Enquanto lidavam com um membro da igreja, alguém que fazia parte da comissão disse ao pastor: “Mas não podemos tomar decisões com base em compaixão.” Será? O pastor indagou que tipo de compreensão aquela pessoa tinha de Deus e de Sua lei. A compaixão, sem dúvida, deve ser essencial na maneira como lidamos com as pessoas, especialmente as que erram. Ela é parte integrante do amor, e, como diz Romanos 13:8, amar o próximo é cumprir a lei de Deus.
Se o amor é, de fato, o cumprimento da lei, então jamais devemos pensar na lei de uma forma separada do amor ou pensar no amor de uma forma que esteja desligada da lei. Nas Escrituras, o amor e a lei andam juntos. O Legislador divino é amor e, portanto, a lei de Deus é a lei do amor. Como disse Ellen G. White, a lei de Deus é a transcrição de Seu caráter (veja Parábolas de Jesus, p. 178).
A lei de Deus não é um conjunto de conceitos abstratos, mas mandamentos e instruções que se destinam ao nosso crescimento. Ela é uma expressão do amor tal como o próprio Deus o revela.
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A lei de Deus não consiste em conceitos abstratos, mas é uma expressão de relacionamento. Podemos ver isso claramente nos Dez Mandamentos. Os princípios básicos dos Dez Mandamentos já existiam no jardim Éden, pois são os princípios do amor que devem guiar o relacionamento entre Deus e as pessoas e entre as pessoas.
Quando os Dez Mandamentos proclamados em Êxodo 20 foram depois escritos em pedra, eles foram dados a Israel no contexto de um relacionamento de aliança. Os mandamentos foram escritos depois que o Senhor já havia libertado o povo do Egito, e se baseiam no amor de Deus e nas promessas que Ele fez aos israelitas (veja Êx 6:7, 8; Lv 26:12). A divisão dos Dez Mandamentos em duas partes mostra que o objetivo deles é promover o relacionamento dos seres humanos com Deus e uns com os outros.
1. Leia Êxodo 20:1-17. Como os Dez Mandamentos revelam os dois grandes princípios – amor a Deus e amor aos outros?
Os primeiros quatro mandamentos tratam do relacionamento das pessoas com Deus, e os últimos seis tratam do relacionamento das pessoas entre si. Nosso relacionamento com Deus e com os outros deve ser guiado pelos princípios da lei.
Essas duas partes da lei correspondem diretamente ao que Jesus identificou como os dois maiores mandamentos: “Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração” (Mt 22:37, citando Dt 6:5) e “Ame o seu próximo como você ama a si mesmo” (Mt 22:39, citando Lv 19:18).
Os primeiros quatro mandamentos são as maneiras pelas quais devemos amar a Deus de todo o nosso ser, e os últimos seis são as formas pelas quais devemos amar os outros como a nós mesmos. Jesus deixa explícito que esses dois grandes mandamentos de amor estão integralmente relacionados com a lei de Deus: “Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22:40).
O amor de Deus é a base de Sua lei. O amor e a lei de Deus são inseparáveis. Alguns dizem: “Não precisamos guardar a lei. Só precisamos amar a Deus e ao próximo.” À luz do que estudamos, por que essa ideia não faz sentido?
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O amor é o fundamento da lei. Quando Deus promove Sua lei, está promovendo o amor. Por isso, Jesus morreu para salvar os pecadores, para exaltar a lei e, ao mesmo tempo, oferecer Sua graça. Com isso, o Senhor poderia, ao mesmo tempo, ser justo e justificar os que creem (Rm 3:25, 26). Que expressão extraordinária de amor! Assim, a lei de Deus não é invalidada pelo plano da redenção. Em vez disso, é confirmada!
2. O que Paulo diz sobre a lei, mesmo depois da morte de Cristo? Rm 6:1-3; Rm 7:7-12 (com ênfase no verso 12)
Alguns acreditam que a graça e a redenção anulam a lei, mas Paulo deixa claro que jamais devemos continuar no pecado para que a graça aumente. Pelo contrário, os que estão em Cristo, mediante a fé, foram “batizados na Sua morte” e devem, portanto, considerar-se “mortos para o pecado, mas vivos para Deus” (Rm 6:3, 11).
A lei de Deus não possui ligação com o pecado, mas (entre outras coisas) torna o pecado e a nossa pecaminosidade mais visíveis para nós. É por isso que “a lei é santa e o mandamento é santo, justo e bom” (Rm 7:12). Ela revela, como nada mais, nossa necessidade de salvação, que só vem por meio de Cristo. Assim, não “anulamos [...] a lei por meio da fé”, mas, “pelo contrário, confirmamos a lei” (Rm 3:31).
Cristo não veio para abolir a lei, mas para cumprir tudo o que havia sido prometido na Lei e nos Profetas. Assim, Ele destaca: “Até que os céus e a Terra desapareçam, de forma alguma desaparecerá da lei a menor letra ou o menor traço” (Mt 5:18, NVI).
A lei representa a santidade de Deus – Seu caráter perfeito de amor, justiça, bondade e verdade (Lv 19:2; Sl 19:7, 8; 119:142, 172). Em relação a isso, observe que, de acordo com Êxodo 31:18, o próprio Senhor escreveu os Dez Mandamentos em tábuas de pedra. Isso revela que a lei testemunha o caráter imutável de Deus e de Seu governo moral, fundamentado no amor, um tema central do grande conflito.
