O Evangelho de João está dividido em quatro seções principais: o prólogo (Jo 1:1-18), o “Livro dos Sinais” (Jo 1:19–12:50), o “Livro da Glória” (Jo 13:1–20:31) e o epílogo (Jo 21:1-25). Até agora, nosso estudo se concentrou especialmente no prólogo e no Livro dos Sinais, que apresentam quem é Jesus por meio dos Seus milagres (sinais), diálogos e ensinos. Daqui em diante, vamos examinar especialmente a terceira seção de João, o Livro da Glória.
É interessante observar que as famosas sete declarações de Jesus que começam com as palavras “Eu Sou” formam uma ponte entre o Livro dos Sinais e o Livro da Glória. Cristo afirma ser o “pão da vida” (Jo 6:35, 41, 48, 51), a “luz do mundo” (Jo 8:12; 9:5), a “porta” (Jo 10:7, 9), o “bom Pastor” (Jo 10:11, 14), “a ressurreição e a vida” (Jo 11:25), “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6) e a “videira verdadeira” (Jo 15:1, 5).
Na lição desta semana, começaremos estudando o propósito do discurso de despedida e de sua introdução, que descreve o significativo episódio no qual Jesus lavou os pés dos discípulos. Em seguida, avançaremos para a declaração “Eu Sou” do capítulo 14 (“Eu sou o caminho, a verdade e a vida”).
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O discurso de despedida de Jesus (Jo 13–17) traz instruções aos discípulos a respeito do futuro. Seu padrão literário é semelhante à despedida de Moisés em Deuteronômio, à bênção de Jacó aos seus filhos (Gn 47–49) e às instruções de Davi a Salomão (1Cr 28; 29). Jesus confortou os discípulos em relação à Sua partida e prometeu um Substituto que O representaria, o Espírito Santo (Jo 14–16). Além disso, predisse que os discípulos enfrentariam tristeza (Jo 15; 16) e os exortou a permanecer fiéis (Jo 15).
1. Leia João 13:1-20. O que aconteceu naquele momento e por que essa história é tão importante? Que lições Jesus procurou ensinar?
Na época de Jesus, as pessoas geralmente usavam sandálias ou andavam descalças. Os pés ficavam empoeirados. Era costume que um servo ou escravo lavasse os pés das pessoas que chegavam para a refeição. Mas nenhum servo estava presente na noite em que Jesus fez Sua última refeição com os discípulos antes de ser preso.
Para surpresa de todos, o próprio Jesus Se levantou da ceia e lavou os pés deles. João 13:4 e 5 descreve as ações de Cristo passo a passo. Esse momento é narrado em detalhes, para destacar o ato inacreditável de humildade do Mestre.
Em João 13:8-11, vemos o sentimento de perturbação dos discípulos diante das ações de Jesus. Como poderia Ele, o Mestre e Senhor, realizar uma tarefa tão humilde? Pedro recusou-se a permitir que Jesus lavasse seus pés, mas foi informado de que, se não permitisse isso, não teria parte com Cristo. Então o discípulo pediu que Jesus fizesse mais, expressando o desejo de estar ligado a Ele o tempo todo.
O significado da ação de Jesus está relacionado a quem Ele é. Em João 13:13, Cristo afirma ser o Mestre e Senhor. Era assim que os discípulos O chamavam, e Ele confirma essa realidade. Tais títulos expressam autoridade e poder.
No entanto, Jesus ensina que poder e autoridade devem ser usados para o serviço e não para o engrandecimento próprio. Seguindo o exemplo de Jesus, realizamos o lava-pés como serviço preparatório para a Ceia do Senhor, e, por seu significado, esse serviço também é chamado de ordenança da humildade.
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2. Leia João 14:1-3. Em que contexto Jesus disse essas palavras?
Jesus disse que iria embora. Isso despertou em Pedro uma pergunta sobre para onde Ele estava indo (Jo 13:33, 36). Os discípulos não entenderam que Jesus estava falando sobre Sua morte, ressurreição e ascensão. Pedro disse que estava pronto para dar a vida por Ele (Jo 13:37). Foi então que Jesus predisse que Pedro O negaria (Jo 13:38).
Nesse contexto, Jesus disse aos discípulos que não permitissem que seu coração ficasse angustiado (Jo 14:1). O verbo “angustiar” é traduzido da palavra grega tarass?, que significa “agitar-se”, “perturbar-se”, “desestabilizar-se” ou “ficar confuso”. Não é de surpreender que os discípulos estivessem confusos com as palavras de Jesus.
No entanto, contrariando o medo dos discípulos, Cristo falou sobre a casa do Pai, onde há muitos quartos (não mansões, mas quartos, como em uma estalagem). Ele estava indo a essa casa a fim de preparar um lugar para eles. As palavras de Jesus apontavam para um futuro além da angústia que estaria presente na cruz, levando-nos até o tempo em que Ele retornará para redimir o Seu povo. Ele vislumbrava o momento em que toda a tragédia ocasionada pelo pecado terminará (Dn 7:27). Jesus disse: “Virei outra vez” (Jo 14:3, Almeida Século 21). Essa é claramente uma promessa a respeito da segunda vinda de Cristo.
