo, no que você fez hoje ou ainda fará amanhã, ou depois, e sempre. Deus não descansa de tentar salvar-nos a cada momento, tenhamos consciência disso ou não. Mas, Ele espera que em algum momento sejamos despertados para a verdade da Sua presença e de que Ele realmente possui um plano para salvar cada um de nós. Tudo que precisamos é deixar que Ele nos conduza pelos detalhes da Sua mão que vai tocando nossa história, de modo que nossos olhos se abram para o fato de que Ele está conosco todo o tempo (Gn 39:2, 3).
O que vemos aqui, portanto, é que Deus supervisionou as boas e as más escolhas feitas individualmente pelos personagens da história a fim de suscitar delas um bem maior. Em outras palavras, Deus está no controle da História a despeito de nossas ações e decisões, sejam elas certas ou erradas. O plano maior de Deus para a criação se cumprirá. As promessas feitas a Abraão e que ainda se estendem a todos nós hoje – de uma descendência e de uma terra prometida, não serão frustradas pelas nossas escolhas, pelas atividades satânicas nem por qualquer vontade alheia. Deus é soberano para reconstruir o planeta maculado pelo pecado e tudo que habita sobre ele.
No fim, a imagem mais importante que podemos ver nesse relato é a de Deus usando um homem justo, vendido como escravo, para salvar o mundo. Todos nós somos os irmãos que, por meio dos nossos pecados, vendemos e sentenciamos nosso Irmão Jesus Cristo à morte. Contudo, foi Ele que Se tornou escravo, chegando a ser encarcerado pela morte, mas saiu das masmorras como o Príncipe dos príncipes e Senhor dos senhores. E, diferentemente do tratamento que demos a Ele, o Senhor nos trata como José tratou seus irmãos. Ele nos fornece alimentos que salvam nossa vida, e nem cobra por isso. Mesmo que O tenhamos entregado à condenação fatal, Ele nos perdoa, enche nossas malas com provisões e nos acolhe em Sua casa. E quando tudo parece sem esperança, ou a fome é inexorável, Ele está ali Se revelando a nós como Jesus, nosso Irmão e nosso Salvador. E como qualquer bom Irmão maior, podemos ter a certeza de que Ele estará ali para nos salvar do perigo quando for necessário.
Conheça o autor dos comentários para este trimestre: Wilian Cardoso é casado com Carem. É pai de Sarah, Noah e de Shai. É bacharel em Teologia e Filosofia, mestre em Interpretação Bíblica e em Estudos do Antigo Oriente Médio. Trabalhou como pastor da Comunidade Judaico-Adventista de Manaus por 8 anos e também como professor de Filosofia e Sociologia. Atualmente trabalha como professor para o Israel Institute of Biblical Studies filiado à Universidade Hebraica de Jerusalém e se dedica à família e à vida acadêmica.