Como vimos na semana passada, Paulo confrontou Pedro publicamente em Antioquia pela falta de coerência entre a fé que ele defendia e o comportamento que ele apresentou. Na melhor das hipóteses, a decisão de Pedro de não mais comer com antigos pagãos sugeria que eles eram cristãos de segunda categoria. As ações de Pedro davam a entender que, se eles realmente quisessem fazer parte da família de Deus e desfrutar as bênçãos provenientes da completa comunhão, deviam primeiro se submeter ao rito da circuncisão.
O que Paulo realmente disse a Pedro naquela ocasião tensa? Na lição desta semana, estudaremos o que provavelmente seja um resumo do que se passou. Essa passagem contém algumas das expressões mais compactadas no Novo Testamento, o que é extremamente importante porque, pela primeira vez, são apresentadas várias palavras e frases fundamentais, tanto para a compreensão do evangelho quanto do restante da Epístola de Paulo aos Gálatas. Essas palavras-chave incluem justificação, justiça, obras da lei, crença e a fé de Jesus, não apenas fé.
O que Paulo quis dizer com esses termos? O que eles nos ensinam sobre o plano da salvação?
1. Em Gálatas 2:15, Paulo escreveu: “Nós, judeus de nascimento e não ‘gentios pecadores´” (NVI). O que ele quis dizer com essas palavras?
As palavras de Paulo devem ser entendidas no seu contexto. Na tentativa de conquistar os judeus cristãos para seu lado, Paulo começou com um raciocínio que eles aceitariam, a tradicional distinção entre judeus e gentios. Os judeus eram os eleitos de Deus, aos quais havia sido confiada Sua lei, e desfrutavam os benefícios da relação de aliança com Ele. Os gentios, no entanto, eram pecadores. A lei de Deus não restringia seu comportamento, e eles estavam fora das alianças da promessa (Ef 2:12; Rm 2:14). Embora os gentios, obviamente, fossem “pecadores”, no verso 16 Paulo advertiu os cristãos judeus de que seus privilégios espirituais não os tornavam mais aceitáveis a Deus, porque ninguém é justificado pelas “obras da lei”.
2. Paulo usou a palavra justificado quatro vezes em Gálatas 2:16, 17. O que ele queria dizer por “justificação”? Considere os seguintes textos bíblicos (Êx 23:7 e Dt 25:1) e complete as lacunas.
Justificar, para ____________________, significava __________________________ ou ______________________________ alguém; tornar alguém reto.
O verbo justificar era um termo-chave para Paulo. Das 39 vezes em que ele ocorre no Novo Testamento, 27 estão nas cartas de Paulo. Ele o usou oito vezes em Gálatas, incluindo quatro referências em Gálatas 2:16, 17. Justificação é um termo legal, usado nos tribunais. Está relacionado com o veredito que um juiz pronuncia quando uma pessoa é declarada inocente das acusações apresentadas contra ela. É o oposto de condenação. Além disso, visto que as palavras justo e reto vêm da mesma palavra grega, o fato de alguém “ser justificado” significa que ele também é considerado “reto”. Assim, justificação envolve mais do que simplesmente absolvição ou perdão. É uma declaração afirmativa de que a pessoa é reta.
Para alguns cristãos judeus, no entanto, justificação também tinha caráter relacional. Ela envolvia seu relacionamento com Deus e Sua aliança. Ser “justificado” também significava ser considerado um membro fiel da comunidade da aliança divina, a família de Abraão.
3. Paulo disse três vezes em Gálatas 2:16 que uma pessoa não é justificada por “obras da lei”. O que ele quis dizer com a expressão “obras da lei”? O que os seguintes textos revelam sobre essa questão? Gl 2:16, 17; 3:2, 5, 10; Rm 3:20, 28. Assinale a alternativa correta:
A.( ) Obediência; prática da lei.
B.( ) Obediência que dá direito à salvação.
Antes de entender a expressão “as obras da lei”, precisamos entender o que Paulo quis dizer com a palavra lei. A palavra lei (nomos, em grego) é encontrada 121 vezes nas cartas de Paulo. Ela pode se referir a uma série de coisas diferentes, inclusive a vontade de Deus para Seu povo, os primeiros cinco livros de Moisés, todo o Antigo Testamento, ou apenas um princípio geral. No entanto, a principal maneira pela qual Paulo usou a palavra se refere a toda a coleção dos mandamentos de Deus dada ao Seu povo por meio de Moisés.
A expressão “as obras da lei” provavelmente envolva, portanto, todos os requisitos encontrados nos mandamentos dados por Deus por intermédio de Moisés, sejam morais ou cerimoniais. O raciocínio de Paulo é que, não importa o quanto nos esforcemos para seguir e obedecer à lei de Deus, nossa obediência nunca será suficientemente boa para que Deus nos justifique, para que nos declare justos diante dEle. Isso porque Sua lei exige absoluta fidelidade de pensamento e ação, não apenas por algum tempo, mas o tempo todo, e não apenas a alguns de Seus mandamentos, mas a todos eles.