Qual é a base para confiar nessa promessa? Muitos diriam que é o cumprimento das profecias, e isso é verdade. Mas em João 14:3, a base é apresentada de forma diferente. A palavra “virei”, em grego, está no tempo presente (“venho” ou “estou vindo”). Esse uso em grego é chamado de “presente futurista”: um evento futuro é mencionado com tanta certeza que é descrito como se já estivesse acontecendo. Assim, poderíamos traduzir a frase desta maneira: “Certamente voltarei” (grifos nossos).
A base da esperança inclui o cumprimento das profecias, mas se fundamenta especialmente em nossa confiança Naquele que fez a promessa. Jesus Cristo disse que retornará para o Seu povo. Podemos confiar na promessa por causa Daquele que a fez.
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3. Que pergunta Tomé fez? Como Jesus respondeu? Jo 14:5, 6
À primeira vista, o questionamento de Tomé pode parecer bastante lógico. Se você não sabe para onde alguém está indo, como poderá segui-lo? Jesus inverteu a questão ao indicar que Ele mesmo é o caminho. O caminho para quê? Para o Pai. O prólogo do evangelho (Jo 1:1-18) destaca a íntima conexão que existe entre o Pai e o Verbo (em grego, Logos), que é Jesus Cristo.
João 1:18 diz que quem revelou o Pai é o “Deus unigênito” (o termo grego monogen?s, traduzido como “unigênito”, significa “único” ou “singular”). A palavra “revelou” é traduzida do verbo grego ex?geomai, que significa “explicar”, “interpretar” ou “expor” (a palavra “exegese”, que está ligada ao estudo da Bíblia, vem desse termo grego). Ex?geomai quer dizer “revelar o significado”. De acordo com João 1:18, Jesus é o elo com o Pai, Aquele que explica ou interpreta o Pai para o mundo caído. Assim, Ele é o caminho para o Pai. Sem Ele, ficaríamos perdidos em nosso entendimento.
4. Leia João 14:7-11. Como Jesus esclareceu o mal-entendido de Filipe?
Filipe pediu para ver o Pai, o que nenhum pecador pode fazer e continuar vivo (Êx 33:17–34:9; Jo 1:18). Jesus reprovou a falta de compreensão do discípulo e enfatizou que quem O viu, viu o Pai (Jo 14:9). Logo, fica claro que Jesus Cristo é o caminho para Deus. Sem Ele, o caminho é escuro. Ele é a luz que ilumina a estrada para Deus.
Jesus une três palavras: caminho, verdade e vida. Em João, o termo “caminho” é usado em apenas outro texto (Jo 1:23), que se refere ao fato de que João Batista preparou o caminho para Jesus. Contudo, verdade e vida são temas importantes em João. O estudo de quarta e quinta-feira enfatizará o conceito de verdade, tema crucial em um mundo em que a própria existência da “verdade” tem sido questionada.
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5. Como João liga o conceito de verdade diretamente a Jesus? Jo 1:14, 17; 8:32; 14:6; 15:26
Repetidas vezes em João, a verdade é ligada a Jesus, ao Pai e ao Espírito Santo. A verdade é conectada com Jesus, o Verbo, e com a luz, em contraste com as trevas (Jo 1:1-14; 3:19-21). A mentira está ligada ao diabo e ao pecado (Jo 8:44-46). Assim, a verdade, segundo João, não é apenas uma questão de fatos e informações. Ela inclui, acima de tudo, o aspecto moral da fidelidade a Deus e à Sua vontade.
“Teorias filosóficas ou composições literárias, embora brilhantes, não podem satisfazer o coração. As afirmações e descobrimentos humanos não têm valor. Que a Palavra de Deus fale ao povo! Aqueles que ouviram somente tradições, teorias e máximas humanas até agora ouçam a voz Daquele cuja palavra pode renovar a alma para a vida eterna” (Ellen G. White, Parábolas de Jesus [CPB, 2022], p. 40).
Jesus é a Verdade. Pense no que isso significa. Jesus é o Logos, a Palavra (ou Verbo) que estava com Deus desde o princípio e que é o Criador de todas as coisas (Jo 1:1-3). Ele é um com o Pai desde a eternidade passada até a eternidade futura, possui todas as características do Pai e, portanto, também é o “Eu Sou”. O ser de Cristo não está sujeito a ninguém nem a nada. Nada do que há no Universo, incluindo o conhecimento, existe à parte Dele. Por isso, tudo o que foi criado e existe deve a existência somente a Cristo (Cl 1:16, 17, NVI).
Jesus não é simplesmente a personificação da verdade. Ele é a Verdade. A verdade não é simplesmente um conceito ou uma ideia. É uma Pessoa!
A verdade, Jesus Cristo, pode ser comparada ao Sol, que ilumina o mundo (Jo 8:12). O que C. S. Lewis afirmou sobre o cristianismo é verdadeiro também a respeito de Jesus: “Creio no cristianismo assim como creio que o Sol nasceu, não apenas porque o vejo, mas porque por meio dele eu vejo tudo mais” (O Peso da Glória [Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017], p. 138).
Por meio de Jesus, a Verdade, podemos interpretar corretamente o mundo ao nosso redor.