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A lei e a graça não se opõem uma à outra, mas têm funções diferentes, que estão em harmonia com o amor e a justiça de Deus. A ideia de que a lei e a graça são opostas teria chocado os antigos israelitas, que viam a entrega da lei como uma manifestação da graça de Deus. Os “deuses” das nações eram instáveis e imprevisíveis, deixando as pessoas incapazes de saber o que eles desejavam e o que lhes agradaria. Deus, por outro lado, dá instruções claras sobre Sua vontade. Aquilo que Lhe agrada, no fim, promoverá o bem do Seu povo, em nível individual e coletivo.
No entanto, a lei não pode salvar do pecado nem transformar o coração. Por causa da nossa pecaminosidade, precisamos de um “transplante espiritual de coração”.
3. Qual promessa o Senhor faz em Jeremias 31:31-34? Compare esse texto com as palavras de Cristo a Nicodemos sobre o novo nascimento (Jo 3:1-21). Leia também Hebreus 8:10.
Os Dez Mandamentos foram escritos pelo próprio Deus em tábuas de pedra (Êx 31:18). Mas a lei também devia ser inscrita no coração do povo de Deus (Sl 37:30, 31). O ideal e o desejo do Senhor é que a lei de amor não seja apenas externa, mas interna, ligada ao nosso próprio caráter. Só Deus é capaz de inscrever Sua lei nos corações, e Ele prometeu fazer isso em favor do povo da aliança (veja Hb 8:10).
Não podemos ser salvos pela obediência à lei. Pelo contrário, é pela graça que somos salvos, por meio da fé, não por nós mesmos, mas como uma dádiva de Deus (Ef 2:8). Não guardamos a lei para sermos salvos, mas porque já fomos salvos. Não guardamos a lei para sermos amados pelo Senhor, mas porque já somos amados e, portanto, desejamos amar a Deus e aos outros (veja Jo 14:15).
Ao mesmo tempo, a lei revela o pecado (Tg 1:22-25; Rm 3:20; 7:7), mostra nossa necessidade do Redentor (Gl 3:22-24), orienta nossa maneira de viver e revela o caráter de amor de Deus.
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Não é exagero enfatizar a forte relação que existe entre o amor e a lei. Na verdade, de acordo com as Escrituras, amar é cumprir a lei de Deus.
Em Romanos 13:8-10, Paulo ensina que “quem ama o próximo cumpre a lei”. Depois de citar alguns dos últimos seis dos Dez Mandamentos, ele declara que todos “se resumem nesta palavra: ‘Ame o seu próximo como você ama a si mesmo’”. O apóstolo diz explicitamente: “O cumprimento da lei é o amor”. Em Gálatas 5:14, ele explica: “Toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: ‘Ame o seu próximo como a você mesmo.’” A pergunta é: que tipo de amor cumpre a lei? Como é esse amor?
4. Quais são os “preceitos mais importantes da Lei”? Qual é a relação entre a lei (especialmente o mandamento do sábado) e o interesse de Deus por justiça e libertação? Mt 23:23, 24; Dt 5:12-15; Is 58:13, 14
Segundo Jesus, os “preceitos mais importantes da Lei” são “a justiça, a misericórdia e a fé” (Mt 23:23). E isso se aplica de maneira especial a um mandamento em particular: o sábado. Podemos ver nas Escrituras que o próprio sábado está integralmente ligado à libertação e à justiça.
O mandamento do sábado é fundamentado na libertação de Israel da escravidão (Dt 5). Portanto, o sábado não é apenas o memorial da criação, mas também do livramento da opressão. Além disso, Deus nos chama a deixar de lado nossos próprios interesses no sábado e, com isso, termos prazer Nele e em Seu santo dia (Is 58:13, 14). A ênfase desse contexto está nas obras de amor e justiça em favor dos outros – fazer o bem, alimentar os famintos e abrigar os sem-teto (veja Is 58:3-10).
Levando em conta esses ensinos (e outros), se desejamos cumprir a lei por meio do amor, devemos nos preocupar não apenas com os pecados que cometemos, mas também com as boas obras que deixamos de fazer. O amor como cumprimento da lei envolve não apenas guardar a lei no sentido de deixar de cometer pecados, mas também de fazer ativamente o bem – praticar as obras de amor que promovam a justiça e a misericórdia. Ser fiel a Deus é mais do que não violar a letra da lei.
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Se o amor é o cumprimento da lei, não podemos guardar a lei de Deus simplesmente deixando de fazer coisas erradas. A lei de amor (expressa na plenitude das Escrituras) não só ordena deixar de fazer o mal, mas a praticar atos que revelem o amor de Deus – não apenas aos membros da igreja, mas também ao mundo em geral, que necessita com urgência do verdadeiro testemunho cristão.
5. Leia Tiago 2:1-9. Que mensagens cruciais esse texto nos apresenta?
Tiago condena a injustiça, identificando especificamente a opressão e os maus-tratos aos pobres por parte de alguns ricos. Depois, ele chama a atenção para a lei do amor ao próximo, dizendo que se cumprimos essa lei, fazemos “bem” (Tg 2:8).