Embora a expressão “obras da lei” não ocorra no Antigo Testamento e não seja encontrada no Novo Testamento, exceto nos escritos de Paulo, uma impressionante confirmação de seu significado surgiu em 1947, com a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, uma coleção de textos copiados por um grupo de judeus, chamados essênios, que viveram na época de Jesus. Embora escritos em hebraico, um dos manuscritos contém essa mesma expressão. O título do manuscrito é Miqsat Ma’as Ha-Torah, que pode ser traduzido como “Importantes obras da lei”. O documento descreve uma série de questões com base na lei bíblica em relação à prevenção da contaminação das coisas santas, inclusive algumas que designavam os judeus como distintos dos gentios. No fim, o autor escreveu o seguinte: se essas “obras da lei” forem seguidas, “você será considerado justo” diante de Deus. Ao contrário de Paulo, o autor não oferece ao leitor a justiça fundamentada na fé, mas no comportamento.
“E ser encontrado nEle, não tendo a minha própria justiça que procede da Lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus e se baseia na fé” (Fp 3:9, NVI).
Os judeus cristãos não sugeriram que a fé em Cristo não fosse importante; afinal, eles tinham fé em Jesus e acreditavam nEle. Contudo, eles sentiam que a fé não era suficiente; ela devia ser complementada com a obediência, como se a obediência acrescentasse algo ao ato da justificação. No raciocínio deles, justificação era tanto pela fé quanto pelas obras. A maneira pela qual Paulo repetidamente contrastou a fé em Cristo com as obras da lei indica sua oposição a esse tipo de abordagem que incluía “ambos” os aspectos. Fé, somente a fé, é a base da justificação.
Para Paulo, igualmente, a fé não era apenas um conceito abstrato; ela estava inseparavelmente ligada a Jesus. Na verdade, a expressão traduzida duas vezes como “fé em Cristo”, em Gálatas 2:16, tem muito mais significado do que qualquer tradução pode realmente abranger. A expressão em grego é traduzida literalmente como “a fé” ou “fidelidade” de Jesus. Essa tradução literal revela o forte contraste que Paulo estabeleceu entre as obras da lei que nós fazemos e a obra de Cristo realizada em nosso favor, a obra que Ele, mediante Sua fidelidade (por isso, a “fidelidade de Jesus”), tem feito por nós.
É importante lembrar que a fé nada acrescenta à justificação, como se tivesse mérito em si mesma. A fé é, em vez disso, o meio pelo qual nos apegamos a Cristo e Sua obra em nosso favor. Não somos justificados com base em nossa fé, mas com base na fidelidade de Cristo por nós, que reivindicamos para nós por meio da fé.
Cristo fez o que todos deixaram de fazer: só Ele foi fiel a Deus em tudo que fez. Nossa esperança está na fidelidade de Cristo, não na nossa. Essa é a grande e importante verdade que, dentre outras, inflamou a Reforma Protestante, uma verdade que continua sendo tão crucial hoje quanto foi no tempo em que Martinho Lutero começou a pregá-la há séculos.
Uma primitiva tradução siríaca de Gálatas 2:16 comunica bem o pensamento de Paulo: “Portanto, sabemos que um homem não é justificado a partir das obras da lei, mas pela fé de Jesus, o Messias, e cremos nEle, em Jesus, o Messias, que por causa de Sua fé, a fé do Messias, podemos ser justificados, e não pelas obras da lei”.
4. Leia Romanos 3:22, 26; Gálatas 3:22; Efésios 3:12; e Filipenses 3:9. Qual é a única base para nossa salvação? Assinale a melhor resposta:
A.( ) Nossa obediência à lei e o sacrifício de Cristo.
B.( ) A fidelidade de Cristo por nós e Sua perfeita obediência, aceitas pela fé.
Paulo deixou claro que a fé é absolutamente fundamental para a vida cristã. É o meio pelo qual lançamos mão das promessas que temos em Cristo. Mas o que é fé, exatamente? O que ela envolve?
5. De acordo com Gênesis 15:5, 6; João 3:14-16; 2 Coríntios 5:14, 15 e Gálatas 5:6, qual é a origem da fé? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:
A.( ) A fé provém do esforço humano.
B.( ) A fé é uma resposta humana a uma iniciativa divina.
C.( ) A fé possui uma origem mística.
A genuína fé bíblica é sempre uma resposta ao Senhor. A fé não é algum tipo de sentimento ou atitude que a pessoa decide tomar, em algum momento, porque Deus exige. Ao contrário, a verdadeira fé se origina em um coração tocado por um sentimento de gratidão e amor pela bondade de Deus. Por isso, quando a Bíblia fala sobre fé, essa fé sempre provém de iniciativas que Deus tem tomado. No caso de Abraão, por exemplo, a fé foi sua resposta às promessas maravilhosas que Deus tinha feito a ele (Gn 15:5, 6). Já no Novo Testamento, Paulo disse que, em última análise, a fé está enraizada na nossa percepção do que Cristo fez por nós na cruz.
6. Se a fé é uma resposta ao Senhor, o que essa resposta deve incluir? O que podemos entender sobre a natureza da fé? Jo 8:32, 36; At 10:43; Rm 1:5, 8; 6:17; Hb 11:6; Tg 2:19
Muitas pessoas definem fé como “crença”. Essa definição é problemática, pois em grego a palavra para “fé” é simplesmente a forma substantivada do verbo “crer”. Usar uma forma para definir a outra é como dizer que “fé é ter fé”. Isso não diz nada.