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No Evangelho de João, as Escrituras desempenham um papel importante ao nos falar sobre Aquele que é o caminho, a verdade e a vida. Nos quatro evangelhos, assim como em toda a Bíblia (AT e NT), as Escrituras desempenham um papel fundamental na revelação da verdade. Isso é especialmente verdadeiro quando se trata de nos ensinar quem é Jesus e o que Ele veio fazer neste mundo.
6. Leia João 5:38-40. O que Jesus disse sobre as Escrituras?
Jesus e Seus discípulos apontaram inúmeras vezes às Escrituras para validá-Lo como o Messias. Cristo disse: “Porque, se vocês, de fato, cressem em Moisés, também creriam em Mim; pois ele escreveu a Meu respeito. Se, porém, não creem nos escritos dele, como crerão nas Minhas palavras?” (Jo 5:46, 47).
7. Após a ressurreição, ao revelar o significado do Seu ministério, Jesus primeiro apontou às Escrituras. Por que isso é tão importante? Lc 24:27
Ao citar o livro de Êxodo, Cristo perguntou: “Vocês nunca leram o que Deus disse a vocês [...]?” (Mt 22:31, 32). Zacarias se referiu ao que Deus “havia prometido, desde a antiguidade, por boca dos Seus santos profetas” (Lc 1:70). Em seu sermão no dia de Pentecostes, Pedro disse: “Era necessário que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de Davi” (At 1:16).
A Bíblia não é um livro didático de Ciências. Ela não explica como dividir o átomo ou como realizar uma cirurgia no cérebro. Contudo, faz algo muito mais significativo: apresenta o sentido do Universo e da vida. É a chave que abre a porta, a luz que nos permite enxergar. Sem ela, estaríamos no escuro, sem uma compreensão exata da existência de Deus, do Seu papel no Universo, da nossa origem, do significado da vida e do futuro de tudo o que existe.
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Leia, de Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2021], p. 112- 118 (“A Luz da vida”); E. Edward Zinke e Roland Hegstad, The Certainty of the Second Coming, p. 23-36 (“The Authority of the Bible and the Certainty of the Second Coming” [A Autoridade da Bíblia e a Certeza da Segunda Vinda]).
Quando Jesus disse: “Eu sou a luz do mundo”, Ele “estava no pátio do templo, local especialmente ligado às cerimônias religiosas da Festa dos Tabernáculos. No centro desse pátio, erguiam-se dois altos pilares que sustentavam suportes de lâmpadas de grandes dimensões. Depois do sacrifício da tarde, acendiam-se as lâmpadas, as quais irradiavam luz sobre Jerusalém. Essa cerimônia comemorava a coluna de luz que havia guiado Israel no deserto, e era também considerada como apontando para a vinda do Messias. [...]
“Na iluminação de Jerusalém, o povo expressava sua esperança da vinda do Messias. [...] Para Jesus, aquela cena tinha um significado mais amplo. [...] Cristo, a fonte da luz espiritual, ilumina as trevas do mundo. O símbolo, porém, era imperfeito. Aquela grande luz que Sua própria mão havia colocado no céu era uma representação mais fiel da glória de Sua missão.
“Era de manhã. O Sol acabava de se erguer sobre o Monte das Oliveiras; seus raios brilhavam com ofuscante claridade nos edifícios de mármore, fazendo reluzir o ouro das paredes do templo. Então Jesus, apontando para ele, disse: ‘Eu sou a luz do mundo’” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2021], p. 371).
Perguntas para consideração
1. Que verdades bíblicas não podemos, mesmo em princípio, aprender por meio da ciência? Por exemplo, a cruz, a ressurreição de Cristo ou a Sua segunda vinda. Que outras verdades só conhecemos porque Deus nos revelou?
2. Lúcifer conhecia a Deus, mas se rebelou contra Ele. O que isso nos diz sobre o livre-arbítrio? Por que, a cada momento, precisamos entregar nossa vontade a Deus?
Respostas às perguntas da semana: 1. Jesus lavou os pés dos discípulos. Ele queria ensinar a importância da humildade: bênçãos e privilégios devem ser usados para servir. 2. Quando estava Se despedindo dos discípulos, prestes a ser traído e morto. 3. Tomé perguntou como poderiam seguir Jesus se não sabiam para onde Ele estava indo. Jesus respondeu que Ele é o caminho, o único meio de acesso ao Pai. 4. Jesus mostrou que vê-Lo é ver o Pai. Ele é a revelação perfeita e suprema do caráter de Deus. 5. O próprio Jesus é a verdade. A verdade não é simplesmente uma questão de fatos, mas uma Pessoa. 6. As Escrituras testificam de Cristo e levam as pessoas até Ele. 7. Jesus considerava as Escrituras o fundamento de todo ensino e experiência. Elas validariam o Seu ministério e a Sua obra.
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FOCO DO ESTUDO: João 1:14; 5:38-40; 13:1-20; 14:1-3, 5, 6
ESBOÇO
Introdução: A lição desta semana conta a incrível história de Jesus, o Filho de Deus encarnado. Não há ninguém como Jesus. Ele é único. Ele conhece o Pai profundamente. Jesus é o caminho, a verdade e a vida. No Evangelho de João, ouvimos Jesus falar amplamente sobre o Pai, pois Seu nome estava constantemente em Seus lábios e em Seu coração. Jesus é o único que viu Deus face a face, algo que nenhum outro ser humano pode reivindicar. A singularidade de Jesus se destaca ainda mais quando Ele declara Sua divindade ao afirmar Sua profunda ligação com o Pai: “Não que alguém tenha visto o Pai, a não ser Aquele que vem de Deus; este já viu o Pai” (Jo 6:46).
