Lição 10
27 de novembro a 03 de dezembro
Lembrem-se e não se esqueçam
Sábado à tarde
Ano Bíblico: 2Co 5-7
Verso para memorizar: “Lembrem-se e não se esqueçam de como no deserto vocês provocaram o Senhor à ira. Desde o dia em que saíram do Egito até que chegaram a este lugar, vocês foram rebeldes contra o Senhor” (Dt 9:7).
Leituras da semana: Gn 9:8-17; Dt 4:32-39; Ap 14:12; Dt 4:9, 23; 6:7; 8:7-18; Ef 2:8-13

Duas palavras estão presentes em toda a Bíblia: lembrar e esquecer. Ambas se referem a algo humano, que acontece na mente. São verbos e são opostos: lembrar é não se esquecer, e esquecer é não se lembrar.

Com frequência Deus diz a Seu povo para se lembrar de todas as coisas que Ele fez por Seus filhos; lembrar-se de Sua graça e bondade para com Seu povo. Grande parte do AT consiste na exortação dos profetas ao povo hebreu para que não se esquecesse do que o Senhor tinha feito por ele. Mas também, o mais importante, os israelitas não deveriam se esquecer de qual era seu chamado no Senhor e de que tipo de povo deveriam ser em resposta a esse chamado. “Recordarei os feitos do Senhor; certamente me lembrarei das Tuas maravilhas da antiguidade” (Sl 77:11).

É diferente para nós hoje, tanto no âmbito coletivo quanto no pessoal? É muito fácil se esquecer o que Deus fez por nós.

Nesta semana, conforme expresso em Deuteronômio, veremos esse importante princípio de lembrar e não se esquecer da atuação divina em nossa vida.

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Domingo, 28 de novembro
Ano Bíblico: 2Co 8-10
Lembrando o arco-íris

A palavra “lembrar” aparece pela primeira vez na Bíblia em Gênesis 9, quando, após o dilúvio, o Senhor disse a Noé que colocaria o arco- íris no céu como sinal de Sua aliança com toda a Terra, de que Ele nunca mais a destruiria com um dilúvio.

1. Leia Gênesis 9:8-17. Como a palavra “lembrar” é usada aqui? O que podemos aprender com isso?

Deus não precisa do arco-íris para Se lembrar de Sua promessa e aliança. Ele apenas falou em linguagem que os humanos entendessem. O propósito do arco-íris é nos lembrar da promessa e aliança de não destruir o mundo novamente com água. Ele ajudaria as pessoas a se lembrar da aliança especial. Sempre que surge o arco-íris, o povo de Deus se lembra não apenas do juízo sobre o mundo por seus pecados, mas também de Seu amor pelo mundo e de Sua promessa de não o inundar novamente.

Portanto, vemos a importância de lembrar das promessas divinas, das advertências e da ação de Deus no mundo.

O arco-íris no céu se torna ainda mais importante hoje quando, com base na continuidade das leis da natureza, muitos cientistas rejeitam a ideia de que já houve um dilúvio mundial. É fascinante que Ellen G. White tenha escrito que, antes do dilúvio, muitos tinham a ideia de que a continuidade das leis da natureza excluía a possibilidade de um dilúvio mundial. Ela escreveu que os sábios argumentavam que as leis da natureza “são tão firmemente estabelecidas que o próprio Deus não as pode mudar” (Patriarcas e Profetas, p. 97). Portanto, as pessoas diziam, com base nessas leis, que o dilúvio não poderia ocorrer; após o dilúvio, as pessoas argumentam, com base nessas mesmas leis, que ele nunca aconteceu.

No entanto, Deus em Sua Palavra nos falou sobre o dilúvio e deu ao mundo um sinal, não apenas desse acontecimento, mas de Sua promessa de não o trazer outra vez. Assim, se nos lembrarmos do que o arco-íris significa, podemos ter a garantia, escrita no céu em belas cores, de que a Palavra de Deus é certa. E se podemos confiar nisso, por que não confiar em tudo o mais que Ele nos diz?

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Ao ver um arco-íris, pense nas promessas de Deus. Aprendemos a confiar nelas?


Segunda-feira, 29 de novembro
Ano Bíblico: 2Co 11-13
Tempos passados

Em Deuteronômio 4, lemos as admoestações maravilhosas que o Senhor deu ao Seu povo por meio de Moisés a respeito de seus grandes privilégios como povo escolhido. Ele os resgatou do Egito “com provas, com sinais, com milagres, com lutas, com mão poderosa, com braço estendido e com feitos espantosos, segundo tudo o que o Senhor, seu Deus, fez por vocês no Egito, como vocês viram com os seus próprios olhos” (Dt 4:34). Em outras palavras, Deus não apenas fez maravilhas, mas as fez de modo a ajudá- los a se lembrar e a nunca esquecer esses grandes atos.

2. Leia Deuteronômio 4:32-39. O que o Senhor pediu que se lembrassem e por que isso era tão importante?

Moisés relembrou toda a história ao povo, desde a criação, e lhes indagou, de forma retórica, se em toda a história havia sido feito algo como o que foi feito por eles. Ele instruiu o povo a perguntar e analisar por si mesmo se havia acontecido antes algo como o que os israelitas experimentaram. Com alguns questionamentos, Moisés estava tentando fazer com que percebessem o que o Senhor havia feito por eles e, assim, em última instância, fazê-los reconhecer o quanto deveriam ser gratos por Seus atos maravilhosos.

A libertação do Egito era um fato central e, talvez, em certos aspectos, mais impressionante que esse evento tenha sido o fato de que Deus falou com o povo no Sinai, permitindo-lhe ouvir do meio do fogo as Suas palavras.

3. Leia Deuteronômio 4:40. A que conclusão Moisés queria que o povo chegasse a partir de tudo que Deus havia feito por eles?

O Senhor não fez todas essas coisas sem um propósito. Ele redimiu os israelitas, cumprindo Sua parte na aliança estabelecida com eles. Eles foram libertos do Egito e estavam prestes a entrar na terra prometida. Deus fez Sua parte; eles deviam fazer a sua, que era, simplesmente, obedecer.

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Como esse modelo representa o plano da salvação expresso no NT? O que Jesus fez por nós e como devemos responder a isso? (Veja Ap 14:12.)


Terça-feira, 30 de novembro
Ano Bíblico: Gl 1-3
Tenham cuidado para que não se esqueçam

4. Leia Deuteronômio 4:9, 23. O que o Senhor está dizendo ao povo que faça, e por que essa admoestação é tão importante para a nação?

Dois verbos dominam o início de ambos os versos: “tenham cuidado” e “não se esqueçam”. O que o Senhor lhes diz é: tome cuidado para não se esquecer. Ou seja, não se esqueça do que o Senhor fez por você nem da Sua aliança.