Um exame cuidadoso das Escrituras revela que a fé envolve não só o conhecimento sobre Deus, mas um consentimento mental ou aceitação desse conhecimento. Essa é uma razão pela qual é tão importante ter uma imagem correta de Deus. Ideias distorcidas sobre o caráter de Deus podem tornar mais difícil o exercício da fé. Mas uma aceitação intelectual do evangelho não é suficiente, pois, nesse sentido, “até os demônios creem” (Tg 2:19). A verdadeira fé também afeta nosso modo de vida. Em Romanos 1:5, Paulo escreveu sobre a “obediência que vem pela fé” (NVI). Paulo não disse que a obediência é o mesmo que fé. Ele quis dizer que a verdadeira fé afeta toda a vida de uma pessoa, não apenas a mente. Ela envolve compromisso com nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e não apenas uma lista de regras. A fé abrange o que fazemos, nossa maneira de viver, em quem confiamos e também aquilo em que acreditamos.
Uma das principais acusações contra Paulo era a de que seu evangelho da justificação pela fé apenas encorajava as pessoas a pecar (Rm 3:8; 6:1). Sem dúvida, os acusadores argumentavam que, se as pessoas não têm que cumprir a lei para ser aceitas por Deus, por que deviam se preocupar com sua maneira de viver? Lutero também enfrentou acusações semelhantes.
7. De acordo com Gálatas 2:17, 18, como Paulo respondeu à acusação de que a doutrina da justificação pela fé apenas encorajava o comportamento pecaminoso? Assinale a alternativa correta:
A.( ) Reconheceu que a fé estimulava o pecado, e acabou abandonando o evangelho.
B.( ) Disse que Cristo não é ministro do pecado, mas nos leva à obediência.
Paulo respondeu às acusações de seus adversários nos termos mais fortes possíveis: “De maneira nenhuma”! (ARC). Embora seja possível que uma pessoa caia em pecado após ir a Cristo, a responsabilidade certamente não seria de Cristo. Se transgredimos a lei, nós mesmos somos os transgressores.
8. Como Paulo descreveu sua união com Jesus Cristo? Como essa descrição refuta as objeções levantadas por seus adversários? Gl 2:19-21
Paulo considerou o raciocínio de seus opositores simplesmente absurdo. Aceitar Cristo pela fé não é algo trivial, não é um jogo de faz de conta celestial, em que Deus considera a pessoa como justa enquanto não há mudança real na sua maneira de viver. Ao contrário, aceitar Cristo pela fé é extremamente radical. Envolve uma completa união com Ele, uma união em Sua morte e ressurreição. Espiritualmente falando, Paulo disse que somos crucificados com Cristo, e morrem nossos velhos hábitos pecaminosos, enraizados no egoísmo (Rm 6:5-14). Fizemos uma ruptura radical com o passado. Todas as coisas são novas (2Co 5:17). Também fomos ressuscitados para uma vida nova em Cristo. O Cristo ressuscitado vive dentro de nós, tornando-nos diariamente mais e mais semelhantes a Ele mesmo.
Portanto, a fé em Cristo não é um pretexto para o pecado, mas um chamado a um relacionamento mais profundo e mais rico com Cristo do que jamais poderia ser encontrado numa religião fundamentada na lei.
“A lei de Deus tem sido considerada longamente. Ela tem sido apresentada às congregações de modo quase tão destituído do conhecimento de Jesus Cristo e de Sua relação para com a lei como ocorreu com a oferta de Caim. Foi-me mostrado que muitos se conservam longe da fé devido às ideias embaralhadas e confusas acerca da salvação, e porque os pastores têm trabalhado de maneira errônea para alcançar os corações. O ponto que durante anos tem sido recomendado com insistência à minha mente é a justiça imputada de Cristo […].
“Não há um ponto que necessite ser realçado com mais diligência, repetido com mais frequência ou estabelecido com mais firmeza na mente de todos, do que a impossibilidade de que o ser humano caído mereça alguma coisa por suas próprias e melhores boas obras. A salvação é unicamente pela fé em Jesus Cristo” (Ellen G. White, Fé e Obras, p. 18, 19).
“A lei requer justiça, e esta o pecador deve à lei; mas ele é incapaz de a apresentar. A única maneira em que pode alcançar a justiça é pela fé. Pela fé ele pode apresentar a Deus os méritos de Cristo, e o Senhor lança a obediência de Seu Filho a crédito do pecador. A justiça de Cristo é aceita em lugar do fracasso do homem, e Deus recebe, perdoa, justifica a pessoa arrependida e crente, trata-a como se fosse justa, e a ama como ama Seu Filho” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 367).
Perguntas para reflexão
1. Ellen G. White disse que nenhum assunto precisa ser mais enfatizado do que a justificação pela fé. Esses comentários são aplicáveis a nós hoje? Por quê?
2. Pense na Reforma Protestante e em Lutero. Embora a época, o lugar e as circunstâncias tenham sido diferentes, por que a mensagem apresentada por Paulo foi tão crucial para libertar milhões de pessoas do cativeiro espiritual romano?
Resumo: O comportamento de Pedro em Antioquia sugeriu que os conversos do paganismo não podiam ser verdadeiros cristãos, a menos que fossem circuncidados. Paulo destacou o engano de tal pensamento. Deus não pode declarar justa nenhuma pessoa com base em seu comportamento, pois nem mesmo os melhores seres humanos são perfeitos. Somente aceitando o que Deus fez por nós em Cristo, os pecadores podem ser justificados diante dEle.