Filipe, um dos discípulos, frequentemente ouvia Jesus enfatizar Sua relação com o Pai. Por fim, Filipe disse a Jesus: “Senhor, mostre-nos o Pai, e isso nos basta” (Jo 14:8).
Algumas das palavras mais profundas sobre o relacionamento próximo entre Jesus e Seu Pai são encontradas na resposta de Jesus a Filipe, em João 14:9: “Há tanto tempo estou com vocês, Filipe, e você ainda não Me conhece? Quem vê a Mim vê o Pai. Como é que você diz: ‘Mostre-nos o Pai?’” Assim, nessas palavras, vemos que Jesus foi a representação mais profunda de Deus. Que privilégio para nós conhecer Jesus, pois ao conhecê-Lo, conhecemos o Pai.
Além das referências a Jesus com a expressão “EU SOU”, indicando que Ele é “o caminho, a verdade e a vida”, estudaremos algumas outras que nos ajudarão a apreciar a tremenda dádiva que recebemos em Jesus. Ao segui-Lo, ou seja, o Caminho, caminhamos com Ele e aprendemos a Sua verdade, que leva à vida abundante e à vida eterna.
COMENTÁRIO
O exemplo de Cristo a ser imitado (Jo 13:1-20)
Jesus não apenas compartilhou sabedoria e ensinamentos; Ele também ilustrou Suas verdades com lições vivas que serviram para enraizar Seus ensinamentos no coração das pessoas. Como exemplo, vejamos a ordenança da humildade. Ao introduzir essa prática, Cristo não aguardou que Seus discípulos voluntariamente se dispusessem a lavar os pés uns dos outros. Ele não proferiu um discurso sobre humildade e serviço, nem exigiu que algum servo fosse chamado para realizar essa humilde tarefa. Em vez disso, Jesus mesmo Se ofereceu como Servo, apresentando aos Seus seguidores um exemplo vivo de como deveriam se relacionar entre si.
As palavras de Jesus esclareceram o significado pretendido no ato de lavar os pés quando Ele afirmou: “Vocês Me chamam de Mestre e de Senhor e fazem bem, porque Eu O sou. Ora, se Eu, sendo Senhor e Mestre, lavei os pés de vocês, também vocês devem lavar os pés uns dos outros” (Jo 13:14, 15). Apesar dessa instrução clara, a maioria dos cristãos opta por não seguir essa prática. A humildade necessária para realizar essa ordenança não é agradável ao coração humano. No entanto, ao recusarmos participar e cumprir as condições estabelecidas, perdemos a valiosa lição de humildade que Cristo desejava nos ensinar.
Na cultura bíblica dos dias de Cristo, a cabeça representava a parte mais nobre do corpo, e os pés, a mais inferior. Assim, ao curvar Sua nobre cabeça para lavar os pés sujos de Seus seguidores, Cristo proporcionou uma ilustração impactante de Sua disposição em fazer o máximo para auxiliá-los mesmo nos momentos mais difíceis. Judas, esperando que Cristo Se tornasse rei sobre Israel, ficou ressentido ao vê-Lo assumir um papel tão humilde. Contudo, Pedro, por outro lado, sentiu-se humilde ao testemunhar Seu Mestre no papel de um servo manso e humilde. Por isso, Pedro inicialmente rejeitou a oferta de Cristo, sentindo-se completamente indigno. No entanto, quando Jesus declarou: “Se Eu não lavar, você não terá parte Comigo” (Jo 13:8), Pedro respondeu de maneira imediata e afirmativa. O discípulo não queria comprometer, de alguma forma, seu relacionamento significativo com Jesus. Assim, ele prontamente disse em João 13:9: “Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça”.
Certamente voltarei (Jo 14:1-3)
Vivemos em um mundo muito conturbado e instável. Portanto, as palavras tranquilizadoras de Jesus em João 14:1 são especialmente oportunas: “Que o coração de vocês não fique angustiado”. Essas palavras encorajadoras são fundamentadas na confiança quanto à veracidade de Jesus e de Seu Pai. Além disso, esse versículo está ancorado na promessa segura de Jesus de ir e preparar um lugar para nós, cumprindo assim Seu desejo ardente de estar sempre conosco.
Alguns desejam estar no Céu por causa das mansões ou palácios especiais preparados para eles; outros por causa das ruas pavimentadas em ouro. No entanto, será que esses incentivos deveriam ser a nossa verdadeira motivação para estarmos lá? No grego, o texto não diz “mansões”, mas quartos, o que pode implicar que o que é realmente importante não é o espaço físico que possuiremos ou ocuparemos, mas desfrutar a companhia de Jesus. Seu amor O leva a desejar estar conosco, pois Seu amor busca sempre a união.
Jesus certamente não quer que nos perturbemos neste mundo conturbado. Ele nos encoraja a depositar nossa confiança tanto no Pai quanto Nele, o único que pode nos proporcionar esperança, paz e um futuro seguro.