“Tomar cuidado” (hishmer) ocorre em todo o AT e significa “guardar”, “vigiar”, “preservar” e “proteger”. Curiosamente, a primeira vez que tal expressão aparece nas Escrituras é antes mesmo do pecado, quando o Senhor disse a Adão para “guardar” o jardim que havia concedido a ele (Gn 2:15).

Na passagem acima, porém, o Senhor diz a cada um individualmente (o verbo está no singular) para se guardar, para não se esquecer. Isso não significa “esquecer” tanto no sentido de perder a memória (embora isso possa acontecer com o tempo e nas gerações posteriores), mas no sentido de ser negligente em relação às obrigações da aliança. Isto é, eles deveriam estar atentos sobre quem eram e o que isso significava em termos de como deveriam viver diante de Deus, dos outros hebreus, dos estrangeiros entre eles e diante das nações ao seu redor.

5. Leia Deuteronômio 4:9 (veja também Dt 6:7 e 11:19) e concentre-se na última parte. O que isso tem a ver com ajudá-los a não esquecer?

Depois que Moisés disse aos israelitas para não se esquecerem e não permitirem que essas coisas se afastassem “do seu coração”, não é coincidência ele lhes dizer também para ensiná-las às gerações seguintes. Seus filhos não apenas deveriam ouvir, mas contar e recontar o que Deus tinha feito por eles, de modo que não se esquecessem. Haveria melhor maneira de preservar o conhecimento do que o Senhor faz por Seu povo?

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Quando você fala sobre sua experiência com Deus, beneficia, além de você, os outros também? Como o relato da liderança de Deus o ajuda a não se esquecer da Sua direção?


Quarta-feira, 01 de dezembro
Ano Bíblico: Gl 4-6
Alimentados, satisfeitos e ingratos

Um ex-líder da igreja, que trabalhou na Associação Geral dos Adventistas por 34 anos, contou que, ele e a esposa haviam perdido a bagagem num aeroporto. Ele disse: “Bem ali, perto da esteira de bagagens e em público, nos ajoelhamos e oramos, pedindo ao Senhor a devolução da bagagem perdida”. Muitos anos depois, aconteceu a mesma coisa: chegaram ao aeroporto, mas uma das malas não. Então, o líder disse à esposa: “Não se preocupe, o seguro vai cobrir”.

6. Com essa história em mente, leia Deuteronômio 8:7-18. Que advertência o Senhor deu ao povo, e o que isso significa para nós hoje?

Veja o que a fidelidade dos israelitas ao Senhor lhes traria. Eles não apenas possuiriam uma terra maravilhosa e rica, em que não teriam escassez e em que não lhes faltaria nada (Dt 8:9), mas seriam extremamente abençoados ali com rebanhos, manadas, ouro, prata e belas casas. Ou seja, teriam todo o conforto material que esta vida oferece.

Mas e então? Eles enfrentariam o perigo que acompanha a riqueza e a prosperidade: esquecer que é o Senhor quem dá força para obter riquezas (Dt 8:18).

Talvez não no início, mas com o passar dos anos, quando tivessem todo conforto material que desejassem, eles se esqueceriam do passado, e de como o Senhor os havia conduzido por “aquele grande e terrível deserto” (Dt 1:19): eles, de fato, pensariam que sua própria inteligência e talentos fossem a causa de todo o seu sucesso.

O Senhor os estava advertindo contra esse perigo (Infelizmente, quando lemos os profetas posteriores, vemos que foi isso que aconteceu com eles.)

Assim, em meio a essa prosperidade, Moisés os exortou a lembrar que o Senhor tinha sido a fonte de sua riqueza. Por isso, não deviam ser iludidos pelas bênçãos materiais nem confiar nelas. Séculos depois, o próprio Jesus alertou, na parábola do semeador, sobre “a fascinação da riqueza” (Mc 4:19).

Não importa quanto dinheiro e bens materiais tenhamos, somos todos de carne e osso esperando a morte. O que isso nos diz sobre os perigos que vêm da riqueza? A riqueza pode nos fazer esquecer de que precisamos do Único que pode nos livrar da morte eterna.

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Quinta-feira, 02 de dezembro
Ano Bíblico: Ef 1-3
Lembre-se de que você foi escravo

7. Leia Deuteronômio 5:15; 6:12; 15:15; 16:3, 12 e 24:18, 22. Do que o Senhor queria que os israelitas jamais se esquecessem, e por quê?

No AT, o Senhor constantemente relembrava o povo sobre o êxodo, sua libertação milagrosa do Egito. Até hoje, milhares de anos depois, os judeus celebram a Páscoa, um memorial do que o Senhor fez por eles. “E, quando estiverem na terra que o Senhor lhes dará, como prometeu, observem este rito. Quando os seus filhos perguntarem: ‘Que rito é este?’, respondam: ‘É o sacrifício da Páscoa ao Senhor, que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando matou os egípcios e livrou as nossas casas’. Então o povo se inclinou e adorou” (Êx 12:25-27).

Para a igreja no presente, a Páscoa é símbolo da libertação que nos foi oferecida em Cristo: “Pois, também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado” (1Co 5:7).

8. Leia Efésios 2:8-13. Do que os crentes gentios deviam se lembrar? Há uma relação com o que os hebreus em Deuteronômio foram instruídos a lembrar?

Paulo queria que aquelas pessoas se lembrassem do que Deus havia feito por elas em Cristo, de que Ele as salvou e o que elas tinham adquirido então devido à graça divina. Assim como aconteceu com os filhos de Israel, não era nada de si próprias que as justificava perante Deus. Em vez disso, apenas a graça divina dada a eles, embora fossem “estranhos às alianças da promessa”, as tornava quem eram em Cristo Jesus.

Para os judeus no deserto e os cristãos em Éfeso, o importante era que sempre se lembrassem do que Deus havia feito por eles em Cristo. O mesmo princípio se aplica aos adventistas do sétimo dia em qualquer parte do mundo. “Faria muito bem para nós se diariamente passássemos uma hora refletindo sobre a vida de Cristo. Devemos considerá-la ponto por ponto e deixar que a imaginação tome conta de cada cena, especialmente as finais. Ao meditar assim em Seu grande sacrifício por nós, nossa confiança Nele será mais constante, nosso amor será fortalecido, e seremos mais semelhantes a Ele” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 83).

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Sexta-feira, 03 de dezembro
Ano Bíblico: Ef 4-6
Estudo adicional

“Como é grande a condescendência de Deus e Sua compaixão por Suas criaturas falíveis, colocando assim o belo arco-íris nas nuvens como sinal de Seu concerto com os seres humanos! O Senhor declara que, ao olhar para o arco, Ele Se lembrará de Sua aliança. Isso não significa que Ele iria Se esquecer; Ele fala conosco em nossa linguagem para que possamos compreendê-Lo melhor. Era plano de Deus que, quando os filhos das gerações posteriores perguntassem o significado do arco glorioso que abrange os céus, seus pais repetissem a história do dilúvio e lhes dissessem que o Altíssimo estendeu o arco e o colocou nas nuvens como uma garantia de que as águas nunca mais inundariam a Terra. Assim, de geração a geração, testificaria do amor divino para com o ser humano e fortaleceria sua confiança em Deus” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 106, 107).