Respostas e atividades da semana: 1. Com uma semana de antecedência, peça aos alunos que estudem o contexto em que viviam os judeus, bem como os cristãos gentios antes da sua conversão. Em classe, discutam as possíveis respostas para essa pergunta. 2. Paulo – absolver – inocentar. 3. A. 4. B. 5. F; V; F. 6. Divida a classe em dois grupos e incentive-os a refletir sobre a natureza da fé. Por fim, escolha um representante de cada grupo para que apresente a sua resposta. 7. B. 8. Peça aos alunos que relacionem a união de Paulo com Cristo com as objeções dos seus adversários. Em classe, peça que dois ou três alunos compartilhem suas respostas com o restante da classe.
TEXTO-CHAVE: Gálatas 2:20
O ALUNO DEVERÁ
Conhecer: O único caminho pelo qual podemos ser justificados diante de Deus no juízo.
Sentir: O repouso obtido quando abandonamos nossa justiça própria e dependemos da justiça de Cristo.
Fazer: Identificar-se completamente com a morte de Cristo e viver Sua vida em lugar da nossa.
ESBOÇO
I. Conhecer: Justificados em Cristo
A. Por que é impossível ser justificado por meio de grandes esforços, pela negação de si mesmo e pela obediência aos mandamentos de Deus?
B. Como Deus pode ser justo ao atribuir a nós a justiça de Cristo? O que nossa fé tem a ver com essa ação?
II. Sentir: Nada de mim
A. Por que é tão importante abandonar todas as reivindicações de justiça própria e colocar a fé completamente na justiça de Cristo?
B. Quais benefícios emocionais, físicos e espirituais obtemos ao confiar totalmente no que Cristo fez?
C. Confiar em Cristo resulta numa vida ociosa? Por quê?
III. Fazer: Vivendo a vida de Cristo
A. Quando nos identificamos com a morte de Cristo e vivemos Sua vida, ocorre alguma mudança em nossa maneira de viver?
B. Quais escolhas fazemos, a cada momento, que tornam possível morrer a morte de Cristo e viver Sua vida?
RESUMO: Pela fé é possível nos aproximarmos de Deus e aceitarmos Suas provisões, concedidas pela morte de Cristo, para o perdão dos nossos pecados e restauração a uma posição de justiça diante dEle. Pela fé podemos morrer para nós mesmos e deixar Cristo viver em nós.
Ciclo do aprendizado
Motivação
Focalizando as Escrituras: Gálatas 2:20
Conceito-chave para o crescimento espiritual: Somos justificados diante de Deus unicamente pela fé na morte de Cristo em nosso favor e ao aceitarmos como nossa a Sua justiça.
Para o professor: Use esta atividade inicial para ajudar a classe a se identificar com o tema da justificação na esfera emocional e também na espiritual.
Discussão inicial: Philip P. Bliss era um jovem evangelista missionário e compositor que trabalhou com Dwight Moody em suas campanhas. Philip e a esposa, Lucy, deixaram suas crianças, de quatro anos e de um ano de idade, com a família e amigos, e tomaram um trem para um compromisso na igreja de Moody, em dezembro de 1876. Quando o trem atravessava o rio Ashtabula, em Ohio, a estrutura da ponte desmoronou, deixando o trem cair no rio gelado. Philip escapou e voltou ao trem em busca da esposa, que estava presa nos destroços em chamas. Nem o corpo de Philip nem o de Lucy foram encontrados, mas a mala de Philip subsistiu. Nela havia um manuscrito para a letra do que se tornou sua canção mais conhecida, “Cantarei de Jesus Cristo” (Hinário Adventista do Sétimo Dia, 241; http://en.wikipedia.org/wiki/Philip_Bliss). Peça que alguém cante esse hino para sua classe ou cantem juntos.
Pense nisto: Não parece um paradoxo sentir alegria por causa da morte de Cristo numa terrível cruz? Por que é maravilhoso contemplar a história do preço que Jesus pagou pela nossa salvação? Essa música pode ter sido uma fonte de conforto para os filhos que Philip e Lucy deixaram para trás?
Quais cânticos do Apocalipse são inspirados no mesmo tema do hino 241 – o preço que Jesus pagou pela nossa salvação? (Ap 5:9-13; 7:9-17; 12:10-12). Com base nesses cânticos, liste as razões que tornaram tão gratos os adoradores ao redor do trono.
Compreensão
Para o professor: Utilize este estudo para ajudar a classe a compreender a relação entre fé, obediência e justificação.
Comentário bíblico
I. As origens da fé
(Recapitule com a classe Gn 12:1-8; 15:5, 6.)
A história de Abraão (anteriormente chamado Abrão) e sua caminhada com Deus já começa a ser contada no capítulo doze de Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, embora Abraão tenha nascido vários séculos depois do Dilúvio e cerca de dois mil anos depois de Adão. Ainda que outros tivessem um relacionamento com Deus, Abraão foi a primeira pessoa a quem o autor de Gênesis dedicou muito tempo, a fim de desenvolver sua história. No decurso da vida de Abraão, ele teve muitas experiências diretas e conversas com Deus. Podemos imaginar um crescente relacionamento de fé no homem que ficou conhecido ao longo dos séculos como exemplo de fé verdadeira.