Em João 14:3, o verbo “ir”, no grego, está no presente contínuo ou presente do futuro. Implícita na promessa de Jesus sobre Sua futura vinda gloriosa está a ideia de que essa realidade é presente. Sua vinda é tão certa que parece estar ocorrendo agora. A alegre expectativa e a certeza de Sua vinda impacta nossa vida atual, à medida que Seu reino de glória se entrelaça com Seu reino de graça, proporcionando-nos uma antecipação do Céu.
O caminho, a verdade e a vida (Jo 14:5, 6)
Podemos observar uma progressão interessante na forma como Jesus Se descreve como o caminho, a verdade e a vida (Jo 14:6). Considere a sequência dessas três palavras. Jesus é o caminho. À medida que seguimos por esse caminho, aprendemos a verdade Dele, o que, por sua vez, nos conduz à vida abundante neste mundo e na vida eterna que está por vir. Observemos que essa sequência foi a resposta de Cristo à pergunta de Tomé sobre a direção a seguir, conforme registrado em João 14:5. Podemos nos questionar sobre o motivo de Tomé fazer essa pergunta, considerando a explicação clara de Jesus no versículo anterior: “E vocês conhecem o caminho para onde Eu vou” (Jo 14:4).
Cristo é o único caminho para o Pai. Alguns poderão contestar essa afirmação, argumentando que Jesus está sendo excessivamente exclusivo, especialmente na sociedade atual em que a inclusão é a norma social. No entanto, nem todos os caminhos conduzem a Deus. Jesus é a única rota para Deus porque Ele é o único que é justo e pode remover nossos pecados. Ele é o único que pode substituir a nossa morte pela vida eterna. Jesus é a única fonte de justiça e vida, pois Ele possui ambas. Ninguém mais neste mundo as possui ou pode concedê-las.
Como vimos anteriormente, Filipe pediu que Jesus revelasse o Pai aos discípulos. A resposta de Jesus a Filipe conecta o conhecimento Dele ao conhecimento de Seu Pai, indicando que se conhecemos o Filho, certamente conhecemos a Deus. Jesus afirma: “Há tanto tempo estou com vocês, Filipe, e você ainda não Me conhece? Quem vê a Mim vê o Pai. Como é que você diz: ‘Mostre-nos o Pai’?” (Jo 14:9).
Que consolo saber que, por meio de Jesus, podemos nos aproximar do Pai sem temor. O Pai nos acolherá com a mesma misericórdia e compaixão que Jesus demonstrou a todos, inclusive aos excluídos e pecadores ao Seu redor. Portanto, não temos motivo para hesitar em nos aproximarmos confiantemente do trono de Deus, buscando Sua misericórdia e perdão.
Além disso, novamente como afirma em João 14:6, Jesus testificou que Ele mesmo é a Verdade, encarnada e personificada. Num mundo em constante mudança, permeado por corrupção e engano, Jesus permanece como a Verdade, absoluta e imutável. Não há variação Nele nem nas Suas palavras. Afinal, Ele é “o mesmo ontem, hoje e para sempre” (Hb 13:8). Em breve, Jesus retornaria ao Céu, e logo após, o Espírito Santo desceria sobre os discípulos durante o Pentecostes, conforme Jesus havia prometido. O Espírito de Deus viria como “o Espírito da verdade, que Dele procede”, e daria testemunho Dele (Jo 15:26). Além disso, Jesus sempre disse a verdade, e Seus discípulos testemunhariam esse fato porque estavam com Ele “desde o princípio” (Jo 15:27).
Jesus é a Luz da verdade ao nosso redor. Ele dissipa a escuridão da falsidade e da confusão e torna possível vermos tudo na perspectiva correta. Agora, como no período do Pentecostes, quando o Espírito da verdade descer, “Ele [nos] guiará em toda a verdade” (Jo 16:13).
Numa sociedade permissiva e pluralista, a verdade é um alvo móvel, pois parece continuar a mudar e a evoluir. O que é verdade hoje não será necessariamente verdade amanhã. Contudo, Jesus, em uma frase, rejeitou essa ideia e declarou: “Eu Sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim” (Jo 14:6).
A Escritura e a verdade (Jo 5:38-40)
A Bíblia inteira testifica da verdade. As Escrituras formam um conjunto consistente e coeso, pois ambos os testamentos têm o mesmo Autor – o Espírito Santo. Essa mesma verdade se aplica ao testemunho de Jesus em Seus dias. Os líderes religiosos afirmaram acreditar fortemente em Moisés, mas não acreditaram no testemunho dele sobre Jesus (Jo 5:46). Apesar de declararem crer no AT, acreditavam erroneamente que uma mera adesão a ele lhes garantiria a vida eterna.
Mas a visão estreita dos líderes judeus sobre as Escrituras os afastou da essência dela, inclusive do próprio Jesus. Esses líderes pareciam negligenciar o cumprimento das profecias e ensinamentos do AT relacionados à esperança de Israel e do mundo (Jo 5:39). É surpreendente que, ao buscar a salvação, tenham rejeitado o Senhor que representava sua esperança e vida. Pareciam não compreender que, fora de Jesus, só existia morte, e que a vida somente era possível por meio Dele.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
Considere as seguintes questões e comente com a classe:
1. Como a realidade de Jesus, nosso Salvador, que é o reflexo perfeito do Pai, impacta sua vida diária? Imagine que você fosse Filipe e ouvisse Jesus lhe dizer que vê-Lo era como ver o Pai. O que significa “ver” o Pai e Seu Filho?