A igreja em alguns países desfruta de uma prosperidade que nunca houve. A que custo? Essa riqueza acaba prejudicando nossa espiritualidade. A riqueza e a abundância material fomentam a virtude do sacrifício próprio? Quanto mais as pessoas têm, mais autossuficientes se tornam e menos tendem a depender de Deus. Riqueza e prosperidade, por melhor que sejam, trazem muitas armadilhas espirituais perigosas.

Perguntas para consideração

1. A riqueza pode impactar nossa espiritualidade? De que modo os ricos podem se proteger de alguns dos perigos espirituais que a riqueza pode criar?

2. O que as cenas finais da vida de Cristo nos dizem sobre o amor de Deus? Que outras coisas revelam a bondade divina e por que devemos sempre manter isso em mente?

3. Alguns cientistas afirmam que não houve dilúvio mundial e criação em seis dias, embora a Bíblia afirme que houve e indique os lembretes desses eventos (o sábado e o arco-íris). Quão poderoso e negativo pode ser o impacto da cultura sobre a fé?

Respostas e atividades da semana: 1. Deus Se lembra de Suas promessas. Devemos nos lembrar de cumprir a nossa parte. 2. A forma pela qual Deus agia no meio deles e por eles. Assim saberiam que só o Senhor é Deus. 3. O povo devia obedecer a Deus. 4. Que não se esquecessem do que Deus tinha feito para que não perdessem as bênçãos. 5. Deviam contar a história às gerações futuras. 6. Eles deviam se lembrar de que foi o Senhor quem lhes deu as bênçãos. Devemos nos lembrar de que é pela graça que somos chamados filhos de Deus e temos esperança. 7. De que foram escravos e de que Deus, em Seu amor, os escolheu como povo especial. 8. Eles haviam sido salvos pela graça, não por suas obras.

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Resumo da Lição 10
Lembrem-se e não se esqueçam

TEXTO-CHAVE: Dt 9:7

FOCO DO ESTUDO: Gn 9:8-17; Êx 20:8; Dt 4:9, 23, 32-39; 6:7; 8:7-18; 32:7; Ef 2:8-13

ESBOÇO

Na entrada do campo de concentração de Auschwitz há uma placa com uma citação do filósofo George Santayana que desafia a todos aqueles que entram no local a relembrar os horrores do nazismo: “Quem não se lembra da história está fadado a vivê-la novamente.” Após a lição sobre arrependimento, vem naturalmente a lição sobre recordar. Para lembrar, assim como para se arrepender, você precisa voltar ao passado e trazê-lo de volta ao presente. Portanto, é crucial que entendamos por que é importante lembrar, o que lembrar e como lembrar a fim de assegurar um arrependimento genuíno.

Temas da lição

Esta lição nos expõe a uma série de temas que nos ajudam a aprofundar a compreensão do princípio da lembrança:

• Lembre-se da criação. Se não nos recordamos das nossas origens, muito do que acreditamos não faz sentido de fato.

• Lembre-se do dilúvio. Mesmo em meio a uma catástrofe, Deus Se lembra de Seu povo.

• Lembre-se do êxodo. Lembrar de atos de salvação passados (o que Deus fez por Seu povo) apoia e fortalece a fé no Senhor e a certeza de que Ele atuará novamente.

• Lembre-se de que você era gentio. É importante não esquecer o que Deus fez em nosso favor.

COMENTÁRIO

O livro de Deuteronômio, com 19 ocorrências do verbo zakar, “lembrar”, é, mais do que qualquer outro livro da Bíblia, um texto sobre lembrança. Sendo assim, Deuteronômio traz uma rica extensão do uso do verbo “lembrar”, com todas as suas variadas aplicações, e apresenta ensino teológico fundamentado nos eventos das experiências passadas dos israelitas. Na maioria das vezes, o verbo “lembrar” tem Deus como sujeito e diz respeito ao Seu povo; Deus Se lembra da aliança, de Seu relacionamento com Seu povo. O verbo “lembrar” também tem “Israel” como sujeito, e o objeto da lembrança é Deus, Suas ações e Sua aliança. Em geral, é o evento do êxodo que prende a atenção (Dt 5:15; 15:15; 16:3, 12; 24:18, 22). Mas, ocasionalmente, Moisés se refere aos anos de peregrinação no deserto como um tempo de prova (Dt 8:2), ou como uma lição sobre a ira divina para disciplinar Israel. A ideia é que todos esses eventos passados sirvam como material formativo para moldar a fé de Israel.

No livro de Deuteronômio, e em toda a Bíblia, a ideia de “lembrar” é enfatizada de modo recorrente. Durante a lição desta semana, devemos meditar sobre esse tema em relação a quatro eventos-chaves na Bíblia: (1) a criação do nada; (2) o livramento do dilúvio; (3) o êxodo de Israel do Egito e sua teimosia; e (4) a conversão dos gentios do paganismo para a fé israelita. Todos esses eventos têm algo em comum; todos representam o ato de salvação de Deus das trevas para a luz, da morte para a vida, da maldade para a justiça.

Lembre-se da criação (Êx 20:8)

O verbo “lembrar” é usado no quarto mandamento para nos recordar do primeiro evento da história humana, a criação dos céus e da Terra, e o sétimo dia da criação, o sábado, que também foi o primeiro dia da história da humanidade. Esse verbo não apenas evoca o acontecimento mais antigo da história humana, mas também, e mais importante, faz um apelo para que nos lembremos das nossas raízes, de onde viemos. Retrata a lição de que “foi Ele, e não nós, que nos fez” (Sl 100:3, ARC). O verbo “lembrar” se refere, de fato, ao nosso Criador, sem o qual não estaríamos aqui.

A criação é o primeiro evento a ser lembrado porque é o que relata nossas raízes. É significativo que o quarto mandamento, que nos exorta a lembrar, seja paralelo ao quinto mandamento (Êx 20:12), que nos exorta a honrar nossos pais. Esse paralelo não é apenas visível na estrutura do Decálogo; também aparece na estrutura gramatical dos verbos. Ambos os verbos “lembrar” e “honrar” são usados no imperativo positivo. Todos os outros mandamentos são escritos na forma negativa. Lembrar-se do sábado, ou de onde viemos, está relacionado a lembrar-se de nossos pais, que são nossas raízes. Se deixarmos de nos lembrar do nosso passado, de nossas raízes, não conseguiremos florescer espiritualmente. Ambos os mandamentos, o quarto e o quinto, contêm promessa quanto ao futuro. Assim como o sábado promete o futuro dia de descanso para a humanidade (Sl 95:11; compare com Hb 3:11; 4:3-7), o mandamento de honrar nossos pais promete uma vida longa (compare com Ef 6:2).