Ellen G. White escreveu: “O amor aos seres humanos é a manifestação do amor de Deus para com a Terra. Foi para implantar esse amor, fazendo-nos filhos de uma só família, que o Rei da glória Se tornou um conosco. E quando se cumprirem as palavras que Ele disse ao partir: ‘Que vos ameis uns aos outros, assim como Eu vos amei’ (Jo 15:12); quando amarmos o mundo assim como Ele o amou, então Sua missão por nós estará cumprida. Estaremos preparados para o Céu, pois teremos o Céu no coração” (O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2021], p. 516).
Quando amarmos o mundo assim como Cristo o amou, então estaremos preparados para o Céu. Que expressão poderosa do que é ser um seguidor de Cristo!
Jesus ordena aos cristãos que “amem uns aos outros” “assim como” Ele os amou. Ele diz: “Nisto todos conhecerão que vocês são Meus discípulos: se tiverem amor uns aos outros” (Jo 13:34, 35). O amor é central para a fé cristã porque Deus é amor. E os que dizem amá-Lo devem amar uns aos outros (1Jo 3:11; 4:8, 16, 20, 21).
Pedro exorta: “Acima de tudo, porém, tenham muito amor uns para com os outros, porque o amor cobre a multidão de pecados” (1Pe 4:8; Hb 10:24; 1Ts 3:12).
Devemos amar o mundo como Cristo o amou. Isso pode nos ajudar a compreender melhor o conceito de perfeição cristã e como devemos nos preparar para a vida eterna? Reflita sobre essa questão e comente com a classe.
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Leia, de Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2021], p. 512-516 (“Responsabilidade social e espiritual”).
“Os que servem os outros serão servidos pelo supremo Pastor. Eles próprios beberão da água viva e ficarão satisfeitos. Não desejarão diversões viciantes ou alguma distração. O grande assunto que atrairá seu interesse será: como salvar pessoas que estão quase a se perder. O relacionamento social será proveitoso. O amor do Redentor ligará os corações em unidade.
“Quando compreendermos que somos colaboradores de Deus, Suas promessas não serão proferidas com indiferença. Elas arderão em nosso coração e se inflamarão em nossos lábios. Moisés, quando chamado a servir um povo não instruído, indisciplinado e rebelde, recebeu de Deus a promessa: ‘A Minha presença irá contigo, e Eu te darei descanso’ (Êx 33:14) [...]. Essa promessa pertence a todos aqueles que trabalham como representantes de Cristo, em favor de Seus aflitos e sofredores” (O Desejado de Todas as Nações, p. 515).
Perguntas para consideração
1. Leia 1 Coríntios 13:4-8. Que tipo de pessoas devemos ser?
2. Em Mateus 25:31-46, qual é a diferença entre as ovelhas e os cabritos? Esse texto ensina a salvação pelas obras?
3. “Quando amarmos o mundo assim como Ele o amou, Sua missão por nós estará cumprida. Estaremos preparados para o Céu, pois teremos o Céu no coração” (lição de quinta-feira). O que esse texto significa? Qual é a natureza do Céu? Como ser cidadãos do Céu, compartilhando o amor e levando luz e justiça aos oprimidos?
4. Que medidas sua igreja pode tomar para refletir o interesse de Deus pelo amor e pela justiça? O que você faz em favor da comunidade? Em que você precisa melhorar e se concentrar mais? Que ações concretas podemos tomar para viver o que estudamos neste trimestre sobre o amor e a justiça de Deus?
Respostas às perguntas da semana: 1. Os primeiros quatro mandamentos revelam como devemos amar a Deus, e os últimos seis, como amar o próximo. 2. A graça não é um incentivo para o pecado. A lei de Deus, que é santa, justa e boa, revela nosso pecado e nossa necessidade do Salvador. 3. Em Jeremias 31, o Senhor promete escrever Sua lei em nosso coração e em nossa mente. O novo nascimento é uma transformação interior, que cumpre essa promessa. 4. Os princípios mais importantes da lei são justiça, misericórdia e fé. Toda a lei de Deus, especificamente o mandamento do sábado, promove justiça e libertação das pessoas. 5. Deus condena a parcialidade e a injustiça cometidas contra os outros, especialmente aqueles que enfrentam necessidades. Cumprir a lei de Deus significa amar a todos como Ele o faz.
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TEXTO-CHAVE: Romanos 13:8
FOCO DO ESTUDO: Êxodo 20:2; Romanos 13:8-10
ESBOÇO
Introdução: Os Dez Mandamentos são uma expressão do relacionamento pessoal e de aliança de Deus com Seu povo.
Temas da lição: A lição desta semana enfatiza três pontos principais.
1. A lei de Deus trata de relacionamentos, e não apenas de princípios abstratos – A lei de Deus não é um conjunto de princípios abstratos, mas uma expressão de relacionamento. A descrição dos Dez Mandamentos implica relações de aliança entre Deus e Seu povo. O diálogo de Deus com Moisés destaca essa linguagem relacional, na qual o Senhor é retratado como uma águia carregando Seu povo nas asas ao libertá-lo do Egito. A ideia central dessa ilustração é que o povo foi levado e guiado pelo próprio Deus.