2. Jesus aproximou a cabeça dos pés de Judas enquanto os lavava. Qual é o significado disso? Como o ato de humildade e condescendência de Jesus se aplica a você pessoalmente?
3. Qual é a sua real motivação para estar no Céu: as mansões celestiais e as ruas de ouro, ou seria outra coisa? Qual é o significado de ver Jesus na eternidade? E por que Ele deve ser considerado nossa prioridade máxima e fundamental?
4. Como a certeza da vinda de Cristo impacta nossa vida cotidiana?
5. O que você acha da ideia de que tudo em que acreditamos deve estar ancorado nas Escrituras e, ainda assim, ao mesmo tempo, deve sempre nos levar a Cristo? Como essa abordagem influencia nossa jornada espiritual se consideramos a busca de conhecimento intelectual o nosso objetivo principal?
6. De que maneira a centralidade de Cristo e da Bíblia deve impactar nossa cosmovisão à medida que enfrentamos diversas perturbações e confusões?
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O garoto do ‘‘Por quê’’
Alasca | Adiv
James era um garoto dos “por quês”.
Sempre que lhe pediam para fazer alguma coisa no acampamento, ele perguntava: “Por quê?”
“Por que eu tenho que fazer isso?”, dizia ele. “Por que eu tenho que fazer aquilo?”
James era órfão. Seu pai e sua mãe haviam morrido, e ele morava com seus parentes em uma pequena aldeia indígena no Alasca. Esses parentes o enviaram para um acampamento de verão. Então, James entrou em um avião e voou para a cidade de Dillingham. O Alasca não tem muitas estradas. Então, com frequência, as pessoas precisam viajar de avião de um lugar para outro.
Após chegar em Dillingham, James andou de ônibus por cerca de 30 minutos até um lago. Então, ele embarcou em um bote e viajou por mais 15 minutos até o Acampamento Polaris, um acampamento de verão adventista do sétimo dia para crianças nativas do Alasca como ele.
James amou o acampamento imediatamente e gostou especialmente dos esportes aquáticos no lago. Ele sorriu orelha a orelha quando pulou em uma jangada inflável laranja e azul a ser puxada por uma lancha para um passeio rápido no lago. Ele tentou não cair na água. Embora fosse verão, a água estava gelada.
O sorriso de James se transformou em uma expressão de desaprovação no culto vespertino. Quando chegou a hora de orar, todas as crianças se levantaram. Os sete garotos que dormiam na mesma cabana que James se levantaram. O conselheiro de acampamento, Adiv, levantou-se. Mas James permaneceu sentado.
Adiv sussurrou para James: “Você precisa se levantar”. Uma das regras do acampamento era que todo mundo precisava ficar em pé durante a oração para mostrar respeito a Deus.
James levantou-se silenciosamente. Mas ele estava com a cara fechada.
No dia seguinte, James permaneceu sentado durante a oração no culto matutino. Ele ficou sentado durante o culto vespertino. Então, ele se virou para o garoto ao lado e começou a falar durante a oração. Adiv falava com ele todas as vezes, mas ele se recusava a ouvir.
No terceiro dia, quando James permanecia sentado, Adiv o convidou a sair do alojamento para conversar.
Do lado de fora, Adiv lembrou James das regras do acampamento. “Se é isso que você vai fazer, haverá consequências”, disse ele. “Como forma de respeito a Deus, você precisa se levantar quando orar e não falar. Por que você não se levanta?”
“Por que eu deveria me levantar? Por que eu não posso conversar?”, disse James. “Eu nunca vi Deus. Eu nem sei se Deus existe.”
Adiv viu uma oportunidade de ensinar James sobre Deus. Ele falou sobre o vento que frequentemente soprava pelo acampamento.
“Embora você não veja o vento, mas sabe que ele existe porque pode sentir na sua pele e ver o rumorejar das folhas nas árvores”, disse ele. “De igual modo, eu não posso ver Deus, mas posso sentir Sua presença ao meu redor.”
Ele falou sobre as estrelas à noite.
“Quando há nuvens no céu noturno, você não consegue ver as estrelas, mas sabe que elas estão lá”, disse ele. “De igual modo, não consigo ver Deus, mas posso sentir Sua presença ao meu redor.”
Lágrimas se formaram nos olhos de James.
“Como posso saber disso?”, ele deixou escapar. “Se Deus existe, por que coisas ruins acontecem? Onde Deus estava quando minha mãe morreu? Onde Deus estava quando meu pai morreu?”
Adiv disse que a morte não era parte do plano de Deus. Mas os primeiros seres humanos, Adão e Eva, pecaram contra Deus, e o resultado foi dor e morte. Então, Deus enviou Seu Filho, Jesus, para morrer pelos pecados de todos. Aqueles que acreditam em Jesus viverão com Ele para sempre em um mundo sem dor e morte. “Embora você não possa vê-Lo, Deus ainda está ali,” Adiv disse.
James ouviu silenciosamente. “Deus realmente está lá em cima?”, ele refletiu.
Depois disso, James permaneceu em pé e em silêncio durante as orações. Ele nunca dizia o que estava pensando, mas Adiv esperava que ele estivesse pensando em Deus.