Lembre-se do dilúvio (Gn 8:1)

Essa passagem contém a primeira ocorrência do verbo zakar, “lembrar”. Deus é o sujeito do verbo, Ele salvou a humanidade. O uso do verbo zakar, “lembrar”, não significa algum tipo de deficiência de memória por parte de Deus, mas sim que Deus salvou a humanidade das profundezas do esquecimento. Os humanos sobreviveram às águas do dilúvio e, portanto, foram lembrados. Quando o texto bíblico fala sobre Deus Se lembrando de Suas criaturas é para se referir ao ato de salvação divino quando Ele cumpre Sua promessa no tempo determinado (Gn 19:29). O verbo zakar, “lembrar”, significa, no caso de Noé, o fim do dilúvio, que é precisamente marcado no tempo (Gn 8:3-6), assim como o sábado marca um tempo determinado no fim da obra da criação. É digno de nota que o dia de sábado também desempenha um papel no calendário do dilúvio. Observe que esses períodos de sete dias contribuem para a seguinte estrutura quiástica da narrativa cujo centro é o fato de que “Deus Se lembrou” (tabela segundo Jacques B. Doukhan, “Gênesis”, Seventh Day Adventist International Bible Commentary, p. 151):

7 dias de espera de Deus (Gn 7:4)

7 dias de espera de Deus (Gn 7:10)

40 dias de aumento das águas (Gn 7:17)

150 dias de águas prevalecentes (Gn 7:24)

Deus Se lembrou (Gn 8:1)

150 dias de diminuição das águas (Gn 8:3)

40 dias de diminuição das águas (Gn 8:6)

7 dias de espera de Noé (Gn 8:10)

7 dias de espera de Noé (Gn 8:12)

Lembre-se do êxodo (Dt 9:7)

Recordar o êxodo é certamente o apelo mais predominante na Bíblia em se tratando de lembrar-se de algo. Nesse caso, o verbo “lembrar” tem Israel como sujeito. O povo se lembra não apenas do ato divino de salvação, que o tirou de sua condição de escravo no Egito, mas também da indignidade de Israel. Nesse verso (Dt 9:7), Israel deveria se lembrar de como era teimoso para com Deus, resistindo ao Seu esforço para salvá-lo. Temos um duplo imperativo, na forma positiva, “Lembrem-se!”, seguido por outro na forma negativa, “Não se esqueçam!”. Esses imperativos são enfáticos, lembrando Israel de sua teimosia absurda. Se os israelitas fossem tolos o suficiente para se esquecerem de que Deus os tinha salvado da escravidão do Egito, e tolos o suficiente para pensar que Deus lhes tinha dado a terra prometida por causa de seus méritos e de sua justiça, isso indicaria que sofriam de um caso severo de amnésia. Portanto, foram chamados duas vezes a se lembrar, primeiro positivamente e, em segundo lugar, negativamente, para ter certeza de que o fariam. Essa insistência acrescenta peso à ira e ao juízo divino sofridos depois que saíram do Egito. O principal exemplo para ilustrar o drama de Israel é a rebelião da nação em Horebe, que precipitou a produção de novas tábuas. O êxodo seria, a partir de então, o principal evento do qual Israel deveria se lembrar e ensinar aos seus filhos de geração em geração (Dt 6:7; 32:7). No presente, os judeus ainda se “lembram” da história do êxodo na leitura anual da Hagadah [“contar”], que é o instrumento pelo qual se cumpre a mitsvá [“o mandamento”] de recontar todos os anos a história da Páscoa e narrar o êxodo do Egito. Da mesma forma, cristãos de todo o mundo recordam a Ceia do Senhor, que em si é a lembrança da Páscoa do êxodo.

Lembrem-se de que eram gentios (Ef 2:8-13)

Assim como Moisés fez com o antigo Israel, Paulo fez com os gentios que se converteram à nova aliança, ao exortar: “Não se glorie contra os ramos. Mas, se você se gloriar, lembre que não é você que sustenta a raiz, mas é a raiz que sustenta você” (Rm 11:18). Esses recémconvertidos se comportavam da mesma forma que o antigo Israel. Ambos se vangloriavam e eram arrogantes, pensando, em sua tolice, que eram dignos da graça divina. Ambos tinham se “esquecido”. Assim como Israel se esqueceu de como era indigno, os gentios se esqueceram das trevas e da iniquidade de seu passado. Além disso, esqueceram-se de que tinham sido apenas enxertados nos ramos originais e que deveriam, portanto, aprender a ser humildes.

Perguntas para discussão e reflexão: Como você “se lembra” da criação e do primeiro “sábado” quando observa o sábado? Como você se lembra do êxodo quando celebra a Ceia do Senhor? Quais são as consequências históricas do esquecimento, por parte da igreja, das suas raízes judaicas?

APLICAÇÃO PARA A VIDA

Aprenda a lembrar: Costumávamos decorar passagens inteiras da Bíblia. Medite sobre o valor de decorar versos bíblicos e comente com a classe. Tendo em mente o fato de que a maior parte da Bíblia foi escrita para ser aprendida de cor, desafie-se a decorar a história da criação, um texto que foi construído de forma única, com seus paralelos e repetições, para ser memorizado. Encontre linhas e palavras na história da criação que são repetidas; reflita sobre os motivos que poderiam justificar essas repetições.

Ilustração: Pegue uma flor natural e outra artificial e apresente-as à classe. Qual é a superioridade da flor natural sobre a artificial, e por quê? Qual é a superioridade da flor artificial sobre a natural, e por quê? Discuta a importância da raiz da flor e a importância da flor em si.

Autocrítica: Lembre-se dos valores que foram enfatizados no passado pelos pioneiros de nossa igreja e que no presente estão esquecidos. O que devemos fazer para refrescar nossa memória? Dizem que somos anões sentados nos ombros de gigantes. Comente sobre essa autocrítica.

Vida na igreja: Sua comunidade é formada por idosos que se lembram da solidez das raízes e por jovens que gostam da vida e da beleza da flor recém-desabrochada. Aplique sua reflexão aos serviços de adoração, música e sermões do culto divino. Proponha soluções concretas que poderão ser aceitas e apreciadas por ambos os grupos.


Escolhendo a missão

Desde minha adolescência, sonho em ser missionária. Mas, como? Meu pai morreu quando era criança e minha mãe era praticamente a única cristã que eu conhecia. Nossos familiares eram xamã e adoravam nossos ancestrais na minha terra natal, Coreia do Sul. Certo dia, minha mãe chegou com boas notícias, “Conheço um professor que está enviando missionários para outros países e ele quer conversar com você sobre seu sonho”, disse. Fiquei emocionada e marquei uma reunião com o professor. Vários dias depois, indo para esse encontro, passei por um grupo de adolescentes vestindo camisetas com as letras “SOS”. Eles me convidaram para uma reunião de evangelismo para estudantes em uma igreja adventista do sétimo dia próxima. Gosto muito da igreja e prontamente acompanhei os alunos ao bonito templo de madeira.