2. Os Dez Mandamentos revelam a expressão correta do nosso amor a Deus e aos outros – Antes da lista de “não”, “não”, “não” [...], os Dez Mandamentos começam com uma declaração amorosa e pessoal: “Eu sou o Senhor, seu Deus” (Êx 20:2). A lista de mandamentos é uma resposta relacional e amorosa de Israel ao Deus que o salvou. Os primeiros quatro mandamentos descrevem o amor leal que as pessoas devem demonstrar para com Deus. Os últimos seis mandamentos expressam formas específi cas de amor aos outros, o que, em última análise, indica que amamos a Deus.
3. A lei de Deus encontra seu cumprimento no amor – Em Romanos e Gálatas, a ideia de cumprimento da lei está relacionada com servir uns aos outros por meio do amor. Em Gálatas, Paulo explica que a lei se cumpre quando amamos o próximo. Em Romanos, ele destaca que amar uns aos outros é o cumprimento da lei. Os últimos seis dos Dez Mandamentos especifi cam o que signifi ca amar o próximo como a si mesmo.
Aplicação para a vida: Como o seu relacionamento com Deus é transformado quando você compreende que os Dez Mandamentos não são meramente um conjunto de regras, mas uma expressão de amor e uma resposta ao relacionamento pessoal e amoroso de Deus?
COMENTÁRIO
A lei de Deus trata de relacionamentos, e não apenas de princípios abstratos
A ideia de que a lei de Deus é formada por conceitos abstratos ou princípios impessoais é incompatível com a imagem bíblica de Deus entregando o Decálogo ao povo de Israel no monte Sinai. É importante ler a descrição dos Dez Mandamentos (Êx 20) à luz da relação de aliança que está sendo formada (Êx 19). Desde o momento da chegada de Israel ao deserto do Sinai (Êx 19:1), o diálogo de Deus com Moisés no monte Sinai destaca a ideia de uma relação de aliança entre Deus e o povo de Israel. Mais especificamente, o Senhor disse a Moisés que ele deveria transmitir aos filhos de Israel as seguintes palavras: “Vocês viram o que fiz aos egípcios e como levei vocês sobre asas de águia e os trouxe para perto de Mim. Agora, pois, se ouvirem atentamente a Minha voz e guardarem a Minha aliança, vocês serão a Minha propriedade peculiar dentre todos os povos. Porque toda a Terra é Minha, e vocês serão para Mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Êx 19:4-6).
É impressionante a linguagem relacional dessa passagem. A libertação do Egito é descrita com a imagem de Deus carregando os filhos de Israel como uma águia. É interessante observar que a ênfase não está meramente nas pessoas que saíram do Egito ou que iam para a terra prometida. Pelo contrário, o ponto principal é que o povo foi levado e guiado pelo próprio Deus.
É nesse contexto que o povo de Israel é convidado a guardar a aliança de Deus no sentido pessoal de ouvir a voz divina. Diversas versões bíblicas traduzem o verbo hebraico šm? como “obedecer” a Deus (veja NTLH, NVI, NVT), e esse é, de fato, o sentido do termo. Contudo, o verbo em hebraico descreve mais literalmente o ato de “ouvir” ou escutar a Sua voz (veja Almeida Século 21, NAA; Ludwig Koehler et al., The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament [Brill, 1994-2000], p. 1571). Se decidissem ouvir a voz do Senhor, os filhos de Israel seriam a “propriedade peculiar” (NAA) ou o “tesouro especial” (NVI) do próprio Deus (Êx 19:5; veja o significado do substantivo se?gu?lâ em The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament, p. 742). Essa expressão também atesta a natureza pessoal do relacionamento de aliança que estava se formando entre Deus e Seu povo, que foi formalizada pela exposição dos Dez Mandamentos, no capítulo 20.
Os Dez Mandamentos revelam a expressão correta do nosso amor a Deus e aos outros
É importante observar que antes da lista dos “nãos” do Decálogo, Deus introduz os Dez Mandamentos, em Êxodo 20:2, com uma declaração bastante pessoal: “Eu Sou o Senhor, seu Deus” (grifo nosso). Além disso, Ele enfatiza Sua ação de amor e salvação em favor de Israel (a libertação da escravidão no Egito). Em outras palavras, os Dez Mandamentos não começam com um frio “não”, mas com um tom pessoal amoroso. Além disso, a lista de mandamentos que se segue não deve ser entendida como meras leis abstratas, mas como uma resposta relacional e amorosa ao Deus de Israel, que salvou Seu povo do Egito de maneira poderosa e compassiva.