Começamos a aprender sobre Abrão quando Deus lhe pediu que deixasse seu país e a casa de seu pai. Então, o Senhor lhe prometeu uma bênção: Ele o tornaria pai de muitas nações. No fim, descobrimos, assim como Abrão descobriu algum tempo depois, que essa promessa não seria cumprida em sua vida. Quando Abrão falou que não tinha filhos, Deus lhe prometeu uma família tão numerosa quanto as estrelas. O Senhor prometeu a posse de uma terra de herança, e “Abraão creu no Senhor, e isso lhe foi creditado como justiça” (Gn 15:6, NVI). Então, Deus mencionou que essa terra da promessa, na qual Abrão estava peregrinando, não seria sua nem de sua família por cerca de 400 anos.
Abrão teve que esperar até os cem anos de idade para que tivesse o filho que Deus tinha prometido: um bebê gerado por um milagre. Ainda estava muito longe dos números incontáveis que Deus havia prometido, mas era um começo. Finalmente, em um drama final da vida de Abraão, ele foi chamado a sacrificar aquele menino desejado e esperado por tanto tempo no solitário topo da montanha, tendo apenas os anjos e o Universo como testemunhas.
A fé demonstrada por Abraão era como um jogo de xadrez. Às vezes, ele mostrava fé; outras vezes, colocava as questões nas próprias mãos. No entanto, Abraão cresceu na confiança em Deus. Quando foi chamado a oferecer o amado filho, ele não parou para argumentar, apresentar desculpas nem questionar. “Sabia que Deus é justo e reto em todas as Suas reivindicações, e à risca obedeceu à ordem” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 153). “‘Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça’, e ele foi chamado amigo de Deus” (Tg 2:23, NVI). Esse ato de fé brilhou como um grande farol de luz, iluminando o caminho da fé para os filhos de Abraão entre nós, que também estão aprendendo a caminhar pela fé.
Pense nisto: Quais lições sobre o desenvolvimento da fé a história de Abraão apresenta? Como suas falhas nos encorajam e advertem quando somos tentados a criar nossas próprias respostas à oração?
II. Fé e obediência
(Recapitule com a classe Gl 2:15-21.)
Pela fé, Abraão foi estritamente obediente ao pedido divino de que oferecesse seu filho. Ele acreditou em Deus, confiou em Sua palavra e agiu com base nela. Essa crença e ação (com base na crença) lhe foram creditadas como justiça. “Não foi Abraão, nosso antepassado, justificado por obras, quando ofereceu seu filho Isaque sobre o altar? Você pode ver que tanto a fé quanto as obras estavam atuando juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas obras” (Tg 2:21, 22, NVI).
No entanto, não foi pelo cumprimento da lei que Abraão ou qualquer outra pessoa foi considerada justificada diante de Deus. Paulo não tinha problema com a obediência à lei; a fé em Jesus torna possível a verdadeira obediência. Respondendo ao pedido divino de que sacrificasse seu filho, Abraão “fortaleceu o coração pensando nas provas da bondade e fidelidade do Senhor” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 151). Ele se lembrou da promessa de que, a partir de Isaque, viriam filhos tão inumeráveis como os grãos de areia na praia e como as estrelas no céu. A fé lhe deu forças para obedecer, e essa fé lhe foi creditada como justiça.
Pense nisto: Como aquele que tem fé pode ser estritamente obediente, mesmo diante dos grandes mistérios e tragédias? Quais outros exemplos bíblicos ilustram a fé obediente, apesar dos obstáculos, tragédias e do que parecia ser um futuro sombrio?
III. Fé, obediência e justificação
(Recapitule com a classe Gl 2:15-21.)
Paulo deixou claro que não é possível ser justificado diante de Deus pela observância da lei. Em Sua justiça, Jesus Cristo nos justifica com uma justiça que reivindicamos pela fé, uma fé que resulta em obediência. Quando temos fé em Jesus, nada negamos a Ele, mesmo que isso nos leve à morte. Se a cada dia morrermos para o eu, colocando na cruz tudo que valorizamos e aceitando a vida de Cristo em lugar de nossas próprias obras e méritos, a única maneira pela qual poderemos viver será pela fé no Filho de Deus. Embora viver pela fé em Jesus resulte em obediência, pois o próprio Jesus “foi obediente até a morte, e morte de cruz” (Fp 2:8, NVI), a obediência não é o meio pelo qual nos tornamos justos diante de Deus. Nossos atos de bondade nunca poderão ser igualados aos de Cristo. Seu histórico de perfeita obediência é o que precisamos para ser justificados. A única maneira pela qual podemos receber essa obediência perfeita é pela fé, lançando mão das promessas de Cristo de nos dar Sua justiça perfeita em substituição ao nosso arruinado e defeituoso histórico de pecados.
Pense nisto: Diante de tão incrível dádiva de bondade que nunca podemos imaginar, muito menos merecer, por que somos tentados a ignorar nossa necessidade das dádivas de Jesus e tentamos nos justificar com base em nossas boas obras? Quais são os resultados de tais tentativas? Quais exemplos bíblicos nos informam sobre as consequências de tentar obter o favor de Deus seguindo nossas próprias ideias do que é justo?