Quando o pastor soube que eu era cristã, perguntou-me sobre o que eu sabia a respeito do sábado. Eu guardava os domingos. O pastor explicou sobre a guarda do sábado. Enquanto ele falava, meu coração começou a se sentir aquecido. Naquele momento, meu celular tocou. Era o professor, informando que estava à minha espera. Foi muito estranho. Eu queria muito conversar com ele, mas as palavras do pastor tocaram profundamente meu coração, e adiei nosso encontro para o dia seguinte. Naquela noite, aprendi sobre o sábado, a segunda vinda de Cristo, o julgamento, salvação de Deus e o grande conflito. Meu coração transbordou de alegria.

No dia seguinte, voltei à linda igreja de madeira para aprender mais sobre a Bíblia. Enquanto estava lá, o professor telefonou. Respondi que estava ocupada estudando a Bíblia na igreja adventista do sétimo dia. Com raiva, ele disse que os verdadeiros cristãos não seguem as doutrinas dos adventistas e explicou suas doutrinas para mim. O pastor, que estava sentado perto, não pôde ajudar, mas ouviu a conversa. Ele disse que as doutrinas do professor pareciam aquelas ensinadas por um grupo de ramificação cristã que afirma que seu líder é o próprio Espírito Santo. Fizemos algumas verificações e descobrimos que o professor pertencia a esse grupo. Minha mãe também pertencia ao grupo.

Fiquei triste e chateada porque minha mãe tentou me enganar para entrar no grupo. Implorei a ela que estudasse a Bíblia com o pastor adventista, mas ela recusou com raiva. Eu não tinha certeza do que fazer a seguir. O pastor sugeriu que eu me matriculasse na Universidade Adventista de Sahmyook. “Você poderia estudar mais a Bíblia e conduzir sua mãe à verdade”, disse ele. A raiva de minha mãe suavizou enquanto eu estudava na universidade. Contei a ela o que aprendia e deixei propositadamente vários materiais de estudo da Bíblia espalhados pela casa. Pouco a pouco, ela assistia às mensagens adventistas no YouTube e lia revistas adventistas. Pela graça de Deus, me formei na universidade em 2020.

Então, uma reunião desse grupo cristão de que minha mãe participava, transformou-se em grande disseminadora do coronavírus, resultando em um dos piores surtos na Coreia do Sul. Milhares de pessoas, incluindo minha mãe, foram infectadas. Felizmente, ela se recuperou rapidamente, mas a igreja do grupo foi fechada e suas reuniões foram proibidas. Acredito que Deus está conduzindo minha mãe a um conhecimento mais profundo.

Amo as palavras de Jesus: “Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido” (Lc 19:10). Esse verso fala sobre mim. Olhando para trás, posso ver que, através da providência, conheci aqueles missionários SOS e percebi a verdade sobre minha mãe. SOS significa “Salvation, Only Jesus, Service” (“Salvação, Somente Jesus, Serviço”) e pretendo me tornar uma missionária SOS para minha mãe e para o mundo. Esse plano é a resposta ao meu sonho.

So-hee está entre muitos adventistas do sétimo dia da Coreia do Sul com um coração voltado para a missão. Neste trimestre, os membros da igreja de todo o mundo têm a oportunidade de ter um coração voltado para a missão na Coreia do Sul. Parte da oferta desse trimestre ajudará a estabelecer centros missionários em duas cidades.

Informações adicionais

• Peça que uma jovem apresente esta história na primeira pessoa.

• O SOS (Salvation, Only Jesus, Service) é um movimento missionário juvenil com base na Coreia do Sul, cujo objetivo é ajudar os jovens a alcançar sua própria geração. O movimento começou em 2015 entre os jovens da Associação do Sudeste Coreano. Por uma semana durante o período de férias, os adolescentes SOS abordam outros adolescentes na rua, convidando para ir à igreja, oferecem estudos bíblicos e, por fim, convidam para entregar o coração a Jesus no batismo.

• Faça o download das fotos no Facebook: bit.ly/fb-mq.

• Para outras notícias sobre o Informativo Mundial e informações sobre a Divisão do Pacífico Norte-Asiático, acesse: bit.ly/nsd-2021.

 

Esta história ilustra os componentes seguintes do plano estratégico do “I Will Go”, da Igreja Adventista: Objetivo de Crescimento Espiritual nº 1 – “reavivar o conceito de missão mundial e sacrifício pela missão como um estilo de vida envolvendo não apenas pastores, mas todos os membros da igreja, jovens e idosos, na alegria de testemunhar por Cristo e fazer discípulos”; Objetivo de Crescimento Espiritual nº5 – “discipular indivíduos e familiares numa rotina espiritual”; e Objetivo de Crescimento Espiritual No. 7 – “ajudar jovens e adultos a colocar Deus em primeiro lugar e exemplificar uma visão bíblica de mundo”. Saiba mais sobre o plano estratégico em IWillGo2020.org.

 


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2021

Tema Geral: A verdade presente em Deuteronômio

Lição 10 – 27 de novembro a 3 de dezembro de 2021

Lembrem-se e não se esqueçam

Autor: Sérgio H. S. Monteiro

Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Rosemara Santos

Lembrar é o verbo de preferência da humanidade. Seja em afirmações ou negações: ou somos presos ao passado, sempre nos lembrando, vivendo um eterno passado ou dele fugindo em constantes negações. Em geral, a lembrança está relacionada com bons momentos ou traumas vividos no passado e a forma como nos relacionamos com esses momentos ou traumas no presente.

Se olharmos para a história de Israel no deserto veremos uma proporção imensa de traumas ou momentos ruins que deveriam ser relegados ao esquecimento. De fato, uma das Parashiot (nome dado pelos judeus às porções temáticas do Pentateuco) é maassey, cujo significado é jornadas, e está em Números 33, recontando as 42 paradas de Israel durante a viagem no deserto. Parece estranho haver vários capítulos da Bíblia que se dediquem apenas a falar que o povo saiu daqui e parou ali. Os rabinos antigos se perguntaram qual seria a razão de sua existência e concluíram que o objetivo do Eterno nesse texto era elencar as 42 falhas de Israel durante sua peregrinação. Deus não queria que eles se esquecessem de tudo que haviam feito de errado. Isso não seria uma maldade sem tamanho de um Deus que é amor e que, na visão hodierna, Se esquece dos pecados e do passado, e jamais castiga ou pune? Não seria essa lembrança constante dos atos falhos de Israel justamente uma punição, contrária à natureza divina que é amor (1Jo 3:4; 4:8)?

Na verdade, não. A ênfase divina não está no ato falho de Israel, mas nas oportunidades em que Deus demonstrou Seu perdão. Se é verdade que Ele puniu o povo, é verdade também que Ele não os destruiu e sempre apresentou oportunidades para que, de alguma forma, o próprio povo fosse preservado e não destruído. E é exatamente isso que se celebra anualmente em cada uma das haguim ou festas bíblicas. Cada tempo de celebração é uma lembrança de um momento em que o Eterno exerceu Seu poder aliado a Seu Amor para perdoar, salvar e redimir Seu povo.