É no contexto do tom amoroso e pessoal de Êxodo 20:2 que os primeiros quatro mandamentos revelam claramente como os filhos de Israel deviam expressar sua resposta relacional e amorosa para com seu Deus pessoal. Em primeiro lugar, eles não teriam outros deuses diante do Senhor. O amor a Deus é expresso aqui em termos de lealdade exclusiva. Em segundo lugar, esse amor leal implica necessariamente que eles não fariam imagens esculpidas (ídolos) para adorar. A verdadeira adoração, em vez de idolatria, é uma expressão autêntica de amor por Deus. Terceiro, o amor a Deus é revelado numa referência respeitosa ao Seu nome. Como aponta Kenneth Harris, tomar o nome de Deus em vão “refere-se principalmente a fazer um juramento enganoso em nome de Deus ou invocar o nome de Deus para autorizar um ato em que a pessoa está sendo desonesta (Lv 19:12). Também proíbe usar o nome de Deus em magia, ou irreverentemente, ou desrespeitosamente” (Lv 24:10-16; Bíblia de Estudo NAA [Sociedade Bíblica do Brasil, 2018], p. 155). Em quarto lugar, amar a Deus significa que o dia de sábado é santificado como um lembrete necessário da criação divina. Embora devamos amar a Deus diariamente, o sábado é um momento especial para expressar nosso relacionamento de amor com Ele.
Na verdade, os primeiros quatro mandamentos explicam mais diretamente o que envolve o amor a Deus, enquanto os outros seis mandamentos revelam especificamente como amar os outros. Devemos nos lembrar, no entanto, de que a introdução dos Dez Mandamentos como um todo identifica o Senhor como o Deus que salvou Israel (Êx 20:2). Assim, de uma perspectiva mais ampla, até mesmo as formas específicas pelas quais devemos expressar nosso amor aos outros (ou seja, os últimos seis mandamentos) são, consequentemente, maneiras importantes de revelar nosso amor a Deus. O quinto mandamento, por exemplo, conecta o amor aos pais, destacando a ideia de honrá-los, com uma vida longa na terra que o Senhor estava dando a Israel. Portanto, a promessa amorosa de Deus está diretamente relacionada com a forma como os filhos de Israel amavam/honravam os seus pais. Da mesma forma, amar o outro e, em última análise, amar a Deus por meio desse amor horizontal, envolve necessariamente valorizar a vida (não matar), manter a pureza sexual e valorizar o casamento (não cometer adultério), respeitar o que pertence aos outros (não furtar), promover a verdade sobre o meu próximo (não dar falso testemunho contra ele) e desenvolver desejos moldados por um espírito de contentamento (não cobiçar o que pertence ao meu próximo).
A lei de Deus encontra seu cumprimento no amor
Em Romanos e Gálatas, o apóstolo Paulo destaca a ideia do cumprimento da lei. Depois de exortar os gálatas a servir uns aos outros por meio do amor, ele explica que “toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: ‘Ame o seu próximo como a você mesmo’” (Gl 5:14). Da mesma forma, em Romanos 8:4, Paulo diz que a “exigência da lei” é cumprida “em nós” por meio de Cristo e do Espírito Santo. Em Romanos 13:8 a 10, ele menciona duas vezes que o amor cumpre a lei de Deus: “Não fiquem devendo nada a ninguém, exceto o amor de uns para com os outros. Pois quem ama o próximo cumpre a lei. Pois estes mandamentos: ‘Não cometa adultério’, ‘não mate’, ‘não furte’, ‘não cobice’, e qualquer outro mandamento que houver, todos se resumem nesta palavra: ‘Ame o seu próximo como você ama a si mesmo.’ O amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o cumprimento da lei é o amor” (grifo acrescentado).
Passando da discussão sobre os deveres cristãos perante as autoridades civis (Rm 13:1-7), que inclui o pagamento de impostos (Rm 13:6, 7), para a obrigação cristã do amor, Paulo utiliza a ilustração da dívida financeira em ambas as discussões. No que diz respeito à obrigação cristã do amor, “o cristão não deve permitir que nenhuma dívida permaneça pendente, exceto aquela que nunca poderá ser saldada – a ‘dívida’ de amar uns aos outros. A obrigação de amar não possui limites” (Robert Mounce, Romans, The New American Commentary [Broadman & Holman, 1995], p. 245). Assim como a dívida financeira envolve uma obrigação para com outra pessoa ou instituição, a lei de Deus nos impõe obrigações para com os outros. No contexto do Decálogo – com especial referência aos últimos seis mandamentos, relativos às nossas relações com o próximo, que vão além da nossa obrigação para com nossa própria família –, a essência da nossa obrigação ou dívida contínua é o amor.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
Discuta as seguintes questões com a classe:
1. Como você pode responder a alguém que questiona a lei de Deus, considerando-a apenas um amontoado de regras?
2. De que modo sua experiência de observância do sábado pode se tornar mais significativa, sendo um lembrete de que a lei de Deus nos convida a uma resposta de amor e relacionamento com Ele?
3. Como você pode revelar o amor de Deus de maneira prática às pessoas com quem você convive diariamente, incluindo desconhecidos, amigos e familiares?
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O missionário irritado
Coreia do Sul | Philip
Um dos projetos do décimo terceiro sábado deste trimestre visa treinar jovens para serem missionários na Coreia do Sul. O projeto prevê a abertura de um centro de treinamento missionário na Academia Hankook Sahmyook em Seul. Os programas de treinamento missionário são uma parte fundamental da vida adventista na Coreia do Sul. A história desta semana é sobre Philip, que se juntou a um desses programas chamado Programa de Treinamento Missionário Compass, que incluiu três meses como missionário na cidade americana de Atlanta.