Aplicação
Para o professor: Use esta dramatização como meio de ajudar a classe a se imaginar crucificando o eu e escolhendo viver pela fé em Cristo.
Dramatização
Dê a um voluntário da classe dois pregos grandes para segurar, como se estivessem na cruz. Proponha esta situação: alguém na sua igreja, a quem você tem tentado ajudar, falou mal de você para outro membro da igreja. Você está determinado a ser crucificado com Cristo e viver somente a vida dEle. O que você fará?
Peça que vários outros voluntários segurem os pregos e apresente estas e outras situações para eles: (1) você tem dificuldade em recusar alimento, mesmo que tenha ingerido o suficiente; (2) você está cansado, e seus filhos o estão deixando nervoso; (3) você está com vergonha de revelar a verdadeira razão para estar atrasado em uma reunião importante: você simplesmente não saiu na hora certa para seu compromisso. Seria mais fácil falar do trânsito como desculpa.
Criatividade e atividades práticas
Para o professor: Sugira que as seguintes ideias sejam realizadas durante a semana.
Atividades:
1. Faça uma lista das razões pelas quais os adoradores do Apocalipse louvam a Jesus. O que Ele fez para merecer o louvor? Coloque a lista onde você possa ver durante a semana.
2. Pesquise uma série de canções que expressem a alegria pela nossa redenção. Memorize e cante esses hinos em sua devoção pessoal e em outros momentos.
3. Encha um pequeno cesto com lembretes a respeito dos dons da redenção em Cristo e coloque onde você possa ver constantemente.
Abençoado pelo rei
Uma Escola Adventista no oeste da Índia foi fundada por causa da visão de um missionário e da bondade de um rei.
Todos que fazem parte da Escola Adventista de Alate, no oeste da Índia, estão orando pela generosidade dos membros da igreja em todo o mundo. Eles esperam que a oferta da Escola Sabatina deste trimestre ajude a construir um prédio de salas de aula, uma grande necessidade dos alunos.
Manohar Karnad, diretor da Escola Adventista de Alate, disse que a escola enfrenta o mesmo problema enfrentado em 1960, quando foi fechada por duas décadas – a infraestrutura é muito antiga.
Karnad disse: “Sem infraestrutura, não há estudantes. Sem estudantes, não há escola. Esse ciclo vicioso deve ser quebrado.”
A Escola Adventista de Alate ocupa 7 hectares de terra seca e fica perto de outra escola particular de alto nível. A propriedade da outra escola tem 150 hectares de colinas e prados verdes.
O diretor Karnad diz que, diante da escola de luxo e de outras escolas mais novas na região, torna-se difícil para a Escola Adventista ser competitiva. Mas ele ressaltou que a escola tem algo que as outras não têm: um padrão de educação excepcionalmente alto. “Nossa educação prepara os alunos para uma vida de serviço, não apenas para trabalhar como profissionais”, disse.
A escola, que tem 260 alunos, é conhecida por ajudar crianças cujas famílias não podem pagar as mensalidades.
Amizade abençoada
A Igreja Adventista ganhou o terreno onde foi construída a escola em 1920, quando o Rei Shahu, governante da região, iniciou uma amizade com um missionário americano chamado S. O. Martin. Certo dia, o rei perguntou ao missionário: “O que você quer de mim?” O missionário respondeu que gostaria de ter um pedaço de terra. O rei estendeu a mão e disse: “Escolha o pedaço de terra que você precisar.”
O rei tinha uma exigência: o missionário devia construir uma clínica médica e uma escola no local.
A clínica médica foi construída e funcionou até 1981. A escola foi inaugurada em 1943, mas fechou em 1960. O fechamento da escola prejudicou o trabalho adventista na região.
O diretor declara: “Mas Deus nos ajudou a reabrir a escola em 1981.” Ela continua até hoje.”
Atualmente, cinco edifícios fazem parte do campus da escola. O Sr. Karnak e esposa moram na antiga casa do missionário. Uma parte da casa serve de muro para o dormitório das moças. Os rapazes moram em um dormitório do outro lado do campus.
Geralmente os alunos trabalham duas horas por dia. Alguns trabalham na horta e outros no refeitório. Essas atividades combinadas com os trabalhos escolares ajudam os alunos a aprender habilidades práticas e entender o valor do trabalho físico associado ao estudo.
De acordo com Karnak, o diretor, a escola realmente precisa de 14 novas salas de aula.
Cerca de 30% dos estudantes são adventistas. Outros 30% pertencem a outras denominações cristãs, e os demais seguem outras tradições religiosas.
O diretor da escola levou os líderes da Missão Adventista para um passeio pelo campus. De pé em frente ao escritório, ele disse: “Estamos esperando que as pessoas boas prestem atenção ao trabalho de Deus nesta região.”
Por favor, em suas orações, lembrem-se da Escola Adventista de Alate e de seus alunos. Lembrem-se também de doar uma generosa oferta a cada sábado na Escola Sabatina.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º trimestre de 2017
Tema geral: “O evangelho em Gálatas”
Lição 4: 15 a 22 de julho
Justificação pela Fé
Autor: Pr. Nilton Aguiar
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega
Introdução
A lição desta semana trata da maneira com que uma pessoa é justificada e o que a justificação produz na vida dela. A Bíblia ensina que somos justificados pela fé,[2] e pela fé somente,[3] para ser levados a uma vida de obediência a Deus e à Sua Palavra.