Veja, por exemplo, o episódio do bezerro de ouro, narrado em Êxodo 32. É muito claro que Deus poderia, sem aviso algum a Moisés, ter destruído aquele povo inteiro e feito de Moisés uma nação poderosa. Mas Ele não o fez, porque o aviso a Moisés e a aparente submissão divina aos imperativos de Moisés, são uma forma poderosa de demonstrar que a ira de Deus é relativizada pela intercessão, e Seus pronunciamentos de justiça são abrandados pelas cordas humanas (Os 11) que O atam ao Seu povo. Noutro exemplo, o povo inteiro preferiu dar ouvidos aos dez espias que trouxeram um mau relatório da terra, conforme o relato de Números 13 e 14. Chegaram ao ponto de dizer, em uma possível tradução ou interpretação do hebraico em Números 13:31, que o povo da terra era mais forte do que Ele (mimmenu), em uma tremenda falta de lembrança de como Ele os tinha guiado até ali. Deus os puniu com certeza, mas também no mesmo ato, tomou providências para que o povo que havia nascido de Abraão continuasse existindo.

Os exemplos se multiplicam. Na contagem rabínica, quarenta e dois. Não parei para contar, mas sei que eles eram meticulosos nesses assuntos. Por isso, é bem provável que fosse verdade. Independentemente do número, há uma lição fantástica nos eventos: Deus não queria que o povo seguisse em seu curso de autodestruição e afastamento Dele. E de que forma Ele buscava mantê-los ao Seu lado? Pelos exemplos, talvez você pense que era pelo medo. Mas e se mudarmos o pensamento e virmos não apenas os eventos em si e as punições, mas a preservação do povo? E se, ao invés de nos concentrarmos em aspectos negativos, olharmos para o positivo que adveio de cada evento? Afinal, Israel existe até hoje. O Messias, Jesus, nasceu em Israel, a salvação veio dos judeus, algo impossível se Deus não os houvesse preservado, mesmo em meio às punições e castigos, e não lhes houvesse sussurrado amor, mesmo em meio aos trovões da reprovação.

Esse é o objetivo de Deus em tantas vezes pedir ou ordenar ao povo que se lembrassem e não se esquecessem. Se lembrassem que eram pecadores, infinitamente indignos de tudo o que Ele fazia por eles, mas que por Seu próprio amor Ele seguiria fazendo o que fosse possível para atraí-los para perto de Si. O propósito era não permitir que os atos de amor, redenção, libertação e preservação saíssem de sua memória. Eles não deveriam se esquecer de quem Ele era, e precisavam se lembrar de que, se eles eram algo, era porque Ele os havia feito ser aquilo.

O termo lembrar, em hebraico zakhar, aparece mais de 300 vezes nas Escrituras. Destas, a passagem mais conhecida entre nós adventistas, é, certamente, Êxodo 20:8, que nos chama a lembrar do sábado como um dia santo ao Eterno. O termo não significa meramente trazer à memória algum evento, mas manter a mente em reflexão sobre o objeto da lembrança. O mesmo termo pode ser usado também para nomear, proclamar algo ou alguém importante, trazendo seus nomes para a narrativa histórica, como em Oseias 2:17 (19 no hebraico). Dessa forma, o termo é um convite a se demorar na lembrança, refletindo sobre seu significado e propósito e não apenas como um fugaz pensamento. Esse é o tipo de lembrança que o Eterno buscava e busca de Seu povo. Não devia ser uma mera e passageira recordação, mas um profundo senso de gratidão pelos Seus atos passados que os haviam trazido até aquele momento, àquele lugar, e que não deveriam ser ocultos em seus pensamentos, mas declarados em cada palavra, em cada ação, em cada ir ou ficar, em cada deitar ou levantar (Dt 6:5-9).

Esse é o Deus das memórias, porque Ele mesmo é o Deus da História, que Se move na História e que Se revela nela e através dela. A História é o Seu palco de atuação e toda a Sua autorrevelação se deu e se dá na História. E isso porque na História há relacionamento e proteção. Há o relacionamento salvífico e revelador de Deus, mas também a proteção contra a apostasia, porque aquele que se esquece do passado não possui fundamentos para o presente e bases para o futuro. Mas aquele que, ao contrário, olha para o passado, sem se prender a ele, mas permanece firme Nele, possui o fundamento do presente e a certeza do futuro.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O pastor Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É bacharel em Teologia, mestre em Teologia Bíblica e cursa doutorado em Bíblia Hebraica. É pastor na Escola do Pensar e no Instituto de Estudos Judaicos Feodor Meyer. É membro da Adventist Theological Society, International Organization for the Study of the Old Testament, Society for Biblical Literature e Associação dos Biblistas Brasileiros.

Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2021

Tema Geral: Deuteronômio

Introdução a Deuteronômio

Autor: Sérgio H. S. Monteiro

Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Rosemara Santos

Nome do livro

O quinto livro das Escrituras, completando o chamado Pentateuco é “Deuteronômio”. O título do livro significa “Segunda Lei”, em português, e deriva do termo utilizado na Septuaginta (tradução grega da Bíblia hebraica, datada do 3º ou 4º século a.C.). O título original do livro, entretanto, como era comum nas Escrituras Hebraicas, deriva de suas primeiras palavras: “eleh hadevarim”, ou “estas são as palavras”. O título hebraico acentua a característica discursiva do texto, enfatizando o que é dito nele mesmo, segundo o qual, Deuteronômio se constitui em um discurso feito por Moisés, antes de sua morte (Dt 1:3). Já o título grego enfatiza o conteúdo legal do livro, com sua ampla repetição da Lei. Parece indicar, também, que os tradutores da Septuaginta viam o texto como sendo o texto encontrado pelos auxiliares do rei Josias, e que guiou suas reformas religiosas no 7º século a.C., como já sugerido pelos pais da igreja. Sendo isso um fato ou não, o título grego Deuteronômio se harmoniza de maneira perfeita com o conteúdo do livro, assim como o título hebraico se harmoniza com a forma dele (o que, diga-se de passagem, não aconteceu com outros livros cujo título grego causa apenas confusão, como “Números”, cujo título hebraico é Bamidbar: “no deserto”).

Essa dupla nomenclatura deverá ser mantida em nossa jornada nos próximos três meses, enquanto estudamos o guia da Lição da Escola Sabatina sobre Deuteronômio. Ele nos ajudará a compreender vários aspectos do livro, que podem ser perdidos de outra forma. Devemos, portanto, lembrar em cada leitura que estamos lidando com um discurso de Moisés, carregado do impacto de sua sabida despedida. Nesse discurso, ele relembra ao povo as experiências históricas que o levaram até aquele momento, dando-lhe, por seu turno, uma repetição da própria legislação que brotou de cada uma das experiências vividas.