Philip desceu do avião em Atlanta, pronto para trabalhar em uma missão urbana por três meses. O missionário sul-coreano de 23 anos tinha uma agenda lotada pela frente. Durante a semana, ele deveria trabalhar com refugiados, incluindo orientar crianças refugiadas com seus trabalhos escolares. Aos sábados, ele deveria ensinar as crianças na Escola Sabatina fazer outras atividades.
Mas ele rapidamente se deparou com um problema: seu colega de quarto.
Philip chegou com um grupo de outros sul-coreanos para servir como missionários de curto prazo. Eles foram divididos em duplas, e Philip foi designado para trabalhar com Samuel, que tinha 20 anos. Philip e Samuel se mudaram para uma casa alugada.
Não demorou muito para Philip ficar irritado com seu colega de quarto. Samuel pensava por um longo tempo, sempre, antes de falar. Então, quando ele falava, ele falava muito devagar. Philip pensava irritado: "Por que você não consegue pensar e falar mais rápido?"
Sua insatisfação aumentou. Os dois rapazes comiam refeições simples, geralmente salada e outros alimentos que sobravam do jantar comunitário de sábado em uma igreja coreana local. Um dia, Samuel decidiu reaquecer um bolinho de arroz coreano que sobrou no forno. Mas o bolo de arroz queimou e grudou na assadeira. Philip ficou irritado porque havia alertado Samuel para ter cuidado ao requentar o bolinho de arroz. Então Samuel tentou reaquecer outro bolinho de arroz, desta vez em uma frigideira no fogão. Mas o bolinho de arroz queimou e grudou na frigideira. A irritação de Philip aumentou, mas ele não disse nada.
Samuel também não disse nada até cerca de um mês após a estadia deles nos Estados Unidos. Um dia, ele sugeriu que eles orassem juntos antes de saírem para trabalhar com os refugiados. Os dois nunca haviam orado juntos.
A oração de Samuel chocou Philip. Falando muito devagar, como sempre fazia, ele orou: "Por favor, Senhor, ajude-me a não odiar o Philip".
Philip entendeu que Samuel estava orando para que eles se dessem bem. Mas ele não encontrou alegria na oração. Ele estava irritado. Sua irritação aumentou quando Samuel repetiu a mesma oração no dia seguinte e depois no outro. "Por favor, Senhor", orou Samuel, "ajude-me a não odiar o Philip".
Philip e Samuel estavam se comunicando cada vez menos. Finalmente, eles pararam de falar completamente.
O conflito atingiu o ápice um mês antes do término de sua estadia nos Estados Unidos. Philip estava dirigindo um carro e Samuel estava sentado ao lado dele. Ambos estavam exaustos e adormeceram. De repente, eles acordaram e viram que estavam prestes a colidir com o veículo à frente. Philip desviou para a esquerda e eles entraram na pista contrária. Eles colidiram de frente com um caminhão grande.
O carro foi destruído, mas Philip e Samuel saíram ilesos. O motorista do caminhão também não se feriu, e o caminhão sofreu apenas um pequeno amassado no para- choque dianteiro.
Em casa, Philip e Samuel se abraçaram e caíram de joelhos para agradecer a Deus pela vida.
Philip se sentiu envergonhado. Ele havia ido para os Estados Unidos para compartilhar Deus com os outros, mas acabou se concentrando em si mesmo. Essa foi a origem de seu conflito com Samuel. Mas agora o conflito parecia tão insignificante e irrelevante. Philip pensou: "Deveríamos ter nos abraçado e orado juntos esse tempo todo para que Deus pudesse nos abençoar como missionários".
Samuel sugeriu que eles informassem aos proprietários coreanos da casa alugada, um casal não cristão, sobre o acidente.
Pouco tempo depois, Philip e Samuel estavam contando ao casal sobre o conflito pessoal que durou dois meses e o acidente. Eles compartilharam tudo do começo ao fim. Não foi um discurso bíblico sobre a salvação. Foi a história de como Deus esteve com eles nos Estados Unidos. Para Philip, foi a primeira vez que ele compartilhou o que Deus significava para ele. Ele temia que o casal tivesse uma reação negativa. Mas eles apenas demonstraram preocupação com a saúde dele e de Samuel.
A viagem missionária aos Estados Unidos foi um marco na vida de Philip. Quando voltou para a Coreia do Sul, ele foi convidado a escrever um testemunho sobre sua experiência.
Ele escreveu uma lista de suas realizações, incluindo a resolução do conflito com Samuel. Mas quando leu a lista, ele se sentiu envergonhado ao vê-la repleta de "eu fiz isso" e "eu fiz aquilo". Jesus não foi mencionado nenhuma vez.
Ele escreveu um segundo rascunho do qual gostou menos ainda. Ele percebeu que não havia realizado nada. Seu testemunho era que Deus o havia usado para realizar algo. Ele resumiu seu testemunho em uma frase: "Deus me usou, uma pessoa fraca e orgulhosa, mas Ele me usou."
Ore pelos jovens coreanos que estão atuando como missionários ao redor do mundo. Ore pela Academia Hankook Sahmyook, cujos alunos estudarão em um centro de treinamento missionário que será inaugurado com a ajuda de sua oferta deste trimestre. Obrigado por sua oferta generosa para este projeto em Seul, Coreia do Sul.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
- Mostre Seul, Coreia do Sul e Atlanta no estado americano da Geórgia no mapa.