A questão da “justificação”
“Justificação” é um tema que permeia toda a Bíblia. Porém, nenhum outro escritor bíblico fez uma exposição mais abrangente sobre esse assunto do que Paulo. Seu ensino sobre o tema está fundamentado no Antigo Testamento, onde o verbo “justificar” deriva da raiz hebraica ?adaq, que pode significar “ser justo”, mas também “dar um veredito em favor de” ou, simplesmente, “declarar justo”, e também nos ensinos de Jesus. O correspondente no Novo Testamento é o verbo dikaio?, que apresenta essencialmente o mesmo significado.
As palavras “justificar”, “justificação”, “justo”, “justiça” vêm do mundo judicial. Para dizer de outro modo, esses eram os termos empregados no contexto de um julgamento, tanto para o processo quanto para o resultado. Porém, esse contexto não limita seu significado. Uma vez que Paulo usou essas palavras a fim de transmitir seu ensino sobre a graça de Deus, seu significado transcende o contexto judicial da época. Em resumo, “justificação” significa sete coisas: 1. Correto relacionamento com Deus (Rm 4:5); 2. Absolvição (Rm 8:1); 3. Crédito de justiça na “conta” do pecador (Rm 4:3); 4. Perdão divino (Rm 4:6-8); 5. Nova vida (Rm 5:18); 6. Troca de senhorio (Rm 6:7, 18, 22); 7. Vida em comunidade (Gl 3:26; Ef 4:4, 5).[4] Em Gálatas 3:28, Paulo deixou claro que “justificação” é um benefício disponível a todos, e não um privilégio exclusivo dos judeus.
Obras da lei
A expressão “obras da lei” é usada na Bíblia apenas por Paulo, e, curiosamente, aparece apenas em Romanos (3:20, 28; 9:32[5]) e Gálatas (2:16; 3:2, 5, 10). Paulo usou essa expressão para combater a doutrina dos judaizantes. Em Gálatas 5:2-4, encontramos uma explicação do que significa justificação pelas “obras da lei”. Paulo declarou: “Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. De novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a guardar toda a lei. De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes”. Alguns irmãos na Galácia estavam confundindo o papel da lei. Em seus ensinos, Paulo deixou claro que a lei tem a função de apontar o pecado (Rm 5:20) e nos conduzir a Cristo (Rm 10:4).
A propósito, o texto de Romanos 10:4 é uma das passagens mais mal compreendidas no Cristianismo contemporâneo. Muitos interpretam que, ao dizer que o fim da lei é Cristo, Paulo estava dando a entender que, com a vinda de Cristo, a lei foi abolida. Porém, tal interpretação não poderia estar mais distante da intenção de Paulo. Primeiro, ao utilizar a palavra “lei” nessa passagem, possivelmente Paulo não estivesse se referindo exclusivamente ao decálogo, mas a todo o Antigo Testamento, incluindo o decálogo. Segundo, a palavra “fim” vem do grego ?????, que também significa “propósito”, “meta”, “resultado”.[6] Portanto, o que Paulo possivelmente estivesse dizendo nessa passagem é que o propósito de todo o Antigo Testamento é Cristo, ou, para dizer de outro modo, todo o Antigo Testamento é sobre Cristo (ver João 5:39 e Lucas 24:27). Por essa razão, Paulo, e todo o Novo Testamento, chamam nossa atenção para o que Cristo fez por nós. As “obras da lei” não podem salvar.
A base da nossa justificação
A fidelidade de Jesus como a base de nossa salvação é um tema extensivamente desenvolvido por Paulo. Apresentaremos, aqui, algumas passagens em que ele tocou diretamente nesse assunto. Antes disso, porém, é importante observar que, quando Paulo falava sobre “a fé em Jesus” ou “a fé em Cristo”, isso também podia significar “a fidelidade de Jesus” ou “a fidelidade de Cristo”. O termo grego traduzido como “fé” também significa “fidelidade”.[7] O contexto deve determinar o sentido da palavra. Nas seguintes passagens: Romanos 3:22, 26; Gálatas 2:16; 3:22; Filipenses 3:9, Jesus é o agente da fidelidade,[8] não nós. Vejamos como essas passagens podem ser entendidas:
“... a justiça de Deus por meio da fidelidade de Jesus Cristo para todos os que creem” (Rm 3:22).
“Isto também foi para demonstrar sua justiça no tempo presente, para que ele mesmo ser justo e o justificador daquele que vive por causa da fidelidade de Jesus” (Rm 3:26).
“Contudo, sabemos que ninguém é justificado pelas obras da lei, mas pela fidelidade de Jesus Cristo. E temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fidelidade de Cristo e não pelas obras da lei, porque pelas obras da lei ninguém será justificado” (Gál 2:16).
“Mas a Escritura encerrou tudo e todos sob o pecado, para que a promessa pudesse ser dada – por causa da fidelidade de Jesus Cristo – a todos os que creem” (Gl 3:22).
“... e ser achado nEle, não porque eu tenha minha própria justiça que procede da lei, mas porque eu tenho a justiça que vem da fidelidade de Cristo – a justiça que procede de Deus e que está, de fato, fundamentada na fidelidade de Cristo” (Fp 3:9).