Autoria e data

De longa data Deuteronômio foi reconhecido e recebido como um texto mosaico. Ele provinha da pena de Moisés e do período mosaico. Foi apenas com Baruch Spinoza, judeu espanhol do século 17, que dúvidas foram levantadas quanto à autoria mosaica do Pentateuco. Ele afirmou, por exemplo, que Moisés não poderia haver escrito sobre sua própria morte (Dt 34) e, portanto, o livro de Deuteronômio não era de sua autoria.

A principal teoria quanto à autoria do Pentateuco é que o texto é da época da reforma de Josias, por volta de 621 a.C., tendo sido produzido pelo palácio para dar validade a um projeto de poder que se centralizava em Jerusalém em torno do palácio, da figura real, do sacerdócio e do templo. Não obstante, evidências internas demonstram que o livro de Deuteronômio é anterior aos profetas literários, que são datados do 8º século a.C., é anterior ao período da monarquia dividida do 10º século a.C., e à conquista da terra por Josué, entre os séculos 15 e 14 a.C.

Quanto aos profetas, a expressão “O Eterno Deus dos seus pais”, que aparece em Deuteronômio, não é encontrada em nenhum dos profetas literários, mas está registrada três vezes em Êxodo (3:6; 15:12 e 18:4). Igualmente, a situação descrita em Deuteronômio 16 não condiz com o que conhecemos do tempo de Josias, no sétimo século a.C. A reforma de Josias tinha por objetivo especialmente três problemas: os Kemarim (sacerdotes idólatras), os bamot (lugares altos) e os cavalos de bronze para adoração ao deus sol. Nenhum desses itens é mencionado em Deuteronômio, criando uma tremenda dificuldade para os que enxergam uma data no 7º século a.C.

Evidência de que o texto tenha sido anterior à divisão do reino inclui a ausência de qualquer menção ou sugestão de que houvesse divisão entre Judá e Efraim e a frequência de expressões que entendem Israel como uma nação única (cf. Dt 1:13, 15, etc.). Igualmente, o relato demonstra que o livro foi ambientado em um período no qual Israel ainda não habitava em Canaã. Por exemplo, quando as fronteiras da terra são mencionadas, elas são descritas como “terra dos amorreus” e “Líbano” (1:7), e não como “de Dã até Berseba”, como em livros posteriores. A própria legislação de Deuteronômio pressupõe uma sociedade ainda em preparo para a entrada na terra, não uma que já estivesse ali estabelecida. Dos 346 versos dos capítulos 1–26, mais da metade é religioso e moral, enquanto 93 lidam com mandamentos sobre a iminente entrada na terra.

Em resumo, a melhor data para Deuteronômio é aquela apresentada no próprio texto: a iminente entrada na terra, quando Moisés ainda vivia, no fim dos 40 anos de peregrinação no deserto, por volta de 1405 a.C. No esteio da datação, faz todo sentido a autoria mosaica, estabelecida pelo texto de forma indireta e pelas referências posteriores a Deuteronômio como a Lei de Moisés.

Crítica textual

Como todos os livros da Bíblia, Deuteronômio possui também uma longa história textual. Os livros do Pentateuco, por sua vez, não têm uma história textual com variações muito importantes, uma vez que sempre foram considerados no pensamento judaico como ditados por Deus. Dessa forma, o processo de cópia respeitava – e respeita – estritas regras que visam impedir a corrupção do texto. Mas, com o decurso do tempo e principalmente com o surgimento de divisões internas no judaísmo, ainda que não tenha diminuído a importância e sacralidade da Torá/Pentateuco, surgiram tradições textuais diferentes, vistas no próprio texto, sendo as três principais o Pentateuco Samaritano, a Septuaginta e os Manuscritos do Mar Morto.

O texto padrão é conhecido como texto massorético por haver sido preservado por escribas especializados que preservaram a massorá, cujo significado é tradição, reconhecida como a que remontava até Moisés.

Os principais manuscritos massoréticos são o Códice de Alepo, datado de por volta de 920 a.C. e o Códice de Leningrado, datado em 1008 a.C. Esses dois manuscritos são a base do texto das Bíblias Hebraicas de hoje. Esses dois textos são comparados a outros manuscritos e, através de procedimentos próprios da crítica textual, o texto original é restaurado.

O Pentateuco Samaritano é o texto utilizado pelos samaritanos, escrito em alfabeto samaritano, que em poucas coisas se assemelha ao alfabeto hebraico que possuímos, mas que representa o alfabeto utilizado, provavelmente, por Israel antes do exílio da Babilônia. Ele possui não apenas uma língua diferente, mas também versos com versões alternativas, como a versão samaritana dos dez mandamentos, que conclama o povo a fazer um altar no monte Gerizim para adoração. No texto de Deuteronômio, encontramos duas interessantes mudanças também relacionadas com o lugar de adoração. No capítulo 27:2-8, o texto massorético emprega o futuro para indicar que Deus “escolherá” o lugar de adoração. Já no texto samaritano, o verbo utilizado está no passado, informando que ele já “escolheu” e essa escolha é o monte Gerizim, que, no Pentateuco Samaritano, toma o lugar do monte Ebal (v. 4).

A Septuaginta, ou a versão dos LXX, é a versão grega da Bíblia Hebraica, produzida por volta do 3º século a.C., com permissão do Sinédrio. De acordo com a tradição judaica, ela foi produzida por 72 sábios da Torá que, mesmo isolados, produziram um trabalho coerente. O que conhecemos como LXX, entretanto, tem em si mesmo uma história textual, que nos entregou versões, com a LXX propriamente dita e as versões de Teodócio, Símaco e Áquila. As alterações que a LXX preservou no texto de Deuteronômio são de tal importância que geraram toda uma disciplina de estudos. Os resultados desses estudos mostraram que, em algum momento, houve o surgimento de uma tradição textual que divergia do texto hebraico e tinha sido preservada pela LXX. O caminho dessa tradição textual foi no sentido de aproximar Deus do ser humano, focalizando mais em Sua imanência do que em Sua transcendência. Além disso, é clara a influência helenística na tradução da LXX.

A descoberta dos manuscritos do Mar Morto, em 1947, deu novo impulso à pesquisa do texto original dos livros bíblicos. Em relação a Deuteronômio, foram encontrados manuscritos em quase todas as cavernas, sendo a caverna quatro a principal, com 22 manuscritos encontrados. Alguns desses manuscritos concordam com o texto massorético do 9º século a.C., enquanto outros preservam uma leitura próxima da leitura da LXX.

Em suma, hoje possuímos como nunca, uma variedade de manuscritos de Deuteronômio que nos permite, por meio de análises textuais, nos aproximar muito, ou mesmo tocar, os textos como saíram das mãos de Moisés.