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- Compartilhe as postagens do Informativo Mundial das Missões e os Fatos Rápidos da Divisão Norte-Asiática do Pacífico: bit.ly/nsd-2025.
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2025
Tema geral: O amor e a justiça de Deus
Lição 13 – 22 a 29 de março
O amor é o cumprimento da lei
Autor: Erico Tadeu Xavier
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Rosemara Santos
A perpetuidade da lei de Deus
“Antes que a Terra fosse chamada à existência, já existia a lei de Deus. Os anjos são governados por seus princípios, e para que a Terra esteja em harmonia com o Céu, também o homem deve obedecer aos divinos estatutos. No Éden, Cristo deu a conhecer ao ser humano os preceitos da lei, “quando as estrelas da alva, juntas, alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus gritavam de alegria” (Jó 38:7). A missão de Cristo na Terra não era destruir a lei, mas, por Sua graça, levar novamente o homem à obediência de Seus preceitos.
“O discípulo amado, que escutou as palavras de Jesus no monte, escrevendo muito depois sob a inspiração do Espírito Santo, fala da lei como de uma perpétua obrigação. Diz ele que “todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei” (1Jo 3:4). Ele torna claro que a lei a que se refere é “um mandamento antigo, que [tivemos] desde o princípio” (1Jo 2:7). Ele fala da lei que existia na criação e foi reiterada no monte Sinai.
“Falando da lei, Jesus disse: ‘não vim para revogar, mas para cumprir’ (Mt 5:17). Ele emprega aqui a palavra ‘cumprir’ no mesmo sentido em que a usou quando declarou a João Batista Seu desígnio de ‘cumprir toda a justiça’ (Mt 3:15), isto é, atender plenamente à exigência da lei, dar um exemplo de perfeita conformidade com a vontade de Deus.
“Sua missão era ‘engrandecer a lei e torná-la gloriosa’ (Is 42:21). Ele devia mostrar a natureza espiritual da lei, apresentar seus princípios de vasto alcance e tornar clara sua eterna obrigatoriedade. […] Jesus, a expressa imagem da pessoa do Pai, o resplendor de Sua glória, o abnegado Redentor, através de Sua peregrinação de amor na Terra, foi uma viva representação do caráter da lei de Deus” (Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo, p. 37, 38).
A lei é santa, justa e boa
Apresento aqui alguns importantes comentários de Ellen G. White:
“Como Supremo Governador do Universo, Deus tem ordenado leis para o governo, não somente de todos os seres vivos, mas para todo o funcionamento da natureza. Todas as coisas, sejam grandes ou pequenas, animadas ou inanimadas, acham-se sob leis que se não podem desconsiderar. Não há exceção a essa regra; pois coisa alguma criada pela divina mão tem sido esquecida pela mente divina. [...] Unicamente ao homem, a obra-prima da criação, deu o Senhor uma consciência para compreender as sagradas reivindicações da lei divina, e um coração capaz de amá-la como santa, justa e boa; e do homem requer-se obediência pronta e perfeita” (The Signs of the Times, 15 de abril de 1886).
“Deus é nosso Legislador e Rei, e os pais devem colocar-se sob Seu governo. Esse governo proíbe toda opressão da parte dos pais e desobediência da parte dos filhos. O Senhor é cheio de longanimidade, misericórdia e verdade. Sua lei é santa, justa e boa, e deve ser obedecida por pais e filhos. As regras que devem reger a vida dos pais e dos filhos fluem do coração do infinito amor, e as ricas bênçãos de Deus repousarão sobre os pais que administrarem Sua lei em seus lares e sobre os filhos que obedecerem a essa lei. A influência combinada da misericórdia e da justiça deve ser sentida. ‘Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram’ (Sl 85:10). Lares que viverem sob essa disciplina andarão no caminho do Senhor, para fazer justiça e juízo” (O Lar Adventista, p. 253).
“Contemplem os jovens a norma divina, e nunca se satisfaçam com um objetivo medíocre. [...] Não caminhem hesitantemente, mas com firmeza na força e na graça de Jesus Cristo. É-lhes dado todo o poder no Céu e na Terra. Refugiem-se em Jesus Cristo e, em fé, entrem em um firme concerto com Ele, para amá-Lo e servi-Lo” (The Youth’s Instructor, 5 de julho de 1894).
Lei e graça
Ellen White escreveu: “Quem procura alcançar o Céu por suas próprias obras, guardando a lei, tenta uma impossibilidade. Não pode o ser humano salvar-se sem a obediência, mas suas obras não devem provir de si mesmo: Cristo deve operar nele ‘tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade’ (Fp 2:13). [...] Aquilo que é operado pela fé é aceitável a Deus. Quando procuramos alcançar o Céu pelos méritos de Cristo, há progresso espiritual” (Mensagens Escolhidas, v. 1. p. 306).