Paulo resumiu tudo isso com o pensamento expresso em Efésios 2:8-9: “Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”. Somos salvos pela graça. Em outras palavras, somos salvos pelo que Deus fez por nós em Cristo. Recebemos esse benefício pela fé, sem a qual é impossível agradar a Deus (Hb 11:6). Por essa razão, também encontramos na Bíblia textos que falam de nossa fé em Jesus (At 24:24; Cl 1:4; 2:5; 1Tm 3:13; 2Tm 3:15).
A obediência da fé
A fé não é simplesmente uma declaração de que cremos. Quando uma pessoa recebe a graça por meio da fé, isso afeta a vida como um todo. Para comprovar, basta dar uma olhada em Hebreus 11. Os grandes heróis ali descritos são pessoas que levaram sua fidelidade a Deus até às últimas consequências. Foram fieis até a morte. Muitos deles, inclusive, sofreram morte trágica, porque preferiram morrer a desobedecer a Deus. A fé promove obediência. Como sabemos que um filho confia no amor e cuidado de seus pais? É porque ele lhes obedece. Como sabemos que uma pessoa realmente teme a Deus? Pela sua obediência à Palavra de Deus. Paulo explica esse princípio em Romanos 1:5, onde ele menciona “a obediência por fé”, ou “a obediência que vem da fé”. Em Hebreus 5:9, a Bíblia diz que Jesus Se tornou “o Autor da salvação eterna para todos os que Lhe obedecem”. A Bíblia nos ensina que ninguém é salvo por obedecer a Deus, mas ela também ensina que ninguém é salvo sem obedecer a Deus.
A fé promove o pecado?
A fé em Jesus não é uma licença para pecar. Ao contrário, como vimos acima, a fé conduz o crente a uma vida de obediência. O apóstolo Tiago chega a dizer que uma fé que não produza boas obras é sem valor e morta (Tg 2:17, 20, 26). Ele questiona: “Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?” (Tg 2:14). A resposta a essa pergunta é um óbvio “não”.
Em João 8, quando Jesus perdoou a mulher flagrada em adultério, Ele não a condenou. Em outras palavras, Ele a declarou justa. Ela foi justificada pela fé. Porém, após dizer: “Eu não te condeno”, Jesus completou: “vai, e não peques mais” (Jo 8:11). Esse é um exemplo claro do que Jesus espera que aconteça na vida de cada cristão. Algo semelhante aconteceu com o paralítico de João 5. Após curá-lo, Jesus disse: “Não peques mais, para que não te suceda coisa pior” (Jo 5:14).
Paulo aprendeu com Cristo que, após uma pessoa ser justificada pela fé, ela entra no processo de santificação. Por essa razão, ele tratou tão seriamente a acusação de que sua doutrina sobre a justificação pela fé incentivava as pessoas a pecar. Ele se defendeu dizendo que, quando Cristo justifica alguém, Ele o leva à obediência e não ao pecado (Gl 2:17). Mas não é a obediência que promove justificação, de outro modo Cristo teria morrido em vão (Gl 2:21).
Conclusão
Vimos que a justificação envolve vários aspectos da vida cristã. Ela afeta nossa vida como um todo. É o resultado da poderosa atuação de Deus em nossa vida. Ao sermos justificados, não mais somos as mesmas pessoas. Como disse Paulo: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim (Gl 2:19-20). Somos justificados (ou declarados justos) pela fé no que Deus fez por nós através de Cristo, e não com base no que fazemos. Porém, Cristo nos justifica não para continuarmos no pecado, mas para vivermos em obediência a Deus e à Sua Palavra.
Notas
[1] O autor é pastor, mestre em Ciências da Religião, mestre e bacharel em Teologia, licenciado em Letras e autor de diversos livros e artigos. É docente do curso de Teologia, no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, Cachoeira/BA, e atualmente está cursando o doutorado em Novo Testamento, na Andrews University (EUA). É casado com a professora Cristiane Aguiar, e tem dois filhos: a Karol e o Lucas.
[2] Romanos 1:17; 3:22, 28, 30; 5:1; 9:30; Gálatas 2:16; 3:7, 8, 11, 12, 24; 3:14; 5:5; Efésios 5:8; Filipenses 3:9.
[3] Gálatas 2:15-3:18. Isso está ilustrado na vida de Paulo e Pedro (2:15-21), dos Gálatas (3:1-5), de Abraão (3:6-9), no testemunho do Antigo Testamento (3:10-12), na morte de Cristo (3:13-14) e na aliança com Abraão (3:15-18). Para mais detalhes, ver Francis D. Nichol, ed., The Seventh-Day Adventist Bible Commentary, v. 6 (Review and Herald Publishing Association, 1980), p. 774.
[4] Raoul Dederen, Handbook of Seventh-Day Adventist Theology, electronic ed., v. 12, Commentary Reference Series (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, 2001), p. 284.
[5] Em alguns manuscritos, em vez de “obras”, aparece a expressão “obras da lei” em Romanos 9:32.
[6] William Arndt, Frederick W. Danker, and Walter Bauer, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature (Chicago: University of Chicago Press, 2000), 998.
[7] Idem, p. 818.
[8] Todas as passagens abaixo foram traduzidas da New English Translation (Nova Tradução em Inglês).