Estrutura

O livro de Deuteronômio consiste basicamente em discursos de despedida de Moisés. Reconhecem-se três discursos principais com apêndices curtos lidando com aspectos da aliança. A estrutura abaixo é um resumo da descrição apresentada por Gleason Archer em Merece Confiança o Antigo Testamento, p. 170, 171:

I. Primeiro Discurso: Revisão Histórica, cap. 11–4:43

II. Segundo Discurso: Leis Pelas Quais Israel Deve Viver, 4:44–26:19

III. Terceiro Discurso: Advertência e Predição, 27:1–30:20

IV. Lei Escrita Entregue aos Líderes, 31:1-30

V. O Cântico de Moisés: A Responsabilidade de Israel Diante da Aliança, 32:1-43

VI. Despedida e Recomendações Finais, 32:44–33:29

VII. A Morte de Moisés, 34:1-12

Tematicamente, é possível perceber uma estrutura circular, tendo o código da aliança, nos capítulos 12–26 como centro e duas molduras: uma interna (capítulos 4–11 e 27–30) e outra externa (capítulos 1–3 e 31–34). Essa estrutura demonstra o papel central da aliança no pensamento apresentado no livro.

Temas

São três os temas centrais do livro de Deuteronômio: Deus, Israel e Aliança.

Deus

Ele é o centro do livro, além de ser o centro das Escrituras. No Pentateuco, e em Deuteronômio em particular, Deus é apresentado por meio das lentes da revelação histórica, mais do que da natureza. Aliás, essa é uma das contribuições e polêmicas da Bíblia Hebraica: Deus é melhor conhecido por meio da Sua ação histórica. A história é o palco da revelação divina e a natureza apenas demonstra Seu poder criador, mas não Sua vontade redentora!

Israel

É o povo escolhido de Deus. Na Torá isso se torna explícito e claro. Em Deuteronômio, somos constantemente relembrados disso. Essa escolha, totalmente fundamentada em um ato livre da graça divina, não se baseia em nada que Israel houvesse apresentado para atrair a Divindade. Ao contrário, Israel havia sido infiel e desobediente e seguiria assim. Entretanto, por ser fiel à Sua aliança, o Eterno Se manteria ligado a esse povo.

Aliança

É o centro do relacionamento entre o Eterno e Israel. Embora nosso conceito de aliança precise ser revisto para perceber como a aliança é puramente divina, feita entre os membros da Divindade para benefício da ordem criada em geral e dos seres humanos em particular, não resta dúvida de que a aliança é o que liga o Céu à Terra, funcionando como um reino no qual os seres criados, perdidos e redimidos são convidados a entrar e viver. O coração de Deuteronômio pulsa com a aliança. No seu próprio centro, nos capítulos 12–26, encontramos o código de conduta dessa aliança, repetida por Moisés, que conclamou os israelitas a entrar nesse compromisso com o Senhor.

Lendo Deuteronômio

Moisés, em seus discursos carregados de emoção, inicia com a lembrança resumida de que eles ali chegaram porque, um dia, Deus prometeu aos seus pais a terra como herança, e isso não foi em decorrência de qualquer ação dos pais, mas pela livre graça amorosa de Deus. Essa é a lembrança fundamental que irá permear a caminhada de Israel, ou que deveria fazê-lo: o único antídoto para a apostasia e fundamento da esperança é a compreensão de que a origem de Israel é o chamado histórico de Deus. Embora Moisés não se preocupe em traçar as origens do povo até a criação, não resta dúvida de que na figura dos “pais” a história primordial está incluída, porque na visão bíblica, os patriarcas, como todos os seres humanos, são resultado dos primeiros 11 capítulos de Gênesis.

Por isso, um método sadio de interpretar e entender Deuteronômio deve levar em consideração alguns aspectos essenciais:

1. O texto é narrativo e apresenta um discurso de despedida de Moisés;

2. Grande parte do discurso apresenta palavras de Moisés e não de Deus.

3. O texto de Deuteronômio serve com um fechamento apropriado para a história iniciada em Gênesis, permitindo perceber várias nuances do amor de Deus individualizado.

O primeiro item deve nos levar a compreender o peso de cada palavra do texto. Os cinco discursos de Moisés que compõem o livro, mais a narrativa de sua morte, quando lidos a partir da perspectiva de um discurso de despedida, trazem uma visão diferente de cada tema apresentado. Não estão ali apenas palavras éticas de um grande professor, ou a narrativa histórica distante de um historiador, nem mesmo as palavras bem equilibradas de um poeta, mas a viva expressão da certeza de sua partida, temperada com a vívida fé histórica, moldada não pelas experiências de outrem, mas dele mesmo, como testemunho para aquela geração que descendia da geração que tinha morrido no deserto, mas também para futuras eras. A emoção é sensível nas palavras de repetição da legislação para aqueles jovens.

E por serem carregadas do tempo de vivência e da emoção do fim, as narrativas históricas de Deuteronômio são pintadas com a tinta da reflexão, e as pinceladas legislativas não são apenas repetidas menções de artigos do código levítico, mas vívidas interpretações daquele código. E aqui somos agraciados com uma oportunidade única: podemos ver Moisés, não como o mediador da entrega da Lei, mas como um intérprete. É possível, e isso é único, pensar nas palavras repetidas da Lei como a maneira pela qual o próprio Moisés entendeu a legislação dada a Ele por Deus e, por meio dele, ao povo! E precisamos permitir que essa realidade, a de que estamos escutando e lendo o que Moisés (certamente guiado pelo Espírito Santo) compreendeu da legislação que Deus lhe havia entregue, quando lermos os textos legais, apareça e faça parte do modelo de intepretação e restrinja nossa vontade de ser independentes em demasia.

Por fim, se mantivermos os dois primeiros artigos de nosso método em foco, aliados ao terceiro, quando estudarmos cada lição durante este trimestre, poderemos perceber que Deuteronômio trata precisamente da história como revelação, usando a expressão tão precisa de Wolfhart Pannemberg. Sim, a história sempre foi vista como um dos meios pelos quais Deus Se revela de forma geral, mas o fato, percebido por Pannemberg em Deuteronômio, é que a história é o palco por excelência da revelação especial, ou do plano da salvação. Por isso, podemos, e mais do que isso, devemos ler Deuteronômio como uma franca declaração histórica de um Deus que não legisla no vácuo, mas fundamenta Suas leis na Sua autorrevelação, contínua e constante, que se dá no palco da história. Ele quer ser não apenas o Autor distante da história, mas parte dela, interagindo com o ser humano e se relacionando com o mundo criado. Nessa verdade impressionante e transformadora apresentada na Torá (Pentateuco) e emocionalmente declarada e repetida nas palavras de Moisés, encontramos o foco do próprio Deuteronômio.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O Pr. Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É Bacharel em Teologia, Mestre em Teologia Bíblica, cursa doutorado em Bíblia Hebraica. É Pastor na Escola do Pensar e no Instituto de Estudos Judaicos Feodor Meyer. É membro da Adventist Theological Society, International Organization for the Study of the Old Testament, Society for Biblical Literature e Associação dos Biblistas Brasileiros.