O Acampamento Polaris, localizado em um lago próximo a Dillingham, Alasca, é o único acampamento adventista do sétimo dia de verão que atende crianças nativas do Alasca. Parte das suas ofertas de 2016 ajudou a renovar o acampamento com novos chalés e banheiros. Obrigado por compartilhar o amor de Jesus com as ofertas deste trimestre, que irá para Bethel, Alasca.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
- Mostre a localização de Dillingham, Alasca, no mapa. Mostre também a localização de Bethel, que receberá parte das ofertas deste trimestre para abrir um centro de influência.
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Saiba que a Igreja Adventista do Sétimo Dia e os doadores generosos cobrem os custos das crianças nativas do Alasca que vão para o acampamento de verão.
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Pronuncie Adiv como: ah-DEEV.
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James é um pseudônimo para proteger a privacidade de um menor de idade.
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2024
Tema geral: Temas do Evangelho de João
Lição 10 – 30 de novembro a 7 de dezembro
O caminho, a verdade e a vida
Autor: Manolo Damasio
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Rosemara Santos
Mantendo diante dos leitores o objetivo do evangelho, João apresenta Jesus como Deus e Messias, atribuindo significado a uma série de eventos que ele mesmo testemunhou. A lição desta semana é crucial na construção dessa identidade.
João coleciona sete declarações de Jesus que começam com a expressão “Eu Sou”. Ele disse ser o “Pão da vida” (Jo 6:35, 41, 48, 51), a “Luz do mundo” (Jo 8:12; 9:5), a “Porta” (Jo 10:7, 9), o “bom Pastor” (Jo 10:11, 14), “a ressurreição e a vida” (Jo 11:25), e a “videira verdadeira” (Jo 15:1, 5). Nesta semana vamos nos concentrar na penúltima delas – “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6).
Jesus era movido por infinita compaixão. A antecipação de Sua morte e partida era uma tentativa de preparar os discípulos para enfrentar uma dor que seria inevitável. (Mt 16:21; Mc 8:31; Lc 9:22, 45). Mas, apesar de clara, a partida “prematura” de Jesus, não foi entendida pelos discípulos.
Mateus se refere a esse momento dizendo que eles “se entristeceram grandemente” (Mt 17:23). Lucas diz que eles “não entendiam isso” e que esse assunto lhes foi encoberto (Lc 9:45).
Os discípulos precisavam compreender, a despeito de todas as suas expectativas, que a morte de Jesus estava nos planos do Eterno. Que tudo cumpria um propósito mais elevado, muito além de ambições e desejos terrestres.
Diferentemente dos discípulos, Jesus estava muito consciente do que ocorreria com Ele. Mas ainda que Ele estivesse pronto e determinado a enfrentar a morte, o Salvador conhecia a fragilidade dos discípulos. Ele tomou a Santa Ceia com os discípulos, sabendo que em algumas poucas horas Seus amigos estariam privados de Sua presença.
Jesus fez os devidos arranjos para celebrar a Páscoa com Seus discípulos. Um cômodo no andar superior de uma casa em Jerusalém foi palco de uma cena cheia de significado, que acaba transbordando para além dos limites daquele recinto privativo.
Numa espécie de transição, todo um sistema de símbolos estava prestes a perder a validade ao encontrar a realidade superior para a qual apontava. Durante 1.500 anos, mesmo que parcialmente, o calendário judaico rememorava a libertação do cativeiro egípcio através de símbolos e cerimônias.
Contudo, esses emblemas não serviam apenas como recordação de eventos gloriosos do passado, mas apontavam para a esperança da humanidade e sua libertação do cativeiro do pecado.
Ele Se programou para fazer uma transição naquela quinta-feira à noite, substituindo símbolos antigos, resignificando alguns e adicionando outros. A carne do Cordeiro, análogo à morte expiatória, foi substituída pelo pão e o vinho, e uma cerimônia prévia à comunhão da mesa foi ordenada como requisito preparatório, a cerimônia da humildade, também conhecida como lava-pés. Entender o que aconteceu com eles nessa cerimônia algumas horas antes da morte de Jesus é de vital importância para a igreja.
Os discípulos estavam respirando numa atmosfera impregnada de ciúmes. Fruto de uma miopia profética que os fazia esperar um Messias segundo suas ambições. Havia entre eles um desejo de supremacia no Reino que, supunham eles, Jesus viera instaurar.
O pedido da mãe de Tiago e João havia inflamado a disputa e despertado contenda entre eles. Judas se sentiu ofendido quando percebeu que estava em desvantagem, gerando nos outros inveja e contrariedade. Quando a esposa de Zebedeu, uma devota seguidora de Jesus, pediu que seus filhos se assentassem à direita e à esquerda do Seu trono, o clima entre eles ficou muito ruim.
O conceito comum de autoridade está ligado à posição. Mas o Reino de Deus não respeita essa lógica. A grandeza aos olhos de Deus está na disposição de servir. Grande é o que serve.
Dando a chance de alguém se prontificar, Jesus esperou um pouco até que Ele mesmo tomou a toalha, o jarro e a bacia para lavar os pés dos Seus discípulos. Um constrangimento tomou conta deles. Sentiram-se censurados. Seu orgulho e vaidade tornaram-se evidentes e, nesse gesto, Jesus foi mais efetivo do que na censura verbal que lhes havia feito quando estavam a caminho de Jerusalém (Mc 10:35-45).