Não ganhamos a Salvação por nossa obediência, pois a salvação é um dom gratuito de Deus recebido pela fé (Rm 5:1). Porém, se nosso coração é renovado à semelhança de Deus, se o amor divino é implantado em nós, com certeza, a lei de Deus será colocada em prática na nossa vida (2Co 5:17). A Palavra de Deus é clara ao nos revelar que somos salvos unicamente pela graça de Deus por meio da fé (Ef 2:8). Porém, a fé e a eterna graça de Deus não anulam a obediência à lei do Senhor, como confirma o apóstolo Paulo: “Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma, antes, confirmamos a lei” (Rm 3:31). “E daí? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei e sim da graça? De modo nenhum!” (Rm 6:15). Como vemos, a obediência à lei de Deus é fruto da fé, pois as nossas boas obras são o resultado da fé (Tg 2:24). Ademais, a Bíblia deixa bem claro que, pela graça de Deus e pela fé em Jesus, no dia do juízo, os que praticam a lei serão justificados (Rm 2:13). Seremos todos julgados pela santa lei Deus, que é a lei da liberdade (Tg 2:12).
Num contexto de pecado, só podemos estar em harmonia com a lei estabelecida por Deus por meio da graça que Ele nos oferece. A graça é concedida para que a lei possa ser cumprida. Os judeus, querendo ser salvos pela lei sem a graça, erraram! Hoje os cristãos querem ser salvos pela graça sem a lei. Por isso, erram também! Por que existe a graça? Você terá que responder: “Porque existe o pecado!” Não há outra resposta! Certamente para haver graça é lógico que precisa existir o pecado, caso contrário a graça seria desnecessária! Agora note bem: Como sabemos que existe o pecado? Deus responde: “Mas o pecado não é levado em conta, quando não há lei” (Rm 5:13). “Porque onde não há lei também não há transgressão!” (Rm 4:15). Consequentemente, se não houvesse uma lei que apontasse, mostrasse e revelasse o pecado, ele não existiria. A lei de Deus é indispensável.
Se não houvesse lei não haveria pecado, se não houvesse pecado, não haveria necessidade de um Salvador, se não houvesse necessidade de um Salvador, Jesus não teria valor e Seu sacrifício teria sido em vão! Sendo assim, o evangelho, que é a boa-nova da salvação em Cristo se tornaria desnecessário. E assim estaríamos todos perdidos! Jesus quer que O aceitemos não só como Salvador, mas também como Senhor da nossa vida. Quando Jesus disse à mulher que tinha sido apanhada em adultério: “Eu também não te condeno”, Cristo Se revelou como Salvador. Mas, ao Ele falar para ela: “Vai, e não peques mais”, Cristo Se revelou como Senhor (Jo 8:10, 11). Em outras palavras, Jesus simplesmente disse: “Mulher, vai e observa a Lei, pois a Lei mostra o seu pecado” (Êx 20:14). Jesus primeiro a perdoou (agiu como Salvador), mas em seguida a recomendação foi direta: “Vai e não peques mais” (agiu como Senhor). Aqui Jesus ensinou que tudo que Ele quer, além de O aceitarmos como Salvador, é a nossa obediência à Sua lei, pois essa é a prova de que realmente Cristo é o Senhor da nossa vida (Lc 6:46). E “Aquele que diz que permanece Nele, esse deve também andar assim como Ele andou” (1Jo 2:6).
Ilustração
João, patriarca de Alexandria, teve uma discussão com Nicetas, um dos principais homens da cidade, e resolveu levar o caso aos tribunais. Foram frustrados todos os esforços para se reconciliarem. Depois de trocarem toda sorte de insultos, separaram-se. Em casa, João começou a refletir em sua obstinação. Com os olhos marejados de lágrimas, dirigiu a si mesmo a pergunta: “Deixarei que se ponha o sol sobre a minha ira?” (Ef 4:26). Tomando uma pena, escreveu a Nicetas: “Oh, senhor, o sol está se pondo!” Ao receber o recado, Nicetas ficou muito impressionado. Apressou-se a ir ter com o patriarca e saudando-o da maneira mais cortês, exclamou: “Sujeitarei a você a minha opinião, nisto como em tudo o mais”. Abraçaram-se e acabou a desavença.
Conclusão
“Somos redimidos por um sangue; somos participantes da mesma vida, alimentando-nos do mesmo pão celestial, estamos unidos pela mesma cabeça vivente, buscamos os mesmos fins, amamos o mesmo Pai, somos herdeiros das mesmas promessas e habitaremos juntos para sempre no mesmo Céu” (Spurgeon).
“Eu lhes dou um novo mandamento: que vocês amem uns aos outros. Assim como eu os amei, que também vocês amem uns aos outros. Nisto todos conhecerão que vocês são meus discípulos: se tiverem amor uns aos outros” (Jo 13:34, 35).
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Erico Tadeu Xavier é Pós-doutor em Teologia Sistemática e Missão Integral pela FAJE (Faculdade de Filosofia e Teologia Jesuíta de BH), Doutor em Ministério pela FTSA, Faculdade Teológica Sul-Americana e Doutor em Teologia pela PUC (Pontifícia Universidade Católica do RJ). Iniciou seu ministério em 1991 como pastor distrital e atuou em três diferentes regiões. Foi professor do Seminário Adventista de Teologia na Universidade Adventista da Bolívia, da Faculdade Adventista da Bahia (antigo IAENE), e da FAP (antigo IAP), no Paraná. É casado com Noemi Pinheiro Xavier, Doutora em Educação. O casal tem dois filhos: Aline (psicóloga) e Joezer (designer gráfico).