Judas ficou escandalizado. Seu coração corrupto não podia alcançar a beleza de tal humilhação. Pedro completamente envergonhado recusou ter seus pés lavados por Jesus, mas acabou admitindo diante da aterradora frase: “Se eu não lavar, você não terá parte Comigo” (Jo 13:8).
E para não correr o risco de ser mal-interpretado, Jesus enxugou Suas mãos, arrastou o jarro e a bacia para o canto da sala e fez a pergunta: “Vocês entenderam o que Eu lhes fiz?” (Jo 13:12). Ele não podia perder essa chance de fazer com que Seus discípulos entendessem qual era o papel deles. “Entre vocês não é assim!” (Mc 10:43).
A grandeza reside em se ajoelhar para servir ao semelhante. O poder está na disposição de considerar os outros superiores a si mesmo. “Vocês entenderam?”
O que vemos depois desse jantar é de suprema importância. As palavras utilizadas por Jesus revelam parte de Seus sentimentos. “Não deixarei que fiquem órfãos; voltarei para junto de vocês” (Jo 14:18).
Sua partida não deveria desestabilizá-los. E para evitar que eles mergulhassem numa tristeza e confusão profundas, Jesus fez uma de Suas mais lindas e necessárias promessas.
“Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, Eu já lhes teria dito. Pois vou preparar um lugar para vocês. E, quando Eu for e preparar um lugar, voltarei e os receberei para Mim mesmo, para que, onde Eu estou, vocês estejam também” (Jo 14:2, 3).
A base para confiar nessa promessa está no próprio caráter de Jesus e na Sua palavra. Ele não apenas promete voltar, mas fala disso com a mesma segurança de algo que já está sendo realizado. O sentido gramatical sublinha que a volta de Cristo não é um “talvez”, mas um evento fixo e seguro no plano divino, algo tão imutável que pode ser tratado como uma realidade presente. Essa promessa oferece aos crentes a certeza de que o retorno de Jesus é inevitável, permitindo que vivam com uma esperança ativa e confiante.
As reações que se seguem e as interações com Tomé e Felipe nos dão a oportunidade de aprender muitas coisas. Tomé queria saber que caminho era esse ao qual Jesus Se referiu (Jo 14:5) e Felipe expressou o desejo de ver o Pai (v. 8). A resposta de Jesus revela a limitação deles e nos liberta da nossa limitação. Quando Jesus afirma ser Ele mesmo o Caminho, está garantindo que ninguém se perderá ao permanecer Nele.
Jesus Cristo é a única fotografia de Deus que nós temos. Vê-Lo é como contemplar o próprio Pai. O desejo de Felipe nos remete ao pedido de Moisés quando desejou ver a face de Deus (Êx 33; 34). Enquanto Moisés teve seu anseio parcialmente atendido, a encarnação de Jesus tornou possível o inconcebível. Ellen G. White afirma em A Ciência do Bom Viver:
“Jesus veio ao mundo para revelar o Pai. [...] Ele é a ‘imagem do Deus invisível’ (Cl 1:15), o ‘resplendor da Sua glória’ e a ‘expressa imagem da Sua pessoa’ (Hb 1:3). Jesus é a revelação exata de Deus” (p. 419).
Ellen G. White enfatiza que Jesus é a representação visível e perfeita do caráter de Deus e da Sua natureza, tornando-se, assim, a “imagem” mais fiel que temos de Deus. Em outro de seus escritos, O Desejado de Todas as Nações, ela escreve:
“Em Cristo, foi revelada a essência e a glória do Pai, e Ele é a única manifestação completa de Deus aos homens” (p. 23).
O registro de João reforça a ideia de que, ao olhar para Cristo, podemos ver o caráter e o amor de Deus em sua forma mais pura e compreensível para nós. “Ninguém vem ao Pai senão por Mim”, “Eu e o Pai somos um” (Jo 14:6; 10:30).
No Evangelho de João, a verdade é mais do que uma série de fatos; ela é encarnada em Jesus, que estava com Deus desde o princípio e é a essência de todas as coisas criadas. João contrasta a verdade divina com o engano, ligado ao diabo e ao pecado. Nada que seja humano pode satisfazer o coração como a verdade que se encontra em Cristo e nas Escrituras. Jesus não é apenas uma personificação da verdade; Ele é a própria Verdade, como o Sol que ilumina tudo. As Escrituras revelam quem Ele é e permitem que compreendamos o mundo e a nossa existência à luz de Sua verdade, oferecendo um entendimento fundamental sobre o propósito do Universo e da vida.
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Manolo Damasio é pastor adventista. Formou-se bacharel em Teologia pelo Unasp-EC, em 2004. Iniciou seu ministério em Porto Alegre. Em 2008, foi chamado para o Distrito Federal, onde desempenhou diferentes funções. É mestre em Liderança pela Universidade Andrews e pós-graduado pelo Unasp, com MBA em Liderança. Atualmente mora no Texas, servindo como pastor da Igreja Adventista Brasileira de Dallas desde 2017. É casado com Jeanne, jornalista e escritora. O casal tem dois filhos, Noah e Otto.